AVALIAÇÃO DO PROGRAMA BOLSA-ESCOLA NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA Andrea Gomes de Castro Mestranda em Educação – Universidade Federal de Juiz de Fora Pretende-se com o presente trabalho apresentar uma proposta de avaliação do programa Bolsa-escola implementado em Juiz de Fora desde 1997, bem como justificar a necessidade de tal avaliação através da apresentação de alguns resultados obtidos por um survey1 aplicado no ano de 1999. Na primeira parte do trabalho discute-se o programa Bolsa-escola, sua importância e suas origens. Num segundo momento apresenta-se alguns resultados da pesquisa "A implementação do programa Bolsa sócio-educativa no município de Juiz de Fora. A partir destes resultados aponta-se a necessidade de uma avaliação mais aprofundada do programa. Finalmente, descreve-se o projeto de pesquisa que visa avaliar o programa Bolsa no município de Juiz de Fora. BOLSA-ESCOLA: SUAS ORIGENS E IMPORTÂNCIA O Bolsa-escola tem por princípio a idéia do programas de garantia de renda mínima PGRM. No Brasil o grande defensor destes programas vem sendo o senador Eduardo Suplicy, em 1991 ele apresentou ao senado um projeto de garantia renda mínima, e conseguiu sua aprovação sem nenhum voto contrário. No entanto, a idéia de vincular uma renda à educação já existia desde o final dos anos 802. Nas discussões sobre o PGRM, proposto pelo senador Eduardo Suplicy, Cristovam Buarque e José Marcio de Camargo3 sugeriram que um programa desta natureza deveria ser vinculado à educação. Porém, a idéia de aliar o objetivo de irradicar a miséria com o objetivo de melhoria educacional ganhou poucos adeptos. Mas, Waiselfisz aponta que Buarque, por sua vez, seguia defendendo sua idéia em viagens por todo o Brasil: “Noventa e um, noventa e dois e noventa e três foram anos que eu viajava, no mínimo uma vez por semana, para palestras nas quais defendia essas idéias. A Bolsa-escola não era muito levada a sério, essa é a verdade” (Entrevista com Cristovam Buarque, Governador do Distrito Federal, citado por Waiselfisz,1999). De acordo com Buarque a apresentação das idéias raramente causava empolgação nos ouvintes, muitos reagiam aos benefícios como “paternalismo”. Em 1994, quando ele iniciou sua campanha eleitoral para governador do DF, a Bolsa-escola foi colocada em discussão. Mas, novamente encontrou obstáculos, desta vez, a reação era dos próprios militantes do PT, que diziam: que “era impossível”, que “não daria certo”, que “custaria muito dinheiro”, que “não resolveria nada”, que “era “assistencialista”. Depois da divulgação do resultado da pesquisa eleitoral, em junho de 1994, que revelou que 67% dos entrevistados do distrito Federal eram favoráveis à proposta, a idéia da Bolsa-escola passou a constar no programa de Governo da Frente Brasília Popular. 1 O survey aplicado no ano de 1999 foi parte de uma pesquisa do Núcleo de Estudos Sociais do Conhecimento e da Educação - NESCE da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, intitulada a "Implementação do Programa Bolsa sócio-educativa no município de Juiz de Fora". tal survey abrangeu uma amostra de 303 famílias entrevistadas, dentre elas, 113 pertencentes ao grupo de famílias que não se inscreveram, 155 que foram selecionadas e 35 que não se enquadraram nos critérios de seleção do programa. 2 A idéia de assegura uma renda às famílias pobres para que seus filhos estudassem surgiu no final dos anos 80, no Núcleo de Estudos do Brasil Conteporâneo da Universidade de Brasília - UnB. Neste núcleo, durante alguns anos, um grupo de professores liderados pelo então reitor da UnB, professor Cristovam Buarque, discutiam os problemas da Sociedade Brasileira e o futuro dos excluídos. 