UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CONSTRUÇÃO DE SUBMARINO NUCLEAR NO BRASIL Por: Hudson Sarmento Olivares Orientador Prof.ª Ana Claudia Morrissy Rio de Janeiro 2010 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CONSTRUÇÃO DE SUBMARINO NUCLEAR NO BRASIL Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Engenharia de Produção. Por: Hudson Sarmento Olivares 2 AGRADECIMENTOS ....aos amigos e parentes, colegas de trabalho, colegas de turma, professores da Vez do Mestre, orientadora, familiares e em especial a Deus que tem me fornecido luz e força necessárias para levar a cabo mais esta empreitada em minha vida. 3 DEDICATÓRIA .....dedico aos meus pais, filhos, esposa, colegas de trabalho e de curso e em especial ao meu falecido pai que foi, é e sempre será meu maior amigo, ídolo, herói e mais digno Homem que conheci em toda a minha bem vivida existência e que esteja ele onde estiver, estou certo que está vibrando e me orientando em mais esta empreitada. 4 RESUMO Ao considerar e avaliar a vastidão do Atlântico Sul, nosso mais importante teatro de operações navais, e a imensidão de nossa costa territorial marítima, a Marinha do Brasil constatou que com apenas os aparelhamentos navais ora disponíveis e a tecnologia a eles aplicada não eram suficientes para cumprir a missão constitucional de defender a soberania, integridade territorial e incomensuráveis interesses marítimos atuais e futuros do País no mar. Desta forma, torna-se de vital e latente importância dispor de submarinos nucleares em seu inventário de meios, pois estes possuem excepcional mobilidade e grande poder de dissuasão e intimidação, resguardando e protegendo nossas fronteiras mais distantes. Para tal objetivo a Marinha do Brasil considerou e traçou metas ambiciosas em seu próprio âmbito, mesmo a custa de enormes sacrifícios orçamentários, ao associar-se a estaleiro estrangeiro de reconhecida competência para a obtenção de tecnologia e materiais seguros e apropriados a tal envergadura, além de capacitar pessoal para gerenciar e detalhar o projeto de construção de submarinos de propulsão nuclear. 5 METODOLOGIA Para a elaboração deste trabalho de pesquisa foram utilizados livros, revistas especializadas e consultas a artigos e matérias publicadas na internet. Por se tratar de matéria muito própria e de restrito ao conhecimento, não se utilizou o método de questionários. Grande parte do trabalho de pesquisa foi executado e baseado em informações colhidas junto aos artigos escritos por Carlos Emílio Di Santis Junior. Di Santis é considerado no meio militar um expert, estudioso, pesquisador, crítico, comentarista e grande entusiasta relacionado a assuntos de armamentos, veículos de combate, sistemas de defesa, forças armadas nacionais, mundiais e demais temas afins. Di Santis presta serviço em três blogs correlatos, além de escrever para o site da ALIDE, revista da FAER e artigos para a editora ABRIL. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO. 08 CAPÍTULO I - A história dos submarinos. 12 CAPÍTULO II - A dissuasão submarina. 17 CAPÍTULO III - O futuro dos submarinos no Brasil. 23 CONCLUSÃO 31 ANEXOS. 34 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA. 45 BIBLIOGRAFIA CITADA. 46 ÍNDICE 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO. 49 7 INTRODUÇÃO Submarino é qualquer embarcação capaz de realizar operações sob a superfície da água. Utilizados, sobretudo com fins militares, os submarinos são também empregados em missões civis, como pesquisas do fundo dos oceanos. Um submarino é um navio de guerra projetado com características especiais que permitem que mergulhe e opere nas profundezas do mar, com o propósito de manter-se invisível às buscas de seus oponentes, beneficiando-se de um dos mais importantes princípios da guerra, que é a surpresa. Assim, o submarino torna-se uma poderosa arma de guerra, de defesa e ataque, que pretende negar o uso do mar aos opositores. O submarino, a cada novo modelo, está capacitado a ser utilizado como meio de reconhecimento de área e de espionagem, graças aos seus sensíveis sensores e sistemas eletrônicos, assim como sozinho, definir os desígnios de uma batalha. Seus armamentos característicos são os torpedos, mísseis balísticos, mísseis táticos ou estratégicos de longo alcance, minas e mergulhadores de combate. Assim armado, o submarino pode executar uma variedade de missões de guerra, sendo classificados em função do tipo básico de propulsão, em convencionais ou nucleares; e quanto ao emprego, em submarinos de ataque, submarinos lançadores de mísseis balísticos, submarinos especiais e submarinos auxiliares. Os principais equipamentos sensores dos submarinos são os sonares, que permitem a localização, pelo som propagado no mar, dos obstáculos submersos e dos demais navios e submarinos em sua vizinhança, contribuindo para uma navegação segura, ainda que se deslocando no meio líquido praticamente na escuridão. Projetos para um submarino propelido a bateria para um motor a diesel surgiram nos anos posteriores à guerra civil dos Estados Unidos. 8 Em 1867, um passo importante foi dado com o lançamento do primeiro submarino movido a vapor do mundo, o Ictineo II, criado por Narcis Monturiol, da Espanha. E a principal diferença é que, nos submarinos nucleares, o vapor é criado pelo superaquecimento de água com o uso de fissão nuclear. O submarino convencional é muito discreto quando propulsado pela energia de suas baterias, mas essa discrição é comprometida quando ele navega na superfície ou próximo dela, de modo a aspirar da atmosfera e nela descarregar pela tubulação esnorquel, sistema que consistia basicamente em dois tubos que conectavam o submarino sob a água à superfície. Isso permitia que o barco navegasse submerso mesmo usando o motor a diesel para recarregar as baterias e poupar sua energia para as situações táticas de interação com o adversário. Assim, embora o submarino convencional possa ser mais discreto por curtos períodos, o nuclear é mais discreto no cômputo geral, porque independe da atmosfera. É flagrante a superioridade do submarino de propulsão nuclear, capaz de alcançar área distante com rapidez e nela executar patrulha extensa, graças à boa velocidade que pode manter por longos períodos. Essa vantagem também existe no cenário tático, pois o nuclear assume posição de ataque e se evade da reação com maior rapidez do que o convencional, que está sujeito às limitações das baterias. Foi a mobilidade dos submarinos nucleares que permitiu aos ingleses a rápida implementação e a eficiente manutenção da zona de exclusão no teatro das Malvinas, com poucos submarinos. Grande vantagem do submarino nuclear é a distância que o submarino pode navegar e a velocidade com que pode fazê-lo. Outra vantagem é a possibilidade de o submarino nuclear operar por longo tempo, já que o combustível é inesgotável, sob a perspectiva prática operacional. Sua autonomia (tempo fora da base) é limitada apenas pela resistência das tripulações e pela capacidade de transportar gêneros (ou pelo consumo das armas), mas a do convencional é condicionada pela capacidade e pelo consumo de combustível. 