GRAMÁTICA
Prof. Portela
GRAMÁTICA – PARTE I
Questão 01
“As pessoas ficam zoando, falando que a gente não conseguiria entrar em mais nada, por isso vamos
prestar Letras”, diz a candidata ao vestibular. Entre os motivos que a ligaram à carreira estão o gosto
por literatura e inglês, que estuda há oito anos.
(Adaptado da Folha de S. Paulo, 22/10/00)
a) As aspas assinalam, no texto acima, a fala de uma pessoa entrevistada pelo jornal. Identifique duas
marcas de coloquialidade presentes nessa fala.
b) No trecho que não está entre aspas ocorre um desvio em relação à norma culta. Reescreva o trecho,
fazendo a correção necessária.
Gabarito:
a) "zoando", "a gente", "a gente… vamos".
b)
Em "estão o gosto": há um erro de concordância.
Corrigindo: "está o gosto" ou "estão os gostos". Além disso, podem ser apontadas:
Em "a candidata ao vestibular" há duas inadequações semânticas:
1ª: a moça não se candidata a um vestibular, mas a uma vaga em alguma faculdade;
2ª: tem-se a impressão de que a candidata fala a alguém e esse alguém é o vestibular, já que se diz
algo a alguém.
Em "... por literatura e inglês, que estuda há oito anos" há uma ambiguidade. Não se sabe se a
candidata estuda inglês, literatura ou ambos há oito anos.
Questão 02
Compare o provérbio "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento" com a seguinte mensagem publicitária
de um empreendimento imobiliário:
Por fora as mais belas árvores. Por dentro a melhor planta.
a) Os recursos sonoros utilizados no provérbio mantêm-se na mensagem publicitária? Justifique
sua resposta.
b) Aponte o jogo de palavras que ocorre no texto publicitário, mas não no provérbio.
Gabarito:
a) Não. As rimas internas toantes (fora/viola, dentro/bolorento) estão presentes só no provérbio. Também,
o provérbio é formado por dois redondilhos maiores, o que não ocorre na mensagem publicitária.
b) Há um jogo de palavras apenas no texto publicitário: relação entre "árvore" (produto da natureza) e
"planta" (projeto arquitetônico).
Questão 03
Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?
A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.
À TELEVISÃO
Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.
Guerra, sexo, esporte
- me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.
(PAES, J. P. "Prosas seguidas de odes
mínimas". São Paulo: Companhia das Letras,
1992.)
"- me dás tudo, tudo.
já não preciso do mundo."
Esses versos poderiam ser reunidos em um único período, para expressar uma síntese do que se expõe
no texto.
Reescreva esses dois versos em um período completo, unindo-os com um conectivo adequado.
1
Gabarito:
Uma dentre as possibilidades:
- Me dás tudo, tudo, logo já não preciso do mundo.
- Já não preciso do mundo porque me dás tudo, tudo.
Questão 04
Observe três afirmativas sobre o poeta:
Murilo Mendes teve seu centenário de nascimento comemorado neste 2001. Ele nasceu em Juiz de Fora e
viveu muitos anos em Roma.
Agora aglutine-as num único período composto - preenchendo os espaços em 2.2 e 2.3 -, em que a ênfase
seja respectivamente para Roma e para centenário, a exemplo do que fizemos para Juiz de Fora em 2.1:
2.1. Ênfase para Juiz de Fora: Murilo Mendes, que viveu muitos anos em Roma e teve seu centenário
de nascimento comemorado neste 2001, nasceu em Juiz de Fora.
2.2. Ênfase para Roma:
2.3. Ênfase para o centenário:
Gabarito:
2.2. Ênfase para Roma:
Murilo Mendes, que nasceu em Juiz de Fora e teve seu centenário de nascimento comemorado neste
2001, viveu muitos anos em Roma.
2.3. Ênfase para o centenário:
Murilo Mendes, que nasceu em Juiz de Fora e viveu muitos anos em Roma, teve seu centenário de
nascimento comemorado neste 2001.
Questão 05
Reúna os quatro períodos simples a seguir, formando um só período composto. Para tanto, observe as
seguintes orientações:




organize as orações numa ordem lógica;
empregue conectivos adequados, conforme as determinações entre parênteses;
faça as adaptações (morfológicas e/ou sintáticas) necessárias;
não omita nem acrescente qualquer informação.
As emissoras de TV investem, cada vez mais, em programas apelativos.
(considere essa oração como sendo a principal)
Os programas apelativos garantem elevados índices de audiência.
(essa oração deve iniciar o período, estabelecendo, com a principal, relação de finalidade)
Os programas apelativos são considerados eticamente condenáveis.
(essa oração deve ligar-se à principal, estabelecendo relação de concessão)
Os programas apelativos expõem, de modo mesquinho, as chagas e mazelas sociais.
(essa oração deve finalizar o período, estabelecendo relação de causa com a anterior)
Gabarito:
As emissoras de TV investem, cada vez mais, em programas apelativos, para garantir elevados índices de
audiência, embora estes sejam considerados eticamente condenáveis, porque expõem, de modo
mesquinho, as chagas e mazelas sociais.
Questão 06
Estas duas estrofes encontram-se em "O samba da minha terra", de Dorival Caymmi:
Quem não gosta de samba
bom sujeito não é,
é ruim da cabeça
ou doente do pé.
Eu nasci com o samba,
no samba me criei,
do danado do samba
nunca me separei.
2
a) Reescreva a primeira estrofe, iniciando-a com a frase afirmativa "Quem gosta de samba" e fazendo as
adaptações necessárias para que se mantenha a coerência do pensamento de Caymmi. NÃO utilize
formas negativas.
b) Reescreva os dois primeiros versos da segunda estrofe, substituindo as formas "nasci" e "me criei",
respectivamente, pelas formas verbais correspondentes de "provir" e "conviver" e fazendo as
alterações necessárias.
Gabarito:
a) Quem gosta de samba / bom sujeito é / é são da cabeça / ou sadio do pé
b) Eu provim do samba / no samba convivi
Questão 07
a) Suponha que o texto abaixo vá ser divulgado em um "site" da "Internet" sobre o tratamento da dor e que
você é o revisor encarregado de garantir a qualidade da redação. Reescreva-o, eliminando TRÊS
problemas de redação apresentados.
A dor faz com que o paciente, já debilitado em consequência da enfermidade, vê-se incapacitado de
realizar as mais simples atividades que está habituado, tais como cuidar da higiene pessoal, alimentarse e levantar-se do leito. É necessário, então, cuidados muito especiais, para evitar piora na qualidade
de vida do paciente.
b) Reescreva o texto abaixo, pontuando-o.
A moral epicurista
A moral epicurista é uma moral hedonista o fim supremo da vida é o prazer que é concebido como o
único bem o único mal é a dor nenhum prazer deve ser recusado a não ser por causa de consequências
dolorosas e nenhum sofrimento deve ser aceito a não ser em vista de um prazer no epicurismo não se trata
portanto do prazer desejado pelo homem vulgar trata-se do prazer avaliado pela razão
escolhido prudentemente.
(texto extraído e adaptado do site www.mundodosfilosofos.com.br/epicurismo.htm)
Gabarito:
a) A dor faz com que o paciente, já debilitado em consequência da enfermidade, veja-se incapacitado
de realizar as mais simples atividades a que está habituado, tais como cuidar da higiene pessoal,
alimentar-se, levantar-se do leito, etc. São necessários, então, cuidados muito especiais, para
evitar piora na qualidade de vida do paciente.
b) A moral epicurista é uma moral hedonista. O fim supremo da vida é o prazer, que é concebido
como o único bem; o único mal é a dor. Nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de
consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceito, a não ser em vista de um prazer.
No epicurismo não se trata, portanto, do prazer desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer
avaliado pela razão, escolhido prudentemente.
Questão 08
a) Nos seguintes períodos, há excesso de construções subordinadas, com uso enfadonho de "quês".
Reescreva-os, eliminando todos os "quês" destacados. Faça as alterações necessárias, mas mantenha
o sentido original. (Não é permitido substituir "que" por "o qual", "a qual" e respectivas flexões).
Estudos recentes indicam QUE o riso é um dos melhores remédios para os males da alma. Os
cientistas descobriram que ele é um dos principais processos QUE deflagram a produção da serotonina,
QUE é a substância QUE é responsável pela sensação de bem-estar. Gargalhadas e sorrisos francos fazem
com QUE aumente a quantidade de serotonina QUE o organismo libera, podendo evitar que as pessoas
entrem em estados depressivos.
b) Nas expressões abaixo, é sempre possível inverter a ordem entre o termo de valor SUBSTANTIVO e o
termo de valor ADJETIVO? A inversão acarreta sempre uma mudança sensível no significado da
expressão? Dê respostas completas e justificadas.
I.
estímulo ambiental
II.
relação maravilhosa
III.
resposta certa
Gabarito:
a) Estudos recentes indicam ser o riso um dos melhores remédios para os males da alma. Os
cientistas descobriram que ele é um dos principais processos deflagadores da produção da
serotonina, substância responsável pela sensação de bem-estar. Gargalhadas e sorrisos francos
provocam o aumento da quantidade de serotonina liberada pelo organismo, podendo evitar que as
pessoas entrem em estados depressivos.
3
b)
A inversão entre o termo de valor substantivo e o termo de valor adjetivo é perfeitamente possível
nas expressões "relação maravilhosa" e "resposta certa", não sendo, entretanto, natural se
aplicada à expressão "estímulo ambiental". Entre os dois casos de inversão possível e natural,
apenas em (iii) há mudança sensível no significado: quando posposta ao substantivo, a palavra
"certa" corresponde a "correta"; quando anteposta, equivale a "determinada".
Questão 09
A(s) questão(ões) seguintes tomam por base a oitava estrofe do Canto VI de OS LUSÍADAS, de Luís de
Camões (1524?-1580), e o poema A ONDA, de Manuel Bandeira (1886-1968).
OS LUSÍADAS, VI, 8
No mais interno fundo das profundas
Nereidas e outros Deuses do mar, onde
Cavernas altas, onde o mar se esconde,
As águas campo deixam às cidades
Lá donde as ondas saem furibundas,
Que habitam estas úmidas Deidades.
(in: CAMÕES, Luís de. OS LUSÍADAS. Lisboa: Imprensa
Quando às iras do vento o mar responde,
Nacional, 1971. p.195.)
Netuno mora e moram as jucundas
A ONDA
a onda anda
aonde?
aonde anda
aonde?
a onda?
a onda a onda
(in: BANDEIRA, Manuel. ESTRELA DA VIDA INTEIRA.
a onda ainda
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1966.
ainda onda
p.286.)
ainda anda
Gabarito:
a) - campo: objeto direto
- estas úmidas Deidades: sujeito
b) As águas deixam campo às cidades, Que estas úmidas Deidades habitam.
Questão 10
Ouvir alguém falar não é como tornar a ouvi-lo através de uma máquina: o que ouvimos, quando temos um
rosto diante de nós, nunca é o que ouvimos, quando, diante de nós, há uma fita que gira. Um reluzir de
olhos, um agitar de mãos, às vezes, torna aceitável a frase mais idiota. Mas sem aquelas mãos, sem
aqueles olhos, a frase se desnuda em toda a sua desconcertante idiotice.
(Oriana Fallaci. OS ANTIPÁTICOS)
a) Complete, mantendo o sentido do texto, o segmento A frase mais idiota torna-se, às vezes, aceitável, A
NÃO SER QUE.......
b) Termine a frase A PRESENÇA FÍSICA DE NOSSO INTERLOCUTOR...... com uma conclusão que
sintetize o texto.
Gabarito:
a) ...haja um reluzir de olhos ou um agitar de mãos
b) é que dá vida ao texto.
é que possibilita a comunicação
Questão 11
Ao se discutirem as ideias expostas na assembleia, chegou-se à seguinte conclusão: pôr em confronto
ESSAS IDEIAS com outras menos polêmicas seria avaliar melhor o peso DESSAS IDEIAS, à luz do
princípio geral que vem regendo AS MESMAS IDEIAS.
a) Transcreva o texto, substituindo as expressões destacadas por PRONOMES PESSOAIS que lhes
sejam correspondentes e efetuando as alterações necessárias.
b) Reescreva a oração AO SE DISCUTIREM AS IDEIAS EXPOSTAS NA ASSEMBLEIA, introduzindo-a
pela conjunção adequada e mantendo a correlação entre os tempos verbais.
Gabarito:
a) pô-LAS em confronto
avaliar melhor o SEU peso ou
avaliar melhor o peso DELAS
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que AS VEM regendo ou
que vem regendo-AS ou
que vem regendo A ELAS.
b)
ASSIM QUE se discutiram ou
LOGO QUE se discutiram
Questão 12
Os trechos que seguem mostram que certas construções típicas do português falado, consideradas
incorretas pelas gramáticas normativas da língua, já estão sendo utilizadas na modalidade escrita.
 Concentre sua atenção nas matérias que você tem maior dificuldade.. (Fovest, 03/01/89)
 Uma casa, onde na frente funcionava um bar, foi totalmente destruída por um incêndio, na
madrugada de ontem.
("O Liberal, Belém", 27/09/89)
a) Transcreva as marcas típicas da linguagem oral presentes nos trechos acima.
b) Reescreva-as de modo a adequá-las às exigências da gramática normativa.
Gabarito:
a) "... nas matérias que você tem maior dificuldade..."
"Uma casa, onde na frente funcionava..."
b) ...nas matérias em que você tem...
Uma casa, em cuja frente funcionava...
Questão 13
"Não tenho dúvidas de que a reportagem esteja à procura da verdade, mas é preciso ressalvar de que a
história não pode ser escrita com base exclusivamente em documentos da polícia política."
("O Estado de São Paulo", 30/08/93)
Das duas ocorrências de DE QUE, no excerto acima, uma está correta e a outra não.
a) Justifique a correta.
b) Corrija a incorreta, dizendo por quê.
Gabarito:
a) "dúvidas de que". O termo DÚVIDA rege a preposição DE.
b) Mas é preciso ressalvar que a história... O verbo ressalvar é transitivo, não admitindo preposição.
Questão 14
TEXTO
LEITURA E ESCRITA COMO EXPERIÊNCIA - O AVESSO
Quando penso na leitura como experiência (na escola, na sala de aula ou fora delas), refiro-me a
momentos em que fazemos comentários sobre livros ou revistas que lemos, trocando, negando, elogiando
ou criticando, contando mesmo. Enfim, situações em que - tal como uma viagem, uma aventura - fale-se de
livros e de histórias, contos, poemas ou personagens, compartilhando sentimentos e reflexões, plantando
no ouvinte a coisa narrada, criando um solo comum de interlocutores, uma comunidade, uma coletividade.
O que faz da leitura uma experiência é entrar nessa corrente em que a leitura é partilhada e, tanto quem lê,
quanto quem propiciou a leitura ao escrever, aprendem, crescem, são desafiados.
Defendo a leitura da literatura, da poesia, de textos que têm dimensão artística, não por erudição.
Não é o acúmulo de informação sobre clássicos, sobre gêneros ou sobre estilos, escolas ou correntes
literárias que torna a leitura uma experiência, mas sim o modo de realização dessa leitura: se é capaz de
engendrar uma reflexão para além do seu momento em que acontece; se é capaz de ajudar a compreender
a história vivida antes e sistematizada ou contada nos livros.
(KRAMER, Sônia. In: ZACCUR, Edwiges (org.). A magia da linguagem. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE, 1999.)
Defendo a leitura da literatura, da poesia, de textos que têm dimensão artística, NÃO POR ERUDIÇÃO.
(texto II)
a) Embora o trecho destacado não se inicie por conectivo, seria possível acrescentar-lhe conjunção,
preservando a relação de sentido com o conjunto da frase.
Aponte duas conjunções diferentes que, no mesmo contexto, poderiam introduzir o trecho em destaque.
Indique também o tipo de relação de sentido que estas conjunções estabelecem na frase.
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b) De acordo com a argumentação desenvolvida pela autora, justifique a presença da forma negativa no
trecho destacado.
Gabarito:
a) - Mas, porém
- Sentido de oposição
b) A autora valoriza o ato de ler como experiência ou vivência.
Questão 15
I.
II.
III.
Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado...
Uma surpresa: tão bom, aquele livro!
Nenhum aborrecimento na leitura.
a) Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases acima, articule-as num único
período. Empregue os verbos e os nexos oracionais necessários à clareza, à coesão e à coerência
desse período.
b) Transcreva o período abaixo, virgulando-o adequadamente:
A obrigação de ler um livro como toda obrigação indispõe-nos contra a tarefa imposta mas pode ocorrer
se encontrarmos prazer nessa leitura que o peso da obrigação desapareça.
Gabarito:
a) Desespero meu: leitura obrigatória de livro, no entanto foi uma surpresa, pois era muito bom aquele
livro, cuja leitura não causou nenhum aborrecimento.
b) A obrigação de ler um livro, como toda obrigação, indispõe-nos contra a tarefa imposta, mas pode
ocorrer, se encontrarmos prazer nessa leitura, que o peso da obrigação desapareça.
Questão 16
"O racismo não é apenas uma ideologia social e política. É também uma teoria que se pretende científica,"
O trecho acima contém dois períodos que, embora sejam sintaticamente independentes, estão unidos por
uma certa relação de sentido.
Utilizando conectivos, reescreva este trecho em um só período composto por orações coordenadas, de
modo que a relação de sentido seja mantida.
Gabarito:
Um dentre os períodos:
- O racismo não é apenas uma ideologia social e política, mas também uma teoria que se pretende
científica.
- O racismo é não só uma ideologia social e política, mas ainda uma teoria que se pretende científica.
Questão 17
Leia, com atenção, os dois textos apresentados a seguir. O primeiro (Texto I) foi publicado na seção "Dos
Leitores", do Jornal do Brasil, de 28/08/2001. O segundo (Texto II), também uma carta de leitor, foi
publicado na seção "Deu no JB", do mesmo jornal, em sua edição de 01/09/2001.
TEXTO I
DOS LEITORES
"Fiquei profundamente ofendido com a proposta do presidente da República de adotar o sistema
obrigatório de cotas para estudantes negros. Isso é um insulto. Sou negro. O governo deveria estar
preocupado em oferecer um ensino básico de qualidade - tal qual era antes - e em larga escala, tal como é
necessário nos dias de hoje. E não precisaríamos desse sistema vexatório de cotas, porque os negros
teriam reais condições de disputar uma vaga na universidade."
M. Ribeiro, Diadema (SP)
TEXTO II
RESERVA
"Sou negro, com três pós-graduações, professor universitário e militante do movimento negro.
Concordo em todos os sentidos com o editorial do JORNAL DO BRASIL de 28/8 e também afirmo que o
sistema de cotas, como ação afirmativa, é paliativo imprescindível para diminuir a histórica defasagem
sociocultural entre negros e brancos na sociedade brasileira, bem como para modificar a forma como essa
questão foi enxergada até então. Sem dúvida, a implementação de um ensino de excelência nas escolas
públicas seria parte da solução. As condições de sobrevivência das famílias negras, incluindo trabalho,
remuneração, condições de saúde, segurança, auto-estima, minimizadas por tantos anos de opressão,
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terão de também receber especial atenção. Os dados do Ipea apontam para a perenização da
desigualdade. As elites brasileiras governantes nunca demonstraram interesse em corrigir essa dolorosa
dívida social que empurra multidões de jovens negros para a desesperança. É preciso encarar a utópica
democracia racial brasileira e indicar ações concretas para a mudança desse quadro. Parabéns ao
presidente da República pela coragem de incluir o sistema de cotas nas proposições a serem apresentadas
pelo Brasil na África do Sul."
J. Furtado, Rio de Janeiro.
Releia as sentenças a seguir, selecionadas dos Textos I e II:
"O governo deveria estar preocupado em oferecer um ensino básico de qualidade (...) E não
precisaríamos desse sistema vexatório de cotas, porque os negros teriam reais condições de disputar uma
vaga na universidade."
(Texto I)
"É preciso encarar a utópica democracia racial brasileira E indicar ações concretas."
(Texto II)
a) A relação sintático-semântica estabelecida pelo conector E nos dois contextos destacados é a
mesma? Explique.
b) Sugira um conector que possa substituir E no exemplo selecionado do Texto I ("E não precisaríamos
...").
Gabarito:
a) O conector E não estabelece a mesma relação sintático-semântica. No texto I, o E estabelece uma
ideia de conclusão; enquanto em II, uma ideia de adição.
b) O conector E poderia ser substituído por: assim, dessa forma...
Questão 18
Considere os textos de Aníbal Machado e Cecília Meireles para responder às questões.
TEXTO 1
O GRANDE CLANDESTINO
Eu me distraio muito com a passagem do tempo.
Chego às vezes a dormir. O tempo então
[aproveita e passa escondido.
Mas com que velocidade!
Basta ver o estado das coisas depois que
[desperto: quase todas fora do lugar, ou
[desaparecidas; outras com uma prole
[imensa;
O que é preciso é nunca dormir, e ficar vigilante,
[para obrigá-lo ao menos a disfarçar a
[evidência de suas metamorfoses.
(...)
Contudo, não se deve ligar demasiada
[importância ao tempo. Ele corre de
[qualquer maneira.
É até possível que não exista.
Seu propósito evidente é envelhecer o mundo.
Mas a resposta do mundo é renascer sempre para
[o tempo.
(Aníbal Machado)
TEXTO 2
O TEMPO E OS RELÓGIOS
Creia-se ou não, todo mundo sente que o tempo passa. Não precisamos olhar para o espelho nem para
nenhum relógio: o tempo está em nosso coração, e ouve-se; o tempo está em nosso pensamento, e lembrase. "Vou matando o tempo, enquanto o tempo não me mata" - respondia-me na Índia um grande homem
amigo meu, cada vez que perguntava como ia passando.
(...)
7
Em todo caso, esses são os tempos grandes. O tempo pequeno é o dos nossos relógios.
(Cecília Meireles)
Muitos recursos linguísticos garantem ao texto a sua coesão e expressividade.
a) No texto de Aníbal Machado, os termos "mas" (3º verso) e "contudo" (6º verso) têm a mesma função
coesiva e expressiva? Justifique a sua resposta.
b) No trecho do texto 2 "Não precisamos olhar para o espelho nem para nenhum relógio: o tempo está em
nosso coração, e ouve-se...", os dois pontos poderiam ser substituídos por um conectivo para ligar as
orações. Reescreva o trecho, explicitando esse elemento de ligação das orações.