3 Colaborador de Cristovam Buarque. Foi um dos primeiros economistas no Brasil a propor a vinculação dos programs de renda mínima à educação. Quando as eleições decidiram por Buarque para governador, a proposta da Bolsa-escola já estava ajustada à realidade do Distrito Federal. O programa Bolsa-Escola vem sendo considerado como um Programa de Renda Mínima inovador, pois além de garantir uma renda mínima às famílias beneficiadas, exige das mesmas, como contrapartida, o asseguramento da freqüência escolar dos filhos. Nesse sentido, o projeto mostra-se original na medida em que contribui para a redução da pobreza tendo como escopo principal a melhoria educacional. O primeiro programa institucional de Bolsa-escola foi implementado em Brasília, no dia 3 de janeiro de 1995, por decreto do então governador do distrito Federal, professor Cristovam Buarque. Três dias depois, a prefeitura Municipal de Campinas lançou o programa de Renda Mínima baseado nas diretrizes básicas do Projeto de Lei 2.561/92, do senador Eduardo Suplicy. Desde então vem se expandindo no Brasil4 , como é o caso de Juiz de Fora, que no ano de 1997 implementou o programa Bolsa-escola. No atual conjuntura, onde a expressiva marca das sociedades, do final do século XX e início do século XXI, é a desigualdade, e a distância entre os possuidores e os destituídos é cada vez maior, programas como o Bolsa-escola vêm encontrando espaço. O Brasil, por exemplo, está entre as dez maiores economias mundiais, no entanto, está no 68º lugar no ranking do IDH (Índice do Desenvolvimento Humano) calculado pela ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 18% da população é analfabeta, e a diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres é de 32 vezes. (PNE-proposta da sociedade brasileira5,1997). No contexto de globalização econômica, setores crescentes da população - não só no Brasil, mas também em muitos outros países - estão sendo colocados à margem do chamado progresso e condenados à exclusão social. E tendo em vista que no Brasil a escolarização de crianças e jovens depende em grande parte de suas condições econômicas, e que a situação de pobreza das camadas menos favorecidas se agrava a cada dia, torna-se cada vez mais difícil para as políticas educacionais darem conta de superar tal contexto de exclusão. Neste cenário, políticas sociais que garantam uma renda mínima para gastos elementares, e que assegurem o acesso e a permanência do aluno na escola tornam-se de extrema importância. O PROJETO DE PESQUISA DO CONHECIMENTO E DA EDUCAÇÃO NÚCLEO DE ESTUDOS SOCIAIS DO A pesquisa teve como objetivo investigar a implementação do o programa Bolsa-escola no município de Juiz de Fora. Neste projeto a avaliação da implantação do programa comportou três dimensões. A primeira diz respeito ao acesso ao programa. Neste plano de análise, importou-se determinar o perfil das famílias inscritas no programa, contrastando-o com o da clientela potencial – conjunto de famílias matriculados na 1ª série do ensino fundamental nas escolas integrantes do programa. Ainda nesta dimensão relativa ao acesso, a análise subseqüente incluiu uma avaliação da divulgação dada ao programa – as famílias efetivamente tomaram conhecimento do benefício? – e, principalmente, as facilidades encontradas pelos interessados no que se refere à efetivação da inscrição – a eventual necessidade de comprovar os requerimentos exigidos para ter acesso ao benefício pode representar um obstáculo para alguns candidatos. A Segunda dimensão da avaliação referiu-se aos procedimentos de seleção dos beneficiários. Neste plano, importou a análise das ação dos atores envolvidos no processo – dirigentes da escola, 4 São muitas as experiências de programas de renda mínima que se encontram em curso em outros países (grande parte da Europa Ocidental e nos Estados Unidos e Canadá). Mas, de acordo com LAVINAS E VARSANO (1997), uma característica dos PGRM nacionais que difere fundamentalmente do espírito dos programas de renda mínima europeus (nos quais o eixo central da proposta é resgatar vínculos com atividade econômica via inserção produtiva no mercado de trabalho) é a vinculação de concessão do benefício à freqüência das crianças à escola, para retirá-las das ruas e/ou do trabalho precoce e ampliar sua capacidade futura de geração de renda, reduzindo a probalidade de reprodução da pobreza entre gerações. 