9 Antes da primeira guerra mundial os Estados Unidos concentravam sua frota de submarinos na defesa costeira do país. A corrida armamentista, ocorrida na virada do século XX, teve como fator fundamental o uso e desenvolvimento de diversas versões de submarinos. Os engenheiros continuaram a alterar o desenho das hélices, desenvolveram novos sistemas para usar água como lastro e deram alguns passos na direção do desenvolvimento de submarinos híbridos dieseiselétricos, que são de superfície e por motores elétricos quando mergulham. A combinação permite economizar oxigênio precioso nos períodos submersos e ajuda a manter a integridade do ar no interior do submarino. Os Estados Unidos da América (EUA) perceberam que o projeto de seus submarinos não se comparava favoravelmente ao dos demais combatentes da primeira guerra mundial. Nas décadas entre as guerras, os EUA investiram em pesquisa e desenvolvimento e melhoraram muito a qualidade de sua frota submarina. Uma das características mais importantes implementadas aos submarinos dos EUA foi o ganho de velocidade, que lhes permitia acompanhar e proteger suas frotas de superfície durante suas missões através do mundo. A frota de submarinos de longo alcance dos EUA causaria muita destruição à frota japonesa no teatro de guerra do Pacífico. Depois da segunda guerra mundial, tanto os EUA quanto a União Soviética estudaram o projeto dos submarinos nazistas, tecnicamente superiores, e alteraram seus submarinos de modo a imitá-los. Os U-Boats (como eram conhecidos os submarinos alemães) tinham cascos com boa hidrodinâmica, o que os fazia operar em velocidades superiores à dos barcos dos EUA e da URSS e também usavam um esnorquel. No período do pós-guerra, submarinos dieseis-elétricos mais eficientes e hidrodinâmicos surgiram. Devido ao seu baixo custo de construção e a operação silenciosa, que permite boa tocaia e grande surpresa, há variantes de submarinos dieseis-elétricos ainda em uso na maioria das marinhas mundiais. 10 No Capítulo I é apresentada a história dos submarinos no Brasil, relatando desde a primeira aquisição deste tipo de artefato, sua introdução e uso na Marinha, passando por aquisições de outros tantos convencionais e tradicionais, até obtermos a tecnologia de construção e finalmente ousarmos ir onde muitos almejam e poucos alcançam, que é a absorção do conhecimento e experiência necessários para projetar e construir submarinos nucleares. No Capítulo II é feita uma consideração sobre o valor que dissuasão submarina pode causar, em especial, a constante ameaça a que um submarino gera nos inimigos. Também neste capítulo temos uma pequena apresentação dos poderes bélicos dos submarinos de algumas das principais potências navais no mundo. No Capítulo III é elaborado um relato sobre o futuro dos submarinos no Brasil, desde o início do desenvolvimento do reator nuclear em 1970, a fabricação de modelos convencionais sob licença alemã, culminando com a construção de um diferenciado e arrojado estaleiro em Itaguaí visando à exclusiva fabricação de submarinos frutos do ousado contrato de transferência de tecnologia assinado entre o Brasil e a França. 11 CAPÍTULO I A HISTÓRIA DOS SUBMARINOS NO BRASIL 1.1- O início da operação dos submarinos no Brasil. A Marinha do Brasil (MB) demonstrou, desde o final do século XIX, interesse pelo novo tipo de embarcação que possibilitava atacar alvos de grande valor sem ser detectado. Inicialmente, foram feitas tentativas de projetar no Brasil uma nova embarcação, que por falta de recursos não lograram êxito. O início da história dos submarinos brasileiros (quadro sinopse - anexo 1) começa em 1914 com a aquisição de três submarinos italianos da classe Foca (os FF como ficaram conhecidos). Estes primeiros submarinos eram muito rudimentares, pois mergulhavam a apenas aproximadamente 40 metros e navegavam a até 9 nós (nó é uma unidade de velocidade, 1 nó = 1,852 km/h) submersos (deram baixa em 1933). Para apoiar os novos meios, foram criadas a Base de Submersíveis e a Escola de Submersíveis que serviram para capacitação da engenharia de construção, treinamento, manutenção e salvamento. Após vinte anos de serviço, seus cascos serviram para alicerçar os pilares da ponte de escaleres da Escola Naval. Até então, o Brasil se manteve somente como operador de projetos de terceiros até os anos 1980, quando decidiu estabelecer uma estratégia para, a longo prazo, tornar-se projetista e construtor de seus próprios submarinos. 12 O primeiro submarino brasileiro foi o Humaitá, construído ainda na Itália, semelhante ao Balilla italiano. Entregue em 1929 esse submarino foi o recordista em mergulho sendo o primeiro a imergir até 100m. Em 1937, chegam os submarinos Tupy, Timbira e Tamoio, também italianos. Esses submarinos da classe T/Perla foram encomendados pela Itália, que acabou extinguindo a Flotilha de Submersíveis. Os modelos então já fabricados participaram da WW II (Segunda Guerra Mundial) na patrulha da costa brasileira. Somente em 1957, após 20 anos de estagnação, houve uma renovação da frota brasileira. Renovação que não era tão nova assim, pois eram submarinos da classe Gato que participaram, pelos EUA, na WW II. Os modelos eram os USS Muskalungee (Humaitá) e USS Paddle (Riachuelo), encerrando a função dos classe T. Em 1963 foram recebidos os S12 Bahia e S11 Rio Grande do Sul. Ambos eram também tipo Fleet, mas da classe Balao e eram oriundos da WW II. Entre os anos 60 e 70, foram adquiridos três submarinos ingleses da classe Oberon (Humaitá, Tonelero e Riachuelo) além de sete submarinos da classe Guppy americanos (Guanabara, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará, Goiás e Amazonas). Esses submarinos foram sendo baixados aos poucos, de acordo com o Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM). O Reaparelhamento da Marinha do Brasil ocorre através da construção do Tupi (anexo II - foto nº1), submarino construído na Alemanha com acompanhamento e treinamento de