Gabarito:
a) MAS está mais como recurso expressivo: E com que velocidade!
O contudo exprime ideia de oposição.
b) "Não precisamos olhar para o espelho nem para nenhum relógio, pois o tempo está em nosso
coração, e ouve-se..."
Questão 19
1500
A imaginação do senhor
Flutua sobre a baía.
As pitangas e os cajus
Descansam o dia inteiro.
O céu, de manhã à tarde,
Faz pinturas de baú.
O Pão de Açúcar sonhou
Que um carro saiu da Urca
Transportando com amor
Meninas muito dengosas,
Umas, nuinhas da silva,
Outras, vestidas de tanga,
E mais outras, de maillot.
Chega um índio na piroga,
Tira uma gaita do cinto,
Desfia um lundu tão bom
Que uma índia sai da onda,
Suspende o corpo no mar.
Nasce ali mesmo um garoto
Do corpo moreno dela,
No dia seguinte mesmo
O indiozinho já está
De arco e flecha na mão
Olhando pro fim do mar
De repente uma fragata
Brotou do chão da baía,
Sai um velho de tamancos,
Fica em pé no portaló,
Dá um grito: "Bofé, vilões!
Descobrimos um riacho
E a fruta aqui é bem boa."
No mesmo instante o garoto
Lhe respondeu "Sai, azar!
"Despede uma flecha no velho
Cheiinho de barbas brancas,
Pensa que é Dão Sebastião,
Dá um tremor no seu corpo
E zarpou para Lisboa.
(MENDES, Murilo. POESIA COMPLETA E PROSA. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar. 1994. pp. 143-144)
Para mostrar uma sucessão de fatos, o poeta utiliza um tipo de combinação de orações que é
predominante em todo o poema.
a) Como se chama esse tipo de combinação?
b) Transcreva três versos consecutivos que exemplifiquem tal procedimento.
Gabarito:
a) Coordenação.
Versos 27 a 29
b) Há várias opções:
Sai um velho de tamancos,
Fica em pé no portaló,
Versos 14 a 16
Chega um índio na piroga,
Dá um grito: "Bofé, vilões!
Tira uma gaita do cinto,
Versos 28 a 30
Desfia um lundu tão bom
Fica em pé no portaló,
Dá um grito: "Bofé, vilões!
Versos 25 a 27
De repente uma fragata
Descobrimos um riacho
Brotou do chão da baía,
Versos 29 a 31
Sai um velho de tamancos,
Dá um grito: "Bofé, vilões!
Descobrimos um riacho
E a fruta aqui é bem boa."
Questão 20
Mas ele me tratou com o respeito que se dedica a um colega.
Justifique o uso da conjunção coordenativa adversativa MAS, nesse período.
Gabarito:
A Conjunção MAS expressa uma OPOSIÇÃO ou RESSALVA á ideia anterior.
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Questão 21
O texto a seguir está publicado em obra dedicada "aos milhares de famílias de brasileiros sem terra".
LEVANTADOS DO CHÃO
Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Como embaixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão?
Habitar uma lama sem fundo?
Como em cama de pó se deitar?
Num balanço de rede sem rede
Ver o mundo de pernas pro ar?
Como em sonho correr numa estrada?
Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da Terra tombar?
Como assim? Levitante colono?
Pasto aéreo? Celeste curral?
Um rebanho nas nuvens? Mas como?
Boi alado? Alazão sideral?
Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Ou na planta dos pés uma terra
Como água na palma da mão?
Que esquisita lavoura! Mas como?
Um arado no espaço? Será?
Choverá que laranja? Que pomo?
Gomo? Sumo? Granizo? Maná?
(HOLLANDA, Chico Buarque de. ln: SALGADO,
Sebastião. TERRA. S P: Companhia das Letras, 1997. p.
111.)
Atenção - vocabulário:
pomo (penúltimo verso) - fruto
maná (último verso) - alimento divino, alimento caído do céu
No texto, o eu-lírico constrói progressivamente sua visão da realidade: nas estrofes 1, 2, 3, tenta decifrar o
significado da imagem "levantados do chão"; nas estrofes 4, 5, 6, vai reforçando sua opinião crítica sobre
a realidade.
Releia:
"Um rebanho nas nuvens? Mas como?" (verso 19)
"Um arado no espaço? Será?" (verso 22)
Nos versos acima, a conjunção adversativa "mas" e o futuro do presente do indicativo são utilizados para
enfatizar esse posicionamento crítico.
Explique por quê.
Gabarito:
Tanto a conjunção adversativa "mas" quanto o futuro do presente do indicativo "Será" enfatizam a
dúvida e o questionamento quanto àquilo que as imagens "rebanho das nuvens" e "arado do
espaço" expressam.
ou
A conjunção adversativa "mas" indica a oposição do eu-lírico à ideia expressa pela imagem formulada
anteriormente, no verso 19. E o futuro do presente do indicativo "Será" é empregado para marcar a
dúvida quanto àquilo que a imagem apresentada no verso 22 representa.
Questão 22
"Somos desiguais/ e queremos ser/ sempre desiguais/ E queremos ser/ bonzinhos benévolos/
comedidamente/ sociologicamente/ mui bem comportados"
a) Pleonasmo é a figura de linguagem através da qual a redundância de termos de sentido equivalente
confere à expressão mais vigor ou clareza.
Transcreva integralmente apenas um verso do fragmento acima em que um pleonasmo expressa crítica
irônica, e explique, em frase completa, por que se trata de ironia.
b) A estilística nos aponta meios diferentes de expressas o mesmo conteúdo, expandindo ou reduzindo
o texto.
Empregando a conjunção aditiva e, reescreva os versos "comedidamente/ sociologicamente", fazendo
apenas as alterações necessárias para eliminar a repetição do sufixo-mente, sem modificar o sentido
original do verso.
Explique, em uma frase completa, a diferença estilística entre os versos originais e sua resposta.
Gabarito:
a) "bonzinhos benévolos"
A justaposição com o sintagma "queremos ser/sempre desiguais" torna claro que o sintagma
subsequente "E queremos ser/bonzinhos benévolos" tem sentido irônico.
b) comedia/e sociologicamente.
A reescritura tornou o texto mais sintético e evitou o eco.
9
Questão 23
Reorganize as ideias do texto a seguir, em apenas um parágrafo. Deixe claras as relações entre elas,
servindo-se de conectivos que reduzam o trecho a poucos períodos.
A mulher enfrenta sérios obstáculos no mercado de trabalho. A mulher negra é duas vezes
discriminada. Pesquisa do IBGE: 84,5% das mulheres negras brasileiras são chefes de família.
Ganham até três salários mínimos. Os homens brancos chegam a ganhar até quatro vezes mais que as
mulheres negras, nas mesmas atividades.
(Adaptado de "Marginalidade à flor da pele". ISTO É, 30-08-1995, p.34.)
Gabarito:
A mulher enfrenta sérios obstáculos no mercado de trabalho, mas a mulher negra é duas vezes
discriminada, pois, segundo pesquisa do IBGE, 84% das mulheres negras brasileiras são chefes de família
e ganham até três salários mínimos, enquanto os homens brancos chegam a ganhar nas mesmas
atividades, até quatro vezes mais.
Questão 24
"As suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham."
Observando o período acima, responda:
a) Que tipo de relação se estabelece entre as duas orações através da conjunção "E"?
b) Como pode ser justificado o emprego do segundo verbo do período no presente, enquanto o primeiro
apresenta-se no pretérito?
Gabarito:
a) De oposição.
b) A ação de colocar água já se esgotou, mas a ação de murchar persiste no presente.
Questão 25
Leia atentamente as frases apresentadas abaixo.
1. Hungria, Holanda e Camarões não tinham grande tradição, e assombraram o mundo.
(M. Rodrigues. O Estado de S. Paulo, 14/05/94, 0-2)
2. Bandeira livre e bandeira oficial foram comuns, posto que em graus diversos, a todo o Brasil.
(Jaime Cortesão. Introdução à História das Bandeiras. Lisboa: Portugalia, 1976. p.228)
3. Como as pernas trôpegas exigiam repouso, descia raro à cidade.
(Graciliano Ramos. Infância. São Paulo: Marins, 1972. p.195)
a) Classifique as conjunções sublinhadas.
b) Transcreva as frases, mantendo seu sentido original e substituindo as conjunções por outras que lhes
sejam correspondentes.
Gabarito:
1. adversativa - no entanto
2. concessiva - embora, ainda que
3. causal - porque, visto que
Questão 26
A carta abaixo reproduzida foi publicada em outubro de 2007, após declaração sobre a legalização do
aborto feita por Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro.
Sobre a declaração do governador fluminense, Sérgio Cabral, de que ―as mães faveladas são uma fábrica
de produzir marginais‖, cabe indagar: essas mães produzem marginais apenas quando dão à luz ou
também quando votam?
(Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seção Painel do
Leitor, Folha de São Paulo, 29/10/2007.)
a) Há uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa
ironia. Justifique.
b) Nessa ironia, marca-se uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em
função da presença de uma construção sintática, a crítica não incorre em uma oposição. Indique a
construção sintática que relativiza essa crítica. Justifique.
Gabarito:
a) "... essas mães produzem marginais apenas quando dão à luz ou também quando votam?" A
declaração do governador do Rio de Janeiro diz que mães faveladas dão à luz bandidos, criminosos. O
leitor, ironicamente, faz referência implícita aos escândalos recentes que envolvem a política nacional.
Assim, questiona-se a honestidade de vários políticos, inclusive a do próprio governador.
10
b)
A crítica ao governador deveria ser feita com a oração coordenada alternativa iniciada pela
conjunção ou (com sentido excludente). No entanto, a ideia de oposição desaparece ou fica
relativizada pelo uso da palavra também, que passa a admitir o ponto de vista do governador.
Ironicamente, o autor da carta, por uma construção sintática equivocada, passa a aderir àquilo que
desejava condenar.
Questão 27
Mesmo tendo sido incluído muitas vezes entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e opunha–se
a eles de forma crítica.
Tendo em vista que uma oração estabelece uma relação de sentido com o restante do período em que está
inserida e considerando o exemplo acima, responda ao que se pede.
a) Explique qual é a relação de sentido que a oração sublinhada acima estabelece com o restante
do período.
b) Reescreva essa oração de duas maneiras diferentes, substituindo mesmo por outros conectivos e
mantendo o sentido original do período.
Gabarito:
a) A oração sublinhada estabelece uma relação de concessão em relação ao restante do período.
b) – Ainda que tenha sido incluido muitas vezes entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e
opunha-se a eles de forma crítica.
- Embora tenha sido incluido muitas vezes entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação e
opunha-se a eles de forma crítica.
- Conquanto tenha sido incluido muitas vezes entre os sofistas, Sócrates recusava tal classificação
e opunha-se a eles de forma crítica.
Questão 28
AMOR DE PERDIÇÃO
E Simão Botelha fugindo à claridade da luz e ao voejar das aves, meditando, chorava e escrevia assim
as suas meditações:
―O pão do trabalho de cada dia, e o teu seio para repousar uma hora a face, pura de manchas: não pedi
mais ao céu.
Ache-me homem aos dezesseis anos. Vi a virtude à luz do teu amor. Cuidei que era santa a paixão que
absorvia todas as outras, ou as depurava com o seu fogo sagrado.
Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo que eu não possa confessar alto diante
de todo o mundo. Dize tu, Teresa, se os meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a
Deus quando quis eu fazer do meu amor o teu opróbrio.
Nunca, Teresa! Nunca, ó mundo que me condenas!
Se teu pai quisesse que eu me arrastasse a seus pés para te merecer, beijar-lhos-ia. Se tu me
mandasse morrer para te não privar de ser feliz com outro homem, morreria, Teresa!‖
in: CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição –A Brasileira de Prazins. São Paulo:Difusão
Europeia do Livro, 1971, p. 151.
Observe, no fragmento de Amor de Perdição, o período ―Se teu pai quisesse que eu me arrastasse a seus
pés para te merecer, beijar-lhos-ia.‖ e responda:
a) Quais são os pronomes átonos que se acham contraídos na forma lhos e que funções sintáticas
exercem na oração em que se encontram?
b) A que personagem do texto se refere o possessivo seus em ―que eu me arrastasse a seus pés‖?
Gabarito:
a) Na forma pronominal ―lhos‖, aparecem contraídos os pronomes átonos lhe e os, que exercem,
respectivamente, as funções sintáticas de adjunto adnominal e de objeto direto.
Observação: embora exista uma forte tendência em classificar, nesse caso, o lhe como adjunto
adnominal, a boa literatura especializada contempla a possibilidade de classificá-lo como objeto
indireto – por exemplo, em beijar as mãos a El-Rey (beijar-lhe as mãos).
b) Em vista da correlação de pessoas e da compatibilidade de sentido, o pronome possessivo ―seus‖,
neste contexto, só pode ter como referência o pai de Teresa.
Questão 29
SONETO
Deserta a casa está... Entrei chorando,
De quarto em quarto, em busca de ilusões!
Por toda a parte as pálidas visões!
Por toda a parte as lágrimas falando!
Vejo meu pai na sala, caminhando,
Da luz da tarde aos tépidos clarões,
De minha mãe escuto as orações
Na alcova, aonde ajoelhei rezando.
11
Brincam minhas irmãs (doce lembrança!...),
Na sala de jantar... Ai! mocidade,
És tão veloz, e o tempo não descansa!
Como é tardia a última esperança!...
Meu Deus, como é tamanha esta saudade!...
(José Bonifácio, o Moço. Poesias. São Paulo:Conselho
Estadual de Cultura, 1962)
Oh! sonhos, sonhos meus de claridade!
VISITA À CASA PATERNA
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo:
Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.
Entrei. Um Gênio carinhoso e amigo,
O fantasma, talvez, do amor materno,
Tomou-me as mãos, — olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
(Luís Guimarães Junior, Sonetos e Rimas)
Para atender a necessidades de ritmo e de rima, os poetas praticam com naturalidade e frequência
inversões e deslocamentos no padrão de disposição dos termos na oração (sujeito, verbo, complementos).
Partindo desta constatação, analise a estrutura sintática das frases ―Brincam minhas irmãs na sala de
jantar‖ e ―Chorava em cada canto uma saudade‖ e, logo após,
a) reescreva-as na ordem que seus termos apresentariam de acordo com o padrão mencionado;
b) demonstre as identidades que há entre as duas orações no que diz respeito às funções sintáticas dos
termos que as constituem.
Gabarito:
a) ―Minhas irmãs brincam na sala de jantar‖; ―Uma saudade chorava em cada canto‖.
b) Ambas as orações apresentam as seguintes funções sintáticas: verbo – sujeito – adjunto adverbial
de lugar. A diferença entre elas, quanto à distribuição dos termos, está em que o adjunto adverbial
se encontra no fim da primeira oração e no meio (entre o verbo e o sujeito) da segunda.
Questão 30
a) Leia os textos 1 e 2, extraídos de A casa, que servirão de base para esta questão.
Texto 1
01
Invisível como o vento e os encantos, a Morte apossara-se do frágil sopro do menino pagão 02na noite
em que a porta se abrira dando-lhe passagem. Assisti assim também, pela primeira 03vez, à estranha
permuta que sempre ocorreria quando Ela cumpria sua missão: deixava na 04criança uma estranha
imobilidade e carregava sua miúda e irrequieta sombra.
CAMPOS, Natércia. A casa. Fortaleza: Edições UFC, 2004, p. 17.
Texto 2
01
Era uma noite de luar, ela com extrema cautela saiu do quarto e retornou com o tamborete da
02
cozinha. Surpreendi-me ao sentir que, ao voltar a bela Maria para seu quarto, Ela viera na 03sua
companhia. Ambas trancaram-se, aferrolhando a grande porta (...). Do quarto Ela saiu 04com aquela
vida, deixando ficar seu rastro no torturado rosto de Maria.
CAMPOS, Natércia. A casa. Fortaleza: Edições UFC, 2004, p. 54-55.
Escreva V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se afirma a seguir.
a.1) ( ) No texto 1, os pronomes lhe (linha 02) e Ela (linha 03) referem-se à mesma personagem.
a.2) ( ) O termo aquela vida (texto 2, linha 04) remete à vida da bela Maria (texto 2, linha 02).
a.3) ( ) No texto 2, Ela (linha 03) tem como referente a bela Maria (linha 02).
a.4) ( ) Têm sujeitos elípticos as formas verbais Assisti (texto 1, linha 02) e ocorreria (texto 1, linha 03).
a.5) ( ) Classificam-se como pronomes relativos: que (texto 1, linha 02) e que (texto 2, linha 02).
a.6) ( ) Há prefixo e sufixo na formação das palavras Invisível (texto 1, linha 01) e imobilidade (texto 1, linha 04).
a.7) ( ) A acentuação gráfica das palavras Invisível (texto 1, linha 01) e miúda (texto 1, linha 04) justifica-se
pela mesma regra.
b)
Leia o que abaixo se afirma acerca do aposto.
Pode-se ampliar, explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida num termo que exerça qualquer
função sintática por meio de um termo acessório a ele equivalente: o aposto. O aposto pode ser
12
classificado, de acordo com seu valor na oração, em: explicativo, enumerativo, resumidor ou
recapitulativo, comparativo e especificativo.
DE NICOLA, José; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da
língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997, p. 281.
Nos períodos a seguir, os trechos em negrito exercem a função de aposto. Classifique-os de acordo com
seu valor na oração.
b.1) Invisível como o vento e os encantos, a Morte apossara-se do frágil sopro do menino pagão na noite
em que a porta se abrira dando-lhe passagem.
b.2) Quando a Velha-do-Chapéu-Grande, assim o empalhador de cangalhas para montarias chamava a
fome, empoleirou-se de vez, assistindo ao padecer dos viventes, há muito haviam se apartado as
águas (...).
c) Construa uma frase em que Bisneto figure como aposto especificativo.
Gabarito:
a) VVFFFVF;
b) comparativo, explicativo;
c) uma frase como Era na Trindades que a personagem Bisneto mais gostava de viver ou O menino
Bisneto viera gêmeo com uma menina.
Questão 31
Texto 1
ESQUECER ALGUMAS COISAS FACILITA LEMBRAR OUTRAS
Esquecer uma informação menos importante, mediante um processo de memória seletiva, torna mais
fácil lembrar um dado mais relevante, segundo um estudo elaborado por cientistas dos Estados Unidos.
Para chegar a esta conclusão, que a revista científica britânica ―Nature Neuroscience‖ traz em sua última
edição, os especialistas fizeram ressonâncias magnéticas em indivíduos enquanto estes tentavam lembrar
associações de palavras que tinham aprendido anteriormente.
5
Durante os exames, os cientistas analisaram o comportamento do córtex pré-frontal, a parte do cérebro
que participa do processo de recuperação das informações armazenadas na memória. Como se fosse uma
competição em que uma informação vence quando outra é descartada, quanto maior o número de coisas
que os pesquisados esqueciam, menos ativo o córtex pré-frontal se mostrava, isto é, menos recursos o
cérebro precisava usar para recuperar uma informação.
Portanto, para os indivíduos que participaram da experiência, foi muito mais simples lembrar uma
associação de palavras ao esquecer outras.
Adaptado de texto disponível em: Yahoo Notícias, <http://br.noticias.yahoo.com>, 03 de junho de 2007.
Texto 2
ESQUECIMENTO DE IMPRESSÕES E CONHECIMENTOS
Também nas pessoas saudáveis, não neuróticas, encontramos sinais abundantes de que uma
resistência se opõe à lembrança de impressões penosas, à representação de pensamentos aflitivos. [...]
O ponto de vista aqui desenvolvido – de que as lembranças aflitivas sucumbem com especial facilidade
ao esquecimento motivado – merece ser aplicado em muitos campos que até hoje lhe concederam muito
pouca ou nenhuma atenção. 5Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente na
avaliação dos testemunhos prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da
testemunha capaz de exercer uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças
psíquicas. É universalmente reconhecido que, no tocante à origem das tradições e da história legendária de
um povo, é preciso levar em conta esse tipo de motivo, cuja meta é apagar da memória tudo o que seja
penoso para o sentimento nacional.
FREUD, Sigmund. Fragmento de Sobre a psicopatologia da vida cotidiana. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. VI, Tradução dirigida por Jayme Salomão, Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.
152-153.
a) Os Textos 1 e 2 tematizam o esquecimento, associando sua ocorrência a fatores distintos. Diga quais
são esses fatores e compare-os quanto à sua natureza.
b) No experimento descrito no Texto 1, que relação foi observada entre a menor atividade do córtex préfrontal e o desempenho dos participantes na tarefa proposta?
c) Leia o período abaixo, extraído do Texto 2 (linhas 5-7), e retire o termo oracional que exerce a mesma
função sintática de muito divertida em O menino achou muito divertida a comédia.
―Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente na avaliação dos
testemunhos prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da testemunha
capaz de exercer uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas
forças psíquicas.‖
13
Gabarito:
a) O Texto 1 associa o esquecimento a fatores de natureza neurofisiológica: processos de memória
seletiva relacionados ao modo como o cérebro armazena e recupera informações. O Texto 2, por
sua vez, vincula o esquecimento a fatores de ordem psicológica: forças psíquicas ligadas à
necessidade de evitar lembranças particularmente aflitivas e desagradáveis.
b) A menor atividade do córtex pré-frontal foi relacionada a um melhor desempenho dos pesquisados
na tarefa experimental envolvendo associações de palavras.
c) O termo oracional que exerce a mesma função sintática da expressão destacada é ―capaz de
exercer uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas‖. (A
função sintática nos dois casos é predicativo).
Questão 32
CORTE NA ALDEIA
– A minha inclinação em matéria de livros (disse ele), de todos os que estão presentes é bem conhecida;
somente poderei dar agora de novo a razão dela. Sou particularmente afeiçoado a livros de história
verdadeira, e, mais que às outras, às do Reino em que vivo e da terra onde nasci; dos Reis e Príncipes que
teve; das mudanças que nele fez o tempo e a fortuna; das guerras, batalhas e ocasiões que nele houve; dos
homens insignes, que, pelo discurso dos anos, floresceram; das nobrezas e brasões que por armas, letras,
ou privança se adquiriram. [...]
