FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS A experiência do programa Bolsa Alfabetização do governo do Estado de São Paulo: a ressignificação dos estágios no curso de Pedagogia Relatório de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Doutorado da Fundação Carlos Chagas. Eixo Temático: Políticas e Práticas de Educação Básica e Formação de Professores. Pesquisador-supervisor: Bernardete A. Gatti São Paulo 2012 1 Sumário Introdução 04 Capítulo 1 – O Programa Bolsa Formação – Escola Pública e Universidade 14 1.1 Um pouco da história: os idealizadores falam do Programa 20 1.2 Investigação didática: alguns pressupostos 26 1.2.1. A investigação didática no programa Bolsa Alfabetização 28 Capítulo 2 – Conceito de estágio: algumas definições 34 2.1 A legislação e a formação do professor: o lugar do estágio 34 2.2 Algumas definições de estágio 40 2.3 Estágio do curso de Pedagogia da USCS: princípios e práticas 48 Capítulo 3 – Metodologia de pesquisa: a coleta de dados 50 3.1 O que foi feito: a escolha metodológica 50 3.2 Análise dos dados 51 3.2.1 O perfil do aluno de Pedagogia/USCS 3.3 As entrevistas 52 56 3.3.1 Alunos bolsistas x alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional 56 3.3.1.1 A relação teoria e prática 57 3.3.1.2. Construção da identidade docente 59 3.3.2 Professores regentes 64 3.3.3 Os diretores 66 3.3.4 Os coordenadores 70 4. Conclusão 4.1 Repensando o estágio Referências Bibliográficas 72 73 76 Anexo 1 78 Anexo 2 85 2 RESUMO O objetivo da pesquisa foi o de identificar e compreender, a partir de um estudo comparativo entre o estágio proposto pelo Programa Bolsa Alfabetização e os estágios supervisionados do curso de Pedagogia, aspectos que favoreçam na construção de uma relação mais adequada entre as universidades e as escolas públicas nas regiões de Santo André, Mauá e Diadema. O estágio – um dos componentes do currículo – é uma atividade que possibilita ao aluno o contato direto com a realidade na qual ele irá atuar. Por meio da observação e análise crítica da “vida escolar” – entendida como um conjunto de práticas, valores e princípios das instituições educacionais –, o estagiário/aluno prepara-se para atuar de maneira reflexiva, investigativa e crítica para o exercício profissional. Diante da perspectiva de ampliar o conhecimento a respeito dos elementos que poderiam favorecer um diálogo mais adequado entre a universidade e escolas públicas de Ensino Fundamental e, por sua vez, que colaborassem com a formação do aluno do curso de Pedagogia, estruturou-se a pesquisa da seguinte forma: levantamento do perfil dos alunos participantes do estudo (bolsistas e não bolsistas); leitura e análise dos textos oficiais produzidos pela FDE sobre o Projeto Bolsa Alfabetização e realização das entrevistas. Do estudo realizado podemos constatar que os alunos bolsistas apropriaram-se do conhecimento prático de forma diferente daquela explicitada pelos alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional. Em seus depoimentos, os alunos bolsistas mostraram como o conhecimento prático exige de quem o constrói um olhar relacional, investigativo e problematizador. Além disso, eles ocuparam um espaço de fato na sala de aula da escola pública. O projeto, ao fornecer uma bolsa remunerada a esse aluno, institucionalizou a função do aluno bolsista/pesquisador. O bolsista teve uma jornada a cumprir, uma tarefa a ser realizada. Com isso, conseguiu acompanhar processos mais longos de aprendizagem, fato este constatado tanto nos depoimentos dos alunos bolsistas quanto nos depoimentos da equipe escolar. Já o aluno que realizou o seu estágio convencional, por não ocupar uma função definida na sala de aula da escola pública, não teve o tempo suficiente para acompanhar a construção de conceitos pelos alunos. A possibilidade de um trabalho de parceria foi uma fala recorrente dos nossos alunos bolsistas, ou seja, os professores regentes solicitaram que eles colaborassem no processo de alfabetização de seus alunos. O Programa Bolsa Alfabetização vem mostrando que o aluno da Pedagogia, ao ser inserido no contexto escolar por um tempo mais longo, e com o acompanhamento da professora regente, amplia de maneira significativa a formação que ele recebe na universidade. Em contrapartida, o estágio, no curso de Pedagogia, não vem cumprindo o seu papel, ou seja, o de ser um espaço efetivo para formação docente. O Programa Bolsa Alfabetização objetiva diminuir as lacunas entre a formação docente que acontece na universidade e aquela que se dá na escola. Contudo, ainda constatou-se que os professores regentes e os professores da universidade não estão conseguindo “efetivamente” dialogar. Palavras-chave: Formação docente, estágio, Bolsa Alfabetização, políticas públicas. 3 Introdução Verdade A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia os seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. Carlos Drummond de Andrade Como somos míopes. É assim que me sinto. Na busca de alcançarmos melhorias no campo educacional, em especial, na formação docente, muitas vezes realizamos pesquisas imbuídas de verdades. Que verdades? Em que medida as portas da verdade estão abertas? E, quando estão, como é o nosso olhar? O que queremos, muitas vezes, é que as nossas escolhas sejam as mais adequadas para “ver” o real. Quanta pretensão! Difícil. Complexo. Pensar a formação do professor exige um olhar atento, que procure superar possíveis dicotomias, contradições; um olhar menos fragmentado. 4 Dewey (2010), em seu livro Experiência e Educação, já afirmava que a humanidade sente necessidade de pensar em termos opostos, ou seja, ou é isso ou é aquilo. Para o autor, a história da teoria educacional é marcada pela oposição entre a ideia de que a educação é uma formação de fora para dentro; entre a ideia de que a educação tem como base dons naturais e a de que é um processo de superação das inclinações naturais para substituí-las por hábitos adquiridos sob pressão externa (p.19). Na história da Filosofia e da epistemologia, também enfrentamos alguns dualismos, entre eles, o empirismo e o inatismo. Os defensores do empirismo afirmam que a construção do conhecimento depende da experiência, dos sentidos. É por meio deles que assimilamos o mundo que nos cerca. Somos um papel em branco que por meio da experiência sensível vai incorporando o mundo. Já os defensores do inatismo sustentam a ideia de que as pessoas naturalmente carregam certas aptidões, habilidades, conhecimentos e qualidades em sua bagagem hereditária. Diferentemente dessas visões, a concepção construtivista defende a importância da relação entre os indivíduos e o ambiente na construção dos processos psicológicos. Nesta concepção, o ser humano deve ser considerado um construtor ativo, que participa da construção do seu conhecimento, não sendo mero produto do meio ambiente e nem tampouco um simples resultado de seus mecanismos de maturação/estruturas internas. O desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o seu meio ambiente. Enfim, visões diferentes, outras possibilidades de se ver determinado problema sempre fizeram parte da história do conhecimento. Meus percursos, tanto o pessoal como o profissional, foram marcados pela necessidade de entender o mundo, suas contradições e complexidade. Tanto no mestrado como no doutorado preocupei-me com a formação do professor e é nesse campo de trabalho e estudo que me propus a realizar meu estágio pós-doutoral. Atualmente, leciono num curso de Pedagogia, na disciplina Didática e sou responsável pelo estágio supervisionado. Como sabemos, um momento 5 importante na formação do aluno que cursa Pedagogia é o início dos seus estágios. Ao entrar em contato com a escola, com o contexto da sala de aula, o aluno tem a oportunidade de vivenciar situações que, para a sua formação são fundamentais. Contudo, muitas vezes, isso não acontece. A universidade tradicionalmente tem se preocupado em demasia com o ensino dos conhecimentos teóricos. Muitas vezes, no curso de Pedagogia, as disciplinas “ditas” como práticas e os estágios são oferecidos na parte final do curso. Contudo, compreendo que a relação teoria e prática não deveria se restringir a algumas disciplinas e/ou aos estágios. Uma atuação adequada entre a universidade e a escola poderia propiciar, tanto aos professores universitários quanto aos alunos graduandos transformações em suas práticas educativas, uma vez que os conhecimentos práticos seriam relacionados aos conhecimentos teóricos. Com o intuito de cooperar com a política dos governos no campo educacional, a UNESCO realizou estudo intitulado Professores do Brasil impasses e desafios (2009) sobre a formação inicial e continuada e a carreira dos professores no Brasil. A intenção era oferecer às diversas instâncias da administração educacional do país um exame crítico do quadro vigente, seguido de orientações e recomendações que pudessem colaborar de subsídio para uma efetiva valorização dos professores. Esse estudo foi coordenado pela pesquisadora Bernardete Gatti / Fundação Carlos Chagas e teve o objetivo oferecer um balanço da situação relativa à formação de professores para a educação básica no Brasil. A pesquisa analisou, por amostra representativa, a estrutura curricular e as ementas de 165 cursos presenciais de institutos de ensino superior. O estudo indicou que “nas disciplinas referentes aos conhecimentos relativos à formação profissional específica pouco exploram seus desdobramentos em termos de práticas educativas. Do conjunto de 28% das disciplinas que podem ser classificadas como voltadas à formação profissional específica “o que sugerem as suas ementas é que essa formação é feita de forma ainda muito insuficiente.” (p. 121) Além disso, segundo o relatório, os projetos pedagógicos, bem como as ementas dos cursos de Licenciatura e Pedagogia não fornecem informações 6 sobre como os estágios são realizados, supervisionados e acompanhados. Além disso, os objetivos, as exigências, as formas de validação e documentação, acompanhamento, convênios com escolas das redes para a sua realização, não estão claros. Segundo o documento, essa ausência nos projetos das IES e nas ementas pode sinalizar que os estágios ou são considerados como uma atividade à parte do currículo, o que é um problema, na medida em que devem se integrar com as disciplinas formativas e com aspectos da educação e da docência, ou sua realização é considerada como aspecto meramente formal. Além disso, as observações largamente difundidas sobre o funcionamento dos cursos de Pedagogia nos autorizam a sugerir que a maior parte dos estágios envolve atividades de observação, não se constituindo em práticas efetivas dos estudantes de Pedagogia nas escolas. p.120. Apesar de ser uma exigência das Diretrizes Curriculares de Formação de professores, outro problema detectado nas ementas analisadas é a pouca articulação da universidade com as instituições de educação básica e os sistemas de ensino estadual e municipal. Como sabemos, essa desarticulação é um aspecto que compromete a formação do aluno para o magistério. Como o aluno não tem um espaço de fato na escola, ele, apenas, contempla as ações que ocorrem na sala de aula... E quem não faz, dificilmente aprende. Com relação ao registro do que é feito, com pouquíssimas exceções, os estágios – obrigatórios– são registrados de modo vago. O documento aponta que: Não há propriamente projeto ou plano de estágio, nem sinalizações sobre o campo de prática ou a atividade de supervisão dos mesmos. Uma observação final: a escola, enquanto instituição social e de ensino, é elemento quase ausente nas ementas, o que leva a pensar numa formação de caráter mais abstrato e pouco integrado ao contexto concreto onde o profissional-professor vai atuar. (p. 155). Além disso, a análise das ementas indicou que nas disciplinas referentes aos conhecimentos relativos à formação profissional específica predominam 7 enfoques que buscam fundamentar os conhecimentos de diversas áreas, mas pouco explicitam seus desdobramentos em termos das práticas educacionais. Um grande número de ementas emprega frases genéricas que não permitem identificar conteúdos específicos. Há instituições que propõem o estudo dos conteúdos de ensino associados às metodologias, mas, ainda assim, de forma panorâmica e pouco aprofundada. Então, mesmo nesse conjunto de 28% de disciplinas que podem ser classificadas como voltadas à formação profissional específica, o que sugerem as suas ementas é que essa formação é feita de forma ainda muito insuficiente. A complexa mediação entre teoria e prática parece, de fato, não se realizar a bom termo, tal como vêm apontando, de longa data, inúmeros estudos (ANDRÉ, 2002, p. 121). No que diz respeito à formação de professores, o estudo realizado concluiu que, são necessárias mudanças nas estruturas institucionais, formativas e nos currículos (p.259). Os cursos deveriam rever o como estão articulando os conhecimentos selecionados como necessários para formação do professor o campo da prática. Além disso, também ficou constatado que as condições de formação de professores, de modo geral, ainda estão muito distantes de serem satisfatórias, e evidencia que a preparação de docentes para os anos iniciais da escolaridade em nível superior está sendo feita de forma um tanto precária. Constata-se nas instituições de ensino superior que oferecem licenciaturas a ausência de um perfil profissional claro de professor Por fim, segundo o relatório, as propostas curriculares não se voltam para as questões ligadas ao campo da prática profissional, pois continuam a privilegiar conhecimentos da área disciplinar em detrimento dos conhecimentos pedagógicos propriamente ditos: “Os estágios, que são obrigatórios, mostramse fragilizados, constam nas propostas curriculares sem planejamento e sem vinculação clara com os sistemas escolares, e sem explicitar as formas de sua supervisão”. (p. 259). Essa separação entre teoria e prática – explicitada na análise das ementas dos cursos de Pedagogia e nas licenciaturas - evidencia o quanto 8 ainda pensamos e agimos de forma dicotômica e fragmentada. Os estágios propostos na maioria dos cursos só evidenciam esse aspecto; eles são o reflexo do que está sendo proposto no curso: o que se ensina não é relacionado ao campo da prática. O relatório apresentado anteriormente mostrou como ainda separamos elementos que não deveriam ser separados: o conhecimento e a prática. Penso que o que foi explicitado na conclusão da pesquisa realizada pela UNESCO pode ter tido como uma de suas raízes o como interpretamos a nossa cultura. Entendo cultura como um grande texto tecido pela linguagem: pelos signos, pelos códigos semióticos, pelas mediações, pelas conexões. A palavra texto, etimologicamente, significa tecido - conjunto de fios entrelaçados, formando trama. Texto como tecido é antes a ação de combinar, de engendrar, de construir relações. Contudo, muitas vezes, a cultura tem sido interpretada como um texto desprovido de relações; não percebemos/sabemos como relacionar os elementos que o compõem. Podemos perceber isso quando constatamos a forma como a universidade tem se distanciado das escolas. Ela é responsável pela formação do professor que lecionará na escola, mas não consegue dialogar com as pessoas lá trabalham. O estágio como espaço de formação poderia ser um campo para a construção de relações, de um trabalho partilhado. Como componente do currículo, é uma atividade que possibilita ao aluno um contato direto com a realidade na qual ele irá atuar. Por meio da observação e análise crítica da “vida escolar” – entendida como um conjunto de práticas, valores e princípios das instituições educacionais –, o estagiário/aluno prepara-se para atuar de maneira reflexiva, investigativa e crítica para o exercício profissional. Muitas vezes, quando se menciona a palavra estágio, a associação imediata que se faz é com aquele trabalho burocrático a ser cumprido e entregue à secretaria para ser arquivado, não tendo nenhuma utilidade nem interesse. Diferentemente, o objetivo do estágio que se defende neste estudo é colocar o aluno em contato com realidades escolares diferenciadas, de forma a identificar, problematizar e elaborar projetos relacionados aos conteúdos 9 curriculares das disciplinas trabalhadas no curso de Pedagogia. Os estágios podem se constituir, assim, em espaços problematizadores, instigantes, avaliadores, enfim, ponto central das práticas de formação profissional, seja por parte dos professores formadores do curso, da universidade ou dos sujeitos em formação. Ao possibilitar a apreensão situações da realidade escolar, o estágio possibilita, ao futuro profissional da área de Educação, aprofundar o entendimento sobre a complexidade da ação de educar. É essa apreensão e sua análise que farão com que o aluno do curso de Pedagogia desenvolva uma ação educacional mais consistente. Consoante essas ideias, o estágio deve propiciar a unidade e o diálogo entre teoria e prática, tomando a realidade escolar como objeto de conhecimento e de pesquisa, “como referência, para, a seguir, estabelecer-se idealmente a realidade que se quer” (GARRIDO, 2003, p.183). Ao propormos que o estágio seja um dos caminhos para a construção desse diálogo, estamos apostando que “a mobilização do saber da experiência, aliada ao saber pedagógico e à fundamentação teórica poderão nos oferecer os elementos necessários para compreendermos e analisarmos o nosso próprio desempenho profissional” (LIMA, 2003, p.62). Apesar de minha defesa da perspectiva de estágio direcionada para a problematização, para a investigação e para a pesquisa, enfim, de um estágio que pudesse possibilitar condições para que os alunos, diante dos desafios da prática, elaborassem e reelaborassem conhecimentos adquiridos durante a formação inicial, tenho constatado pouco avanço nesse sentido. Ainda tem sido um desafio, tornar a realização do estágio um caminho para o entendimento do fazer pedagógico e da pesquisa. Essa constatação explicita-se no momento em que a instituição na qual trabalho ingressa no programa Bolsa Alfabetização. Cumpre lembrar que a Universidade Municipal de São Caetano do Sul, onde trabalho, assinou o convênio do projeto Bolsa Alfabetização, com a Secretaria Estadual de Educação/FDE, em Julho de 2008. No ano de 2010 contávamos com 56 alunos bolsistas que estavam distribuídos em quatro municípios: Santo André, Mauá, Diadema e São Paulo (regiões centro-sul e leste). Apesar do pouco tempo de 10 adesão ao projeto, pude perceber, por meio dos depoimentos dos alunos sobre o trabalho que vêm desenvolvendo, um olhar diferenciado para a escola pública, mais especificamente para as questões da sala de aula. Lembro que as assinaturas dos primeiros convênios de adesão ao projeto Bolsa Alfabetização datam de 2007. Logo, temos poucos trabalhos de Mestrado e Doutorado finalizados que discutam o impacto do programa na formação do aluno dos cursos de Pedagogia e Letras. O “Programa Ler e Escrever” é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, implantado pela SEE/FDE, que tem por objetivo garantir que alunos de ciclo I/EF desenvolvam o domínio da leitura e escrita até os oito anos de idade, privilegiando, a esses alunos, ainda na fase tenra de aprendizagem, o contato com a diversidade de gêneros textuais. Para viabilizar a implantação desse programa nas escolas da rede, foi criado o Programa Bolsa Alfabetização, uma parceria entre a SEE/FDE e instituições de ensino superior. Alunos universitários, oriundos dos cursos de Pedagogia, Letras e PósGraduação (ênfase em metodologia de ensino e alfabetização) auxiliam professores regentes de 1ªs séries; além disso, transformam a experiência em temário de análise e discussão nas IES, onde são acompanhados e orientados por seus professores orientadores. Tal movimento provoca o diálogo entre universidade e escola pública, como também instaura um espaço real, em que questões da educação são repensadas por ambas as partes. Esse diálogo proposto pelo Bolsa merece menção: - Como poderemos construir um trabalho interinstitucional, ou seja, como fazer com que as instituições que acolhem os estagiários percebam que as nossas intenções são, acima de tudo, de colaboração e troca? Essa questão é desafiadora para os profissionais envolvidos com a formação do professor. Assim, os motivos que me levaram a empreender esta discussão são alimentados pelas experiências concretas com a supervisão de estágio e, sobretudo, pelas preocupações com os modelos de estágio oferecidos nos cursos de formação docente nas instituições de ensino superior brasileiras. Minha intenção foi oferecer subsídios para o aprofundamento da reflexão e da produção de conhecimentos sobre a importância do estágio para a formação do professor. Logo, a proposta deste trabalho é, por meio de um processo de análise e 11 de reflexão sobre as práticas educativas, tornar a realização dos estágios espaços de interlocução entre a universidade e a escola pública. Resumidamente, procurei verificar em que medida o projeto Bolsa Alfabetização – por valorizar o diálogo entre universidade e escola pública -, em comparação com os estágios curriculares desenvolvidos no curso de Pedagogia, favorece ao aluno uma melhor compreensão da dinâmica escolar. Como resultados da pesquisa, foram identificados fatores que colaboram para inserção do aluno do curso de Pedagogia no contexto escolar. Para finalizar esta introdução, lembro um fato ocorrido, na FLIP de 2011. Antonio Candido, respondendo à pergunta “a atual crítica literária brasileira não corre riscos?” disse: Nenhum. A crítica universitária acadêmica é uma atividade extremamente segura, não tem risco. Os rapazes fazem tese sobre Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego, Clarice Lispector. A pessoa pega o livro e diz: "esse é bom, esse é ruim", isso acabou. O Brasil sempre foi um país de boa crítica literária. Eu tive uma sorte extraordinária porque fui crítico literário num tempo de esplendor da literatura brasileira. Essa afirmação levou-me a refletir sobre o distanciamento do campo acadêmico das produções culturais atuais. É interessante que esse distanciamento também é realizado no campo da Pedagogia. Por mais que tenhamos a consciência da importância do diálogo entre a universidade e a atualidade -, ainda observamos como estamos distantes dos problemas reais, das dificuldades que hoje a escola enfrenta quando se propõe a cumprir a sua função que é ensinar. Talvez, parafraseando Candido, tenhamos medo de arriscar possíveis saídas para os problemas que enfrentamos, enfim, não queremos “correr riscos”. A meu ver, o risco acontece quando nos debruçamos sobre os contextos reais da escola e percebemos que, muitas vezes, não temos uma “teoria” pronta que possa dar uma resposta de imediato e que por sermos “intelectuais” precisamos pelo menos apontar algumas respostas. Talvez tenhamos as respostas, talvez sejam respostas até óbvias, mas preferimos a complexidade 12 intransponível, pois representamos a academia. Enfim, é um risco que corremos, mas preferimos, muitas vezes, nos ausentar. Prefiro arriscar, mesmo sabendo que as saídas óbvias, para serem operacionalizadas, muitas vezes, se tornam complexas, mesmo me sentido míope... Prefiro dialogar com o mundo real. O trabalho está estruturado da seguinte forma: Capítulo 1 – Programa Bolsa Formação –Escola Pública e Universidade. Nesse capítulo, além de explicar objetivos do programa, procurei contar a história de como o Programa se constituiu. Para tal, estudei os documentos oficiais e entrevistei suas idealizadoras. Para finalizar, discuto o conceito de investigação didática defendido pelos organizadores do Programa. Capítulo 2 – Conceito de estágio: algumas concepções. Abordo, nesse capítulo, inicialmente, a legislação que referencia o curso de Pedagogia, em especial, a realização dos estágios. Na sequência, a partir da visão de alguns autores, apresento o conceito de estágio. Capítulo 3 – Metodologia de pesquisa: os dados coletados e sua análise. A partir da metodologia análise do conteúdo, apresento como os dados foram organizados e o resultado de sua análise. Na sequência, a partir do referencial teórico escolhido teço, relações e aponto algumas conclusões Conclusão: algumas considerações. A partir do estudo comparativo, delineio algumas ideias sobre o que poderia ser o estágio no curso de Pedagogia. Por último, apresento as referências bibliográficas que nortearam a pesquisa realizada. 13 Capítulo 1: Programa Bolsa Formação - Escola Pública e Universidade 1. 1 O Programa O Programa Bolsa Formação- Escola Pública e Universidade, mais conhecido como Bolsa Alfabetização, foi idealizado a partir da problematização de algumas avaliações - SARESP1, INAF, PISA - que ocorreram no Ensino Fundamental. Os resultados apontaram que uma parcela de alunos, no final do ciclo I do Ensino Fundamental, não sabia ler e escrever ou não conseguia concluir o ciclo II do EF, pois apresentava dificuldades de leitura e compreensão de texto. De posse desses dados avaliativos e com a intenção de reverter o quadro, o Governo do Estado de São Paulo desenvolveu o programa Ler e Escrever - iniciado em 2007 – como uma de suas dez metas para a educação. Basicamente, esse projeto pretendeu alfabetizar, até 2010, todas as crianças de até oito anos matriculadas na rede pública. Cumpre lembrar que o programa Ler e Escrever teve como base o programa Letra e Vida, lançado em 2005, o qual visava apenas à formação dos alunos que chegavam à 4ª. série sem saber ler e escrever. O fato de os alunos não estarem alfabetizados contribuía para que eles desistissem dos estudos, o que contribuía para a evasão escolar; além disso, apresentavam problemas de relacionamento, por se sentirem rejeitados, com baixa autoestima. Enfim, entravam para as estatísticas do analfabetismo. As ações do programa Ler e Escrever foram estruturadas nos seguintes projetos: Ler e Escrever na 1ª série do Ciclo I; Ler e Escrever na 2ª série do Ciclo I; Projeto Intensivo no Ciclo -3ª série – PIC 3ª série; Projeto Intensivo no Ciclo -4ª série – PIC 4ª série. Nesse conjunto de projetos constam ações de caráter geral – formação do trio gestor, formação do professor coordenador, formação do professor regente, publicação de materiais, acompanhamento dos dirigentes de ensino – convênios com as instituições de ensino superior – entre 1 O SARESP é o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. Desde sua criação, em meados da década de 90, vem avaliando, sistematicamente, o sistema de ensino paulista. 14 outras ações de caráter específico que variam de acordo com cada dos segmentos de ensino.. Os principais objetivos do Ler e Escrever são assim formulados: - Apoiar o professor coordenador em seu papel de formador de professores dentro da escola; - Apoiar os professores regentes na complexa ação pedagógica de garantir aprendizagem de leitura e escrita a todos os alunos, até o final da 2ª série do Ciclo I / EF; - Criar condições institucionais adequadas para mudanças em sala de aula, recuperando a dimensão pedagógica da gestão; - Comprometer as universidades com o ensino público, possibilitando a futuros profissionais da Educação (estudantes de cursos de Pedagogia e Letras), experiências e conhecimentos necessários sobre a natureza da função docente, no processo de alfabetização de alunos do Ciclo I / EF. A primeira fase do Ler e Escrever teve início em 2007, por meio de iniciativas nas escolas da capital paulista., com destaque na adoção do programa Bolsa Formação - Escola Pública e Universidade (no segundo semestre do ano), e a formação de professores para implantação do programa em todas as salas de aula em 2008. A capacitação dos educadores em serviço se faz conjugada à diretrizes e conceitos, em processos especificamente planejados para cada sujeito atuante no sistema. Logo, o programa Bolsa Alfabetização foi uma das ações para que se alcançassem os objetivos e as metas propostas pelo programa Ler e Escrever. Apostava-se na ideia de que com a união de forças - coordenadores, supervisores, diretores, professores e universidade – superaríamos os índices inadequados de alfabetização. Desenvolvendo projetos que interferissem diretamente no cotidiano da sala de aula e na gestão da escola, poderíamos reverter o quadro desfavorável. Assim, o programa Bolsa Formação - Escola Pública e Universidade deu início às suas atividades em 2007. tendo por objetivo, além de apoiar o professor na sala de aula, o de garantir que o aluno tenha um bom 15 desempenho na aprendizagem. Foi instituído pelo Decreto Nº 51.627, de 1º de março de 2007: Considerando o disposto no Decreto nº 7.510, de29 de janeiro de 1976, que reorganizou a Secretaria da Educação, inserindo em seu campo funcional, dentre outras, as atribuições de promover o desenvolvimento de estudos visando à melhoria do desempenho do sistema estadual de educação, assim como fomentar o intercâmbio de informações e assistência técnica bilateral com instituições públicas e privadas; e Considerando que a aproximação entre a Secretaria da Educação e as instituições de ensino superior responsáveis pela formação de docentes pode-se constituírem campo de construção de teorias, pesquisas e contribuições desencadeadoras de um salto de qualidade na educação pública estadual, Decreta: Artigo 1º - Fica instituído o Programa “Bolsa Formação - Escola Pública e Universidade”, destinado a alunos dos cursos de graduação de instituições de ensino superior que, sob supervisão de professores universitários, atuarão nas classes e no horário de aula da rede estadual de ensino ou em projetos de recuperação e apoio à aprendizagem. Segundo o Decreto, no artigo 2º, temos os seguintes objetivos gerais: I. possibilitar que as escolas públicas da rede estadual de ensino constituam-se em “campi” de pesquisa e desenvolvimento profissional para futuros docentes; II. propiciar a integração entre os saberes desenvolvidos nas instituições de ensino superior e o perfil profissional necessário ao atendimento qualificado dos alunos da rede estadual de ensino; III. permitir que os educadores da rede pública estadual, em colaboração com os alunos/pesquisadores das instituições de ensino superior, desenvolvam ações que contribuam para a melhoria da qualidade de ensino. Com relação à função do aluno bolsista, o Artigo 5º diz: Caberá ao aluno bolsista, sob a supervisão de seu professor orientador: I. auxiliar o professor regente na elaboração de diagnósticos pedagógicos de alunos; II. planejar e executar, em comum acordo com o professor regente, atividades didáticas destinadas aos alunos, individualmente ou em grupo; 16 III. escolher, em conjunto com o professor orientador, o tema para o desenvolvimento da pesquisa de acordo com o Anexo I desta Resolução; IV. cumprir outras atribuições previstas no Regulamento do Projeto e no anexo I desta Resolução. § 1º - O aluno bolsista deverá realizar atividades, na unidade escolar onde atua, em 20 horas semanais, de 2ª. a 6ª. feira, como segue: 1 -18 (dezoito) horas em classe de 1ª série do ciclo I do Ensino Fundamental, sendo 04 (quatro) horas diárias, sempre com o professor regente; 2 -02 (duas) horas em Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo HTPC, realizado na unidade escolar, conforme Regulamento do Projeto; § 2º - Na impossibilidade da participação em HTPC, o aluno deverá cumprir às 20 horas na classe de 1ª. série, junto com o professor regente. Resumidamente, o programa Bolsa Alfabetização faz parte do Programa Ler e Escrever, uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, implantado pela Secretaria Estadual de Educação (SEE), contando com a participação da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), o programa Bolsa Alfabetização tem por objetivo garantir que alunos de Ciclo I do Ensino Fundamental desenvolvam o domínio da leitura e escrita até os oito anos de idade, privilegiando, a esses alunos, ainda na fase tenra de aprendizagem, o contato com a diversidade de gêneros textuais. Ao desenvolver essas competências, os alunos migrariam para as séries subsequentes sem descompassos e com desempenho potencialmente satisfatório em outras disciplinas. Alunos universitários, oriundos dos cursos de Pedagogia e Letras, denominados alunos bolsistas, auxiliam professores regentes dos 2º anos a realizar a alfabetização; além disso, transformam a experiência em temário de análise e discussão nas IES, onde são acompanhados e orientados por professores orientadores. Um dos eixos do programa Bolsa Alfabetização é a importância dada à realização de pesquisa, cujo conceito aproxima-se da ideia de investigação didática ou de engenharia didática. A educadora argentina Profª Drª Delia Lerner, eleita como consultora do programa, vem acompanhando e orientando a equipe de gestão do Ler 17 Escrever/Bolsa Alfabetização assim como os professores orientadores das instituições de ensino superior. Realizado pelo aluno bolsista e sob o acompanhamento do professor orientador da instituição de ensino superior, (IES) o projeto de pesquisa deveria ser uma modalidade de investigação didática, realizada nas classes de 2ªs séries, convertida em registro escrito, com o objetivo de apresentar à escola e à IES, um estudo temático de alguns aspectos da alfabetização. São eles: leitura feita pelo professor; produção oral com destino escrito; cópia e ditado (ressignificação da cópia); rotina de leitura e de escrita. O programa prevê que todos os apontamentos do aluno bolsista, sob a intervenção/inferência do professor orientador, sejam transformados em relatórios pedagógicos para que possam posteriormente ser encaminhados à FDE para análise. Além disso, está proposto que ao término do projeto de pesquisa a escola receba uma cópia desse documento, o que será uma oportunidade para reflexão e revisão das didáticas adotadas. Segundo seus idealizadores, o Bolsa Alfabetização constrói uma ponte importante entre o ambiente da universidade e o contexto da sala de aula, além de contribuir para a formação de futuros professores para o Ensino Fundamental. Para a sua execução, a equipe responsável tem realizado ações tanto administrativas quanto pedagógicas. Em 2010, o programa firmou 88 convênios com instituições de ensino superior. Com isso, 98 professores das instituições de ensino superior assumiram a função de orientadores e 88 interlocutores foram escolhidos. No total, 2099 classes de 2º ano/Ciclo I/EF foram atendidas em 976 unidades escolares, o que possibilitou que 2009 alunos-bolsistas/pesquisadores pudessem desenvolver suas funções nas classes de 2º ano/cicloI/EF. (Figura 1) 18 Fonte: www.lereescrever.fde.sp.gov.br FIGURA 1 – ABRANGÊNCIA DO PROGRAMA LER E ESCREVER EM 2010 19 1.2 Um pouco da história: os idealizadores falam do Programa Com a intenção de conhecer um pouco mais o Programa Bolsa Alfabetização, realizei em meados de 2010 uma entrevista coletiva com Iara Prado, coordenadora do Programa Ler e Escrever, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Neide Nogueira, assessora da diretoria de projetos especiais da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), de São Paulo, Marisa Garcia, responsável pela formação pedagógicas dos professores das IES e Eliane Eduardo, responsável pela parte administrativa. Essa entrevista foi realizada pela FDE.O que apresento é uma síntese com algumas transcrições. Segundo Iara Prado, o programa foi concebido em 2006 pela Prefeitura de São Paulo. A equipe responsável pela sua elaboração fez parte do grupo que escreveu os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e o PROFA (Programa de Formação de Professores Alfabetizadores)2. Quando José Serra assumiu a Prefeitura de São Paulo, foi feita uma avaliação da situação do ensino no município, verificando-se que, apesar da boa estrutura física, havia “uma quantidade enorme de crianças de doze anos a quatorze anos, os famosos repetentes que não eram aceitos na 5ª ou 6ª...”