operários, técnicos, engenheiros e oficiais do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) e Diretoria de Engenharia Naval (DEN), além dos membros da futura tripulação, baseado no modelo IKL 209/1400 alemão. O primeiro submarino construído no Brasil da classe Tupi, o Tamoio, teve seu casco resistente e alguns setores estruturais construídos na Nuclep em Itaguaí com instalação e fabricação dos demais componentes estruturais no AMRJ. Durante toda a fabricação destes componentes estruturais resistentes à pressão do mar, a Marinha do Brasil teve todo o cuidado para que estes itens fossem minuciosamente acompanhados e inspecionados. Para tal, a Marinha do Brasil através do Arsenal de Marinha do 13 Rio de Janeiro, juntamente com um engenheiro vindo da HDW, estaleiro sediado na cidade de Kiel na Alemanha, que os fabrica para a própria Marinha Alemã, criou um grupo permanente de supervisão e inspeção, e foram obedecidos todos os quesitos de qualidade que são exigidos pela marinha alemã. Após ele, seguiram-se mais dois outros da mesma classe, o Timbira e o Tapajó. O sucesso e operacionalidade destes submarinos foram tão relevantes junto a Marinha do Brasil, que um adendo ao contrato permitiu que mais um submarino, o Tikuna, desta mesma classe fosse construído e incorporado ao inventário de meios da Marinha do Brasil. Contudo, cabe ressaltar que neste último submarino, as melhorias propostas pelos técnicos, engenheiros e componentes das tripulações dos demais submarinos, fossem acatadas tanto pelas autoridades navais brasileiras quanto pelos projetistas alemães. Estas últimas alterações foram fundamentais para o melhoramento e conforto deste último modelo construído. O Tikuna foi lançado ao mar em 2005. Desta forma, o Brasil já teve 2 fases como construtor de submarinos. Na primeira delas, produziu 3 IKL-209-1400 de 1.450 t no AMRJ (o primeiro dos 4 da classe na MB, o Tupi, foi produzido na Alemanha), e a segunda fase foi concluída em dezembro de 2005 com o Tikuna, um IKL-209 melhorado (209-1500). Atualmente, o programa Tupi está sendo encerrado em favor do projeto de construção de submarino similar no Brasil, o Scorpène (anexo II - foto nº2), em função de um acordo técnico comercial firmado com a França. Com este novo e revolucionário contrato, o Brasil parte agora para a terceira fase, com a construção do Estaleiro Itaguaí (anexo II - foto nº3), localizado em Itaguaí, região metropolitana do estado do Rio. No estaleiro Itaguaí serão produzidos 4 submarinos de propulsão convencional e 1 submarino de propulsão atômica, visando em especial a transferência de tecnologia de projeto, além de também fornecer suporte técnico durante o projeto de nosso próprio submarino nuclear. Para garantir o aprendizado, tanto de projeto quanto de fabricação, a exemplo do que foi executado com sucesso na fabricação dos modelos alemães, já foi dado início de formação de grupos de Engenheiros, Técnicos e Militares a serem enviados para a França. Após retornarem, esse pessoal, será transferido para o Estaleiro Itaguaí. 14 O submarino nuclear brasileiro (anexo II - foto nº4) será um Submarino Nuclear de Ataque (SNA) de versão média. Sua previsão de prontificação é 2024, podendo otimisticamente ser antecipado. O programa, no entanto, sofre grandes restrições orçamentárias, que está sendo equacionado, tendo em vista o prosseguimento deste considerável e avançado aprendizado tecnológico. Estima-se que para desenvolver um novo projeto de submarino nuclear, há a necessidade de uma equipe aproximada de 750 engenheiros e técnicos, a ser formada em torno de um núcleo de 200 especialistas num prazo de cerca de 6 anos. Esta equipe permanece com sua capacidade máxima por 2 anos e, nos próximos 3 anos se reduz para cerca de 250 engenheiros e técnicos. A partir daí, até a entrega do primeiro submarino, a equipe fica constante, reduzindo-se após esta data para aproximadamente 150 engenheiros, que novamente permanece constante até o final do programa, onde finalmente a equipe estará apta para projetar novas séries de submarinos nucleares e entrar em definitivo para o rol dos projetistas e fabricantes de submarinos nucleares. Estima-se um prazo de 15 a 20 anos de construção, desde que se parta de um núcleo de engenheiros com experiência e qualificação já comprovada em projeto de submarino. Este núcleo de engenheiros, de no mínimo 200 especialistas, deverá ser formado e integrado ao projeto dentro de um prazo entre 5 a 7 anos. A complexibilidade da matéria é tal que, de acordo com especialistas, as disciplinas técnicas requeridas para projetos de submarinos nucleares incluem no mínimo: • Arquitetura naval; • Engenharia mecânica; • Engenharia elétrica; • Engenharia de estruturas; • Som e vibrações; • Dinâmica de sistemas; • Engenharia de pesos; • Metalurgia e engenharia de solda; 15 • Física de radiações nucleares e proteção; • Engenharia de sistemas; • Propulsão nuclear; • Engenharia de Sistemas de Controle; • Engenharia de segurança e operações; • Testes e comissionamento; • Gerenciamento de projeto; • Engenharia de aplicações; • Projeto detalhado: (elétrico, máquinas, casco); • Gerenciamento de detalhamento. Com estas considerações é possível estimar uma equipe técnica para projeto do primeiro submarino nuclear brasileiro, em 5 fases: Fase 1: Formação do Núcleo: Evolui de 0 para uma composição de 200 pessoas em 5anos, com alta especialização. Fase 2: Evolui de 200 para 700 pessoas em Fase Permanecem 3: 6 anos, no com alta máximo 700 e média pessoas especialização. durante 3 anos. Fase 4: Reduz, em 4 anos, de 700 pessoas para 250 pessoas, com alta e media, especialização. Fase 5: Permanece constante, com 250 pessoas, com alta e média especialização, até a entrega do submarino. Os custos para a formação do pessoal nos primeiros 5 anos (Fase 1), onde se forma o núcleo de projeto do submarino, devem alcançar facilmente os R$ 300 milhões. Nos 15 a 20 anos seguintes, período em que se projeta e constrói o primeiro submarino nuclear nacional, a estimativa de investimento necessário em pessoal (folha salarial, equipamentos, softwares, consultoria etc) giraria em torno de R$ 2 bilhões (aplicando-se a estes valores o desvio padrão de +/- 20% no custo do projeto). 