[...]
– Vós, senhor Doutor (disse Solino) achareis isso nos vossos cartapácios; mas eu ainda estou
contumaz. Primeiramente, nas histórias a que chamam verdadeiras, cada um mente segundo lhe convém,
ou a quem o informou, ou favoreceu para mentir; porque se não forem estas tintas, é tudo tão misturado que
não há pano sem nódoa, nem légua sem mau caminho. No livro fingido contam-se as cousas como era bem
que fossem e não como sucederam, e assim são mais aperfeiçoadas. Descreve o cavaleiro como era bem
que os houvesse, as damas quão castas, os Reis quão justos, os amores quão verdadeiros, os extremos
quão grandes, as leis, as cortesias, o trato tão conforme com a razão. E assim não lereis livro em o qual se
não destruam soberbos, favoreçam humildes, amparem fracos, sirvam donzelas, se cumpram palavras,
guardem juramentos e satisfaçam boas obras. [...] Muito festejaram todos o conto, e logo prosseguiu
o Doutor:
– Tão bem fingidas podem ser as histórias que merecem mais louvor que as verdadeiras; mas há
poucas que o sejam; que a fábula bem escrita (como diz Santo Ambrósio), ainda que não tenha força de
verdade, tem uma ordem de razão, em que se podem manifestar as cousas verdadeiras.
(Francisco Rodrigues Lobo, Corte na Aldeia)
A leitura do último período do fragmento de Rodrigues Lobo revela que o escritor valeu-se com
elegância do recurso à elipse para evitar a repetição desnecessária de elementos. Com base
nesta observação,
a) aponte, na série enumerativa que começa com a oração ―se não destruam soberbos‖, os vocábulos que
são omitidos, por elipse, nas outras orações da série;
b) considerando que as sete orações da série enumerativa se encontram na chamada ―voz passiva
sintética‖, indique o sujeito da primeira oração e as características de flexão e concordância que
permitem identificá-lo.
Gabarito:
a) "em o qual se não" é estrutura elíptica que deve ser repetida na leitura da série.
b) Como se trata de voz passiva, o sujeito paciente é "soberbos", justificando a utilização do verbo
"destruir" no plural.
Questão 33
Para Pirandello, o cômico nasce de uma “percepção do contrário”, como no famoso exemplo de uma
velha já decrépita que se cobre de maquiagem, veste-se como uma moça e pinta os cabelos. Ao se
perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria ser, produz-se
o riso, que nasce da ruptura das expectativas, mas sobretudo do sentimento de superioridade. A “percepção
do contrário” pode, porém, transformar-se num “sentimento do contrário” – quando aquele que ri procura
entender as razões pelas quais a velha se mascara, na ilusão de reconquistar a juventude perdida. Nesse
passo, a velha da anedota não mais está distante do sujeito que percebe, porque este pensa que também
poderia estar no lugar da velha – e seu riso se mistura com a compreensão piedosa e se transforma
num sorriso.
Para passar da atitude cômica para a atitude humorística, é preciso renunciar ao distanciamento e ao
sentimento de superioridade.
Adaptado de Elias Thomé Saliba, Raízes do riso.
14
a) Considerando o que o texto conceitua, explique brevemente qual a diferença essencial entre a
―percepção do contrário‖ e o ―sentimento do contrário‖.
b) ―Ao se perceber que aquela senhora velha é o oposto do que uma respeitável velha senhora deveria
ser, produz-se o riso (...)‖.
Sem prejuízo para o sentido do trecho acima, reescreva-o, substituindo se perceber e produz-se por
formas verbais cujo sujeito seja nós e é o oposto por não corresponde. Faça as
adaptações necessárias.
Gabarito:
a) "percepção do contrário" implica distanciamento do outro, gerando um sentimento de superioridade
da parte daquele que vê, pois este percebe uma realidade que o outro ignora (no caso, o ridículo da
situação). Já "sentimento do contrário" implica proximidade do outro, buscando entender as razões
do comportamento alheio.
b) Ao percebermos que aquela senhora velha não corresponde ao que uma velha senhora deveria ser,
produzimos o riso.
Obs.: seguindo as orientações dadas, fatalmente haverá prejuízo para o sentido do texto. Em
"produz-se", o riso é espontâneo; já em "produzimos", o riso é provocado.
Questão 34
Analise a tira.
(Folha de S.Paulo, 10.12.2008)
a) No primeiro quadrinho, a palavra Deus ocorre na fala das duas personagens. Explique a função
sintática que ela assume em cada uma dessas ocorrências.
b) No segundo quadrinho, a personagem afirma: Preciso de provas. Supondo que ela utilizasse uma frase
completa, com as informações do seu interlocutor, reescreva a frase que resultaria dessa mistura,
iniciando com Preciso de provas e justificando a escolha dos elementos que devem unir as informações.
Gabarito:
a) No primeiro caso, Deus é um sujeito (pratica a ação expressa pelo verbo da oração e concorda com
esse verbo); no segundo caso, é agente da passiva (pratica a ação expressa pelo verbo, mas não
concorda com ele)
b) Começando com as informações da segunda fala e articulando-as com as da primeira obtém-se:
Preciso de provas de que você é filho de Deus. No caso, houve a necessidade da preposição de e
da conjunção que, completando o sentido do substantivo provas, na formação de um
período composto.
Questão 35
Leia o texto.
ACELERAÇÃO TECNOLÓGICA
Em média, os bioplásticos são 30% mais caros que os plásticos convencionais. Apesar do preço alto,
estima-se que eles possam representar 10% do total do mercado brasileiro em 2012. De olho nesse
potencial, a belgo-argentina Solvay Indupa assinou um contrato com a cooperativa de produtores de álcool
e açúcar Copersucar para o fornecimento do etanol que será usado na fabricação de PVC. Na mesma linha
de parcerias, a gigante do setor Dow Chemical buscou a Crystalsec para montar o primeiro pólo
alcoolquímico integrado do mundo na região do Triângulo Mineiro, com investimentos estimados em
1,5 milhão de reais.
A produção de cana estará lado a lado com a fábrica de plásticos.
(Exame, 24.09.2008)
15
a) Reescreva a frase, flexionando adequadamente o verbo auxiliar no futuro do presente e o verbo
principal no particípio: 1,5 milhão SER + INVESTIR para montar o primeiro pólo alcoolquímico integrado
do mundo.
b) Reescreva a expressão – ... para o fornecimento do etanol... – transformando fornecimento em verbo, e
explique a alteração sintática ocorrida com etanol.
Gabarito:
a) 1,5 milhão será investido para montar o primeiro pólo alcoolquímico integrado do mundo.
b) …para fornecer etanol... O termo 'etanol' passou a completar o verbo fornecer, assim, etanol
transforma-se, sintaticamente, em objeto direto.
Questão 36
Bechara afirma:
1. ―Os complementos dos verbos transitivos diretos recebem o nome de objeto direto (isto é,
complemento não encabeçado por preposição necessária).‖
2. ―Os complementos dos verbos transitivos indiretos recebem o nome de objeto indireto (isto é,
complemento encabeçado por preposição necessária).‖
(BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 9. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1964. p. 254)
Entendendo ―necessária‖ como ―requerida pela intenção comunicativa do emissor‖ e dadas as frases
1. ―Comi do bolo de aniversário‖ e ―Comi o bolo de aniversário‖
2. ―Obedeço a meus superiores‖ e ―Obedeço meus superiores‖
Analise os complementos em (1) e (2) e mostre em que os exemplos contradizem Bechara nas suas
explicações entre parênteses.
Gabarito:
não fornecido
Questão 37
Leia o texto.
ONU APOSTA NA PRODUÇÃO DE PINHÃO MANSO COMO BIOCOMBUSTÍVEL
Duas organizações das Nações Unidas ligadas à agricultura, a Organização da ONU para a Agricultura
e a Alimentação (FAO) e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), apostam no
potencial do cultivo da Jatropha curcas, conhecida como Pinhão Manso, para produzir biocombustível e
beneficiar agricultores pobres.
Para estas organizações, o Pinhão Manso cresce "razoavelmente bem em zonas áridas e em solos
degradados de utilidade marginal para a agricultura" e "pode ser transformado em um biodiesel menos
contaminante do que o de origem fóssil a fim de oferecer às famílias rurais pobres um combustível para
produzir luz e cozinhar". A notícia foi recebida com entusiasmo por agricultores que cultivam a planta.
"Ao contrário de outros biocombustíveis importantes, como o milho, o Pinhão Manso não é utilizado
como alimento e pode ser cultivado em terras degradadas, onde não crescem plantas alimentícias", diz
o relatório.
EFE. ONU aposta na produção de Pinhão Manso como biocombustível.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 22 jul. 2010. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/770754-onu-apostana-producao-de-pinhao-manso-como-biocombustivel.shtml>.
Acesso em: 28 set. 2010. (Adaptado).
a) A passagem de uma sentença da voz passiva para a voz ativa ou vice-versa exige determinadas
transformações sintáticas. Levando isso em conta, passe a sentença ―A notícia foi recebida com
entusiasmo por agricultores que cultivam a planta‖ para a voz ativa.
b) Explique por que a passagem da frase ―o Pinhão Manso não é utilizado como alimento‖ para a voz ativa
é dificultada no contexto em que aparece.
Gabarito:
a) Agricultores que cultivam a planta receberam a notícia com entusiasmo.
b) A dificuldade em passar a frase para a voz ativa reside principalmente no fato de que o agente da
passiva – que ocuparia o lugar de sujeito gramatical na voz ativa – não está expresso na sentença,
de modo que ela ficaria incompleta sintaticamente se fosse colocada na voz ativa (não utiliza o
Pinhão Manso como alimento).
16
Questão 38
CANTIGAS DE ACORDAR MULHER
Vagueio aquém do teu sono
com alma de marinheiro
feliz de chegar a um porto
sem previsão no roteiro,
mais tonto de o descobrir
que de lhe ser estrangeiro.
Teu continente a dormir
- pouso de barco ligeiro pára os relógios num tempo
avesso a qualquer ponteiro:
nem sei se o fico vivendo
ou se te acordo primeiro.
(...)
Bom é sorrires, olhar
em mim: não vês
o inimigo, o rival
jamais.
Na caça, não serás
a presa; não serás,
no jogo, a prenda.
Partilharemos, sem meias
medidas,
a espera, o arroubo, o gesto,
o salto, o pouso, o sono
e o gosto desse rir
dentro e fora do tempo
sempre que nova mente
acordares.
(...)
Acorda, meu bem, acorda:
são horas de vigilar
feliz quem menos recorda
e faz do tempo passar
monjolo-pêndulo-corda
tocando um relógio de ar
onde o momento concorda
com ser eterno e findar!
Acorda, meu bem, acorda
e ajuda teu madrugar:
a mão do dia transborda
de coisas para te dar!
(CAMPOS, Geir. Antologia poética. Rio de Janeiro: Léo
Christiano Editorial, 2003.)
O emprego de figuras de linguagem é uma conhecida característica do discurso poético. O poema
"Cantigas de Acordar Mulher" apresenta metáforas relacionadas a mais de um campo semântico.
a) Note que, na primeira estrofe (l. 1 a 12), o eu-lírico exprime seu movimento em direção ao ser amado
por meio de uma sequência metafórica iniciada pelo substantivo "marinheiro".
Relacione mais quatro substantivos presentes neste trecho que pertençam à referida
sequência metafórica.
b) Na última estrofe (l. 28 a 39), o poeta empregou uma antítese e uma hipérbole.
Transcreva os versos correspondentes a cada uma dessas figuras.
Gabarito:
a) Porto, roteiro, continente, barco.
b) Antítese:"onde o momento concorda/com ser eterno e findar"
Hipérbole: "a mão do dia transborda/de coisas pra te dar"
Questão 39
Leia o seguinte texto:
Os irmãos Villas Bôas não conseguiram criar, como queriam, outros parques indígenas em outras
áreas. Mas o que criaram dura até hoje, neste país juncado de ruínas novas.
a) Identifique o recurso expressivo de natureza semântica presente na expressão ―ruínas novas‖.
b) Que prática brasileira é criticada no trecho ―país juncado (= coberto) de ruínas novas‖?
Gabarito:
a) Trata-se de um paradoxo, pois "ruínas" sugere estado de degradação, escombros, e daí coisas
velhas, o que entra em contradição com o adjetivo "novas".
b) O autor se refere a uma das nossas características culturais, a do pouco empenho na preservação
de nosso patrimônio, o que faz com que muito do que é novo logo entre em estado de decadência.
Questão 40
Em sua coluna na Folha Ilustrada, Mônica Bergamo comenta sobre o curta-metragem previsto para ser
lançado em novembro de 2003 - "Um Caffé com o Miécio". Transcrevemos parte da coluna a seguir:
(...) Quando ouvia a trilha sonora do curta "Um Caffé com o Miécio", que Carlos Adriano finaliza sobre o
caricaturista, colecionador de discos e estudioso Miécio Caffé (1920-2003), Caetano Veloso se encantou por
uma música específica. Era a desconhecida marchinha "A Voz do Povo", de Malfitano e Frazão, que
Orlando Silva gravou em 1940, cuja letra diz "QUE raiva danada QUE eu tenho do povo, QUE não me deixa
ser original". "É um manifesto, como SUA obra", disse o MÚSICO BAIANO ao CINEASTA PAULISTANO.
(Adaptado de Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 11/10/2003, p. E2).
17
a) Explique o título do curta-metragem.
b) Identifique pelo menos duas possibilidades de leitura de "SUA obra" e justifique cada uma delas.
c) As três ocorrências da partícula "QUE" destacadas estabelecem relações de natureza linguística
diversa. Explicite-as.
d) Os dois trechos MÚSICO BAIANO e CINEASTA PAULISTANO retomam elementos anteriormente
apresentados no texto de maneira diferente dos recursos analisados nos itens b e c. Como funciona
esse processo de retomada?
Gabarito:
a) Faz-se um jogo com o nome de Miécio Caffé, sendo o sobrenome tomado como substantivo
comum.
b) Sua obra pode se referir a obra dos compositores mencionados: Malfitano e Frazão, Orlando Silva,
Miécio Caffé e Carlos Adriano.
Caetano fala que a obra de Carlos Adriano, cineasta, é um manifesto; ou que a obra de Orlando
Silva, o qual gravou a marchinha em 1940, é um manifesto
c) Primeiro: adjetivo (dá intensidade ao substantivo raiva)
Segundo: objeto de tenho
Terceiro: sujeito de deixa
d) As expressões grifadas substituem dois nomes próprios para evitar repetições. Tal substituição é
de tipo metonímico. Trata-se de uma figura de linguagem chamada antonomásia.
TEXTO: 1 - Comum à questão: 41
NO SINAL
Ricardo Freire
- Bem-vindo ao Esmola's Drive-Thru.
- Como?
- Bem-vindo ao Esmola's Drive-Thru.
- Peraí. Eu passo aqui há 20 anos e até ontem esse lugar era um sinal de trânsito. Semáforo. Farol.
Sinaleira.
- Era, mas agora é mais uma franquia do Esmola's Drive-Thru. Com concessão da prefeitura e tudo.
Taqui, ó. Parte da renda é revertida para a Associação Municipal dos Bi-Rodais.
- Cuma?
- Bi-Rodais. O pessoal que anda em cadeira de rodas. Politicamente correto, sacumé. Agora, por favor,
peça pelo número.
- Não entendi.
- Peça pelo número. Não tá vendo o menu ali no painel ao lado do semáforo? Naquele poste ali?
Embaixo do cartaz do candidato a vereador...
- Tô sem óculos.
- Eu ajudo. Número 1, abordagem seca, rápida, objetiva e fim de papo: 1 real. Mas esse não dá mais
porque o senhor ficou aí embaçando.
- Sei.
- Número 2, abordagem piedosa com criança no colo e uso das palavras "tio" ou "tia": 50 centavos.
- Criança branca ou preta?
- A que estiver disponível no momento.
- Claro.
- Número 3, abordagem infantil com caixa de dropes à mão: trerreal para carro importado, dorreal para
carro nacional do ano, 1 real para "outros". Grátis, um dropes.
- Grátis?
- Grátis. O doutor só paga a contribuição social e o dropes vai de brinde.
- Ah, tá.
"ÉPOCA", Ed. Globo: São Paulo, 326, 16 ago. 2004, p. 122.
Questão 41
Observando os recursos linguísticos utilizados no texto "No sinal", responda:
a) Por que a presença de expressões do tipo "cuma" e "parte da renda é revertida para a Associação
Municipal dos Bi-Rodais" caracteriza o texto como heterogêneo quanto aos níveis de linguagem?
b) Por que o motorista utiliza a repetição por sinonímia para se referir ao sinal de trânsito?
18
Gabarito:
a) Opções de resposta:
RESPOSTA 1
O texto é considerado heterogêneo porque é construído ora com recurso de linguagem não padrão,
informal (cuma), ora com recursos de linguagem padrão, normativa, formal ("parte da renda revertida
para a Associação Municipal dos Bi-Rodais").
RESPOSTA 2
"Cuma" é uma expressão característica da linguagem coloquial, enquanto "parte da renda revertida
para a Associação Municipal dos Bi-Rodais" é característica da linguagem culta.
b) Opções de resposta:
RESPOSTA 1
O motorista faz uso da repetição para expressar sua irritabilidade, sua impaciência, sua perplexidade
diante da nova prática de mendicância.
RESPOSTA 2
A repetição utilizada pelo motorista serve para demonstrar a sua insatisfação com a mudança
ocorrida no espaço onde, até o dia anterior, era apenas um sinal de trânsito e que recebeu um novo
destino (vendas de produtos e prática de mendicância).
TEXTO: 2 - Comum à questão: 42
Omar se dirigiu à mãe, abriu os braços para ela, como se fosse ele o filho ausente, e ela o recebeu com
uma efusão que parecia contrariar a homenagem a Yaqub. Ficaram juntos, os braços dela enroscados no
pescoço do Caçula, ambos entregues a uma cumplicidade que provocou ciúme em Yaqub e inquietação
em Halim.
"Obrigado pela festa", disse ele, com um quê de cinismo na voz. "Sobrou comida para mim?"
"Meu Omar é brincalhão", Zana tentou corrigir, beijando os olhos do filho. "Yaqub, vem cá, vem abraçar
o teu irmão."
HATOUM, Milton. "Dois irmãos". São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.24.
Questão 42
Na Língua Portuguesa, dependendo do contexto, os pronomes ditos "possessivos" nem sempre indicam
relação de posse entre entidades (possuidor/coisa possuída). Quanto ao uso de "meu" e "teu" na fala de
Zana, que tipo de relações semânticas cada um desses elementos expressa?
Gabarito:
Opções de resposta:
RESPOSTA 1
O uso de "meu Omar" expressa uma relação de parentesco, uma relação familiar, entre Zana e seu filho
Omar ou expressa ainda a preferência de Zana pelo filho Omar, e o uso de "teu irmão" apresenta uma
relação de parentesco entre Omar e Yakub, destacando a relação de irmandade entre os filhos de Zana
e, ainda, reforçando o desejo de Zana em aproximar os dois irmãos.
RESPOSTA 2
Em ambos os casos, têm-se o sentido possessivo-afetivo. No primeiro caso, "meu" trata-se da
aproximação da mãe para com seu filho; no segundo, de seu afastamento pela atribuição do vínculo
afetivo aos filhos.
TEXTO: 3 - Comum à questão: 43
A CORRIDA DO OURO
Duzentos anos de buscas foram necessários para que os portugueses chegassem ao ouro de sua
América. Aos espanhóis não se apresentou o problema da procura e pesquisa dos metais preciosos. Assim
que desembarcaram no México, na Colômbia ou no Peru, seus olhos mercantis foram ofuscados pelo ouro
e prata que os homens da terra ostentavam nas suas armas, adornos e utensílios. Junto às suas
civilizações, o gentio havia desenvolvido a exploração e o trabalho dos metais, para eles mais preciosos
pelas suas serventias que pelo poder e valor que agregavam ao homem da Europa cristã, de alma lapidada
pela cultura ocidental. O primeiro trabalho que tiveram os castelhanos foi o de imediatamente afirmarem a
inferioridade daquele homem que se recusava a total subserviência à majestade de Deus e d'el Rei, através
de concepções bastante convenientes a seus propósitos. O brilho do metal, como o canto da sereia, tornouos surdos a qualquer apelo contrário que não fosse o da ambição pelo ouro e pela prata, tornando-os
insensíveis a qualquer consideração humana no "trabalho" de submetimento do indígena, até o seu
extermínio ou à redução, dos que sobreviveram, à condição de servos ou escravos nas fainas
da mineração.
19
Os sucessos castelhanos atiçaram os colonos portugueses a iniciarem suas buscas, seja pelo encanto
daquelas descobertas, seja pelas fantasias que se criaram a partir delas: de tesouros fabulosos perdidos
nas entranhas generosas das Américas; de relatos imprecisos de indígenas vindos do interior; de noções
equivocadas da geografia do continente como a da proximidade do Peru; ou mesmo de alguns possíveis
indícios concretos, surgiram lendas como as de Sabarabuçu e as de Paraupava, que avivavam os colonos
na procura de pedras e metais preciosos.
(MENDES Jr., A., RONCARI, L. e MARANHÃO, R. "Brasil história": texto e consulta.
São Paulo. Brasiliense, 1979.)
Questão 43
O caráter informativo predomina no texto, que enfoca a exploração das riquezas minerais do 'Novo Mundo'
pelo invasor europeu nos séculos XVII e XVIII.
a) Baseado nas informações fornecidas pelo texto, explique a diferença de importância atribuída ao ouro
pelo homem americano e pelo europeu.
b) Apesar do caráter predominantemente informativo, encontram-se nesse texto recursos expressivos
como as figuras de linguagem. Transcreva e explique a metonímia que ocorre nos trechos iniciais do
primeiro parágrafo.