5 Documento consolidado na Plenária de Encerramento do II CONED-Belo Horizonte-MG em 09 de novembro de 1997) os administradores municipais e os representantes da comunidade. Em particular, importa qualificar o grau de participação dos agentes locais claramente identificados com a instituição escolar (comissão de pais, diretores das escolas) e determinar o papel desempenhado pela intermediação política na concessão da bolsa. A terceira dimensão de análise referiu-se à avaliação preliminar dos resultados do programa no que toca ao rendimento escolar do aluno beneficiado. ALGUNS RESULTADOS DA PESQUISA: De acordo com Maria Júlia Souza Santos6, o objetivo a que o programa se programa se propõe - que é garantir o acesso, a permanência e o bom desempenho do aluno- foi alcançado. A evasão foi praticamente zerada. Em relação ao desempenho, ela considera que a freqüência dos titulares e dos irmãos auxiliou o crescimento do processo educativo. Outro fator considerado positivo pela diretora do programa, é o fato das escolas assumirem a efetuação do pagamento do benefício. Desta forma, as escolas contaram com a oportunidade de dialogar com as famílias a respeito da freqüência dos filhos, bem como de outros aspectos referentes à vida escolar do aluno. A pesquisa do NESCE envolveu 303 entrevistados, abrangendo 113 entrevistados pertencentes ao grupo de famílias que não se inscreveram, 155 pessoas que foram selecionados e 35 que não se enquadravam nos critérios de seleção do programa. Não inscritos 113 Tabela I – População Entrevistada Entrevistados - População Focal7 Não selecionados 035 Selecionados 155 Considerando que a mulher é grande gerenciadora da vida familiar, bem como da vida escolar dos filhos, a entrevistada foi preferencialmente a mãe8 conforme constata-se na tabela a seguir. Tabela II- Relação do entrevistado com o aluno Os entrevistados Famílias não Famílias não Famílias inscritas contempladas contempladas Nº de entrevistados 113 35 155 Relação com o aluno Famílias não Famílias não Famílias inscritas contempladas contempladas Mãe 89,4% 88,6% 87,7% Cônjuge do pai 2,7% 2,9% 1,3% Pai 1,8% 3,2% Outros 6,2% 8,6% 7,7% No que concerne o perfil das famílias, a grande maioria dos entrevistados nasceu em Juiz de Fora, são proprietários de suas residências, apesar de serem precárias, e moram em Juiz de Fora entre 11 e 20 anos em média. Quanto à estrutura familiar, 81,5% das famílias não inscritas e 85,7% das famílias não contempladas são nucleares, enquanto 60,6% das famílias selecionadas são monoparentais. Quanto à renda, 4,7% dos não inscritos, 5,7% dos não contemplados e 15,3% dos selecionados não tem renda, 75,7% dos que não se inscreveram ganham entre 1 e 3 salários mínimos, 75,7% dos que não foram contemplados ganham entre 1 e 3 salários mínimos, enquanto 42,7% dos contemplados ganham 1 salário mínimo e 38,0% ganham entre 1-3 salários. 6 Diretora do Departamento de Promoção ao Educando da Secretaria Municipal de Educação Famílias de todos os alunos matriculados na primeira série do Ensino Fundamental em 1997. 8 Do mesmo entendimento, a programa determina que a mãe deverá ser prioritariamente a requerente, somente em casos excepcionais, mediante comprovação de incapacidade, aceita-se outra pessoa como requerente. 