CECÍLIA ZANIN PALCHETTI COMPOSIÇÃO CORPORAL E LIPODISTROFIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PRÉ-PÚBERES INFECTADOS PELO HIV Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para Obtenção do Título de Mestre em Ciências São Paulo 2010 CECÍLIA ZANIN PALCHETTI COMPOSIÇÃO CORPORAL E LIPODISTROFIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PRÉ-PÚBERES INFECTADOS PELO HIV Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para Obtenção do Título de Mestre em Ciências Orientadora: Fernanda Luísa C. Oliveira Co-orientadoras: Regina Célia de M. Succi Vera Lúcia Szejnfeld São Paulo 2010 2 Palchetti, Cecília Zanin Composição corporal e lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV. / Cecília Zanin Palchetti.—São Paulo, 2010, 99 p. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Nutrição. Título em inglês: Body composition and lipodystrophy in prepubertal HIV -infected children and adolescents. 1. HIV. 2. Composição corporal. 3. Lipodistrofia. 4. Nutrição 5. Criança. 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA Chefe do Departamento: Prof. Dr. Mauro Batista de Morais Coordenador do Curso de Pós-Graduação: Profa. Dra. Cláudia M. Oller do Nascimento 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela vida e pelas oportunidades que me foram dadas. A meus pais, Ymara e Nelson, que me ensinaram os verdadeiros valores da vida, me proporcionaram tudo aquilo que estava sob alcance e sempre me incentivaram e apoiaram na busca pelo conhecimento. A meu irmão, Antônio, pelo companheirismo nos momentos alegres e difíceis. Aos meus avós Tonico, Antônio, Nelson, Cinira (in memorian) e Nelva pelo amor incondicional e por tudo que representam para mim. À minha grande família, pelo apoio, amor, união, incentivo. A meus amigos, que me ouviram muitas vezes falar sobre minha tese... Obrigada pela amizade, pelo carinho e companhia! A minha orientadora Dra. Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira, que acreditou em mim desde os tempos de aprimoramento e me despertou a paixão pela pediatria e pela pesquisa. Agradeço o apoio, o carinho e a amizade! À Dra Regina Célia de M. Succi, pelos sábios ensinamentos e oportunidade de atuar no CEADIPe. Profissional digna de admiração, sempre acolheu de braços abertos as crianças ali atendidas. 5 A Dra Vera Lúcia Szejnfeld, por ter me recebido na Disciplina de Reumatologia e acrescentado sua experiência e sabedoria a esta tese. Aos responsáveis pelos pacientes, por terem permitido a inclusão dos mesmos neste estudo. As crianças e adolescentes, obrigada pela participação, paciência, colaboração, carinho... Aos profissionais e funcionários do CEADIPe, pelo companheirismo, conhecimento e apoio. Muito mais que um ambulatório, o CEADIPe é local onde o carinho, dedicação, apoio e respeito aos pacientes e familiares está constantemente presente. As enfermeiras Ana Maria e Rose, pela valiosa colaboração de realizar a coleta de sangue dos pacientes. A técnica do DXA Luzia, pela realização dos exames. A nutricionista Rose Vega Patin, mais que profissional, amiga pessoal. Obrigada pelos ensinamentos, amizade, companheirismo ao longo desses 4 anos... 6 As amigas da UNIFESP e companheiras diárias Juliana, Vera, Maria Silvia, Cristiane, Camila, Ana Paula e Patrícia. Agradeço à amizade, a compreensão, os momentos compartilhados no dia a dia. Aos médicos da Disciplina de Nutrologia: Dr. Domingos Palma, Dra. Maria Arlete M. S. Escrivão, Dr. Luiz Anderson Lopes, Dra. Annelise Dias Brasil, Dr. José Augusto de A. C.Taddei. Agradeço por ter tido a oportunidade de conviver com vocês e aprender tanto. A Profa. Cláudia Maria Oller do Nascimento, pela oportunidade de realizar o Mestrado na Pós-Graduação em Nutrição. Aos professores da Pós-Graduação em Nutrição pelos conhecimentos transmitidos. A Ivone, D. Maria de Lourdes, Marta e Fabíola, pelo auxílio e atenção. 7 DEDICATÓRIA Dedico às crianças que aqui estão e às que se transformaram em estrelinhas no céu... Tão pequenas e tão valentes...! 8 APOIO: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES – REUNI) pela concessão da bolsa de mestrado. 9 SUMÁRIO 1. Prefácio ..................................................................................................................... 11 2.Fundamentação ......................................................................................................... 12 3. Objetivos ...................................................................................................................26 4. Casuística e métodos ................................................................................................ 27 5. Análise estatística ..................................................................................................... 35 6. Cronograma de atividades ........................................................................................ 36 7. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 37 8. Artigo “ COMPOSIÇÃO CORPORAL EM PRÉ-PÚBERES INFECTADOS PELO HIV: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BIA E DXA" .. ...................................................... 50 8.1. Artigo “ AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA E COMPOSIÇÃO CORPORAL EM PRÉ-PÚBERES INFECTADOS PELO HIV COM E SEM LIPODISTROFIA” ......................... 