AFINAL, O QUE ELES TÊM NA CABEÇA?
FOTOS DIEGO VARA
MAIS CURTIÇÃO,
Em %
MENOS LUXO
A nova geração quer grana suficiente para viver com conforto, sem a
preocupação de ganhar mais ou menos do que seus amigos ou vizinhos
ANTES DA CARREIRA,
RODAR O MUNDO
Apesar de estar no quinto semestre
do curso de Publicidade e Propaganda,
Ricardo Menta Carniel (foto), 24 anos,
não tem planos de trabalhar na área
por enquanto. Está bem trabalhando para o pai na cantina Santo Grão,
no Unilasalle, em Canoas. Antes de
pensar em mergulhar na carreira de
publicitário, pretende se formar e sair
para conhecer o Brasil e o Exterior.
– Quero ver o mundo como ele é, e
não pela tela do computador – diz.
Ricardo mora com os pais e não
tem nenhuma despesa com a casa.Tudo que ganha acaba gastando com o
que gosta, salvo raras exceções, como
pagar o churrasco familiar no final de
semana. Mesmo
não tendo gastos
de moradia, Ricardo
não planeja as coisas
financeiramente, pois
ganha o mínimo para conseguir se sustentar durante o mês.
Apesar de gostar das coisas boas
da vida, quer distância de dívidas.
Não compra nada se não tiver dinheiro para pagar à vista. Se precisa
economizar para algum show mais
caro, deixa de sair, jogar bola, reduz
alguns gastos. Esse é o máximo de
planejamento – que, em sua opinião,
tem funcionado.
dentidade no lugar de marca, conforto
em vez de luxo,compartilhar trabalho e
não disputar com unhas e dentes uma
chance de ganhar alguns trocados. A
chamada Geração Y, nascida entre os
anos 1980 e meados dos anos 1990,tem
sonhos e objetivos bem diferentes de seus pais.Um
estudo da Faculdade de Comunicação Social da
PUCRS mostra que universitários da região metropolitana de Porto Alegre aspiram liberdade e independência financeira,mas dispensam ostentação e
riqueza – o cálice sagrado da geração anterior.
– A ideia de ser rico, que era a cara dos “yuppies” que entraram no mercado de trabalho
nos anos 1980, não é a mesma do jovem de hoje.
A nova geração quer grana suficiente para viver
com conforto,sem a preocupação de ganhar mais
ou menos do que seus amigos ou vizinhos – analisa Ilton Teitelbaum, coordenador do Núcleo de
Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência da
Faculdade de Comunicação da PUCRS, departamento que desenvolveu o estudo.
Trata-se de perfil mais do que coerente de uma
garotada que cresceu ouvindo alertas sobre o impacto do consumo desenfreado ao ambiente e se
acostumou a compartilhar opiniões,ideias e dicas
de trabalho pelas redes sociais.Foi rompido o modelo de vida centrado na ambição, considerado
predatório por alguns,mas que ditou as aspirações
profissionais de quem nasceu nos anos 1960 e 1970.
– O jovem de hoje prefere ter uma roupa confortável e que reforce sua personalidade do que uma
marca cara,apenas para demonstrar seu poder de
compra – analisa Teitelbaum.
O desapego à grana, no entanto, coloca em segundo plano também a forma como lidam com o
dinheiro e planejam o futuro. Os jovens passaram
a enfrentar problemas como alto endividamento,
gastos excessivos com itens supérfluos e necessidade de“paitrocínio”mesmo quando moram sozinhos.Poupar é um termo raro no vocabulário.
– Esses jovens são tentados ao consumo pela
oferta enorme de cartões de crédito e limites na
conta bancária. Muitos mergulham em dívidas –
observa a educadora financeira Cássia D’Aquino,
especializada no público jovem.
BUSCA DE INDEPENDÊNCIA ESBARRA
NO DESCONTROLE NOS GASTOS
A pesquisa realizada pela PUCRS mostra que
o público de 18 anos a 34 anos gasta metade do
salário ou da mesada com festas, roupas, novidades tecnológicas e bebidas.A outra metade serve
para pagar aluguel, smartphones, prestação de
automóvel e outras contas fixas.
– Em geral, o jovem torra tudo nos primeiros
dias do mês,depois começa a comprar parcelado,e,
no mês seguinte,seu salário já está comprometido.
Não sobra nada para uma poupança ou um investimento para um objetivo maior – explica Reinaldo
Domingos, presidente da DSOP, organização que
presta serviços de educação financeira em escolas.
A raiz do problema está no desconhecimento de dicas básicas sobre como administrar o
dinheiro, diz Wilson Marchionatti, professor de
economia da PUCRS e coordenador de programa da universidade para ajudar jovens a organizar sua grana. Muitos jamais ouviram falar em
taxas de juros, acham que limites de crédito são
cortesia dos bancos e compram parcelado como
se não houvesse amanhã.