16 CAPÍTULO II A DISSUASÃO SUBMARINA 2.1 – O cenário mundial. Em um mundo onde a desigualdade econômica dita o tamanho das forças de cada país, muitos podem cair na tentação de avaliar erroneamente a capacidade defensiva de uma nação, baseando-se apenas na sua força de superfície naval, sua força aérea ou mesmo seu exército. É claro que para se manter uma capacidade de dissuação ampla, é necessário que o Estado mantenha suas forças armadas equipadas e adestradas de forma a poder responder de forma eficaz a qualquer aventureiro que queira optar pela força para conquistar seus objetivos frente à outra nação. Porém, é fato que uma força de submarinos modernos, mesmo convencionais, é capaz, a um baixo custo, impor uma grave ameaça a uma frota invasora. Esse fato já foi comprovado em inúmeros treinamentos e exercícios conjuntos que ocorrem anualmente entre marinhas de grande porte como a norte-americana e marinhas de médio porte. Um exemplo disso foi o super porta aviões USS Harry Truman que esteve em treinamento contra um submarino classe Tupi e foi atingido duas vezes. Ou seja, um pequeno submarino diesel-elétrico conseguiu, tecnicamente, “afundar” um super porta aviões norte-americano e com ele sua ala aérea formada por cerca de 100 aeronaves. Conforme descreve e afirma Di Santis (2008). “O submarino é um sistema de armas que, devido a sua furtividade, pode causar estragos sérios contra um grupo de batalha. Mesmo um submarino pequeno, convencional, é capaz de levar a destruição a navios de 17 guerra de grande porte e maior sofisticação. Agora pense sobre se um submarino pequeno é tão mortífero, mesmo com suas limitações de autonomia de operação submerso, como seria um submarino que não tivesse, virtualmente limitações de tempo de operação submerso? É para isso que foram criados os submarinos movidos à propulsão nuclear “. Esse tipo de poder de fogo (anexo II - foto nº5) pode colocar em xeque marinhas de grande porte e assim produzir um efeito dissuasório tal que impeça o acontecimento de uma guerra. Qualquer força naval invasora ao saber que no cenário ao qual ela deseja se aventurar existe um desconhecido número de submarinos, quer sejam convencionais ou nucleares, os fará repensar e até mesmo recuar de sua ambiciosa investida, pois sabem que os mesmos conseguem se manter ocultos e à espreita, aguardando o momento mais propício para colocá-los a pique. Em teoria, um submarino nuclear pode permanecer oculto e em silêncio indefinidamente, dependendo apenas do quanto sua tripulação tenha sido preparada para suportar as aflições e pressões psicológicas a que são submetidos durante uma missão de tal envergadura. Com essa vantagem do elemento surpresa e forte poder de dissuasão que apenas esse tipo de embarcação é capaz de causar faz com que o inimigo reconsidere suas atitudes. 18 2.2 – As tradicionais marinhas construtoras de submarinos. 2.2.1 – Alemanha. A Alemanha é um dos mais tradicionais fabricantes de submarinos no mundo, sendo também potenciais exportadores deste tipo de equipamento bélico. O modelo mais conhecido como Tipo 209, ou U-209, construído pela HDW, é um dos mais bem sucedidos submarinos convencionais da história tendo sido exportados para pelo menos 12 países, entre eles o Brasil que opera cinco unidades. Atualmente, a Alemanha desenvolveu o Tipo-214, que é o sucessor do Tipo-209. O Tipo-214 é considerado um dos mais avançados e modernos submarinos convencionais do mundo, pois tem a ele incorporado um sistema de propulsão independente de ar, que permite ao submarino permanecer por muito mais tempo submerso, cerca de 3 três semanas, sem ter que emergir para captar ar para seus motores a diesel, sendo também um dos mais silenciosos em operação, além de possuir um desenho de contorno com soluções furtivas para dificultar sua localização por sonares inimigos. Podendo operar em profundidade máxima de 400 metros. Em função de acordos fixados após a segunda guerra mundial, a Alemanha não está autorizada a desenvolver artefatos bélicos nucleares. 2.2.2 – França. A França possui uma indústria militar bastante desenvolvida e é capaz de projetar e construir todos os tipos de equipamentos de combate que precisar, desde uma simples munição de pistola, até um submarino nuclear armado com mísseis balísticos. Possui uma grande tradição na construção de submarinos convencionais, exportando para muitos países. 19 No momento, o submarino convencional francês, o Scorpene, tem se destacado com considerável sucesso, tanto técnico quanto comercial, sendo adquirido pelas armadas do Chile, Índia e Malásia. Pode-se dizer que ele é o concorrente mais próximo dos pares alemães, possuindo também seu próprio sistema de propulsão independente de ar, tal qual aos similares alemães, com a vantagem de possuir alta potência que permite alcançar altas velocidades quando submerso, superando seus concorrentes diretos, além de operar em profundidade máxima de 350 metros. Quanto aos nucleares, entre outros, o responsável pela dissuasão francesa é o submarino estratégico Lê Triophant com seus mísseis de longo alcance. 2.2.3 – Rússia. A Rússia figura entre os maiores fabricantes de material bélico do planeta. Esta nação, como integrante da extinta União Soviética, em meados do século passado, foi um dos principais protagonistas da corrida armamentista, conhecida como guerra fria. Hoje, com o fim desta era, a grande capacidade da engenharia russa se mantém ativa produzindo submarinos convencionais e nucleares, sendo que muitos países com laços históricos com os russos mantém forte relação de comércio de materiais de defesa. Atualmente, o submarino convencional classe Amur é o produto mais avançado disponível para exportação pelos russos. Este submarino possui como característica uma construção modular, que permite modificar sistemas de acordo com o desejo do cliente. Assim como seus principais concorrentes internacionais, ele também possui um avançado sistema de propulsão independente de ar que lhe permite permanecer submerso até quarenta e cinco dias. Este modelo possui velocidade compatível com o modelo francês e opera em profundidade máxima de 300 metros. 20 A Rússia possui diversas classes de submarinos nucleares, sendo que a sua melhor é a classe Akula, considerado um dos mais silenciosos e rápidos em operação no mundo. É um dos poucos equipados com sistema de mísseis antiaéreos guiados pelo calor emitido pelo alvo. A Rússia possui, ainda, o maior submarino nuclear do mundo o Typhoon (anexo II - foto nº6). 