67 9. Anexos: Ficha de coleta de dados ............................................................................ 94 Confirmação de recebimento da revista........................................................................ 96 Parecer do Comitê de Ética........................................................................................... 97 10 1. PREFÁCIO Esta tese está sendo apresentada ao Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências. A tese encontra-se dividida em três partes e anexos, seguindo as exigências do programa. A primeira parte deste volume é constituída pela Fundamentação Científica do projeto de pesquisa: “Composição corporal e lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV” submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo. Na segunda parte encontram-se os artigos: “Composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV: estudo comparativo entre DXA e BIA” e “Avaliação antropométrica e composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia”, o qual foi submetido para publicação no Jornal de Pediatria, aguardando parecer dos revisores. Na terceira e última parte deste volume, encontram-se os anexos: formulário da coleta de dados, a carta de submissão do artigo e a carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) . 11 2. FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA 2.1 Introdução As primeiras décadas de vida são período de desenvolvimento e crescimento, marcada por mudanças na composição corporal, a qual está relacionada ao gênero, à idade, ao estado nutricional e à saúde do indivíduo. Portanto, faz-se necessário a sua avaliação nutricional neste período da vida. A avaliação nutricional compreende anamnese, inquéritos alimentares, medidas e índices antropométricos e composição corporal. As medidas antropométricas serão utilizadas para cálculo de índices, que contribuirão no diagnóstico do estado nutricional e distúrbios nutricionais. As medidas antropométricas são utilizadas para acompanhar a evolução do crescimento, sendo também úteis para identificar presença de alterações clínico-metabólicas (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). Para a avaliação de peso e estatura, o Ministério da Saúde preconiza os padrões de referência da Organização Mundial de Saúde – OMS (2006, 2007) (OMS). Por meio de cálculo dos índices antropométricos como peso para estatura e índice de massa corporal para idade (IMC), pode-se avaliar o estado nutricional de crianças e adolescentes, assim como o crescimento linear da criança por meio do índice estatura para idade (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). As circunferências são utilizadas para quantificar diferenças interindividuais e dessa forma identificar os indivíduos que apresentam risco de desnutrição ou obesidade. A aferição da circunferência abdominal tem sido 12 utilizada como ferramenta útil para avaliar a obesidade e suas co-morbidades, que aumenta o risco de doenças cardiovasculares (Lemieux et al., 2000). Em crianças e adolescentes, permite identificar o acúmulo de gordura central, sendo considerada medida de adiposidade (McCarthy et al., 2001). A circunferência do braço é constituída pela somatória dos tecidos ósseo, muscular e adiposo, enquanto a circunferência da panturrilha é determinada ao redor do perímetro máximo do músculo da panturrilha. São utilizadas para identificar variações interindividuais e auxiliar no diagnóstico do estado nutricional do paciente (Callaway et al, 1988; Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). As dobras cutâneas aferem a adiposidade dos tecidos subcutâneos e também refletem alterações na composição corporal do indivíduo (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). Utiliza-se a aferição das dobras cutâneas a fim de estimar os depósitos subcutâneos de gordura, que se relacionam diretamente com a gordura total. A avaliação das dobras deve ser feita de forma cautelosa, visto que pode ocorrer grande variabilidade entre os avaliadores. As mais utilizadas são a dobra cutânea triciptal, biciptal, subescapular e supra-ilíaca (Amâncio et al., 2009; Sociedade Brasileira de Pediatria, 2009). Quanto à avaliação da composição corporal, o modelo clássico de dois compartimentos divide o peso corporal em massa gorda, que compreende os 13 lipídeos, e em massa magra, a qual engloba a água, proteínas e componentes minerais (Heyward et al., 1996). Existem diferentes métodos para avaliar a composição corporal, compreendendo métodos mais simples até mais sofisticados (Pinto et al., 2005): a condução elétrica corporal total (TOBEC), que determina a composição corporal por meio da condutividade elétrica; a hidrometria, que consiste em método invasivo de estimativa de água corporal total por meio de digerir ou aplicar uma substância (isótopo de hidrogênio) no indivíduo; a pesagem hidrostática, cuja densidade corporal é determinada por meio da relação do peso no ar e na água; a pletismografia, que avalia o volume corporal total por meio da deslocação do ar; a ressonância magnética e a ultrassonografia, que são técnicas de avaliação corporal por imagem e tomografia computadorizada, método