Gabarito:
a) Para o homem americano, o ouro era matéria prima de utensílios, armas e ornamentos, e para o
homem europeu era fonte de poder e meio de riqueza.
b) olhos mercantis
Emprego da parte pelo todo.
TEXTO: 4 - Comum à questão: 44
SOBRE O SENTAR-/ESTAR-NO-MUNDO
A Fanor Cumplido Jr.
1. Ondequer que certos homens se sentem
2. sentam poltrona, qualquer o assento.
3. Sentam poltrona: ou tábua-de-latrina,
4. assento além de anatômico, ecumênico,
5. exemplo único de concepção universal,
6. onde cabe qualquer homem e a contento.
*
1. Ondequer que certos homens se sentem
2. sentam bancos ferrenhos de colégio;
3. por afetuoso e diplomata o estofado,
4. os ferem nós debaixo, senão pregos,
5. e mesmo a tábua-de-latrina lhes nega
6. o abaulado amigo, as curvas de afeto.
7. A vida toda, se sentam mal sentados,
8. e mesmo de pé algum assento os fere:
9. eles levam em si os nós-senão-pregos,
10. nas nádegas da alma, em efes e erres.
(Melo Neto, J.C.de. A educação pela pedra. In: Poesias completas. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.)
Questão 44
Nota-se no poema, um intenso trabalho com várias figuras de som: assonância, aliteração, coliteração, rima
interna, onomatopéia, paronomásia, etc. que conferem expressividade significativa ao texto. Dentre elas,
assinala-se a que se forma da relação entre sentem (última palavra do primeiro verso) e sentam (primeira
palavra do segundo verso) para que seja respondido o seguinte:
a) Quais os nomes das duas figuras que determinam a relação sentem/sentam no poema?
b) Explique os efeitos de sentido que essas figuras provocam na significação geral do poema.
Gabarito:
a) "sentem" e "sentam" dão ideia de aliteração, assonância e trocadilho.
b)
Passam a ideia de sentir e de sentar, ou seja, o ser humano pode sentir e perceber o que passa ao
seu redor ou se acomodar, não prestando a atenção a nada.
20
TEXTO: 5 - Comum à questão: 45
A Rodolfo Leite Ribeiro
(...) Noto nas poesias tuas, que o Vassourense tem publicado, muita naturalidade e cor local, além da
nitidez do estilo e correção da forma. Sentes e conheces o que cantas, são aprazivelmente brasileiros os
assuntos, que escolhes. Um pedaço de nossa bela natureza esplêndida palpita sempre em cada estrofe tua,
com todo o vigor das tintas que aproveitas. No "Samba" que me dedicas, por exemplo, nenhuma
particularidade falta dessa nossa dança macabra, movimento, graça e verdade ressaltam de cada um dos
quatorze versos, que constituem o soneto. / Como eu invejo isso, eu devastado completamente pelos
prejuízos dessa escola a que chamam parnasiana, cujos produtos aleijados e raquíticos apresentam todos
os sintomas da decadência e parecem condenados, de nascença, à morte e ao olvido! Dessa literatura que
importamos de Paris, diretamente, ou com escala por Lisboa, literatura tão falsa, postiça e alheia da nossa
índole, o que breve resultará, pressinto-o, é uma triste e lamentável esterilidade. Eu sou talvez uma das
vítimas desse mal, que vai grassando entre nós. Não me atrevo, pois, a censurar ninguém; lastimo
profundamente a todos! / É preciso erguer-se mais o sentimento de nacionalidade artística e literária,
desdenhando-se menos o que é pátrio, nativo e nosso; e os poetas e escritores devem cooperar nessa
grande obra de restauração. Não achas? Canta um poeta, entre nós, um Partenon de Atenas, que nunca
viu; outro os costumes de um Japão a que nunca foi... Nenhum, porém, se lembrara de cantar a Praia do
Flamengo, como o fizeste, e qualquer julgaria indigno de um soneto o Samba, que ecoa melancolicamente
na solidão das nossas fazendas, à noite. / Entretanto, este e outros assuntos vivem na tradição de nossos
costumes, e é por desprezá-los assim que não temos um poeta verdadeiramente nacional. / Qualquer
assunto, por mais chilro e corriqueiro que pareça ser, pode deixar de sê-lo, quando um raio do gênio o
doure e inflame. / Tu me soubeste dar uma prova desse asserto. Teus formosos versos é que hão de ficar,
porque eles estão alumiados pela imensa luz da verdade. Essa rota que me apontas é que eu deveria ter
seguido, e que, infelizmente, deixei de seguir. O sol do futuro vai romper justamente da banda para onde
caminhas, e não da banda por onde nós outros temos errado até hoje. / Continua, meu Rodolfo. Mais alguns
sonetos no mesmo gênero; e terás um livro que, por si só, valerá mais que toda a biblioteca de parnasianos.
Onde, nestes, a pitoresca simplicidade, a saudável frescura, a verdadeira poesia de teus versos?!
(Raimundo Correia. Correspondência. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961.)
Todos Cantam sua Terra...
(1929)
[...] Acha Tristão de Ataíde que a literatura brasileira moderna, apesar de tudo, enxergou qualquer
cousa às claras. Pois que deu fé que estava em erro. Que se esquecera do Brasil, que se expressava numa
língua que não era a fala do povo, que enveredara por terras de Europa e lá se perdera, com o mundo do
Velho Mundo. Trabalho deu a esse movimento literário atual, a que chamam de moderno, trazer a literatura
brasileira ao ritmo da nacionalidade, isto é, integrá-la com as nossas realidades reais. Mais ou menos isso
falou o grande crítico. Assim como falou do novo erro em que caiu esta literatura atual criando um
convencionalismo modernista, uma brasilidade forçada, quase tão errada, quanto a sua imbrasilidade. Em
tudo isso está certo Tristão.
Houve de fato ausência de Brasil nos antigos, hoje parece que há Brasil de propósito nos modernos.
Porque nós não poderíamos com sinceridade achar Brasil no índio que Alencar isolou do negro, cedendolhe as qualidades lusas, batalhando por um abolicionismo literário do índio que nos dá a impressão de que o
escravo daqueles tempos não era o preto, era o autóctone. O mesmo se deu com Gonçalves Dias em que o
índio entrou com o vestuário de penas pequeno e escasso demais para disfarçar o que havia de Herculano
no escritor.
[...]
Da mesma forma que os nossos primeiros literatos cantaram a terra, os nossos poetas e escritores de
hoje querem expressar o Brasil numa campanha literária de "custe o que custar". Surgiram no começo
verdadeiros manifestos, verdadeiras paródias ao Casimiro e ao Gonçalves Dias: "Todos dizem a sua terra,
também vou dizer a minha". E do Norte, do Sul, do sertão, do brejo, de todo o país brotaram grupos,
programas, proclamações modernistas brasileiras, umas ridículas à beça. Ninguém melhor compreendeu,
adivinhou mesmo, previu o que se ia dar, botando o preto no branco, num estudo apenso ao meu primeiro
livro de poesia em 1927, do que o meu amigo José Lins do Rego. (...)
Dois anos depois é o mesmo protesto de Tristão de Ataíde: "esse modernismo intencional não vale
nada!" Entretanto nós precisamos achar a nossa expressão que é o mesmo que nos acharmos.
E parece que o primeiro passo para o achamento é procurar trazer o homem brasileiro à sua realidade
étnica, política e religiosa.
[...] No seio deste Modernismo já se opera uma reação anti-ANTISINTAXE, anti-ANTIGRAMATICAL em
oposição ao desleixo que surgiu em alguns escritos, no começo. Nós não temos um passado literário
comprido (como têm os italianos, para citar só um povo), que nos endosse qualquer mudança no presente,
pela volta a ele, renascimento dele, pela volta de sua expressão estilística ou substancial. A nossa tradição
estilística, de galho deu, na terra boa em que se plantando dá tudo, apenas garranchos.
(Jorge de Lima. Ensaios. In: Poesias completas - v. 4. Rio de Janeiro: José Aguilar/MEC, 1974.)
21
Questão 45
Frequentemente, quer na fala, quer na escrita, em vez de nos referirmos diretamente a um fato, fazemo-lo
por meio de comparações, metáforas e alegorias. Com base neste comentário,
a) Estabeleça o significado efetivo da seguinte frase alegórica no texto de Raimundo Correia: "O sol do
futuro vai romper justamente da banda para onde caminhas, e não da banda por onde nós outros temos
errado até hoje."
b) Ciente de que a palavra "garrancho" apresenta, entre outras acepções, "letra mal traçada, quase
ilegível", identifique o aspecto desta acepção que Jorge de Lima mobiliza figuradamente no último
período de seu texto, para definir a produção literária brasileira anterior ao Modernismo.
Gabarito:
a) O autor olha o futuro e acredita que a história da nossa literatura não consagraria os produtos
artificiais do Parnasianismo, mas a obra mais autêntica e nacional que seu interlocutor estaria,
então, praticando.
b) O autor quer dizer que o potencial literário dos nossos escritores não havia sido atingido no
passado. Nossa literatura era pobre, precária.
TEXTO: 6 - Comum à questão: 46
SOLAR
Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.
(PRADO, Adélia. O coração disparado. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.)
Questão 46
Sobre o texto responda à questão seguinte:
Nesse pequeno poema, a escritora Adélia Prado consegue não só registrar um traço singular do cotidiano
da própria mãe, como também constrói dessa mulher um retrato, que apresenta duas facetas: uma, relativa
à posição social e outra, ao temperamento. Particularize essas duas facetas e aponte como a estruturação
sintática as instaura.
Gabarito:
O fato da mãe preparar a própria comida e de ser uma comida simples, que representa a alimentação de
uma classe social média à baixa, deixa clara a ideia de a mãe ser uma mulher simples, do lar.
Usar a Conjunção adversativa "mas", no trecho: "Mas cantava", demonstra que, mesmo sendo do lar e
simples, era feliz, pois o ato de cantar representa satisfação, leveza, alegria, e isso nos dá a ideia do
temperamento da mãe.
TEXTO: 7 - Comum à questão: 47
EM DEFESA DA LÍNGUA
Lede, que é tempo, os clássicos honrados;
Herdai seus bens, herdai essas conquistas,
Que em reinos dos romanos e dos gregos
Com indefesso estudo conseguiram.
Vereis então que garbo, que facúndia
Orna o verso gentil, quanto sem eles
É delambido e peco o pobre verso.
.......................................................
Abra-se a antiga, veneranda fonte
Dos genuínos clássicos e soltem-se
As correntes da antiga, sã linguagem.
Rompam-se as minas gregas e latinas
(Não cesso de o dizer, porque é urgente);
Cavemos a facúndia, que abasteça
Nossa prosa eloquente e culto verso.
Sacudamos das falas, dos escritos
Toda a frase estrangeira e frandulagem
Dessa tinha, que comichona afeia
O gesto airoso do idioma luso.
Quero dar, que em francês hajam formosas
Expressões, curtas frases elegantes;
Mas índoles dif‘rentes têm as línguas;
Nem toda a frase em toda a língua ajusta.
Ponde um belo nariz, alvo de neve,
Numa formosa cara trigueirinha
(Trigueiras há, que às louras se avantajam):
O nariz alvo, no moreno rosto,
Tanto não é beleza, que é defeito.
Nunca nariz francês na lusa cara,
Que é filha da latina, e só latinas
Feições lhe quadram. São feições parentas.
In: ELÍSIO, Filinto. Poesias. Lisboa: Livraria Sá da CostaEditora, 1941, p. 44 e 51.
O ESTILO
O estilo é o sol da escrita. Dá-lhe eterna palpitação, eterna vida. Cada palavra é como que um tecido do
organismo do período. No estilo há todas as gradações da luz, toda a escala dos sons.
O escritor é psicólogo, é miniaturista, é pintor — gradua a luz, tonaliza, esbate e esfuminha os longes
da paisagem.
O princípio fundamental da Arte vem da Natureza, porque um artista faz-se da Natureza.
22
Toda a força e toda a profundidade do estilo está em saber apertar a frase no pulso, domá-la, não a
deixar disparar pelos meandros da escrita.
O vocábulo pode ser música ou pode ser trovão, conforme o caso. A palavra tem a sua anatomia; e é
preciso uma rara percepção estética, uma nitidez visual, olfativa, palatal e acústica, apuradíssima, para a
exatidão da cor, da forma e para a sensação do som e do sabor da palavra.
In: CRUZ E SOUSA. Obra completa. Outras evocações. Rio de Janeiro: Aguilar, 1961, p. 677-8.
TÉCNICAS
A técnica artística, incluindo a literatura, se constitui, de começo, de um conjunto de normas objetivas,
extraídas da longa experiência, do trato milenário com os materiais mais diversos. Depois que se integra na
consciência e no instinto, na inteligência e nos nervos do artista, sofre profunda transfiguração. O artista
―assimilou-a‖ totalmente, o que significa que a transformou, a essa técnica, em si mesmo. Quase se poderia
dizer que substituiu essa técnica por outra que, tendo nascido embora da primeira, é a técnica
personalíssima, seu instrumento de comunicação e de transfiguração da matéria. Só aí adquiriu seu gesto
criador a autonomia necessária, a força imperativa com que ele se assenhoreia do mistério da beleza para
transfundi-lo em formas no mármore, na linha, no colorido, na linguagem.
A técnica de cada artista fica sendo, desta maneira, não um ―processo‖, um elemento exterior, mas a
substância mesma de sua originalidade. Inútil lembrar que tal personalíssima técnica se gera do encontro da
luta do artista com o material que trabalha.
In: SILVEIRA, Tasso da. Diálogo com as raízes(jornal de fim de caminhada). Salvador: EdiçõesGRD-INL, 1971, p. 23.
Questão 47
Quando um jornalista diz "Edmundo foi um leão em campo", serviu-se de uma metáfora: a palavra
"leão", com base numa relação analógica ou de semelhança, foi empregada, segundo se diz
tradicionalmente, em "sentido figurado". Uma amplificação desse procedimento consiste na alegoria, isto é,
no uso de uma série de metáforas concatenadas sintática e semanticamente. A possível cassação de um
político desonesto pode ser assim relatada, alegoricamente: "Esse homem público navega em mar
tempestuoso e seu barco pode naufragar antes mesmo de avistar o porto." Fundamentando-se nestes
conceitos e exemplos,
a) aponte a metáfora que ocorre na primeira frase do texto de Cruz e Sousa;
b) identifique e explique a alegoria utilizada por Filinto Elísio ao se referir à influência da língua francesa
sobre textos de escritores portugueses.
Gabarito:
a) Em "O estilo é o sol da escrita", sol está empregado metaforicamente. A frase implica semelhança
entre estilo e sol, pois o estilo seria para a escrita, assim como o sol para o mundo, a fonte de
"eterna palpitação, eterna vida".
b) Filinto Elísio elabora uma alegoria cujas metáforas centrais são: "belo nariz, alvo de neve" =
"formosa expressão" ou "curta frase elegante" da língua francesa; "formosa cara trigueirinha" =
"língua portuguesa", ou alguma obra elaborada em português. Segundo a alegoria em questão, o
nariz alvo, embora belo, ficaria mal no belo rosto trigueiro, pois não combinaria com ele.
TEXTO: 8 - Comum à questão: 48
TEXTO IV
ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL
1
Mil bateias vão rodando
Pelos córregos, definham
20
sobre córregos escuros;
negros, a rodar bateias.
a terra vai sendo aberta
Morre-se de febre e fome
por intermináveis sulcos;
sobre a riqueza da terra:
05
infinitas galerias
uns querem metais luzentes,
penetram morros profundos.
outros, as redradas2 pedras.
25
De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
10
prestígio, poder, engenho...
É tão claro! – e turva tudo:
honra, amor e pensamento.
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
30
e as cadeias vão subindo.
Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
15
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.
Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
– mas não se encontram vassalos.
35
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.
23
Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
40
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.
Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
45
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.
(MEIRELES, Cecília. Poesias completas. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1974.)
1
peneiras de madeira
depuradas, selecionadas
2
Questão 48
Há no poema de Cecília Meireles construções a que se atribui duplo sentido em virtude da natureza poética
do discurso.
a) A expressão Por ódio, cobiça, inveja (v. 31) desempenha dupla função sintática.
Aponte a palavra responsável por essa ambiguidade e identifique as funções sintáticas dessa expressão.
b) Na última estrofe, narra-se uma sequência de ações que giram em torno da busca de riqueza. O verso e
estendem punhos severos (v. 46) expressa, entretanto, um duplo sentido.
Explique sua duplicidade dentro da estrofe.
Gabarito:
a) Preposição por.
Agente da passiva e adjunto adverbial de causa.
b) anto significa o gesto de exigir ouro e prata (busca da riqueza) como a entrega dos punhos às
algemas (privação da liberdade).
TEXTO: 9 - Comum à questão: 49
TEXTO I
PROCURA DA POESIA
Não faças versos sobre acontecimentos.
(...)
Não há criação nem morte perante a poesia.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
(...)
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Não faças poesia com o corpo,
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
15
esse excelente, completo e confortável corpo,
Espera que cada um se realize e consume
[tão infenso à efusão lírica.
com seu poder de palavra
(...)
e seu poder de silêncio.
05
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
(...)
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Não dramatizes, não invoques,
Cada uma
20
não indagues. Não percas tempo em mentir.
tem mil faces secretas sob a face neutra
(...)
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
Não recomponhas
pobre ou terrível, que lhe deres:
tua sepultada e merencória infância.
Trouxeste a chave?
(...)
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião: 19
10
Penetra surdamente no reino das palavras.
livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.)
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
TEXTO II
A ESCOLHA DAS PALAVRAS
A eficiência de uma comunicação linguística depende, em última análise, da escolha adequada das
palavras, e a arte de bem falar e escrever é chamada, com razão, a arte da palavra.
Essa escolha é, em regra, muito mais delicada e muito menos simples do que à primeira vista
poderia parecer.
05
O sentido de uma palavra não é essencialmente uno, nitidamente delimitado e rigorosamente privativo
dela, à maneira de um símbolo matemático.
Há uma complexidade imanente, que se apresenta sob diversos aspectos.
(...)
Em matéria de sinonímia, é preciso, antes de tudo, ressalvar que não há a rigor o que muitas
gramáticas chamam os sinônimos perfeitos: eles só existem como tais nas listas dessas gramáticas.
10
Todos decorrem das significações diversas que adquire uma mesma coisa, de acordo com os diversos
interesses que tem para nós; um conceito ―neutro‖ se concretiza em duas ou mais denominações, segundo
valores específicos, e é assim que a palavra construção, que nos faz ver o conjunto arquitetônico, cede
lugar a prédio para objetivar o bem imóvel. É o interesse, e também a incerteza das apreciações, que
explica o fato de nos parecer haver muitas vezes à nossa escolha duas palavras sinônimas, como justo e
equitativo ou castigar e punir para qualificar uma ação ou um procedimento.
(CÂMARA JR., J. M. Manual de expressão oral e escrita. Rio de Janeiro: J. Ozon,1961.)
24
Questão 49
Observe a construção sintática dos seguintes trechos do texto II:
A eficiência de uma comunicação linguística depende, em última análise, da escolha adequada das
palavras, e a arte de bem falar e escrever é chamada, com razão, a arte da palavra. (l. 1 - 2)
É o interesse, e também a incerteza das apreciações, que explica o fato... (l. 13 - 14)
a) Dois constituintes do primeiro trecho não são essenciais para a compreensão de seu conteúdo.
Transcreva-os e explicite a informação que cada um acrescenta aos argumentos do autor.
b) Reescreva o segundo trecho de modo que a expressão o interesse e a incerteza desempenhe a função
de sujeito composto.
Gabarito:
a) em última análise / com razão
em última análise: acrescenta um raciocínio conclusivo
com razão: expressa ideia de confirmação
b) Uma dentre as alternativas:
São o interesse e a incerteza das apreciações que explicam o fato...
O interesse e a incerteza das apreciações é que explicam o fato...
O interesse e a incerteza das apreciações explicam o fato...
TEXTO: 10 - Comum às questões: 50, 51
Leia o fragmento abaixo, do conto A cartomante de Machado de Assis. Depois, responda à pergunta.
―Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o
estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse,
não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava
uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras na direção de Botafogo, onde residia;
Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.‖
Questão 50
Observe o seguinte trecho, extraído do texto:
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o
estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes ...
Justifique o uso de mas, nesse caso.
Gabarito:
O conectivo mas, que usualmente introduz orações coordenadas adversativas, tem nesse contexto seu
valor de oposição enfraquecido por estar estabelecendo uma correlação entre dois argumentos, sendo o
segundo uma intensificação da ideia exposta no primeiro.
Questão 51
Leia o fragmento abaixo, do conto A cartomante de Machado de Assis. Depois, responda à pergunta.
―Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o
estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse,
não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava
uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras na direção de Botafogo, onde residia;
Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.‖
Qual é o sujeito de ser amada, no texto. Explique.
TEXTO: 11 - Comum à questão: 52
TEXTO VI
O EX-CINECLUBISTA
(João Gilberto Noll)
Aquele homem meio estrábico, ostentando um mau humor maior do que realmente poderia dedicar a
quem lhe cruzasse o caminho e que agora entrava no cinema, numa segunda-feira à tarde, para assistir a
um filme nem tão esperado, a não ser entre pingados amantes de cinematografias de cantões os mais
exóticos, aquele homem, sim, sentou-se na sala de espera e chorou, simplesmente isso: chorou. Vieram lhe
25
trazer um copo d´água logo afastado, alguém sentou-se ao lado e lhe perguntou se não passava bem, mas
ele nada disse, rosnou, passou as narinas pela manga, levantou-se num ímpeto e assistiu ao melhor filme
em muitos meses, só isso. Ao sair do cinema, chovia.
Ficou sob a marquise, à espera da estiagem. Tão absorto no filme que se esqueceu de si. E não soube
mais voltar.
Gabarito:
No período ―Rita estava certa de ser amada‖, a oração destacada é uma subordinada substantiva
completiva nominal reduzida de infinitivo, que pode ser desdobrada da seguinte maneira: de que (ela) era
amada. Como na oração desdobrada, na reduzida o sujeito está oculto (ou elíptico), referindo-se a Rita.
