Argentina: Crise e
Recuperação
Análise
Desenvolvimento / Economia e Comércio
Vinícius Betsur Alvarenga Fernandes
14 de novembro de 2003
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Argentina: Crise e Recuperação
Análise
Desenvolvimento / Economia e Comércio
Vinícius Betsur Alvarenga Fernandes
14 de novembro de 2003
Após a grave crise geral que atingiu diversos setores da sociedade argentina, a economia
deste país vem demonstrando melhoras importantes, que sinalizam uma provável
recuperação do país, mas ainda insuficientes para solucionar problemas mais complexos,
como os sociais e políticos.
N
o período de 2001/2002, a
Argentina sofreu uma crise de
âmbito social, econômica (fiscal,
financeira e corporativa), política e
institucional (Suprema Corte), que foi sem
precedentes em sua história devido ao seu
escopo e sua magnitudei. Em 1999 iniciouse um declínio econômico devido à
associação de vários fatores: a)internos,
com
um
elevado
desemprego
e
desequilíbrio fiscal; b) choques externos,
como a crise da Rússia em 1998, o impacto
da desvalorização da moeda do Brasil em
1999 e uma enorme aversão ao risco dos
mercados financeiros internacionaisii. Em
2001, o governo Argentino resolveu por
fim à paridade do peso ao dólar norteamericano, instituindo ainda um sistema
de câmbio duplo e emitindo quasemoedas como meio de troca suplementar.
O governo do presidente De la Rua, não
cumpriu as metas acordadas com o FMI
neste período, o que aumentou a
perspectiva de uma crise financeira e
gerou a fuga de capitais e de depósitos. Já
na gestão do novo ministro Cavallo
tentou-se zerar o déficit público, pela
diminuição dos salários e aposentadorias
de funcionários públicos, o que não gerou
credibilidade e permitiu nova fuga de
capitais, pois temia-se que houvesse o
congelamento de depósitos e desconfiavase que o governo não saldaria suas
dívidas.
Em 2001 houve boatos de confisco,
afastando investidores estrangeiros. O
governo argentino realizou o chamado
“corralito”, bloqueando a disponibilidade
de depósitos bancários, devido aos
excessivos saques que estavam ocorrendo.
Essas restrições do “corralito” e as
perspectivas de novos ajustes geraram
revoltas, conflitos de rua, saques e
panelaços, o que provocou a saída do
presidente.
Duhalde
assumiu
a
presidência, após duas semanas do
governo de Saá, que havia declarado o
default da dívida do governo em moeda
estrangeira com credores privados.
Duhalde abandonou a conversibilidade e
adotou uma desvalorização de 40% para
operações de comércio exterior.
No segundo semestre de 2002 e início de
2003 aconteceram melhoras na economia
Argentina, como elevação do superávit
comercial, o que possibilitou à economia
daquele país dispor de divisas para
atender a demanda por dólares no início
da flutuação cambial e até acumular
reservas. A substituição de importações e
a produção de bens exportáveis criaram
condições que, depois de uma queda do
PIB em 2002, permitirá que a economia
argentina volte a crescer em 2003, com
perspectivas de 4% de aumento do PIB. A
inflação
também
está
atualmente
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controlada com a estabilização do câmbio,
sendo que se espera que fique em torno de
18% em 2003, após os 40% de 2002.
A nova negociação com o FMIiii trouxe
certa tranqüilidade para a economia
argentina, na medida em que se
diminuíram as exigências, dando maior
flexibilidade ao governo argentino.
Acreditava-se que as exigências anteriores
eram absurdas, pois impunham maus
ajustes, depois de quatro anos de recessão,
que ainda interferiam em assuntos
internos argentinos, como aumento de
tarifas e compensação aos bancos. O novo
acordo evitaria, assim, a volta da
instabilidade
financeira/cambial,
da
inflação e da recessão, evitando assim,
maiores problemas sociais.
Alguns economistas acreditam, ainda, que
uma política econômica destinada a
cobrar mais impostos e gerar maiores
excedentes fiscais para pagar a dívida,
retirando recursos da economia, não
contribuiria para a entrada de capitais. O
FMI iria, na visão destes especialistas,
contra os credores privados, pois exigir
que o governo argentino pague sua dívida
é retirar recursos que poderiam ser
destinados ao sistema privado.
Alguns dados demonstram a evolução
atual da economia argentina. Neste
segundo trimestre de 2003 o superávit da
conta corrente da Argentina foi de quase
US$2914 milhões. Se compararmos ao
período da mudança cambial, ou seja,
início de 2002, o superávit da conta
corrente no começo deste ano foi bem
maior do que naquela data, pois no
primeiro trimestre de 2002 o superávit foi
de US$1398 milhões. Na conta financeira
registrou-se uma saída líquida de US$1027
milhões, bem abaixo da saída observada
no primeiro trimestre de 2002, de US$3504
milhões, melhora esta derivada da
diminuição do déficit do setor privado
não
financeiro.
Houve
também
acumulação de reservas no valor de
US$1666 milhões, em contraste com o
déficit de US$2133 milhões observados no
início de 2002. Em seis meses desse ano, o
superávit da conta corrente acumulou
US$4873 milhõesiv, contra US$4258
milhões no mesmo período do ano
anterior. Esses resultados se devem a um
contexto de recuperação, depois de quatro
anos de queda do nível de atividade
econômica e devido ao câmbio favorável.
O superávit em conta corrente está ligado
à queda no nível de gastos da economia.
Porém segue o déficit na conta financeira
já relatado, sendo um saldo positivo do
governo e déficits dos bancos e setor
privado não financeiro. Entretanto houve
relativa melhora com relação a períodos
passados.
O PIB da Argentina cresceu para 265
bilhões e 27 milhões de pesos no segundo
trimestre de 2003, um aumento de 7,6%
com relação ao mesmo período do ano
anterior. Nota-se que a economia
argentina está se recuperando e que aos
poucos a situação vai se estabilizando
novamente. A melhora no crescimento
econômico está diretamente relacionada
ao aumento da proporção de exportações
em relação às importações e à reativação
da capacidade ociosa da indústria
argentina. Porém, há ainda problemas
sociais graves, como segurança pública
(altos índices de criminalidade), pobreza,
desemprego, saúde deficitária, entre
tantos
outros,
que
exigem
dos
governantes argentinos maiores esforços,
que não sejam meramente a regularização
da situação econômica.
“Argentina: Processo de Estabilização”. Secretaria
de Finança e Ministério da Economia. Abril de 2003.
i
GIAMBIAGI, Fabio e RUBINI, Héctor. “Moeda
única e Banco Central Unificado do Mercosul:
Princípios Econômicos e Desafios Institucionais”.
Revista do BNDES, RJ, v. 10. n.19, p.21-64. Jun,
2003.
ii
iii
Ver análise sobre Argentina e FMI
iv
Fonte: INDEC. Site: http://indec.mecon.ar
www.pucminas.br/conjuntura
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