radiográfico para determinação regional da composição corporal (Pinto et al., 2005; Sant´Anna et al., 2009). Na prática, os dois métodos mais utilizados são a análise de impedância bioelétrica (BIA), método rápido, não invasivo e relativamente barato para utilização em situações de campo e clínica; além da absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA), metodologia não invasiva, considerada padrão ouro, mas exige alto custo e tecnologia. Em 1962, o trabalho pioneiro de Thomasett estabeleceu os princípios básicos da BIA. Sua técnica consiste na passagem de uma corrente elétrica de baixa intensidade e baixa freqüência. A impedância representa a oposição dos 14 tecidos à passagem dessa corrente, podendo ser de dois tipos: resistência (oposição do condutor à passagem da corrente) e reactância (inversamente proporcional à freqüência, sendo indicador de massa corpórea magra e intracelular). Os tecidos livres de gordura são altamente condutores pela sua constituição de água e eletrólitos, enquanto os tecidos adiposo e ósseo são mais resistentes (Buchholz et al., 2004; Liedtke, 1997). O ângulo de fase é a relação entre a resistência e a reactância, refletindo as propriedades elétricas dos tecidos. Portanto, é considerado indicador da integridade da membrana e da distribuição de água entre os espaços intra e extracelular e preditor de massa celular corpórea (Silva et al., 2007). As equações de predição de BIA baseiam-se em modelos populacionais específicos e generalizados, considerando indivíduos saudáveis. Em relação às equações de BIA de populações específicas, por considerarem diferenças de idade, etnia, sexo, nível de atividade física e nível de gordura corporal, podem apenas ser aplicadas para indivíduos cujas características físicas são similares àquelas do subgrupo específico. Enquanto que as equações generalizadas de BIA podem ser utilizadas para populações heterogêneas, variando em idade, sexo e quantidade de gordura corporal (Heyward et al., 2000). A absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA) iniciou-se em 1987. Considerada como referência permite medidas mais acuradas dos tecidos mole (gordura, água, músculos, órgãos viscerais) e ósseo, inferindo a composição corporal relativa a três componentes: massa magra, gorda e mineral óssea (Laskey et al., 1996; Lohman, 1996). Sua 15 técnica consiste na utilização de uma fonte de raios-X que converte o feixe de raios em picos fitoelétricos de baixa e alta energia. Este feixe atravessa o corpo do indivíduo, atravessando os diferentes tecidos. O tecido mole oferece resistência à corrente elétrica de modo diferente do tecido ósseo, permitindo a quantificação dos mesmos (Laskey et al., 1996; Lohman, 1996; Testolin et al., 2000). Segundo o Consenso Brasileiro em Densitometria, os softwares utilizados devem apresentar dados referenciais validados para a população brasileira, norte americana e européia, considerando a faixa etária da população estudada. O processo de crescimento acarreta alterações na quantidade de massa livre de gordura devido à diminuição da água corporal total e ao aumento no conteúdo mineral ósseo durante este período (Miller, 2003). Assim, faz- se necessário o acompanhamento do crescimento de crianças e adolescentes saudáveis por meio de avaliação de composição corporal, visando diminuir riscos de morbimortalidade de doenças crônicas não transmissíveis. Desta forma, torna-se inquestionável a monitoração de crianças e adolescentes com doenças crônicas, especialmente à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). 2.2. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) é causada pela infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). 16 O vírus infecta as células do sistema imunológico, especialmente os linfócitos T CD4+, dessa forma os indivíduos infectados tornam-se mais susceptíveis a outras infecções, como as oportunistas (Brito et al., 2000). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), há aproximadamente 2,5 milhões de crianças infectadas pelo HIV no mundo. No Brasil, desde a identificação do primeiro caso em 1980 até 2008, foram identificados aproximadamente 506 mil casos da doença, sendo que 13724 casos em menores de 12 anos (Brasil, 2008; Brasil, 2009). O aumento da incidência da infecção pelo HIV em mulheres resultou da elevação das taxas de transmissão heterossexual nos últimos anos. Estima-se que, mundialmente, a cada ano 420 mil crianças são infectadas devido à transmissão vertical (mãe para seu filho), que pode ocorrer durante a gestação, parto ou amamentação. Para evitar o risco de transmissão vertical existem medidas preventivas como o diagnóstico precoce da gestante infectada, parto cesariano programado, suspensão do aleitamento materno e tratamento antiretroviral feito pela mãe e pelo recém-nascido imediatamente após o nascimento, que deve ser mantido durante as seis primeiras semanas de vida (Brasil, 2009; UNICEF, 2009). Os parâmetros clínicos e as categorias imunológicas são utilizados para a classificação da infecção pelo HIV em crianças e em adolescentes. Os parâmetros clínicos (categoria N = assintomática, A = sinais e sintomas leves, B = sinais e sintomas moderados e C = sinais e sintomas graves) e 17 imunológicos (alteração