Questão 52
O texto VI procura reproduzir na escrita uma característica da linguagem cinematográfica: ―o filme, sob o
ponto de vista formal, pode ser considerado como uma sequência de espaços e tempos concretamente
apresentados pela imagem.‖
(Enciclopédia Mirador-Internacional, s.v. cinema – 13.1.1).
Justifique a afirmativa, tomando por base a organização do plano sintático do texto.
Gabarito:
A sequência de espaços e tempos – antes e depois de assistir ao filme, dentro (1o e 2o períodos) e fora do
cinema (do 3o ao 5o período) – manifesta-se na predominância de estruturas coordenadas, justapostas,
sempre no passado, numa sequência rápida de ações (rosnou, passou as narinas pelas mangas, levantouse, assistiu ao filme), e com rupturas (aquele homem meio estrábico [...], aquele homem, sim, [...]). Esses
elementos sintáticos são alguns dos recursos que procuram reproduzir, na escrita, a linguagem
cinematográfica.
TEXTO: 12 - Comum à questão: 53
CARTA A MANUEL BANDEIRA, S. PAULO, 28-III-31
Manú,
bom-dia. Amanhã é domingo pé-de-cachimbo, e levarei sua carta, (isto é vou ainda rele-la pra ver si a
posso levar tal como está, ou não podendo contarei) pra Alcantara com Lolita que tambem ficarão
satisfeitos de saber que você já está mais fagueirinho e o acidente não terá consequencia nenhuma.
Esse caso de você ter medo duma possível doença comprida e chupando lentamente o que tem de
perceptivel na gente, pro lado lá da morte, é mesmo um caso serio. Deve ser danado a gente morrer
com lentidão, mas em todo caso sempre me parece inda, não mais danado, mas semvergonhamente
pueril, a gente morrer de repente. Eu jamais que imagino na morte, creio que você sabe disso. Aboli a
morte do mecanismo da minha vida e embora já esteja com meus trinteoito anos, faço projetos pra
daqui a dez anos, quinze, como si pra mim a morte não tivesse de ―vim‖... como todos pronunciam. A
idea da morte desfibra danadamente a atividade, dá logo vontade da gente deitar na cama e morrer,
irrita. Aboli a noção de morte prá minha vida e tenho me dado bem regularmente com êsse
pragmatismo inocente. Mas levado pela sua carta, não sei, mas acho que não me desagradava não me
pôr em contacto com a morte, ver ela de perto, ter tempo pra botar os meus trabalhos do mundo em
ordem que me satisfaça e diante da infalivel vencedora, regularisar pra com Deus o que em mim sobrar
de inutil pro mundo.
(MÁRIO DE ANDRADE. Cartas de Mário de
Andrade a Manuel Bandeira. Rio de Janeiro:
Organização Simões, 1958, p. 269-270.)
Questão 53
Envolvido, como declara mais de uma vez em suas cartas, na criação de um discurso literário próprio, culto,
mas com aproveitamentos de recursos e soluções da linguagem coloquial, Mário de Andrade apresenta nos
textos de suas cartas soluções de ortografia, pontuação, variações coloquiais de vocábulos e de regência
que podem surpreender um leitor desavisado.
Escreve, por exemplo, no último período do trecho citado, ―ver ela de perto‖, tal como se usa
coloquialmente. Aponte a forma que teria essa passagem em discurso formal, culto.
Gabarito:
―Vê-la de perto‖.
TEXTO: 13 - Comum à questão: 54
Texto 2:
Na Idade Média, no início dos tempos modernos, e por muito tempo ainda nas classes populares, as
crianças misturavam-se com os adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das
mães ou das amas, poucos anos depois de um desmame - ou seja, aproximadamente, aos sete anos de
idade. A partir desse momento, ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens,
26
participando com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos e dos jogos de todos os dias. O movimento
da vida coletiva arrastava numa mesma torrente as idades e as condições sociais, sem deixar a ninguém o
tempo da solidão e da intimidade. Nessas existências densas e coletivas, não havia lugar para um setor
privado. A família cumpria uma função - assegurava a transmissão da vida, dos bens e dos nomes – mas
não penetrava muito longe na sensibilidade.
(...)
A família moderna retirou da vida comum não apenas as crianças, mas uma grande parte do tempo da
preocupação dos adultos. Ela correspondeu a uma necessidade de intimidade e também de identidade: os
membros da família se unem pelo sentimento, o costume e o gênero de vida. As promiscuidades impostas
pela antiga sociabilidade lhes repugnam. Compreende-se que essa ascendência moral da família tenha sido
originariamente um fenômeno burguês: a alta nobreza e o povo, situados nas duas extremidades da escala
social conservaram por mais tempo as boas maneiras tradicionais, e permaneceram indiferentes à pressão
exterior. As classes populares mantiveram até quase nossos dias esse gosto pela multidão. Existe portanto
uma relação entre o sentimento da família e o sentimento de classe. Em várias ocasiões, ao longo deste
estudo, vimos que eles se cruzavam. Durante séculos os mesmos jogos foram comuns às diferentes
condições sociais; a partir do início dos tempos modernos, porém, operou-se uma seleção entre eles:
alguns foram reservados aos bem-nascidos, enquanto outros foram abandonados ao mesmo tempo às
crianças e ao povo. As escolas de caridade do século XVII, fundadas para os pobres, atraíam também as
crianças ricas. Mas a partir do século XVIII, as famílias burguesas não aceitaram mais essa mistura, e
retiraram suas crianças daquilo que se tornaria um sistema de ensino primário popular, para colocá-las nas
pensões ou nas classes elementares dos colégios, cujo monopólio conquistaram. Os jogos e as escolas,
inicialmente comuns ao conjunto da sociedade, ingressaram então num sistema de classes. Foi como se um
corpo social polimorfo e rígido se desfizesse e fosse substituído por uma infinidade de pequenas
sociedades - as famílias - e por alguns grupos maciços - as classes. As famílias e as classes reuniam
indivíduos que se aproximavam por sua semelhança moral e pela identidade de seu gênero de vida. O
antigo corpo social único, ao contrário, englobava a maior variedade possível de idades e condições.
Ariès, Philippe. Historia Social da Criança e da Família. 2ª. ed. Rio de
Janeiro: LTC Editora, 1981. pp. 194-6.
Questão 54
– Observe:
1. ―Mas a partir do século XVIII, as famílias burguesas não aceitaram mais essa mistura(...)‖ –
voz ativa
2. Mas a partir do século XVIII, essa mistura não foi mais aceita pelas famílias burguesas ... –
voz passiva analítica
Realize a transposição da frase abaixo para a voz passiva analítica, processando modificações,
se necessárias:
―O antigo corpo social único, ao contrário, englobava a maior variedade possível de idades
e condições.‖
b)
– No texto 1 - Feliz Aniversário, a festa de aniversário da matriarca é motivo para o encontro da família.
De acordo com o texto 2, ―os membros da família se unem pelo sentimento, o costume e o gênero de
vida.‖ Qual desses três fatores melhor se relaciona com a reunião familiar descrita no texto 1?
Justifique a sua resposta.
Gabarito:
a) Ao contrário, a maior variedade possível de idades e condições era englobada pelo antigo corpo
social único.
b) O costume é o fator que se relaciona com o texto 1. No conto, as personagens reúnem-se apenas
para atender a um costume, a uma regra social: a comemoração do aniversário da matriarca da
família. Não havia sentimento que as mobilizasse para esse encontro, e seus valores e estilos de
vida eram completamente diferentes.
a)
TEXTO: 14 - Comum à questão: 55
TEXTO II
JARDIM DA INFÂNCIA
Qualquer vegetal, pássaro, inseto
ou tremor de vento e onda
me tocam mais
que o mais acrílico artefato
5
e platinado aço da sala.
Há dois minutos um bem-te-vi pousou
nas grades do terraço, beliscou algo amarelo
e livre se foi marrom para o telhado.
27
Ah, minhas mesas, móveis, cama.
10
Eu não amaria sequer esses livros
se não soubesse da matéria orgânica
condensada em suas páginas.
Periquitos se coçam e piam na gaiola
fazendo amor sobre os poleiros
15
entre olhagens que me folham.
Estou comprando esses fascículos com tudo sobre plantas.
Tanto mais eu vivo
mais quero saber de ardísias e bocárnias,
peperônias e gloxínias.
20
Não sei como puderam nascer sem mim, em outras terras,
as edelweiss, blue bonnets, tulipas e cerejeiras.
Como pude respirar todo esse tempo
sem a diferença entre hibiscos e gardênias,
confundindo tumbérgias com hipocampos,
25
dama-da-noite com dama das camélias,
eu,
desmemoriado cavaleiro da rosa,
sem brincos de princesa,
trombetas e espadas de São Jorge,
30
mal sabendo que era na casa de Tia Antonieta
que nasciam as violetas africanas.
(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Que país é este? e outros poemas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.)
TEXTO III
VILA DOS CONFINS
Não há bicho mais velhaco do que urubu roceiro, morador em zona de criação, mal-acostumado pelo
daninho vício de comer umbigo de bezerro recém-parido.
Lá está o peste, de plantão. Refestelado1 que só ele, no galho alto do pé de angico esquecido no meio
do pasto. Passa homem, passa mulher e menino, passa boi, cavaleiro passa. A gente dobra o corpo, 5deita
mão em pedra. O urubu raciocina: mede o mal-inclinado do passante, calcula o tamanho e o peso da pedra,
adivinha até aonde pode chegar aquele meio quilo de maldade. Pensa, pensa e repensa ligeiro, e continua
pousado do mesmíssimo jeito. A cabo-verde alça vôo, zunindo, e vai bater no tronco do pé de angico, dois
metros abaixo do alvo: beleza de tinido faz a pedrada, que o pau é seco, rijo, ocado pelo fogo – por isso
mesmo sonoroso também. Há tipos que respondem com 10fedorento arroto de desprezo. Outros, porém, mal
abrem o bico em um bocejo de pouco caso e repegam no cochilo: soneca matreira, que estão mas é de olho
fechado de mentira, tomando nota de tudo quanto acontece de importante pela redondeza. A gente grita,
xinga, sapateia, se desespera e berra os mais feios palavrões. Que o quê! Urubu nem cheirou nem fedeu. E
continua quentando sol, vigiando a vaca chegadinha no amojo2 que, mais hora menos hora, solta a cria
ainda boba do susto 15no rapado jaraguá3 do pastinho-de-bezerro.
O fazendeiro busca em casa a fogo-central e volta ao pasto, disposto a acabar com a maldita
assombração. Do alto do pau, o urubu pombeia4 a providência. E, quando o enjerizado aponta na porteira
do curral, longe ainda, mas de espingarda na mão, o urubu galeia5 as juntas das pernas engomadas de
piche, estica as asas de picumã, e demuda de pouso. Comigo não, violão! De pau-de 20fogo não não,
Seu Bastião!
Vai-se embora o negro-preto, voando barulhento que nem máquina de trem de ferro subindo ladeira
custosa, fluque-fluque, fluque-fluque. Bicho excomungado!
(PALMÉRIO, Mário. Vila dos confins. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.)
Vocabulário:
1refestelado – acomodado despreocupadamente
2amojo – disponibilidade de leite para a amamentação
3jaraguá – espécie de capim
4pombeia – observa, espreita
5galeia – sacode, balança
28
Questão 55
Observe os adjetivos sublinhados nas seguintes passagens dos textos II e III, respectivamente:
e livre se foi marrom para o telhado. (l. 8)
Vai-se embora o negro-preto, voando barulhento que nem máquina de trem de ferro (l. 21)
Ambos exercem a mesma função sintática, mas apenas no exemplo extraído do poema a construção
gramatical surpreende o leitor com um efeito estilístico especial.
Identifique a função sintática comum aos adjetivos sublinhados. Em seguida, explique por que o efeito
estilístico é surpreendente apenas no exemplo extraído do poema.
Gabarito:
Predicativo do sujeito.
O adjetivo marrom indica a cor natural do pássaro, mas empregado como predicativo serve para
qualificar o movimento.
TEXTO: 15 - Comum à questão: 56
Com os medicamentos disponíveis é possível curar praticamente todos os casos de tuberculose.
Entretanto, a longa duração do tratamento, a necessidade do emprego de vários medicamentos em
associação e o seu uso contínuo fazem com que a terapêutica seja pouco prática.
As pesquisas atuais vão em dois sentidos: um, a duração, e outro, o emprego intermitente de drogas.
Os resultados obtidos até agora são animadores. (...)
A elevação da resistência geral do paciente constituiu até há poucos anos a base do tratamento da
tuberculose. Aconselhava-se o repouso absoluto no leito durante as 24 horas, aliado à superalimentação.
Embora o repouso continue a ser fundamental, a maneira de encará-lo mudou bastante. Indica-se um
repouso relativo, permitindo que o paciente deixe o leito para sua toilette. Além disso, é essencial o repouso
psíquico, procurando iniciar a psicoterapia e a reabilitação do paciente desde o início do tratamento. A
duração deste repouso dependerá do tipo de lesão e da constituição psicossomática do paciente, havendo
tendência cada vez maior à sua redução.
No que se refere à alimentação, aconselha-se uma dieta balanceada, de acordo com as necessidades
energéticas do paciente. Em caso de anorexia, raramente há necessidade de medicação especial, pois com
o uso da isoniazida verifica-se rápido retorno do apetite. A antiga superalimentação é condenada.
(Atualização terapêutica.)
Questão 56
No fragmento, há um distanciamento do enunciador, que se traduz pelo emprego constante da voz
passiva sintética, na qual aparece a palavra se. Com base nessa constatação, reescreva o último período
do texto, passando-o para esse tipo de voz passiva. Explique por que razão o recurso de distanciamento é
usado nesse texto.
Gabarito:
O último período do texto – "A antiga superalimentação é condenada" – reescrito na voz passiva sintética
fica Condena-se a antiga superalimentação. O uso da voz passiva sintética permite o distanciamento do
enunciador, uma vez que, nessa estrutura frásica, o enunciador ou agente da ação (agente da passiva) não
vem expresso. Tal recurso é adequado à natureza do texto, de caráter informativo e científico.
TEXTO: 16 - Comum à questão: 57
ESTÁ ERRADO, MAS TEM DE SER ASSIM
A recusa das autoridades em admitir soluções simples para os problemas inferniza a vida do cidadão e
cobra um preço insano em termos de crescimento do país
É um fato bem sabido, já faz muito tempo, que há no Brasil uma extrema dificuldade para os governos
tomarem decisões simples. Também se enrolam, claro, quando se trata de tomar decisões complicadas,
mas aí já dá para entender – grandes problemas são grandes problemas, e é previsível que levem muito
tempo, esforço e dinheiro grosso para serem resolvidos um dia. Não há, ao que parece, motivos mais
evidentes para explicar essa resistência generalizada às soluções menores.
(Exame, 08.10.2008)
Questão 57
Com base no título e no subtítulo,
a) explique a constituição sintática do período composto do título, em função das orações e do sentido que
se estabelece entre elas;
b) reescreva o trecho – A recusa das autoridades em admitir soluções simples para os problemas inferniza
a vida do cidadão... – com o termo cidadão no plural, antecedido do termo bastante.
29
Gabarito:
a) É um período composto por orações coordenadas. A segunda oração exprime um fato que se opõe
ao que se declara na oração coordenada anterior, estabelecendo um sentido contrastante.
b) A recusa das autoridades em admitir soluções simples para os problemas inferniza a vida dos
bastantes cidadãos.
TEXTO: 17 - Comum à questão: 58
SUB SOLO 1
―Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução.‖ Os
versos de Drummond me desabaram na cabeça assim que saí do elevador no andar errado, num prédio da
Berrini, e dei com um piso inteiro de restaurantes; uma praça de alimentação submersa em toneladas de
concreto, no centro empresarial de São Paulo.
Então assim é o mundo – pensei –, aqui que estão as pessoas normais. As pessoas que têm emprego,
FGTS, férias remuneradas, chefes que admiram e/ou detestam, colegas com quem competem e se
comprazem, horário de almoço e happy hour, todo mundo, enfim, que sai de casa toda manhã para
trabalhar num escritório, em vez de caminhar, só, em direção a uma edícula, no fundo do quintal.
Eu leio sobre o mundo com frequência, nos jornais. De vez em quando, leio livros sobre o mundo.
Pensando bem, estudei o mundo por cinco anos, na Faculdade de Ciências Sociais, mas raramente vou até
ele, e precisei do choque daquela praça de alimentação para dar-me conta de quão distante nós estávamos
– eu e o mundo. Para um escritor, poucas constatações podem ser mais trágicas.
Posso me acabar de ler Shakespeare, Dostoievski, Kafka e Goethe, mas os verdadeiros Macbeths,
Ivans Karamazovs, Gregors Sansas e Faustos estão entre as máquinas de café e os scanners, tiram
fotinhos na portaria e alimentam as catracas com seus crachás. Nos 20 andares acima daquelas bandejas,
todo dia, sonhos medram ou murcham, homens competem, traem, fofocas são discretamente difundidas,
alguém entregará o que tem de mais precioso em nome de uma causa; a glória e o fiasco espocam, das oito
da manhã às sete da tarde. Como posso querer ser um escritor se só trato com o ser humano por e-mail?
Se só o vejo amistoso e calmo, no cinema ou num restaurante, no fim de semana?
Voltei ao elevador decidido a raspar essa barbicha calculadamente desleixada, meu crachá de escritor,
que pretende dizer, ingenuamente, ―não faço parte do mundo‖ – e arrumar um emprego na Berrini. Pode ser
de quinto auxiliar de almoxarifado ou subanalista de cafezinho, não importa. Só preciso ter acesso ao
coração do mundo. Uma vez ali dentro, ouvirei as moças falando mal do chefe na fila do Subway,
descobrirei o que planejam os jovens de terno na mesa do Súbito, verei a felicidade do garoto do interior
que acabou de ser contratado e o ódio de seu vizinho de baia, que não foi. Depois, e só depois, poderei
voltar para minha edícula e tentar escrever algo que preste. Algo que, um dia, espero, chegue aos pés do
último verso do poema de Drummond: ― Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é meu coração.‖
(Antonio Prata. O Estado de S.Paulo, 31.05.2009. Adaptado)
Questão 58
Atente para as formas verbais dos segmentos:
a) Uma vez ali dentro, ouvirei as moças falando mal do chefe na fila do Subway, descobrirei o que
planejam os jovens de terno na mesa do Súbito, verei a felicidade do garoto do interior… . Os verbos
ouvirei, descobrirei e verei, no contexto, indicam uma ação concluída? Explique.
b) … fofocas são discretamente difundidas… . Articule outra possibilidade de voz passiva da frase, sem
alterar o tempo do verbo.
Gabarito:
a) Os verbos indicam, no contexto, uma ação projetada no futuro, pelo fato de o narrador almejar
relacionar-se afetivamente com o mundo.
b) Fofocas discretamente se difundem.
TEXTO: 18 - Comum à questão: 59
TEMPO DA CAMISOLINHA
1
Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados, tão lentos! e eu me envaidecia deles, mais que
isso, os adorava por causa dos elogios. Foi por uma tarde, me lembro bem, que meu pai suavemente
murmurou uma daquelas suas decisões irrevogáveis: ―É preciso cortar os cabelos desse menino.‖ Olhei de
um lado, de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir daquela 5ordem, muito aflito. Preferi o instinto e
fixei os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar compassiva, mas me lembro como si fosse hoje,
não aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita, baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim
e a razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje, imagino um egoísmo grande da parte dela, não
reagindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por mais de ano, até que se acabassem feitas trapos.
Mas 10ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me
incutissem aos poucos a necessidade de cortar os cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impiedosa,
castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas íntimas: ―é preciso cortar os cabelos desse menino‖.
30
Tudo o mais são memórias confusas ritmadas por gritos horríveis, cabeça sacudida com 15violência,
mãos enérgicas me agarrando, palavras aflitas me mandando com raiva entre piedades infecundas,
dificuldades irritadas do cabeleireiro que se esforçava em ter paciência e me dava terror. E o pranto, afinal.
E no último e prolongado fim, o chorinho doloridíssimo, convulsivo, cheio de visagens próximas atrozes, um
desespero desprendido de tudo, uma fixação emperrada em não querer aceitar o consumado.
20
Me davam presentes. Era razão pra mais choro. Caçoavam de mim: choro. Beijos de mamãe: choro.
Recusava os espelhos em que me diziam bonito. Os cadáveres de meus cabelos guardados naquela caixa
de sapatos: choro. Choro e recusa. Um não conformismo navalhante que de um momento pra outro me
virava homem-feito, cheio de desilusões, de revoltas, fácil para todas as ruindades. De noite fiz questão de
não rezar; e minha mãe, depois de várias tentativas, 25olhou o lindo quadro de Nossa Senhora do Carmo,
com mais de século na família dela, gente empobrecida mas diz-que nobre, o olhou com olhos de
imploração. Mas eu estava com raiva da minha madrinha do Carmo.
E o meu passado se acabou pela primeira vez. Só ficavam como demonstrações desagradáveis dele,
as camisolinhas. Foi dentro delas, camisolas de fazendinha barata (a gloriosa, de veludo, 30era só para as
grandes ocasiões), foi dentro ainda das camisolinhas que parti com os meus pra Santos, aproveitar as férias
do Totó sempre fraquinho, um junho.
MÁRIO DE ANDRADE
Contos novos. São Paulo: Martins; Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
Questão 59
Observe o fragmento:
As camisolinhas, ela as conservaria ainda por mais de ano, (ref. 5)
Indique o termo ao qual o pronome pessoal oblíquo se relaciona. Em seguida, classifique sintaticamente
esse pronome.
Gabarito:
As camisolinhas
Objeto direto pleonástico
TEXTO: 19 - Comum à questão: 60
O COMPRADOR DE FAZENDAS
O acaso deu a Trancoso uma sorte de cinquenta contos na loteria. Não se riam. Por que motivo não
havia Trancoso de ser o escolhido, se a sorte é cega e ele tinha no bolso um bilhete? Ganhou os cinquenta
contos, dinheiro que para um pé-atrás daquela marca era significativo de grande riqueza.