2.2.4 – Suécia. A Suécia é outra nação com grande capacidade técnica na área de construção naval. Alguns de seus produtos são de referência em termos de tecnologia naval. A Suécia produz com sucesso o submarino de ataque Tipo A19, classe Gotland. Estes submarinos são propulsados por um dos mais eficazes sistemas de propulsão independente de ar conhecidos. O Gotland é um dos mais silenciosos submarinos já construídos. Essa característica é tão marcante que os Estados Unidos alugaram por um ano um dos submarinos dessa classe com o intuito de testar as defesas anti-submarinas dos seus navios de guerra contra a ameaça de pequenos submarinos convencionais equipados com esse sistema de propulsão. Seus sistemas de combate podem ser letais contra qualquer tipo de oponente. Possui velocidade compatível com o modelo russo e opera em profundidade máxima de 300 metros. 2.2.5 – China. A China tem apresentado um desenvolvimento militar muito rápido e consistente nos últimos anos e dentro deste crescimento, não poderia faltar o submarino nuclear como parte do poderoso arsenal que está sendo construído. A China já possui submarinos atômicos desde 1974, quando entrou em serviço o submarino tipo 091 Han, que se encontra em operação até hoje. 21 Este submarino é bastante ruidoso em serviço, contudo esta deficiência é aceitável, levando-se em consideração, por ser o primeiro desenvolvido na Ásia à 30 anos atrás. O sucessor dessa classe é Tipo 093 Shang que foi desenvolvido com tecnologia e assistência russa em áreas críticas como o casco e reator nuclear. A última palavra em submarinos chineses é o Tipo 094 Jin, que em muito já se assemelha aos modernos e eficazes modelos russos. Os submarinos chineses têm suas informações técnicas envoltas em cortinas de segredos, gerando muitas especulações. Embora o salto chinês no poderio bélico tenha ocorrido nos últimos 15 anos, ainda assim, eles foram um dos últimos países, dentre os países construtores a desenvolver a tecnologia nuclear. 2.2.6 – Estados Unidos. A principal característica dos Estados Unidos é seu pioneirismo, e foram eles os primeiros a desenvolverem um submarino nuclear cujo nome foi Nautilus. O Nautilus (Foto nº7) foi lançado em 1954 e foi também a primeira embarcação movida à energia nuclear no mundo. Foi quando pela primeira vez um submarino alcançou a façanha de operar submerso por meses e ainda navegar mais rápido que muitos navios de superfície. Tal fato foi revolucionário para a guerra naval. Os EEUU possuem o maior orçamento para a defesa no mundo, e assim pode contar com uma fantástica velocidade na evolução tecnológica em seus meios de combate. A poderosa armada norte-americana conta com 3 classes de submarinos de ataque, os classe Los Angeles, Sea Wolf e Virgínia, e uma classe de submarinos estratégicos, classe Ohio. 22 O submarino americano mais moderno e sofiscado, o Sea Wolf (anexo II – foto nº8), teve seu custo unitário em torno de US$ 2.1 bilhões. Seus sistemas de sonares, tão sensíveis, permitem monitorar longas distâncias, como, por exemplo, é possível no oceano Atlântico, na costa da Inglaterra, monitorar um “alvo” que esteja se aproximando da costa leste dos Estados Unidos. 2.2.7 – Inglaterra. A Inglaterra se encontra entre as nações européias mais bem armadas, tendo como grande rival, a França. Sua relação estreita e de longo tempo com os EEUU lhe assegura acesso à quase todos sistemas tecnológicos ligados aos armamentos mundiais. Esta amizade de mútua cooperação permite à Inglaterra a utilização de mísseis balísticos internacionais de fabricação americana, fato considerado raro, uma vez que nenhuma nação se propõe a exportar armamentos nucleares para outros países. O mais moderno submarino nuclear inglês é o classe Astute. Esta versão teve seu primeiro submarino incorporado já em 2007. O governo inglês pretende construir até 8 novas unidades deste modelo, que juntamente com outros submarinos de outras classes elevará substancialmente o poderio naval inglês. 2.2.8 – Índia. A Índia a exemplo da China, também tem apresentado ultimamente um vultoso orçamento com fins militares. Ela possui uma considerável força naval implementada com bom e significativo número de submarinos Tipo-209, adquiridos na Alemanha e com alguns do mesmo modelo fabricados em próprio solo. Recentemente a índia anunciou o término da fabricação de seu primeiro submarino nuclear, o Arihant. 23 Com esta façanha a Índia tentou se equilibrar com o poderio chinês em regiões de interesse mútuo. A embarcação foi construída inteiramente na Índia, mas com ajuda da Rússia, e passará por testes nos próximos anos antes de ser utilizada em operações militares. Com esse anúncio, a Índia entra para o seleto clube dos países com capacidade de projetar e construir submarinos nucleares, formados por Estados Unidos, Rússia, França, Grã-Bretanha e China (anexo II - foto nº9). 24 CAPÍTULO III O FUTURO DOS SUBMARINOS NO BRASIL 3.1 – O início do projeto nuclear no Brasil Desde o final da década de 1970, a MB desenvolve, nas dependências de seu Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), um programa de desenvolvimento de tecnologia nuclear, visando, por um lado, o domínio do ciclo do combustível nuclear, que logrou êxito em 1982, com a divulgação do enriquecimento do urânio com tecnologia desenvolvida pela MB. Por outro, o desenvolvimento de um protótipo de reator nuclear capaz de gerar energia para fazer funcionar a planta de propulsão de um submarino nuclear. Paralelamente, para capacitar-se a construir submarinos, a MB, na mesma época, cuidou de adquirir da Alemanha a transferência de tecnologia de construção de submarinos, empregando, para tanto, o projeto do submarino IKL-209 (à época o modelo mais vendido no mundo). Foram assim, construídos quatro submarinos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), colocando a MB no limitado rol dos países construtores desses engenhos. As principais pendências, no que tange à capacitação do País para construir um submarino nuclear, considerando já alcançada a meta do combustível nuclear, incluem: a) O término da construção, a operação experimental do reator nuclear e da respectiva planta de propulsão, com o compromisso do presente governo de aportar recursos para que sua operação ocorra em 2014; e b) A capacidade de desenvolver projetos de submarinos, a partir do pleno domínio do projeto de convencionais, evoluindo, por etapas, para um submarino nuclear. Assim, o caminho natural para o Brasil seria da mesma forma, o de desenvolver sucessivos protótipos, até que se chegasse a um projeto razoável, para abrigar uma planta nuclear. 