imunológica: 1 = ausente, 2 = moderada e 3 =grave) são propostos pelo Guia de Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV em Pediatria (MS, 2009), que adotou às normas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 1994), além da inclusão da tuberculose pulmonar como critério para a categoria clínica B (Brasil, 2009). A desnutrição compromete o crescimento pondero-estatural, a chamada falência de crescimento ou retardo crescimento, definida como a velocidade de crescimento e o ganho de peso inadequados, resultando na manutenção ou na desaceleração na curva de crescimento e no retardo do desenvolvimento neuropsicomotor (Knox et al., 2003; Kosmiski et al., 2007; Lichtenstein et al., 2006). Perdas corporais insignificantes ou a manutenção de peso em crianças e adolescente infectados pelo HIV relacionam-se a um aumento do risco de progressão da doença (Knox et al., 2003). Nos pacientes com SIDA, a diminuição da ingestão oral e a deficiência de macro e micronutrientes apresentam causa multifatorial: infecção pelo HIV, que aumentará a produção de citocinas pró-inflamatórias levando à anorexia; efeitos colaterais da medicação antiretroviral; a disponibilidade de alimentos prejudicada por baixo nível sócio-econômico; lesões orais por fungos (candidíase) ou vírus (herpes e citomegalovírus), que ocasionam mudanças na percepção do paladar, disfagia e odinofagia; alteração na barreira e absorção intestinal acarretando manifestações gastrintestinais (diarréia, náuseas, vômitos); má-absorção de nutrientes específicos (lipídeos); alterações no metabolismo (hiperinsulinemia); aumento da utilização e excreção dos 18 micronutrientes (Fawzi et al., 2005; Garcia et al., 2000; Miller, 2003; Singhal et al., 2002). A dificuldade de acesso aos alimentos é influenciada tanto pelos recursos financeiros, como também a habilidade do cuidador em elaborar e oferecer as refeições, favorecendo a ingestão de uma dieta monótona, que por sua vez repercutirá no estado nutricional do paciente. As infecções oportunistas, de repetição e a presença de lipodistrofias são alguns dos fatores que aumentam o gasto energético, exigindo maior oferta energética (Kakuda et al., 1999, Miller, 2003, Patin et al., 2009). A própria progressão da doença associada à ingestão alimentar insuficiente integra um ciclo vicioso, o qual contribui para a deterioração da saúde, levando à deficiência de micronutrientes, à depleção de massa magra e à desnutrição (Fawzi et al., 2005). A replicação viral na mucosa intestinal acarreta lesão por citólise e a produção de fatores virais como o Tat pode acarretar diarréia por inibição do SGTL-1, o transportador ativo de glicose enterócito apical da membrana intestinal, prejudicando a absorção de glicose (Canani et al., 2006). A absorção de gordura está comprometida tanto na presença quanto ausência da HAART, seguido da diminuição da absorção das vitaminas lipossolúveis (Poles et al., 2001). Há comprometimento do trato gastrointestinal em todos os estágios da doença, independente do uso da terapia antiretroviral. Em crianças infectadas pelo HIV sem tratamento antiretroviral, pelo menos 80% apresentam uma ou 19 mais alterações intestinais como má absorção de ferro, esteatorréia, insuficiência pancreática, má absorção de lactose, redução da capacidade absortiva e aumento da permeabilidade intestinal (Miller et al., 2008; Winter, 1996). O permanente estado inflamatório causado pela doença per se pode iniciar o processo aterosclerótico por meio dos mediadores inflamatórios como o fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina-1β (IL-1β), os quais induzirão ao estresse oxidativo, síntese de colagenase e ativação das lipoproteínas no endotélio vascular. Além das alterações metabólicas, essa população também pode apresentar anormalidades miocárdicas prévias, agravando desta forma o sistema cardiovascular (Miller et al., 2008). A terapia antiretroviral altamente ativa (highly active antiretroviral therapy - HAART) objetiva suprimir a replicação viral, mantendo a contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral adequada, preservar e/ou restaurar o sistema imune, manter ou retomar o crescimento pondero-estatural, reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida. As drogas antirretrovirais dividem-se em classes de acordo com sua ação para impedir a replicação viral na célula humana. A associação de três drogas antirretrovirais é o tratamento inicial indicado às crianças e adolescentes infectados pelo HIV (Brasil, 2009). Apesar dos inquestionáveis benefícios do uso da HAART, tem sido descritos alterações clínicas e metabólicas decorrentes do uso crônico da mesma. 