– Há quem tome um alto empréstimo e deixe de
pagar por acreditar que o banco simplesmente esquecerá a dívida – exemplifica Marchionatti.
Esse comportamento ingênuo muitas vezes reflete
hábitos que veem em casa.Os pais dessa gurizada
viveram no tempo que a inflação chegava a 80% ao
mês.Valia mais a pena gastar o salário antes que os
preços de alimentos,eletrônicos e roupas subissem.
Mesmo que a realidade da economia tenha mudado,
os costumes continuaram os mesmos.
Outro comportamento que desestimula os jovens a cuidar do dinheiro é o mimo dos pais: muitos bancam os filhos indefinidamente e não hesitam em pagar a conta quando eles se endividam.
A boa notícia é que um punhado de guris e gurias
começa a se dar conta de que a independência só
virá se tratarem com mais carinho de seu dinheiro.
– Embora seja uma minoria, há jovens preocupados em guardar dinheiro pensando em comprar
imóvel,fazer curso no Exterior ou apenas ter uma
vida mais confortável ali adiante – mesmo que tenham de aguentar seus amigos os chamando de
pão-duros – explica Mauro Calil, fundador da escola de educação financeiraAcademia do Dinheiro.
➧ [email protected]
*Colaboraram Gustavo B. Rock e Florença Castro
LONGE DO CARTÃO
DE CRÉDITO
Depois de se perder no cartão de crédito, acumulando gastos e mais gastos com roupas em
compras parceladas, Paolla Rocha (foto), 24 anos,
decidiu aposentar o parcelamento com o plástico.
Olhando para trás, admite que já foi compradora
compulsiva, mas hoje se considera controlada, e
não costuma dar um passo maior do que as pernas quando o assunto é dinheiro.
– É muito fácil de se perder nas contas do mês
parcelando com o cartão. Hoje, uso só o débito
– afirma a jovem.
Paolla colocou um teto em seus gastos: utiliza 70% do que ganha com contas fixas e separa
o restante para seu lazer e o de sua filha de oito
anos. Recentemente, passou a dividir o apartamento na zona sul de Porto Alegre com a mãe,
mas fez questão de continuar responsável pelas
contas da casa.
– Dividir despesas e tarefas não é nada fácil,mas
é uma escolha para eu me sentir mais independente – diz Paolla,que é gerente executiva da Associação Brasileira dasAgências Digitais (Abradi).
MORA SOZINHA, MAS DEPENDE DA MÃE
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DINHEIRO
Michelle Rivoire (foto), 20 anos, mora sozinha em um apartamento da
mãe e não trabalha.Paga todas as contas com a mesada que ganha – o combinado é que receba este dinheiro até
se formar em Psicologia, no IPA. No
fim do mês, não sobra um centavo sequer: gasta tudo em bares, restaurantes, roupas e instrumentos musicais.
Economizar não está nos planos.
– Já tive uma caixinha de economias, mas não me adaptei. Isso nunca
vai funcionar para mim – decreta.
Parte da mesada banca as viagens
de final de semana, principalmente
para o Litoral. Michelle tinha um car-
ro, porém, se acidentou no ano passado e resolveu não comprar outro.
Chegou à conclusão de que o custo
para manter um veículo é altíssimo:
valeria mais a pena andar de bicicleta. É como se locomove hoje.
Outra despesa grande começará a
ser dividida. Nas próximas semanas, um menino irá morar com
ela e rachar as contas. A ideia
é que sobre mais dinheiro para os gastos do dia a dia, sem
ter de apelar para o cartão de
crédito (que tem conta conjunta com a mãe).
– Não vale a bronca – conta.
ZERO HORA > DOMINGO | 7 | ABRIL | 2013
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Defina três sonhos: um para realizar em
dois anos (uma viagem, por exemplo),
outro em cinco anos (como dar entrada
em um imóvel) e mais um para 30 anos
(como uma aposentadoria tranquila).
Comece a anotar todos seus gastos
– pode ser em um caderno ou com
a ajuda de aplicativos em smartphones. Na virada do mês, veja no que
gastou e o que poderia ter sido evitado.
Cortando os gastos excessivos, use
o dinheiro que sobrar para pagar
dívidas. É importante começar por
aquelas que cobrem juros mais altos,
inclusive antecipando parcelas.
Evite criar novas dívidas, principalmente em compras que não sejam
urgentes, como roupas de marca,
baladas, bares e games. Se não tiver
dinheiro, deixe para comprar no mês seguinte.
Eliminando gastos desnecessários e
pagando as dívidas, comece a reservar
parte de sua mesada, bolsa ou salário
para alcançar os três sonhos. Ideal é
reservar, no início do mês, de 10% a 30%.
Divida sua economia em investimentos de menor risco (renda fixa) e maior
risco (bolsa de valores, que costuma
dar bom retorno no longo prazo), que
sejam adequados para alcançar seus sonhos.
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