5
De posse do bolo, após semanas de tonteira deliberou afazendar-se. Queria tapar a boca ao mundo
realizando uma coisa jamais passada pela sua cabeça: comprar fazenda. Correu em revista quantas visitara
durante os anos de malandragem, propendendo, afinal, para a Espiga. Ia nisso, sobretudo, a lembrança da
menina, dos bolinhos da velha e a ideia de meter na administração ao sogro, de jeito a folgar-se uma vida
vadia de regalos, embalada pelo amor de 10Zilda e os requintes culinários da sogra. Escreveu, pois, a
Moreira anunciando-lhe a volta, a fim de fechar-se o negócio.
Ai, ai, ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de cólera, entremeio a bufos de vingança.
– É agora! – berrou o velho. – O ladrão gostou da pândega e quer repetir a dose. Mas desta feita 15curolhe a balda*1, ora se curo! – concluiu, esfregando as mãos no antegozo da vingança.
No murcho coração da pálida Zilda, entretanto, bateu um raio de esperança. A noite de sua alma
alvorejou ao luar de um ―Quem sabe?‖ Não se atreveu, todavia, a arrostar*2 a cólera do pai e do irmão,
concertados ambos num tremendo ajuste de contas. Confiou no milagre. Acendeu outra velinha a
Santo Antônio...
20
O grande dia chegou. Trancoso rompeu à tarde pela fazenda, caracolando o rosilho*3.
Desceu Moreira a esperá-lo embaixo da escada, de mãos às costas.
Antes de sofrear*4 as rédeas, já o amável pretendente abria-se em exclamações.
– Ora viva, caro Moreira! Chegou enfim o grande dia. Desta vez, compro-lhe a fazenda.
Moreira tremia. Esperou que o biltre*5 apeasse e mal Trancoso, lançando as rédeas, dirigiu-se-lhe 25de
braços abertos, todo risos, o velho saca de sob o paletó um rabo de tatu e rompe-lhe para cima com ímpeto
de queixada*6.
– Queres fazenda, grandissíssimo tranca*7? Toma, toma fazenda, ladrão! – e lepte, lepte, finca-lhe rijas
rabadas coléricas.
O pobre rapaz, tonteando pelo imprevisto da agressão, corre ao cavalo e monta às cegas, de passo
30
que Zico lhe sacode no lombo nova série de lambadas de agravadíssimo ex-quase-cunhado.
Dona Isaura atiça-lhe os cães:
– Pega, Brinquinho! Ferra, Joli!
1
31
O mal azarado comprador de fazendas, acuado como raposa em terreiro, dá de esporas e foge à toda,
sob uma chuva de insultos e pedras. Ao cruzar a porteira inda teve ouvidos para distinguir 35na grita os
desaforos esganiçados da velha:
– Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra não hás de cair, ladrão de ovo e cará!...
E Zilda?
Atrás da vidraça, com os olhos pisados do muito chorar, a triste menina viu desaparecer para sempre,
envolto em uma nuvem de pó, o cavaleiro gentil dos seus dourados sonhos.
40
Moreira, o caipora*8, perdia assim naquele dia o único negócio bom que durante a vida inteira lhe
deparara a Fortuna: o duplo descarte – da filha e da Espiga...
MONTEIRO LOBATO
Urupês. São Paulo: Globo, 2007.
*1
balda - defeito habitual, mania
*2
arrostar - encarar sem medo
*3
rosilho - cavalo de pelo avermelhado
*4
sofrear - conter
Vocabulário:
*5
biltre - homem vil, infame
*6
queixada - espécie de porco-do-mato
*7
tranca - indivíduo ordinário, de mau caráter
*8
caipora - indivíduo azarado
Questão 60
Observe a oração:
Desta vez, compro-lhe a fazenda. (ref. 20)
Classifique sintaticamente o pronome pessoal. Em seguida, reescreva a oração, substituindo-o por
outra palavra de igual valor, mantendo o sentido original.
Gabarito:
Objeto indireto
Desta vez, compro a sua fazenda.
Questão 61
a) Explique o sentido do verbo ―pulsar‖ em ―Uma grande mudança faz a cultura da Bahia pulsar
mais forte‖.
b) Faça um comentário sobre o duplo sentido que a expressão ―a cultura de todos os baianos‖ produz na
frase ―A cultura que o Brasil inteiro admira, mais do que nunca, agora é também a cultura de todos
os baianos.‖
32
Gabarito:
a) O anúncio publicitário atenta para uma nova política do Governo de Estado da Bahia que dinamizou a
área cultural e incentivou a produção de serviços ligados a essa área. Assim, o verbo ―pulsar‖ adquire, no
contexto, o significado de ―vibrar‖, ―movimentar-se‖, ―agitar-se‖.
b)O fato de a Bahia ter sido recentemente reconhecida como o segundo estado do país que mais investe
em Cultura é objeto de análise que gera uma conclusão. A palavra ―cultura‖ é tomada inicialmente como
tudo o que caracteriza uma sociedade qualquer, compreendendo sua linguagem, suas técnicas, artefatos,
alimentos, costumes, mitos, padrões estéticos e éticos. Ao mencionar ―a cultura de todos os baianos‖ o
anúncio restringe esse significado ao movimento da criação e divulgação das artes e da ciência das
pessoas do estado da Bahia, que são agora beneficiados pelos novos financiamentos.
Questão 62
(Fuvest) Leia o seguinte texto e responda ao que se pede.
EM BOCA FECHADA BEM-TE-VI NÃO FAZ NINHO
Campos de Melo passou todos os anos de sua vereança sem dar uma palavra. Era o boca de siri da
câmara municipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O presidente da Mesa,
mais do que depressa, disse:
- Tem a palavra o nobre vereador.
Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou.
- Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado.
José Cândido de Carvalho, Se eu morrer, telefone para o céu.
a) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que, tanto do ponto de vista da estrutura quanto da
mensagem, o título do texto constitui um provérbio?
b) Que frase do texto contribui de maneira mais decisiva para dar um caráter anedótico a essa breve
narrativa? Justifique sua escolha.
Gabarito:
a) Sim, pois, provérbio é uma frase curta e popular, com uma mensagem metafórica, que geralmente
apresenta uma regra social ou moral. Segundo a definição do dicionário Aurélio: ―1. Máxima ou sentença
de caráter prático e popular, comum a todo um grupo social, expressa em forma sucinta e geralmente rica
em imagens; adágio, ditado, anexim, exemplo, refrão, refrém, rifão. Ex.: ‗Casa de ferreiro, espeto de pau‘;
‗Quanto maior a nau, maior a tormenta‘‖.
b) A frase do texto que contribui de maneira mais decisiva para dar um caráter anedótico à breve narrativa é
"Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado", pois representa o desfecho para a expectativa
gerada desde o início do texto.
Questão 63
(Fuvest) É correto afirmar que os textos ―a‖ e ―b‖, a seguir, podem ser entendidos de maneira diferente da
que pretendiam seus redatores? Justifique sua resposta separadamente para cada um dos textos.
Texto a: Alguns sonhos não mudam. Quer dizer, só de tamanho. (Propaganda de uma instituição bancária)
Texto b: A chuva tirou tudo o que eles tinham. Agora vamos dar o mínimo que eles precisam. (Campanha
feita por estabelecimentos comerciais em prol de vítimas de enchente)
Gabarito:
Sim. No texto a, a propaganda, provavelmente, pretende sugerir que os sonhos, com o decorrer do tempo,
mudam apenas de tamanho, ou seja, de menores para maiores. No entanto, a frase, como está redigida,
apresenta ambiguidade, pois, de acordo com ela, os sonhos também podem mudar de maiores para
menores, configurando, do mesmo modo, alteração de tamanho.
No texto b, a intenção, possivelmente, da campanha em prol de vítimas de enchente é que, já que essas
pessoas perderam tudo, ajudar com pelo menos o básico de que necessitam. Porém, existe uma
ambiguidade, principalmente com o uso de ―mínimo‖, que pode levar a entender que se fará por essas
pessoas o mínimo possível, ou seja, que os idealizadores da campanha buscarão fazer o menos
que puderem.
33
Questão 64
(Fuvest) Leia os seguintes versos de ―Alegria, Alegria‖, de Caetano Veloso, e, em seguida, os dois
comentários em que os autores explicam por que essa canção é uma de suas prediletas.
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
(...)
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
(...)
http://www.caetanoveloso.com.br
I. ―A linguagem era nova, cheia de referências visuais, e tudo estava ali, combinando temas que nem
sempre pareciam combinar: despreocupação, engajamento político, tecnologia, lirismo... .‖
Laura de Mello e Souza. Adaptado.
a) Transcreva um verso* que ilustre, de modo mais expressivo, o que está sublinhado nesse comentário.
Justifique sua escolha.
*(verso = uma linha.)
II. ―A canção era importante pela força mágica de afirmar a potência criativa da vida em meio à
fragmentação do mundo.‖
Jurandir Freire Costa. Adaptado.
b) Transcreva um verso que exemplifique, de modo mais evidente, o que está sublinhado nesse
comentário. Justifique sua escolha.
Gabarito:
a) Muitos versos poderiam exemplificar o fato de a linguagem ser nova e cheia de referências visuais. No
entanto, o único que combina engajamento político e tecnologia é "Espaçonave, guerrilhas", pois remete
ao momento histórico que se vivia na época, com o deslumbramento diante das conquistas espaciais
(espaçonaves) e, ao mesmo tempo, ao contexto político da ditadura militar, em que se observavam
movimentos de luta armada (guerrilhas).
b) A própria linguagem do compositor aponta, à maneira cubista (justapondo-se diversas imagens), a
fragmentação do mundo. Isso pode ser visto, principalmente, nas estrofes:
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
No entanto, o enunciado pede um verso que exemplifique essa fragmentação de modo mais
evidente. Assim, o verso em que se justapõem mais imagens (três), tornando a fragmentação mais patente
é: ―Em dentes, pernas, bandeiras‖.
34
Questão 65
(Unicamp) A comunidade do Orkut ―Eu tenho medo do Mesmo‖ foi criada em função do aviso bastante
conhecido dos usuários de elevadores: ―Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se
parado neste andar‖.
a) Explique o que torna possível o jogo de palavras ―Mesmo, o maníaco dos elevadores‖ usado pelos
membros dessa comunidade.
b) Reescreva o aviso de forma que essa leitura não seja mais possível.
Gabarito:
a) O uso da letra maiúscula na palavra ―Mesmo‖ e a colocação do artigo definido ―o‖ transformam a palavra
em um substantivo próprio, individualizando o ser a que se refere. Assim, a palavra adquire a conotação
de um ser misterioso que atemoriza quem vai entrar no elevador.
b) ―Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado no elevador.‖ (Nota: a gramática
normativa aconselha a próclise do pronome em orações subordinativas, como o caso da iniciada pela
conjunção integrante ―se‖).
Questão 66
(Unicamp)
a) Na tira de Laerte a graça é produzida por um deslizamento de sentido. Qual é ele?
b) Descreva esse deslizamento quadro a quadro, mostrando a relação das imagens com o que é dito.
Gabarito:
a) A palavra ―afinador‖ é usada com sentidos diferentes pelos dois personagens, produzindo ambiguidade.
Para o primeiro falante da tira significa ―aquele que afina, que ajusta o som‖, para o segundo, ―aquele que
torna o instrumento mais fino‖.
b) No primeiro quadro, o personagem apresenta-se com o título da sua profissão o que é perceptível pela
imagem do diapasão na mão esquerda. No segundo quadro, o gesto do morador do apartamento revela a
necessidade de ajustar o tamanho do piano ao ambiente exíguo do local em que se encontra. Finalmente, a
reação do profissional é evidente na imagem do piano quebrado sobre a cabeça do morador o que
estabelece o humor a partir do mal-entendido.
35
Questão 67
(Unicamp) Gramática
Composição de Sandra Peres e Luiz Tatit (Palavra Cantada)
O substantivo
É o substituto
do conteúdo
Um homem de letras
Dizendo ideias
Sempre se inflama
Nosso verbo ser
É uma identidade
Mas sem projeto
Todo barbarismo
É o português
Que se repeliu
O adjetivo
É a nossa impressão
sobre quase tudo
Um homem de ideias
Nem usa letras
Faz ideograma
E se temos verbo
Com objeto
É bem mais direto
O neologismo
É uma palavra
Que não se ouviu
O diminutivo
É o que aperta o
mundo
E deixa miúdo
Se altera as letras
E esconde o nome
Faz anagrama
No entanto falta
Ter um sujeito
Pra ter afeto
Já o idiotismo
É tudo que a língua
Não traduziu
O imperativo
É o que aperta os
outros
e deixa mudo
Mas se mostro o
nome
Com poucas letras
É um telegrama
Mas se é um
sujeito
Que se sujeita
Ainda é objeto
Mas tem idiotismo
Também na fala
De um imbecil
a) Nessa letra de música são atribuídos sentidos às classificações gramaticais. Escolha duas delas e
explique o sentido explorado, justificando sua pertinência ou não.
b) Nas duas últimas estrofes, há um deslocamento no uso de 'idiotismo'. Explique-o.
Gabarito:
a) O autor estabelece intertextualidade com algumas definições gramaticais ao apresentar os seus próprios
conceitos sobre determinados termos e explora poeticamente essa relação. Nas duas primeiras estrofes,
por exemplo, apresenta substantivo como ―substituto do conteúdo‖ e adjetivo como a nossa impressão
sobre quase tudo. A associação é pertinente, na medida em que a gramática conceitua o primeiro como a
classe de lexema que nomeia os seres, ou seja, tudo o que existe, e o segundo como a classe que
caracteriza o substantivo, associando-lhe muitas vezes aspectos subjetivos (―nossa impressão sobre
quase tudo‖).
b) Uma expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de palavras que se caracteriza por não ser
possível identificar seu significado mediante o sentido literal dos termos analisados individualmente, por
serem associadas a gírias ou contextos culturais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem
pela classe, idade, região, profissão ou outro tipo de afinidade. Na penúltima estrofe, o autor ao associar o
termo à ―fala de um imbecil‖ amplia o significado da palavra: ausência total de inteligência,
estupidez, insânia.
Questão 68
(Fuvest) Examine esta propaganda de uma empresa de certificação
digital (mecanismo de segurança que garante autenticidade,
confidenciabilidade e integridade às informações eletrônicas).
a) Aponte a relação de sentido que existe entre a mensagem verbal e
a imagem.
b) Forme uma frase correta e coerente com base em um verbo
derivado da palavra ―burocracia‖.
c) ―Estar com os dias contados‖ é uma das dezenas de locuções
formadas a partir do substantivo ―dia‖. Crie uma frase em que
apareça uma dessas locuções (sem repetir, é claro, a locução
utilizada na propaganda acima).
Gabarito:
a) A mensagem verbal ―A burocracia está com os dias contados‖ se
relaciona com a imagem por meio de uma relação de semelhança. A
burocracia é representada pelo carimbo, símbolo já incorporado há
tempos em nossa sociedade. E o fato de ela estar com os dias contados relaciona-se à imagem da tecla
delete. Assim, a relação de sentido é que a informática (simbolizada pela tecla delete) acabará com a
burocracia (representada pelo carimbo).
b) Trata-se de uma questão com diversas opções de resposta, pois a frase deve ser formada com o verbo
burocratizar e/ou desburocratizar.
36
c) Há várias possibilidades. Podem-se utilizar algumas expressões como ―dia a dia‖, ―dia oficial‖, ―dia útil‖,
―estar em dia com‖, ―de um dia para o outro‖, ―do dia para a noite‖, ―com os dias contados‖, ―mais dia, menos
dia‖, ―pensar no dia de amanhã‖, ―de um dia para o outro‖, entre outras.
Questão 69
A pergunta da personagem Mafalda, no segundo quadrinho, inicia-se com a palavra ―então‖, que estabelece
uma relação de sentido com a situação anterior.
Identifique a relação de sentido estabelecida e reescreva a pergunta, substituindo o vocábulo ―então‖ por
outro conectivo.
Gabarito:
A fala de Mafalda, no segundo quadro, expressa a conclusão de que, devido aos inúmeros e variados
afazeres de cada um, a brincadeira deve ser rápida, pois a vida moderna assim o exige. A pergunta poderia
ser formulada com outras conjunções coordenativas conclusivas (―Logo‖, ―Por isso‖, ―Portanto‖): Portanto,
acho que só dá tempo de brincar de guerra nuclear, não é?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
SONETO
[Moraliza o poeta nos ocidentes do sol
a inconstância dos bens do mundo]
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Matos.
Salvador: Janaína, 1969, 7 volumes.)
Questão 70
(Ufrj) De forma recorrente, o Barroco lança mão de figuras de sintaxe como recurso expressivo.
a) Considerando o terceiro e o quarto versos da primeira estrofe do soneto, explicite as duas figuras de
sintaxe que, nesses versos, estão relacionadas aos termos oracionais classificados, tradicionalmente,
como essenciais ou básicos.
b) Classifique, quanto à função sintática, os constituintes do último verso da primeira estrofe.
Gabarito:
a) As duas figuras de construção sintática são as seguintes: hipérbato (inversão da ordem canônica dos
termos sintáticos ―em tristes sombras‖ e ―a formosura‖, no terceiro verso, e dos termos ―em contínuas
tristezas‖ e ―a alegria‖, no quarto verso); elipse/zeugma (omissão do verbo ―morre‖ no quarto verso).
b) O constituinte ―Em contínuas tristezas‖ exerce função de adjunto adverbial, e o constituinte ―a alegria‖,
função de sujeito.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
DESENCONTRÁRIOS
Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
37
Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.
PAULO LEMINSKI GÓES, F. e MARINS, A. (orgs.) Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.
Questão 71
(Uerj) Considere a formação da palavra ―Desencontrários‖, título do poema de Paulo Leminski. Separe seus
elementos mórficos. Em seguida, nomeie o primeiro morfema que a compõe e indique seu significado.
Gabarito:
A palavra ― desencontrários‖ é formada por derivação, processo através do qual de uma palavra se formam
outras, por meio da agregação de certos elementos que lhe alteram o sentido, mas sempre se referindo ao
valor semântico da palavra primitiva. Assim, há duas possibilidades para a formação da palavra em questão,
considerando
o
radical,
prefixos
e
sufixos
e
desinências
flexionais:
des+en+contr+
ário+s;des+en+contr+ari+o+s. ―Des‖ é um prefixo que indica negação.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
AUTORRETRATO FALADO
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
que fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
MANOEL DE BARROS, Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
Questão 72
(Uerj) Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal
onde sou abençoado a garças. (v. 9-11)
A palavra ―onde‖, sublinhada acima, remete a um termo anteriormente expresso.
Transcreva esse termo.
Nomeie também a classe gramatical de ―onde‖, substitua-a por uma expressão equivalente e indique seu
valor semântico.
Gabarito: O pronome relativo ―onde‖ remete a ―pantanal‖, podendo ser substituído por ― em que‖ ou ―no
qual‖ para indicar o lugar onde acontece a ação enunciada na oração principal.
Questão 73
(Ufrj)
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ―este foi difícil‖
―prateou no ar dando rabanadas‖
CASAMENTO
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
(PRADO, Adélia. Terra de Santa Cruz. Rio de Janeiro:
Guanabara Dois, 1986. p.29)
38
Pode-se afirmar que o eu-lírico apresenta concepção de casamento diferente da cultivada pelas outras
mulheres referidas no texto (verso 1).
Quais seriam essas concepções em oposição?
Gabarito:
A ideia de casamento para as mulheres referidas no verso 1 propõe a recusa de funções tradicionalmente
femininas. Para o eu-lírico, a concepção não põe em causa a delimitação de papéis, tendo em vista que
casamento é lugar de encontro.
Questão 74
(Unicamp)
Nessa tirinha da famosa Mafalda do argentino Quino, o humor é construído fundamentalmente por um
produtivo jogo de referência.
a) Explicite como o termo ‗estrangeiro‘ é entendido pela personagem Mafalda e pelo personagem Manolito.
b) Identifique duas palavras que, nessa tirinha, contribuem para a construção desse jogo de referência,
explicando o papel delas.
Gabarito:
a) Enquanto que para Mafalda, ―estrangeiro‖ é todo país que não seja o dela, no caso a Argentina,
independentemente de quem fala, para Manolito, é todo aquele que não constitui a sua pátria, a terra
onde nasceu. Mafalda não entende que o seu país é estrangeiro para todo aquele que não nasceu nele.
b) As palavras que constituem esse jogo de referência são os artigos ―o‖ e ―um‖, definido e indefinido em
relação a ―país‖ citado duas vezes, ‖deixar‖, ―veio‖, ―dele‖, ―cá‖ e ―este‖. Mafalda usa ―o‖ para referir-se ao
seu país, Argentina, incluindo todos os outros no grupo de estrangeiros. Já Manolito, filho de imigrantes, usa
―um‖ para referir-se ao país para onde seu pai emigrou, incorporando-o, portanto, num conjunto genérico.
As outras palavras assinaladas podem ser usadas também para explicitar a diferença espacial em cada
uma das enunciações, como, por exemplo, ―deixar‖ e ―veio‖ que denotam movimentos opostos relativamente
ao enunciador.
Questão 75
(Unicamp)
a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo ortográfico entre os países de língua
portuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado?
b) Explique como, na tira ao lado, esse pressuposto é quebrado.
39
Gabarito:
a) O pressuposto é que o acordo ortográfico promoveria a unidade da língua em todos os países lusófonos.
O acordo contempla apenas a ortografia e não interfere nos aspectos morfossintáticos ou lexicais que
caracterizam a relação da Língua e seus falantes com a região onde se desenvolve a sua cultura, razão
pela qual é inadequado o pressuposto do personagem. Embora se possa unificar a ortografia, as
variantes sempre existirão.
b) Ao desconhecer o significado de ―peúgas‖(*) e ―bica‖(**) e estranhar a palavra ―bicha‖(***) no contexto da
frase (termos usados no português europeu e não no Brasil), o personagem fica confuso, pois verifica
que não houve unificação do idioma como afirmara anteriormente.
(*) meias
(**) café
(***) fila
Questão 76
(Unicamp)
Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a
expressão ―bom pra burro‖ é polissêmica, e remete a
uma representação de dicionário.
a) Qual é essa representação? Ela é adequada ou
inadequada? Justifique.
b) Explique como o uso da expressão ―bom pra
burro‖ produz humor nessa propaganda.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O DIÁLOGO DOS TEMPOS
Em 1950, a conversa entre aquele pai e aquela filha seria mais ou menos assim:
– A benção, papai.