20 2.1.1. Repercussões clínico-metabólicas do uso da HAART A própria infecção pelo HIV e o uso da terapia antirretroviral acarretam efeitos adversos, inicialmente descritos em adultos no final da década de 90 (Carr et al, 1998; Saint-Marc et al, 1999; Kakuda et al, 1999) e posteriormente observados em crianças e adolescentes. Devido à precocidade e à grande exposição aos medicamentos, principalmente na infecção adquirida por transmissão vertical, esta população apresenta maiores riscos de desenvolver efeitos adversos da medicação (Kim et al., 2007). As alterações clínicas e metabólicas compreendem a síndrome lipodistrófica, a qual engloba a lipodistrofia, a dislipidemia, a resistência a insulina e o aumento do risco cardiovascular; além da perda de massa óssea, toxicidade mitocondrial, alterações gastrointestinais e anormalidades em outros órgãos como fígado e rins (Miller et al., 2008; Pirmohamed, 2009). A etiologia da síndrome lipodistrófica parece estar relacionada a algumas classes de medicamentos, como inibidores de protease (IP) e inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN); tempo de uso da medicação; aumento da carga viral; baixos níveis de CD4 e aumento prévio dos níveis séricos de triglicérides e colesterol (Baril et al, 2005; Carr et al, 1998; Kakuda et al, 1999; Saint-Marc et al, 1999; Valente et al, 2005). A lipodistrofia clínica associada ao HIV caracteriza-se pela redistribuição da gordura corporal, com perda de gordura na face, membros superiores e 21 inferiores (lipohipertrofia); acúmulo de gordura na região abdominal, gibosidade dorsal, ginecomastia e aumento de mamas (lipohipertrofia) ou ainda a presença de ambas, denominada lipodistrofia mista (Jaquet et al.,2000). A presença de lipodistrofia parece estar relacionada aos níveis de triglicérides, insulina, glicemia e tempo de uso da terapia antiretroviral (Rosso et al., 2007). Estudo americano com follow-up de 2 anos realizado em crianças infectadas pelo HIV demonstrou a presença de lipodistrofia em 20% dos pacientes, sendo que se detectou nesses indivíduos maior prevalência de dislipidemia (Krause et al., 2009). Estudo brasileiro com 30 crianças infectadas pelo HIV encontrou prevalência de 53,5 e 60% de lipodistrofia e dislipidemia, respectivamente. A literatura vigente demonstrou dados conflitantes quanto à presença de lipodistrofia associada ao uso de inibidores de protease, sendo observada associação positiva em estudo brasileiro com pacientes com média de idade de 9,1 anos (Sarni et. al., 2009) e resultado negativo em estudo americano com pacientes com média de idade de 11,9 anos (Ergun-Longmire et al., 2006). Em crianças e adolescentes infectados por transmissão vertical, observou-se que o uso de IP está associado à maior prevalência de resistência à insulina e alterações no metabolismo lipídico (Aldrovandi et al., 2009). 22 A insulina e a glicemia em jejum são úteis para o cálculo do Homeostatic model assesment (HOMA-IR), caracterizando a resistência à insulina, a qual parece estar mais pronunciada em crianças com lipohipertrofia, sugerindo que as alterações metabólicas também resultam da adiposidade central (Beregszàszi et al., 2003; Pirmohamed, 2009). Estudo coorte realizado em adultos do sexo masculino constatou que o risco de diabetes é quatro vezes maior em vigência da HAART (Brown et al., 2005). O aumento do colesterol total, LDL – colesterol e triglicérides e a diminuição do HDL- colesterol definem as alterações do perfil lipídico, contribuindo para o aumento do risco cardiovascular (Pirmohamed, 2009). A semelhança entre algumas proteínas envolvidas no metabolismo lipídico e o sítio de ligação à proteína viral dos IPs podem promover inibição total ou parcial da via metabólica lipídica. A inibição da atividade da lipase lipoprotéica plasmática (LLP) acarreta redução na hidrólise dos quilomícrons e conseqüente aumento de triglicérides. Ainda, por similaridade molecular, pode haver competição entre os IPs e os quilomícrons remanescentes pelo sítio de ligação dos receptores hepáticos (Lima et al., 2003). O espessamento médio-intimal (EMI) da artéria carótida é considerado atualmente marcador de doença aterosclerótica, principalmente da doença arterial coronariana precoce (Simon et al., 2002). Em crianças em vigência do uso de IP, o EMI apresentou-se mais pronunciado quando comparado às crianças em uso de inibidores de transcriptase reversa não-análogos de nucleosídeo (ITRNN) (Bonnet et al., 2004; Charakida et al., 2005). 23 O risco de desenvolver osteoporose e conseqüentes fraturas é maior nas crianças infectadas pelo HIV quando comparadas às não infectadas. A diminuição da densidade mineral óssea (DMO) parece estar relacionada à baixa contagem de linfócitos T CD4+, tempo de uso da HAART, aumento dos marcadores de reabsorção óssea, presença de lipodistrofia e inadequação do consumo de micronutrientes (Jacobson et al., 2005). Os inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo associam-se a toxicidade do DNA mitocondrial (mtDNA) , por inibirem a enzima necessária para a replicação do mesmo, levando a complicações como esteatose hepática e hiperlactatemia (Saitoh et al., 2007). 2.2.2. Composição corporal e infecção pelo HIV Apesar de BIA ser considerado um método atrativo, devido ao baixo custo e facilidade de execução, a aplicabilidade das equações tem sido questionada quanto às características da população estudada, fazendo-se necessário uma equação própria para crianças e adolescentes HIV positivos (Joffe et al., 2005). Estudo transversal de pré e escolares com 86 crianças infectadas comparadas com 113 crianças não infectadas demonstrou que a massa magra (kg), obtida pelo método de BIA, foi significantemente menor nas crianças infectadas quando comparadas ao grupo controle. Entretanto, a massa magra expressa em porcentagem não apresentou diferença significante (Fontana et al., 1999). 