. Além disso, para Iara Prado, ao mesmo tempo em que a rede municipal se amplia, sua complexidade aumenta: os inúmeros cursos de formação continuada não agregam valor “naquele ambiente da escola, altamente desagregado, porque muito grande... muita sala, muito professor entrando e 2 Profa (Programa de Formação de Professores Alfabetizadores) Programa lançado em dezembro de 2000 pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (SEF/MEC) com o objetivo de oferecer novas técnicas de alfabetização, originadas em estudos realizados por uma rede de educadores de vários países. Esses estudos têm como base as transformações nas práticas de ensino da leitura e da escrita ocorridas a partir de 1985 com as pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberoski e a publicação da obra Psicogênese da Língua Escrita. O Profa resulta de um processo iniciado com o lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ele é voltado para a formação de professores alfabetizadores, desenvolvidos a partir do estabelecimento de convênios com secretarias de Educação e organizações já participantes do programa Parâmetros em Ação, com a alfabetização de 1ª a 4ª séries já implantada, além de universidades. Trata-se de um curso anual de formação, destinado especialmente a professores que ensinam a ler e escrever na Educação Infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. O curso possui 160 horas, no qual 75% do tempo é trabalhado em grupo e 25% individualmente pelo professor, com leituras. Há material escrito: apresentação do programa, guia de orientações metodológicas e coletânea de textos; e vídeos com 30 programas aglutinados em três módulos (Processo de Aprendizagem, Propostas Didáticas 1 e 2.) Fonte: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=419 20 saindo, etc. e tal... ou seja, resumindo – não tem como dourar a pílula – nós não acreditávamos mais que a formação continuada que acontece fora da escola pudesse transformar a sala de aula... Nós tínhamos exemplos não só em São Paulo como também no Brasil... Um esforço enorme dos professores de formação continuada, dos professores na área Didática da Alfabetização, e os números não mudaram”. Para Iara, a universidade está muito distante da escola básica: ela virou um centro teórico onde você estuda, mas não se profissionaliza. A universidade praticamente não forma o professor e isso, numa política educacional que defende educação para todos, faz com que tenhamos problemas na qualidade do que está sendo produzido. O aluno da Pedagogia, muitas vezes, ao se inserir na escola, não consegue perceber as relações entre o que estudou e o que está vivenciando. Diante desse quadro, pensou-se num programa que, a partir de um material de formação continuada em serviço, pudesse reverter esse quadro. Além disso, partiu-se do pressuposto que no Brasil “não há mais tempo de fazer formação continuada de professor em serviço: Ele não pode deixar que mais gerações sejam prejudicadas porque o professor ‘tá’ estudando. Então tem que ser um projeto de formação continuada em serviço que acontece na sala de aula, envolvendo alunos, professores e toda a equipe escolar, senão ele não vai acontecer”. Outro aspecto relevante que contribuiu para que o Programa fosse implantado foi o fato, em especial, de as universidades públicas não terem assumido a Didática da Alfabetização. Mesmo com tantas mudanças no campo da alfabetização “a sociedade letrada deste país continuou tratando essa questão (alfabetização) como se fosse uma questão muito simples”. Como poderíamos fazer com que a universidade prestasse atenção nisso? Iara lembrou um fato determinante na implantação do Programas universidades estavam precisando de alunos: “olha, a universidade está precisando de apoio financeiro. Nós temos um interesse enorme em que a universidade se sensibilize e entre em contato com essa dificuldade que a gente não tem condições de resolver sozinhos enquanto gestores do setor público... Então nós desenvolvemos a proposta para universidade. O pré-requisito: para que ela assumisse que um professor(poderia ser o Metodologia ou o de Didática) 21 também fosse responsável pelo projeto na universidade”. Além disso, também foi proposta a bolsa para o aluno bolsista e o acerto de reuniões mensais. Enfim, o Programa foi se constituindo a partir de uma demanda que veio da universidade (necessidade de ter mais alunos) e de quem representava os órgãos públicos (mudanças na metodologia da alfabetização). Para Iara Prado, a implantação do programa tem sido difícil, pois o setor público é grande e complexo. Além disso, os professores regentes têm de trabalhar com um material novo e recebem um aluno da Pedagogia em sua sala. Esse aluno foi chamado de pesquisador por diversos motivos: “O primeiro deles: para manter a dignidade do profissional em formação. Por quê? Porque, se ele é um estagiário, ele podia ser transformado, apenas, em um ajudante e não para desenvolver um trabalho ao lado do professor. Outro motivo foi o fato de a Prefeitura de São Paulo ter uma lei que dizia que todo estágio teria que ser feito por meio da CIEE. Então, em 2007, o Programa tem início no Estado de São Paulo. Fizemos algumas adequações nos materiais que já estavam sendo usados pela prefeitura de São Paulo”. Iara lembra que o primeiro decreto que o Governo José Serra assinou foi a criação do Programa Bolsa Universidade – escola pública. Com relação ao material disponibilizado aos professores na escola, Iara afirma que sua existência foi importante, “porque, muitas vezes, os professores não tinham tempo; o material era novo pra eles. Mesmo eles tendo horasatividade a mais pra trabalhar o material, nós sabemos que muitos deles têm dupla jornada.” Também foi mencionada a dificuldade que as universidades enfrentaram com a implantação do projeto: “No começo as reuniões eram muito difíceis, muito, porque havia resistência”. O próprio mantenedor, a mantenedora e o diretor não entendiam qual era o perfil das pessoas que seriam os interlocutores. A gente exerceu esse papel de mediador entre a universidade e a escola pública. Em 2009, o programa foi para o interior. Tanto Iara Prado quanto Neide Nogueira acreditam que a formação dos participantes do Programa – alunos da Pedagogia – é diferenciada e que talvez esse projeto pudesse se transformar em política pública. 22 Para Iara, os bons resultados do programa só serão obtidos com a colaboração da universidade. Segundo a estudiosa, a única ponte que nós temos com a universidade é o estágio. Ele seria a “nossa salvação”. Contudo, diz: “mas que ponte é essa, que o estágio hoje, convencional, oferece? Uma ponte capenga. Porque a palavra é justamente esta: capenga, pois ela cai”. Indagada sobre a função do aluno bolsista- Para você, quem é o sujeito da pesquisa, quem são os sujeitos da pesquisa? –, Neide Nogueira afirmou que Programa acaba interferindo na formação do professor regente, no aluno bolsista, no professor universitário, na formação do aluno do Ensino Fundamental. Logo, “a pesquisa se constrói na relação entre sujeitos”. Para Neide, o aluno bolsista é o aluno da faculdade, que também está aprendendo; é o sujeito pesquisador, que se indaga sobre processo dos alunos que ele está estudando, e que, ao fazer pesquisa, aprende. A pesquisa que ele realiza não tem natureza acadêmica, pois não é feita pela academia. Contudo, por ser uma pesquisa para produzir novos conhecimentos, é um instrumento de aprendizagem para o futuro professor. Ao mesmo tempo em que aprende a olhar o processo de aprendizagem dos alunos, ele desenvolve estratégias de pesquisa didática: “Nós até relutamos bastante em chamar isso de pesquisa, porque, do ponto de vista científico, ela não tem o rigor de uma pesquisa, nem os alunos têm conhecimento de metodologia de pesquisa... Mas ele está fazendo uma investigação. Então a investigação didática está sendo usada como instrumento de aprendizagem, ou, se você preferir, instrumento de formação para futuro professor. Quem nos trouxe essa proposta, essa ideia, foi a professora Delia Lerner”. Para Neide, esse tipo de investigação permite ao aluno, a partir de algumas perguntas, acompanhar uma determinada atividade. Além disso, “dá um grau de profundidade... Quer dizer, coloca o aluno numa situação problema para que ele registre, pense, produza relatórios... É isso que os faz aprender. Então, se existe um conhecimento de contexto, pelo simples fato de ele estar lá... É ótimo, é maravilhoso, já é um grande avanço... Ele consegue ver processos... Ele vê aprendizagem. E isso tem a ver com essa ideia: que entende que a aprendizagem é um processo de longo prazo e que tem várias entradas. Também tem outro aspecto... faz com que eles aprendam que, para 23 o professor, será absolutamente essencial olhar os momentos pelos quais o aluno está passando e pensar qual é a intervenção que ele precisa realizar em cada momento... Então, treinar esse olhar. Treinar, entre aspas porque é um olhar extremamente informado. Mas aprender a olhar... Compreender, ou pelo menos, levantar hipóteses sobre o como o aluno está colocando em jogo o seu saber, e qual seria a contribuição que ele poderia dar para fazer o aluno avançar. Isso é uma coisa que o professor tem que ter muitíssimo bem desenvolvida, porque ele tem que fazer isso... A investigação também ajuda . Então, na verdade, volto a te dizer: é uma relação entre sujeitos”. Para Neide, esse tipo de trabalho interfere na formação do futuro professor. O aluno bolsista, ao ingressar no projeto, constata que a criança não está aprendendo, mas com o passar do tempo, ele também percebe que também precisa aprender muito para ensinar, ou seja, “tem uma relação direta entre essa criança e esse aluno, que também não está aprendendo... Para que essa criança possa aprender, eu tenho que fazer com que esse outro também aprenda, senão não dá pra aprender... Transformar a formação inicial é condição sine qua non para gente resolver a questão da formação. Neide, ao fazer referência à pesquisa da Bernardete Gatti, lembra que o estudo desenvolvido pela pesquisadora mostrou a gravidade da situação da formação do professor no Brasil e a importância do diálogo entre a universidade e a escola. É esse desafio que o Programa Bolsa procura enfrentar. “Diz Neide:”, a formação de professores tem que ser um sistema em que você articule as escolas de formação inicial com as redes públicas. Você tem que ter um canal permanente. Não pode ser um programa que dá um dinheirinho... Mesmo quando a formação inicial tiver mudado, tiver atingido um excelente patamar, ainda assim precisa”. Neide lembra também que é possível mudar a educação por meio das leis. Para a pesquisadora, seria necessário criar a cultura para que a lei possa funcionar: “A ideia de formação proposta pelo Bolsa não é nova. Trazê-la é que é... Eu acho que tem a ver com essa mudança da concepção mesmo, do que é a formação de um professor. Que o professor é um profissional, e tem que ser um profissional de alto nível. Formar professor não pode ser mais simples do que formar um médico, um engenheiro, um arquiteto. Não pode ser aligeirada a 24 formação do professor. Penso que, sem uma mudança cultural no próprio âmbito educacional, de gestão, o Programa não dá certo”. Marisa Garcia, formadora da FDE, afirmou que o Bolsa Alfabetização é um programa que vem se constituindo com a colaboração de alguns pesquisadores: Bernardete Gatti, Delia Lerner, entre outros. A formação pedagógica dirigida aos professores da IES está sob responsabilidade de Marisa, enquanto Eliane Eduardo ficou como responsável pela estrutura/gestão. Marisa diz: “Eliane ficaria na questão da gestão, Eu olho o que ela está fazendo na gestão e procuro articular com as questões pedagógicas. Todas as pautas das reuniões são passadas para ela, enfim, procuramos sempre realizar um trabalho integrado”. Tanto para Marisa como para Eliane o trabalho também vem caminhando com a parceria que aos poucos foi sendo construída com as IES. Para elas, hoje a rede já tem clareza do papel do aluno bolsista e estamos caminhando para a realização das investigações didáticas. Para Marisa, o programa conseguiu se consolidar em 2009. Para ela, a função do aluno bolsista só é possível de ser realizada quando ele consegue estabelecer, de fato, uma parceria, com o professor regente. Para a pesquisadora, os sujeitos da pesquisa são os alunos da sala de aula e o professor regente, pois, o que se pede é que o aluno bolsista olhe a relação de ensino-aprendizagem. É claro que processo ocorre num determinado contexto, logo,, diz ela: “Eu vejo a escola como um todo, porque a partir do momento que a gente pede para AP participar do HTPC é para que ele tenha convivência com a professora regente. Aos poucos, ele vai criando vínculos com da escola, com o diretor, com o vice-diretor, isso aí... Maravilha...” A entrevista teve a duração de uma hora e 32 minutos. Conversamos um pouco a respeito da história do Programa, assim como sobre, o papel do aluno bolsista. Na sequência, explico com mais detalhes o que seria a pesquisa que o Programa defende: a investigação didática. 25 1. 2 Investigação didática: alguns pressupostos Um dos eixos de nossa investigação foi entender como os alunos do curso de pedagogia, participantes do projeto Bolsa Alfabetização, realizam seus estágios. O conceito de pesquisa, tratado no desenvolvimento deste estudo, está atrelado a uma visão de produção de conhecimento pedagógico a partir de uma articulação entre a prática observada e a teoria estudada. É importante que se diga que, ao mesmo tempo em que os alunos bolsistas planejavam e executavam, em comum acordo com o professor regente, atividades didáticas destinadas aos alunos, eles realizaram suas pesquisas. Neste trabalho entende-se pesquisa como uma ação que tem como meta aprofundar ou criar um campo de conhecimentos. Quem pesquisa intenciona descrever, explicar e analisar um determinado fenômeno. A pesquisa em educação se reveste de características específicas: exige também um olhar investigativo que permite lidar com dados mais subjetivos, qualitativos, pois o humano compõe o escopo de estudo do pesquisador (Gatti, 2007). Historicamente, a produção da pesquisa em educação no Brasil teve início com a criação, no final dos anos 30, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Um pouco depois, temos o desdobramento do INEP no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e nos Centros Regionais. Segundo Gatti, a importância desses centros no desenvolvimento de bases metodológicas, sobretudo quanto à pesquisa com fundamento empírico, no Brasil, pode ser dada pelo contraponto com as instituições de ensino superior e universidades da época nas quais a produção de pesquisa em educação ou era rarefeita, ou inexistente (2007, p.15). É bom lembrar que esses centros contribuíram para que a pesquisa pudesse se institucionalizar, pois foram formadas equipes fixas responsáveis pelo desenvolvimento do trabalho, com uma série de publicações regulares, 26 bem como oferecimento de cursos para a formação de pesquisadores (Gatti, 2007). Apesar de toda essa atividade de pesquisa realizada pelos centros, foi com a institucionalização, pelas universidades, de programas de pósgraduação, no final da década de 60, que observamos uma ampliação da pesquisa em educação em nosso país. Segundo Gatti (2007), durante todo esse período, a pesquisa em educação, no Brasil, passou por “visíveis convergências temáticas e metodológicas”. Na década de 30, observávamos uma pesquisa com enfoque predominantemente psicopedagógico; na década de 50, privilegiavam-se as condições culturais; já na década de 60, os estudos destacavam a natureza econômica, com trabalhos sobre educação e investimento, entre outros; na década de 70, temos uma distribuição equitativa entre diferentes problemáticas com enfoque predominantemente tecnicista. No final da década de 70 e início dos anos 80, surgem novas perspectivas de pesquisa com abordagens críticas. Vale destacar que esse processo de ampliação foi acompanhado de alguns problemas de base na construção das próprias pesquisas (p.19). Além disso, segundo a autora: “há que considerar que, de modo geral, nas universidades onde a pesquisa veio a se desenvolver, nem sempre encontramos condições institucionais de apoio à pesquisa educacional, e neste quadro a pesquisa na área veio revestida de características de iniciativas individuais.”(p. 24). Ao discutir as relações entre pesquisa em educação e seu impacto social, Bernardete Gatti, a partir de dois trabalhos cujos objetivos eram analisar como as pesquisas produzidas nas instituições de ensino superior contribuíram para o desenvolvimento das reformas e inovações realizadas ou em realização no sistema educacional (níveis fundamental e médio), constatou que, entre outros aspectos, a desvinculação das universidades brasileiras em relação aos níveis básicos de ensino, o distanciamento das universidades em relação aos problemas práticos, uma visão idealizada e teórica do ensino, e a inexistência quase total de trabalhos conjuntos. Como já foi mencionado, um dos objetivos do Programa Bolsa Alfabetização é a construção de uma relação mais próxima entre a escola e a universidade. Os alunos bolsistas, ao realizarem suas pesquisas – investigação 27 didática –procuram estudar as práticas que estão sendo por eles observadas/acompanhadas. Essa atividade, mesmo que de maneira indireta, tem contribuído para essa aproximação. Logo, podemos afirmar que a proposta de pesquisa do programa busca superar um dos problemas apontados anteriormente pelos estudos de Gatti, ou seja, é uma investigação realizada a partir do contexto da sala de aula. Contudo, é importante que se diga que o problema visto anteriormente refere-se à pesquisa dita acadêmica, A proposta do Bolsa Alfabetização, segundo seus idealizadores, é de uma pesquisa de formação. 1.2.1 A investigação didática no Programa Bolsa Alfabetização Um dos eixos do programa Bolsa Alfabetização é a importância dada à realização de pesquisa, cujo conceito se aproxima da ideia de investigação didática ou de engenharia didática. Realizado pelo aluno bolsista e, sob o acompanhamento do professor orientador da instituição de ensino superior (IES), o projeto de pesquisa deveria ser uma modalidade de investigação didática, realizada nas classes dos 2º. anos, convertida em registro escrito, com o objetivo de apresentar à escola e à IES, um estudo temático de alguns aspectos da alfabetização. São eles: - leitura feita pelo professor; - produção oral com destino escrito; - cópia e ditado (ressignificação da cópia); - rotina de leitura e de escrita. O programa prevê que todos os apontamentos do AP, sob a intervenção/inferência do professor orientador, sejam transformados em relatório pedagógico para que possam, posteriormente, ser encaminhados à FDE para análise. Além disso, está proposto que, ao término do projeto de pesquisa, a escola receba uma cópia deste documento, o que será uma oportunidade para reflexão e revisão das didáticas adotadas. Em um dos encontros promovidos pela FDE , Delia Lerner procurou explicitar o conceito de investigação didática. A pesquisadora apontou, como modelo de referência para a realização das pesquisas, a engenharia didática. Entre os estudiosos do conceito de engenharia didática destaca-se a pesquisadora francesa Michèle Artigue. Engenharia didática (em francês: 28 Ingénerie didactique) é uma metodologia de investigação construída no início da década de 1980 para trabalhos de educação matemática, com o objetivo de delimitar uma forma de trabalho didático. Essa delimitação foi pensada para estruturar duas questões consideradas por Artigue (1996) como importantes. São elas: a) as relações entre a investigação e a ação no sistema de ensino; b) o papel que convém levar as “realizações didáticas” a desempenhar na sala de aula, no seio das metodologias da investigação didática. (p.193) Artigue, ao apresentar o estudo da engenharia didática, faz referência ao trabalho do engenheiro. Para pesquisadora, tanto o trabalho do engenheiro como o do professor, além de exigir sólido conhecimento científico, requer disponibilidade para o enfrentamento de problemas práticos para os quais não existe ainda uma teoria construída. Assim, a engenharia didática trabalha com a premissa de que a teoria desenvolvida fora da sala de aula é importante para as ações que ali ocorrem, mas às vezes não é suficiente. Nesse sentido, agir de forma racional, com base nos conhecimentos científicos sem desconsiderar a importância da realização didática na sala de aula como prática de ensino de investigação, é aspecto importante na ação de ensinar. A engenharia didática propõe ao professor, que ele tenha a preocupação de pensar a teoria a partir da prática. Como a prática do ensinar é um evento que não se repete, é esperado o desenvolvimento de estratégias para o ensino. Resumidamente, para Artigue (1996), a engenharia didática tem as seguintes características: - “... é um esquema experimental baseado sobre ‘realizações didáticas’ em sala de aula, isto é, sobre a concepção, a realização, a observação e a análise de uma seqüência de ensino” (p.197); - pelo registro no qual se situa (sala de aula) e pelos modos de validação (interna) que lhe estão associados (análise a priori e a análise a posteriori); 29 - seus os objetivos podem ser diversos, ou seja, ao realizar a investigação didática, poderemos encontrar elementos para o aprendizado de qualquer conteúdo ou de um conteúdo específico. É preciso salientar que essa metodologia está fundamentada numa teoria muito ampla – que envolve a teoria das situações didáticas, dos quadros epistemológicos e dos obstáculos cognitivos – desenvolvida por autores da didática das matemáticas francesa, Brousseau, Douady e Chevallard. Uma engenharia didática, segundo Artigue (1996), inclui quatro fases: 1) Análises prévias. Inicialmente, é esperado que se façam algumas análises. São elas: análise epistemológica dos conteúdos visados do ensino, análise do ensino habitual e dos seus efeitos, análise das concepções dos alunos, das dificuldades e obstáculos que marcam a sua evolução, análise das concepções dos alunos a respeito das dificuldades e obstáculos que marcam a sua evolução, análise de constrangimentos na qual virá situar-se a realização didática efetiva, tendo em conta os objetivos específicos da investigação. A análise prévia, que será retomada durante o processo de trabalho, é realizada para embasar a concepção da engenharia; 2) Concepção e análise a priori de experiências didático-pedagógicas a serem desenvolvidas na sala de aula. Nessa fase, o investigador terá de agir sobre um determinado número de variáveis do sistema, não fixadas pelos constrangimentos variáveis macro-didáticas (situações globais) e microdidáticas (situações locais). A análise do constrangimento está assim dividida: dimensão epistemológica (característica do saber que seria colocado em jogo), dimensão cognitiva (características do público ao qual se dirige o ensino) e dimensão didática (características do sistema de ensino). O objetivo da análise a priori “é, pois, determinar de que forma permitem as escolhas efetuadas controlar os comportamentos dos alunos e o sentido de seus comportamentos. Para isso, funda-se em hipóteses; será a validação dessas hipóteses que estará, em princípio, indiretamente em jogo no confronto, operado na quarta fase, entre a análise a priori e a análise a posteriori” (Artigue, 1996, p.205); 3) Implementação da experiência; 30 4) Análise a posteriori e validação da experiência. A análise a posteriori se apoia no conjunto dos dados recolhidos no momento da experimentação: observações realizadas, produções dos alunos, testes individuais eu em grupo, realizados em diversos momentos, ou no final. Segundo Artigue, é no estudo comparativo entre a análise a priori e a posteriori que a validação das hipóteses envolvidas na investigação serão validadas. De acordo com Lerner (2002), a investigação didática elege as práticas de sala de aula como objeto de análise, considerando como ferramentas essenciais para se construir e transmitir conhecimentos próprios da/para a área: as situações de classe, as diferentes formas de registros sobre essas situações e as discussões, a partir desses registros, com os professores envolvidos nessas situações. Essa perspectiva de adotar como objeto de análise a própria prática do professor é defendida por Lerner (2002), com base na idéia de que para a inovação/mudança de práticas em sala de aula não basta somente a capacitação dos professores. Nos termos da autora: Reconhecer que a capacitação não é condição suficiente para a mudança na proposta didática porque ela não depende só das vontades individuais dos professores – por melhor capacitados que estejam – significa aceitar que, além de continuar com os esforços de capacitação, será necessário estudar os mecanismos ou fenômenos que ocorrem na escola e impedem que todas as crianças se apropriem dessas práticas sociais que são a leitura e a escrita (...) Ao conhecê-los, se tornará possível vislumbrar formas de controlar sua ação, assim como precisar algumas questões relativas à mudança curricular e institucional. (Lerner, 2002:33). É, pois, nesse sentido, que a autora aponta a necessidade de investigações didáticas específicas, como na área da leitura e da escrita, ou seja, para que se produzam conhecimentos para resolver problemas específicos dessa área, de tal modo que a didática da leitura e da escrita deixe de ser matéria “opinável” para se constituir como um corpo de conhecimentos de reconhecida validade. Pois, de acordo com Lerner (2002), o conhecimento didático não pode ser deduzido simplesmente das contribuições da psicologia ou da linguística. “É necessário realizar investigações didáticas que permitam estudar e validar as situações de aprendizagem que propomos, aperfeiçoar as 31 intervenções de ensino, apresentar problemas novos que só se fazem presentes na sala de aula”. (Lerner, 2002, p. 43). É possível conceber que nessa linha de investigação, a prática de ensino é articulada com a prática de investigação. Logo, pode ser vista como referencial para o desenvolvimento de estratégias para o ensino, geradas na junção do conhecimento prático com o conhecimento teórico. O Programa Bolsa Alfabetização, ao propor uma pesquisa feita a partir de uma investigação didática, parece mostrar a junção entre o que se observa e o que poderia ser feito, o que está sendo proposto e o como poderia ser diferente, enfim, demonstra uma preocupação em olhar o contexto da sala de aula não apenas para criticar, mas para pensar o que lá ocorre. Assim poderão ser pensadas também novas propostas didáticas. Enfim, um dos seus objetivos é possibilitar ao futuro professor que ele perceba que a mudança é possível e que essa possibilidade passa pelo pensar o real, problematizá-lo e projetá-lo. Resumidamente, a partir dos documentos oficiais e da fala dos idealizadores do projeto, o Programa Bolsa Formação – Escola Pública e Universidade: - é um Programa idealizado a partir da problematização de algumas avaliações de desempenho dos alunos; - tem como base o programa Letra e Vida, lançado em 2005; - tem por objetivo, além de apoiar o professor na sala de aula, o de garantir que o aluno tenha um bom desempenho na aprendizagem; - se propõe a apoiar o professor coordenador em seu papel de formador de professores dentro da escola; - exige a realização de uma pesquisa, cujo conceito aproxima-se da ideia de investigação didática; - busca colaborar na construção de um diálogo entre a escola pública e a universidade; - aposta na ideia de que com a união de forças - coordenadores, supervisores, diretores, professores e universidade – superaríamos os índices inadequados de alfabetização. 32 Em 2011, no 1º chamamento, já foram firmados 53 convênios com instituições de ensino superior. Em meados do mês de junho finalizou-se o 2º. chamamento. Mesmo assim, segundo informação passada na reunião técnica realizada em junho de 2011 há um déficit de alunos bolsistas na rede de ensino. 33 Capítulo 2. Conceito de estágio: algumas definições Neste capítulo, apresento um breve relato da legislação que vem referenciando a formação do professor. Em seguida, procuro situar o estágio na legislação atual. Para finalizar, conceituo o que é estágio. 2.1 A legislação e a formação do professor: o lugar do estágio Uma legislação mais específica para a formação do professor no Brasil tem início no final do século XIX, com as Escolas Normais que eram destinadas à formação do professor dos anos iniciais. A preocupação com a formação de professores para o ensino secundário só foi ocorrer a partir do início do século XX. Com o início do processo de industrialização, começa a ser exigido do trabalhador que ele tenha mais escolaridade. Essa exigência fez com que o campo educacional repensasse também a formação do professor. Para atender a essa demanda, nos anos de 1930, a partir da formação dos bacharéis (três anos), teríamos mais um ano (3+1) para a licenciatura/formação do professor do ensino secundário. É interessante observar que esse mesmo formato foi aplicado ao curso de Pedagogia, regulamentado em 1939, “destinado a formar bacharéis especialistas em educação e, complementarmente, formar professores para as Escolas Normais” (Doc. UNESCO, p.37) O regime militar na década de 60 fez com que ocorressem algumas modificações no campo educacional e, por sua vez, na legislação. A Lei n. 5.692/71 (BRASIL, 1971) alterou a estrutura de ensino: o que antes era denominado ensinos primário e médio passa a ser respectivamente primeiro grau e segundo grau. Com essa nova estrutura, as Escolas Normais desapareceram “e a formação que elas proviam passa a ser feita em uma Habilitação do ensino de segundo grau chamada Magistério”. (Doc., pg. 38). A partir da década de 80, tomavam corpo movimentos – em âmbito federal e estadual – de valorização da profissão docente. Entre as propostas do MEC, pode-se destacar o projeto dos Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), elaborado em 1982 e colocado em prática um ano 34 depois. Seu objetivo foi o de redimensionar as escolas normais, propondo condições adequadas à formação de profissionais para docência. Com a duração de três anos, os alunos cursavam período integral, e recebiam bolsas para realizar trabalho de monitoria nas séries iniciais do ensino fundamental. Eles recebiam uma formação geral e pedagógica. Com a descontinuidade desse projeto no âmbito do MEC, as bolsas passaram a ser financiadas, em alguns estados, com recursos dos respectivos governos. Mesmo com uma avaliação considerada adequada, o projeto CEFAM sofreu descontinuidade. Esses centros, que eram responsáveis por uma formação em nível médio, acabam sendo fechados. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB em 9.394 de dezembro de 1996 estabelece, no artigo 62 que: A formação de docentes para atuar na educação básica far-seá em nível superior, em licenciatura, em graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, sendo admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro séries iniciais do ensino fundamental, a oferecida nos cursos normais. Logo, a partir dessa lei, as escolas de ensino normal foram pouco a pouco desaparecendo, sendo o CEFAM do Estado de São Paulo o último programa do tipo a ser extinto. A LDB de 1996 estipula a exigência de nível superior para os professores da educação básica. Essa lei estipulou, em suas disposições transitórias, um prazo de dez anos para que as mudanças propostas fossem implementadas. Isso foi importante para que os sistemas de ensino pudessem fazer as mudanças necessárias, entre elas, a formação do professor em nível superior. Com relação às atividades de estágios, a lei não explica o que deveria ser feito, apenas esclarece quem deveria se responsabilizar pelo acompanhamento das atividades: Art. 82º. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição. Parágrafo único. O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelece vínculo empregatício, podendo o 35 estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica. Após a aprovação da LDB, o Conselho Nacional de Educação (CNE) assumiu a responsabilidade de definir as diretrizes curriculares para todos os cursos de graduação no país. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica em nível superior foram estabelecidas por meio das Resoluções CNE/CP n.1/2002 e CNE n. 2/2002. A resolução apresentou os princípios, os fundamentos e os procedimentos a serem considerados nas instituições escolares que formam professores para educação básica. Assim, no artigo 3 temos os princípios que deveriam nortear o preparo de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades educacionais. São eles: I - a competência como concepção nuclear na orientação do curso; II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera; b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocados em uso capacidades pessoais; c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências; d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso eventualmente necessárias. III - a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. O documento parece apontar uma preocupação com a construção de competências, com saber fazer tendo a teoria como suporte. Alguns autores, entre eles Garrido e Lima (2008) afirmam que: Ao colocar as competências como núcleo da formação, reduz a atividade docente a um desempenho técnico. A inovação no discurso das competências sugere um escamoteamento da 36 concepção tecnicista, característica dos anos 70 do século passado, que trata o professor como reprodutor de conhecimentos (p.85). Contudo, penso que há uma preocupação, o que considero bastante saudável, de se pensar a articulação entre a teoria e prática e como princípio, vejo que se trata de algo importante. Concordo com a autora quando ela diz que o termo “competência”, por ser polissêmico é aberto a várias interpretações e que talvez esse aspecto tenha contribuído para diversas interpretações. Além disso, nos Art. 12 e 13, veem-se as seguintes preocupações: Art. 12 Os cursos de formação de professores em nível superior terão a sua duração definida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária. § 1º A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um espaço isolado, que a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso. § 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor. § 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática. Art. 13 Em tempo e espaço curricular específico, a coordenação da dimensão prática transcenderá o estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar. § 1º A prática será desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situações-problema. § 2º A presença da prática profissional na formação do professor, que não prescinde da observação e ação direta, poderá ser enriquecida com tecnologias da informação, incluídos o computador e o vídeo, narrativas orais e escritas de professores, produções de alunos, situações simuladoras e estudo de casos. § 3º O estágio obrigatório, a ser realizado em escola de educação básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ter início desde o primeiro ano e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora e a escola campo de estágio. 37 Esse trecho leva-me a pensar a importância de se preparar a ação do docente para as situações práticas de sala de aula. Logo, vejo como positiva essa preocupação. Contudo, será que estamos, de fato, preparando nossos alunos para o exercício da prática pedagógica? Parece-me que ainda estamos distantes dessa articulação/realização. Outro aspecto que a meu ver merecer menção é o fato de o diálogo com a escola no qual o estagiário irá atuar numa perspectiva de colaboração, só estar ocorrendo em raríssimas exceções, embora o inciso terceiro do artigo 13 aponte a sua necessidade. Enfim, o documento parece apontar preocupações importantes para a formação do professor que ainda não foram resolvidas. Reafirmo, aqui, que, ao evidenciar a importância do conhecimento prático, não o vejo dissociado do teórico. Por último, gostaria de ressaltar as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia – CNE/CP Nº 1, DE 15 de maio de 2006. No documento, está explícito que o curso de Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Nesse sentido, o curso de Pedagogia deveria articular a docência, a gestão educacional e a produção do conhecimento na área da Educação. As funções a serem exercidas, por mais que tenham aspectos comuns, têm as suas especificidades. A formação proposta para o profissional da educação do curso de Pedagogia é abrangente, exigindo, então, uma nova concepção da docência e da licenciatura. O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga horária mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, assim distribuídas: I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização de seminários, participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de estudos; II - 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas 38 específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da instituição; III - 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos alunos, por meio, da iniciação científica, da extensão e da monitoria. IV - estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e competências. No artigo 8º, temos a apresentação da forma como o estágio deve ser direcionado: IV - estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e competências: a) na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, prioritariamente; b) nas disciplinas pedagógicas dos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal; c) na Educação Profissional na área de serviços e de apoio escolar; d) na Educação de Jovens e Adultos; e) na participação em atividades da gestão de processos educativos, no planejamento, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação de atividades e projetos educativos; f) em reuniões de formação pedagógica. Como viabilizar o que está sendo proposto? A questão para essa questão ainda é um desafio. A junção de todas as tarefas a serem incorporadas pelo aluno da Pedagogia num curto espaço de tempo – em média os cursos de Pedagogia têm a duração de três anos – ainda é algo a ser construído. Todas as atribuições exigidas ao pedagogo pedem tempo para serem construídas: processos a serem vivenciados, conhecimentos teóricos e práticos a serem articulados, além de uma postura investigativa e crítica. Além disso, a realização do estágio exige tempo e uma relação mais próxima com as escolas, tanto as públicas quanto as privadas. 