25 Como não se dispõe do tempo nem dos recursos necessários, a solução encontrada pela MB, no intuito de – com segurança – saltar etapas, foi a de buscar parcerias estratégicas com países detentores de tais tecnologias e que estivessem dispostos a transferi-la, tendo em vista, que normalmente, as principais potências mundiais excluem e barram o caminho dos países que buscam o domínio da tecnologia nuclear. Restaram, então, aos países que buscam o domínio desta tecnologia ou perder muito tempo e envolver vultosos gastos em pesquisas com a indispensável transição entre os projetos de submarinos convencionais e nucleares ou queimar essas etapas, associando-se a já quem produz a ambos e que esteja disposto a transferir a tecnologia a troco de vantajosos acordos e significativas cifras. Naquele momento, apenas dois países no mundo que desenvolviam e produziam, simultaneamente, ambos os tipos de submarinos, a Rússia e a França, estavam dispostos a negociar artefatos nucleares. A Rússia desenvolveu sua tecnologia nuclear e possui um projeto de submarino convencional, mas apresenta alguns problemas: não possui qualquer cliente no mundo ocidental nessa área e seu projeto de submarino convencional ainda não encontrou, pelo que se conhece, algum comprador, além de não possuir um apoio logístico eficiente e de não estar disposta a transferir tecnologia. A Rússia só se interessa por vender submarinos, o que está muito longe das pretensões brasileiras, desqualificando-a definitivamente. A França, por outro lado, também desenvolveu sua própria tecnologia. Emprega métodos e processos típicos do Ocidente e de mais fácil absorção por nossos engenheiros e técnicos, além de ser um fornecedor tradicional de material de defesa para o mundo ocidental, estando ainda disposta a transferir tecnologia. No momento, a França exporta submarinos convencionais Scorpène para países como o Chile, a Índia e a Malásia. 26 3.2 – A estratégia de construção no Brasil. A verdadeira estratégia a ser adotada pelo Brasil, no contrato com a França, está baseada em um dos aspectos mais notáveis do programa de construção do submarino convencional (anexo II - foto nº10) e de propulsão nuclear (anexo II - foto 11) que é, sem dúvida, o salto tecnológico a ser vivido pelo país, em função da transferência de tecnologia, que garantirá ao Brasil a capacidade de desenvolver e construir seus próprios projetos no futuro, que em linhas gerais seguirá o esquema abaixo: 1) A transferência de tecnologia do projeto de submarinos. a) Ao entrar em eficácia o contrato, serão enviados para a França alguns projetistas navais brasileiros que, juntamente com os franceses, introduzirão ajustes no projeto do submarino convencional brasileiro que é a versão nacional do modelo “Scorpène” francês (anexo II - foto nº12). A idéia é atender determinados requisitos operacionais da MB relativamente a maior autonomia e a maiores intervalos entre os períodos de manutenção. Isso tornará suas características mais compatíveis com as vastidões do Atlântico Sul; b) A partir de seis meses depois da data de eficácia do contrato, serão enviados à França outros engenheiros navais brasileiros, que farão cursos de projeto, culminando com um trabalho constituído de um projeto real de submarino convencional depois de retornarem ao Brasil; c) Um pequeno grupo de engenheiros fará estágios na empresa fabricante do sistema de combate do submarino (sonares, direção de tiro etc), onde receberão toda a tecnologia necessária ao desenvolvimento e manutenção do sistema; d) Da mesma forma, teremos engenheiros que permanecerão determinado tempo na fábrica de torpedos, para absorção de tecnologia de projeto; e e) Depois do retorno do segundo grupo (alínea b), engenheiros e técnicos franceses permanecerão no Brasil por cinco anos, participando desenvolvimento do projeto do primeiro submarino nuclear brasileiro. 27 do Vale ressaltar que, a parte referente ao reator nuclear e seu compartimento, serão de responsabilidade do Brasil com assessoria francesa, caso requerido. 2) A transferência de tecnologia de construção de submarinos. a) O submarino será construído em 4 seções. A primeira seção do primeiro submarino será construída no estaleiro de Cherbourg, na França, com a participação da equipe de construção de submarinos do AMRJ, que absorverá os métodos, normas e processos franceses de construção, que é conceitualmente algo muito diferente do sistema alemão a que o Brasil já está acostumado; b) De volta ao Brasil, esse grupo constituirá o núcleo de transferência de tecnologia para a Sociedade de Propósito Específico (SPE), que será constituída para operar o novo estaleiro para a fabricação dos novos submarinos; c) Depois dessa fase, o grupo atuará pela MB como fiscais das obras e garantidores do controle de qualidade. 3) A transferência de tecnologia mediante a nacionalização. a) Cerca de 20 por cento de todo o material a ser empregado nos submarinos serão produzidos e comercializados no Brasil, inclusive sistemas complexos (estimativa de 36.000 itens); b) No curso das negociações, ficou acertado que tudo que pudesse ser produzido no Brasil, a custo equivalente ou inferior ao da França, seria fabricado aqui. Caso o produto já fosse comercializado, seria simplesmente adquirido e incorporado ao conjunto de materiais, caso contrário, a tecnologia de produção seria transferida à empresa selecionada que então o fabricaria; 28 c) Nesse processo, desde o início, a MB adotou a postura de não indicar qualquer empresa, cabendo aos franceses selecioná-las de acordo com critérios próprios, qualificando-as e homologando-as. A MB não privilegiaria ou rejeitaria qualquer empresa, evitando intermináveis controvérsias futuras. De outra forma, caberia abrir uma licitação pública, para o processo seletivo que, no mínimo, demoraria em demasiado, dada a quantidade de recursos e embargos legalmente possíveis de serem interpostos por empresas desqualificadas ou perdedoras. O resultado foi tão bom que, um universo inicial de mais de duzentas empresas se interessaram em participar (a França já selecionou e está negociando com mais de trinta, e há outras dezenas de candidatas). O modelo de submarino, estrategicamente definido pelo Comando da Marinha do Brasil, foi o Scorpéne, que utiliza propulsão diesel-elétrico e é derivado de um modelo de submarino nuclear francês denominado Rubis (anexo II - foto nº13). A França, acima de tudo, está disposta a – contratualmente – transferir tecnologia de projeto de submarinos convencionais, inclusive cooperando no projeto do submarino de propulsão nuclear brasileiro, excluídos o projeto e a construção do próprio reator e seus controles, que caberiam exclusivamente à MB. E são exatamente esses os termos que interessam ao Brasil. O primeiro dos quatro submarinos Scorpéne, de tecnologia francesa, negociados em 2008 pelo Brasil, começou a ser construído no dia 