24 O DXA é método preciso para delinear mudanças na distribuição da gordura corporal em crianças infectadas pelo HIV. Em crianças em vigência da HAART comparadas ao grupo controle, observaram-se mudanças na composição corporal mesmo na ausência de sinais clínicos de lipodistrofia (Brambilla et al., 2001). Estudo longitudinal demonstrou que, em crianças e adolescentes infectados pelo HIV cuja composição corporal foi avaliada pelo DXA, houve redução da gordura nos membros inferiores e aumento da gordura na região dos braços e do tronco quando comparados ao grupo controle. No grupo infectado pelo HIV, as mudanças corpóreas não se relacionaram ao medicamento antiretroviral utilizado (Arpadi et al., 2009). A infecção pelo HIV per se, a medicação antirretroviral, as alterações clínico-metabólicas e o estado nutricional podem refletir na composição corporal dos pacientes, além disso, os diferentes métodos descritos apresentam vantagens e desvantagens na identificação de tais mudanças. Desta forma, justifica-se a avaliação da composição corporal por diferentes métodos, relacionando tais alterações com a presença ou não de lipodistrofia e outros fatores que possam contribuir nas mudanças corpóreas em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV. 25 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivos Gerais Avaliar a composição corporal e a presença de lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV. 3.1.1. Objetivos específicos ¾ Comparar equações da BIA elaboradas para pacientes infectados pelo HIV com equação para indivíduos saudáveis, utilizando o DXA como padrão ouro. ¾ Identificar as alterações clínico-metabólicas presentes nos pacientes estudados, relacionando-as ao uso de terapia antirretroviral. ¾ Identificar a presença de lipodistrofia em crianças e adolescentes prépúberes por meio de parâmetros de avaliação antropométrica e composição corporal. 26 4. CASUÍSTICA E MÉTODOS 4.1. Casuística Estudo transversal com 40 crianças e adolescentes pré-púberes, entre 7 e 12 anos, de ambos os gêneros atendidos no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica (CEADIPe) do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM no período de agosto a novembro de 2008. A amostra, de conveniência, foi constituída pelos pacientes pré-púberes atendidos no serviço, com perda de duas crianças. Participaram do trabalho 39 crianças e adolescentes infectados pelo HIV por transmissão vertical e um infectado por transfusão sanguínea. Não foram incluídos os pacientes que apresentaram síndrome genética ou neuropatias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, sendo iniciado após consentimento por escrito dos pais ou responsáveis. 4.2. Métodos Os dados sobre identificação, idade, tipo de transmissão, realização de profilaxia e cuidador legal e/ou responsável pelo paciente foram coletados no prontuário médico desses pacientes. 4.2.1. Avaliação Clínica 4. 2.1.1. Desenvolvimento puberal O estadiamento puberal foi avaliado pelos pediatras da equipe de serviço, utilizando como critério o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários propostos por Marshall & Tanner, 1975. Foram incluídas no estudo as crianças e adolescentes pré-púberes que apresentaram estadiamento 1. 4.2.1.2. Classificação da doença (SIDA) A classificação da infecção pelo HIV utiliza parâmetros clínicos (categoria N = assintomática, A = sinais e sintomas leves, B = sinais e sintomas 27 moderados e C = sinais e sintomas graves) e imunológicos (alteração imunológica 1 = ausente, 2 = moderada e 3 =grave) propostos pelo Guia de Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV em Pediatria (MS, 2006), que consiste nas normas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 1994), mais a inclusão da tuberculose pulmonar como critério para a categoria B. Tabela 1. Classificação da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes menores de 13 anos. Alteração imunológica – ausente (1) N1 Ausência de sinais e sintomas clínicos A1 Sinais e sintomas clínicos leves B1 Sinais e sintomas clínicos moderados C1 Sinais e sintomas clínicos graves Alteração imunológica – moderada (2) N2 Ausência de sinais e sintomas clínicos A2 Sinais e sintomas clínicos leves B2 Sinais e sintomas clínicos moderados C2 Sinais e sintomas clínicos graves Alteração imunológica – grave (3) N3 Ausência de sinais e sintomas clínicos A3 Sinais e sintomas clínicos leves B3 Sinais e sintomas clínicos moderados C3 Sinais e sintomas clínicos graves Fonte: Guia de Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV em Pediatria, 2009. 28 Tabela 2. Categorias imunológicas para infecção pelo HIV em crianças e adolescentes menores de 13 anos. Contagem de LT-CD4+ Alteração Imunológica Ausente (1) Moderada (2) Idade < 12 meses 1 a 5 anos 6 a 12 anos > 1500 (> 25%) ≥ 1000 (≥ 25%) ≥500(≥ 25%) 750 – 1499 (15-24%) 500-999 (15-24%) 200-499(1524%) Grave (3) < 750 (< 15%) < 500 (< 15%) < 200 (< 15%) Fonte: Guia de Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV em Pediatria, 2009. 4.2.1.3. Terapia antiretroviral Verificou-se a medicação antirretroviral empregada: inibidores de protease, inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeos, inibidores da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeos, inibidor da transcriptase reversa análogo de nucleotídeo, inibidor de fusão e inibidor de integrase. 