CAPÍTULO 2 - CURIOSIDADES GEOLÓGICAS 2.1 - IDADE E ORIGEM DAS ROCHAS QUE SUSTENTAM OS DIFERENTES DOMÍNIOS GEOAMBIENTAIS QUE OCORREM NA ÁREA A grande variedade de tipos de terrenos que ocorrem na área e as respostas diferenciadas que apresentam ao uso e ocupação, de uma ou outra forma, estão intrinsecamente relacionadas aos diferentes tipos de rochas e sedimentos que os sustentam. Por sua vez, essa variedade litológica, à luz da Teoria da Tectônica de Placas e da Deriva Continental (figuras 2, 3 e 4), é devida à superposição de vários ciclos tectônicos de ruptura, movimentação, choques e subducção de continentes que aconteceram e estão acontecendo ao longo da história geológica da Terra, desde o Arqueano até o Cenozóico, ou seja, desde há mais de 2,6 bilhões de anos até os tempos atuais. A Teoria da Tectônica de Placas é um grupo de conceitos que procura explicar as complexidades geológicas da crosta da Terra através de interações de placas litosféricas em contínuo movimento, conceitos esses derivados da hipótese da Deriva Continental, formulada por Alfred Wegener (1912). Segundo essa hipótese, há mais ou menos 225 milhões de anos, os atuais continentes estavam acoplados num único megacontinente denominado Pangéia (figura 2). Hoje, conforme a teoria da Tectônica de Placas, admite-se que esse megacontinente também ter-se-ia formado pela colagem de vários continentes que nas eras arqueana e proterozóica estavam provavelmente separados por mares e oceanos. [ Entre o Arqueano e o Proterozóico Superior, de 2,6 bilhões a 570 milhões de anos - correspondem aos terrenos sustentados pelas rochas mais antigas da área. A história evolutiva dessas rochas envolve a superposição de vários episódios tectônicos distensivos e compressivos, aos quais, em tempos pretéritos à subdivisão do Pangéia, associaram-se aberturas e fechamentos de pequenos mares e oceanos, intenso magmatismo, vulcanismo, formação de rochas magmáticas, deposição de seqüências vulcanossedimentares, metamorfismo de médio a alto grau e choques de continentes que provavelmente levaram à formação do paleocontinente Pangéia. Em função disso, ocorreram profundas transformações metamórficas e forte transporte tectônico, que fizeram com que litologias de diversas origens, idades e composições se recristalizassem e se imbricassem de modo que hoje estão lado a lado formando um complexo de rochas conhecido como Embasamento Cristalino, ou Complexo granitognáissico-migmatítico, terrenos que neste trabalho foram diferenciados como domínio 10 (foto 1). Foto 1 - Exemplar de uma rocha granito-gnáissica, tipo bastante comum nos terrenos diferenciados como domínio 10. Pode-se observar que os minerais encontram-se achatados e orientados. Isso se deve às deformações que sofreram em função de processos tectônicos compressivos de baixo ângulo e em estado dúctil (plástico). [ Figura 2 - No Permiano. Há mais ou menos 180 milhões de anos o megacontinente Pangéia, por conseqüência de uma tectônica distensiva, começou a se fragmentar e a se separar em dois grandes blocos: a norte, a Laurásia, formada pelas atuais América do Norte, Europa e Ásia e, ao sul, o Gondwana, formado pela América do Sul, África, Índia, Antártida e Austrália (figura 3). Figura 3 - No Triássico. Há mais ou menos 135 milhões de anos, uma nova tectônica distensiva fez com que esses dois grandes blocos também se fragmentassem em várias placas que começaram a se afastar uma das outras. Com isso, os continentes sul-americano e o africano, que estavam acoplados, começaram a se afastar um do outro, afastamento que está acontecendo até os dias de hoje e que deu origem a uma imensa depressão tectônica onde se implantou o oceano Atlântico (figura 4). Figura 4 - Hoje. Aos diferentes momentos e estágios dessa tectônica de migração continental, a Terra passou por grandes transformações tectônicas e por diversos tipos de ambientes formadores de rochas, aos quais se associaram vulcões, grandes terremotos e soerguimentos de grandes cadeias montanhosas. O território brasileiro, que hoje se encontra em relativa calmaria tectônica, já passou por tudo isso. Na área em questão, dos terrenos mais antigos para os mais novos, essa história de movimentação de continentes encontra-se registrada da seguinte forma: No Paleozóico (entre 500 a 230 milhões de anos), que teve duração aproximada de 340 milhões de anos, quando a América do Sul, Austrália, Índia, África e Antártida ainda estavam acoplados - foi um período pelo qual a Terra passou por uma relativa calmaria tectônica. Isso possibilitou a formação de imensas bacias sedimentares cratônicas, como a bacia do Paraná, cujas litologias sustentam grande parte da área do projeto. Para se ter uma idéia do tamanho dessa “bacia”, só em território brasileiro, os terrenos a ela associados hoje cobrem uma superfície de mais 2 de 1. 200.000 km . Durante sua história evolutiva paleozóica, a bacia do Paraná foi se formando, passou por vários ciclos de subsidência e soerguimento tectônico e de transgressão e regressão marinhas. Com isso, foi sendo preenchida por sedimentos correlacionados a vários tipos de ambientes deposicionais e climáticos. Destaca-se que nem toda pilha sedimentar paleozóica que a preencheu aflora na área deste projeto. Seus sedimentos basais, depositados entre os períodos siluriano e devoniano - entre 440 e 350 milhões de anos - representados pelas formações Furnas e Ponta Grossa, respectivamente depositados durante uma transgressão e regressão marinha, não afloram na área. O preenchimento da bacia do Paraná se deu até o final da era Mesozóica e das seqüências mais velhas para as mais novas, ocorrem na área rochas relacionadas às seguintes idades e ambientes deposicionais, conforme relatados a seguir. [ Entre o Carbonífero e o Permiano, de 350 a 230 milhões de anos - foram períodos em que o mar se afastou de grande parte da bacia. Com isso, sua maior parte foi recoberta por sedimentos depositados em ambiente tipicamente continental representado por um espesso pacote de arenitos finos e siltitos avermelhados (foto 2), com subordinadas intercalações de sedimentos que indicam que nessa época houve interferências deposicionais glaciais, marcadas pela presença de diamictitos, sedimentos típicos de depósitos de geleiras. Na literatura geológica, os sedimentos depositados nesses períodos são reportados como pertencentes à Formação Aquidauana do Grupo Itararé, terrenos que neste trabalho foram diferenciados como domínio 9. Solo arenoso, residual de arenitos síltico-argilosos Siltitos Arenitos síltico-argilosos Foto 2 - Sedimentos da Formação Aquidauana. A composição litológica e as características deposicionais indicam que se depositaram em ambiente continental com influências de geleiras. 5