7 Quanto às prerrogativas para integração no programa, combinam-se quatro elementos restritivos: Ter renda per capta igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo, ter filhos em idade escolar regularmente matriculados na rede pública de ensino , registrar um tempo mínimo de 5 anos de residência no município. E prioriza a integração de famílias que enquadram-se em medidas sócioeducativas, que tenham dependentes idosos e/ou portadores de deficiência, e crianças desnutridas assistidas pela rede pública de saúde. Tabela III – Dificuldades encontradas no momento da Inscrição Dificuldades quanto à inscrição Selecionados Não selecionados Apresentou todos os documentos exigidos 96,8% 82,9% Itens que apresentaram maior dificuldade na inscrição Selecionados Não selecionados Morar em Juiz de Fora a mais de 5 anos 3,7% 9,4% Renda 9,0% 34,4% Inscrição no SINE 14,2% 15,6% Outros documentos 14,2% 6,3% Dificuldade na apresentação de todos os documentos 4,5% 3,1% Nenhuma dificuldade na apresentação do documentos 54,5% 31,3% A família enquadra-se e/ou possui Selecionados Não selecionados Medidas de proteção especial 10,7% 2,9% Medidas sócio-educativas 6,6% Dependentes idosos ou portadores de deficiência 14,5% 5,7% Crianças desnutridas ou assistidas pela Rede Pública de 10,5% 8,8% Saúde Verifica-se pela tabela III que os não selecionados encontraram maior dificuldade nos quesitos renda per capta e inscrição no SINE. Quanto à renda, percebe-se uma sobrefocalização da pobreza, uma vez que as escolas integrantes do programa estão situadas em lugares pobres pertencentes ao "mapa da fome", e ainda assim mais de 14% dos inscritos não foram selecionados. Infelizmente, a escassez de recursos impede que programas dessa natureza abranja maior número de beneficiários. Quanto à inscrição no SINE, acredita-se que este instrumento funciona como mecanismo de inserção social mais amplo, na medida em que o beneficiário toma conhecimento de um serviço público específico, bem como dos critérios de acessibilidade, no entanto, não resolve a questão da baixa empregabilidade dos pobres. Desta forma, não deveria constar como um quesito proporcionador de obstáculo, mas sim como uma condição de permanência no programa, aliado a projetos complementares de (re)inserção no mercado de trabalho. Tabela IV – Divulgação do Programa Como as famílias tomaram conhecimento da existência do Programa Bolsa-escola Selecionados Não selecionados Através da escola 94,2% 82,9% Através de meios de comunicação 1,3% 14,3% Através de amigos 3,2% 2,9% Através da Secretaria Municipal de Ensino 0,6% Outros 0,6% Justificativas dos que não se inscreveram no programa Não tomei conhecimento da existência do projeto 32,4% Não quis, pois não acredito nos projetos da prefeitura 1,0% Não quis, pois achei o processo muito difícil 2,9% Outros motivos 63,7% No que tange à divulgação do programa, percebe-se pelos dados da tabela IV, que somente 1,3% dos entrevistados tiveram acesso à divulgação do programa através dos meios de comunicação. Verifica-se que a escola é a instância mais próxima e conhecedora da situação sócioeconômica do beneficiário, uma vez que 94,2% dos selecionados tomaram conhecimento do programa através escola. Assim, pode-se considerar foi um grande passo quando o pagamento do benefício passa a ser gestionado pela escola, pois o beneficiário deixa de representar apenas um número de conta bancária, na qual é depositada uma mesada, a escola aproxima-se da família, proporciona-se uma relação mais concreta entre o Estado e o cidadão. Tabela V – Trabalho da Comissão Local Freqüência com acontece as reuniões com a comissão local da escola Sempre 27,4% Poucas vezes 34,2% Raramente 21,9% Nunca 16,4% Freqüência com a família é visitada por representantes da comissão local ou responsáveis pelo projeto Sempre 3,2% Poucas vezes 35,3% Raramente 32,7% Nunca 26,8% Analisando a tabela V fica claro que o trabalho de acompanhamento e visitação feito pela comissão local, no momento da pesquisa, era deficitário. Isto se justifica pela falta de funcionários nesta área de trabalho. A Secretaria Municipal de Educação, para o acompanhamento das famílias, contava apenas com uma assistente social e algumas estagiárias da faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. Para que o programa tenha um desempenho satisfatório , no que tange ao processo emancipatório das famílias, é necessário o estabelecimento de estratégias de fortalecimento dos