SISTEMA POLÍTICO LIBANÊS Corrupção sistémica no governo, autoridades e instituições As empresas privadas subornam rotineiramente os funcionários para conseguirem contratos As falhas na prestação de serviços põem em risco as vidas dos cidadãos O Líbano sofre de uma corrupção sistémica que atravessa as instituições do Estado e dos serviços públicos, estendendo-se muitas vezes também ao sector privado1. De acordo com o Índice de Percepção da Corrupção de 2014, da Transparência Internacional, o Líbano encontrava-se no 136º lugar de 175 países. Com base no nível de percepção de corrupção do sector público do país, a posição 1 corresponde a “muito limpo”, e a 175 a “altamente corrupto”. Diz-se que as raízes deste problema se encontram no sistema político confessional, de acordos de partilha entre a elite representando diferentes comunidades, na verdade desde a sua Independência em 1943. Estes indivíduos distribuem riqueza e serviços entre redes clientelistas que ligam os cidadãos à elite governante2. Essas redes informais provocaram o atraso do desenvolvimento das instituições reguladoras do estado para desafiarem a corrupção generalizada3 e contribuíram para a diminuição do espaço da sociedade civil. Entre os libaneses, diz-se que é do conhecimento geral que os principais departamentos do sector público padecem de corrupção crónica, o que tem levado o estado libanês a perder anualmente grandes somas de dinheiro. Esses sectores incluem o porto franco de Beirute4, o aeroporto5, o cumprimento da lei de trânsito6, telecomunicações7, e emprego na função pública8. Os quatro conselhos e fundos (majalis e sanadeeq, em árabe), dependentes do gabinete do primeiroministro e também distribuídos de acordo com linhas confessionais, são generalizadamente vistos como o epítome do clientelismo. Acredita-se, de um modo geral, que os investidores pagam subornos de rotina para conseguirem contratos com o governo, que são muitas vezes adjudicados a empresas próximas de políticos poderosos. Um relatório de avaliação da corrupção, contratado pela ONU em 2001, constatou que apenas 2,4% dos US$ 6 biliões de projectos contratados pelo governo eram formalmente adjudicados pela Administração de Concursos9. O resto ficava com a empresa que se dispusesse a pagar o suborno mais alto ao ministro responsável. Não surpreende, pois, o facto de o relatório ter constatado que mais de 43% das empresas que operavam no Líbano pagavam subornos, “sempre ou muito frequentemente”. A crise do lixo no Líbano é o perfeito exemplo da contribuição das relações próximas para a não prestação10 de serviços e dos seus efeitos devastadores para os cidadãos. Ao longo de mais de 14 anos, a empresa privada Sukleen recolhia e depunha o lixo de Beirute e do Monte Líbano em vários locais, mas recentemente em al-Na’ameh, a sul de Beirute, o sítio do maior aterro sanitário do país. Este ano, os residentes conseguiram finalmente que o aterro fosse encerrado, mas autoridades não conseguiram identificar um local alternativo. A crise transbordou literalmente para as ruas 11, tornando o ar tóxico, causando doenças respiratórias e dando azo a receios de um surto de cólera. A empresa Sukleen é gerida por um empresário libanês que se sabe ter sido próximo do antigo Primeiro Ministro, Rafiq Hariri, e que beneficiou do monopólio da gestão do lixo e limpeza das ruas de Beirute e Monte Líbano12. Como resultado da crise, em Agosto de 2015, foi criado o movimento “Você Cheira Mal”, desencadeando uma série de protestos exigindo prestação de contas pelos podres que estão no centro da crise. O seu nome deriva simultaneamente da multiplicação de montes de lixo e das suas causas. Foto: Flickr/Kevin Costain/CC BY 2.0 tamanho ajustado e retirada a cor do original. 1. http://www.globalsecurity.org/military/world/lebanon/corruption.htm http://www.u4.no/publications/overview-of-corruption-and-anti-corruption-inlebanon/downloadasset/3421 3. http://www.crisisgroup.org/en/regions/middle-east-north-africa/syria-lebanon/lebanon/160-lebanon-s-selfdefeating-survival-strategies.aspx 4. http://www.state.gov/e/eb/rls/othr/ics/2013/204676.htm 5. http://www.naharnet.com/stories/en/169286 6. http://www.u4.no/publications/overview-of-corruption-and-anti-corruption-in-lebanon/ 7. http://www.dailystar.com.lb/Business/Lebanon/2014/Jan-18/244402-corruption-high-costs-hinder-itsector-growth.ashx 8. http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2014/06/beirut-lebanon-corruption201462613392977108.html 9.0. https://www.meforum.org/meib/articles/0102_l2.htm 9.1. http://uwa.edu.au/__data/assets/pdf_file/0007/32686/FaridaMoe_PhDConf2007.pdf 9.2. http://www.msm.nl/resources/.../MSM-WP2012-52.pdf 9.3. http://ageconsearch.umn.edu/bitstream/.../2/cp08fa01.pdf 10. For an overview of postwar Lebanese corruption, see for example, Rola el-Husseini, Pax Syriana: Elite Politics in Postwar Lebanon (Syracuse University Press) 11. http://bit.ly/1gfJ7NM 12. http://ahouseofmanymansions.blogspot.de/ 2.