39 2.2 Algumas definições: o que é estágio A dicotomia teoria e prática tem sido um dos temas mais presentes nas discussões a respeito da educação. Na prática a teoria é outra ou o que aprendemos na universidade é muito diferente: são duas falas recorrentes das alunas do curso de Pedagogia. Tais falas levam-me a pensar que o curso de Pedagogia não consegue fundamentar teoricamente a prática do professor e nem tomam a prática como subsídio para a fundamentação teórica (Pimenta, 2008). Vale ressaltar, como afirma Pimenta (2008), que essa “separação”/dicotomia é muitas vezes percebida no currículo dos cursos, quando os conhecimentos teóricos assumem quase que total autonomia em relação ao campo de atuação do futuro professor. Questões como O que significa ser professor? Que profissional queremos formar? São perguntas muitas vezes desconsideradas nos programas das disciplinas curriculares, ou seja, pensar a prática ainda é percebida como uma ação secundária. Essas questões têm sido tratadas, no curso de Pedagogia, de diferentes modos. Quando os alunos realizam seus estágios, eles têm uma oportunidade de vivenciar a prática pedagógica. Contudo, dependendo do como mostramos a prática – tanto a universidade como a escola -, teremos uma determinada concepção de estágio. Por exemplo, a prática, quando ensinada como um modelo eficiente a ser seguido supõe que o estágio seja um espaço para a apropriação de práticas consideradas adequadas. A formação do professor se daria prioritariamente pela assimilação de uma prática eficiente observada. Como afirma Pimenta (2008): (...) essa perspectiva está ligada a uma concepção de professor que não valoriza sua formação intelectual, reduzindo a atividade docente apenas a um fazer que será bem-sucedido quanto mais se aproximar dos modelos observados (...) O estágio então, nessa perspectiva, reduz-se a observar os professores em aula e imitar esses modelos, sem proceder a uma análise crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa (p.36). 40 Outra visão de estágio, ainda presente em alguns cursos de Pedagogia, aposta que a aquisição de determinadas habilidades é suficiente para a resolução dos problemas com os quais o futuro professor irá se defrontar. Essa concepção tem recebido críticas, uma vez que o professor ficaria “reduzido ao prático: não necessita dominar os conhecimentos científicos, mas tão-somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas” (p.37). Enfim, são duas perspectivas que valorizam o aspecto técnico do estágio. Contudo a ação educativa pede um olhar que considere outras dimensões do contexto escolar. Como se sabe, a dimensão técnica só tem sentido quando articulada com a dinâmica concreta da realidade escolar. Embora importantes na formação docente, as atividades práticas desvinculadas de seus contextos pouco contribuem quando os alunos começam a lecionar, pois as situações reais pedem, muitas vezes, a criação de novas técnicas. Pimenta (2008) comenta que, para alguns, um curso de formação docente está mais próximo da prática, quando possibilita “o treinamento, em situações experimentais, de determinadas habilidades consideradas, a priori, necessárias ao bom desempenho docente” (p.38). Essas duas abordagens têm se mostrado insuficientes para a formação docente, pois reduzem a formação a mero treinamento de habilidades e modelos a serem seguidos. Outra perspectiva de perceber o estágio (PIMENTA e LIMA, 2008), com a qual compactuo, entende que o estágio deveria ser um espaço de investigação das práticas instrumentalizadora da práxis. pedagógicas, uma atividade teórica Essa perspectiva propõe a reflexão a respeito das relações entre algo que é inseparável: conhecimento e prática. Pimenta e Lima (2008) defendem o estágio nesta perspectiva: (...) envolve o estudo, a análise, a problematização, a reflexão e a proposição de soluções às situações de ensinar e aprender. Envolve experimentar situações de ensinar, aprender a elaborar, executar e avaliar projetos de ensino não apenas nas salas de aula, mas também nos diferentes espaços da escola.(...) Envolve a habilidade de leitura e reconhecimento de teorias presentes nas práticas pedagógicas das instituições escolares. Ou seja, o estágio assim realizado permite que se 41 traga a contribuição de pesquisas e o desenvolvimento das habilidades de pesquisar. (pg.56). Sendo assim, o estágio não se caracteriza como um espaço para o aluno observar as boas práticas com a finalidade de copiá-las, e muito menos de colocar em prática apenas a teoria que está sendo incorporada. Seria sim um espaço para que se fizessem relações entre o que se aprende e o que se observa, um espaço de aprimoramento do olhar investigativo; seria um espaço para se criarem alternativas de ensino nas quais conhecimento e a prática não fossem dois elementos separados, mas compusessem um único objeto de conhecimento. Nos últimos tempos, tenho recebido mensagens que me pedem: “Afinal, cadê a prática? Como você está ensinando a prática? Como os alunos vão aprender o exercício do magistério?”. É interessante que essas perguntas têm sido feitas tanto por meus alunos da graduação quanto pelos representantes de projetos políticos educacionais. Contudo, tenho tido a sensação de que estamos distante do entendimento do que possa ser essa prática. Para começo de conversa: toda a prática pressupõe conhecimento. Mesmo que de maneira inconsciente, o exercício do magistério é realizado a partir de um conhecimento que foi construído. Logo, o entendimento dessa prática pede – de quem se propõe a entendê-la – que, inicialmente, se tenha consciência dela. Afinal, qual a teoria que sustenta a minha prática? Pergunta importante de ser feita. A resposta a essa questão pede uma visão relacional. A meu ver, é esta visão que deveríamos exercitar, pois, sem ela, uma postura investigativa não será alcançada. Assim, uma questão que precisa ser respondida, com mais urgência, é o como estamos ensinando os nossos alunos da Pedagogia e não “cadê a prática”. Uma prática dissociada da teoria pouco contribui para formação do professor. Pimenta e Lima afirma que: 42 como reflexão sobre as práticas pedagógicas das instituições escolares, o estágio não se faz por si. Envolve todas as disciplinas do curso de formação, constituindo um verdadeiro e articulado projeto político-pedagógico Em seu livro de formação de professores cuja “Educação Infantil e marca é alavancar o estágio como pesquisa (p.56). registro de prática”, Amanda Cristina T. Assim, segundo as autoras, o estágio pressupõe Lopes (2009), a partir do estudo de um fazer coletivo, uma vez que o ensino não deveria ser alguns autores, visto como algo individual do professor, “pois a tarefa entre eles Zabalza, Madalena freire, escolar é resultado das ações coletivas dos professores Paulo Freire, e das práticas institucionais, situadas em contextos Cecília Warschauer e Júlia Oliveirasociais, históricos e culturais” (p.56) Formosinho, propõe repensar o conceito Ao concebermos o estágio como espaço de de registrar. Para reflexão/investigação, propiciamos condições para que autora, “registrar a prática não é os alunos se tornem futuros professores preocupados apenas escrever em pesquisar. Como sabemos, ninguém nasce sobre ela, registro é relato, narrativa, pesquisador. Saber pesquisar também é um conteúdo descrição e ainda que deveria ser ensinado nos cursos de Pedagogia. mais. Registrar é refletir, planejar, O estágio como espaço de ações a serem avaliar. Registro observadas, registradas e refletidas, enfim, lugar para a como meio e fim, construção do conhecimento prático poderia ser um processo e produto: meio de reflexão, exercício para a formação do professor pesquisador. pensamento, Alguns autores – Schön, Zeichner, Tardif, Lüdke e avaliação, formação, melhoria Cruz, entre eles - têm abordado a importância da da ação; é também pesquisa na melhoria da ação profissional. documento, história, Metodologicamente, podemos optar entre vários tipos de conhecimento... registro como pesquisa – pesquisa–ação, pesquisa participativa, pesquisa realizada no leitura da realidade campo acadêmico ou em outras instituições, etc.– e por abordagens e espaços e reflexão sobre ela” (p.41) institucionais diferentes. → Contudo, todos esses formatos têm em comum a necessidade de se fazerem relações entre o que se observa/ registra e o conhecimento teórico. Essa visão relacional poderia ser ensinada na escola, e reforçada no curso de 43 Pedagogia. É claro que só é possível fazer relações quando se tem clareza dos elementos a serem relacionados, quando se compreende o que deve ser relacionado e o porquê de se fazer isso. Concordo com Menga (2008) quando afirma que “a preparação do investigador e o exercício da pesquisa continuam privilégios da universidade. A pesquisa continua a ser a moeda mais valiosa na contabilidade da carreira do professor universitário”. Contudo, há ainda uma discussão que deveria ser feita a priori: como estamos ensinando os nossos alunos na graduação? No campo da formação do professor pesquisador, a questão básica seria o como os alunos do curso de Pedagogia vêm se apropriando do conhecimento, tanto teórico quanto prático, pois a formação do pesquisador depende de como ele aprende a pensar, e das estratégias com que constrói conhecimento. O estágio poderia ser um espaço privilegiado para a construção dessas estratégias. Não defendo que, ao estagiar, o aluno da Pedagogia se torne um pesquisador. Ao experimentar esse contato com a escola, ele teria oportunidades além de observar fatos da escola, poderia ter elementos para refletir sobre o que está estudando na universidade. Dentro dessa perspectiva, o estágio é um campo de pesquisa em que o aluno da Pedagogia aprende o oficio de pesquisador. O contato com as situações reais das escolas – mediado pela postura problematizadora e investigativa – é, pois, fundamental para a formação dos futuros professores. A observação, e o registro das práticas que nelas ocorrem, possíbilitarão ao aluno da graduação, a articulação entre teoria e prática. O contexto escolar passa a ser visto como um lugar complexo, que merece ser analisado a partir dos referenciais teóricos estudados na universidade. O momento do estágio proporciona aos estagiários o exercício da pesquisa: ao compreender o modo como o conhecimento é produzido e distribuído terá mais elementos para se assumir como ator/produtor dos processos educacionais. Para que o estágio possa ser esse espaço de construção de conhecimento, algo é fundamental: o estabelecimento de um diálogo entre a escola e a universidade. Sem esse diálogo, tudo que foi dito/defendido fica 44 apenas no discurso escrito. Como o aluno relacionará o que vê na escola e o que discute na universidade, se não pode ver e ler “as entrelinhas” do que está sendo observado? Para vê-las será necessário que fique um determinado tempo na escola e que tenha possibilidades reais de registrar os eventos que lá ocorrem. Além disso, só conseguimos registrar processos, quando podemos acompanhá-los, principalmente, quando estabelecemos parcerias de trabalho com a escola. Ou seja, sem parcerias reais, sem diálogo, sem idas e vindas às escolas e à universidade, toda essa proposta/visão de estágio fica comprometida. Logo, ou aprendemos a “conversar” com as escolas, trabalhando esse diálogo ou o eixo principal do curso de Pedagogia – o estágio – ficará comprometido. Tardif (2002), no livro Saberes docentes e formação profissional, discute quais os conhecimentos e as habilidades que os profissionais da educação, em especial, os professores, mobilizam nas salas de aula e nas escolas a fim de realizar concretamente as suas diversas tarefas, e esses conhecimentos são adquiridos. Ao definir, o que seria a epistemologia da prática profissional, entre outros aspectos, aponta a importância de os pesquisadores universitários ao realizarem seus estudos sobre a prática educativa, deveriam: “sair de seus laboratórios, sair de seus gabinetes na universidade, largar seus computadores, largar seus livros e os livros escritos por seus colegas que definem a natureza do ensino, os grandes valores educativos ou as leis da aprendizagem, e ir diretamente aos lugares onde os profissionais do ensino trabalham, para ver coo eles pensam e falam, como trabalham na sala de aula, como transformam programas escolares para torna-los efetivos, como interagem com os pais dos alunos, com seus colegas, etc.” (p. 258). Nesse sentido, para Tardif (2002), as pesquisas deveriam buscar uma aproximação com os espaços escolares com a intenção de compor um repertório de conhecimentos para a formação de professores. Segundo o autor, o discurso da universidade ainda está mais voltado para que o professor deveria ser ou fazer do que para o que ele faz e por que o faz. 45 Zcheiner e Pereira (2005), no texto “Pesquisa dos educadores e formação docente voltada para a transformação social”, afirmam que infelizmente ainda presenciamos a desconexão entre as ações escolares e as acadêmicas; por isso, a importância da construção de alianças entre essas duas instâncias institucionais para a melhoria da educação. Para os autores, o envolvimento dos profissionais das escolas em discussões acerca do significado e da importância das investigações desenvolvidas nas universidades e demais instituições poderia acontecer a partir de três estratégias: 1- Por meio do desenvolvimento de pesquisas em colaboração com os professores nas escolas; 2- Por meio do envolvimento dos profissionais das escolas em discussões sobre o significado e a importância das investigações desenvolvidas nas universidades; 3 – Por meio do apoio a projetos de pesquisa-ação desenvolvidos por educadores. Zeichner (2010), em seu texto “Repensando as conexões entre a formação na universidade e as experiências de campo na formação de professores em faculdades e universidades”, usando o conceito de “terceiro espaço”, discute várias experiências em andamento em programas formativos nos Estados Unidos, promissoras quanto à qualificação da aprendizagem docente nos cursos de formação de professores. Para o autor, a ideia de um terceiro espaço no campo da formação docente vem da teoria do hibridismo e significa a criação de espaços híbridos, ou seja, que reunissem professores da educação Básica e do Ensino Superior. Segundo Zeichner: Terceiros espaços envolvem uma rejeição das binaridades tais como entre o conhecimento prático profissional e o conhecimento acadêmico, entre a teoria e a prática, assim como envolve a integração de novas maneiras, do que comumente é visto como discursos concorrentes – em eu uma perspectiva do isso ou aquilo é 46 transformada num ponto de vista do tanto isso, quanto aquilo. (2010, p.486). Além de o terceiro espaço criar possibilidades para a junção do conhecimento prático com o acadêmico, sem que nenhum se sobreponha ao outro, ele disponibiliza novas oportunidades de aprendizagem para professores em formação. Logo, a criação de terceiros espaços envolve “uma relação mais equilibrada e dialética entre o conhecimento acadêmico e o da prática profissional, a fim de dar apoio para a aprendizagem dos professores em formação” (p. 487). Penso que a ideia de terceiro espaço proposto pelo autor aproxima-se bastante de um dos objetivos principais do Programa Bolsa Alfabetização: a formação do professor por meio do diálogo da escola com a academia. Penso também que o estágio curricular poderia estruturar-se como espaço híbrido no qual ambas as instâncias participam da construção da identidade docente, tanto do professor da escola quanto do professor universitário. Como sabemos, a identidade docente é construída ao longo da trajetória tanto pessoal quanto profissional. Assim, história de vida do aluno, o curso de pedagogia realizado, os estágios, enfim, suas vivências colaboram na construção do que significa ser professor. Para Garrido (2008) é, contudo: , “no processo de sua formação que são consolidadas as opções e intenções da profissão que o curso se propõe legitimar” (p.62). [...] uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão, da revisão das tradições. ... Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias (p. 67). O envolvimento do estudante nos desafios da realidade da educação escolar leva-o a pensar em sua formação e, ao mesmo tempo, exige a definição de um caminho pedagógico que o conduza à práxis educativa. Resumidamente, procurei explicitar estágio como espaço de estudo, problematização e análise; um espaço de aprimoramento do olhar investigativo, 47 nos quais o conhecimento e a prática não fossem dois elementos separados, mas compusessem um único objeto de conhecimento. Para finalizar essa parte do texto, apresento o modelo de estágio realizado no curso de Pedagogia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Cumpre lembrar que a minha intenção é comparar o estágio que o Programa Bolsa Alfabetização oferece e o estágio realizado no curso de Pedagogia da USCS. 2.3 Estágio do curso de Pedagogia da USCS: princípios e práticas O estágio, dentro do projeto do curso de Pedagogia, compreende atividades de observação, problematização e de construção de projetos de intervenção. Dessa forma, ele assume duas diferentes modalidades: a) Modalidade observação: integração do aluno à sua área de atuação profissional. O primeiro momento do estágio caracteriza-se pela aproximação dos estagiários aos contextos educacionais. De posse de uma grade de observação, o estagiário escreve suas observações e reflexões (relatório de estágio). Essa primeira modalidade de estágio – entendida como instrumento de integração do aluno às realidades educacionais – possibilitará a interlocução com os referenciais teóricos trabalhados no curso/currículo. Cumpre lembrar que durante o período de observação, realizamos, em aula, alguns momentos de problematização do que está sendo registrado. b) Modalidade projetar: a partir da reflexão a respeito da realidade observada, é construído um projeto a ser apresentado e discutido no curso de Pedagogia. Assim, como segunda modalidade, o (a) estagiário (a) escreve um projeto de trabalho que é partilhado em sala de aula. Nele, relata ações que poderiam ser desenvolvidas nas escolas observadas (projeto intervenção). O 48 Estágio Curricular Supervisionado é desenvolvido a partir do segundo semestre do curso num total de 300 horas. 49 Capítulo 3 – Metodologia de pesquisa: a coleta de dados 3.1 O que foi feito: a escolha metodológica Diante da perspectiva de ampliar o conhecimento a respeito dos elementos que podem favorecer um diálogo mais adequado entre a universidade e escolas públicas de Ensino Fundamental e, por sua vez, que colaborem com a formação do aluno do curso de Pedagogia, optei por estudar os textos oficiais produzidos pelo Programa Bolsa Alfabetização e em entrevistar alunos do curso de Pedagogia que realizaram seus estágios, alunos da Pedagogia participantes do Programa, professores regentes, diretores e coordenadores. A investigação foi estruturada da seguinte forma: 1ª etapa: levantamento do perfil dos alunos participantes do estudo – bolsistas e não bolsistas – por meio de questionários com questões de múltipla escolha. 2ª etapa: análise documental – leitura e análise dos textos oficiais produzidos pela FDE sobre o Projeto Bolsa Alfabetização; 3ª etapa: realização das entrevistas – foram feitas nove entrevistas com os alunos bolsistas, nove com alunos da Pedagogia que realizaram seus estágios de maneira convencional, quatro com os diretores que acolheram os alunos bolsistas, quatro com os coordenadores das respectivas escolas e quatro com os professores regentes. (Anexo 1) Cumpre lembrar que sou responsável pela supervisão de estágio no curso de Pedagogia e também atuo como professora orientadora do Projeto Bolsa Alfabetização. Procurei realizar a maior parte do trabalho de pesquisa, pessoalmente, a fim de manter uma experiência direta com a situação em estudo. Escolhi alunos bolsistas que eram assíduos, responsáveis e comprometidos com o Programa. O mesmo fiz com os alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional. Todos considerados bons alunos, ou seja, com boas notas, assíduos e responsáveis. Minha intenção, ao tomar essa 50 decisão, foi evitar que possíveis problemas pudessem interferir nas respostas dadas. 3.2 Análise dos dados As informações verbais advindas das entrevistas foram transcritas na íntegra e submetidas a leituras repetidas para a seleção das unidades de falas com informações pertinentes aos propósitos da pesquisa Mesmo antes de iniciar a análise dos dados coletados – é importante que se diga –, o pesquisador tem algum conhecimento e compreensão do problema proposto, não apenas pela sua experiência pessoal/profissional, mas também por seus referenciais teóricos. Compactuo com a afirmação de Szymanski, quando a autora diz que a análise dos dados coletados é o processo que possibilita a “explicitação da compreensão do fenômeno pelo pesquisador” (2008, p. 71). Portanto, foi no momento da análise que avancei no entendimento do problema proposto. Após a coleta de dados, fiz o levantamento de categorias que as entrevistas mostraram como mais significativas para o andamento das questões propostas na pesquisa. Resumidamente, o movimento de análise se deu da seguinte forma: transcrição das entrevistas, explicitação de significados, elaboração e análise das categorias. É claro que todas essas etapas foram realizadas sem que eu perdesse de vista a análise dos documentos oficiais do Projeto Bolsa Alfabetização e os referenciais teóricos propostos. Completando o exposto, destaquei trechos das entrevistas que foram representativos das categorias propostas, enfim, que colaboraram na consistência da análise. Para a análise dos dados, recorri à análise de conteúdo como procedimento metodológico, procedimento este visto como: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977, p.42). 51 3.2.1 O perfil do aluno de Pedagogia/USCS Em julho de 2010, quando realizei a pesquisa de campo, estávamos com 45 alunas encaminhadas, distribuídas nas seguintes escolas/diretorias: Diretoria de Santo André: - Profa. Inacia Teruko Inagaki (duas alunas) - Joaquim da Fonseca Saraiva (duas alunas) - Professor Ennio Mario Bassalho de Andrade - Dr. Carlos Garcia (quatro alunas) - Profa. Wanda Bento Gonçalves - José Augusto Leite Franco - Gabriel Oscar de Azevedo Antunes - Prof. Antonio de Campos Gonçalves (três alunas) - Simão Salem Reverendo (duas alunas) - Luiz Martins - Prof. Benedito Gomes de Araújo (duas alunas) - Profa. Herminia Lopes Lobo 12 escolas/ 21 salas em Santo André Diretoria de Mauá: - Mario Alexandre Faro Nieri - Afonso Arinos Senador - Profa. Maria Pastana Menato três escolas – três salas Diretoria Leste 3: - Conjunto habitacional Carrãozinho III - Orlando Silva duas escolas – duas salas Diretoria leste 4: - Prof. Jocelyn Pontes Gestal 52 uma escola – uma sala Diretoria Leste 5: - Deputado Joaquim Gouveia Franco Jr. (4 alunas) - Domingos Faustino Sarmiento - Profa. Beatriz Bassi Astorino - Profa. Julieta Nogueira Rinaldi quatro escolas – sete salas Diretoria Centro Sul - Prof. Andre Dreyfus - Prof. Oswaldo Guerner Gonzalez - Prof. Astrogildo Silva - Visconde de Itauna - Prof. Carlos Estevam Aldo Martins - Floriano Marechal - João Firmino de Campos (3 alunas) - Profa. Annita Atalla - Profa. Maria Odilia Guimarães Bueno nove escolas – onze salas Diretoria Diadema: - Atael Fernando Costa Reverendo Total: uma aluna – uma sala Com o intuito de conhecer um pouco mais os alunos ingressantes do curso de Pedagogia da USCS em 2010, pedi aos alunos que respondessem um questionário (Anexo 6). Perfil dos alunos do curso de Pedagogia – 2010 que participaram da pesquisa: 53 1. Faixa etária: 34 % dos alunos que responderam o questionário têm até 19 anos; 31% entre 20 anos e 23 anos; 27% entre 24 anos e 30 anos; 08% mais de 30 anos 2. Renda familiar: 11% dos alunos têm como renda menos de $1.000,00 42% entre 1.001,00 e 2.000,00 reais 22% entre 2.001,00 e 3.000,00 reais 25% mais de 3.000,00 reais 3. Você cursou o Ensino Médio: 78% dos alunos cursaram o EM na rede pública – idade regular 14% em escola privada 03% no EJA 06% fizeram supletivo 4. Você fez o Ensino Médio no período: 47% dos alunos fizeram o EM no diurno 53% no noturno 5. Você tem filhos? 11% dos alunos disseram que sim 89% não Dos que responderam que sim: 65% têm um filho 35% têm dois filhos 6. Você já teve e/ou tem alguma experiência profissional com educação escolar (professor /a, professor/a auxiliar, monitor/a, etc.)? 34% dos alunos disseram que tem experiência com educação escolar 66% disseram que não 54 Dos que responderam sim: 85% dos alunos responderam que atuam como professor auxiliar 15% atuam como professores: Funap/educ artística 7. Para você, qual a função do aluno (a) estagiário no contexto escolar? (Enumere por ordem de prioridade, ou seja, para a função considerada mais importante, enumere com o número 1 e assim sucessivamente). 33% responderam que intencionam observar a aula; 27% esperam analisar trabalhos desenvolvidos em sala de aula; 5.5% pretendem auxiliar o (a) professor (a) quando solicitado (a); 2.5% Intencionam questionar práticas inadequadas; 36% responderam que querem conhecer a rotina escolar. 8. O que você espera aprender com a realização do estágio? - 35% dos alunos esperam ter experiência em sala de aula. - 20% conhecer os alunos/seu desenvolvimento - 45% conhecer práticas de ensino/métodos de ensino. Resumidamente, posso afirmar que os alunos, na sua maioria, são jovens, estudaram em escola pública, no período noturno, têm uma renda entre mil a dois mil reais e trabalham como auxiliares em escolas de educação. Além disso, quando indagados sobre as expectativas da realização do estágio, mostraram interesse em conhecer práticas de ensino e em relacionar o que estão aprendendo no curso (teoria) com a prática. Como me propus a comparar o estágio realizado pelos Alunos bolsistas e os que realizaram de maneira convencional, procurei organizar os dados coletados de maneira a não perder de vista que a proposta buscaria uma comparação para depois apontar mudanças no estágio realizado de maneira convencional. Trabalhei com as seguintes hipóteses: 55 1- Os alunos bolsistas do Projeto Bolsa Alfabetização, por receberem uma bolsa remunerada, são acolhidos pelas escolas públicas como parceiros responsáveis pelo trabalho que a instituição realiza; 2- Os alunos bolsistas têm, de fato, um espaço real de partilha e análise de ações pedagógicas; 3- O Projeto Bolsa Alfabetização é um Programa do governo do Estado de São Paulo, logo, por ser uma proposta de um órgão que representa o setor público, levaria as escolas a receber os estagiários sem restrições. 3. 3 As entrevistas Para a análise, trabalhei, inicialmente, com as respostas dadas por dois segmentos: os Alunos bolsistas e os alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional. As respostas foram organizadas em quadros paralelos, ou seja, na primeira coluna, temos as respostas dos alunos bolsistas e na segunda, as respostas dos alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional (Anexo 2). Na sequência, analisei com os três últimos segmentos: professoras regentes, diretores e coordenadores. 3.3.1 Alunos bolsistas x alunos que realizaram seus estágios convencionais Para análise dos dados coletados, foi realizada a análise de conteúdo, cujo objetivo se constituiu em obter indicadores que permitissem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção das falas. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Organizei as falas dos estagiários e alunos bolsistas em quadros paralelos por resposta dada. Após leitura rigorosa e exaustiva das falas dos alunos, foram levantadas duas categorias básicas de análise: “a relação teoria e prática” e a “identidade docente”. 56 3.3.1.1 A relação teoria e prática Ao comparar as respostas dadas pelos dois segmentos investigados, pude constatar que os alunos bolsistas enfatizaram três palavras: “ver”, “fazer” e “aprender”. A ação de “ver” foi completada com ação de “fazer”. As duas ações são fundamentais na construção do conhecimento. Por isso, a ação de “aprender” também estava presente. Todas as três ações – ver, fazer e aprender – estão interligadas. Com a análise dos dados, percebi que as alunas, ao participarem do Programa, apropriaram-se de conhecimentos e ações importantes para o trabalho docente. As falas a seguir exemplificam essa afirmação: Pude aprender como a professora ensina, alfabetizando todos os alunos. Assim, aqueles que têm mais dificuldade, eu vi que ela faz um trabalho paralelo com cada um, vendo a dificuldade de cada um que tem [dificuldade]. E aqueles que têm, assim... que conseguem... Que têm um aprendizado, assim, que ‘consegue’ avançar mais rápido, ela também faz um trabalho diferenciado, ela procura instigar os alunos. (Aluna A). Lá a gente vê na prática como é... Se eu não estivesse no Bolsa, eu acho que seria complicado a gente assumir uma sala. Nós não saberíamos como agir no começo. E lá você já tem uma base, tem uma noção. Porque você vê a professora, lê os seus textos... Então você vê aquilo que você acha certo, que você quer para você dar continuidade, e aquilo que você acha errado. (Aluna B). É ver como funciona a escola, é conhecer o aluno, conhecer os professores. (Aluna C). O aluno bolsista aprende muito mais do que ficar na sala só estar ali olhando o professor... No Bolsa, o professor sempre explica por que as atividades estão sendo propostas em sala de aula. (Aluna D). O olhar de professor. Então, assim, a teoria que, aqui, eu fui aprendendo, na universidade, ela ganha sentido lá: eu vendo a atuação da professora, eu entendendo o porquê aquilo fazia sentido com o que eu estava aprendendo... Tirando a concepção que eu tinha também, tradicional. O que mais me fez perceber foi essa diferença, do que é um olhar de aluno e como eu vou atuar olhando a atuação daquela professora. (Aluna E). 57 Posso afirmar, então, que o fato de terem participado do Programa foi uma experiência importante para a vivência de uma prática contextualizada. Além disso, esse acompanhamento foi visto como um processo longo, o que permitiu que percebessem a importância de um trabalho diferenciado: viram – presenciaram – situações de escola, em especial, da sala de aula. Analisando as respostas dadas nas questões propostas, posso afirmar também que os alunos bolsistas estão percebendo que, ao saírem da sala de aula da universidade para ver a sala de aula da escola, acrescentam elementos fundamentais à formação inicial. Nesse sentido, o programa Bolsa Alfabetização aproxima-se do conceito de “terceiro espaço” proposto por Zeichner, ou seja, propõe a junção do conhecimento prático com o acadêmico, sem que nenhum se sobreponha ao outro. Conteúdos básicos – intervenção docente, importância da pesquisa em ação, olhar o aluno, relação teoria e prática – foram referidos como aprendizados construídos pelos alunos bolsistas, confirmando assim que o Programa Bolsa Alfabetização propicia condições adequadas à formação dos alunos do curso de Pedagogia. Para que esse processo ocorresse, foi necessário que os alunos ocupassem, de fato, um espaço na sala de aula, que permanecessem um período longo na escola e que participassem efetivamente das atividades realizadas no período em que estagiaram. Em contrapartida, os alunos que realizaram seus estágios convencionais afirmaram que apenas entraram em contato com os fenômenos da sala de aula. A palavra “contato” não dá conta de um aprendizado mais complexo. Enfim, os alunos não demonstraram ter se aproximado de questões mais complexas de aprendizagem. Embora tais questões se fizessem presentes nos depoimentos, elas apenas falam das suas práticas - alguns trabalham na Educação Infantil – e não da prática que estava sendo observada (durante o estágio). Os alunos que fizeram seus estágios convencionais responderam que conheceram “algo”. Posso traduzir esse “algo” como sendo uma ideia que os alunos tentam construir com essa atividade. Isso foi explicitado nos trechos em que as alunas pronunciaram palavras como “gratificante” e “bem intencionada”. 58 Entretanto, elas não conseguiram exemplificar esse conhecimento. Indagados sobre a experiência do estágio no ensino fundamental, responderam: Foi gratificante, porque a gente tem o contato com os alunos e tem o dia a dia de aula Foi gratificante, porque a gente tem o contato com os alunos e tem o dia a dia de aula. ... O estágio deveria ser bem mais horas, m... Mais do que são – apesar fazer uma hora todo dia durante o meu período de estágio... Você só tem aquele horário pré-determinado todos os dias. São dias diferentes, tem atividades diferentes, mas você não tem o contato com o conteúdo integral, então fica a desejar. (aluna A) É. Você tira um pouco o stress, você sabe como é que é a sala... (Aluna A) Ter uma noção de que a diversidade na sala de aula é muito grande e que você tem que trabalhar mesmo individualmente, coletivamente, dependendo da necessidade da criança... Utilizar todos os seus meios, técnicas, a didática que você aprendeu pra poder fazer com que essa sala ande... (Aluna D) Achei a professora bem atenciosa com os alunos; é preocupada com o aprendizado deles. (Aluna D) Parece-me que esses alunos (do estágio convencional) por ficarem menos tempo em sala de aula, tiveram poucas oportunidades de relacionar o que estavam estudando na universidade com os eventos observados. Ao compararmos as respostas dadas pelos alunos dois segmentos, constatamos que os alunos bolsistas apropriaram-se, diferentemente, de conhecimentos práticos do que foi explicitado na fala das alunas que realizaram seus estágios convencionais. Isso ficou mais evidente quando foi pedido aos alunos bolsistas que completassem a seguinte questão: “O que mais mudou para mim com a experiência do Programa Bolsa Alfabetização foi...”, responderam: O que mais me mudou o, que me marcou foi como eles aprendem a ler e escrever, que é a fase, assim, de transição, que é... Parece que dá aquele estalo, que a criança fala assim: Nossa, eu sei juntar o Ca da casa. Aí que eles começam, assim, a juntar. Isso foi o que mais me marcou nesse aprendizado (Aluna A) [...] Dar mais valor aos estudos, à profissão. Ali, você sabe se você vai ser ou não... Se essa é a carreira que você escolheu, realmente. Eu acho que ali define ou concretiza aquilo que você estava esperando do curso. Pretende seguir, que é a carreira de professor. Eu acho que ali é um momento em que 59 você diz: Pronto, eu vou ser professor. Ou: Não, eu não dou para isso. Eu acho. (Aluna B) [...] Mudou na visão... Que eu tinha uma visão, assim, do Tradicional... Porque a professora Ana Silvia fala muito do construtivismo dentro da alfabetização, e eu não concordava muito, porque eu não imaginava que seria possível. Eu vi que é possível. (Aluna C). Que quebrou um pouco dessa barreira com o Fundamental. Então me ajudou a perder um pouco do medo. É possível: eu posso ser professora do Fundamental que é também é uma fase muito boa, gostosa de trabalhar também. (Aluna D) Analisando essas falas posso dizer que os alunos bolsistas perceberam que o conhecimento prático para ser construído exige uma visão relacional, é processual (aluna A), é estruturado a partir de conflitos (Aluna B) e, principalmente, ele é necessário para uma atuação docente mais consciente (Aluna D). Além disso, eles atestaram que houve uma mudança. Em contrapartida, quando os alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional completaram a frase “o que mais mudou para mim foi com a experiência do estágio foi...”, eles não afirmaram que houve mudança; mostraram sim preferência por atuar na educação infantil por aí se sentirem seguros. Eles afirmaram: A maneira que eu gosto de trabalhar, que eu gosto de desenvolver, é mais adequada para Educação Infantil. Foi isso que mudou... Acabou até reforçando a ideia de que eu gosto mais da Educação Infantil. (Aluna A). O que mais mudou para mim...? Ensino Fundamental é diferente. Porque nesse estágio eu percebi que não é... Não é como qualquer escola. Então, assim, por mais que, às vezes, os professores não estavam tão, assim envolvidos com a ideia, a direção estava. Então isso foi isso. (Aluna C). Foi essa preocupação com o aprendizado dos alunos. (Aluna D). Foi conhecer, entender como funciona o Ensino Fundamental. Porque é muito diferente da Educação Infantil. Essas crianças com a idade... Crianças maiores... Como é que é esse universo? Como é esse universo. Talvez perder um pouco esse medo, receio. Não sei se conseguiria, porque eu acho que agora eu tenho uma ideia de como que é. (Aluna E). 60 Talvez o estágio para esses alunos tenha sido uma oportunidade para conhecerem o ensino fundamental, mas, não, ainda, para mudar. Logo, comparando os dois grupos analisados, posso afirmar que os alunos que participaram do Programa Bolsa Alfabetização têm mais condições de perceber o que significa ser um professor alfabetizador. 