familiares dos beneficiários através de grupos sócio-educativos e acompanhamento individual, além de promover uma interação entre assistentes sociais, psicólogos e usuários do programa. Tabela VI – Desempenho e Evasão dos Beneficiados em 1998/1999 Beneficiados Ano Aprovação Evasão 91,64% 0,5% 1998 78,6% 0,86% 1999 Nota-se pela tabela VI que a evasão foi praticamente zerada, no entanto, verifica-se uma considerável taxa de reprovação. De acordo com a coordenadora do programa, grande parte das reprovações ocorreu em escolas onde o índice de reprovação já era alto. Embora algumas escolas apresentem taxas significativas de reprovação, não podemos deixar de destacar que a evasão foi praticamente zerada, e a freqüência promove o acesso a informações e trocas culturais a partir das interações entre sujeitos envolvidos processo educacional. De acordo com Walselfisz, em entrevista à folha de São Paulo, o Bolsa-escola não foi criado para melhorar o aprendizado do aluno, mas para garantir a freqüência à aula, ele se torna importante na medida em que cria uma cultura escolar. Ademais, não podemos desconsiderar que o sucesso escolar mobiliza um conjunto de fatores externos à alçada familiar, como qualidade de ensino, método de aprendizagem, formação do mestre, correta avaliação do desempenho escolar feitas por especialistas na matéria, etc. No que tange à criação de uma cultura escolar na família do beneficiado, nota-se, pela tabela VII, um relevante interesse por parte do entrevistado em relação a vida escolar do beneficiário. Tabela VII – Envolvimento dos pais Freqüência com os pais procuram os professores Selecionados Não Não inscritos selecionados Sempre 35,7% 34,3% 22,0% Pouca vezes 19,5% 20,0% 25,7% Só quando é chamado 39,0% 42,9% 47,8 Nunca 5,8% 2,9% 4,4% Verificação se o entrevistado se lembra em qual disciplina o aluno teve pior desempenho no último ano Selecionados: 80,6% (Sim) Não selecionados: 73,5% (Sim) Não inscritos: 75,2% (Sim) Em geral as famílias de baixa renda não têm a cultura de um envolvimento regular com a escola e com a vida escolar dos filhos. NOGUEIRA (1995), analisando as relações de camadas médias com as escolas, aponta uma série de investimentos escolares de famílias provenientes dessas camadas, a saber: acompanhamento da escolaridade dos filhos, contatos freqüentes com os professores, ajuda regular nos deveres de casa, assiduidade às reuniões convocadas pela escola dos filhos, utilização do tempo extra-escolar com atividades favorecedoras de sucesso escolar entre outras. Entretanto, 81,7% dos entrevistados beneficiados, e vale lembrar que são pertencentes a uma camada extremamente pobre, disseram que a Bolsa-escola aumentou o seu interesse em participar da vida escolar do filho-aluno, seja "incentivando-os às aulas" (29,6%), "melhorando a alimentação" (5,2%), "comprando material escolar" (8,7%), "verificando os deveres" (6,1%), "conversando com os professores" (4,3%), "participando do colegiado" (11,3), “melhorando a renda familiar" (8,7%), "mandando estudar" (2,6%), entre outros (20,9%), 92% do entrevistados perceberam melhoria no rendimento escolar do filho, 49,4% dos entrevistados destacaram que depois da Bolsa-escola a freqüência escolar do filho aumentou, 50% disseram que ela se manteve. Desta forma, pode-se considerar que o programa está de alguma forma alterando a cultura escolar destas famílias. Outro resultado interessante, que diz respeito ao envolvimento familiar é quando os entrevistados são questionados se se lembram em qual disciplina o filho-aluno obteve o pior desempenho no último ano. Entre as 3 populações a que apresenta maior índice quanto a lembrança do desempenho do aluno é a população de selecionados para o programa. Tabela VIII – Aplicação do Recurso Sim Não Em parte Uso do dinheiro da Bolsa-escola Melhorou a alimentação da família 93,5% 2,6% 3,9% O aluno passou a levar lanche para escola 60,4% 27,9% 11,7% Fez melhoria na casa 28,8% 69,9% 1,3% Adquiriu eletrodomésticos 16,3% 83% 0,7% Pagou contas de água e luz 76,5% 18,3% 5,2% Quitou dívidas 24,8% 72,5% 2,6% Comprou material escolar 98,1% 1,9% Comprou medicamentos 69,5% 28,6% 1,9% Outras coisas 61,7% Nota-se pela tabela acima que o uso do recurso da bolsa-escola está voltado para suprir as necessidades da família, bem como para necessidades básicas escolares, como por exemplo lanche e material escolar. Assim, o benefício além de garantir gastos elementares para manter o aluno na escola, garante também a "sobrevivência" da família. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Políticas sociais de caráter educativo vêm ganhando espaço, sobretudo, no âmbito municipal. E vale destacar, que um dos entraves dessas políticas é o financiamento. Se por um lado, a elaboração e a gestão dessas políticas na esfera municipal é importante, uma vez que a relação direta entre à população beneficiária e o poder público se torna factível, por outro é nas regiões mais pobres que se encontra população-alvo mais necessitada de programas desta natureza, ou seja, em regiões municipais que possuem situações frágeis do ponto de vista orçamentário. Sendo, portanto, necessário a intervenção financeira da União nas regiões mais pobres onde estes programas se tornam inviáveis. Muitos críticos consideram que programas como o Bolsa-escola expressam a natureza paliativa de políticas sociais que se propõem a cuidar dos efeitos da desigualdade social. Entretanto no atual cenário, onde cada vez mais aumenta-se a exclusão social, programas de renda vinculados à educação constituem-se mecanismos emergenciais em busca da redução de desigualdade a longo prazo. A simples garantia do acesso e permanência na escola de contingentes destituídos já é um grande avanço. Fica claro que no município de Juiz de Fora o Bolsa-escola apresenta resultados significativos, dentre eles, a grande conquista foi garantir a freqüência dos alunos e envolver os pais no processo educativo. Contudo, faz-se necessário articular à renda, ações complementares direcionadas às famílias, bem como repensar o processo ensino-aprendizagem nas escolas onde constatou-se expressivas taxas de reprovação. O fim da evasão escolar traz à tona um problema que há muito vem sendo velado. Sérgio Costa Ribeiro em seus estudos sobre a evasão e a repetência escolar aponta que, exceto em alguns pontos isolados, o problema do acesso à escola não existe mais no país, existem vagas suficientes, as crianças vão à escola, e normalmente permanecem nela até aos 14 anos pelo menos, seu aproveitamento, no entanto, é um desastre. Este mesmo autor destaca que existe algo profundamente errado dentro da sala de aula, que faz com que os estudantes passem dias e anos em instituições que lhes dão muito pouco, e terminam em muitos casos, por estigmatizá-los pelo fracasso e pela repetência. Nesse sentido, com o fim da evasão e a persistência da repetência indica-se a necessidade de se repensar o processo ensino-aprendizagem para essa nova demanda de alunos. CONNELL (1995) salienta que as crianças vindas de famílias pobres são em geral, as que têm menos êxito, se avaliadas através de procedimentos convencionais, e são as mais difíceis de serem ensinadas através dos métodos tradicionais. Elas são as que têm menos poder na escola, são as menos capazes de fazer suas reivindicações ou de insistir para obter sua educação. Ademais, geralmente são utilizados conteúdos classistas, que buscam transmitir aos estudantes mais pobres, uma cultura e até mesmo uma linguagem que não lhes são próprias, e sim das classes médias e altas com as quais os professores se identificam. A partir desse entendimento, acreditamos que nas escolas onde os beneficiários continuam sendo reprovados, é necessário uma (re)elaboração do projeto político-pedagógico da escola, de forma que este vise uma educação inclusiva e, principalmente, de qualidade, que atenda às necessidades desta demanda de alunos. Além