O que aconteceu no Litoral Norte pode ter sido um furacão como o Catarina? Em virtude dos estragos deixados pelo vento, existe a possibilidade de que algumas áreas do Litoral tenham sido atingidas por tornados? Qual é a explicação para ventos tão fortes no Litoral e na Região Metropolitana? Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul em Marcio Custódio, Naiane Araujo, Estael Sias, meteorologista da Somar Meteorologia meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) meteorologista da Central de Meteorologia Não foi furacão. A dinâmica do furacão é diferente do que ocorreu. Normalmente, um furacão ocorre em águas mais quentes do que as do sul do Brasil. O Catarina foi o único que contrariou a regra. Ele foi definido como furacão por ter no centro um olho, uma área sem nuvens, e porque avançou do oceano em direção à terra. Não foi um furacão, pelas características do sistema. O furacão tem intensidade de ventos mais fortes do que os de quinta-feira. Além disso, um furacão tem um olho no centro e também um sentido de deslocamento diferente. Não há possibilidade. O Catarina se formou no oceano e se deslocou em direção à costa. No fenômeno de quinta-feira, temporais ocorreram no continente, mas o ciclone continuou no oceano. O ciclone se desloca de oeste para leste. Com o furacão, ocorre o contrário. Sim. O tornado é diferente do furacão. Tem uma escala de algumas centenas de metros, enquanto o furacão atinge centenas de quilômetros. É mais destrutivo e pode passar de 200 km/h. Alguns relatos de testemunhas indicam características de tornado, como vento sugando tudo de baixo para cima. Ainda não dá para dizer se ocorreu tornado ou não. Mas é possível que algum pequeno tornado tenha atingido a área continental. Ainda que a chance exista, creio que não ocorreu. Em sua trajetória, o tornado, ao derrubar uma árvore ou casa, retorce essa árvore ou casa. Até agora não temos relato dessa situação. Pelos relatos e imagens que apareceram até agora, não vi nada que indique um tornado. O mais provável é que tenham ocorrido em alguns pontos microexplosões, que são rajadas muito fortes da nuvem em direção ao solo. O ciclone extratropical foi o sistema principal. Esses ciclones são uma condição normal do sul do Brasil, mas alguns são mais intensos. Uma série de pequenos fatores contribuiu para intensificar os temporais: o ar quente e úmido sobre o continente, a maior proximidade do ciclone com a terra e a água mais aquecida do oceano. Toda frente fria tem associado a ela um ciclone, que passa no mar – algo comum nesta época. Mas como esse ciclone estava muito próximo da costa, ocorreram ventos extremamente fortes em terra. Além disso, havia um outro sistema meteorológico agindo, que trouxe uma massa de ar muito quente e úmida da Amazônia. Houve frente fria com ciclone. Três fatores se combinaram: essa frente fria, muita umidade e calor. O ciclone não teve nada de atípico. O aquecimento no continente é o ingrediente diferente. Tivemos quase 40°C. O calor intensifica o temporal, porque faz as nuvens ficarem mais altas. A primavera é a época de chuvas mais fortes no sul do país. Em 2008, por exemplo, Santa Catarina enfrentou chuvas muito fortes em novembro. Neste novembro existe um fator a mais, o El Niño. Uma das coisas que ele faz é favorecer que o ar mais quente e úmido da Amazônia desça até o Sul. Esse ar quente potencializa os eventos normais de chuva. Estávamos com o El Niño fraco no começo da primavera. Agora, ele está mais presente. Uma de suas características é provocar aumento das chuvas na Região Sul e diminuição no Nordeste, o que está acontecendo. De resto, a primavera é uma estação muito complicada, de transição, em que as mudanças na atmosfera acontecem muito rápido. Podemos associar a precipitação com o El Niño, que está em desenvolvimento no Pacífico. O aquecimento no Pacífico está muito intenso nestas duas últimas semanas. O efeito no Estado é de intensificar as frentes frias. Na região de Bagé e no Oeste estamos com quase 500 milímetros acumulados no mês.