3.3.1.2 Construção da identidade docente Para Dubar (2005), “o indivíduo nunca constrói sua identidade sozinho: depende tanto do julgamento dos outros como das suas próprias orientações e autodefinições. A identidade é produto das sucessivas socializações.” (2004, p.25). Para as autoras, o curso, o estágio, as aprendizagens das demais disciplinas, experiências e vivências dentro e fora da universidade ajudam a construir a identidade docente. Pode-se constatar que os alunos bolsistas participaram de algumas atividades que ocorreram na escola. Isso mostra que ocuparam de fato um espaço na sala de aula. O trabalho partilhado/colaborativo possibilita aos envolvidos no processo – professor regente, aluno bolsista e aluno do Ensino Fundamental – olhares diferenciados sobre as práticas que estão sendo produzidas, o que torna o processo mais consistente para todos os participantes. Ao responderem a questão “O que mais aprendeu ao participar do programa Bolsa Alfabetização”, as alunas afirmaram: Aprendi a lidar com certas situações com crianças, dificuldades de, por exemplo... Colocar em prática aquilo que eu sei, ‘né’? Como levar as crianças a aprender... Eu aprendi... Aprender a explorar o material “O ler e escrever”. (Aluna A). Ela me ensinou a fazer a sondagem, explicou como é que fazia e me pediu pra fazer. (Aluna B). [...] O que eu mais aprendi foi a questão de olhar o professor, a minha atitude, que eu tenho que mudar muita coisa... E uma postura diferente; uma postura que eu não tenho, eu tenho postura de aluno. Então eu tinha que olhar qual a postura que eu tenho que me comportar perante os alunos. E isso foi mudando dentro de mim. Então eu fui deixando de fazer coisas. Antes eu agia meio que por impulso, assim. De uns quatro meses pra cá, eu acho que isso que amadureceu em 61 mim. A intervenção tem que ser pensada. Tem que ser pensada. (Aluna C). Então, eu aprendi que... Realmente o ‘professor não pode parar no tempo... Ele tem que realmente pesquisar mesmo, gostar do que faz e sempre está inovando. E principalmente, assim, observar o aluno. Que, tudo bem que nas escolas do Estado isso não acontece 100%. (Aluna E). O mesmo não ocorreu com os alunos que realizaram seus estágios convencionais: por não ocuparem de fato um espaço na sala de aula, ficaram apenas observando o que acontecia. Elas afirmaram: As atividades foram poucas... Assim, o contato foi pouco. A atividade que eu mais tive contato durante essa uma hora foi a lúdico. E eu ensinei pra professora a trabalhar de um jeito diferente. Eu dei as minhas ideias, ela aceitou e inseriu com as ‘criança’. (Aluna A). [...] O que eu mais aprendi... Eu acho que foi perceber a capacidade das crianças. Não subestimar a capacidade deles, que a gente acha que eles não têm a capacidade. Principalmente, os menores... Eles têm muita capacidade. (Aluna E). Pela comparação dos segmentos de respostas, é possível afirmar que os Bolsistas já mostram uma percepção de que a sala de aula pode ser um espaço formador importante, desde que eles tenham oportunidade não só de participar como também de ocupar de fato uma função nesse contexto. Indagados sobre o conceito de aprendizagem, os Bolsistas afirmaram que, para ensinar, o diálogo – a relação professor aluno – é fundamental. O fato de terem ficado mais tempo em sala de aula e de terem acompanhando algumas intervenções foi condição para que percebessem que o aprendizado ocorre quando as crianças têm condições de manifestar o que estão aprendendo. Além disso, constatei que os alunos bolsistas estão mais integrados no contexto escolar: são convidados a participar das atividades que se referem à alfabetização. Já os alunos que não participam do programa e, em geral, apenas observam o que ocorre na sala de aula, ficam distantes das situações reais de ensino e de aprendizagem. Ao responderem a questão Que atividades realizadas no Programa Bolsa Alfabetização (1º. Semestre) você 62 considera que mais favoreceram o seu aprendizado de ser professor? Por quê? Afirmaram: É... Por incrível que pareça, foi na contação de história... A maneira como ela conduz... Ela abre a aula com a ‘contação’ de histórias e dali ela tira a aula dela todinha. Contei várias vezes... é... ela me deu oportunidade para fazer isso também. Então eu acho que aprendi muito... Aprendi muito, também, nas atividades da educação física. (Aluna A). Acho que a criatividade em sala de aula. A professora diversificava muito as atividades propostas. Então eu aprendi como é importante trabalhar de maneira diversificada, usando recursos diversos. (Aluna B). Sempre a leitura. Em primeiro plano. Valorizar muito a leitura e partir dessa leitura utilizando outras atividades que são frutos daquela leitura. Os gêneros discursivos. Valorização da leitura. (Aluna C). Eu participava de todas. Então, assim, essa última professora, ela dava o espaço para o aluno bolsista trabalhar em sala de aula. Em momento nenhum eu vi a professora no “ba”, “be”, “bi”, “bo”, “bu”. Essa turma era pequena e todos conseguiram se alfabetizar. Foi muito bacana. Aprendi a alfabetizar. (Aluna E). Praticamente todos os alunos participantes do projeto foram bem recebidos. Parece-me que as escolas já perceberam que os alunos bolsistas colaboram com o trabalho que as escolas vêm desenvolvendo. Tanto os alunos bolsistas quanto os que realizaram seus estágios de maneira convencional responderam como definem o que é ensino. Os alunos bolsistas mostraram, em suas respostas, um entendimento do que é “ensino”, muito diferente do que foi mostrado pelo outro segmento. Provavelmente, os bolsistas tenham se apropriado de um conhecimento que só a teoria não poderia propiciar. Para os bolsistas, ensinar significa incentivar a criança (Aluna A), saber dialogar (aluna B), dar oportunidades para que falem/participem (Aluna B), saber diversificar os trabalhos (Aluno C), mostrar o sentido do conhecimento e “ter zelo pelo processo” (Aluna E). Em contrapartida, o outro segmento mostra que a criança aprende por meio de cópias (Aluna A), em alguns momentos a 63 criança aprende sozinha (Aluna B) ou por meio de estímulos constantes (Aluna C). Pode-se afirmar, pelas respostas dadas pelos dois segmentos, que os alunos bolsistas estariam construindo uma identidade docente consistente: o significado que deram a palavra ensino mostra, pelas palavras usadas (dialogar, oportunizar, sensibilizar, processo) que estão estruturando um conhecimento prático a partir de uma determinada concepção de como se ensina. 3.3.2 Professoras regentes As professoras regentes reconheceram que os alunos do Programa Bolsa Alfabetização não apenas ocupam espaço nas suas salas de aula, mas também – e isto é fundamental nesta proposta de estágio – que o tempo de permanência em sala de aula colabora para ações mais partilhadas. Todas viram as alunas pesquisadoras como coparticipantes do trabalho escolar. Para elas, os bolsistas criam condições para intervenções mais personalizadas, pois os alunos em sala de aula nem sempre caminhavam no mesmo ritmo. A atuação do aluno bolsista foi lembrada pelas professoras como um elemento importante para a cooperação na realização de ações mais diversificadas e individualizadas. Valho-me da fala dos professores regentes para exemplificar: Ela dá suporte... Muitas vezes, eu dou uma atividade e aí eu falo: - Elaine dá uma olhadinha pra mim, vê se estão executando. (professora B). Ela colabora... Ela ajuda no processo de alfabetização. Ela tem colaborado muito no processo de alfabetização das crianças. Ela também permite que minha atuação seja mais individual. (Professora C). Devido ao número de crianças que a gente tem na sala de aula, muitas vezes a gente não consegue atender a todos. E o aluno bolsista auxilia... Ele colabora, é mais um olhar. (Professora D). Contudo, elas lembraram que, em alguns momentos, precisaram ficar atentas às intervenções que os alunos bolsistas realizavam com os alunos que estavam sendo alfabetizados. Para elas, é uma “tarefa adicional”, ou seja, além 64 de pensarem nas intervenções a serem realizadas com os seus alunos, elas deveriam acompanhar a atuação dos Bolsistas. Para as regentes, intervenções inadequadas poderiam comprometer o desenvolvimento da criança. Isso ficou explicito na fala da professora B: Eu tive alunas pesquisadoras que tinham um papel mais de mãe do que de professora. Aquela mãe que ajuda o filho a fazer lição de casa, mas faz por ele, ‘não com ele. A aluna pesquisadora que me entregava lá: Olha, ele fez bonitinho! Mas, na realidade, ela falou todas as letras, ela ditou o alfabeto... Então, eu tive muito problema assim, que aí você começa achando que o aluno está evoluindo e não está. Então, isso aconteceu com muita frequência. A maioria das professoras regentes afirmou que tanto os alunos bolsistas quanto os estagiários são bem vindos em suas salas. Contudo, para elas os alunos que realizam seus estágios de maneira convencional pouco acompanham as atividades escolares que lá ocorrem. Já, para algumas professoras regentes, os alunos bolsistas, por ficarem mais tempo em sala de aula, acompanharam processos mais longos de ensino/aprendizagem e, consequentemente, conseguiram construir parcerias de trabalho mais eficientes. As professoras afirmaram: O tempo é diferente, é limitado. Mas não deixo de dar atenção à presença desses alunos estagiários na sala de aula. Mas, a permanência é diferente. O tempo deles é diferente, limitado. Ah, eu nunca perguntei para eles, mas eu acho... Não sei se dificulta para eles alguma coisa. Agora, a aluna pesquisadora (bolsista) já acompanha mais o processo. E você vai tendo uma relação também mais próxima,... Mais próxima. (Professora A). Ver o jeito que ela... Então, assim, eu penso dessa maneira. Eu acho, até, que quando o estagiário é diferente... Quando veio esse nome, aluno bolsista, ficou muito pertinente, porque ela é um aluno com vivência, com maturidade, com mais presença. (Professora B). Eu recebo… Eles ficam observando… às vezes colaboram, mas é uma atuação diferente do aluno bolsista. Muitas vezes, ficamos sem saber o que eles estão observando.. (Professora C). Não têm a participação, só a observação, e não tem nenhuma... Assim... Influência na aula, não tem nenhuma participação, eu acho que... A aluna acaba não percebendo que é mesmo na sala de aula. Uma que o professor, também, 65 quando chega um estagiário, você não tem tanta liberdade de... Porque não dá tempo de você conhecer ele. Quando vai começar a ter mais liberdade, acabou o estágio. Então você... Nem acaba criando tantos vínculos como eu tenho com a Larissa. A gente tem um vínculo, inclusive, de amizade. De liberdade, de chegar, de falar: faça assim. Não faça isso. Tipo, de coisa que com o estagiário não fazemos. (Professora D). Sendo assim, posso concluir que um bom estágio, aquele que colabora para formação do professor, só é possível quando o aluno estagiário consegue permanecer determinado tempo em sala de aula. Como o estágio é um momento importante na formação do aluno do curso de Pedagogia, o fato de ele não acontecer como deveria acaba comprometendo a formação do futuro professor. O Programa Bolsa Alfabetização vem mostrando que o aluno, ao ser inserido no contexto escolar por um tempo mais longo, e com o acompanhamento da professora regente, amplia de maneira significativa a formação que ele recebe na universidade. Vale ressaltar, contudo, que o professor regente sente-se, em alguns momentos, sobrecarregado, pois, ao mesmo tempo em que alfabetiza seus alunos, ensina aqueles do curso de Pedagogia a serem futuros professores. 3.3.3 Os diretores Todos os diretores afirmaram que o estágio convencional não propicia aos alunos estagiários condições adequadas para a sua formação. Para eles, os estagiários ficam pouco tempo nas escolas; por isso, atuam muito pouco nas propostas realizadas em sala de aula: aluno-estagiário fica como ouvinte; ele faz trezentas horas e só; ele colabora pouco, fica pouco tempo na escola; eles passam muito pouco tempo e não interagem – nem com a sala, nem com os alunos, então eu acho que é falho. A análise das falas mostra que, sem um trabalho a priori entre os responsáveis pelas duas instituições – escola e universidade – pouco se avançará na construção de espaços de formação docente. Além disso, parece-me que o fato de os alunos estagiários ficarem pouco tempo nas escolas, não se implicando com as ações que lá ocorrem, faz 66 com que os diretores não se incomodem com suas presenças. Indagados sobre o como recebem os alunos estagiários, eles afirmaram que: São bem acolhidos... Não discriminamos... Eles são bem vindos... Todos são bem recebidos... Alguns se envolvem outros não. Já a fala dos diretores acerca da experiência de acolherem alunos bolsistas em suas escolas evidencia uma preocupação: a possibilidade de receber alunos que não colaborem com as tarefas educativas. Sendo assim, é esperado que a inserção do aluno da Pedagogia no contexto escolar exija alguns cuidados. As falas dos diretores ilustram essa afirmação: É... eu já trabalhei em três escolas diferentes, então a gente recebe alunos... alunos muito ‘dedicados’, responsáveis, como também acontece de recebermos alunos que não têm muita dedicação, às vezes, mesmo, vêm pelo valor da bolsa... Este ano não enfrentamos problemas com aluno bolsista. As meninas são responsáveis e comprometidas. Porém, já recebemos alunas que atrapalharam. Os alunos são selecionados na universidade, encaminhados às Diretorias de Ensino e é lá que escolhem as escolas. Em nenhum momento, os diretores não participam em nenhum momento do processo. Aliás, a universidade muitas vezes desconhece o local das escolas escolhidas pelos seus alunos e quem são os seus diretores. Cumpre lembrar que não é permitido o contato entre a universidade e a escola. Se há algum problema na escola, os fatos devem ser comunicados à FDE. É por meio dela que a universidade fica sabendo o que aconteceu. O diálogo entre a escola e a universidade tem sido, então, mediado pela FDE e pelos registros realizados pelos bolsistas. As perguntas que a universidade necessita fazer à escola são encaminhadas à FDE: é ela que entra em contato com a escola, recebe a resposta, e, posteriormente, encaminha as informações requeridas à universidade. Já os alunos bolsistas, por meio dos relatos reflexivos, mostram – um pouco – do que vem ocorrendo na sala de aula. Em nenhum momento sentamos com as professoras, diretores e coordenadores. Não há um contato 67 presencial com todos os envolvidos no projeto. Numa entrevista, perguntei ao diretor, como ele percebia a relação entre a escola pública e a universidade. Ele respondeu: É primeira vez, Fátima, que estou conversando com alguém da universidade... Deve ser pela primeira vez. Você vê, há três anos que o projeto foi implantado e é a primeira vez que a universidade veio aqui na escola pra conversar com a gente. Eu, pelo menos, nunca tive o contato. Então, eu acho que é interessante pra universidade saber como está a escola pública de... Fica uma lacuna entre a realidade... Mesmo que o professor da universidade, ele faça o curso, ‘tem’ conhecimento, ele não tem a realidade do aluno que está recebendo hoje? Fica uma lacuna aí. Mas, não sei... Você, como acabou de passar há pouco tempo, e que é uma pessoa experiente, não sei quem é o corpo docente que ‘tá’ lá com você... Mas a realidade é que essas mudanças de metodologia, principalmente na rede pública estadual de São Paulo, com um programa ‘desse’, que você vê que é uma novidade para os professores que já estão formados há dez, quinze anos, lá na universidade, não sei como vocês estão acompanhando, se vocês já... estão inteirados desse projeto que está na Rede... Tanto os diretores quanto os coordenadores afirmam que os alunos bolsistas acompanham as atividades propostas em sala de aula, auxiliando a professora e os alunos. Todos dizem que essa colaboração depende da qualidade da relação que os alunos bolsistas estabelecem com as professoras regentes. A fala de um diretor afirma que o aluno bolsista, além de ser um parceiro nas ações desenvolvidas em sala de aula, aprende com o que está sendo proposto, ou seja, a experiência de atuar como aluno bolsistabolsista pode contribuir para sua formação: Eu acho que ele (o projeto) traz o aluno, o estudante para dentro da sala de aula, para que esse aluno, junto com o regente de classe, tenha a oportunidade de aprender. Então é ali no dia a dia, nos trabalhos que o regente de classe vai fazendo que ele, estando junto, vai aprendendo e vai seguindo com a classe. E o que eu tenho notado. Os diretores, em suas respostas, mostram que o espaço da escola ainda não está sendo visto como campo de formação pelo aluno do curso de Pedagogia: os alunos da Pedagogia pouco aprendem com o que está sendo 68 visto/acompanhado. Essa percepção levou-me a formularas seguintes questões: - O que o aluno da Pedagogia aprende quando observa, acompanha e partilha as atividades que ocorrem em sala de aula? O que a universidade faz com a experiência de estágio dos alunos? Como ela transforma essa experiência em aprendizado? A escola quando permite ao aluno da Pedagogia experiências em sala de aula, mesmo de maneira não intencional, propicia elementos importantes para a sua formação. A meu ver, seria papel da universidade trabalhar essa vivência, transformando-a em conhecimento que colaborasse efetivamente para a formação do aluno, futuro professor. Alguns fatores ainda obstaculizam esse aprendizado: dificuldade em tematizar as situações práticas, articulandoas aos conhecimentos teóricos – de modo geral, os professores do curso de Pedagogia, por não terem experiências em escola de Ensino Fundamental, não se identificam com as ações que lá ocorrem. A superação desses obstáculos – a confrontação das representações da realidade com as teorias – poderia resultar mudanças nas formas de representar a realidade. Vygotsky (1991), em seus estudos, investigou a transformação dos conceitos espontâneos em científicos. O autor mostrou que os conceitos espontâneos são construídos a partir da observação, manipulação e vivência direta da pessoa, enquanto os conceitos científicos relacionam-se àqueles eventos não diretamente acessíveis à observação ou ação imediata. Para Vygotsky (1991), os dois conceitos estão interligados, ou seja, a construção do conceito científico depende dos conceitos espontâneos. Os dois tipos de conceitos fazem parte de um único processo: o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Considerando este processo descrito por Vygotsky (1991) – desenvolvimento das funções superiores –, ressalto que o aluno do curso de Pedagogia, quando tem a oportunidade de acompanhar o contexto escolar, registrando o que lá ocorre, enfim, apropriando-se de uma experiência que ultrapassa os muros da universidade, muitas vezes, apropria-se de conceitos que, ainda, são espontâneos. Acompanhar o aluno no processo de transformação desses conceitos em científicos deveria ser papel da universidade. Vejo que um dos motivos que dificultam esse caminho é o fato de 69 os professores universitários desconhecerem o que vem ocorrendo nas salas de aula. Os alunos bolsistas são vistos pelos diretores como coparticipantes do trabalho desenvolvido em sala de aula. Eles ocupam de fato um espaço na sala de aula/escola. Diferentemente do que ocorre com os Bolsistas, os diretores manifestaram, em suas falas, que os alunos estagiários pouco colaboram nas atividades propostas, pois apenas as observam . Para eles, o pouco tempo que os estagiários ficam na escola é uma das causas dessa pouca participação. Sendo assim, o estágio no curso de Pedagogia não vem cumprindo o seu papel: ser um espaço efetivo para formação docente. Praticamente todos os diretores afirmaram que recebem bem os estagiários em suas escolas; que o envolvimento dos alunos nos contextos escolares depende tanto da escola como do estagiário, ou seja, alguns alunos conseguem estabelecer boas parcerias, outros não. Ao falar dos alunos estagiários, um diretor procurou comparar sua atuação com a do aluno bolsista. Ele afirma: Poucos deram certo. Ao contrário do aluno bolsista... Por conta de estar envolvido, presente, ali no cotidiano. 3.3.4 Os coordenadores O coordenador pedagógico, no Programa Bolsa Alfabetização, além de acompanhar a inserção do aluno bolsista no contexto escolar, é responsável pela formação do professor regente. Ele é considerado a “ponte” entre as diretrizes estabelecidas pela Secretaria da Educação e o professor regente no contexto escolar. Os depoimentos a seguir ilustram essa afirmação: Os coordenadores têm oito horas de formação na Diretoria de Ensino aqui de Santo André... Elas cumprem bem, assim, à risca. Nós colaboramos no desenvolvimento do Projeto, do Ler e Escrever. No HTPC passamos as orientações de como lidar com a Bolsa Alfabetização. (Coordenadora A). Dando informação para aluno-alfabetizador e verificando se ele está’ fazendo o que compete a ele. Elas (bolsistas) deveriam participar do HTPC, porém, elas não vêm. (Coordenador B). 70 Então, a função do coordenador, mesmo, é o de coordenar, auxiliar. Ajudando essas meninas, que chegam cruas... Que chegam sem saber o que ’ é uma de hipótese de escrita, postura de sala, gestão de sala, Elas chegam... (Coordenadora C). Então, no... Na verdade a função, hoje, do professor coordenador no Ler e Escrever é mais de formação. (Coordenadora D). Para as coordenadoras, os alunos bolsistas são parceiros dos professores regentes, muitas vezes dividindo as tarefas a serem realizadas em sala de aula. Não são todas as escolas, porém, que recebem bolsistas. As coordenadoras afirmaram também que o programa Bolsa Alfabetização interfere na formação tanto do aluno bolsista quanto na da criança que está se alfabetizando. Uma escola lembrou, entretanto, que, às vezes, ela se sente vigiada: é obrigada a receber um “profissional” que não foi requisitado. A coordenadora afirmou: - `As vezes, a escola se sente vigiada, porque não sabe quem está chegando lá. Então fica complicado, porque é a visão de outra pessoa. Para finalizar, algumas coordenadoras afirmaram que há vagas em suas escolas, mas não são preenchidas. Elas desconhecem a causa de não receberem Bolsistas: Tenho três vagas, mas eu tenho só duas alunas da Pedagogia participando. Nós tivemos até que sorte com os alunos bolsistas. Não tivemos problema com nenhum aluno bolsista que frequentou... Teve alguns que escolheram e não vieram, mas a gente nem conheceu. E o professor regente da sala, às vezes, ele fala bem do aluno bolsista, ele fica feliz em recebêlo. Os dados, de certa forma, mostram que o aluno bolsista vem ocupando um lugar na sala de aula, assim como tem uma função a ser cumprida. 71 Conclusão Tópicos que sintetizam a análise realizada: o Os alunos bolsistas apropriaram-se do conhecimento prático de forma diferente daquela explicitada pelos alunos que realizaram seus estágios de maneira convencional. Em seus depoimentos, os bolsistas mostraram como o conhecimento prático exige de quem o constrói um olhar relacional, investigativo e problematizador. o Os alunos bolsistas ocuparam um espaço de fato na sala de aula da escola pública. O projeto, ao fornecer uma bolsa remunerada a esse aluno, institucionalizou a função do aluno bolsista; teve uma jornada a cumprir, uma tarefa a ser realizada. Com isso, conseguiu acompanhar processos mais longos de aprendizagem, fato este constatado tanto nos depoimentos dos próprios bolsistas quanto nos depoimentos da equipe escolar. o Já o aluno que realizou o seu estágio convencional, por não ocupar uma função definida na sala de aula da escola pública, não teve o tempo suficiente para acompanhar a construção de conceitos pelos alunos. o A possibilidade de um trabalho de parceria foi uma fala recorrente dos nossos alunos bolsistas, ou seja, os professores regentes solicitaram que eles colaborassem no processo de alfabetização de seus alunos. Algumas escolas já perceberam que a superação das dificuldades depende de ações conjuntas/ partilhadas. o O Programa Bolsa Alfabetização vem mostrando que o aluno da Pedagogia, ao ser inserido no contexto escolar por um tempo mais longo, e com o acompanhamento da professora regente, amplia de maneira significativa a formação que ele recebe na universidade. o Os alunos bolsistas perceberam que, ao sair da sala de aula da universidade para ver a sala de aula da escola, acrescentaram elementos fundamentais à sua formação inicial. o O estágio, no curso de Pedagogia, não vem cumprindo o seu papel:, o de ser um espaço efetivo para formação docente. 72 o Ao propor a junção do conhecimento prático com o acadêmico, sem que nenhum se sobreponha ao outro, o programa Bolsa Alfabetização aproxima-se do conceito de “terceiro espaço”, proposto por Zeichner. o A análise dos dados parece mostrar que, sem um trabalho a priori entre os responsáveis pelas duas instituições – escola e universidade –, pouco se avançará na construção de espaços de formação docente; o A pesquisa comprovou a validade do Programa Bolsa. Todavia deixa clara a necessidade da construção de um real – e efetivo – espaço de interlocução entre a Educação Básica e a universidade; o O Programa Bolsa Alfabetização objetiva diminuir as lacunas entre a formação docente que acontece na universidade e aquela que se dá na escola. No entanto, ainda se verificou que os professores regentes e os professores da universidade não estão conseguindo “efetivamente” dialogar; 4.1 Repensando o estágio A ideia central da pesquisa foi – a partir de um estudo comparativo – repensar o papel dos estágios no curso de Pedagogia. Como sabemos, apesar de serem espaços distintos – universidade e escola pública -, ambos são espaços de formação. O aluno da universidade será o futuro professor da rede pública. Um real diálogo entre os dois “locus” se faz necessário para que superemos as ideias já enraizadas em ambos os contextos de que o conhecimento teórico caminha separado do conhecimento prático, de que a pesquisa da prática não cabe à escola e de que o conhecimento teórico acadêmico é superior ao conhecimento em ação. O Programa Bolsa Alfabetização vem caminhando no sentido de propiciar maior aproximação entre a universidade e as escolas públicas. Contudo, a análise desta pesquisa parece mostrar que para que essa aproximação realmente avance na construção de um espaço partilhado seria necessário que – de fato – universidade e escola conversassem. Ficou demonstrado que ainda não se dá a reflexão conjunta, e, quando se dá, parece acontecer apenas entre os alunos estagiários e o professor da universidade responsável pelo estágio. Importa agora a construção de estratégias que 73 permitam que o professor da universidade dialogue “efetivamente” com o a equipe da escola e vice-versa. A formação do aluno da Pedagogia é de responsabilidade da universidade. Temos claro que ela, sozinha, não conseguirá realizar um trabalho que seja suficiente para isso acontecer. Ela precisa da escola e a escola precisa dela. Concordo com Zeichner e Pereira (2005) quando afirmam que muitos dos programas de formação profissional ignoram o conhecimento e o saber dos professores e que, essencialmente, baseiam-se na distribuição de: kits educacionais muitas vezes, rotulados de ‘construtivistas. [...] A formação docente concentra-se em cursos de preparação inicial, geralmente baseados em modelos de racionalidade técnica e, quando existentes, os programas de formação continuada são normalmente centrados em cursos teóricos e de curta duração (p.67). Diante de tais constatações, podemos afirmar que qualquer estágio de alunos do curso Pedagogia deveria ser repensado. Inicialmente, seria necessária uma mudança na carga horária a ser cumprida pelo seu aluno na escola. A análise das entrevistas mostrou que a ocupação de um lugar na escola só seria possível com um tempo maior e com um trabalho em parceria tanto da universidade quanto da escola. É claro que a criação de leis e/ ou bolsas remuneradas colaboram na construção de parcerias mais eficientes. A qualificação dessas ações dependerá principalmente do projeto de formação a ser partilhado pelos dois espaços institucionais. O Programa Bolsa Alfabetização exige do aluno bolsista que ele aprenda a realizar a investigação didática, a partir dos registros coletados em sala de aula. As estratégias para realização dessa investigação didática, quando experimentadas pelos alunos bolsistas, criam condições para que possam aprender a observar, a registar e a analisar os fenômenos de sala de aula. Além disso, eles podem também propor, atuar e repensar ações que lá ocorrem. Enfim, os alunos incorporam elementos que colaboram tanto na construção do conhecimento prático, quanto na do teórico. 74 O grande salto proposto pelo Programa Bolsa Alfabetização é a utilização pelo estagiário da investigação didática – que só pode ser realizada em parceria - como tarefa a ser realizada pelos alunos. Uma parceria construída com responsabilidade, ética e competência. Simples e complexo ao mesmo tempo. Não vejo outro caminho. . 75 Referências bibliográficas DUBAR, Claude. A socialização – Construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005. GATTI, B. A; BARRETTO, E. S. de S. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. Disponível em: <http://unesdoc. unesco.org/images/0018/001846/184682por. pdf>. LERNER. Delia. Ler e Escrever na Escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. PIMENTA, Selma G. O estágio na formação de professores - unidade teoria e prática? São Paulo. Cortez. 1997. _________________. (org). Estágio e Docência. São Paulo. Cortez. 2008. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação. Projeto Bolsa Alfabetização. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo/Secretaria de Estado da Educação. Disp. em: <http://lereescrever.fde.sp.gov..br/SysPublic/InternaBolsaAlfabetizacao.aspx?al kfjlklkjaslkA=270&manudjsns=1&tpMat=0>. Acesso em: 15 abr. 2011. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação. Projeto Bolsa Alfabetização. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo/Secretaria de Estado da Educação. Disp. em: http://lereescrever.fde.sp.gov.br/SysPublic/InternaBolsaAlfabetizacao.aspx?alkfj lklkjaslkA=270&manudjsns=1&tpMat=0 . Acesso em 08 de março de 2010. SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA (org.). Os professores e sua formação. Lisboa. Dom Quixote. 1992:77-92. SZYMANSKI, Heloisa. (org). A entrevista na pesquisa em educação – a prática reflexiva. Brasília. Líber Livro Editora Ltda. 2008. 76 TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2002. TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2008. VYGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. 3.ed. São Paulo: M. Fontes, 1991. ZEICHNER, K. M. Repensando as conexões entre a formação na universidade e as experiências de campo na formação de professores em faculdades e universidades. Educação. Santa Maria, RS, v. 35, n. 3, p. 479-504, dez. 2010. ZEICHNER, K. M.; DINIZ PEREIRA, J. E. Pesquisa dos educadores e formação docente voltada para a transformação social. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, v. 35, n. 125, p. 63-80, Maio./Agosto, 2005. 77 Anexo 1 Questionário Aluno do curso de Pedagogia Objetivo: perfil dos informantes 1. Você está cursando que ano/semestre: ____________ 2. Você já teve e/ou tem alguma experiência profissional com educação (professora, professora auxiliar, monitora, etc.?). ( ) sim qual: _________________ ( ) não (Separar os grupos: com experiência x sem experiência) 3. Quais as suas expectativas com a realização do estágio? O que você espera aprender? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ (Identificar as expectativas dos alunos – o que esperam aprender – preparação para as entrevistas) 4. Para você, qual o papel do aluno estagiário no contexto escolar? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 78 ( Questionário - Aluno bolsista Objetivo: perfil dos informantes 5. Você está cursando o: ) 2ano ( ) 3ano ( ) 4ano 6. Há quanto tempo participa? ( ) Desde 2008 ( ) Desde 2009 ( ) Iniciei em 2010 ( ) Outra opção: ________________________________________________________ (Perceber possíveis diferenças nas respostas, dependendo do tempo de participação) 7. Por que você está participando do Programa Bolsa Alfabetização? (Escreva os motivos que o levaram a participar do Projeto) ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ (Conhecer o aluno participante do programa) 8. Para você, qual a função do aluno bolsista? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ (Conhecer o aluno participante do programa) 9. Você já teve e/ou tem alguma experiência profissional com educação (professora, professora auxiliar, monitora, etc? ( ) sim qual: _________________ ( ) não (Separar os grupos: quem têm experiência x os que não têm) 10. Supondo que a experiência como aluno bolsista tenha mudado algo em sua vida, mesmo que seja uma pequena mudança, pense: - O que mais mudou para mim foi... (completar). ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ (Identificar aspectos importantes na experiência do programa Bolsa Alfabetização – preparação para as entrevistas) 11. Faça um breve relato do como você foi acolhido na escola em que trabalha como aluno bolsista. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ (Identificar aspectos importantes na experiência do programa Bolsa Alfabetização – preparação para as entrevistas) 79 Entrevista semi-estruturada: profissionais responsáveis/idealizadores do projeto (Roteiro provisório) 1Fale sobre a origem da proposta do Projeto Bolsa Alfabetização? (problema que os idealizadores “enxergaram”) 2Como o projeto se constituiu? Por que o uso da palavra Bolsa? 3Qual a função do aluno bolsista? 4Quais os principais objetivos do Projeto? 5Para você, as metas idealizadas na proposta foram alcançadas? (Avaliação Conhecer o projeto real) 6Qual o conceito de alfabetização que fundamenta o projeto? 80 Entrevista semi-estruturada: professores regentes (Roteiro provisório) 1Para você, qual a função do aluno bolsista? O que significa ter um aluno bolsista em sua sala de aula? 2Qual a importância do projeto Bolsa Alfabetização no trabalho que você desenvolve em sala de aula? 3O que a experiência de receber um aluno bolsista contribuiu para a sua atuação de professora alfabetizadora? 5Você recebe alunos do curso de Pedagogia para a realização de estágio? Fale sobre a atuação dos alunos estagiários do curso de Pedagogia em sua sala de aula. 81 Entrevistas em grupo – Aluno bolsista (Roteiro provisório) 1. Poderia falar a respeito de sua experiência como aluno bolsista do Programa Bolsa Alfabetização? 2. O que a experiência de ser aluno bolsista contribuiu para a sua formação docente? 5. O que você mais aprendeu ao participar do Programa Bolsa Alfabetização? 6. Que atividades realizadas no Programa Bolsa Alfabetização (1º. Semestre) você considera que mais favoreceram o seu aprendizado de ser professor? Por quê? 7. Como a criança aprende? 82 Entrevistas em grupo – Aluno estagiário (Roteiro provisório) 1. Poderia falar a respeito de sua experiência de estagiar? 2. O que a experiência de estagiar contribuiu para a sua formação docente? 3. Como você foi acolhido na escola quando realizou os estágios obrigatórios do seu curso. 4. O que você mais aprendeu ao realizar as atividades de estágio propostas no curso? 5. Como a criança aprende? 83 Entrevista semi-estruturada: Diretores das escolas Aluno do curso de Pedagogia (Roteiro provisório) 1. Poderia falar a respeito de sua experiência de receber o (os) aluno (os) pesquisadores do Programa Bolsa Alfabetização em sua escola? 2. Poderia falar a respeito de sua experiência de receber o (os) aluno (os) estagiário (os) em sua escola? 3. Em que a experiência de receber alunos do Programa Bolsa Alfabetização contribuiu para o trabalho realizado na escola? 4. Para você, em que a experiência de receber alunos estagiários (alunos que não participam do programa bolsa alfabetização) contribuiu para o trabalho realizado na escola? 5. Faça um breve relato do como você acolhe (eu) os alunos estagiários em sua escola? 6. O que o aluno do curso de Pedagogia aprende quando faz estágio em sua escola? 7. O que o aluno bolsista aprende quando atua em sua escola? 84 Anexo 2 1. Questão: Poderia falar a respeito de sua experiência como aluno bolsista do Programa Bolsa Alfabetização? 