de buscar junto à Secretária Municipal estratégias que possam proporcionar o sucesso do aluno. Tendo em vista a relevância do programa faz-se necessário estudos que visem investigar este tema na tentativa de aperfeiçoamento de políticas desta natureza. Nesta perspectiva que objetiva-se uma avaliação mais aprofundada do programa Bolsa-escola no município de Juiz de Fora. PROJETO DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA Objetivos do Projeto: Constitui objetivo do projeto analisar e identificar a efetividade do programa, ou seja, apreender através das condições sociais dos beneficiários os sucessos e/ou os fracassos do programa; saber o nível de eficácia do programa, isto é, analisar a relação entre os objetivos propostos pelo programa e os resultados alcançados; verificar a eficiência do programa, visando a maior racionalidade de recursos, em vista da escassez de recursos públicos e a ampla população que demanda atendimento por uma política compensatória, e por fim, avaliar o impacto global do programa, demonstrando os efeitos sobre a população alvo. Ao questionar a respeito dos objetivos desta proposta, remetemo-nos a uma questão: Avaliar para quê? E as respostas, logo foram fluindo: avaliar para detectar os problemas e entraves; para definir prioridades; para descobrir o que já foi feito e o que falta fazer; para identificar as possibilidades e limites de financiamento; conhecer os impactos diretos e indiretos e a contribuição dos diversos agentes institucionais; ou até mesmo estabelecer novas metas ou objetivos. De acordo com COHEN e FRANCO (1999), avalia-se para escolher entre projetos alternativos ou entre diferentes opções para executar o mesmo projeto, desta maneira incrementar sua eficácia e eficiência. Neste sentido, vale lembrar que o programa Bolsa-escola ainda não sofreu nenhum tipo de avaliação externa. Metodologia: PESTANA (1997) enfatiza que “avaliar só para constatar uma realidade não é avaliar, é medir, é levantar dados. E dados são úteis quando se convertem em informações, ou seja, significam uma qualificação que permite o diagnóstico de uma dada situação e a orientação da ação, trazendo, assim, a possibilidade de correção de deficiências por meio da eliminação de processo de produtos indesejáveis”. (p.62) É nesta perspectiva é que se propõe avaliar essa política pública social implementada em Juiz de Fora. Saber seus fatores positivos, apontar seus equívocos e insuficiências, objetivando seu aperfeiçoamento ou reformulação, bem como conhecer seus impactos educacionais, destaca-se aqui, o desempenho escolar do aluno ( apesar de não constituir-se objetivo direto do programa), sem perder de vista uma concepção totalizante da avaliação buscando apreender a ação durante seu processo, resultados e impactos. Desta forma, não visamos uma avaliação que apenas mensura quantitativamente os benefícios ou malefícios do programa, mas uma avaliação com vistas a qualificar o processo, os resultados e os impactos. Para tanto, pretende-se recorrer ao modelo de Avaliação Participativa9, que tem ganhado destaque pelo seu uso freqüente na avaliação institucional ou de programas sociais, uma vez que tratando-se de unidades mais delimitadas (uma instituição ou programa) torna-se um procedimento rico, quando sua realização é partilhada com os agentes e beneficiários envolvidos, permitindo para além da avaliação uma apropriação reflexiva e socializada entre os diversos sujeitos da ação em momento. (CARVALHO,1997). 