4.2.1.4. Lipodistrofia clínica A lipodistrofia clínica foi identificada pelos pediatras da equipe, apresentando três caracterizações: a lipoatrofia como redução da gordura das regiões periféricas (braços, pernas e nádegas) com proeminência muscular e venosa relativa; a lipohipertrofia sendo o acúmulo de gordura em região abdominal, gibosidade dorsal, ginecomastia, e aumento das mamas; e a mista quando há a associação de ambos os tipos (Jaquet et al., 2000). 29 4.2.2. Avaliação sócio-econômica Utilizou-se o Critério de Classificação Econômica Brasil, empregando como indicadores o poder de compra das famílias e o grau de instrução do chefe da família, classificando-os por pontos obtidos em classes econômicas: A1 (42 a 46); A2 (35 a 41); B1 (29 a 34); B2 (23 a 28);C1 (18 a 22);C2 (14 a 17);D (8 a 13) e E (0 a 7). (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, 2008). Tabela 3. Poder de compra das famílias. Tabela 4. Grau de instrução do chefe da família. Grau de instrução do chefe da família Pontos Analfabeto/ até 3ª Série Fundamental 0 4ª Série Fundamental 1 Fundamental completo 2 Médio completo 4 Superior completo 8 30 4.2.3. Avaliação nutricional 4.2.3.1. Antropometria Foram aferidas as medidas antropométricas de peso (balança com capacidade de 150 kg e calibrada com precisão de 100g) e estatura (estadiômetro fixado à parede, com precisão de 0,1cm). Para a classificação do estado nutricional e estatura, utilizou-se o escore z de índice de massa corpórea (zIMC) e escore z de estatura/idade (zE/I), respectivamente. Optouse pela utilização do padrão de referência da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2007). 4.2.3.2. Dobras cutâneas e circunferências Realizou-se a aferição das dobras cutâneas triciptal (DCT), biciptal (DCB), subescapular (DCSE) e supra-ilíaca (DCSI) (Frisancho, 1990). Foram realizadas as circunferências do braço, (Frisancho, 1990), abdominal (McCarthy et al, 2001) e da panturrilha (Callaway et al, 1988). Para medida das dobras cutâneas utilizou-se adipômetro da marca Lange® (Beta Technology Inc. Santa Cruz, CA, EUA) com precisão de 1 mm e uso de fita flexível, inextensível, com precisão de 0,1cm para as circunferências. A relação denominada tronco: braço (DCSE + DCSI: DCT + DCB) foi utilizada para identificação da presença de lipodistrofia, de acordo com o critério proposto por Jaquet et al., 2000. 4.2.3.3. Composição corporal por impedância bioelétrica (BIA) Realizou-se pela aplicação do método de biompedância utilizando aparelho Quantum BIA-101Q® (RJL Systems Inc. Clinton, MI, EUA) com 31 freqüência fixa de 50 kHz de quatro eletrodos, obtendo-se os valores de resistência (R) e reactância (Xc) que determinarão a gordura corporal, massa livre de gordura e água corporal total. Com os valores de resistência e de reactância obteve-se o ângulo de fase, que consiste na relação entre os valores do arco-tangente da reactância/resistênciax180o/π. No software do aparelho BIA Quantum a equação utilizada tem como objetivo as crianças saudáveis (Houtkooper et al, 1992). As três fórmulas de equação desenvolvidas para pacientes pediátricos infectados pelo HIV também foram utilizadas (Tabela 5), sendo que calculam a água corporal total (kg) e massa livre de gordura (kg). Na equação de Joffe et al., 2005, converter-se á água corporal total (kg) em massa livre de gordura (kg), segundo às constantes de hidratação propostas por Forbes, 1987 (a partir de 5 anos - 0,77 para os meninos e 0,78 para as meninas; a partir de 10 anos - 0,75 para os meninos e 0,77 para as meninas). Tabela 5. Equações desenvolvidas para pacientes pediátricos infectados pelo HIV para serem utilizadas na impedância bioelétrica. Autor Equação Joffe et al, 2005 ACT = 1,957 + 0,608 A²/ R Horlick et al, 2002 ACT = 0,725 + 0,475 A²/ R + 0,140 PC MLG= [3,474 + 0,459 A²/ R + 0,064 PC] / [0,769 – 0,009 A – 0,016S] Arpadi et al, 1996 Log (ACT) = 1,65 + 0,05 A²/ R MLG = 0,68 A²/ R + 0,70 I + 1,34 ACT- água corporal total (kg) ; MLG - massa livre de gordura (kg), A - altura (cm), R - resistência (ω), PC - peso corporal (kg), S - gênero (1 masculino e 0 feminino) e I - idade (anos). 32 4.2.3.4. Composição corporal por absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA) Averiguou-se a composição corporal total e de membros superiores e inferiores, analisando a massa corporal magra e massa gorda por meio do método de absorção de duplo feixe de energia, emitida por fonte de raios-X. A relação braço + perna/ tronco foi obtida pela soma da gordura (g) dos braços e pernas dividida pelo valor do gordura (g) do tronco. O exame foi realizado no Ambulatório da Disciplina de Reumatologia da UNIFESP-EPM, utilizando aparelho LUNAR TM DPX-L (software para exames pediátricos versão1.5) por um técnico treinado. 4.2.3.5. Cálculo de massa muscular esquelética (MME) Realizou-se o cálculo de massa muscular esquelética conforme Heymsfield et al.,1990, por meio da seguinte fórmula: MME = Massa magra braço (kg) + massa magra perna (kg) altura2 (m2) 4.2.4.Avaliação Bioquímica 4.2.4.1. Dosagens bioquímicas As dosagens bioquímicas foram realizadas no laboratório Central da UNIFESP-EPM, seguindo a rotina dos pacientes no ambulatório. Coletou-se amostras de sangue por meio de punção venosa periférica, pela manhã, com 12 a 14 horas de jejum. 