1. Poderia falar a respeito de sua experiência de estagiar no ensino fundamental? Alunos bolsistas Alunos do curso de Pedagogia – estágio convencional Aluno A Aluna A Então, a minha experiência como aluna pesquisadora... Assim, eu gostei muito, foi muito importante pro meu... é... Aprendizado. Pude aprender, nesses anos que eu tive na escola, como a professora ensina, alfabetizando todos os alunos. Assim, aqueles que têm mais dificuldade, eu vi que ela faz um trabalho paralelo com cada um, vendo a dificuldade de cada um que tem [dificuldade]. E aqueles que têm, assim... que conseguem... Que têm um aprendizado, assim, que ‘consegue’ avançar mais rápido, ela também faz um trabalho diferenciado, ela procura instigar os alunos. Ai, pra mim foi um... Foi gratificante, porque a gente tem o contato com os alunos e tem o dia a dia de aula. Dá pra perceber as ‘intempéries’, dá pra perceber os porquês que ‘acontece’, como que é empregado e como se trabalha numa sala de aula. Além ‘da’ gente ter... Fazer a ligação com o estudo da faculdade e dos textos que a gente tem durante o ano. Eu acho proveitoso, e... na minha opinião, eu acharia que o estágio deveria ser bem mais horas, m... Mas do que são – apesar d’eu fazer uma hora todo dia durante o meu período de estágio. Um processo diferente, um processo mais longo. E, assim, eu consegui ver... Que nem, ela deu o Chapeuzinho Vermelho a semana inteira. Chegava na sexta: Olha, agora a gente vai recriar a história da Chapeuzinho Vermelho. Aí, ela chamava os alunos na frente: Quem quer ser a Chapeuzinho? Quem quer ser a vovó? Quem quer ser o lobo? O caçador? É, é a professora Sandra. Fiquei três anos com ela. Então, assim, eu pude aprender muito, porque, assim, durante esses três anos eu vi como que ela alfabetiza os alunos, então ela tenta sempre procurar ajudar os alunos de forma dinâmica. E, assim... foi Chapeuzinho Vermelho, foi João e Maria – que a gente construiu a casinha de doces com eles... Que ficou bem interessante. É... Rapunzel... Então, assim, o que eu achei mais, assim, de diferencial na escola é que cada vez que ela ia apresentar alguma coisa, ela lia, assim... Então, assim... não era só livro: era revista, era gibi... Era a revista Recreio, era Diário do Grande ABC, era jornalzinho. Aí, que nem, ela levou um jornal de 1950, assim, que ela tem guardado, que era sobre o pantanal, da época dos jacarés. Aí, explicou, porque ela trabalhou com animais... Então, ‘né’? É. Só que o fato... O seguinte... é... o difícil é que você não tem participação de toda rotina diária de uma... ‘dum’ dia. Você só tem aquele horário pré-determinado todos os dias. São dias diferentes, tem atividades ‘diferente’, mas você não tem o contato com o conteúdo integral, então fica a desejar, fica faltando, porque você só tem a... o co... o conhecimento daquela hora. Eu sei muito da rotina, por trabalhar próximo, conhecer professores e saber como se lid...dar, como eles trabalham. Mas, pelo período de uma hora, você não tem contato. Não é muito bom. É extenso, é dificultoso... é... é trabalhoso... Porque, no caso, eu tenho férias só em janeiro, e em janeiro não funciona a escola. Por eu trabalhar na Educação... Então, quer dizer, em janeiro não tem escola pra ‘mim’ fazer o estágio. Eu poderia fazer. Seria mais proveitoso fazer uma semana inteira dentro das cinco horas, cinco horas todo dia. Você teria... é... Participação integral em todas as aulas saberia a rotina diária, completo. Eu só sei a diária, semana, por uma hora todo dia. Aluno B Bom, enquanto estagiei no ensino fundamental, pude observar um trabalho coletivo entre as professoras das diferentes séries (1º ao 5º ano), numa espécie de continuidade do ensino, em que a grade curricular de cada série se complementa ao 85 Aluno B Assim, é... participar do Bolsa... é... vai além de ser... É muito importante eu acho. Pra todas nós, ‘né’? Porque aqui a gente só tem a teoria. A gente só vê na lousa, e lá a gente vê na prática como é. ... Se não... se não tivesse o Bolsa, eu acho que seria complicado a gente acabar aqui e... pegar uma sala. Nós não saberíamos como agir no começo. E lá você já tem uma base, tem uma noção. Porque você vê a professora, lê os seus textos... Então você vê aquilo que você acha certo, que você quer pegar pra você, pra você dar continuidade, e aquilo que você acha errado, você quer descartar. Então é muito importante o Bolsa por isso. Eu fico muito feliz. É muito cansativo. Ah, é muito cansativo pra mim, mas é... é muito bom. Eu vejo que, pra mim, foi um crescimento muito bom no profissional. A minha formação acadêmica, assim, contando com o Bolsa... pra Educação Infantil e pra Ensino Fundamental, ‘tá’ ótimo. Eu acho que poderia, assim, no ano que vem a gente pegar o 3º Ano. Aí, depois o 4º Ano, pra você ir vendo a diferença e como aquelas crianças que eu peguei no... no 2º Ano vão amadurecendo. Aluno C – Tem sido boa a experiência. E est... estar dentro de uma escola, eu não tinha noção [d]o que é uma escola. Estar dentro de uma escola é... como posso dizer? É aprender muito. É... é ver como funciona a escola, é conhecer o aluno, conhecer os professores. Tem sido uma experiência boa.eu vou ser sincera... Tive dois filhos em escola, que agora são adultos. Mas eu não tinha noção do que é uma escola e de como é esse aluno, e de como é essa criança. Eu vim a aprender como é esse aluno, como é essa criança dentro da escola. Não sei se... é... eu não parava pra pensar, eu não parava pra pensar nessa criança, nesse aluno. Como é uma escola, como ‘é’ os professores, a direção; os alunos dentro de... da sala de aula, dentro da longo dos anos. Como estagiei apenas numa escola particular, não tenho muitas informações sobre o que acontece nas escolas públicas, apenas tenho conhecimento do que li nos relatos do bolsa alfabetização, enquanto fazia minha pesquisa de IC Num todo, posso dizer que gostei muito de conhecer na prática como acontece o trabalho no ensino fundamental, especialmente nas séries iniciais de alfabetização, processo que muito me atrai. Aluno C Bom, pra mim foi uma experiência muito interessante porque... é... uma vivência completamente diferente do lugar onde eu trabalho, ‘né’? Que eu trabalho com Educação Infantil. E o Ensino Fundamental... é... é bem diferente, tanto pelas crianças, ‘né’? Quanto pelos professores, a maneira da-da... da maneira que os professores lidam com as crianças, ‘né’? Da maneira... a-a linguagem que eles falam, ‘né’? Até as atividades que eles fazem, que é... é uma maneira muito mais autônoma, ‘né’? Do que a Educação Infantil. E o... e o cuidado que existe na Educação Infantil... é... ele se perde, ‘né’? Ele não existe mais, ‘né’? É um outro tipo de... de relacionamento que tem tanto entre os alunos quanto entre professor e o aluno. Então pra mim foi... foi essa riqueza que teve de compreender como isso pode ser diferente. É, então, eram grupos... é... de seis, sete crianças e... e eles, ‘né’? Tentavam resolver ali o problema entre eles. Então eles tinham um roteiro de estudo, eles tinham que... as matérias que eles tinham que estudar e eles procuravam, ‘né’? Mesmo que não os oito conversar ou os sete conversarem juntos, mas dois, três alunos trocavam, ‘né’? Ideias do que eles precisavam... como eles precisavam resolver. Então... é... E... e por eles serem, ‘né’? Mais gradinhos, ‘né’? É... eles conseguiam chegar numa conclusão, e sem precisar, às vezes, da ajuda do professor. Então isso, pra mim, foi bem... foi muito gratificante, foi muito... é... É perceptível como eles conseguem avançar mesmo sem ter que toda hora chamar o professor e ter uma explicação, ‘né’? De um conteúdo que eles, assim... Que, às vezes eles vivenciam, ‘né’? Eles ‘tavam’ na época de falar de... é... poluição e... Então isso era um... um assunto pra eles que já era comum, então, às vezes... é... eles ‘mesmo’ 86 escola. Então, mesmo os meus filhos freqüentando uma escola... Na época, eu trabalhava; eu acho que era, assim, tudo tão... tão... tão rápido.... Eu precisava ir pro meu trabalho, levar na escola, depois a casa. Então eu não parava pra pensar no ambiente escolar. Só sei, e eu... eu acredito que é a visão de muitos pais... Os pais têm... têm, assim, é... os pais... é... confiam na escola, confiam no... no dire... na direção e nos professores. Eu... eu ‘tô’ respondendo por mim, eu acredito que os outros pais também. Os pais têm muita confiança na escola, e confiam muito nos professores. Aluno D Participei do projeto. É... A primeira professora, achei ela, assim, muito... era uma pessoa muito preparada. Ela até ganhou prêmio na... de professora, lá... um prêmio lá... até não me lembro direito o prêmio que ela ganhou. [riso] Porque é... é uma pessoa, assim, muito dedicada. Só que eu acho que é muito [...] exigente. Às vezes, a criança... Na idade da criança, tem certas coisas... que ela é criança, e às vezes o professor trata como adulto. E não é um adulto, é uma criança, ‘né’? Mas ela tinha muita experiência. Isso, nossa, é uma pessoa, assim, que... As crianças dela conseguiram... é... no final do ano, tiveram muita... é... Um bom desempenho, ‘né’? Eu a... eu... Foi muito bom por esse motivo, porque eu acho assim, eu aprendi muito com ela, com toda essa parte aí. As crianças, eu... eu acho, assim, que eles... Eles eram tão diferentes um dos outros... Não sei nem porque a... Porque ela falou que ela acha que eles todos são parecidos. Eu acho que não: eles são diferentes. Tem aquela criança com mais dificuldade, tem aquela criança que já desempenha muito, vai além do que a professora ‘tá’... ‘tá’ colocando pra eles. Então eu acho assim... é... Acredito, ‘né’? Penso que foi muito importante pra mim. Embora, ‘né’?, a gente tem... em todo lugar você tem umas decepções, mas, assim, profissionalmente foi muito bom, ‘né’? Na outra escola que eu trabalhei esse ano, acho que no começo do ano que eu trabalhei, conseguiam resolver e responder as questões. Então... Muito simples. Aluno D Olha, a experiência foi... Tranquila, foi uma escola de uma área... Carente, São Bernardo. Ahn... Achei a professora bem atenciosa com os alunos... é... Preocupada com o aprendizado deles, coisa que eu já... Não via em outras escolas. A professora que eu peguei, eu acho que ela era a... a mais preocupada, assim, da... do período que eu fiz estágio, porque ‘haviam’ outras que você... Aluno E ...e minha experiência no... No estágio do Ensino Fundamental... Estágio convencional eu achei que foi bastante proveitosa. E... Eu não sei se é porque eu tive uma sorte de pegar uma sala... é... Bacana, fui muito bem acolhida, ‘né’? Então a professora... é... me recebeu bem e a classe era uma classe bacana, uma sa... Uma sala boa. Apesar ‘d’eles’ ‘se’ considerarem que não. Porque... é... era 4º Ano A e B, e aí eu peguei a sala B. E aí eles falaram que o 4º Ano A era o... a sala melhor – creio que por causa de comportamento, ‘né’? Disciplina, essas coisas. Mas eu achei, assim, a experiência muito... Proveitosa, no sentido, assim, ‘d’eles’ não serem crianças... tão novas – na faixa etária de... entre 9 e 10 anos. E... e como a professora conduzia essa sala, a forma dela conduzir a sala. Ela... ela tinha... ela era mui... muito pacienciosa, assim. Ela... eu nunca ouvi ela alterar a voz..Problematizando as falas – construção de categorias 87 também... ...Eu achei, assim, importante a professora, porque ela dava, assim, oportunidades pra você, ela explicava... Tudo que ela ia falar, que ela passava ‘pas’ ‘criança’, ela explicava pra mim o porquê ‘que’ ela ‘tava’ fazendo daquela forma: Olha, sabe por que ‘que’ eu ‘tô’ fazendo isso? Por causa disso, disso, disso. Então isso é importante, porque você, ali, como um... Um pesquisador, você aprende muito mais do que você só estar ali olhando o professor, e o professor dando a aula dele normal. Não: toda a... toda a explicação que ela ia dar, toda a matéria, tudo que ela ia dar pras ‘criança’, ela: Ó, ‘tô’ dando por causa disso, disso, disso. Então, é... cada um tem a sua... ‘né’? A sua dificuldade; cada professor tem o seu jeito, mas eu gostei. Isso me chamou muito à atenção nela. Aluno E Entrei, entrei esse ano. Foi uma descoberta, ‘né’? Porque até então eu não... Não tinha nunca entrado em sala de aula com uma visão, o olhar de professor. Então, assim, a teoria que, aqui, eu fui aprendendo, na universidade, ela ganhou sentido lá: eu vendo a atuação da professora, eu entendendo o porquê aquilo fazia sentido com o que eu estava aprendendo, ‘né’? Tirando a concepção que eu tinha também, tradicional. E, assim, ma... O que mais me fez perceber foi essa diferença, do que é um olhar de aluno e como eu vou atuar olhando a atuação daquela professora. Me preparando também, ‘né’? Me analisando e analisando ‘ela’. Foi a tua primeira experiência de sala de aula, ‘né’? Que ‘cê’...? Não, já tinha uma outra experiência aqui em São Caetano, pela Prefeitura... Ah, foi isso, ‘tava’... É, isso... Mas eu me desgostei muito. E eu fiquei assustada, [riso] achei aquilo, assim, difícil pra lidar. E quando o Bolsa... ‘Né’? É... Tive essa oportunidade, aí, sim, eu entendi que não era só aquele caminho que existia, eu vi um outro horizonte, ‘né’? Estava pensando até em desistir. Problematizando as falas – construção de 88 categorias - Como a professora ensina; - Foi gratificante; - Como a professora realiza um trabalho diferenciado; - Fazer a ligação teoria e prática; - Processo longo; - Pude observar trabalho coletivo entre professores (fez estágio na escola que trabalha); - Vi processo de alfabetização; - Conhecer a prática; - Vi a prática como é: boas e ruins; - Conhecer a relação professor x aluno; - Crescimento profissional; - Professora “bem intenciona” - Vê como funciona a escola/aluno/professor; - Aprendi como a professora ensina; - Aprendi como as crianças são diferentes; - Importante: porque você ali é um pesquisador: olha o professor/o aluno/aula; Lembrete: O estágio deveria se mais longo - A teoria ganha sentido; - Pude perceber caminhos diferenciados no momento do aprendizado. Palavras pronunciadas por diversas vezes em contextos parecidos: Palavras pronunciadas por diversas vezes em contextos parecidos: - Ver práticas, ver a relação professor aluno e aluno, ver o processo de alfabetização; - Conhecer - A teoria ganha sentido; - Trabalho diferenciado. Algumas breves conclusões: - Os alunos bolsistas tiveram a oportunidade de ver processos de aprendizagem. A palavra ver foi citada em todas as respostas. Contudo, ela foi acompanhada por outras palavras que explicitaram o que estava sendo visto. Logo, parece que o fato de terem participado do Programa foi uma experiência importante para a vivência de uma prática contextualizada. Além disso, essa vivência, esse acompanhamento foi visto como um processo longo o que permitiu que percebessem a importância de um trabalho diferenciado e, principalmente, de terem visto situações de escola, em especial, da sala de aula. - Os alunos que fizeram seus estágios convencionais responderam que conheceram “algo”. Posso traduzir esse “algo” como sendo uma percepção que os alunos tentam construir com essa atividade. Isso foi explicitado nos trechos em que as alunas pronunciaram palavras como “gratificante” e “bem intencionada”. Entretanto elas não conseguiram exemplificar esse conhecimento. 89 2ª. Questão: O que a experiência de ser aluno bolsista contribuiu para a sua formação docente? 2ª. O que a experiência de estagiar contribuiu para a sua formação docente? Alunos bolsistas Alunos do curso de Pedagogia – estágio convencional Aluna A Aluna A Pra minha formação foi importante porque eu tive a oportunidade de aprender a ver a re... assim, como se deve ensinar numa escola, ‘né’? Assim, a ensinar os alunos a trabalhar... É... Você... como que você tem que planejar as suas aulas... Não adianta só chegar lá e dar: não, ‘cê’ tem que planejar o que você vai dar, o que você vai trabalhar. Procurar ver as dificuldades que as crianças têm, o ambiente que elas ‘tão’... Tem todo um contexto, assim, que as crianças precisam ter, e você também precisa ter pra poder lidar com essa experiência. Então, assim, pra mim foi muito importante. E, assim, eu gostei muito de ter participado do Bolsa, porque foi uma oportunidade pra mim... E foi, assim, um aprendizado que, assim, acho que não tem ...assim, acho que não posso falar que tem um valor, porque eu acho que eu vou carregar pro resto da minha vida... Pro resto da minha vida todo esse aprendizado que eu... Tenho. E a... a[?] partir[?] disso[?] aí, a experiência do estágio, pra mim, é uma base que eu sempre reforço, é aonde você consegue ter o contato do que você aprende dentro de sala de aula. Então, quer dizer, se você não faz o estágio só faz relatórios, só preenche, não tem vivência do dia a dia, você pode ter um choque, você pode ter um baque na hora que você assumir uma sala de aula. Porque muitas vezes, na sala de aula, a gente treme, a gente fica com medo de conversar, de falar com os próprios alunos ou os professores, imagina uma sala de aula com vinte, trinta alunos, a-aí... Então, quer dizer, dá aquele baque. E fazendo o estágio, você pelo menos diminui isso daí. Porque, assim, quando você ‘tá’ lá dentro da escola, você vê a real situação mas não só da escola, você vê da educação de um todo. Então, assim, que nem, eu lembro que eu ‘tava’ numa escola particular. Então, na escola particular... ela oferecia tudo. Então, assim, o que ‘que’ eu fazia lá? Quase nada. Porque era, assim, as crianças já sabiam praticamente quase tudo. Por quê? Porque tem internet, tem todo um... uma coisa de... de... tem um diferencial. Quando eu cheguei no Estado, foi praticamente um choque que a gente leva, porque ‘cê’ fala assim: Nossa, é, assim... Como que eles vão ensinar as crianças sendo que elas não têm computador, elas não têm isso em casa, não têm uma família estabilizada...? E elas conseguem levar isso ‘pas’ crianças. Então, assim, foi muito interessante porque, assim, as crianças... algumas delas... Que foi o diferencial. Dela poder falar assim: Ó, ‘cê’ não vai ficar ali só no canto anotando, ‘né’? Ela deixou eu participar de tudo. E, ‘Tá’ certo. Aluna Margareth – É. Você tira um pouco o stress, você sabe como é que é... E dá pra você escolher e entender qual a área que você quer trabalhar. Eu sempre bati que eu – há nove anos que eu trabalho com Educação Infantil – eu quero Educação Infantil. Não desmerecendo o Ensino Fundamental. Eu sei que eu teria condi... Teria condições? Tenho condições. Gosto de trabalhar? Gosto. Mas o que eu gosto de fazer numa sala de aula, eu sei que eu não seria reconhecida em algumas escolas, porque ‘cê’ tem um cronograma, você tem o projeto e tem que seguir as leis e diretrizes. E o que eu gosto de fazer, às vezes, foge, sai fora. Então eu não poderia cumprir com um projeto, ficar dentro da lei... Você pensa que está mais amarrada? Aluna Margareth – Fica... Eu fico. Eu fico amarrada... Claro que eu sou brincalhona, eu sou muito mãezona... Então eu quero que as crianças participem. E, geralmente, no Ensino Fundamental – é a minha visão – as crianças ficam muito paradas, elas ficam muito centradas, ‘né’? Então elas não podem se ‘alvoroçar’, elas não podem... é... sair do ritmo, elas têm que seguir aquele ritmo, e eu 90 assim, a coordenadora, a diretora também... Então, foi... Assim, apren... Porque, assim, até então eu não conseguia visualizar, assim, em sala... Eu lembro, até, a Ana[?] Silva[?] explicava: pré-silábico, silábico... com-valor, sem-valor... Assim, na esco... Quando ela explica, a gente até tenta visualizar, mas quando ‘cê’ chega na escola e você vê o que ‘que’ é um pré-silábico, o que ‘que’ é um semvalor, com-valor, alfabético, você vai entendendo.... Então isso, pra mim, foi muito importante, esse aprendizado, porque eu consegui aprender a ver como que a criança vai... é... dum nível, assim, de pré-silábico até alfabético durante um ano. Então, assim, a gente fala: Nossa, mas como que consegue? Não, ele vai. Então, assim, é aos pouquinhos... Aluna B Ai, pra mim foi um... foi gratificante, porque a gente tem o contato com os alunos e tem o dia a dia de aula. Dá pra perceber as ‘intempéries’, dá pra perceber os porquês que ‘acontece’, como que é empregado e como se trabalha numa sala de aula. Além ‘da’ gente ter... Fazer a ligação com o estudo da faculdade e dos textos que a gente tem durante o ano. Eu acho proveitoso, e... na minha opinião, eu acharia que o estágio deveria ser bem mais horas, m... mais do que são – apesar d’eu fazer uma hora todo dia durante o meu período de estágio. Então, ‘né’? É. Só que o fato... o seguinte... é... o difícil é que você não tem participação de toda rotina diária de uma... ‘dum’ dia. Você só tem aquele horário pré-determinado todos os dias. São dias diferentes, tem atividades ‘diferente’, mas você não tem o contato com o conteúdo integral, então fica a desejar, fica faltando, porque você só tem a... o co... o conhecimento daquela hora. Eu sei muito da rotina, por trabalhar próximo, conhecer professores e saber como se lida, dar, como eles trabalham. Mas, pelo período de uma hora, você não tem contato. Não é muito bom. É extenso, é dificultoso... é... é trabalhoso...Porque, no caso, eu tenho férias só em janeiro, e em janeiro não funciona a escola. Por eu trabalhar na Educação... Então, quer dizer, em janeiro não tem escola acho isso maçante. Então eu prefiro a Educação Infantil porque eu... eu dou o conteúdo, trabalho com eles o que eles podem, através da brincadeira, de jogo, e eles vão aprender. Eles saem... tem criança que sai letrada, já sabe... lendo... sai escrevendo. Mas eu brinco com eles, ‘né’? Então... Aluna Margareth – E, já no Ensino Fundamental, eu não sei se eu seria aceita, por querer brincar. Legal. Aluna Margareth – Poderia trabalhar muito mais coisa, que eu tenho vontade, mas eu não sei se eu sairia... se eu seria aceita nessa parte. Eu acho que sim. Aluna Margareth – Acho que eu seria... Não, professora, tem diretora que não aceita, não. Aluna B Estagiar colaborou para que eu tivesse contato com elementos concretos para refletir e repensar as práticas educativas, numa visão de quem une teoria à prática, afinal, é impossível se fechar no mundo das teorias utópicas sem considerar a realidade vivida, do mesmo modo que é inviável lidar com a realidade sem um embasamento teórico consistente que fundamente e dê sentido às práticas educacionais. Aluna C Respondeu anteriormente Aluna D Tá’, minha experiência foi muito tranquila, eu peguei uma sala... com uma professora preocupada com os alunos... então isso contribuiu na minha educação pra quê? Pra ‘mim’... ter uma noção de que a diversidade na sala de aula é muito grande e que você tem que trabalhar mesmo, indivi... é... individualmente, coletivamente, dependendo da necessidade da criança ‘pa’ que você consiga... utilizar todos os seus meios, técnicas, a didática que você aprendeu pra 91 pra ‘mim’ fazer o estágio. Eu poderia fazer. Seria mais proveitoso fazer uma semana inteira dentro das cinco horas, cinco horas todo dia. Você teria... é... Participação integral em todas as aulas, saberia a rotina diária, completo. Eu só sei a diária, semana, por uma hora todos os dias. Aluno C Ah, é como eu falei, ‘né’?, ‘prô’? É... é essencial. Não tem outra palavra: é essencial pra mim, porque se eu não tivesse lá, eu não saberia de onde começar e pra onde partir. Aqui a gente só tem a... a teoria. Lá, você vê até questão de disciplina, é... questão de como... Se uma criança não consegue, o que a gente pode fazer. Tudo junto. Aprendendo junto com a criança... e junto com o professor. Por isso que é essencial na minha formação. Aluno D Olha, coisas que você vê, que você acredita... que você acredita que o professor deve fazer, que você... é... olhar mais a criança, estar mais próximo da criança. Eu acho que isso contribuiu, porque... é... eu acredito, assim, que muitas coisas que eu vi lá, do pro... do professor... é... não estar tão próximo da criança. Atitudes, assim, não maldosas, mas atitudes que, eu não sei, eu acho que eu não... não... eu não faria, ‘né’? Eu acredito que eu não faria. Não sei se eu estando lá, no momento, com tanta criança... não sei. Mas eu acredito que eu não faria. Então eu acho assim, você ver o outro professor, você estar junto ali, trabalhando junto... Muitas coisas que o professor fez, e você acreditou, contribui pro seu trabalho. E muita coisa que você viu que o professor... que você não aprovou, você vai procurar não fazer. Então eu acho assim, é importante a gente ‘tá’ junto com o professor. poder fazer com que essa sala ande e que você tenha o... consiga atingir o seu objetivo final no fim do ano letivo. Aluna E Então, eu acho que é... Porque, assim... é... até por causa ‘d’eu’ trabalhar na Educação Infantil. Eu ‘tô’ habituada com a Educação Infantil – que é um outro ritmo, é um... é uma outra... um outro sistema, é uma... ‘outras’ ‘coisa’, uma outra forma, ‘né’? De trabalho. E na Educação... no Ensino Fundamental... é... eu não tinha experiência nenhuma. Não tinha conhecimento nenhum de como era uma sala de aula... A não ser, assim, como mãe acompanhar os filhos na... reuniões de pais. Então, pra mim, essa experiência foi boa porque... é... se eu tiver, hoje, que trabalhar na... é... no Ensino Fundamental, eu tive uma experiência que... pra mim, pra servir como exemplo, como base... Eu sei que eu vou ter que me preparar, porque depende de escola pra escola, de como eu vou ter... e desenvolver o meu trabalho, mas eu achei bastante... é... importante pra... pela... esse conhecimento que eu não tinha. Não tinha experiência nenhuma na Educação Infan... é... do Ensino Fundamental. Nenhuma, nenhuma de sala de aula. Eu esperava pegar, assim... é... um terror, uma coisa horrorosa, difícil... E não foi o que eu achei. [riso] ‘Cê’ ‘tava’ com muito medo? Eu tinha medo, eu tinha receio, eu falei: Nossa, eu acho que não vai ser fácil. Até... com os exemplos, ‘né’, que são? Aluna Rosa – É, são os exemplos. Porque aí você vê... Porque você estando ali do lado, você não tem... Não é que você... Você não tem aquela...Você tem como...? Você lembra de algum... de um exemplo, de um detalhe 92 pra ilustrar isso? Aluna Rosa – [...] A hora que a criança, por exemplo, faz uma atividade, e ela quer, lá, fazer do jeito dela: Ah, eu quero pintar... No entanto eu... Eu[?] já[?] fui[?] mãe[?], ‘né’[?]? No entanto: Ah, o Papai Noel. Ah, mas você tem que pintar o chapéu do Papai Noel de vermelho. / Mas eu quero pintar de verde. / Não, não, tem que pintar de vermelho. Então, quer dizer, a criança, ela tem o... a... a... o chapéu não é verm... não é verde. Mas, pra ela, a gente tem que dar a... a oportunidade pra ela, a gente tem que dar... como é que fala? A liberdade pra ela escolher. Porque se começar a fazer... Eu penso assim. Se você começar a fazer do jeito, ela vai querer fazer do jeito que você quer, não do jeito dela, vai... vai privar ela de criar, de ser criativa. Tá certo. Aluna Rosa – ‘Né’? Eu acho que tem certas coisas que são importantes pra elas, e, às vezes, a gente... ‘Né’? O professor, a... a professora, ela... Isso é interessante pra gente, porque você vê falar: Olha, aqui eu não posso, aqui eu posso. Aqui eu vou fazer assim, ali eu vou fazer de forma diferente. Então é importante. Aluno E É, ‘tá’ contribuindo cada dia porque conseguiu me encorajar a perceber que... Existem outros momentos de professor. O professor, ele não fica preso numa situação única. Ele tem que aprender isso, a saber driblar certas situações que ocorrem... Então eu ‘tava’ muito assim... é... recolhida, ‘né’? Nisso. Eu não conseguia perceber de que maneira que eu vou... me deparar com essa situação. Então eu acho que fez com que eu percebesse que eu sou capaz de... de ir por esse caminho. Me deu mais segurança. 93 Problematizando as falas – construção de categorias Problematizando as falas – construção de categorias - Aprender a ver a realidade; - Ter contato com o que se aprende na universidade; - Ver a real situação: sala de aula, escola e educação; - Aliviar o stress; - Possibilidades de participação; - Contato com “certos” contextos; - Visualizar a teoria; - Ter noção da diversidade da sala de aula: importância do trabalho individualizado. - Fazer ligações entre o que se aprende na universidade e a sala de aula; - Saber como começar: aprendi com a criança e com o professor; Aprender inadequadas; condutas adequadas e - Perceber a importância do trabalho diferenciado. Palavras pronunciadas por diversas vezes em contextos parecidos: - Ver a realidade/sala de aula/a teoria; Palavras pronunciadas por diversas vezes em contextos parecidos: - Contato; - Fazer ligações: teoria e prática; - Ter noção. - Aprender Algumas breves conclusões: Os alunos bolsistas, novamente, afirmaram que tiveram a oportunidade de ver. Essa ação de “ver” foi completada com ação de “fazer”. As duas ações são fundamentais na construção do conhecimento. Por isso, a ação de “aprender” também estava presente. Todas as três ações – ver, fazer e aprender – estão interligadas. Com essas falas, constato que as alunas, ao participarem do Programa se apropriaram de ações importantes para a formação docente; - Em contrapartida, os alunos que estagiaram afirmaram que apenas entraram em contato. Enfim, essa palavra não dá conta de um aprendizado mais complexo. Outro aspecto que pude constatar, nas falas das alunas, é que elas 94 parecem falar de suas práticas – alguns trabalham na educação infantil – e não da prática que está sendo observada (Aluna A). 3ª. Questão: Supondo que a experiência como aluno bolsista tenha mudado algo em sua vida, mesmo que seja uma pequena mudança, pense: - O que mais mudou para mim foi... 3ª. Questão: Supondo que a experiência como aluno bolsista tenha mudado algo em sua vida, mesmo que seja uma pequena mudança, pense: - O que mais mudou para mim foi... Alunos bolsistas Alunos do curso de Pedagogia – estágio convencional Aluna A Aluna A É, o que mais me mudou, assim, que me marcou foi como eles aprendem a ler e escrever, que é a fase, assim, de transição, que é... parece que dá aquele estalo, que a criança fala assim: Nossa, eu sei juntar o Ca da casa. Aí que eles começam, assim, a juntar. Isso foi o que mais me marcou nesse aprendizado É, então, a minha visão. Porque a maneira que eu gosto de trabalhar, que eu gosto de desenvolver, é mais adequado pra Educação Infantil. Foi isso que mudou? Você... ‘cê’ acabou até reforçando... Aluna Margareth – Reforçando......toda essa ideia que você tem, que você gosta mais da Educação Infantil. Aluna B [...] Ai, dar... dar mais valor... é... aos estudos, à profissão. Ali, você sabe se você vai ser ou não... se essa é a carreira que você escolheu, realmente. Eu acho que ali define... é... ou concretiza aquilo que você ‘tá’ esperando... ahn... no curso que você... é... pretende seguir, que é a carreira de... de professor. Eu acho que ali é um momento em que você diz: Pronto, eu vou ser professor. Ou: Não, eu não dou pro negócio. Eu acho. Aluno C Deixa eu pensar. Porque mudou... [...] Mudou na visão... Que eu tinha uma visão, assim, do Tradicional... Porque a professora Ana Silvia fala muito do construtivismo dentro da alfabetização, e eu não concordava muito, porque eu não imaginava você chegando numa sala de 1º Ano e 2º Ano, e... deixando mais eles à vontade pra brincar. Como eles ‘tão’ lá, a escola é totalmente tradicional, eu vejo a carência, a necessidade que eles precisam disso. Então esse ponto de vista... Não que eu... aplique somente o construtivismo, mas eu acho muito importante pra eles crescerem também, porque eles são Aluna Margareth – Isso. A minha área é a Educação Infantil. Posso trabalhar com Ensino Fundamental? Posso, mas vai depender do projeto, se eu puder.. Aluna B O que mais mudou para mim foi que aprendi o quanto é importante ouvir os alunos para que o processo de aprendizagem faça sentido a eles. Aluna C O que mais mudou para mim...? Foi a ideia de que... é... dá pra fazer diferente; dá pra fazer Educação, Ensino Fundamental diferente. Porque nesse estágio eu percebi que não é... Não é como qualquer escola. Então, assim, por mais que, às vezes, os professores não... não ‘tavam’ tão, assim... é... envolvidos com a ideia, a direção estava. Então o diretor, a vice-diretora, a-a secretária, eles ‘tavam’ muito preocupados com o que os alunos poderiam avançar, daquela maneira que eles ‘tavam’ trabalhando. Então é possível fazer diferente se a direção quer, se 95 muito pequenos, muito imaturos. Ainda mais com essa escola de nove anos. Eu acho que deveria encaixar mais, melhorar a escola, porque eles... eles chegam na sala, eles sentam... A educação física, eles fazem um círculo e ficam brincando de roda[?] quase o dia... todo o dia. Toda a educação física. Eles não podem subir, não podem mexer com bola: é uma escola totalmente tradicional. Então eu acho que essa visão do tradicional sai um pouco, e mudou muito. E também a visão de que eu não queria trabalhar com criança... ‘né’? A partir de 6, 7 anos. Que eu achava que eles eram totalmente terríveis. E eu vi que, não, eu vi que se você tiver um jeito, se você tiver autoridade dentro de... sala de aula, sabendo usar a autoridade, e conversando... Porque eles querem aprender, eles têm vontade. Aí você consegue controlar e oferecer uma boa aula... Aluna D Eu vejo que... Eu acho que é a questão... essa questão também, de que quebrou um pouco dessa barreira com o Fundamental, ‘né’? Então me ajudou a perder um pouco do medo, ‘né’? Eu creio... eu sei que é diferente quando a... quando a gente assume a nossa classe, ‘né’? Tem aquela... Mas eu achava que eu não ia conseguir desenvolver um diálogo maior. Então eu percebi que, o quê? Há muita troca – mais do que no Infantil, ‘né’? No Infantil eles... é... eles são mais guiados por nós, ‘né’? Pelos professores. Já no Fundamental é uma troca maior, um diálogo maior, e isso eu achei muito... muito importante. a coordenação quer. Então isso foi... Aluna D Foi essa preocupação com o aprendizado dos alunos. Aluno E Foi... é... conhecer, entender como funciona... o Ensino Fundamental. Porque é muito diferente da Educação Infantil. Essas crianças com a idade... crianças maiores... Então essa... é... é ter uma ideia de como é, pra... Como é que é esse universo, ‘né’? Como é esse universo. Talvez perder um pouco esse medo que ‘cê’ falou... É. É, um receio, um medo, um... Não sei, alguma coisa, assim, uma preocupação, ‘né’? De, talvez, se eu tiver que trabalhar... Dessa... Com essas... as... Crianças, eu não sei se eu vou conseguir, ‘né’? Não conseguiria, porque eu acho que agora eu tenho um... uma ideia de como que é. Então eu acho que contribuiu muito pra mim nesse sentido, ‘né’? ‘Cê’ vê que é possível: eu posso ser professora do Fundamental, sim, ‘né’? Que ele também é uma fase muito boa, ‘né’? Muito gostosa de trabalhar também. Problematizando as falas – construção de categorias - Como a criança aprende a ler e escrever: fase de transição/estalo; Problematizando as falas – construção de categorias - Desejo de continuar na educação infantil e não ingressar no ensino Fundamental por insegurança; - Valorização do curso; - Ouvir o aluno; - Mudou minha visão de educação; - É possível fazer diferente. - Posso ensinar no ensino Fundamental. 96 Algumas breves conclusões: - Os alunos bolsistas, ao enunciarem as palavras “mudou” e “posso”, demonstram ter mais segurança no papel de professora, ou seja, a identidade docente parece estar amadurecendo. Comparativamente, as alunas que não participaram do Programa parecem demonstrar que talvez não ingressem na docência do Ensino Fundamental por se sentirem inseguras. Essa insegurança provavelmente tenha sido provocada pelo fato de terem experiência na Educação Infantil e de não conseguirem ter uma experiência no estágio que tenha sido significativa; - Os alunos bolsistas mostram que elas podem sair da educação infantil para falar do Ensino Fundamental, já as alunas que fizeram estágios convencionais só conseguem falar do estágio por meio da Educação Infantil, ou seja, elas não conseguem sair desse contexto. Muitas alunas, ao ingressarem no curso de Pedagogia, começam a trabalhar na Educação Infantil como auxiliares de classe e ficam nessa função até o término do curso. Logo, se a experiência de estagiar não for significativa, o aluno da Pedagogia terá dificuldade de assumir sua função, nesse segmento de ensino. Parece-me que as alunas, mesmo tendo realizado seus estágios, ficam com uma visão equivocada do que poderia ser o trabalho na educação infantil.; - Como o estágio convencional não propiciou um aprendizado significativo às alunas, elas, provavelmente, não conseguiram valorizar o que o curso ofereceu. 97 4ª. Questão: Faça um breve relato do como você foi acolhido na escola em que trabalha como aluno bolsista. 4ª. Questão: Faça um breve relato do como você foi acolhido na escola em que estagiou. Estágio convencional Alunos bolsistas Aluna A Fui muito bem, por todos os funcionários da escola, assim: diretor, a coordenadora, vice, professores – desde o começo... Porque logo que eu cheguei, a coordenadora me apresentou pra professora, depois me apresentou pra todos os funcionários da escola, me apresentou a escola... me apresentou a escola. Falou, assim, que se eu precisasse de alguma coisa ela estaria disposta a ajudar. Sempre que eu precisei de alguma coisa da coordenadora ou da professora, elas sempre me ajudavam... Aluna B Muito bem. Pela professora... ela é, assim... Comigo ela é maravilhosa Também, é uma escola muito grande. Desde o 1º Ano da Educação... do Ensino Fundamental até o 3º Ano do... do Ensino Médio. Mas eu fui acolhida muito bem lá. Aluna C Então...Foi, foi um pouco difícil... Porque, às vezes, a dificuldade até, ela é provocada pela [dúvida sobre] quem é esse aluno bolsista? Eu via o que... o problema lá é que eles não sabiam a nossa função, por que a gente ‘tava’ lá. E isso ficou bem claro, tanto pela coordena... com relação à coordenação, ‘né’? A direção, nem tanto, porque a direção não... não ‘intervia’ muito, então eu não tive nenhum problema. Mas a professora, a princípio, ‘né’? Quando eu cheguei lá, ela já... Eu chamei a atenção de um aluno, ‘né’? Porque ele estava atrapalhando a aula, tudo... Pra tentar ajudá-la, ‘né’? E ela... E ela já, logo de cara, acho que na primeira semana, ela falou que a professora era ela, que... Ou seja, tentando colocar um... um limite. Então não Aluna A Trabalho na escola. Aluna B Fui muito bem acolhida nas escolas em que passei. Na particular, eu já conhecia as pessoas do fundamental porque eu trabalhava lá, porém também não tive problemas ao conversar com os funcionários e professores da área do infantil, que pertence à mesma escola, porém com administração diferente. Na escola municipal de Educação Infantil que visitei aqui em São Caetano, fui muito bem recepcionada pela diretora e pelas professoras também. Todos responderam bem às perguntas que fiz, mesmo estando na correria de seu horário de trabalho. Aluna C Fui bem acolhida. ‘Né’? Como eu ‘tava’ falan... É... a coisa de eu ser a... a sobrinha da vice-diretora, não sei se... se é por isso, mas os professores me acolheram bem, ‘né’? Por mais que ficaram um pouco receosos com a minha presença, ‘né’? Na sala, por eu estar... é... mais... é... observadora, ‘né’? Do que ativa, ‘né’? Na sala de aula. Mas eu fui recebida bem, foi... Todos foram... é... Me mostraram, me explicavam... Todas as salas que eu entrava eles me... eles me explicavam do projeto que eles ‘tavam’ fazendo, ‘né’? E o que ‘que’ os alunos ‘tavam’ fazendo, então foi bem... Foi bem tranquilo. Aluna D Olha, eu fui bem acolhida, a coordenadora que me... me atendeu, a princípio. Porque... é passado por ela, aí ela te encaminha pra alguma sala que não tenha estagiário, porque 98 havia troca, ‘né’? Ela queria que eu trabalhasse, que eu fizesse as coisas pra ela, mas, assim... Desse ideias, ela... até um certo ponto... desde que ela concordasse. Quando eu falava alguma coisa que ela não concordava... Ela rejeitava ou respondia mal. Queria que eu fizesse trabalhos manuais, mais trabalhos manuais. Não gostava muito que eu chegasse muito perto das crianças, ajudasse. E muitas vezes eles vinham pedir pra mim, quando eles tinham dúvida, eles tinham medo, porque ela era muito rígida, ‘né’? Com eles. Ao mesmo tempo que parecia que ela ‘tava’ ‘tão’ próxima deles, que ela usava... porque ela é uma professora experiente, então ela tinha uma linguagem adequada, ‘né’? Pra falar com eles. Ela... Isso eu... isso eu admiro muito, ‘né’? E que é... é um dos aprendizados também, que eu aprendi lá com ela, ‘né’? Mas ela era muito ríspida com eles, ela gritava lá no ouvido deles. Então, assim, eu creio que eles tinham medo de... de errar. Então, às vezes, eles vinham até mim. E eu ti... e eu ficava com medo de ela me chamar à atenção, também, ao mesmo tempo, ‘né’? E... lá eles só permitem que fique um estagiário por sala, por período, ‘né’? Pra não ficar uma sala, lá, lotada de estagiários. E a escola... ‘tinham’ pessoas bem acolhedoras, eu me senti... não... a gente não diz em casa, mas eu me senti bem. Aluna E Fui bem acolhida por todos, principalmente, pela professora. E as crianças vão. As crianças, elas têm uma relação de... elas querem essa aproximação, elas pedem essa aproximação. Aluna D Aluna Rosa – Ah, eu, quando cheguei, já fui colocada lá no fundo, numa carteirinha: Você fica aqui, que é aqui que ‘cê’ tem que ficar. Mas eu acho que a pessoa não tem intimidade, não sabe quem é que ‘tá’ ali... Eu acho que você fica meio desconfiado mesmo. Mas aí, com o tempo, foi indo, foi indo... Eu fui... ela... ela pedia pra ajudar, ‘né’? Ela foi começando a pedir pra ajudar. Até nos... nos últimos... nos últimos meses, ‘né’? Que eu fiquei lá, ela começou a passar até atividades e provas pra eu passar pra eles. Ela dava prova e eu passava pra eles. Então eu achei assim, que até o final do semestre que eu ‘tava’ lá, nossa, foi diferente. Mas isso é por causa da chegada. Eu acho que a chegada, pra eles, é difícil. Pro professor é difícil. Agora, as crianças... elas acolhem mesmo a gente. Faz cartinha, e faz bilhetinho... Então o acolhimento das crianças é uma graça, é muito grande, eu acho que é muito grande. 