9 “A avaliação participativa surgiu na esteira da chamada pesquisa-ação. Guarda assim propósitos, princípios, procedimentos e estratégias muito próximas das utilizadas neste tipo de pesquisa. Tem como eixo metodológico fundante o envolvimento e participação dos formuladores, gestores, implementadores e beneficiários no próprio processo avaliativo de um dado programa ou instituição prestadora de serviços sociais. (...) De início, a avaliação participativa foi percebida com certa reserva científica. É que mesmo aceitando-se o princípio da não neutralidade do avaliador desacreditava-se da possibilidade desse modelo de avaliação garantir ‘objetividade’ e, portanto, confiabilidade nos dados avaliativos produzidos. Ao contrário, a experiência tem comprovado vantagens a este respeito: seus resultados ganham maior confiabilidade nos dados avaliativos produzidos”. (CARVALHO,1997:90) . “O objetivo desse tipo de avaliação tipo de avaliação é minimizar a distância que existe entre o avaliador e os beneficiários. É utilizada particularmente em pequenos projetos, que procuram fixar uma mudança endógena do grupo” (COHEN & FRANCO, 1999). É ainda CARVALHO (1997) que explicita que a avaliação participativa é capaz de apreender o pluralismo social e perseguir com novas abordagens metodológicas dois objetivos centrais: (1) a incorporação dos sujeitos implicados nas ações públicas – decisores, implementadores, beneficiários e outros agentes sociais envolvidos direta ou indiretamente nas decisões e impactos destas ações10, (2) desencadear um processo de aprendizagem social11. Os sujeitos envolvidos no projeto serão os beneficiários do programa, os executores juntamente com a comissão local que gerencia o programa, tendo como local de pesquisa, portanto, a Secretaria Municipal de Educação, os estabelecimentos de ensino dos beneficiados e o meio onde estão inseridos, ou seja, as famílias atendidas. Referências Bibliográficas: _______.Cidadania e Competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. São Paulo: Cortez, 1996. CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Avaliação participativa – uma escolha metodológica, In RICO, Elizabeth Melo (org.). Avaliação de Políticas Sociais: Uma Questão em debate. São Paulo: Cortez: Instituto de Estudos Especiais, 1999. COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de Projetos Sociais. São Paulo: Vozes, 1999. CONED. Plano Nacional de Educação-proposta da sociedade brasileira. BH:CONED,1997. CONNEL, R.W.. Pobreza e Educação. In: GENTILI, Pablo (org) Pedagogia da Exclusão: crítica ao neoliberalismo em educação. 6ª ed. Petrópolis, RJ,: Vozes, 1995. P-1142 FIGUEIREDO. Marcus Faria; FIGUEIREDO. Argelina maria Cheibub. Avaliação política e avaliação de políticas: um quadro de referência teórica. Textos IDESP, n.15. São Paulo, 1986, (mimeo). LAVINAS, Lena Renda mínima: práticas e viabilidade. Novos estudos. CEBRAP. nº. 53, março, 1999. P.p.65-83. LAVINAS, Lena e VARSANO. Ricardo. Programa de garantia de renda mínima e ação coordenada de combate à pobreza. Rio de janeiro, IPEA, 1997. (Texto para discussão, n.534) MELLO, G.N. Escolas eficazes: Um tema revisitado. Pirenópolis-GO: IPEA, 1993 PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá. Avaliação educacional – o sistema nacional de avaliação da educação básica, in RICO, Elizabeth Melo (org.). Avaliação de Políticas Sociais: Uma Questão em debate. São Paulo: Cortez: Instituto de Estudos Especiais, 1999. 10 “Envolver estes sujeitos no processo avaliativo tem sido considerado de extrema relevância para apreender os múltiplos fatores, processos e resultados para apreender os múltiplos fatores, processos e resultados da ação pública. É o coletivo de sujeitos implicados na ação que pode aportar a diversidade de valores, opiniões e ‘verdades’ sobre o programa em avaliação. Nesta direção a avaliação se compromete em dar vez e voz ao pluralismo social que estes interlocutores expressam”. (CARVALHO,1997:92) 11 “Em realidade a avaliação assim conduzida socializa e acrescenta novas informações e conhecimentos que estão na maioria das vezes departamentalizadas e segmentados nas diversas equipes de trabalho e beneficiários. Estas informações e conhecimentos postos em comuns permitem a apreensão do programa da totalidade; a apropriação do saber-fazer social. Resulta, portanto, na democratização do conhecimento e transparência da ação pública – objeto da avaliação.