– Deus te abençoe, Maria Elvira.
– Papai, eu queria falar uma coisa com o senhor...
– Pode falar, minha filha.
– É que... o Leleco me pediu em namoro.
– Leleco?
– O nome dele é Leonardo da Silva.
– Onde vocês se conheceram?
– Num baile de debutantes.
– E o que ele faz esse Leonardo? Ele é engenheiro, médico ou advogado?
– Centroavante.
– Centroavante? Isso é galhofa, não é, Maria Elvira?
– Não, papai.
– Era só o que faltava, minha filha com um centroavante! É para isso que eu paguei seu curso de magistério?
– Mas papai...
– Nem mais nem menos! Essa gente do futebol é muito irresponsável! E, depois, se ele te
abandona? Você quer virar uma desquitada?
– Mas pai...
– Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol.
– Mas...
– Centroavante, essa é boa! O que vai ser da próxima vez, um sambista?
Já, em 2000, as coisas seriam um pouco diferentes.
– Oi, paps.
– Oi, Tainá.
– Paps, fui pedida em casamento.
– Sério!?
– É, e desta vez por um rapaz.
– Quem diria...
– Ele se chama Leleco. Leleco da Silva.
40
– Onde vocês se conheceram?
– Num baile funk.
– E o que ele faz? É publicitário, banqueiro ou economista do governo?
– É centroavante.
– Centroavante? Que maravilha, Tainá! Valeu a pena todo aquele dinheiro que você gastou com
tintura de cabelo.
– Eu não disse que eles preferem as louras?
– E quando vai ser o casamento?
– Xi, paps, era sobre isso que eu queria falar. Não sei se aceito. Jogador de futebol é meio sei lá,
irresponsável... Vai que não dá certo?
– Aí você pede o divórcio e ganha uma boa pensão para o resto da vida.
– Mas paps...
– Mas...
– Já chega aquele pagodeiro que você esnobou.
(TORERO, José Roberto. Folha de São Paulo, 11 de janeiro de 2000. Caderno de esportes, p.3.)
Gabarito:
a) A representação do dicionário, popularmente conhecido como ―pai dos burros‖, estabelece ligação com a
expressão ―bom pra burro‖. Essa representação é inadequada, pois as pessoas que buscam o dicionário
para obter conhecimento sobre as palavras não são falhas de inteligência, ao contrário, revelam o bom
senso e a inteligência de quem quer analisar as diversas interpretações a que a língua está sujeita.
b) Existe ambiguidade na expressão ―pra burro‖, pois pode ser lida com o sentido de intensidade ( ―muito‖),
ou para estabelecer o complemento nominal de ―bom‖, remetendo à expressão ―´pai dos burros‖, ou seja,
―bom‖ para quem precisa de dicionário porque desconhece o seu significado.
Questão 77
(G1 - cp2)
A frase dita pelo pai, na terceira cena do texto, demonstra aprovação quanto à ocupação do pretendente de
sua filha. Copie da segunda parte do texto I uma frase não verbal do pai que apresenta a mesma finalidade.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
POPSTAR
(Leandro Verdeal)
Peguei uma onda maneira
Dei "cutback‖, ―hang five‖, ―hang ten"
Eu sou melhor surfista da minha rua
Não tenho saco pra escola
As minhas notas sempre são vermelhas
Mas eu não tô nem aí
Arrumo as malas e me mando pro Hawaii
A sua mãe não percebe,
O ―feeling" da minha guitarra no dez
E ela vendo a novela no quatro
Acho que ninguém me entende
Me dizem que eu sou "new wave" demais
Eu vou na onda que mais longe me levar, me
[levar
A sua mãe diz que eu sou vagabundo
41
E o seu pai é tão esnobe: "Esse garoto não combina contigo,
A gente arranja pra você bom partido."
Mas quando eu virar um astro
Com a minha guitarra e uma prancha do lado
Eu quero ver na hora do jantar
O seu pai sentado à mesa ao lado de um
[popstar
E o neto dele também vai ser "new wave"
Filho de popstar, popstar é
E vamos todos morar no Hawaii
Tocar guitarra às 3 da manhã
E a vizinhança de cabelo em pé
E da maneira que a gente quiser
Me levar...
(http: // letras. terra. com .br – em 07/12/2009)
cutback: manobra em que o surfista volta para a parte da onda que ainda está quebrando
hang five: manobra de prancha longa que coloca cinco dedos do pé para fora da prancha
hang ten: manobra de prancha longa que coloca os dez dedos dos pés para fora da prancha
feeling: efeito
new wave: movimento musical dos anos 80
popstar: estrela da música popular
Gabarito:
―Que maravilha, Tainá!‖
Questão 78
(G1 - cp2) Transcreva, do texto, o verso em que o jovem menciona os elementos por meio dos quais ele
julga ser possível conquistar o respeito do pai da namorada.
Gabarito:
―Com a minha guitarra e uma prancha do lado‖.
Questão 79
(G1 - cp2) Apesar de, em quase todo o texto, o enunciador citar elementos e situações ligados à
modernidade, há dois versos seguidos em que é retratado um momento típico de uma família que poderia
ser chamada de tradicional. Transcreva-os.
Gabarito:
―Eu quero ver na hora do jantar/ O seu pai sentado à mesa ao lado de um popstar‖.
Questão 80
(G1 - cp2) De acordo com a temática, o texto II pode ser dividido em duas partes:
a) transcreva o verso que inicia a segunda parte.
b) a segunda parte mantém com a primeira uma relação de:
( ) causa e efeito
( ) oposição e projeção
( ) oposição e certeza
( ) causa e desejo
Gabarito:
a) O verso que inicia a segunda parte é ―Mas quando eu virar um astro‖, momento em que o enunciador
imagina o reconhecimento público dos seus dotes artísticos, a consequente aceitação da família da moça
e a nova vida que todos terão, incluindo um provável futuro filho de ambos que também será ―new wave‖.
b) Na segunda parte do texto, manifesta-se a idealização de uma nova vida, oposta à da realidade atual
enfrentada pelo enunciador, que usa a imaginação para se projetar em um mundo de ―popstar‖.
42
Questão 81
(G1 - cp2) Texto 1
O DIÁLOGO DOS TEMPOS
Em 1950, a conversa entre aquele pai e aquela filha seria mais ou menos assim:
– A benção, papai.
– Deus te abençoe, Maria Elvira.
– Papai, eu queria falar uma coisa com o senhor...
– Pode falar, minha filha.
– É que... o Leleco me pediu em namoro.
– Leleco?
– O nome dele é Leonardo da Silva.
– Onde vocês se conheceram?
– Num baile de debutantes.
– E o que ele faz esse Leonardo? Ele é engenheiro, médico ou advogado?
– Centroavante.
– Centroavante? Isso é galhofa, não é, Maria Elvira?
– Não, papai.
– Era só o que faltava, minha filha com um centroavante! É para isso que eu paguei seu curso de magistério?
– Mas papai...
– Nem mais nem menos! Essa gente do futebol é muito irresponsável! E, depois, se ele te
abandona? Você quer virar uma desquitada?
– Mas pai...
– Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol.
– Mas...
– Centroavante, essa é boa! O que vai ser da próxima vez, um sambista?
Já, em 2000, as coisas seriam um pouco diferentes.
– Oi, paps.
– Oi, Tainá.
– Paps, fui pedida em casamento.
– Sério!?
– É, e desta vez por um rapaz.
– Quem diria...
– Ele se chama Leleco. Leleco da Silva.
– Onde vocês se conheceram?
– Num baile funk.
– E o que ele faz? É publicitário, banqueiro ou economista do governo?
– É centroavante.
– Centroavante? Que maravilha, Tainá! Valeu a pena todo aquele dinheiro que você gastou com
tintura de cabelo.
– Eu não disse que eles preferem as louras?
– E quando vai ser o casamento?
– Xi, paps, era sobre isso que eu queria falar. Não sei se aceito. Jogador de futebol é meio sei lá,
irresponsável... Vai que não dá certo?
– Aí você pede o divórcio e ganha uma boa pensão para o resto da vida.
– Mas paps...
– Mas...
– Já chega aquele pagodeiro que você esnobou.
(TORERO, José Roberto. Folha de São Paulo, 11 de janeiro de 2000. Caderno de esportes, p.3.)
Na primeira parte do primeiro texto, o pai diz:
― – Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol.‖
Transcreva os dois versos seguidos, do segundo texto, que expressam o mesmo pensamento.
Gabarito:
―Esse garoto não combina contigo,/ A gente arranja pra você bom partido.‖
43
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
CASAMENTO
Há mulheres que dizem:
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
atravessa a cozinha como um rio profundo.
mas que limpe os peixes.
Por fim, os peixes na travessa,
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
vamos dormir.
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
Coisas prateadas espocam:
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
somos noivo e noiva.
(PRADO, Adélia. Casamento. In: MORICONI, Ítalo. Os cem
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro:
ele fala coisas como ‗este foi difícil‘
Objetiva, 2001.)
‗prateou no ar dando rabanadas‘
e faz o gesto com a mão.
Questão 82
(G1 - cp2) Considere o verso a seguir.
―ele fala coisas como ‗este foi difícil‘‖ (v. 8)
A que se refere o pronome ―este‖?
Gabarito:
Levando em consideração o contexto do poema em que o eu lírico relata as suas vivências durante a noite
em que ajuda o seu marido a preparar os animais recém-pescados, infere-se que o pronome demonstrativo
―este‖ se refere ao peixe que o companheiro lhe indicava.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Questão 83
(G1 - cp2) Na fala de Calvin, expressa no terceiro quadrinho da tira, percebe-se uma crítica feita por meio
da ironia. Que palavra indica essa crítica?
Gabarito:
Trata-se da palavra ―belo‖.
Questão 84
(G1 - cp2) No texto, Calvin atribui aos adultos as práticas irresponsáveis que desequilibram o meio
ambiente. Levando em conta os quadrinhos, que atitude da mãe poderia isentá-la dessa culpa?
Gabarito: A atitude da mãe de regar plantas e a sua última fala, reveladora da consciência da contradição
do filho que atribui as culpas aos adultos, mas não prescinde do carro para se locomover, são fatores que a
isentam, em parte, dessas acusações.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1:
No começo de seu Mercury; Ou: O Mensageiro Secreto e Rápido (1641), John Wilkins conta a
seguinte história:
O quanto 1essa Arte de escrever pareceu estranha quando da sua Invenção primeira é algo que
podemos imaginar pelos Americanos recém-descobertos, que ficaram espantados ao ver Homens
conversarem com Livros, e não conseguiam acreditar que um Papel pudesse falar...
Há um relato excelente a esse Propósito, referente a um Escravo Índio; que, ao ser mandado por
seu Senhor com uma Cesta de Figos e uma Carta, comeu durante o Percurso uma grande Parte de seu
Carregamento, entregando o Restante à Pessoa a quem se destinava; que, ao ler a Carta e não
encontrando a Quantidade de Figos correspondente ao que se tinha dito, acusa o Escravo de comê-los,
dizendo que a Carta afirmava aquilo contra ele. Mas o Índio (apesar dessa Prova) negou o Fato, acusando
o Papel de ser uma Testemunha falsa e mentirosa.
44
Depois disso, sendo mandado de novo com um Carregamento semelhante e uma Carta
expressando o Número exato de Figos que deviam ser entregues, ele, mais uma vez, de acordo com sua
Prática anterior, devorou uma grande Parte deles durante o Percurso; mas, antes de comer o primeiro (para
evitar as Acusações que se seguiriam), pegou a Carta e a escondeu sob uma grande Pedra, assegurandose de que, se ela não o visse comer os Figos, nunca poderia acusá-lo; mas, sendo agora acusado com
muito mais rigor do que antes, confessou a Falta, admirando a Divindade do Papel e, para o futuro, promete
realmente toda a sua Fidelidade em cada Tarefa.
Poder-se-ia dizer que um texto, depois de separado de seu autor (assim como da intenção do autor)
e das circunstâncias concretas de sua criação (e, consequentemente de seu referente intencionado), flutua
(por assim dizer) no vácuo de um leque potencialmente infinito de interpretações possíveis. Wilkins poderia
ter objetado que, no seu relato, o senhor tinha certeza de que a cesta mencionada na carta era a mesma levada
pelo escravo, que o escravo que a levara era exatamente o mesmo a quem seu amigo dera a cesta, e que havia
uma relação entre a expressão ―30‖ escrita na carta e o número de figos contidos na cesta. Naturalmente,
bastaria imaginar que, ao longo do caminho, o escravo original fora assassinado e outra pessoa o substituíra,
que os trinta figos originais tinham sido substituídos por outros figos, que a cesta foi levada a um destinatário
diferente, que o novo destinatário não sabia de nenhum amigo ansioso por lhe mandar figos. Mesmo assim seria
possível concluir o que a carta estava dizendo? Entretanto, temos o direito de supor que a reação do novo
destinatário seria algo do tipo: ―Alguém, e Deus sabe quem, mandou-me uma quantidade de figos menor do que
o número mencionado na carta que os acompanha.‖ Vamos supor agora que não apenas o mensageiro tivesse
sido morto, como também que seus assassinos tivessem comido todos os figos, destruído a cesta, colocado a
carta numa garrafa e a tivessem jogado no oceano, de modo que fosse encontrada setenta anos depois por
Robinson Crusoé. Não havia cesta, nem escravo, nem figos, só uma carta. Apesar disso, aposto que a
primeira reação de Robinson Crusoé teria sido: ―Onde estão os figos?‖
[Adaptado de ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação.
São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 47-49]
Questão 85
(Pucrj)
a) O pronome demonstrativo essa, logo no início da passagem de John Wilkins (ref. 1), tem função
anafórica, isto é, faz referência a um conteúdo textual anterior. A que conteúdo anterior podemos inferir
que o pronome se refere nesse caso?
b) Na passagem de Wilkins, escrita em 1641, adota-se uma convenção ortográfica distinta da nossa no
que diz respeito ao uso de letras maiúsculas. Explicite a diferença.
c) O verbo ser tem o mesmo comportamento sintático em todas as frases abaixo, exceto em uma delas.
Indique-a e explique a diferença.
I.
Talvez a carta fosse encontrada setenta anos depois por Robinson Crusoé.
II.
A carta expressava o número exato de Figos que deviam ser entregues.
III.
Vamos supor que o mensageiro tivesse sido morto.
IV.
O escravo afirmou que o papel era uma testemunha falsa e mentirosa.
V.
O escravo foi mandado àquele destino com uma Cesta de Figos e uma carta.
Gabarito:
a) Pode-se inferir que o pronome essa retoma anaforicamente um conteúdo textual anterior referente ao
advento da língua escrita.
b) No texto de Wilkins, iniciam-se com letras maiúsculas os substantivos comuns, ao passo que, em nossa
convenção ortográfica, aplica-se a inicial maiúscula apenas aos substantivos próprios, salvo em casos
excepcionais.
c) Em todos os casos, exceto em (IV), ser funciona como verbo auxiliar em construções na voz passiva. No
caso (IV), ser funciona como verbo de ligação em um predicado nominal que tem como núcleo uma
testemunha falsa e mentirosa.
Questão 86
(Fuvest) Examine a tirinha e responda ao que se pede.
45
a) O sentido do texto se faz com base na polissemia de uma palavra. Identifique essa palavra e explique
por que a indicou.
b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico mas também efeito crítico. Você concorda com essa
afirmação? Justifique sua resposta.
Gabarito:
a) Trata-se da palavra "veículo", que pode significar meio usado para transportar ou
conduzir pessoas, coisas, animais ou algo capaz de transmitir, propagar algo. No texto, o humor ocorre
porque Mafalda troca um sentido pelo outro.
b) Sim. O sentido crítico da tirinha provém da associação entre os ruídos emanados do televisor, que
sugerem o conteúdo violento e "apelativo" da programação, e a ideia de cultura.
Questão 87
(Unifesp) Leia a charge.
a) As personagens são vítimas de preconceitos e os expressam em suas falas. Explique quais são eles.
b) Reescreva as falas das personagens, valendo-se da norma padrão da Língua Portuguesa.
Gabarito:
a) Os preconceitos são em relação à classe social e à raça.
b) Possíveis respostas: Para prender os ricos, a polícia cria uns nomes interessantes. Conosco, agem de
forma agressiva.
Questão 88
(Unicamp) Reportagem da "Folha de São Paulo" informa que o presidente do Brasil assinou decreto
estabelecendo prazos para o país colocar em prática o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que
unifica a ortografia nos países de língua portuguesa. Na matéria, o seguinte quadro comparativo mostra
alterações na ortografia estabelecidas em diferentes datas:
Sobre o acordo, a reportagem ainda informa:
As regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entram em vigor no Brasil a partir
de janeiro de 2009, vão afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen.
Cuidado: segundo elas, você não poderá mais dizer que foi mordido por uma jiboia, e sim por uma jiboia.
(...)
Adaptado de E. Simões, Que língua é essa? "Folha de S. Paulo", Ilustrada, p. 1, 28/09/2008.
46
a) O excerto acima supõe que alterações ortográficas modifiquem o modo de falar uma língua. Mostre a
palavra utilizada que permite essa interpretação. Levando-se em consideração o quadro comparativo
das mudanças ortográficas e a suposição expressa no excerto, explique o equívoco dessa suposição.
Ainda sobre a reforma ortográfica, Diogo Mainardi escreveu o seguinte:
Eu sou um ardoroso defensor da reforma ortográfica. A perspectiva de ser lido em Bafatá, no
interior da Guiné-Bissau, da mesma maneira que sou lido em Carinhanha, no interior da Bahia, me enche de
entusiasmo. Eu sempre soube que a maior barreira para o meu sucesso em Bafatá era o C mudo [como em
facto na ortografia de Portugal] (...)
D. Mainardi, Uma reforma mais radical. Revista VEJA, p. 129, 8/10/2008.
b) O excerto acima apresenta uma ironia. Em que consiste essa ironia? Justifique.
Gabarito:
a) Na frase: "você não poderá mais dizer que foi mordido por uma jiboia, e sim por uma jiboia", o jornalista
usou o verbo "dizer" ao invés de escrever, ao sugerir que a reforma afetaria o modo de falar das pessoas.
O quadro comparativo apresentado seria suficiente para desmentir a sugestão do jornalista, porque nele
se vê que não ocorreu alteração na pronúncia das palavras, apenas na grafia.
b) A ironia do articulista refere-se à suposição de que pequenas alterações ortográficas sejam suficientes
para promover o intercâmbio cultural entre os países lusófonos. Quando se refere a lugares remotos e,
muitas vezes, ignorados, o escritor sugere que o "atraso" econômico, social, cultural seja o principal
problema entre as relações culturais entre os países envolvidos.
Questão 89
(Fuvest) Leia o seguinte texto, extraído de uma biografia do compositor Carlos Gomes.
"No ano seguinte [1860], com o objetivo de consolidar sua formação musical, [Carlos Gomes]
mudou-se para o Rio de Janeiro, contra a vontade do pai, para iniciar os estudos no conservatório da
cidade. "Uma ideia fixa me acompanha como o meu destino! Tenho culpa, porventura, por tal cousa, se foi
vossemecê que me deu o gosto pela arte a que me dediquei e se seus esforços e sacrifícios fizeram-me
ganhar ambição de glórias futuras?", escreveu ao pai, aflito e cheio de remorso por tê-lo contrariado. "Não
me culpe pelo passo que dei hoje. [...] Nada mais lhe posso dizer nesta ocasião, mas afirmo que as minhas
intenções são puras e espero desassossegado a sua bênção e o seu perdão", completou."
http://musicaclassica.folha.com.br
a) Sobre o advérbio "porventura", presente na carta do compositor, o dicionário "Houaiss" informa: "usa-se
em frases interrogativas, especialmente em perguntas delicadas ou retóricas."
Aplica-se ao texto da carta essa informação? Justifique sua resposta.
b) Cite duas palavras, também empregadas pelo compositor, que atestem, de maneira mais evidente, que,
daquela época para hoje, a língua portuguesa sofreu modificações.
Gabarito:
a) Sim, pois há uma afirmação sob a forma de pergunta, e isso se justifica pelo fato de, nela, o autor sugerir
ter sido o próprio pai o "culpado" de seu "gosto pela arte", um gosto que o levaria a contrariar determinações
paternas.
b) As formas cousa e vossemecê, hoje desusadas no Brasil, atestam a evolução da língua.
Questão 90
(Fgv) Leia o texto.
"Cuidado com as palavras
Uma moça se preparou toda para ir ao ensaio de uma escola de samba.
Chegando lá, um rapaz suado pede para dançar e, para não arrumar confusão, ela aceita.
Mas o rapaz suava tanto que ela já não estava suportando mais. Assim, ela foi se afastando e disse:
-Você sua, hein!!!
Ele puxou-a, lascou um beijo e respondeu:
-Também vô sê seu, princesa!!!"
(www.mundodaspiadas.com/arquivo/2006-2-1.html. Adaptado)
a) Tendo como base a frase da moça, explique o que ela quis dizer e o que o rapaz entendeu.
b) Explique, do ponto de vista fonológico, o que gerou a interpretação do rapaz.
Gabarito:
a) A moça quis dizer que o rapaz transpirava muito. O rapaz entendeu que ela estava manifestando o
desejo de ser dele.
b) O rapaz entendeu a frase da moça - "Você sua" - como se fosse "Vou ser sua". A confusão fonológica
deveu-se ao fato de o rapaz ter tomado a frase da moça pela pronúncia popular.
47
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1
CONCEITOS DA VIDA COTIDIANA
A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação poética e um ornamento
retórico - é mais uma questão de linguagem extraordinária do que de linguagem ordinária. Mais do que isso,
a metáfora é usualmente vista como uma característica restrita à linguagem, uma questão mais de palavras
do que de pensamento ou ação. Por essa razão, a maioria das pessoas acha que pode viver perfeitamente
bem sem a metáfora. Nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não
somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação. 3Nosso sistema conceptual ordinário, em
termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza.