99 Aluna E Fui muito bem acolhida, entrei, assim... todos me receberam muito bem...Não tenho o que dizer, assim... Ninguém me olhava com outro olhar que não fosse como professora. Eu sentava com eles... é... lanchava... é... Eles me perguntavam coisas, queriam... ‘Né’? Opinião, até. Me mostravam os... o que eles ‘tavam’ fazendo. Então eu gostei. E pretendo voltar pra lá, ‘né’? [riso] De tão bem recebida que eu fui. Problematizando as falas – construção de categorias Problematizando as falas – construção de categorias - Fui bem recebida; - Fui bem recebida - Dificuldade na construção da parceria Algumas observações: - Tanto os alunos bolsistas como as alunas da Pedagogia que realizaram seus estágios de maneira convencional foram bem recebidas. As exceções ficam com algumas situações vivenciadas pela Ao alunos bolsistas. Em ambos os casos, os alunos relatam que a função do aluno bolsista não está clara na escola. 5. O que você mais aprendeu ao participar do Programa Bolsa Alfabetização? 5. O que você mais aprendeu ao participar do estágio? Aluna A Aluna A O que eu mais aprendi? [...] Aprendi a lidar com certas situações com crianças, dificuldades de, por exemplo... Lá tem uma sala de trinta alunos... é... uns dez têm dificuldade. Então eu tive essa experiência de lidar com essas dificuldades, com alunos com... é... feito o Wesley, que só vai com alguém... empurrando. Então eu aprendi a trabalhar em conjunto com a professora, que ela sempre... a gente sempre... sempre lutou pra discutir: Olha, que ‘que’ isso é bom, que ‘que’ isso não é bom? Então... é... vale a pena trabalhar em conjunto... um conjunto... Então, as atividades foram poucas, ‘né’? Assim, o contato maior meu foi pouco. A atividade que eu mais tive contato durante essa uma hora foi a lúdico. E eu ensinei pra professora a trabalhar de um jeito diferente. Eu dei as minhas idéias, ela aceitou e inseriu com as ‘criança’. Aluna B Aprendi a colocar em prática o que muitas vezes só lia ou ouvia falar, por exemplo nos 100 Outra coisa que eu aprendi é: como a participação de uma coordenadora é importante na atuação de uma sala de aula. E essa coordenadora dessa escola, ela é uma ótima coordenadora, ela... ela participa... é... da vida do aluno, da necessidade que o professor tem... Então eu aprendi muito que se a gente trabalhar em conjunto, as coisas andam bem melhor, e a coordenação é... é... é-é fundamental pra o... pra o bom andamento do... Aluna B O que eu mais aprendi...? Hum, hum. Então, é... É a questão da prática mesmo, como ensinar, como colocar em prática aquilo que eu sei, ‘né’? Como levar as crianças a aprender... Eu acho que tudo isso, ‘né’? A professora tinha um ponto positivo, também, que eu achei: que ela trabalhava com o... o ler e escrever, mas ela... ela não tinha preguiça, ela fazia tudo o que... o que era proposto ali, ela procurava fazer, ‘né’? Então, tinha atividades que, às vezes, ela... davam mais trabalhos, dava pro professor elaborar com antecedência, tudo. Então ela fa... ela fazia. Então esse planejamento, eu acho muito importante. Então isso eu aprendi... Aprender a explorar o material “O ler e escrever”. Aluna C É. Tem as atividades manuais, ‘né’? Dos trabalhos, que os professores pedem pra gente montar pra eles, recortar, e aquela... toda aquela parte. Mas o que eu mais gostei foi quando nós fomos... é... colocar... Ai, como é que a gente fala? Como[?] é[?] que[?] é[?] o[?] nome[?] dela[?], Silvia[?]? Que a criança é[?]... pré-silábica... a professora ensinou a[?] técnica[?]... [00:23:30] Aluna Rosa – Como é que fala? momentos em que observei uma professora planejando uma atividade ou uma aula, e depois eu mesma pude exercitar isso durante o curso ao escrever planos de aula e projetos com minhas colegas de classe. Aluna C Olha, eu... é... por mais... Assim... a... é... Lá é... como... Era uma escola assim: era uma escola com pavilhões, ‘né’? Então, assim, a sala...É, era um pavilhão, não... porque não era uma sala, eles misturaram... eles juntaram três salas, então era um espaço de três salas juntas... Por quê? Porque eles trabalharam... é... baseado no projeto da Escola da Ponte. Então... ahn... o espaço da sala era muito grande. Então, assim, pra mim... o... ficar na sala de aula... a... é... acabava sendo cansativo. E ‘pr’as’ crianças, eu, conversando com as crianças, eles também achavam um pouco cansativo, porque, assim, eram ‘muita’ ‘criança’, eram cem crianças num espaço. Então eram cem crianças conversando, ‘né’? Porque eram os grupos de trabalho... E... apesar de você perceber... é... mui... muitos estudando, muitos refletindo e conversando e muitos batendo papo de outras... ‘Né’? Outras situações, outras... ‘né’? E... Aluna D O que eu mais aprendi ao estagiar...? [...] Foi... essa... essa experiência mesmo de ter vivido ali... vendo o trabalho das professoras. Porque antes eu só tinha essa experiência... é... teoricamente, ‘né’? E aí eu vi... Foi ver na prática mesmo como as coisas acontecem. Aluna E Sondagem. Ela me ensinou a fazer a sondagem, explicou como é que fazia e me pediu pra fazer. Só que depois ela foi ver de novo, ‘né’? Não deixou ‘eu’ fazer, assim... Não deixou: Ah,’cê’ fez, ‘tá’ bom. Porque você é pesquisador, [...] O que eu mais aprendi... Eu acho que foi isso, ‘né’? A perceber a capacidade das crianças, ‘né’? Não subestimar a capacidade deles, que a gente acha que eles não têm a capacidade de... ao... de chegar num ponto que se quer. E têm, e muita. E às vezes até 101 você não... ‘né’? Mas eu achei interessante ela pedir. Porque eu... é... eu aprendi... eu ach... eu... Sabe? Eu aprendi bem, você fazendo, ali, com a criança... A criança estando ali e você fazendo, ‘né’? Eu achei uma atividade interessante. E as provas: eu corrigia os cadernos... Ela pedia pra corrigir pra ela. Então isso tudo... É interessante, porque você ‘tá’ vendo que a criança ‘tá’ fazendo’? Porque você aprende ali, ‘né’? Sobre a criança... É muito interessante. mesmo aquele que você acha que ‘tá’ disperso, que ‘tá’ desatento, e até mesmo esses chegam a esses resultados, ‘né’? Então eu... eu... Assim, realmente, eu aprendi que a gente não pode subestimar as crianças. Não importa a idade. Principalmente os... os menores... Eles têm muita capacidade. Aluna D [...] O que eu mais aprendi foi a questão de olhar o professor, a minha atitude, que eu tenho que mudar muita coisa... E uma postura diferente; uma postura que eu não tenho, eu tenho postura de aluno. Então eu tinha que olhar, assim, o... que postura que eu tenho que me comportar perante os alunos. E isso foi mudando dentro de mim. Então eu fui deixando de fazer coisas, antes, que... ‘era’ ‘impulsionada’ por... Assim, por... por mim mesmo, não por uma atuação. Eu acho que... é... foi esse ponto que eu comecei mudar. Eu falei: Não, eu tenho que agir assim./ Então eu parava pra pensar como agir. Antes, não, antes eu agia meio que por impulso, assim. De uns quatro meses pra cá, eu acho que isso que amadureceu em mim. A intervenção tem que ser pensada? Tem que ser pensada. Eu não posso. Não é qualquer intervenção? [Emite ruído de negativa] Não. Então eu voltava pra casa: Mas eu não deveria ter falado dessa maneira... / ‘Né’? Eu comecei a perceber isso... Que a nossa atuação, ela é... é... ela é uma atuação complexa, tem que ser pensada, ela tem um porquê. Não pode ser, assim, do que eu penso simplesmente. Senso comum. Senso comum, não. É, isso mesmo. Aluna E Então, eu aprendi que... realmente o ‘professor tem que ‘tá’... não pode parar no tempo... Ele tem que realmente pesquisar mesmo, gostar do que faz e sempre ‘tá’ 102 inovando. E principalmente, assim, observar o aluno. Que, tudo bem que nas escolas do Estado isso não acontece 100%, mas... Por que ‘que você acha que não acontece? Porque são muitos alunos, ‘né’? São muitos alunos... Acaba que entrando questões... financeiro, ‘né’? O professor, também, acaba não ganhando bem, então fica um pouco desmotivado. Mas acaba que eles não observam como deveriam, mas o aluno bolsista junto, a gente acaba fazendo um trabalho conjunto que acaba criando esse...olhar Duas olhando é melhor, ‘né’? Problematizando categorias as falas/construções - Aprender a lidar com situações difíceis; - Perceber a importância do papel do coordenador; Problematizando as falas/construção de categorias - Perceber a capacidade das crianças menores. - A colocar em prática o que aprender; - Utilizar o material do Ler e escrever; - Como levar as crianças a aprender; - A pensar a ação do professor e a minha ação; - Perceber a importância da intervenção, pois, o processo de ensino e aprendizagem é complexo; - Perceber a importância da formação continuada; - Importância da pesquisa; - olhar o aluno. Algumas observações: - As respostas mostram que os alunos bolsistas aprenderam conteúdos importantes para a formação docente e que a experiência de estágio, praticamente, não foi um momento de aprendizagem. As alunas que realizaram seus estágios convencionais tiveram poucas oportunidades de relacionar o que estava sendo estudado na universidade com os eventos observados nas salas de aula. Conteúdos importantes – intervenção docente, importância da pesquisa, olhar o aluno – foram citados como aprendizados construídos pelos 103 alunos bolsistas. Isso demonstra como o Programa Bolsa Alfabetização propicia condições adequadas à formação dos alunos do curso de Pedagogia. Para que isso ocorresse, foi necessário que os alunos ocupassem de fato um espaço na sala de aula, que permanecessem um período longo na escola e que participassem efetivamente das atividades realizadas em sala de aula. 6. Questão: Que atividades realizadas no 6. Questão: Que atividades realizadas no Programa Bolsa Alfabetização (1º. estágio você considera que mais Semestre) você considera que mais favoreceram o seu aprendizado de ser favoreceram o seu aprendizado de ser professor? Por quê? professor? Por quê? Aluna A Aluna A É... Por incrível que pareça, foi na contação de história... A maneira como ela conduz... Ela abre a aula com a ‘contação’ de histórias e dali ela tira a aula dela todinha. Foi um conto, ‘né’? Um conto dos irmãos ‘Grimms’. E eles sabem. Ela falou: Eu nunca vi eles responderem desse jeito. Mas do jeito que eu... que eu comecei a contar, aí ela começou a participar. Porque elas... elas... é... ficam muito mecâ... Pra mim, ficam muito ‘mecanizada’, elas ‘esquece’ que ‘tá’ lidando com crianças. Então elas é... é como se elas vestissem uma carapuça. Se trancam. E não pode, elas têm que se soltar mais. Tem materiais muito acessíveis e fácil de fazer, ‘pa’ poder trabalhar com as... com as ‘criança’. O avental de histórias. Você trabalha o lúdico, você trabalha peças, cores. Tem ‘ter’... inter... ‘interdisciplinariedade’. E as professoras não se utilizam disso. Elas deixam um pouco a desejar. Elas... Só fica ali: Eu tenho que cumprir, eu tenho que dar. E ela viu que ela cumpriu o cronograma e elas melhoraram muito na... na escola, na avaliação. Contei várias vezes... é... ela me deu oportunidade pra isso também. Então eu acho que aprendi muito... A-aprendi muito, também, nas atividades da educação física. Que a professora da educação física trabalhava muito com... tudo que ela fazia tinha um... um fundamento pra se tirar dali. Então, se ela traba... Que nem, ela trabalhou uma coisa que eu não vou esquecer, uma aula que ela deu de fubeca, brincar de fubeca, ‘né’? Aí, eles aprenderam a contar, somar com as bolinhas de gude... A socialização entre eles, ela ensinou. Ensinou eles a... primeiro, segundo terceiro, quarto, quinto; depois, a somar a quantidade de pontos, quantos que o grupo teve, cada um, e foi uma aula de matemática brincando. Foi muito legal. Essa eu não vou esquecer, não. A Simone. Aluna B Acho que fantoche, assim... Essas coisas...? Porque daí eu acho que o fantoche... É assim, ela... ela leva bastante coisa... Ela leva muita coisa lá, pra chamar bastante atenção deles. Coisas ‘diferente’, porque eles ‘tão’ cansado da mesmice. Eu acho isso muito importante em sala de aula, porque não dá pra você ficar na mesma coisa todo dia. Então, assim, por exemplo, hoje...Ela vai criando. É, ela é excepcional. Mas ela leva bastante coisa diferente pra chamar a Aluna B Não participei. Apenas observei as atividades realizadas. Aluna C É... o... Alguns professores, assim... é... ‘tavam’... Eles não... não me pediam pra fazer muita coisa. ‘Né’? Tanto que eu falei assim: Ah, eu queria ficar observando, ‘né’? / E tal. Mas eu... Só alguns, que eles... Duas professoras, assim, que falaram: Ai, passa pelas mesas e vê se eles ‘tão’ conseguindo fazer, se eles ‘tão’... / Eles ‘tavam’ recortando e fazendo um livrinho, que era um livrinho da 104 atenção deles no dia. Ontem ela levou um fantoche com sucata, e eles contaram... é... ela escolheu cinco crianças pra ‘consuir’... construir a história juntos. Eles ficaram separados, construíram a história e depois apresentaram pras crianças. E as crianças ficaram muito felizes. Os que fizeram ficaram muito felizes e os que não fizeram, os que ouviram, ‘queria’ contar também a história pra aqueles que ‘queria’ ouvir. Então eu acho isso muito importante. Hoje ela levou um... um dedoche, e outras cinco crianças fizeram. Então eu acho isso muito importante, a criatividade em sala de aula é uma coisa que eu aprendi lá... É um trabalho em grupo a criatividade..De várias, de várias... A gente já fez o projeto que, até eu apresentei aqui pra Educação Infantil, depois ele foi pra lá, que foi sobre a importância do cocô. Então, a gente levou... Por que fazemos cocô, como que é... O xixi, o pum Toda a semana eu faço alguma coisinha com ela. Ela sempre me pede ajuda. Eu... eu trabalho junto com ela, em cada trabalho. Aluno C Sempre a leitura. Em primeiro plano. Valorizar muito a leitura e partir dessa leitura utilizando outras atividades que são frutos daquela leitura. In... introduzindo sempre, em cada momento, diferentes situações, diferentes de... ‘Né’? Os... os gêneros discursivos. Então eu não imaginava que isso a gente poderia... abranger, pra várias outras situações. E valorizar muito isso. Então a leitura, eu acho que foi tão marcante que depois, eu já via, agora no final, as crianças fazendo já toda[?] situação[?] de[?] leitores. Como elas conseguem ser autônomas no... no 1º Ano. Como a professora consegue, ‘né’? Garantir aquilo.. Criar esse comportamento. Depois, elas pegarem muito gosto pela leitura. Valorizaram a leitura. Ter, assim, o interesse de: Ah, eu quero levar livros. Aquela preocupação: Ah, mas hoje não pode levar... O... o princípio de tudo eu achei que foi a leitura, sim, e as situações de contextualizar essa leitura, trabalhar em cima de... de criar, criar um livro, que eu achei que foi fundamental. ‘Né’? Os Aquarela, ‘né’? É... daquela música, da Aquarela, do Toquinho. E tinha uns desenhos – que eles tinham que fazer os desenhos, pintar os desenhos e escre... e colar as frases. Um... Eles ti... eles ‘tavam’ fazendo dois livrinhos da mesma coisa: um, eram os desenhos da professora, com as colagens das frases, e outro era... ‘era’ eles que tinham que escrever e desenhar. E... aí a... o... Duas, que eram as professoras que ‘tavam’ fazendo a mesma coisa me pediram pra ir passando pelas mesas, vendo se eles ‘tavam’ conseguindo fazer, e tal. E aí eu fui passando pelas mesas e as crianças... Eu perguntava, eu falei: Nossa, ‘cês’ ‘tão’ conseguindo fazer?/ ‘Né’?/ ‘Cês’ ‘tão’ fazendo...? O que ‘que’ ‘cês’ ‘tão’ fazendo?, eu perguntava. / Aí, alguns deles falavam: Ai, eu não sei. A professora passou tudo aquilo ali na lousa e a gente tem que copiar. / Aí, eu: Mas você não sabe o que ‘que’ você ‘tá’ escrevendo? / Não! Ah, eu acho que é um livro./ Mas ele não sabia o que ele ‘tava’ fazendo. Já outras crianças, sim. Não... / Aí, chamavam atenção desse que me falou. Ele falou: É o... a música, você não ouviu a música? / E eu acho que ele tinha faltado. Então, assim, alguns muito perdidos, ‘né’? Por conta, até, das professoras... Porque, assim, eram três professoras... Como eram três salas, ficavam as três professoras na sala. Mas as três professoras, às vezes, não davam conta, ‘né’? De todas aquelas crianças. Então por mais que ‘juntou’ as salas, ‘juntou’ os professores, às vezes dava pra perceber isso. Mas eu fui mais, assim... é... Eu-eu observei muito mais do que... do que o que eu... Aluna D Ah, foi ajudar alguns alunos em dificuldades individuais que eles tinham...No que, por exemplo?É-é... na parte de-de... Ahn... Eu peguei... Eu não lembro a série agora. Acho que foi a 3ª Série. Mas, assim, na parte ortográfica, eu ajudava... é... a tentar fazer ele refletir se era s, se era z, porque tem uma... uma regrinha que é utilizada, tal. Então... Na parte de matemática, ajudar eles a solucionar o problema sem dar resposta. Ahn... Nas outras... Foi mais português e matemática porque o horário que eu ia era... era isso que a professora dava. E a professora pediu pra você...? Ah, ela... Ela deixou ajudá-la. 105 textos... os pequenos textos... A gente começou partindo, depois, pra outras coisas... Usamos também dobraduras. Deu pra incluir várias situações. E os livros, ‘né’? Foram, assim... ficaram... iam ser expostos, não deu tempo. E... e... Sempre a leitura. Em primeiro plano. Valorizar muito a leitura e partir dessa leitura utilizando outras atividades que são frutos daquela leitura. In... introduzindo sempre, em cada momento, diferentes situações, diferentes de... ‘Né’? Os... os gêneros discursivos. Então eu não imaginava que isso a gente poderia... ‘se’ abranger, pra várias outras situações. E valorizar muito isso. Então a leitura, eu acho que foi tão marcante que depois, eu já via, agora no final, as crianças fazendo já toda[?] situação[?] de[?] leitores. Como elas conseguem ser autônomas no... no 1º Ano. Como a professora consegue, ‘né’? Garantir aquilo... Aluna E Então... é... atividade, atividade mesmo, assim, eu não participei. É... Mas eu... eu-eu achei, assim, muito interessante a forma como a professora trabalhava com os alunos... é... atividades em grupos ou em duplas. E teve uma atividade em grupo que eu participei, assim... é... observando. Então a professora pediu: Olha, se ‘cê’ quiser ajudálos de alguma forma, como desenvolver atividade em grupo, tirar alguma dúvida, fica à vontade. E... e o que eu achei, assim, que eu fiquei... e era cálculo... era exercício de matemática, soluções de... problema, ‘né’? E eles... é... tinham... métodos, estratégias muito interessantes, que eu fiquei admirada... Criar esse comportamento, vai... Criar esse comportamento. Depois, elas pegarem muito gosto pela leitura. Valorizarem a leitura. Ter, assim, o interesse de: Ah, eu quero levar livros. Aquela preocupação: Ah, mas hoje não pode levar... O... o princípio de tudo eu achei que foi a leitura, sim, e as situações de contextualizar essa leitura, trabalhar em cima de... de criar, criar um livro, que eu achei que foi fundamental. ‘Né’? Os textos... os pequenos textos... Então você participou junto? Participei. Participei. Você fez junto com a professora? Tudo. Inclusive a capa, contra-capa... A gente começou partindo, depois, pra outras coisas... Usamos também dobraduras. Deu pra incluir várias situações. E os livros, ‘né’? Foram, assim... ficaram... iam ser expostos, não deu tempo. Trabalho junto com ela, ela sempre chega... Numa sexta feira, ela fala: E aí, o que a gente pode fazer na semana que vem? A professora me dá liberdade, uma vez por semana, d’eu apresentar alguma coisa. Ou apresentar uma peça ou trazer um vídeo pra eles, ou uma música... 106 Aluna D Eu participava de todas. Então, assim, essa última professora, ela dava o espaço pro aluno... pesquisar junto com ela, um tema... ‘Vamo’ supor... Ela gostava muito de ‘tá’ falando da Co... da... da atualidade, então na Copa do Mundo, por exemplo, ela pediu pra eles ‘tarem’ pesquisando a respeito da Copa, entendeu? Eu achei que foi legal isso, porque o que eles traziam era exatamente o que eles... Aí eles discutiam o que ela passava na lousa. Entendeu? Em momento nenhum eu vi a professora no “ba”, “be”, “bi”, “bo”, “bu”; “ca”, ‘que’, ‘qui’, “co”, “cu”. De forma alguma, então dos... A... Essa turma ‘era’ poucos alunos: dos 22 alunos, dois saíram sem aprender... Aluna E Contar histórias, passar exercícios, acompanhar alguns alunos com dificuldades... Ela permitia que eu participasse. Problematizando as falas/construção de categorias - contação de histórias; Problematizando as falas/construção de categorias - Contação de histórias; - Atender os alunos; - Realização de um projeto; - Passar exercícios. Algumas observações: - Comparativamente, podemos constatar que os alunos bolsistas participaram de algumas atividades que ocorreram em sala de aula. Isso demonstra que elas ocupam de fato um espaço na sala de aula. Penso que o trabalho partilhado/colaborativo possibilita aos envolvidos no processo – professor regente, AP e aluno do Ensino Fundamental - olhares diferenciados sobre as práticas que estão sendo produzidas, tornando o processo mais consistente para todos os participantes. Como vimos, o mesmo não ocorreu com as alunas que realizaram seus estágios convencionais. Parece-me que por não ocuparem de fato um espaço na sala de aula, as alunas estagiárias ficam apenas observando o que está acontecendo. Como sabemos, para aprendemos determinados conteúdos exige ações práticas, contextualizadas. 107 7. Como você define ensino? Alunos bolsistas Aluna A Ah, é através, assim, do incentivo do professor, é... de quando ela ‘tá’, assim... A criança, ela ‘tá’ começando a produzir e o professor fala assim: Nossa, que bom! Olha tá muito bom, vamos continuar... Aí vai... conforme vai indo... Então, assim, eu acho que isso é muito importante, quando você incentiva o aluno. Mesmo que ele só escreveu lá “a-e-i-o-u”, e pra ele lá ‘tá’ escrito assim: Parabéns! Então, assim, ele nem sabe ler, mas, assim, só de ‘tá’ incentivando ele a escrever pouquinhas letrinhas... E não falar assim: Ai, olha o que ‘cê’ escreveu? Não sabe escrever... Então, assim, acho que acaba estragando um pouco aquele... É. Então, assim, eles aprendem – eu acho que – mais através da conversa, que tem, assim... diálogo...Tem o diálogo... Então, assim, lá na escola eu vejo muito isso, que, assim, tem sempre... sempre tem alguém dialogando com as crianças. Falar assim: Olha, ‘vamo’ combinar isso, ‘vamo’ fazer isso... E assim, o mais, assim... Que nem, esse ano foi o primeiro ano que teve um PC na sala. E, assim, ele é cadeirante, assim... Então, assim, todo mundo ficou meio que assim: Ah, mas como que vai trabalhar com ele? Ai, ‘não sei o quê’... Então, assim, ele fazia as atividades de sala, lógico, com auxílio, porque ele não tem a coordenação motora, mas ele fala... Então, assim, achei bem interessante, porque às vezes ele pedia ajuda pros amiguinhos que ‘tavam’ à volta dele... os amigos se propu... Então, assim, achei bem interessante porque, assim... Às vezes ‘cê’ falava assim: Ah, pega isso pro Cauê. / Aí, eles falavam assim: Ai, de novo tem que ajudar ele... Não... / Mas, assim... Aí, dum tempo pra cá, a iniciativa foi das crianças: Ah, ‘prô’, eu posso levar a cadeira dele, empurrar?’Prô’, eu posso pegar o material dele pra ajudar ele? Então, assim, eu achei bem bonitinho... Todos colaboram. Aluna B Brincando. Brincando, discutindo, dando oportunidade pra que elas falem. O momento da história... Uma coisa que eu aprendi é isso. Quando ela contava história, ela dava uma abertura pro aluno colocar aquilo que 7. Como você define ensino? Alunos – estágio convencional Aluna A Então, a criança aprende através de cópias, através de... é... como que eu vou dizer? Você é um espelho. Se você é um espelho que reflete coisas boas, ela vai aprender, ela vai ter o conhecimento. Agora, se você é uma pessoa que só x... só fala, só fala, ela não vai guardar muita coisa, ela vai ficar... é... Divagando. Então eu acho que falta um pouco... um pouco mais... pra todos os profissionais, um pouco mais de... querer brincar, querer ser um pouco criança. Ter a visão da criança. É como se você tivesse no lugar dela: como você acharia que estaria aquela aula? Então eu me ponho... o trabalhar com criança, com menores, eu me ponho no lugar deles. Então... e a... eu sei que, às vezes, a gente é bruta, a gente é meio seco porque se esquece, se fecha. E a gente não pode fazer assim. E eu escolhi a área da Educação, porque eu acho que eu posso mudar um pouquinho. Aluna B Eu acho que a criança aprende... muito sozinha, em muito... ‘Né’? Em muitos momentos, assim... A gente dá... eu acredito que o professor, a escola, o mundo dá, assim, é... as ferramentas, entendeu? Mas quem faz o... o acontecer, o produto, ‘né’? Assim, final, que seria o conhecimento, ela chega nisso muito sozinha. Eu comecei a perceber isso... é... na Educação Infantil, ‘né’? Assim, que a gente dá os primeiros passos, assim, mas na... no Ensino Fundamental, muita... muitas das coisas, da vivência deles externa à escola, ‘né’? E... e a conversa com os amigos, muitas vezes, chega a-a-a... a gerar esse conhecimento com muito mais... é... facilidade do que... por... através de um professor. Então, às vezes, assim, eu percebo que o professor... é... ele-ele falta lá... até mesmo na... nessa escola, aí nos... nos momentos de-de observação, que ele não percebe, assim, o... quantas ferramentas ele pode dar pra que isso seja possível. Então eu acho que se a criança tem o... no que 108 ele sabia, e, em cima daquilo que ele sabia, ela trabalhava o aluno. O caderno não tinha muita coisa escrita, mas a... a conversa d... durante a aula era fundamental. Então ela deixava eles bem... é... assim... Eles tinham liberdade pra falar, davam liberdade pra professora, também, explicar, e... tinham... é... tinham um respeito mútuo entre a professora e o aluno... Então eu acho que eles... Se eu comparar com as duas outras classes de 2º Ano que têm lá – que elas são tradicionais – os alunos da Sandra são muito mais criativos que os alunos dos outros 2º Anos, que é a... é o tradicional: as professoras ensinam o ba, be, bi... E ela, não; ela é bem... Usou o Ler e Escrever do início ao fim, o projeto. Então eu acho... Apesar de nem todos estarem alfabéticos como as duas outras salas, mas a criatividade deles e o conhecimento deles... [é] muito maior do que dos dois. Isso é o que eu... que eu vi. Então... e até comentei isso com ela hoje de manhã, que eu falei com ela. A gente foi lá e eu falei: Olha, eu acho que eles têm, assim, ‘niciativa’. Nós fizemos um livrinho, no projeto cultural, dos animais, ‘né’? Aí, uns que já tinham terminado o projeto, já tinham feito o livrinho, tudo, começaram a eles ‘mesmo’ ‘escrever’ um livrinho deles de história e colocando a professora como uma fada. Então eles escreveram... sobrou o material do livrinho, e quatro ou cinco, que são os mais desesperados[?], começaram a escrever uma história usando a professora como uma fada. Então, o tempo que eles ficaram... e deles ‘mesmo’, por si só, começaram a criar... Isso. Sem depender da professora: Não, agora faz... Não, ‘né’? É isso que eu achei interessante. E eu aprendi isso lá, ‘né’? E eu falei que eu quero seguir a linha dela, porque é muito... Acho que o trabalho dela é excelente. Ela é criativa, ela não é... Tudo que ela... Até, assim, teve um mês de política que eles distribuíam aqueles folhetinhos de... Até isso, ela... quando pegava, ela fazia eles lerem, explicava o que ‘que’ é política, porque que é importante votar. Então todas as aulas dela não ‘tinha’, assim... Quando ela faltava e vai a substituta: Não, agora... Aquela sequência: não tinha. Ela não-não... não faz isso. Então, dali sai um momento de eleição? Então foi um momento de... falar... E, assim, ela comentava: por que ‘que’ é importante votar? O que ‘que’ é...? Até os livros (nossa, eu aprendi muito com ela!) que vêm pra leitura, quando ela lia, depois que ela lia, ela mexer, no que fazer, ela consegue estruturar esse pensamento, consegue chegar nessas conclusões. E a... a ideia, pra mim, da escola é isso: que dá as possibilidades, mas não resolver pelo aluno, entendeu? Então eu acho que ela consegue aprender se ela tiver com que lidar com... as ferramentas que ela construir, se não ela não consegue, ‘né’? É, não que ela fique sem aprender, mas isso, assim, vai ser muito mais difícil, ‘né’? Assim. Imagina se você ‘fazer’ o bolo e faltar os ingredientes, entendeu? Se você não tem os ingredientes, então ‘cê’ não vai conseguir mexer pra chegar no lugar. Pra chegar no bolo, entendeu? Então se a escola não te dá esses ingredientes, eu acredito que a criança vai ter muito mais dificuldade pra ela... Pra ela aprender. Mas ela... Eu acredito que a... a mistura quem faz é ela, entendeu? Quem é que... que junta o “b” com “a” e faz o “ba” é ela, entendeu? ‘Cê’ faz... ‘cê’ vai falar das coisas, mas quem junta isso é ela mesma, é o próprio ser humano. Acho que é só. Aluna C Na minha visão, a criança aprende com muito estímulo... Ah... Muita insistência, também. Porque, às vezes, tem criança que já quer desistir... E você tem que estimular ela e insistir bastante, acreditar nela, que ela pode. Fazer com que ela acredite nisso, pra que ela possa criar uma confiança nela mesma pra ela poder aprender. Eu acho que isso é primordial pra que a criança aprenda, na minha visão. Aluna D Pois é. Então, é isso que eu penso, ‘né’? Eu acho que cada um tem o seu... O seu tempo, e cada um compra um... um caminho. A gente... Vai se trabalhando, mas você vai convivendo com a turma e você vai conhecendo cada aluno, cada criança, cada capacidade, cada... é... cada pessoa, ‘né’? E quanto ela pode alcançar, o quanto ela pode chegar. E aí você vai ‘tá’ fazendo trabalhos diversificados pra que ele chegue no resultado... no final de um ciclo... na... no objetivo principal. Então eu acho 109 passava pra cada um ler, depois da leitura. E ela dizia: Isso aqui é um... é um... é um material público, você tem que ter cuidado. Você sabe que ‘que’ é um material público? ‘Cê’ sabe o que ‘que’ é cidadania? Tudo isso ela dava noções pras crianças, então... Era uma sala danada, mas... é... a gente saia... a... tinha dia que tocava o celular, a gente ‘tava’ com eles ainda, entendeu? Não era uma coisa... aquela coisa chata. Não. Pra mim foi muito bom. Aluna C Interagindo com o meio. Tem que ter diálogo, tem que ter comunicação. Como algo complexo, porém necessário e prazeroso quando há dedicação, planejamento, pesquisas e estudos. Aluno D Hum, hum. Eu vejo, é... é... assim... Eu acho que proporcionando pra ela várias formas ... d’ela entender, por exemplo, o... o conteúdo, ‘né’? Usando de... é... formas criativas, com aulas criativas. Mudando a linguagem, porque nem todos aprendem daquele mesma forma. Acho que chegando mais próximo daquele aluno, ‘né’? Cada um tem uma dificuldade . diferente em algum... ‘Né’? Algum aspecto, ‘né’? Então eu acho que, tendo esse acompanhamento mais próximo, sabendo que cada um... com a carência de cada um, fica mais fácil do professor ajudar, ‘né’? E falar naquela linguagem que a criança vai... vai entender. É o diálogo. Eu acho que isso é muito importante. Eu via um aluno, lá, que tinha muita dificuldade de aprender, e a professora ficava com... com raiva, às vezes, dele, ‘né’? E ele tinha um certo comportamento mesmo, assim, um pouco distante mesmo, ‘né’? Um pouco difícil, ‘né’? Mas ele... Ele tinha algumas dificuldades de aprendizado, mas precisava de alguém que chegasse mais perto dele e conversasse com ele, ‘né’? Explicasse melhor as coisas. Então, algumas vezes que eu tentei com ele, eu vi que ele evoluiu mais. Quando ela também sentava junto com ele, ‘né’? Então isso que eu percebi. que a criança aprende ou pela rotina ou por... é... uma sequência de atividades... da mesma, ‘né’? Atividade, vamos dizer assim. É... Como que eu posso explicar? Seria uma coisa constante, até que ela assimile, ‘né’? Então eu achei, assim... É... cada um é um. ‘Né’? Como diz: Cada caso é um caso. Então, assim, têm crianças que têm mais facilidades, desenvolvem melhor... Individual. E, às vezes, também, até, assim... é... o estímulo que ela recebe não só na escola, mas se ela tem o estímulo em casa, o interesse familiar, eu acho que também que tem a ver se-se... Se a criança tem uma-uma estrutura familiar onde a família tem um interesse em saber o que ‘tá’ acontecendo com ela, o que ela ‘tá’ aprendendo, se ela ‘tá’ tendo dificuldade – eu acho que isso tudo também ajuda no aprendizado da criança. E aí... acho que aí ela vai aprender com mais facilidade a assimilar melhor. E se perceber que ela tem dificuldade, então procurar meios de ajudála... a resolver. Então eu acho que cada um é um e cada um aprende de acordo com o seu tempo. O tempo dele mesmo, ‘né’? De aprendizagem. Acho que não tem um... um método específico d’a criança aprender. Ou ela aprende com o colega... Que, às vezes, a... o colega sabe mais e ele vai, mesmo que copiando, ele aprende, ‘né’? Porque vê que o colega faz... Ah, não... Eu aprendo, também vou fazer, ‘né’? / Que[?] nem[?] patrão[?]. E eu acho tudo isso, assim... É um... uma junção de coisas, acho que não tem um... um método, ‘né’? Da criança aprender. Ela vai aos poucos, no seu tempo... Eu percebo, na Educação Infantil, principalmente, crianças que começam fazendo círculos... e no final ele... a... já ‘tá’ fazendo desenhos. ‘Né’? Ou então rabiscos, como eles mesmos ‘fala’: Ah, ‘tô’... ‘Tô’ fazendo rabisco. De repente, ele já ‘tá’ fazendo desenho, ‘tá’ escrevendo o nome. Então, assim... E eles têm... Realmente é o tempo, cada um tem o seu tempo mesmo. Não... não tem fórmula específica. 