27/05/10, quando a cerimônia de corte das chapas destinadas à proa foi realizada às 10h, no estaleiro DCNS, em Cherbourg. O relógio digital que marca a contagem para a entrega do navio, no segundo semestre de 2016, será ativado na mesma ocasião. Os outros três submarinos deste mesmo tipo deverão estar prontos, até 2021, no novo estaleiro que a Marinha está construindo em Itaguaí, no litoral sul do Rio. O tempo previsto para construção do estaleiro que abrigará a construção dos submarinos, tanto convencionais quanto o nuclear, é 2015 e no momento está limitado ao primeiro movimento de terras na Ilha da Madeira, em Itaguaí, 29 Baía de Sepetiba, no litoral fluminense. Este estaleiro será dotado de alta tecnologia para construir os submarinos da MB dentro dos padrões de qualidade requeridos. Ao lado das instalações da Nuclebrás Equipamentos Pesados (NUCLEP), o braço industrial do complexo nuclear do Brasil, o grupo Odebrecht começa a obra da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM). As áreas envolvidas do estaleiro somam 980 mil metros quadrados, dos quais 750 mil m² na água. O acesso ao conjunto se dará por um túnel escavado em rocha de 850 metros de comprimento e uma estrada exclusiva de 1,5 km. Haverá 2 píeres de 150 metros cada um e 3 docas secas (duas cobertas) de 170 m. No total, serão 27 edifícios. A dragagem passará de 6 milhões de metros cúbicos. O plano da obra prevê a geração de 700 empregos diretos. Pronta, a instalação poderá dar apoio técnico a uma frota de 10 submarinos, e terá capacidade para construir duas unidades novas simultaneamente. 30 CONCLUSÃO O submarino é de longe a maior ameaça bélica existente no mar. Sua presença, oculta no mar, acarreta tal grau de incerteza, que obriga os adversários a construir forças consideráveis para – com discutíveis chances – poder enfrentá-lo. Por essa superioridade intrínseca, o submarino vem sendo empregado, por excelência, como a principal arma de dissuasão dos países cuja estratégia global se insere num contexto defensivo, como é o caso do Brasil. Eles não podem exercer o domínio do mar, mas impedem que alguém o faça (negam o uso do mar). Um submarino convencional desloca-se lentamente e depende do ar atmosférico para, periodicamente, carregar suas baterias e renovar o ar ambiente, ocasião em que se torna vulnerável. Um submarino de propulsão nuclear, graças à sua fonte virtualmente inesgotável de energia, dispõe de elevada velocidade que pode ser mantida indefinidamente e é capaz de permanecer no mar enquanto durar a resistência humana. Além disso, tem total independência do ar atmosférico, sendo, portanto, o submarino por excelência. Assim, enquanto um submarino convencional é empregado segundo uma estratégica de posição, o que requer um número elevado deles, o nuclear é empregado segundo uma estratégia de movimento, cobrindo vastas zonas de patrulha. Em outras palavras, do ponto de vista estratégico, um submarino nuclear substitui com vantagem um número considerável de submarinos convencionais taticamente, graças à elevada velocidade e à total capacidade de ocultação (independência de atmosfera), o que torna sua superioridade ainda mais contundente. Em face disso e considerando a magnitude de nosso interesse mais imediato, o Atlântico Sul, a Marinha passou a considerar a hipótese do submarino nuclear como primordial, sem abandonar o emprego do submarino convencional para as tarefas apropriadas a esse tipo de submarino. 31 A Marinha do Brasil criou este ano a Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) como forma de proporcionar uma melhor integração e sinergia entre as Organizações da Marinha (OM), com foco no desenvolvimento de um submarino com propulsão nuclear. Para construir os 5 submarinos, sendo 4 convencionais SBR, serão gastos € 4,1 bilhões ou US$ 5,720 bilhões. Isso representará € 820 milhões, ou US$ 1,144 bilhão em média por cada submarino francês. Para exemplificar, um Submarino Nuclear Brasileiro (SNBR) custará US$ 1,8 bilhão e o Submarino Convencional Brasileiro (SBR) US$ 980 milhões cada um. Com as restrições orçamentárias que castigam as forças armadas do Brasil há alguns anos, essa meta de construir um submarino nuclear, vinha sendo postergada indefinidamente, criando a grave situação a qual se encontram diversos projetos da Marinha. Com os últimos acontecimentos políticos estratégicos na América do Sul e diante de uma onda de aquisições bélicas de nossos vizinhos, uma nova postura política de defesa foi adotada. Em dezembro de 2008, o governo federal anunciou nova Estratégia Nacional de Defesa (END) que dentre outras determinações, acabou por liberar mais recursos para dar continuidade ao processo de desenvolvimento e engenharia e assim concluir o projeto do reator nuclear brasileiro que impulsionará o primeiro submarino nuclear brasileiro. É importante frisar que nossos maiores poços de petróleo estão localizados no mar e que substancial parte de nosso comércio internacional se faz pelas rotas marítimas. O domínio desta tecnologia trará enormes benefícios tecnológicos em diversos segmentos da sociedade. A política externa brasileira tem sido conduzida com base nos princípios do direito de autodeterminação dos povos e de não intervenção nos assuntos internos de outros países. Tal posição essencialmente pacifista, entretanto, não é suficiente para garantir a paz permanente. 32 Os desentendimentos internacionais surgem, na maioria das vezes, de forma inopinada, sem dar tempo para se começarem as providências a partir de tais momentos. É preciso, pois, estar sempre preparado. Lembra-se aqui uma conhecida citação: “Um país pode passar cem anos sem se engajar em uma guerra, porém, não poderá passar um minuto, sequer, sem estar preparado para a guerra”. Um país para garantir sua soberania e ser respeitado pela comunidade das nações, precisa construir e manter, pelo menos, uma razoável capacidade bélica dissuasória. É necessário, pois, conceder excepcional prioridade para atendimento ao Ministério da Defesa. Certamente que o custo, desenvolvimento e posse deste meio é considerado caro, porém o valor militar estratégico destes submarinos é igualmente grande, acarretando um efeito positivo para a defesa de nossos interesses sem o custo de uma aguerrida batalha. Um país realmente preocupado com sua população tem que entender que o maior serviço social que um governo pode prestar ao seu povo é conservá-lo vivo e em liberdade. O Brasil não tem e jamais teve qualquer ideal expansionista e sim o forte intuito constitucional de manter a integridade da federação e defesa dos interesses nacionais legítimos, além de proteger direitos individuais e de propriedades de seus cidadãos. Portanto, a decisão de projetar, construir, possuir, dominar e reter tecnologia levará o Brasil ao seleto grupo de países detentores da mais alta tecnologia de segurança disponível no planeta, conquistando respeito e admiração das nações desenvolvidas. 