Os conceitos que governam nosso pensamento não são meras questões do intelecto. Eles
governam também a nossa atividade cotidiana até nos detalhes mais triviais. Eles estruturam o que
percebemos, a maneira como nos comportamos no mundo e o modo como nos relacionamos com outras
pessoas. Tal sistema conceptual desempenha, portanto, um papel central na definição de nossa
realidade cotidiana.
Para dar uma ideia de como um conceito pode ser metafórico e estruturar uma atividade cotidiana,
comecemos pelo conceito DISCUSSÃO e pela metáfora conceitual DISCUSSÃO É GUERRA. Essa
metáfora está presente em nossa linguagem cotidiana numa grande variedade de expressões:
Seus argumentos são indefensáveis.
Ele atacou todos os pontos fracos da minha argumentação.
Destruí sua argumentação.
É importante perceber que não somente falamos sobre discussão em termos de guerra. Podemos
realmente ganhar ou perder uma discussão. Vemos as pessoas com quem discutimos como um adversário.
Atacamos suas posições e defendemos as nossas. Planejamos e usamos estratégias. Se achamos uma
posição indefensável, podemos abandoná-la e colocar-nos numa linha de ataque. 1Muitas das coisas que
fazemos numa discussão são parcialmente estruturadas pelo conceito de guerra.
2
Esse é um exemplo do que queremos dizer quando afirmamos que um conceito metafórico
estrutura (pelo menos parcialmente) o que fazemos quando discutimos, assim como a maneira pela qual
compreendemos o que fazemos.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Texto adaptado de Metáforas da vida cotidiana. Campinas: Mercado de
Letras; São Paulo: EDUC, 2002, p. 45-47.
TEXTO 2
O QUE ESTÁ FALTANDO PARA RESOLVER O PROBLEMA DA SEGURANÇA PÚBLICA.
"MUNIÇÃO": CONJUNTO DE INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA TRATAR DO PROBLEMA.
"ARSENAL": ESTOQUE DE CONHECIMENTOS E EXPERIÊNCIAS PARA ENRIQUECER O DEBATE.
'GROSSO "CALIBRE": FORMA DE QUALIFICAR A AUTORIDADE DE UM ESPECIALISTA NA ÁREA.
"METRALHAR": EXPOR EM PALAVRAS, COM ENTUSIASMO E CONVICÇÃO, IDEIAS EFICAZES E
PERTINENTES. "BOMBA": UM PONTO DE VISTA INÉDITO E PODEROSO, CAPAZ DE REDIRECIONAR
A DISCUSSÃO. "BALA NA AGULHA": FORMA DE ADJETIVAR A EXTREMA CAPACIDADE DE ALGUÉM
PARA BUSCAR SOLUÇÕES. "TIRO CERTEIRO": ARGUMENTO DEFINITIVO QUE ACABA COM UM
IMPASSE. "DUELO": DEBATE ACALORADO DE OPINIÕES OPOSTAS SOBRE UM MESMO CONCEITO.
"EXTERMINAR": DEIXAR DE LADO OS PRECONCEITOS E AS SOLUÇÕES IMEDIATISTAS.
"SEGURANÇA PÚBLICA". UMA AÇÃO DE TODOS NÓS.
Jornal do Brasil. 01/09/2003, p.C8.
Questão 91
(Puc-rio)
a) "Muitas das coisas que fazemos numa discussão são parcialmente estruturadas pelo conceito de
guerra." (ref. 1)
Reescreva essa frase, mantendo o mesmo sentido e começando conforme indicado a seguir:
O conceito de guerra ____________________
b) "Esse é um exemplo do que queremos dizer quando AFIRMAMOS que um conceito metafórico estrutura
(pelo menos parcialmente) o que fazemos quando DISCUTIMOS, assim como a maneira pela qual
compreendemos o que fazemos." (ref. 2)
Nesse fragmento, indique a quem se referem os verbos destacados: "afirmamos" e "discutimos".
c) "Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é
fundamentalmente metafórico por natureza." (ref. 3)
Reescreva essa frase, substituindo "sistema" por "estruturas" e fazendo as alterações necessárias.
d) A palavra "ordinária" é usada no texto 1 com o mesmo significado que tem na frase "Desperdicei meu
dinheiro com essa roupa ordinária"? Justifique sua resposta.
48
Gabarito:
a) O conceito de guerra estrutura, em parte, muitas das coisas que são feitas durante uma discussão.
b) "afirmamos" refere-se aos autores do texto; "discutimos" se refere às pessoas em geral.
c) Nossas estruturas conceptuais ordinárias, em termos das quais não só pensamos mas também agimos,
são fundamentalmente metafóricas por natureza.
d) No texto, a palavra "ordinária" tem o sentido de "cotidiana, comum". Na frase dada, ela significa "reles,
de baixa qualidade".
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
TEXTO 1
Epitáfio para um banqueiro
negócio
ego
ócio
cio
o
PAES, José Paulo. In: ARRIGUCCI JR., Davi. (org.).
Melhores poemas de José Paulo Paes. São Paulo: Global, 1998, p. 115.
TEXTO 2
Levei vários anos até conquistar o ócio, isso é importante para o poeta, ele não pode ter a cabeça
virada só para coisas a resolver. Fiquei muitos anos arrumando minha vida, saldando dívidas, atendendo
papagaio. Há oito anos, cheguei aqui pra Mato Grosso, tomei pé aqui. Agora estou vagabundo, tenho direito
a isso. Herdei uma fazenda, em campo aberto, terra nua, sou fazendeiro de gado, vaca, não sou "o rei do
boi, do gado" mas vivo bem. Este é o meu caso: enquanto estava tomando pé da fazenda não escrevi uma
linha. Mas sabemos de outros casos, como o Dostoiévski, que escreveu perseguido por dívidas, ou o
Graciliano Ramos, que além das dívidas ainda tinha família pra criar.
Barros, Manuel de. Entrevista a André Luís Barros.
Jornal do Brasil - Caderno Ideias, 24/08/1996, p. 8.
TEXTO 3
"Sabemos bem que, dentre todos os termos usados para expressar um afastamento do trabalho
(preguiça, greve, vida à toa, apatia, vadiagem, indolência, vagabundagem etc.), somente otium gozou de
uma acepção positiva, pelo menos na antiguidade clássica. Finalmente, hoje este termo pode ser
reavaliado. Através do direito ao trabalho, o homem realizou a sua condição industrial; através do direito ao
ócio, o homem realizará a sua condição pós-industrial. É necessário ascender do humanismo do trabalho ao
humanismo do ócio. Isto nos é agora permitido graças ao nível de tecnologia e de escolaridade difusa que
atingimos: aquele direito ao ócio, gozado pelos aristocratas e pelos grandes herdeiros do Renascimento, mas
que sempre permaneceu utópico para os operários industriais, é finalmente realizável pelos executivos,
empresários e dirigentes, pelos profissionais liberais e por todos os envolvidos em criação na nossa sociedade
pós-industrial. Com a condição de que eles não só se conscientizem, mas também se disponham a lutar
alegremente contra os burocratas e contra os hiperativos alienados. E que se deem conta de que a
contraposição entre o trabalho e o ócio, ou entre o trabalho e o lazer, só faz sentido em relação às velhas tarefas
executivas. Sendo assim, eles devem se empenhar na saudável, e agora realística, tentativa de combinar o
trabalho com o estudo e com a diversão, fazendo destas atividades uma síntese inovadora e fecunda.
O trabalho criativo requer "tempo integral": alguém empenhado em resolver um problema cuja
solução comporte uma ideia nova (seja ele um artista, um publicitário, um profissional liberal, um empresário
ou um artesão) não pode interromper o pensamento perdendo o fio da meada, como fazia o operário que,
ao soar da sirene, largava o serviço na cadeia de montagem. Quando aquele que cria tem um problema na
cabeça, seu cérebro trabalha sem cessar, esteja ele no escritório, em casa, acordado, dormindo, entre o
sono e o despertar, até chegar à intuição genial, o 'insight' revelador da solução.
DE MASI, Domenico. A economia do ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2001, p. 14-15.
TEXTO 4
Estes índios são de cor baça, e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas feições dele à
maneira de chinês.
Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa estatura; gente mui esforçada, e que estima
pouco morrer, temerária na guerra, e de muito pouca consideração: são desagradecidos em grande
49
maneira, e mui desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui
descansados sem terem outros pensamentos senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam
muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emagrecer, e muitas vezes pode deles tanto
a imaginação que se algum deseja a morte, ou alguém lhe mete em cabeça que há de morrer tal dia ou tal
noite não passa daquele termo que não morra. São mui inconstantes e mudáveis: creem de ligeiro tudo
aquilo que lhes persuadem por dificultoso e impossível que seja, e com qualquer dissuasão facilmente o
tornam logo a negar. São mui desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se
neles não houvera razão de homens: ainda que todavia em seu ajuntamento os machos e fêmeas têm o
devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. In Cronistas e viajantes. Literatura comentada.
São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 33.
TEXTO 5
Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um
cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas e todo ele se quebrando nos seus movimentos de
capoeira.
Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. (...)
Era oficial de torneiro; oficial perito e vadio; ganhava uma semana para gastar num dia; às vezes,
porém, os dados ou a roleta multiplicavam-lhe o dinheiro, e então, ele fazia como naqueles últimos três
meses: afogava-se numa boa pândega com a Rita Baiana. A Rita ou outra. "O que não faltava por aí eram
saias para ajudar um homem a cuspir o cobre na boca do diabo!"
Nascera no Rio de Janeiro, na Corte; militara dos doze aos vinte anos em diversas maltas de
capoeiras; chegara a decidir eleições nos tempos do voto indireto. Deixou nome em várias freguesias e
mereceu abraços, presentes e palavras de gratidão de alguns importantes chefes de partido. Chamava a
isso a sua época de paixão política; mas depois desgostou-se com o sistema de governo e renunciou às
lutas eleitorais, pois não conseguira nunca o lugar de contínuo numa repartição pública - o seu ideal! Setenta mil-réis mensais: trabalho das nove às três.
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. São Paulo: Martins, 1972, p.76.
Questão 92
(Puc-rio)
a) Com relação ao enunciado "Agora estou vagabundo, tenho direito a isso.", encontrado no texto 2,
indique que palavra reforça a semântica do verbo "estar", justificando sua resposta.
b) Explique por que, segundo o texto 3, "a contraposição entre o trabalho e o ócio, ou entre o trabalho e o
lazer, só faz sentido em relação às velhas tarefas executivas".
Gabarito:
a) O advérbio "agora" traz implícita a noção de transitoriedade, reforçando o caráter de estado momentâneo
do estado do narrador.
b) Torna-se obsoleta a oposição entre trabalho e lazer, na sociedade pós-industrial. Uma parcela da
sociedade pode desfrutar das vantagens da tecnologia e de uma nova organização do tempo e do espaço
de trabalho. Enquanto o conceito de trabalho criativo elimina a oposição entre lazer e trabalho como
atividades distintas e incompatíveis.
Questão 93
(Puc-rio)
a) No texto 5, as ações e ambições de Firmo representam um padrão de comportamento reconhecível em
nossa cultura.
Explique a crítica social implícita na descrição de seu interesse pela política.
b) Observe os usos de "mui" e "muito" nos seguintes exemplos do texto 4: "mui esforçada", "mui
desumanos", "mui descansados", "mui inconstantes", "mui desonestos" e engordam muito. Comparando
esses usos, identifique em que contextos morfossintáticos cada um deles é empregado.
Gabarito:
a) Firmo representa aqueles que, para obterem vantagens pessoais e estabilidade econômico-financeira
sem esforço, usam a carreira na política ou no funcionalismo público.
b) Nos exemplos destacados, mui é empregado modificando adjetivos, e muito, modificando um verbo.
Questão 90
(Puc-rio)
a) O texto 4 foi escrito no século XVI, e o texto 5, no século XIX. São, respectivamente, trechos de uma
crônica de um viajante europeu no Brasil e de um dos mais conhecidos romances naturalistas
brasileiros. Apesar da distância temporal que os separa, observa-se, em ambos, a presença de uma
visão pejorativa ligada à ideia de ociosidade das personagens. Comente com suas próprias palavras
essa afirmativa e retire um trecho de cada um dos dois textos que comprove a sua resposta.
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b) "Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos." (Texto 5)
Identifique, na frase anterior, um dos recursos linguísticos empregados para expressar a incerteza do
narrador sobre a idade de Firmo.
c) O conectivo "e", além do valor aditivo, pode assumir outros valores semânticos. Indique que valores o
"e" apresenta nos seguintes fragmentos do texto 5: "oficial perito e vadio", "desgostou-se com o sistema
de governo e renunciou às lutas eleitorais".
Gabarito:
a) Gândavo descreve os índios em sua crônica como "desagradecidos", "mui desumanos e cruéis" e
"desonestos", ressaltando a sua ociosidade no seguinte trecho: "Vivem todos mui descansados sem terem
outros pensamentos senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito...". Também de uma
maneira pejorativa, Aluísio Azevedocritica os hábitos da personagem Firmo, em especial a ociosidade, na
passagem a seguir: "Era oficial de torneiro; oficial perito e vadio; ganhava uma semana para gastar
num dia".
b) Na frase citada, o emprego do futuro do pretérito do indicativo (teria) indica incerteza, assim como a
escolha lexical (parecer) e o uso de pronomes indefinidos (tantos, poucos).
c) No fragmento "oficial perito e vadio", o conectivo "e" tem valor adversativo e equivale a "mas", "porém".
Em "desgostou-se com o sistema de governo e renunciou às lutas eleitorais", o conectivo apresenta valor
conclusivo, correspondendo a "por isso", "logo".
Questão 95
(Unicamp) A carta a seguir reproduzida foi publicada em outubro de 2007, após declaração sobre a
legalização do aborto feita por Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro.
Sobre a declaração do governador fluminense, Sérgio Cabral, de que "as mães faveladas são uma fábrica
de produzir marginais", cabe indagar: essas mães produzem marginais apenas quando dão à luz ou
também quando votam?
(Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seção Painel do Leitor, "Folha de São Paulo", 29/10/2007.)
a) Há uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa
ironia. Justifique.
b) Nessa ironia, marca-se uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em
função da presença de uma construção sintática, a crítica não incorre em uma oposição. Indique a
construção sintática que relativiza essa crítica. Justifique.
Gabarito:
a) A ironia está contida no trecho "ou também quando votam?". Ao questionar se não existe também a
possibilidade de as mães produzirem marginais por meio do voto, o leitor da "Folha" está estabelecendo o
pressuposto de que o governador do Rio de Janeiro, como político eleito, pertenceria à classe dos
marginais.
b) No trecho citado, existe uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Porém, ela é
atenuada, já que não se endereça somente a ele. Ao incluir na pergunta o operador sintático "apenas", o
enunciador não deixa de concordar com o que Sérgio Cabral disse, ou seja, que mães faveladas dão à
luz marginais.
Questão 96
(Ueg)
MEIO AMBIENTE
Umidade do ar chega a 11% e incêndios dobram
Sol se põe atrás de construção: imagem típica desta época do ano na capital
O POPULAR, Goiânia, 28 ago. 2007, p. 3.
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Considerando o tema "meio ambiente", que incoerência prejudica a complementação dos sentidos
produzidos pela linguagem não-verbal (foto) e pela linguagem verbal (legenda abaixo da foto)
na reportagem?
Gabarito:
A incoerência é que o sol se põe em qualquer época em qualquer lugar. Atrás da construção, a imagem do
pôr-do-sol não é típica dessa época do ano na capital.
Questão 97
(Unesp)
As tiras frequentemente nos surpreendem pela profundidade das reflexões que provocam em sua síntese
visual e linguística. É o que ocorre na de Adão Iturrusgarai, que nos leva a refletir sobre as motivações dos
desabafos da personagem. Embora pareça contraditória e inconsequente sob o ponto de vista psicológico a
atitude da personagem, no último quadrinho, de se declarar insatisfeita com a nova aparência obtida,
podemos encontrar, numa releitura mais atenta da tira, uma causa objetiva para essa insatisfação. Aponte
essa causa, levando em consideração o jogo de palavras que ocorre entre "aparência pessoal" e
"aparência impessoal".
Gabarito:
A personagem relata mudanças por ela passadas, que são marcadas por meio dos adjetivos "pessoal" e
"impessoal", bem como pela forma verbal "estava" e pelo advérbio "agora". Ao se transformar
esteticamente, a personagem perdeu a própria identidade.
Questão 98
(Unicamp)
a) No primeiro quadrinho, a menção a "palavrões" constrói uma expectativa que é quebrada no segundo
quadrinho. Mostre como ela é produzida, apontando uma expressão relacionada a "palavrões", presente
NO PRIMEIRO QUADRINHO, que ajuda na construção dessa expectativa.
b) No segundo quadrinho, o cômico se constrói justamente pela quebra da expectativa produzida no
quadrinho anterior. Entretanto, embora a relação pressuposta no primeiro quadrinho se mantenha, ela
passa a ser entendida num outro sentido, o que produz o riso. Explique o que se mantém e o que é
alterado NO SEGUNDO QUADRINHO em termos de pressupostos e relações entre as palavras.
Gabarito:
a) Com o uso da expressão "passar vergonha", a personagem passa a ideia de que "palavrão" é "palavra
obscena ou grosseira". Cria-se, desse modo, a expectativa de que o papagaio utiliza, frequentemente,
palavras de baixo nível.
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b) O efeito cômico do quadrinho acontece pelo descompasso entre a expectativa do leitor em relação a
palavras obscenas e a escolha lexical realizada pelo papagaio. Palavras como "bocó", "xixi", "cocô" e
"bumbum" são vistas como expressões grosseiras, mas que, nas escolhas do jargão infantil, perdem
qualquer efeito de obscenidade. O que a personagem temia ocorre, ela realmente passa vergonha diante
dos amigos, mas muda-se o motivo: o que envergonha não é a obscenidade, mas a ingenuidade
das palavras.
Questão 99
(Unifesp) Leia a charge.
Observando as imagens, vê-se que as personagens estão se
referindo a personalidades diferentes, daí o efeito de humor da
charge quanto aos seus comentários.
a) Do ponto de vista linguístico, o que gera a confusão
das personagens?
b) Que ideia está subentendida no ponto de vista de
cada personagem?
Gabarito:
a) O elemento linguístico gerador da confusão entre as crianças representadas é de ordem fonética: os
nomes (Chaves e Chávez) são homônimos homófonos, isto é, palavras de mesma pronúncia.
b) Nas feições e no comentário da personagem da esquerda, percebe-se uma avaliação positiva do fato de
as crianças da Venezuela poderem assistir ao programa do "Chaves" o dia todo. No caso da observação da
personagem da direita, em que se percebe insatisfação, o adjetivo "coitadas!", em tom interjetivo, faz uma
avaliação negativa do presidente "Chávez".
Questão 100
(Puc-rio) TEXTO I
ESQUECER ALGUMAS COISAS FACILITA LEMBRAR OUTRAS
Esquecer uma informação menos importante, mediante um processo de memória seletiva, torna
mais fácil lembrar um dado mais relevante, segundo um estudo elaborado por cientistas dos Estados
Unidos. Para chegar a esta conclusão, que a revista científica britânica "Nature Neuroscience" traz em sua
última edição, os especialistas fizeram ressonâncias magnéticas em indivíduos enquanto estes tentavam
lembrar associações de palavras que tinham aprendido anteriormente.
Durante os exames, os cientistas analisaram o comportamento do córtex pré-frontal, a parte do cérebro
que participa do processo de recuperação das informações armazenadas na memória. Como se fosse uma
competição em que uma informação vence quando outra é descartada, quanto maior o número de coisas que os
pesquisados esqueciam, menos ativo o córtex pré-frontal se mostrava, isto é, menos recursos o cérebro
precisava usar para recuperar uma informação. Portanto, para os indivíduos que participaram da experiência, foi
muito mais simples lembrar uma associação de palavras ao esquecer outras.
Adaptado de texto disponível em: Yahoo Notícias, <http://br.noticias.yahoo.com>, 03 de junho de 2007.
TEXTO II
ESQUECIMENTO DE IMPRESSÕES E CONHECIMENTOS
Também nas pessoas saudáveis, não neuróticas, encontramos sinais abundantes de que uma
resistência se opõe à lembrança de impressões penosas, à representação de pensamentos aflitivos. [...]
O ponto de vista aqui desenvolvido - de que as lembranças aflitivas sucumbem com especial
facilidade ao esquecimento motivado - merece ser aplicado em muitos campos que até hoje lhe concederam
muito pouca ou nenhuma atenção. 1Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente
na avaliação dos testemunhos prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da
testemunha capaz de exercer uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças
psíquicas. É universalmente reconhecido que, no tocante à origem das tradições e da história legendária de
um povo, é preciso levar em conta esse tipo de motivo, cuja meta é apagar da memória tudo o que seja
penoso para o sentimento nacional.
FREUD, Sigmund. Fragmento de "Sobre a psicopatologia da vida cotidiana". Edição "standard" brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. VI, Tradução dirigida por Jayme Salomão, Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 152153.
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a) Os Textos 1 e 2 tematizam o esquecimento, associando sua ocorrência a fatores distintos. Diga quais
são esses fatores e compare-os quanto à sua natureza.
b) No experimento descrito no Texto 1, que relação foi observada entre a menor atividade do córtex préfrontal e o desempenho dos participantes na tarefa proposta?
c) Leia o período a seguir, extraído do Texto 2 (ref. 1), e retire o termo oracional que exerce a mesma
função sintática de "muito divertida" em "O menino achou muito divertida a comédia."
"Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente na avaliação dos testemunhos
prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da testemunha capaz de exercer uma
influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas."
Gabarito:
a) O Texto 1 associa o esquecimento a fatores de natureza neurofisiológica (patologia). O Texto 2 associa o
esquecimento a fatores de ordem psicológica, ou seja, com a necessidade de evitar lembranças
desagradáveis.
b) A menor atividade foi relacionada a um melhor desempenho dos pesquisados na tarefa experimental que
envolveu associações de palavras.
c) O termo oracional que exerce a mesma função sintática da expressão destacada é: "capaz de exercer
uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas" (predicativo).
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“As pessoas ficam zoando, falando que a gente não