110 Aluno E Olha, eu acho que ensino... é... não é uma... um professor ensinando. Eu acho que é um conjunto. Não é? É um conjunto... É um... Não é um... não é um conjunto que a gente fala, não, é uma... Ai, como é que eu posso dizer? É o professor e o aluno. Não tem o professor que ensina, não é isso. Pra mim não é isso, o ensino não é isso: Eu estou aqui ensinando. Não, eu acho que é uma partilha: eu ensino, eu aprendo, o aluno aprende e ensina o professor. Eu acho que o ensino é isso. Se um respeitar... o professor respeitar o aluno, o aluno conseguir chegar próximo ao professor... ‘né’? Conseguir... Como a Silvia falou: haver um encontro ao ensino, senão, não tem... fica muito difícil. Eu acho importan... O ensino, pra mim, é importantíssimo. O professor estar junto, o aluno, a família. O ensino, pra mim, é isso... Aluna E Ah, uma pessoa... Tem que ensinar... Deixame ver. Ah, a pessoa tem que saber sobre a matéria, ‘né’? Tem que ter interesse e saber ensinar também, por que... É, tem que saber a matéria, saber ensinar e ter vontade. E o... Ah, o que é Ensino, pô? É... é a base, ‘né’? É tudo. Não dá pra definir. Ensino é... é... a base ‘mesmo’ da...sociedade, ‘né’? Quando a gente não tinha ensino, não... Sei lá, não tinha sociedade, não tinha regra, não tinha nada. É esse conjunto? Esse conjunto. Porque um só: Só eu estou aqui... Ah, eu sou o professor: eu entro na sala, eu que vou dar a aula; eu que faço. Não... Eu acho que não... não tem uma... não tem uma... não... não tem um resultado eficaz, ‘né’? A criança aprende... se colocando à disposição. Num primeiro momento, assim. De querer aquilo. Porque a gente, na sala, teve algumas crianças que não ‘tavam’ querendo aprender, e ela acabava aprendendo o... também, igual às outras, mas num ritmo mais devagar. Então o interesse dela... Como despertar esse interesse... Isso... Eu acho que é um... uma questão pra gente pensar. Era isso que eu pensava, eu falava: Essa professora faz com que eles tenham interesse. Como que ela prende a atenção deles, ‘né’? / E ela fazia sempre isso, ela dava muito espaço pra o faz de conta, a imaginação. Ela ia envolvendo eles de uma forma, assim, alegre, sempre descontraída, fazendo com que eles viajassem, assim. Ela conseguia criar esse ambiente. Vai, que nem, tinha umas crianças, agora no final: Ah, eu não acredito em Papai Noel. Aí ela já levava 111 eles ‘pr’uma’ situação, que eles acabavam já acreditando que existia. [risos] [risos] Eu falei: Nossa, é tipo mágica, ‘né’? Assim, coisa de professor que não tira aquele sonho da criança. / E ela falava da importância ‘deles’ aprenderem, por que ‘que’ tinha que aprender. Foi conversado isso; não foi simplesmente começou a fazer as coisas. Ela conversou: Por que ‘que’ você precisa aprender? Por que ‘que’ em casa você não vai ter as mesmas coisas que você tem aqui na escola? / Sempre ela colocava nesse ponto. E as crianças, lá, ‘né’? Por serem, assim... de um... de uma classe, assim... vamos dizer, menos favorecidas, elas, por si, já foram com esse interesse. Elas falavam: Eu não quero puxar carrinho, eu quero sair da favela... / Muitas delas falavam isso. E elas olhavam tudo aquilo... Valorizavam. Aí, a professora... Um papel que ela dava pra criança... Ela falava: Olha, esse papel, ele tem muita coisa importante, e ele custou dinheiro pra chegar até aqui. / Ela valorizava uma folha de caderno, as crianças não rasgavam folhas. Não era simplesmente só falar sobre a matéria, ali, o conteúdo, não, ela falava... questão do mundo pra dentro da sala. Então tudo ela abordava primeiro a vida deles, a situação que eles viviam, como era importante valorizar aquilo que o pai tinha comprado, que foi com muito sacrifício. E isso foi muito bonito. Eu gostei disso, porque ela não foi simplesmente... Ela carrega isso, depois pro 2º, pro 3º, pro 4º, pro 5º, pra todos os anos aí que vêm, ‘né’? Na sequência. É. E um mesmo falava pro outro: Olha, cuidado, você vai estragar... E eles tinham esse pro... Esse... esse compromisso de manter zelo. Então ela foi fazendo isso em todos os lados. Aí ficou cercando, ‘né’? Aquilo fica cercado. E as crianças mesmo acabam criando esse hábito. Eu acho que tudo é a questão do hábito, ‘né’? De como você vai oferecer aquilo pra criança. Você não tem que simplesmente colocar: Ó, ‘tá’ aqui, tem que fazer. Por que tem que fazer? / Eu acho que o princípio é mostrar o porquê: Por que você precisa ler? Por que você precisa saber isso?/ E parece que, não, que não é simplesmente: Ó, façam isso, leiam isso! 112 É diferente. É, eu... E eu acredito que em... tudo isso é... é mostrar o motivo: Por que ‘que’ vocês estão aqui? Por que vocês precisam fazer isso? / E não tinha um momento de... de aluno não... deixar as coisas e não querer fazer: não, eles tinham muito isso. Diferente ‘d’uma’ outra oportunidade que eu já tive em sala, que as crianças já não têm o mesmo interesse, ‘né’? Não no Bolsa, ‘né’? Um... aqui na Prefeitura. Outras experiências. Então, outras experiências, que aí dá pra perceber que essa é diferença. Que dá pra pensar diferente, ‘né’? Dá. E faz diferença? Faz a diferença. Uma conversa... inicial, ela traz toda uma intervenção futura, ‘né’? Não é simplesmente: Eu sou o professor, eu te digo: ‘Faça assim! Problematizando as falas/construção de categorias - Muito importante, quando você incentiva o aluno; - Por meio da conversa, que tem, assim... Diálogo... Tem o diálogo... - Brincando. Brincando, discutindo, dando oportunidade pra que elas falem; - Interagindo com o meio. Tem que ter diálogo, tem que ter comunicação; - É o diálogo. Eu acho que isso é muito importante; - É o professor e o aluno; - Criar situações interessantes que despertem a vontade de aprender; - Você ensina quando mostra o sentido do conhecimento – Por que você está aprendendo isso? - Ensinar exige “ter zelo pelo processo” (Aluna E); Problematizando as falas/construção de categorias - Criança aprende através de cópias; - Eu acho que a criança aprende... Muito sozinha, em muito... ; - Na minha visão, a criança aprende com muito estímulo; - Seria uma coisa constante, até que ela assimile; - Saber a matéria. Algumas observações: Os Alunos bolsistas, praticamente 100%, afirmaram que para ensinar o diálogo – a relação professor aluno – é fundamental. Parece-me que pelo fato de terem ficado mais tempo em sala de aula e de terem acompanhando algumas intervenções, elas conseguem perceber que o aprendizado ocorre quando as crianças têm condições de manifestar o que estão aprendendo. 113 Entrevista – professor regente 1. Questão: Para você, qual a função do aluno bolsista? O que significa ter um aluno bolsista em sua sala de aula? Professor X – Dir. Santo André (Inácia) Y – Centro Sul – Escola André Dreyffus - Elaine Isso, é. É, a Mônica, ela é uma menina muito... uma aluna muito dedicada, e ela auxilia, assim, nas... os alunos, que... aqueles alunos que ‘tá’ mais avançado, ‘né’? Na... alfabetização. E... e... pra que o professor da sala tenha mais tempo pra... pra ajudar aqueles alunos com mais dificuldade? Ee... e ‘tá’ sendo muito importante a presença dela aqui. Bom, é... exatamente, a função do aluno a gente sabe que é dar o apoio pro professor, tal, seguir sempre as orientações que o professor passa e dar um suporte, ‘né’? Ahn... pra mim, se... pelas experiências que eu tive, foram, assim... é... muito boas quando o profissional ‘tá’ aqui com... Realmente disposto a aprender, disposto a participar, esse aluno ‘tá’ realmente dedicado e focado na Educação, e... e sabe o limite, onde ela pode interferir ou não? Então isso, quando acontece assim, flui muito bem, como é o caso da aluna que eu tenho hoje, que é a Elaine. Ela sabe onde vai o limite dela, então ela tem as...iniciativas, muito boas, e sabe quando ela não deve ter iniciativa naquele momento, que ela deve seguir exatamente a minha orientação. Isso funciona muito bem, essa relação que você falou de... é... que é importante o professor ter com o aluno bolsista, que é uma afinidade, que ela conhece o meu jeito... E... a Mônica também, assim... é... é uma menina que tem muita vontade, muito dedicada na sala de aula? Ela é muito, participativa. Z – Escola W Escola Reverendo Salen/ Diadema Santo André (Eliza) A sintonia que eu ‘tava’ falando... É a sintonia. Então isso funciona muito bem, porque Para mim... o aluno bolsista colabora ...ele ajuda no processo de alfabetização. A Eliza tem colaborado muito no processo de alfabetização das crianças. Ela também permite que minha atuação seja mais individual. No começo não foi tranqüilo... Mas agora a parceria está bem tranquila Para mim... é... o aluno, ele é... um contribuinte, ele ajuda? A... na aprendizagem de cada criança. Ele se coloca? Juntamente com cada criança, individualmente e faz, assim, um trabalho individual ajudando o meu trabalho. Devido ao número de crianças que a gente tem na sala de aula, muitas vezes a gente não consegue atender a todos. E esse aluno, ele até auxilia... é... nessa demanda de crianças? Hum, hum. Professora – Uma que ele está aprendendo a... o que é uma escola, o andamento da escola, a sala de aula, o funcionamento, coisas que a gente não tem visão fora da sala de aula, só quando está lá dentro é que a gente consegue perceber o que é. É, porque o que a gente estuda é uma coisa, na prática é totalmente outra, ‘né’? 114 ela já ‘tá’ percebendo... Lógico, é um tempo, ‘né’? De adaptação, mas ela percebe como funciona o meu tipo, o meu estilo de trabalhar, como eu con... é... conduzo as atividades, e ela vai nesse ritmo. Então... e isso é muito bom. E ela dá todo esse apoio... Principalmente esse ano, que é 1º Ano, ‘né’? As outras... os outros anos , que tem diferença. Primeiro Ano, eles são aqueles alunos que querem a sua atenção exclusiva o tempo todo, ‘né’? São crianças de seis anos, que acabaram de completar seis anos, então eles querem sua atenção o tempo todo. E é: Professora, professora, professora! / E vem e agarra, ‘né’? E fica disputando. Então, eles... a... Eu acabo dividindo esse... Esse apoio com a Elaine, ‘né’? Então ela começa a ver as dificuldades que os alunos têm de aprendizagem... é... e como é difícil a gente ligar... lidar, assim, com um certo número de alunos, ‘né’? O dia e o-o... a... as dificuldades que eles têm, ‘né’? Enfim .... ela colabora, é mais um olhar. Então ela... então eles já sabem disso, assim. Mas eles já entenderam, também. Eu já sinalizei o que pode falar com a Elaine, o que pode pedir e o que não pode. Que nem: Pode pedir pra ir ao banheiro pra ela? Não. Ela... não é ela que vai autorizar ir ao banheiro ou não. Então eles já sabem essa diferença, ‘né’? Então eu consegui... é... definir, estipular, assim, os limites... O papel? Os papéis? Eles sabem. 115 Sabem que pode pedir pra ajudar, um não entendeu uma coisa... ‘tô’... ainda vou repetir, eles já ‘tão’... Professora Elaine... ‘Né’? Eu ainda vou repetir novamente a instrução, a orientação, eles já ‘tão’ perguntando. E ela dá esse suporte. Muitas vezes eu dou uma atividade e aí eu falo: Elaine, vai dando uma olhadinha pra mim, vê se ‘tão’ todos, exe... executando, tal, enquanto eu ‘tô’ aqui por... perto do um... ponho a mesa aqui do meu lado e fico com aquele especial, aquele caso bem específico, que tem maior dificuldade mesmo, ‘né’? / Eu já até pedi, às vezes, pra ela, pra acompanhar, porque tem criança que precisa de alguém do lado, ‘né’? Não precisa falar nada, precisa ‘tá’ lá, cutucando: Vai! / ‘Né’? / Vamo lá! Pensa! Então ela também às vezes executa esse papel de ficar com um aluno só. Mas, normalmente, esse com muita dificuldade eu acabo... Ou eu passo pra ela, e direciono: Ó, faz assim, assim, assim, pergunta isso, não fala... ‘Né’? / Então ela... ela entendeu muito bem isso, ‘né’? Que não é pra falar, ‘né’? Legal Eu tive alunas pesquisadoras que tinham um papel mais de mãe do que de professora, ‘né’? Aquela mãe que ajuda o filho a fazer lição de casa 116 mas faz por ele, ‘né’? Então se a... A aluna pesquisadora que me entregava lá: Olha, ele fez bonitinho! / Mas ela falou todas as letras, ela ditou o alfabeto, ‘né’? Então eu tive muito problema assim, que aí você começa achando que o aluno está evoluindo e não está? Então, e isso aconteceu com muita freqüência, ‘né’? E... Então, a importância que eu vejo nesse... nesse projeto do Bolsa Alfabetização é, realmente, quando os profissionais, os estudantes? Os universitários estão realmente focados na Educação? Tem interesse em aprender... Eu deixo o canal aberto pra fazer algumas críticas também, eu falo: Olha, ‘cê’ ‘tá’ aí no fundo da sala, ou... ou no meio da sala, ‘cê’ ‘tá’ me vendo, ‘né’? / Que a gente acaba não se vendo, não se... Não olhando, não fazendo essa análise com frequência, ‘né’? Essa autoanalise a gente, de... faz de tempos em tempos. Então, às vezes, eu falo: Ó... / Às vezes eu ‘tô’ lá: Ai, ‘tô’ gritando muito, ‘né’? ‘Tô’ berrando com os alunos?/ Então: Eu, falei muito alto? Fui muito áspera na bronca? / ‘Né’? Falei: Fala, às vezes, pra mim, ‘né’? Comenta, tal. / Às vezes, aconteceu mesmo. Dou bronca, ela fala: Ai, Denise, quando eu vi ele chegando, ele ‘tava’ meio assim. Eu acho que ele não passou bem à noite. 117 Então ela percebeu isso na fila, então ela vem... Às vezes eu começo dar uma bronquinha – porque eles são danados, ‘né’? –, aí ela já dá um toque, ela falou: Olha, eu acho que ‘tá’ com algum problema, que ela chegou diferente hoje./ Então, às vezes, coisa que não deu tempo d’eu perceber, ela percebeu. Então essa é... é essa sintonia que funciona muito bem com a Elaine, ‘né’? Ela percebe, às vezes, na fila, ‘né’? Antes da entrada ela já ‘tá’ vendo algum que entrou e que conversa com ela, ‘né’?... Só que ele... Olha, deve ‘tá’ alguma coisa estranha, porque ele ‘tá’ todo dia me abraçando, querendo dar a mão, ele não é assim. / Então tem uma criança que aconteceu. Ele não era de abraçar. Ela falou: Olha, ele ‘tá’ toda a hora querendo me abraçar. Aí eu fui lá conversar, a mãe começou a trabalhar e ele ‘tá’ ficando com alguém. Então, assim, a-a... ajuda nisso, porque, como são muitos alunos, a gente vai pegando isso, mas o tempo... a demanda é maior, ‘né’? Claro. Ao passo que se tem duas pessoas...Acompanhando... Pra acompanhar. ...olhando, ver todos esses detalhes que fazem a diferença pros pequenos... Ajuda demais. E uma pessoa com a sensibilidade 118 dela. Problematizando as falas / construindo categorias Problematizando as falas / construindo categorias Problematizando as falas / construindo categorias Problematizando as falas / construindo categorias - Auxilia a professora; -Dá apoio ao professor; - Colabora no trabalho; - Contribui no trabalho realizado; - Auxilia nas atuações individuais. - Auxilia o professor; - Presença importante – faz com que o professor regente faça intervenções mais pontuais; - Ela colabora no processo de ensino e aprendizagem. - Eu conduzo as atividades e ela acompanha o meu ritmo; - Cria condições para atuações específicas; - Cria condições para ações mais individualizadas - Alguns alunos bolsistas fazem intervenções inadequadas. Algumas conclusões: - 100% das respostas mostram que os professores regentes vêm as alunas pesquisadoras como colaboradoras. Para eles, elas criam condições para intervenções mais individuais. Como sabemos, o processo de aprendizagem exige, às vezes, ações mais pontuais, pois, os alunos nem sempre caminham no mesmo ritmo. Logo, a atuação do aluno bolsista foi lembrada pelas professoras regentes com um elemento importante para essa ação. Contudo, para algumas, o aluno bolsista precisa ser acompanhado, pois, intervenções inadequadas feitas por ele comprometem o desenvolvimento da criança. 2. Questão: Qual a importância do projeto Bolsa Alfabetização no trabalho que você desenvolve em sala de aula? Professor X Y Muito importante a... a presença... ahn... da aluna pesquisadora na sala de aula pra que... que assim tenha um-um... um espaço e um tempo, não é? Que ajude, assim, na... preparar o... o repertório, das... as atividades, ‘né’? Em sala de aula. Respondeu anteriormente Z A Eliza tem colabora nas atividades propostas pelo Bolsa. Com esse projeto você consegue atender alunos com dificuldades. W – Escola Reverendo É o que eu disse, ‘né’? Da outra vez, que este ano eu fui abençoada, a minha classe – até eu disse isso na reunião, que era uma classe abençoada por Deus mesmo – foi uma classe tranqüila. E tivemos sim, ‘né’? Umas dificuldades. Mas procuramos sanar, ‘né’? E a Larissa, ela é uma pessoa passiva, assim, tranqüila, ‘né’? E 119 Você falou também... Vou até aproveitar: você’ falou até do trabalho que os alunos fizeram de ‘contação’ de histórias. Ah, sim.Eu achei que foi um trabalho bonito. ‘Cê’ comentou... Então, eles... eles... é... desenvolveram um trabalho, um hábito[?] de... de leitura e também na... até na escrita, mesmo aqueles alunos que têm alguma dificuldade, um ajudando o outro, sabe? Em duplas ou até, assim, coletivo, ‘né’? Então foi muito importante isso aí. Alunos que... que tinham muita dificuldade e de... e deixou de... aquele medo de... trazia até eles na frente, ler, e eles queriam... Então eu tive que até arrumar um... [00:02:55] ...a... na... pôr na rotina o dia certinho pra o dia de leitura deles, a... a leitura. É uma coisa que... que ‘tá’ lá no programa, ‘né’? Que é a leitura...Ler e escrever, isso.É, que é a leitura feita pelo professor..E isso que entrou pra você esse ano foi muito significativo? Foi muito significativo, uma... uma... uma 1ª Série, assim, que eu fiquei encantada, porque eu nunca vi tantos alunos... a classe toda participativa na leitura, e assim foi desenvolvendo eu já tive outras estagiárias que me deram problema...Professora – ...dentro da sala de aula. Que, até, eu tive que chegar na Cláudia, conversar com a Cláudia pra Cláudia conversar com elas da postura delas perante as crianças, ‘né’? Então eu acho assim, pelo fato ‘da’ Larissa já estar mais tempo ela vai aprender muito mais do que quem chega. Então quem chega quer ser legal com as crianças, ‘né’? E, às vezes, assim, acaba se envolvendo muito. Então a... a estagiária acaba sendo a boazinha e a professora a bruxa, a ruim, ‘né’? A professora é chata. E, ah, você é a boazinha. / Então essa é a postura... Mas e... é... graças a Deus esse ano eu não tive esse problema. A Larissa, assim ela se porta mesmo, tem a postura, ela não tem gracejo com as crianças. Assim, sabe ser amorosa, carinhosaMas tem a posturade professora. ‘No entanto’ que quando ela entrou na minha sala, eu ‘apresentei ela’ como professora Larissa, ‘né’? E faço questão também que ela me chame de professora, não de Silvana, porque... é... perde, assim... Eu acho que tem que ter essa 120 a escrita também, ‘né’? E... pra... pra eles poderem avançar mais na leitura e na escrita. E eles tinham que... tinham que ler, mostrar. Então eu tive que marcar mesmo o dia certinho... [riso] Depois... Tão brigando, também, agora: Ah, ‘vamo’ ler, ‘vamo’ ler! ‘Vamo’ ler! É. E a Mônica chegou a comentar, assim. Até quando ela fez um relato reflexivo, ela comentou isso, isso que eu achei bacana, que apareceu no relato dela, ‘né’? A sala muito envolvida com a leitura.Com a leitura. E até o tema da Mônica, de pesquisa, que ela vai prosseguir, é o... é a leitura feita pelo professor.É, é muito importante. postura de professora, assim, na sala. Então na hora que eu me referia a ela, eu falava: Ó, a professora Larissa... Vai lá até a... a professora Larissa. / ‘Né’? / Vai até a professora. Então tem que ter essa postura. Professora – Isso... Eu já tive anos que eu já não tive esse... já tive problemas com isso. Então, assim, eu acho que o estagiário, ele ajuda sim, ‘né’? Mas muitas vezes ele precisa ser orientado da postura dele. Principalmente quem chega ‘na’ escola, ‘né’? Quem ‘tá’ começando.Professora – Tem que ter essa... essa orientação.É, uma definição, aí, de papéis, ‘né’? Professora – É. E eu nunca... e eu nunca me esqueço de um detalhe. Quando eu comecei a dar aula, eu não tinha experiência... Eu nunca tinha dado aula, imagina. Trabalhava de... na caixa registradora de mercado, eu não... não tinha a menor noção, ‘né’? Aí a... Eu sei que eu entrei de estagiária, e a professora já saiu no[?] [trecho ininteligível]... Eu entrei numa semana, na outra semana, a professora já saiu, eu fiquei ‘c’a’ classe: uma loucura. ‘Né’? E eu tinha uma menina que a mãe era psicóloga. E na 121 escolinha, todas as crianças chamavam a gente de tia, e ela não. Ela chamava “professora”. Daí ela falava assim: A minha mãe não quer que eu te chame de tia, porque você não é minha tia, você é minha professora. [Professora – Então é a única que chamava a gente de professora, e as outras crianças, de tia: Tia, tia... E a dona da escolinha fazia com que as... queria que a gente fosse tia, não professora. Então ela falava assim: Não é professora, é tia. / E a menina fazia: Não, minha mãe quer que ‘chama’ de professora. / E eu acho correto, porque a gente não é tia... Na escola...Professora – ‘Né’? Não, eu acho que desde bebê você tem que falar: É a professora.Professora – ‘Né’? Não é a tia. Tia é um outro papel.Professora – E a... até, eu tenho o meu filho, eu sempre falei: A professora, a professora. ‘Né’? / Sempre foi assim. Eu acho que isso... tem que ser isso.Professora – É, mas eu acho que a préescola peca nesse papel, na minha experiência, eu acho.Mas é a escola, não deixa de ser escola... 122 Problematizando / construção de categorias Problematizando / construção de categorias - Prepara o aluno do curso de pedagogia; Dá apoio ao professor; - Provocou mudanças na minha prática: leitura feita pelo professor - Eu conduzo as atividades e ela acompanha o meu ritmo; Problematizando / construção de categorias Problematizando / construção de categorias -Atender alunos com dificuldades. - A postura do professor.; - Cria condições para atuações específicas; - Preparar o aluno da Pedagogia; - Alguns Alunos bolsistas fazem intervenções inadequadas. Algumas conclusões: - 75% das professoras regentes afirmaram que o Programa colabora tanto na formação dos alunos do curso de Pedagogia quanto no trabalho desenvolvido em aula. 3ª. Questão: O que a experiência de receber um aluno bolsista contribuiu para a sua atuação de professora alfabetizadora? Professor X Y ...O primeiro ano que eu recebo. uma aluna pesquisadora. Foi muito importante, que eu vi a importância da presença de uma aluna pesquisador na... nas séries iniciais, ‘né’? Muito importante. E pra mim, também, foi um desafio, que muitas vezes ele... [riso] Então, pra mim... eu falei, a experiência de receber oaluno bolsista foi ótima, porque, assim, eu tenho, sempre... é o meu perfil, ‘né’? De passar, de dividir, compartilhar tudo, ‘né’? Tudo. Então o que eu ‘tô’... se eu ‘tô’ ensinando alguma coisa, ‘tô’ fazendo uma atividade, eu vou lá, se eu puder: Olha, Elaine, eu fiz assim... / Ou com outras estagiárias... é... Alunas pesquisadoras que eu tive: Olha, eu conduzi Z Ele colabora na realização de trabalhos mais individualizados. Com isso, tenho condições de conhecer um pouco mais os meus alunos. W Professora – Sim, ela ajuda, ‘né’? Muito...Ela busca, assim, ‘né’? De que maneira ela pode me ajudar. Então a gente acaba orientando elas de que forma, de que metodologia, ‘né’? O trabalho que é feito com as crianças, em grupo, individualmente... Ela é... Essas intervenções... 123 Eu ficava, às vezes, investigando, assim, refletindo que... Por exemplo, assim: Ai, meu Deus, eu... eu orientei, mas eu não[?] dei au... autonomia. Mas aí, depois, eu falei assim: Nossa, eu tenho que... é... orientar mais, entendeu? Por isso, que eu falo que o hábito pra mim foi uma experiência nova. É, porque... Até porque, essa autonomia ainda não ‘tá’ bem delimitada, ‘né’? É, sim. Eu vejo assim, pelo menos, ‘né’? A gente não ‘tá’... a gente não ‘tá’ muito... ‘Né’? Aqui pode, aqui não pode. Se ele pode fazer, o que ele não pode fazer. Então... Então, pra eles fica difícil... O professor também, da sala, mas não... é... Mas eu dou muita importância, assim, sabe? assim porque a gente vai... Essa atividade é mais direcionada pra fase que eles estão: que eles ‘tão’ silábico, começando a atribuir valor sonoro. Então a gente tem que direcionar atividades pra que eles pensem, que eles reflitam sobre o que eles já conhecem do alfabeto, tal. Então a gente não dá mastigadinho, e tudo o mais. / ‘Né’? Ou então: Não adianta, nesse momento, ficar falando “b”, “a”: “ba”; “b”, “e”: “be”, tal, que já não é o jeito que a gente trabalha, não é o... como eu trabalho, ‘né’? Então eu ‘tô’ sempre, assim, fazendo e... justificando, mostrando como... por que ‘que’ eu conduzi daquela maneira, ‘né’? Ou, às vezes, eu ‘vi ela’ fazendo, também... Eu pedi pra fazer... pra ela fazer uma correção, eu falei: Olha, deixa assim, não precisa corrigir, deixa registra... eu quero que fique registrado nessa atividade como ele compreendeu... como ele foi... o processo da construção que ele teve, ‘né’? / Então, vai, a criança lá, por exemplo, vai lá... escreve uma palavra com “k”: Olha, o “k” é pra escrever nome de pessoa, ‘né’? É o “c”, “a”... / Eu falo: Não, não precisa falar, deixa com “k” que eu prefiro deixar aqui registrado no meu controle que ele ‘tá’ ainda nesse processo, ainda ‘tá’ subindo[?] dessa maneira, é..Professora – Que fase que a criança está, ‘né’? Que hoje ela já até sabe, ‘né’? Ah, ela ‘tá’ com... Ah, essa criança ‘tá’ assim, ‘né’? Essa criança ‘tá’ assim. / Então tem hora que ela trabalha individualmente, tem hora que ela trabalha em grupo, com as crianças. Então ajuda, assim, a gente, até a se certificar daquele estado que a criança está, ‘né’? Porque, às vezes, você acha uma coisa, e tendo uma outra ‘pini’... opinião, você se... é... ou acha... ...é... fica naquilo mesmo ou você pode até pensar, ‘né’? É mesmo, ela ‘tá’... melhorou, ‘né’? Então ela tem essa visão, assim, de ajudar a gente a se certificar do estágio de cada criança.No começo, a gente sentiu dificuldade, assim, de saber qual era o papel delas aqui dentro, até que ponto a gente podia pedir pra elas, ‘né’? Tem até escolas que era, assim... Que, até, eu tenho amigas minhas que falam assim: Não, o estagiário fica lá... E ela falou assim: E não pode fazer nada! ‘Né’? Que ela ‘tá’ lá pra aprender. Mas 124 numa letra só, ‘né’? / Que a gente já ‘tá’ indo pro silábico... que já tem silábico com valor, silábico alfabético e já tem muitos alfabetizados, ‘né’? A sala ‘tá’ muito boa, realmente. Então, eu... assim, eu vou sempre... é... Acompanhando... Acompanhando, ‘né’? Atu... vendo a atuação dela. Então, assim, eu ‘tô’... olho... É aquele negócio, ‘né’? ‘Tá’ com o olho no... no peixe e o olho não sei aonde, ‘né’? É, professor tem olho nas costas, ‘né’? Isso que o pessoal fala. Então ela ‘tá’ lá, às vezes, com um a... com um aluninho que eu ‘tô’ pedindo pra ela acompanhar, eu ‘tô’ aqui na frente conduzindo mas eu to olhando o que ela ‘tá’ fazendo, ‘né’? Teve professoras, colegas que falaram: Ah, o professor... o estagiário na sala é outro aluno./ ‘Né’? / Outro aluno pra atrapalhar. / E... Não é um aluno pra atrapalhar, de maneira nenhuma, mas é um aluno pra você acompanhar também.Teve um ano, o ano retrasado, que eu tive... a primeira aluna pesquisadora foi uma aluna do 6º Semestre, ‘né’? Inclusive, ela tinha dado aulas, já, quando fez o Magistério, há anos atrás. Então ela era uma professora...É..praticament e formada, tinha tido experiência e tudo mais. Então foi... funcionava muito bem. E tinha, aqui elas trabalham muito, viu? [riso]As meninas trabalham muito... Assim, dentro dos limites, sim, ‘né’? A gente não... não pôs a... na... é... É, participam... E no começo eu acho que a nossa dúvida era essa: até que ponto eu posso solicitar ela, ‘né’? E hoje já está claro isso pra gente, ‘né’? E pra elas também. Segunda-feira da reunião, primeira a falar com os pais, sabe, assim? Ai, ‘cê’ viu como ela melhorou? E a... e as crianças... e as crianças gostam muito dela também, ‘né’? E os pais... também, ‘né’? Sabe? Vieram, falaram: Ai, você que é a Larissa?A... a Kailane[?] fala muito ‘d’ocê’... / Não sei quê... / A Alessandra também fala muito ‘d’ocê’ e... / E as crianças se envolvem mesmo. E ele se apega muito a eles, ‘né’ É, os pequenos, é difícil... Trezentos dias aí juntos, ‘né’? É A gente briga, briga o ano todo com eles, pega no pé... Foi o que eu falei ‘pos’ pais, ‘né’? Que o ano todo ‘cê’ fica ali, ‘né’? Dura, ali, com eles. 125 também... ela era um pouco mais velha, então tinha uma maturidade de... de outras coisas. Aí ela saiu, veio uma menina de 18 anos, que acabou de entrar na faculdade...Então acabou de entrar. Que vinha com a mini-blusa, com piercing aparecendo, aquela calça super curta... Então, as crianças achavam o máximo, queriam ver: Ah, posso pegar no piercing? Falei... A primeira semana, eu falei com ela. Eu falei... Olha... / Eu tive que tomar, ‘né’?... Eu tive que falar: Olha... Não... Melhor ‘vim’... / Que ela vai direto pra faculdade, então elas vão toda arrumadinha pra faculdade, tal... [Eu... eu não interferia, eu fui... não fui grossa, mas eu falei...Não, mas nós... Isso, inclusive, ‘tá’ nas normas...‘Tá’ nas normas, é.A escola tem... tem a vestimenta adequada.Se você concorda ou discorda, mas a escola recebe... [Eu falei pra ela assim: Olha, tem que... ‘Cê’ tem que... / Falei: Se você...Mas sei que nós avisamos. Agora, muitas vezes ela... a gente avisa e fica [com a roupa inadequada].É, mas é o... por isso que eu falei, é aquela tese[?] da... da menininha ainda, ‘né’? Dezoito anos, toda... Ainda, eu falei uma vez, ela veio de novo: Ah, mas é que eu vou direto pra faculdade, eu gosto de ir com essas roupas. / Eu falei: Então eu vou trazer Mas chega ‘no’ final, é difícil, ‘cê’ fala: Ai, eu não vou mais ver eles, ‘né’? Eles... / Cresceram,né? Vão mudar... 126 um avental pra ‘mim’ te emprestar, ‘cê’ se importa? / Aí ela veio, também, duas semanas, depois não veio mais, ‘né’? [riso] Então ‘cê’ vê aquela que... a... brincar, brinca..Eu sei que é desgastante, de todo jeito, ‘né’? Tem tanta coisa pra você... pra se preocupar, ‘né’?... Então... É. Então... Ou, então, aquela que fica muito na brincadeira, ‘né’? Com as crianças... Brinca com as crianças. Essa menina era assim, porque ela era muito menino Era o perfil dela.E já tive uma... o extremo oposto, uma senhorinha que foi... o... com quase sessenta anos ‘tava’ fazendo faculdade. E aí ela, assim, é aquele perfil de mãezona, sabe? Morria de dó de... Eu acabava de dar uma bronquinha, ‘né’? Ela ia lá, e fic... pegava, e ficava do lado: Eu vou te ajudar... Assim, sabe?Aí, eu informava[?], eu falei... Olha... É, aquela coisa: Ai, mas ‘cê’ já...? Aí ela era extremamente religiosa... Não, mas ‘cê’ tem razão, pior que, assim, até... a... Quando ‘cê’ falou isso... Tô[?] gravando[?], hein[?]? Que eu lembrei de uma aluna minha que ela tinha o perfil... Então[?] lembro[?]... [00:10:05] Sim, ‘né’? Aí, aque... aquela... Ok: eu, a bruxa, 127 ‘né’? E ela um amor de pessoa, ‘né’?Aí, então... Aí ge... é... Aí gera um conflito aí, porque ela... Eles não queriam nem perguntar pra mim, eles queriam perguntar pra ela, porque ela respondia, ‘né’? É. Aquela que... Na fila, todo mundo queria dar a mão pra ela, e eu ficava... A ruim... A ruim, ‘né’? Então, conversei bastante com ela, mas era muito difícil d’ela mudar nessa altura do campeonato, ‘né’? Mudar uma postura, ‘né’? Mesmo assim, ela também me ajudou, também, de algumas maneiras... Então, eu tinha... eu tinha, assim, que de cada pessoa ver o que ‘que’ ela pode me ajudar, ‘né’? Eu tentava passar, como sempre, o per... o como trabalhar, o a... meu método e tudo mais. E fazia alguns comentários, ‘né’? Algumas críticas reclamando dessas coisas, mas aí eu falei: Ah, nessa altura do campeonato eu tenho que usar o que ela pode me ajudar nesse momento, ‘né’? / Então ela ficava, ‘né’? Com aquelas crianças mais difíceis, que ela, com o carinhozinho dela, ela conti... conseguia segurar o rojão, ‘né’? Então fazia ele ficar quieto, ‘né’? Aqueles... crianças que não param quieto, também. Então tem a... esse problema, ‘né’? 128 E, com relação ao estágio, das experiências que eu tive, assim... de professores que querem sentar no final da sala e fazer anotação, ‘né’? Ai, se precisar, ‘cê’ pode falar que eu ajudo... / Eu falo: Não é uma ajuda, ‘né’?É uma participação, ‘né’? / Eu sempre falo isso: Não é uma ajuda, não é um favor... / Aí: Quer que eu ‘entrego’ a folhi... as-as atividades? / Eu falei: Não, entregar as atividades os alunos entregam, ‘né’? Não precisa você entregar, eu falei. Eles gostam de entregar a folhinha, não sei o quê. / É... Então eu falei... Ou então, chegava: Olha, hoje... essa semana eu vou ter prova, eu posso ficar lá no fundo lendo?Posso ficar estudando? / E eu já deixei várias vezes, porque eu também fiz faculdade, eu também fiz estágio, eu sei que é penoso, ‘né’? Mas isso era com muita freqüência. As experiências que eu tive, elas ‘queria’ ficar lá atrás com o caderninho, assim, sentada.. Eu sempre tive estagiário na minha sala. Porque as colegas, normalmente, não gostam, ‘né’? As professoras, em geral, não gostam. Eu não tenho muita frescura, assim, ‘né’? Eu... eu sempre deixei entrar... Como eu falei, eu ‘tô’ muito aberta, eu... eu exploro muito as coisas... explano também, ‘né’? Coloco bem as coisas, do jeito que eu... que eu 129 gosto, do jeito que eu acho que tem que ser. E faço críticas, reclamo, tudo, ‘né’? Sou ‘mó’ faladeira, assim... de posicionamento mesmo, ‘né’? De conduta e tudo mais. Mas aí se... teve muito... Eu acho, assim, que os estágios foram muito... são muito dessa maneira. Principalmente, por isso que eu ‘tô’ falando: as estudantes trabalham, ‘né’? Então aquele tempinho, ali, que o estudante ficar, ‘né’? Cummprir horário... Vou aproveitar pra fazer minha lição, fazer a resenha, fazer não sei o quê. / E eles fazem isso mesmo, ‘né’?Vêm cansadas, ‘né’? Eu, quando eu fiz estágio, a primeira vez que eu fiz faculdade, também, ‘né’? Pedi pra assinar. Depois eu fui fazer uma complementação, aí o estágio que eu fiz... aí eu não... não... ‘tava’ com tempo disponível, aí eu aproveitei muito, eu trabalhei na escola inteira, assim. Porque, pra mim, era as aulas... ‘Né’? Ia ter grande valia. Eu trabalhei junto: ajudei na secretaria, ajudei na diretoria, porque pra... E aí foi que eu aprendi realmente, ‘né’? Então eu acho que esse trabalho... Se todos os estágios fossem... O aluno bolsista ganhando – assim, dessa maneira, ganhando a bolsa, que seja –, tem um outro... uma outra...Um processo maior, ‘né’?..um outro significado. ‘Né’? Tem um 130 envolvimento maior, uma responsabilidade maior, ‘né’? Não simplesmente fazer um relatório pra entregar, ‘né’? O papel assinado. Então eu acho que... é...O que acaba acontecendo, ‘né’? O que acaba acontecendo. Eu acho que tem que ter um entrosamento maior entre a pessoa da... da... no caso, a Diretoria de Ensino, que recebe, que faz a... a seleção dessas alunas. Porque essas alunas, que... Você, um profissional experiente, tal, você ou alguém da Diretoria de Ensino vai perceber: Essa aluna ‘tá’ aqui porque ‘tá’... ela quer ganhar a bolsa, ela quer ganhar R$ 500,00 e ‘mai’ nada. / ‘Né’? Então, de... de repente, fazer mesmo uma avaliação... como seleção de pessoal, que qualquer empresa faz seleção de pessoal. Só que a gente... aqui[?] é concursado, tudo, ‘né’? Então muita coisa vai passando. Mas fazer uma seleção de quem realmente ‘tá’ com o perfil pra trabalhar, ‘né’? Pra..ter Interesse em participar, em aprender. Porque é muito rico. A Elaine fala muito isso. Ela falou: Nossa, Denise, eu não... Eu falei... às vezes, eu falo: Ai, Elaine, ‘tô’ aprendendo mais com você do que você comigo, porque ela traz muita informação, ‘né’? / Ela falou: Não, você não... / Ela, no final do semestre, 131 ela me mandou uma mensagem que eu chorei, no meu e-mail, assim, falando o quanto ela tinha aprendido, não sei o que, tal. Coisa que você, no dia a dia, você não percebe, ‘né’? Mas que ‘tá’ realmente... ‘Né’? Eu falo: Olha, se... o... eu te ensinar o-o que você não deve fazer, já é bom... [Assim, ‘né’? Mas eu falei... Então essatroca, assim, vale muito a pena, ‘né’? É importante. Dar... conseguir pensar essa parceira, ‘né’?Essa parceria. Então eu acho que tinha que ser lá de cima mesmo, ‘desd’a’ escolha, lá... ‘Né’? De onde...E até na universidade...Na universidade também. O coordenador, ‘né’? Do processo, eu acho que tem...Acho que é uma... uma falha que ‘tá’ muito em cima da gente... Eu falo até... Eu falo da universidade.Ou então ‘cê’ jogar... ou a... ver as escolas. Aquele profissional que acha que qualquer escola... Que tem gente que começa a estudar ou começa a trabalhar e não tem noção de como é a escola, ‘né’? Acha que elas... Ou acha que é uma escola particular, ‘né’? Que funciona como uma escola particular, que já trabalhou algum dia. Aí chega e vê uma realidade daquela loucura da gente [riso], de cabelo tudo em pé, e não sei o quê, fica desesperada, ‘né’? [trecho 132 ininteligível] Nessa outra... outra escola. O professor: Nossa, como você ‘guenta’? Nossa, como você... / Ela ‘tá’ o tempo todo surpresa com aquela situação, com aquela... com aquela realidade que nós vivemos, ‘né’? E fica mesmo. Então eu falei... Eu ‘tô’ meio que preparada pra realidade, ‘né’? Lógico que elas vão aprender na prática. Eu aprendi assim, ‘né’, na raça, ‘né’? Me jogaram lá e pronto... Você tem muita experiência Trabalhar e dar aula foi escolha mesmo. Por... por paixão. Então ‘cê’ se envolve, ‘né’? Pesquisa... e eu pesquiso muito. Então, com relação a 1ºs Anos, vou iniciar a alfabetização, eu pesquiso muito, porque a cada criança que aparece na sua frente com dificuldade.Cada criança é um processo... Então, você fala: nossa, mas deu tudo certo aqui... Então você...Eu acho que um grande desafio, ‘né’? Hoje eu acho que... E cada vez mais, porque a criança hoje é diferente da criança de um... da criança de antigamente, ‘né’?Eu falo: eu tenho filhos pequenos, às vezes eu falo: Ah, deixa eu comparar com a minha filha. / Às vezes eu traço um paralelo. Mas dentro da sala, eu falo: Essa criança empacou aqui, não sai daqui, não há meio. E, até, aquelas crianças... [riso] Que tem as classes do PIC, ‘né’? 133 Que são as crianças que estão entre 3º e 4º Ano, que ainda não conseguiram se alfabetizar... E passaram por duas/boas[?] professoras. E é[?] delicado, porque, muitas vezes, as pessoas acham: Não, é porque tem alguma... Não. Às vezes, não. É uma criança que ‘tava’ lá na escola, que não... uma criança presente, uma criança que tinha uma boa professora, que era uma professora que conseguiu alfabetizar todos, mas aquela meia dúzia não con... ela não deu... ‘Né’? Por quê? ‘Né’? Por que... Então acho que são desafios, hoje, colocados pra escola... Mas eu acho que inclusive nesse aspecto o professor... é... o aluno bolsista com... contribui. Porque, aí, o que acontece? Tem aquela criança que, se você vai do lado... Hoje eu ‘tava’ tendo esse exemplo, ‘né’? Eu trabalhei com eles um ingrediente de sopa, tal. Enfim, aí, eles, lá... a receita... Então, do lado ela colocava lá mandioca, ela escreveu lá: “m”, “i”, “o”, “k”[?]