33 ANEXOS ANEXO I: Quadro sinopse dos submarinos no Brasil. ANEXO II: Fotos. 34 ANEXO I Quadro sinopse dos submarinos no Brasil Classe Nome Local de Construção “IKL-209-1400 Submarino Arsenal do Rio MOD A” “Tikuna” (S34) de Janeiro – Rio Brasil Data de Incorporação Data de Desincorporação 16/12/2005 ------- “IKL-2091400″ Submarino Arsenal do Rio “Tapajó” (S33) de Janeiro – Rio de Janeiro, Brasil 21/12/1999 ———- “IKL-2091400″ Submarino Arsenal do Rio “Timbira” (S32) de Janeiro – Rio Brasil 21/12/1999 ------- “IKL-2091400″ Submarino Arsenal do Rio “Tamoio” (S31) de Janeiro – Rio Brasil 12/12/1994 ------- “IKL-2091400″ Submarino “Tupi” (S30) Estaleiro HDW – Kiel, Alemanha 06/05/1989 ------- “OBERON” Submarino “Riachuelo” (S22) Estaleiro da Vikers Limited – Barrowfurness, Inglaterra 12/03/1977 12/11/1997 “OBERON” Submarino “Tonelero” (S21) Estaleiro da Vikers Limited – Barrowfurness, Inglaterra 10/12/1977 21/06/2001 Submarino Estaleiro da “Humaitá” (S20) Vikers Limited – Barrowfurness, Inglaterra 18/06/1973 08/04/1996 “OBERON” “GUPPY III” Submarino “Amazonas” (S16) Estaleiro Electric Boat Company – Grotton, Connecticut, EUA 19/12/1973 01/08/1992 “GUPPY III” Submarino “Goiás” (S15) Estaleiro Portsmouth Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 15/10/1973 16/04/1990 “GUPPY II” Submarino “Ceará” (S14) Estaleiro Navy Arsenal – Boston, EUA 17/10/1973 21/12/1987 08/07/1972 16/11/1978 “GUPPY II” Submarino “Rio Estaleiro de Janeiro” Portsmouth (S13) Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 35 Local de Construção Data de Incorporação Data de Desincorporação Estaleiro Portsmouth Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 27/03/1973 14/07/1993 Submarino “Rio Estaleiro Grande do Sul” Portsmouth (S11) Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 07/09/1963 02/05/1972 Classe Nome “GUPPY II” Submarino “Bahia” (S12) GUPPY II” “GUPPY II” Submarino “Guanabara” (S10) Estaleiro Electric 28/07/1972 Boat Company – Grotton, Connecticut, EUA 10/10/1983 “FLEET TYPE Submarino II” “Bahia” (S12) Estaleiro 07/09/1963 Portsmouth Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 19/01/1973 “FLEET TYPE Submarino “Rio Estaleiro 07/09/1963 II” Grande do Sul” Portsmouth (S11) Naval Shipyard – New Hampshire, EUA 02/05/1972 “FLEET TYPE Submarino I” “Riachuelo” (S15) Estaleiro Electric 18/01/1957 Boat Company – Grotton, Connecticut, EUA 14/10/1966 “FLEET TYPE Submarino Estaleiro Electric 18/01/1957 I” “Humaitá” (S14) Boat Company – Grotton, Connecticut, EUA 02/10/1967 “TUPY” Submarino “Tamoio” (T-3) Estaleiro Odero – Terni, Itália 10/10/1937 26/08/1959 “TUPY” Submarino “Timbira” (T-2) Estaleiro Odero – Terni, Itália 10/10/1937 26/08/1959 “TUPY” Submarino “Tupy” (T-1) Estaleiro Odero – Terni, Itália 10/10/1937 26/08/1959 “HUMAITÁ” Submarino “Humaitá” (H) Estaleiro Odero – Terni, Itália 18/07/1929 25/08/1950 36 Classe Nome Local de Construção Data de Incorporação Data de Desincorporação “FOCA” Submersível (F5) Estaleiro FIAT – 06/06/1914 San Giorgio, Itália 30/12/1933 “FOCA” Submersível (F3) Estaleiro FIAT – 16/03/1914 San Giorgio, Itália 30/12/1933 “FOCA” Submersível (F1) Estaleiro FIAT – 11/12/1913 San Giorgio, Itália 30/12/1933 FONTE: Site da ForSub / do livro “Nosso Submarinos, Sinopse Histórica”, CC Marco Polo Áureo Cerqueira de Souza, SDGM, 1986 37 ANEXO II Fotos Foto nº 1 – Submarino Convencional Tupi - Tipo 209 Foto nº2 – Desenho Esquemático do Submarino Convencional Francês Scorpéne Escolhido pela Marinha do Brasil 38 Foto nº3 – Planta Esquemática do Estaleiro em Construção em Itaguaí para Fabricação dos Submarinos Convencionais e Nucleares Foto nº4 – Maquete do Submarino Nuclear Brasileiro 39 Foto nº5 – Navio de Guerra afundado por um Torpedo MK-48 disparado de um Submarino 40 Foto nº 6 - Modelo do gigantesco Typhoon, herança soviética da Rússia. Foto nº7 – USS Nautilus, Primeiro Submarino Nuclear Americano 41 Foto nº 8 – Submarino Nuclear Americano Sea Wolf Foto nº9 – Quadro dos Países que Primeiro lançaram Submarinos Nucleares e suas Respectivas Datas de Incorporação 42 Foto nº10 – Fundamentos de um Submarino Convencional Foto nº11 – Fundamentos de um Submarino Nuclear 43 Foto nº12 – Submarino Convencional Francês Modelo Scorpéne escolhido pela Marinha do Brasil para Fabricação em Itaguaí Foto nº13 – Submarino Nuclear Francês Classe Rubis, Modelo escolhido como base para o Nuclear Brasileiro 44 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA www.naval.com.br, Poder Naval. Acessado em 29/03/2010. www.defesanet.com.br, DefesaNet. Acessado em 29/03/2010. www.defesabrasil.com, Defesa Brasil. Acessado em 29/03/2010 www.mar.mil.br, Comando da Marinha. Acessado em 29/03/2010. www.mar.mil.br/ctmsp, CTMSP- Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo Di Santis, Carlos Emílio Júnior em artigos para Forças Armadas em Revista – Edições Ano 3 nº 09 e 10 de 2008, Ano 4 nº 14 de 2009. Gabler, Ulrich, Projetos de Submarinos - 1ª edição traduzida por AMRJ/ETCN em São Paulo, 1991. www.defesabr.com/mb , Marinha do Brasil - MB 45 BIBLIOGRAFIA CITADA Di Santis, Carlos Emílio Júnior em artigo para Forças Armadas em Revista – Edições Ano 3, nº. 10 de 2008, pág. 22. ÍNDICE 46 CAPA 1 FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO DEDICATÓRIA 3 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 12 A HISTÓRIA DOS SUBMARINOS. 12 1.1- O início da operação dos submarinos no Brasil. 12 CAPÍTULO II 17 A DISSUASÃO SUBMARINA. 17 2.1 – O cenário mundial. 17 2.2 – Tradicionais marinhas construtoras de submarinos. 19 2.2.1- Alemanha. 19 2.2.2- França 19 2.2.3- Rússia 20 2.2.4- Suécia 21 2.2.5- China 21 2.2.6- Estados Unidos 22 2.2.7- Inglaterra 23 2.2.8- Índia 23 47 CAPÍTULO III 25 O FUTURO DOS SUBMARINOS NO BRASIL. 25 3.1 – O início do projeto nuclear no Brasil. 25 3.2 – A estratégia de construção no Brasil. 26 CONCLUSÃO 31 ANEXOS 34 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45 BIBLIOGRAFIA CITADA 46 ÍNDICE 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO 49 48 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre Título da Monografia: Construção de Submarino Nuclear no Brasil Autor: Hudson Sarmento Olivares Data da Entrega: Avaliado por: Conceito: 49