. Aí escreveu outra palavra... qualquer letra. Se você for do lado, e falar: Olha, parabéns! Conseguiu! / E essa dedicaçãozinha especial que você dá alguns minutos... alguns minutos, assim, que a... Que aí a... ‘cê’ pode... que o 134 professor ‘tá’ lá te dando um auxílio pra sala não pegar fogo, pra não se matarem, ‘né’? É. Então, porque, num dia desse se você não tem esse professor... é... você não pode ir lá. Se eu... se eu abaixo, assim, do lado da cadeira da criança pra dar um carinhozinho especial, uma atenção, ali, especial, falar: Olha, você conseguiu, que bonitinho, tal. / Os outros já ‘tão’ lá, te cutucando atrás, e vem... Então existe isso, ‘né’? Então, enquanto eu ‘tô’ fazendo isso, ela já percebe – que nem, no caso... ‘né’? Da Elaine, ela percebe que eu ‘tô’ lá com aquela criança que ela já conhece, que ela já sabe qual é a dificuldade, diferente, tal. Então ela segura o rojão dos outros. Justamente porque ela sabe que aquela criança precisa... E, às vezes, é bem isso, assim, aquela atenção especial que ela... um carinhozinho ali do lado, ‘né’? Aí ‘cê’ faz... a criança faz...Faz a diferença. Então eu tive caso de aluno que... que eu ‘tava’ presa no final do semestre: Não, esses dois aqui não têm... acho que daqui não sai, não é possível que o negócio não anda! / Agora voltou, eu falei: Olha, eu ‘tô’ pegando esses dois. / Então ‘tô’... E eles já ‘tão’ silábico com valor. Hoje eu fiz uma sondagem, e eles ‘tão’ silábico com valor. O João Vitor, aquele tem problema de fala, ‘né’? Já 135 tem problema de ‘fono’. E ‘tá’ com valor, assim. Então eu fico: Não... Tá’ no processo. Tem. Não, tem. Tem o ritmo e tudo mais, ‘né’? Explicar ‘po’... pa... é... passar pra esses alunos bolsistas, pros estagiários essa questão do ritmo, porque eles não entendem, muitas vezes, ‘né’? Eu falo: Como? Tem a... Eles... Eu tive aluno que chegou achando que a sala era tudo igual, ‘né’?É nada. Que bom seria. Eu falei: Não é, a gente precisa ver o ritmo de cada um, que a gente aprende a respeitar e levar, ‘né’? A dimensionar, pegar. / Então esse é o dia a dia. É outro... Só quando. Problematizando/co nstruindo categorias Problematizando / construção de categorias Problematizando / construção de categorias Problematizando / construção de categorias - Perceber a dificuldade de partilhar trabalhos. - Aprender a partilhar atividades com os Alunos bolsistas e alunos estagiários; - Realizar trabalhos individualizados; - Perceber a importância do aluno da pedagogia acompanhar o trabalho que ocorre na sala de aula - Conhecer os alunos. - O AP não é um aluno para atrapalhar, de maneira nenhuma, mas é um aluno para você acompanhar também. (vestimentas, postura, intervenções, etc.); - Algumas conclusões: Todas as professoras regentes demonstraram preocupação em acompanhar tanto o aluno bolsista quanto o estagiário. Como 136 trabalhar de maneira partilhada, ainda, é um desafio para os professores regentes. 4ª. Questão: Você recebe alunos do curso de Pedagogia para a realização de estágio? Fale sobre a atuação dos alunos estagiários do curso de Pedagogia em sua sala de aula. Professor X Y Z W O tempo é diferente, é limitado. Mas... é... não deixo de dar atenção à importância na... à presença desses alunos estagiários na sala de aula, e... Mas é... assim... eu... a permanência é diferente,. O tempo deles é diferente, limitado Ah, eu nunca perguntei pra eles, mas eu acho... Não sei se dificulta pra eles alguma coisa. Às vezes... às vezes eles perguntam, participam, mas o...E você responde......como eu falei... Respondo, eles participam tambémClaro. Mas o tempo, eu acho que.. Interfere Porque pra ela entender aquela atividade, ela vai ter que acompanhar o professor, porque também tem a rotina, tem todo aquele processo, ‘né’? Na... numa sequência, ‘né’? Didática. E aí, pra eles, já fica mais.. Acompanhar o processo.Acompanhar Ver o jeito que ela... Então, assim, eu penso dessa maneira. Eu acho, até, que quando o estagiário é diferente... quando veio esse nome, aluno bolsista, fica muito pertinente, porque ela é um alu... é uma aluna, ‘né’? Uma aluna com vivência, com maturidade, com mais presença. Eu recebo… Eles ficam observando… às vezes colaboram, mas é uma atuação diferente do aluno bolsista. Muitas vezes, ficamos sem saber o que eles estão observando. Não têm a participação, ‘né’?– Só a observação, e não tem nenhuma... assim... .influência na aula não tem... Eles só estão ali, ‘né’? Não têm nenhuma participação, eu acho que... A aluna... é... acaba não percebendo que é mesmo na sala de Uma que o professor, também, quando chega um estagiário, você’ não tem tanta liberdade de... Porque não dá tempo de você conhecer ele, ‘né’?Quando ’ vai começar a ter mais liberdade, acabou o estágio. Então você... Nem acaba criando tantos vínculos como eu tenho com a Larissa, ‘né’? A gente tem um vínculo inclusive de amizade. De liberdade, de chegar, de falar: Ó... ‘Né’? É... Ó, faz assim. Faz... Ó, desse jeito, é melhor. ‘Né’? Tipo, coisa que no... com 137 o processo. Agora, a aluna pesquisadora já acompanha mais o processo. E você vai tendo uma relação também mais próxima,... Mais próxima. Problematizando as falas/construção de categorias um outro... o estagiário a gente já não teria. Problematizando as falas/construção de categorias Problematizando as falas/construção de categorias Problematizando as falas/construção de categorias - O tempo de permanência do aluno estagiário é pouco; Os alunos estagiários ficam observando; - Não participam; - O aluno estagiário não consegue acompanhar processo de ensino e aprendizagem; - Poucos colaboram. - Não conseguem construir vínculos - Apenas observam; Algumas conclusões: - As professoras regentes reconhecem que os alunos do Bolsa Alfabetização ocupam um espaço nas suas salas de aula e que o tempo de permanência em sala de aula colabora para ações mais partilhadas. Contudo, elas lembram que, em alguns momentos, precisam ficar atentas nas intervenções que os alunos bolsistas realizam com os anos que estão sendo alfabetizados, pois, em alguns momentos, são inadequadas. Para elas, é uma tarefa adicional, ou seja, além das intervenções dos alunos que estão sendo alfabetizados, elas precisam acompanhar as intervenções que os alunos bolsistas realizam. 138 Alunos bolsistas Alunos que convencionais - Ver práticas, ver a relação professor aluno e aluno, ver o processo de alfabetização; - Conhecer realizaram seus estágios - A teoria ganha sentido; - Trabalho diferenciado. - Ver a realidade da sala de aula/a teoria; - Contato; - Fazer ligações: teoria e prática; - Ter noção. - Aprender alfabetizar. - Como a criança aprende a ler e a escrever: fase de transição/estalo; - Desejo de continuar na Educação Infantil e não ingressar no Ensino Fundamental por insegurança; - Valorização do curso; - Ouvir o aluno; - Mudou minha visão de educação; - É possível fazer diferente. - Posso ensinar no ensino Fundamental. - Aprender a lidar com situações difíceis; - Perceber menores. a capacidade das crianças - Perceber a importância do papel do coordenador; - A colocar em prática o que aprender; - Utilizar o material do Ler e Escrever; - Como levar as crianças a aprender; - A pensar a ação do professor e a minha ação; - Perceber a importância da intervenção, pois, o processo de ensino e aprendizagem é complexo; - Perceber continuada; a importância da formação - Importância da pesquisa; - olhar o aluno. - Contação de histórias; - Atender os alunos; - Contação de histórias; - Realização de um projeto; - Passar exercícios. - Muito importante, quando você incentiva o aluno; - Criança aprende através de cópias; - Eu acho que a criança aprende... Muito 139 - Por meio da conversa, que tem, assim... Diálogo... Tem o diálogo... - Brincando. Brincando, discutindo, dando oportunidade pra que elas falem; - Interagindo com o meio. Tem que ter diálogo, tem que ter comunicação; sozinha; - Na minha visão, a criança aprende com muito estímulo; - Seria uma coisa constante, até que ela assimile; - Saber a matéria. - É o diálogo. Eu acho que isso é muito importante; - É o professor e o aluno; - Criar situações interessantes que despertem a vontade de aprender; - Você ensina quando mostra o sentido do conhecimento – Por que você está aprendendo isso? - Ensinar exige “ter zelo pelo processo” (Aluna E); Respostas agrupadas 1ª. Questão: Poderia falar a respeito de sua experiência de receber o (os) aluno (os) pesquisadores do Programa Bolsa Alfabetização em sua escola? DIRETOR X – D. Santo DIRETOR Y – Centro DIRETOR Z André (Inácia...) Sul- André Dreyful... DIRETOR W – Reverendo Salen / Santo André “É... eu já trabalhei em três escolas diferentes, então a gente recebe alunos... alunos muito ‘dedicados’, responsáveis, como também acontece de recebermos alunos que não têm muita dedicação, às vezes, mesmo, vem pelo valor da bolsa... Então foi como eu falei... Eles são bem vindos. Mas eu acredito muito mais é no aluno da Bolsa Alfabetização. O estagiário, ele vem... Ele entra na sala mais para observar. Então, assim, a participação dele é pequena, ‘tá’? Ele não tem interferência nenhuma, não tem aquele envolvimento. Com o “Além de ele frequentar a universidade, está “Olha, eu, particularmente, eu gosto bastante do trabalho do aluno bolsista aqui na escola. Eu acho que, às vezes, tem alguns alunos que acabam, como a Maria falou, mesmo, atrapalhando o andamento da escola. Ahn... Eu acho que esse ano tivemos só a ajuda[?] aí[?] da Elaine, que “Esse ano não enfrentamos problemas com aluno bolsista. As meninas são responsáveis e comprometidas. Porém, já recebemos alunas que atrapalharam”. 140 participando da Bolsa Educação na unidade escolar, ainda tem outra atividade de fora, que é o sustento dele e também da própria família tudo isso torna sua jornada mais difícil”. realmente só acrescentou, acho que, o trabalho da Denise, ‘né’? Que é a professora da sala. E algumas vezes, como o ano passado, como também a Maria citou, tivemos algumas que acabaram atrapalhando o andamento e acabaram até saindo da escola, ‘né’? Foram até ‘transferida’ pra outra escola, porque, realmente não... “Eu acho que ele traz o aluno, o estudante para dentro da sala de aula, para que esse aluno, junto com o regente de classe, ele tem a oportunidade de aprender. Então é ali no dia a dia, nos trabalhos que o regente de classe vai fazendo que ela, estando junto, ela vai aprendendo e vai seguindo com a classe. E o que eu tenho notado Falas significativas:Alunos dedicados x alunos não comprometidos; - Alunos bolsistas que colaboram x alunos bolsistas que atrapalham. - Alunos bolsistas que colaboram x alunos bolsistas que atrapalham; O aluno aprende. aluno. É... Eu acho pouco tempo também de estágio, ele dentro da escola. Agora, o aluno alfabetizador, não: ele está ali no dia a dia. Tem toda uma rotina, como a coordenadora comentou. Ele acompanha essa rotina. Ah, essa troca de alunos... Vários tipos de alunos dentro da sala, que ele tem o convívio. Então, assim, ele adquire uma experiência marcante, eu acho... Alunos bolsistas que colaboram x alunos bolsistas que atrapalham. bolsista - Eles são benvindos. Mas o aluno da Bolsa Alfabetização está mais envolvido com escola. O estagiário entra na sala de aula mais para observar 2. Questão: Poderia falar a respeito de sua experiência de receber o (os) aluno (os) estagiário (os) em sua escola? DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W “Hoje, a gente praticamente não está recebendo aluno sem O que eu tenho notado é que a... a aluna pesquisadora que está Eles são bem vindos. Nunca tivemos problemas com eles. A Então foi como eu falei, Eles são bem vindos. Mas eu acredito muito 141 ser do Bolsa Alfabetização... Aluno estagiário... já deu muito problema” “Esse ano nós quase não tivemos nenhum aluno fazendo estágio mesmo...”. aqui na escola, ela tem, assim, um envolvimento muito grande com a professora. Eu estou aqui há pouco tempo, menos de três meses, então já... tenho essa parte a colocar. Que ela... houve, entre ela e a professora regente de classe, eu acho que ali houve um entrosamento muito grande. “Eu acho que ela ajuda muito, que ela acrescenta muito, também. E ela aprende muito também, com certeza. Porque ela é comprometida. Então essa... Eu acho ótimo esse programa. Só que existe só em algumas 1ªs Séries... “Eu acho que a classe tem oportunidade de avançar no conteúdo, porque são duas pessoas ali dentro trabalhando. E algumas séries, que não têm o aluno bolsista, claro que elas ficam em desvantagem. Por quê? Porque a professora terá que trabalhar, correr muito mais para que chegue, também, a um avanço maior. Então o governo precisa rever essa parte. atuação deles é mais de observadores... Às vezes ajudam... Mas é raro. mais é no aluno da Bolsa Alfabetização. O estagiário, ele vem... ele entra na sala mais como observador. ‘Tá’? Então, assim, a participação dele é pequena, ‘tá’? Ele... a... não tem interferência nenhuma, não tem aquele relacionamento, ‘né’? Com o aluno. ‘Tá’? É... Eu acho pouco tempo também de estágio, ele dentro da escola. Agora, o aluno alfabetizador, não: ele ‘tá’ ali no dia a dia, ‘né’? Tem toda uma rotina, como a coordenadora comentou, ‘né’? Ele acompanha essa rotina. Ah, essa troca de alunos? Vários tipos de alunos dentro da sala, que ele tem o convívio. Então, assim, ele adquire uma experiência marcante, eu acho o aluno. E se você compara o aluno bolsista com o estagiário... Então, assim, é um avanço grande. Você lembra quando era estagiária? Sentava no fundo da sal .e fica só observando... O projeto mudou, também, a posição. 142 Obrigatoriamente, você precisa conviver. Então você puxa mais. Quando era estagiário, ‘cê’ ia lá duas vezes por semana... Quando, no muito, você rodava naquela coisa arcaica que é mimeógrafo e que existe na sala de aula... É, então você ajudava assim. Eu, pelo menos... ahn... [d]o que eu já observei, [d]o que eu fiz. Então, assim, você rodava. Muitas vezes o estágio era de participação, e a sua participação era de rodar, ‘né’? As vezes, corrigia caderno? Quando o professor era muito legal. Ele senta num canto da sala, lá no fundo, e fazia as coisas pro professor. Então, o que ‘que’ você aprendia? Não era um auxílio direto com o aluno. Não... Entre o estágio e esse aluno bolsista. Porque o aluno, quando ele chegava a uma escola... ele chega, ‘né’? Para um estágio, muitas vezes ele nem vê[?] direito[?] a sala de aula. Ele fica vigiando... Então ele não se envolve com o trabalho do professor, ele, apenas, a maioria das vezes, ele só observa. A maioria das vezes ele observa só. E aí, acho que não acrescenta muito, como aquele dia a dia: trabalhar junto, ali, nas atividades, e tudo mais. Eu acho que está mudando 143 essa parte. Falas significativas: Falas significativas: Poucos alunos estagiários – Já deram muitos problemas - O aluno estagiário só observa - os estagiários são observadores... pouco atuam - O aluno estagiário só observa 3. Questão: Em que a experiência de receber alunos do Programa Bolsa Alfabetização contribuiu para o trabalho realizado na escola? – DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W Reverendo Salen “Mas é que aqui no Bolsa, como ela está frequentando quase um ano todo, ela ‘tá’ acompanhando o trabalho, faz uma par... Ela tem uma parceria com o professor da classe...” Entre as partes, essa sintonia, como nós temos aqui, eu acho que, é como eu já lhe falei, que as outras classes ficam aquém. Por quê? Porque elas também precisam deste aluno bolsista junto com o regente de classe para dar uma sequência maior nesse trabalho, ‘né’? Para ajudar o aluno – aquele que tem dificuldades e tudo o mais. Agora, é o que eu lhe digo, ‘né’? O aluno bolsista é um colaborador. Ele participa das atividades propostas. Às vezes, fica com pequenos grupos, participa das reuniões... Esse ano, nós tivemos muita sorte a aluna que recebemos está sempre participando... é muito dedicado, mas, não é sempre. Então, ele contribui porque ele a... Ele ajuda. Não é fácil Então, assim, o aluno bolsista ajuda muito o professor. Contribui muito com o trabalho. Principalmente, porque as nossas, aqui em termos, assim, de relacionamento são ótimas. Nós não tivemos outras ‘experiência’ – eu, pelo menos, não tive... Experiências com outras alunas pesquisadoras, mas com elas... Elas aprendem muito com o professor. Aprende muito no dia a dia. Então, assim, eu acho que é uma experiência muito boa, eu acho que é fantástico. “Um acompanhamento, ali... Como a Silvia comentou: realmente está auxiliando seus alunos ali que estão num estágio mais avançado e deixam os alunos que estão num estágio, numa hipótese de aprendizagem um pouco defasada com o professor da classe. Agora, o alunoestagiário, principalmente o estagiário, ele fica como ouvinte, ele é só ouvinte, só. Dificilmente ele tem participação...”. – É do Bolsa contribui... É significativa a contribuição deles, uma vez que você tem aí por volta de trinta a 33 Seria bom se todas as outras profissões passassem pela mesma experiência. O aluno alfabetizador dentro da escola, no convívio dia a dia, tanto com a professora e 144 alunos em cada classe e ‘tá’ com um professor auxiliar... No nosso caso específico, a aluna que nós temos pelo programa é dedicada, responsável, ‘tá’ todos os dias aqui, ‘tá’ sempre com boa vontade, ‘tá’ colaborando... é... com a... com a aprendizagem dos alunos. E assessorando a professora. Ele acompanha, é verdade... É isso aí. - Acompanha o trabalho realizado em sala de aula; - Auxilia os alunos e o professor. ainda remunerado, isso é importante. Veja... o médico recebe para fazer a residência. - O AP ajuda/colabora na superação das dificuldades que alunos apresentam em sala de aula. - 4. Questão: Para você, em que a experiência de receber alunos estagiários (alunos que não participam do programa bolsa alfabetização) contribuiu para o trabalho realizado na escola? DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W Agora, o aluno-estagiário, principalmente o estagiário, ele fica como ouvinte, ele é só ouvinte, só. Dificilmente ele tem participação. E que não acontece com aluno estagiário... Que ele acaba ficando... Ele fica um pouco mais. Ele vem lá fazer pra fazer a observação. Preocupado em fazer os seus relatos... Pois o tempo dele também é menor. Então, o pesquisador... é... o aluno bolsista, ele aprende muito mais, por quê? Está ‘direto’ envolvido naquele trabalho, naquela atividade e tudo mais. O aluno bolsista tem mais condições de “chegar” no aluno. Já o estagiário, ele não tem essa... Ele colabora pouco, fica pouco tempo na escola. É, então, como eu falei: eles são bem vindos, porém eu não acho um trabalho, assim, que compromete, ‘né’? A vida deles, ‘tá’? Eu acho, assim, que eles teriam que se comprometer mais com o trabalho. Ele... Daí ele... Faz só crítica? Não. Ele faz trezentas horas só, o outro ‘tá’ o ano todo, são mil Dentro da escola, eles passam muito pouco tempo e não interagem – nem com a sala, nem com os alunos. Então eu acho que é falho. 145 horas – quer dizer, três vezes mais. Uma coisa é você ficar aí um dia, fazer uma vez por semana o estágio... 5. Questão: Faça um breve relato do como você acolhe (eu) os alunos estagiários em sua escola? DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W – Reverendo Salen São bem acolhidos... Não discriminamos Recebemos e procuramos fazer com que se sintam bem Todos são bem recebidos. Alguns se envolvem outros não. O aluno bolsista vê as dificuldades. Agora o estagiário não consegue ver essas dificuldades dentro da sala. Aquele aluno, Ele tem dificuldades na alfabetização por isso, isso e isso. Já para o estagiário, não dá tempo. Mesmo sendo pouco tempo, ele são bem vindos. 6ª. Questão: O que o aluno do curso de Pedagogia aprende quando faz estágio em sua escola? DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W Pouco aprende... como eu já disse ... Ele fica pouco tempo e sempre observando. Pouquíssimos estagiários conseguiram fazer... ou... se fazer presente, ‘né’? Eles não têm o tempo suficiente para interagir e aprender. Ficam apenas observando. Poucos participam. Não vejo uma relação próxima entre o estagiário e o professor. Aprende pouco... Ele fica mais na observação. Se fazer presente. Pouquíssimos, eu não tenho lembrança... lembrança de nenhum... Poucos deram certo. Ao contrário do aluno bolsista... Por conta de estar envolvido, ‘tá’ presente, ‘tá’ ali no cotidiano. Então você tem casos positivos, como é 146 o... este caso deste ano 7ª. Questão: O que o aluno bolsista aprende quando atua em sua escola? DIRETOR X DIRETOR Y DIRETOR Z DIRETOR W Ele aprende como a escola funciona, como as crianças aprendem, enfim, o significado do trabalho educacional Aprende a dinâmica da sala de aula, como a criança aprende, como o professor poderia intervir... Ele aprende como alfabetizar. Ele aprende com a professora o como ensinar. Enfim, aprende a ser professor. Como eu comentei anteriormente, ele aprende a ensinar. Como se relacionar com os alunos...as dificuldades que enfrentamos Outros dados... Questão não prevista E como é que vocês sentem a relação da escola pública, hoje, com a universidade? Porque um dos objetivos do projeto é pensar essa aproximação Diretor – Pela primeira vez, Fátima, que a gente ‘tá’ conversando com alguém da universidade...Deve ser pela primeira vez. Ainda sentimos que estamos muito distantes. Seria bom, para todos nós que as relações estivessem mais próximas Você vê, há três anos que o projeto foi implantado e é a primeira vez que a universidade ‘tá’ vindo até a escola pra ‘tá’ conversando com a gente. Eu, pelo menos, nunca tive o contato. Então, eu acho que é interessante pra universidade saber como está a escola pública de... Fica uma lacuna entre a realidade... Mesmo que o professor da universidade, ele faça o curso, ‘tem’ conhecimento, ele não tem a realidade do aluno que está recebendo hoje, ‘né’? Fica uma lacuna aí. 147 Mas, não sei... Você, como acabou de passar, há pouco tempo, e que é uma pessoa experiente, não sei quem é o corpo docente que ‘tá’ lá com você... Mas a realidade é que essas mudanças de metodologia, principalmente na rede pública estadual de São Paulo, com um programa ‘desse’, que você vê que é uma novidade pros professores que já estão formados há dez, quinze anos, lá na universidade, não sei como vocês ‘tão’ acompanhando, se vocês já... ‘tão’ inteirados desse projeto que ‘tá’ aí, na Rede... Entrevista com o coordenador 1ª questão: Faça um breve relato do seu contato com o projeto Bolsa Alfabetização? Você recebe orientações desde quando? Coordenador X Coordenador Y Coordenador Z Desde quando ele foi implantado. Primeiro como professora e, depois, como coordenadora. Então a gente recebe orientação da Secretaria da Educação e pela Diretoria de Ensino de Santo André. Então, o meu primeiro contato com o Bolsa foi quando eu passei a ser coordenadora. Porque, como eu dava aula pra 4ª Série, é... eu não tinha muito contato. Eu via uma moça lá, tal, mas eu não sabia exatamente do que se tratava. Algumas colegas da 1ª. Série relataram... Porque teve... é... meninas que se adaptam é... que ‘entrava’ dentro do projeto, da escola... ‘teve’ umas que não entravam, ‘né’? E teve... é... ficava aquela conversinha, sabe? Aquela coisa. É... ‘Tinha’ umas que ‘ajudava’ a professora, ‘tinha’ outras que acabavam até atrapalhando o trabalho em sala. Então a gente escutava as meninas falarem, ‘né’? Então, por aí... Eu também não tomava muito Bom, nós tivemos uma orientação... geral, com a... a supervisora, que é responsável pelo Bolsa, que é a Ignez. Tem orientações pedagógicas Como qual seria o papel, na verdade, do aluno bolsista dentro das escolas. Para que não tivesse divergência, cada um achar que era uma coisa. Nós recebemos até por escrito... Qual era o papel. E... para gente dar ciência para os professores que estavam com a 1ª Série (2º Ano), que já até mudou a nomenclatura. Então, e a gente recebe na Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino as orientações: como elas devem ‘portar’, o que elas têm que fazer: tudo por lá. – Data de pagamento, tudo isso daí. E qualquer dúvida que a gente tem... que nós sempre perguntamos tanto pra... pessoa que é responsável, que é a W As orientações, elas vêm através das PCOP’s, das Diretorias de Ensino. Os coordenadores têm oito horas de formação na Diretoria de Ensino aqui de Santo André... Elas cumprem bem, assim, à risca. Nós temos tanto pro desenvolvimento do Projeto, do Ler e Escrever. Como dos subsídios pra HTPC – então orientar a professora. Então é nesses encontros as orientação de como lidar com a Bolsa Alfabetização. Então muitos problemas são levados. As orientações são dadas a partir delas. Contato com as meninas acaba sendo diário, ‘porque elas estão aqui todos os dias, 148 conhecimento, porque eu era de 4ª, então, pra mim, saber o que ‘que’ ela fazia, o que ela não fazia, não... não me chamava atenção na época. Aí eu passei a ser coordenadora, e o professor coordenador é que é responsável pelo projeto dentro da escola. Aí o... lá na Diretoria de Ensino a qual eu pertenço, a Centro Sul, é... é... dá orientação a respeito disso: o que ‘que’ é, qual é a função, ‘né’? O que ‘que’ eles têm que... é... O que pode, o que não pode na escola; o que a gente pode pedir, o que a gente não pode. E entrava em confronto também, porque quando a gente chegava aqui, que ia conversar com algumas meninas: Ó, mas a minha coordenadora falou que não é desse jeito. A minha coordenadora falou que é assado, ‘cê’ ‘tá’ pedindo cozido. Miriam ou a Inez. então elas participam da rotina: horário de recreio, horário de entrada, de saída. Muitas vezes elas me procuram para auxiliar no projeto. É, não... É bom, porque a gente acaba retomando bastante coisa junto com elas dessa parte de estudo, ‘né’? Também é muito importante. E mesmo na sala... Então acabava que criando, assim, um certo desconforto, ‘né’? Isso no primeiro ano, assim, que a gente... que eu entrei na coordenação – ainda havia esse certo desconforto. Mas, aí, é... foram saindo essas meninas, e entraram outras que estavam mais comprometidas – que parece que tinha o Magistério na veia, a gente costuma dizer –, que tinha vontade mesmo de aprender. E quando você tem vontade, tudo que você pede pra elas, elas participavam, ajudavam. E 149 isso fez com que a gente olhasse pro projeto de uma forma positiva. Porque a gente não tinha problema. Às vezes, a escola se sente vigiada. Porque não sabe como ‘que’ ‘tá’ chegando lá na escola para determinadas ações e posições que a escola toma, ‘né’? Então fica complicado, porque é a visão de outra pessoa. Este ano ela chegou. É... Mas, de forma geral, o contato, ‘a’ primeiro momento, foi um pouco assim, ‘né’? Pra... pra saber o que pode, o que não pode, mesmo porque a moça ‘tava’ dando alguns problemas e a gente queria saber até onde a gente podia, o que ‘que’ a gente não podia, ‘né’? Pra tomar esse cuidado, pra não chegar lá fora em forma distorcida. Então, se... é... este contato foi muito bom, a orientação da Diretoria. Porque você acaba que delimitando mesmo, ‘né’? Sabendo o que pode e o que não pode. É obvio que, dentro da escola, quando as meninas assumem uma posição de aprendizagem...de companheirismo o trabalho rende muito. 2ª questão: Fale um pouco do seu papel/função no projeto Bolsa Alfabetização? X Y Z W 150 Dando informação para alunoalfabetizador e verificando se ele ‘tá’ fazendo o que compete a ele. Elas deveriam participar do HTPC, porém, elas não vêm. Então, a função do coordenador, mesmo, é-é coordenar, auxiliar. ajudando essas meninas, que chegam aí cruas, ‘né’? Que chegam sem saber o que ‘que’ é uma de hipótese de escrita, postura de sala, gestão de sala, ‘né’? Elas chegam... Está na universidade, e não dá tempo, porque aí fica até vinte pras oi... pras oito, e aí elas não podem frequentar. O que nos ajuda. Porque se eu pego alguém que chega aqui que não... não sabe falar com o aluno, sabe? Não não consegue diferenciar materiais, não soma. Você vai ter alguém pra atrapalhar você. Que na rotina, aqui é muito complicado, você corre, todo mundo faz tudo... Agora, o que eu acho bastante positivo, também, é essa preocupação. Porque eu fiz Pedagogia e não me falaram de hipótese de escrita, ‘né’? Se falou, é uma coisa que... muito lá por cima. E quando você chega aqui na sala de aula... ‘Né’? Tem gente que chega aqui e não conhece o projeto Ler e Escrever. Então a -a ideia de alfabetização, ainda é nesse[?] enlatado[?], que foi o... quando a gente foi alfabetizado, ‘né’? “B” com “a”: bá... [00:07:20] Mas pra você dominar mesmo a sala de aula, pra você entender como ‘que’ a criança pensa, como ‘que’ ela lançou mão daquele pensamento... Que ‘que’ eu vou fazer? Ela sabe até aqui. Aonde ‘que’ eu vou? O que ‘que’ eu tenho que retomar?... ‘Cê’ precisa ter conhecimento teórico. Então, no... na verdade a função, hoje, do professor coordenador no Ler e Escrever é mais de formação. Vou até a sala, vejo... Aí vou focando ou leitura ou escrita – que é sempre em cima da leitura ou escrita. E agora, no momento, nós estamos trabalhando bastante produção oral com destino escrito. E que antes não era, assim, vista pela 1ª Série... Nós tivemos até resistência de professor, que acreditava, assim, que uma criança não sabia ler ou escrever não sabia produzir um texto. Então eu achei, assim, que teve uma mudança bem grande a partir dessa... dessa formação do professor e... e trabalhar, assim, bem em cima do guia, ‘né’? Que nós trabalhamos, todos... é... bem em cima do guia, na...Então, a gente trabalha bem em cima do guia. E é claro que tem uns complementos, ‘né’? As outras... Nós, no momento, só temos uma sala de PIC do 3º Ano. É... Achamos que é mais vantajoso... o trio gestor, ‘né’? Achamos que é mais vantajoso o PIC de 3ª Série porque você já sana as dificuldades antes de chegar na 4ª Série.Porque na 4ª eles participam do Saresp. Olha, aqui, como faz isso, pode fazer daquela outra maneira, ‘né’? / Quando vem, realmente o Bolsa Alfabetização, o aluno bolsista que vem, que ele é novo, que elas precisam de orientação, então sempre... No começo do ano, a gente senta, conversa, combina a rotina da escola, combinamos o procedimento delas em sala, ‘né’? Pra ficar, assim, bem... bem claro. Mas esse ano, nós estamos com a Nanci e a Larissa já há dois, três anos aqui conosco. Então foi muito fácil de trabalhar com as meninas, que elas são, assim, ótimas mesmo. E em relação a trabalho em sala de aula delas. Com a professora, também: existe a preocupação delas lidarem com todos os tipos de alunos, não só com aluno com dificuldade. Então a gente tem essa dinâmica na escola. Elas, na sala de aula, elaboram uma rotina, um rodízio, então as duas trabalham o tempo todo. Durante a semana, com os alunos da sala. Então a gente se preocupa muito em não deixálas, ‘né’? É... de... nós 151 Porque se você não tiver, a gente não consegue dar conta, ‘né’? ‘Cê’ não consegue dar conta daquilo que você não domina, ‘né’? Então... não temos... Longe de ter esse foco, delas trabalharem só com aluno fraco – muito pelo contrário, elas têm que ter o direito de estarem livres de lidar com todos os alunos, com todas as dificuldades. Você intermedia o relacionamento. Já aconteceu algumas vezes, no começo do projeto, assim que eu entrei, de algumas meninas estarem reclamando da aluna pesquisadora. E aí você chama, você conversa meio que sutilmente também, porque você não vai criar aquele clima de briga. 3ª questão: Em que a experiência de receber alunos bolsistas contribuiu para o trabalho realizado na escola? Coordenador X Contribui ajudando na sala de aula no contato com o professor. Que o professor acaba ficando com as crianças com mais dificuldades e elas vão auxiliando naqueles que não têm tanta dificuldade. Eles auxiliam em tudo: desde... de recolher folhinha, de fazer as ‘folhinha’, ajudar; faz parte do planejamento da professora, daquilo que ‘tá’ dando... do Programa... do Ler e Escrever... Pra que fique... acabam ficando por dentro do que ‘se’ é implantado no Estado, ‘né’? E elas auxiliam nesse ponto. É um... é Y Z W Eu acho que já respondi essa questão. Nós tivemos até que sorte com os alunos bolsistas. É... Não tivemos problema com nenhum aluno bolsista que freqüentou... Teve alguns que escolheram e não vieram, mas a gente nem conheceu. E o professor regente da sala, às vezes, ele fala bem, mas a gente passa no início do ano qual é o papel deles, pra não haver... é... É, eu acabei já englobando tudo, né? Uma pergunta puxa a outra, ‘né’? Problemas futuros. E sempre eu pergunto pra ela... pra... Que nem, no caso, eu falo com a Salete, como que ‘tá’ indo, tal. Porque é uma maneira de eu estar observando se ela está fazendo algo que não é adequado. Da É. Acho que da importância do... E o projeto, assim, é encantador, ‘né’? Foi difícil no começo, mas agora que... Já está na rotina escolar, eu acho que ele... Ele tem a ganhar... os dois lados. Os três, ‘né’? A escola, no geral, ao todo... ou... a criança, o aluno e o... o próprio aluno bolsista, ‘né’? O projeto tem... Então algumas escolas não são contempladas 152 um braço lá de dentro. função dela. Então eu sempre procuro saber. Esse ano eu não estou tendo problema nenhum com ela. Então, acho que o ano passado, no início, teve algum probleminha com a com a professora, mas depois a gente sentou e resolveu. Tenho três vagas, mas eu tenho só duas alunas da pedagogia participando. com a... com aluna da... Bolsa Pesquisadora, porque, aliás, não tem... Não tem aluno que mora na região ou a faculdade que ela estuda, ‘né’? Não participa... Às vezes, o professor regente acha que se veio um... um professor para sala, ele vai ficar dando reforço, e não é esse, ‘né’? É... A orientação que nós recebemos do aluno bolsista, que, na verdade, ele vai aos poucos, ajudando o professor regente, mas não com os alunos com dificuldade. Ele pode até fazer alguma atividade com os alunos, e nesse momento é o professor que tem a... claro, ele tem a... é... a facilidade com a alfabetização, ‘né’? Ele vai, nesse momento, ‘tá’ trabalhando com os outros. Mas, no momento, não tenho nenhum problema entre... nem o regente......nem o... o aluno bolsista. 4ª questão: A partir da experiência/implantação do projeto em sua escola, fale um pouco da relação professor regente e aluno bolsista? Coordenador X Coordenador Y Coordenador Z W – Salen Olha, é... com a Mônica, em específico, com a Maria José, ela é muito boa, sabe? Ela tem dom pra coisa, entendeu? Então a gente acaba que.. mediando, conversando e Então, a... a Dalva, ela é... Ela é muito dedicada. E a Salete teve muita sorte de ‘tá’ junto com ela, que ela ‘tá’ Nunca enfrentamos problemas. As alunas pesquisadoras vêm Reverendo 153 Você pede pra ela trabalhar... Ah, vamos fazer não sei o que lá?/ Aí ela topa, e ela... ela te ajuda, ela entra dentro. Então ela ajuda você fazer, entendeu? Tudo o que você solicita a ela, dentro do que ela sabe, do que ela pode contribuir, ela contribui – com a experiência que ela tem também. Então ela ajuda em tudo, entendeu? Não é só festinha, não é só... Não: ela participa da aula, ela faz...Ela está inserida num contexto. E uma coisa que a gente comenta, eu e o Cláudio, e que pra mim, ‘particular’... Particularmente, eu acho que eu ‘tô’ ficando assustada, é que eu não ‘tô’ vendo... Como a turma vindo, nova, empenho, entendeu? Porque, que nem, eu ‘tô’ aposentando, então... ‘Tá’ me assustando, eu não sei o que vem, eu não sei como é que vai ficar. Porque, tirando o magistério, e você tendo que fazer um superior... Porque antes era assim: ‘cê’ fazia o magistério, começava dar aula, pegava aula de eventual e ia pra aquilo. E ‘cê’ pagava a tua faculdade. Agora a gente faz o contrário: ‘cê’ tem que ‘tá’ na faculdade... Então, muitas vezes isso não vai... não apetece o aluno. Se é pra eu dar aula de 1ª à 4ª e ter que fazer uma faculdade, eu vou dar aula de 5ª à 8ª e não vou fazer magistério. Porque, olha, eventual... Eventual: você não acha... E, olha, você não acha eventual. E, quando você acha, ela não dá conta, não é Cláudio? Ela não dá conta dos alunos, ela auxiliando, ‘né’? Tanto o professor quanto o aluno bolsista. A escola como um todo, ‘né’? aprendendo bastante. E infelizmente a Dalva vai se aposentar. mantendo uma boa relação com as nossas professoras regentes. É ela já fez a... a parte dela aqui. Mas ela é uma ótima alfabetizadora, e eu acho que isso contribui para a Salete. Que ela teve, assim, uma visão boa de um... um professor alfabetizador, e que é muito difícil, viu? Hoje em dia você tem... é... Pra nós, não dá pra gente escolher quem tem perfil. E, às vezes, é burocracia: um professor pega a 1ª Série, mas ele não tem perfil de alfabetizador. E foge, ‘né’? Do... do controle do diretor ‘tá’ escolhendo. Ele é... a-a... ‘a’ início da... quando tem a atribuição, é dito ‘po’ profe... pro diretor que ele precisa colocar nas séries iniciais um professor com perfil, mas não acha, porque muitos acumulam, os que são efetivos não querem. Aí, vai pra diretoria, e é onde pode entrar algum professor que não tem o perfil. Mas ainda bem que a Salete conseguiu uma que tem perfil. E eu acho que esse ano ela aprendeu muito. E nós gostamos muito dela aqui, ela... não tivemos problema. E ela é muito esforçada: ela pergunta, ela... quando ela tem dúvida. Algumas coisas... Ela participa de algumas reuniões, porque de acordo com as orientações ela não é obrigada, ‘né’? Se ela não tiver. Mas quando ela pode, ela vem e 154 não dá conta de dar uma aula. Você tem que subir, ‘cê’ tem que ajudar, você tem que fazer... É muito stress. participa. E essa parte eu acho, assim, muito boa. Porque sempre... 155