33 4.2.4.2. Perfil lipídico Verificaram-se os valores de triglicérides (TG), colesterol total (CT) e frações (lipoproteínas de baixa densidade, LDL-c; lipoproteínas de alta densidade, HDL-c). O HDL-c e TG foram dosados por método de espectrofotometria de refletância - colorimétrico – 540 nm (Vitros Systems Chemistry 750 XRC - Ortho-Clinical Diagnostics, Inc – Johnson & Johnson Company. New York, NY, EUA). A fração do LDL-c foi obtida utilizando-se a equação de Friedewald et al., 1972: LDL-c = (CT – HDL-c + TG/5). Utilizou-se o critério de Kwiterovich, 2008 para identificar as dislipidemias ( tabela 6). Tabela 6. Valores de referência do perfil lipídico pra crianças acima de 2 anos. Valores (mg/dL) Lipídios Baixo Desejável Limítrofe Aumentado CT* <170 170-199 ≥200 LDL -c <110 110-129 ≥130 >45 35-45 HDL-c < 35 TG < 9 anos 10 a 19anos <75 75-99 >100 <90 90-129 ≥130 Fonte: Kwiterovich, 2008. *CT – colesterol total; LDL-c – fração LDL do colesterol; HDL-c - fração HDL do colesterol; TG - triglicérides 4.2.4.3. Relação insulina e glicemia A insulina e glicemia em jejum foram utilizadas para o cálculo do HOMAIR (Homeostatic model assesment), que caracteriza resistência à insulina quando HOMA-IR > 3 (Tresaco et al., 2005). A glicemia foi dosada pelo método enzimático utilizando enzima hexoquinase e glicose-6-fosfato desidrogenase 34 (Advia Chemistry System 1650 - Bayer) e a insulina, pelo método imunoenzimático (Tosoh - Tosoh Corporation. Tokyo, Japan). O HOMA-IR foi calculado pela multiplicação da insulina em jejum (microU/ml) pela glicose em jejum (mmol/l), dividido por 22,5. 4.2.4.4. Carga viral, linfócito T CD4 e T CD8 A carga viral, que quantifica o número de cópias virais na circulação sanguínea, foi determinada pela técnica de RT-PCR (Cobas Amplicor HIV-1 MonitorTM Test, version 1.5) com limite mínimo de detecção de 50 cópias/ml e máximo de 500.000 cópias/ml. Os linfócitos TCD4 e T CD8 foram avaliados por citometria de fluxo (BD FACSCalibur™ System) expressos em células/mm³ e em porcentagem (%) (CDC, 1994), considerou-se alteração imunológica grave valores de linfócitos CD4 inferiores a 15%. 5. Análise Estatística Utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 12.0. As variáveis qualitativas foram apresentadas como freqüências absolutas (n) e relativas (%). Nas variáveis quantitativas, utilizouse média e desvio-padrão. Para a comparação das variáveis qualitativas, utilizou-se o teste Qui-quadrado ou o teste Exato de Fisher. Para a comparação das variáveis quantitativas, utilizou-se o teste t-Student. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). . Para a comparação dos métodos de BIA e DXA, calculou-se o coeficiente de correlação de Pearson, a fim de apontar o grau de correlação linear entre as variáveis. Avaliou-se a sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo positivo (VPP), o 35 valor preditivo negativo (VPN) e a eficiência das equações de BIA em relação ao valor de gordura total (porcentagem) segundo o DXA, utilizando como pontos de corte os valores propostos por Dencker et al., 2007 (feminino: valores acima de 21,9 % e masculino: valores acima de 16,5%). 36 6. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES Mês 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 Procedimentos Revisão da Literatura Seleção das Crianças para estudo X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Coleta de dados • clínicos • nutricionais • bioquímicos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Elaboração do banco de dados Digitação dos dados X X X X X X X X X X X X X X Análise Estatística X X X Dissertação da tese X X X X Elaboração do Artigo X X X 37 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aldrovandi GM, Lindsey JC, Jacobson DL, Zadzilka A, Sheeran E, Moye J,et al.; Pediatric AIDS Clinical Trials Group P 1045 team. Morphologic and metabolic abnormalities in vertically HIV-infected children and youth. AIDS. 2009; 23(6):661-72. Amancio OMS, Juzwiak CR, Oliveira FLC. Avaliação nutricional. In: Palma D, Escrivão MAMS, Oliveira FLC, eds. Guia de Nutrição Clínica na Infância e na Adolescência. Barueri, SP: Manole; 2009. p. 25-54. Arpadi SM, Bethel J, Horlick M, Sarr M, Bamji M, Abrams EJ, et al. Longitudinal changes in regional fat content in HIV-infected children and adolescents.AIDS. 2009; 23(12): 1501-9. Arpadi SM, Wang J, Cuff PA, Thompton J, Horlick M, Kotler D, et al. Application of bioimpedance analysis for estimating body composition in preburtal children infected with human immunodeficiency virus type 1. J Pediatr. 1996; 129(5): 755-7. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. CCEB - Critério Classificação Econômica Brasil, 2008. http://www.apeb.org/codigosguias/Criterio_Brasil_2008.pdf. Acesso:27/11/2007. Baril JG, Junod P, Leblanc R et al. HIV-associated lipodystrophy syndrome: A review of clinical aspects. Can J Infect Dis Med Microbiol. 2005; 16(4): 233-43. 38 Beregszàszi M, Jaquet D, Lévine M, Ortega- Rodriguez E, Baltakse V, Polak M, et al. Severe insulin resistance contrasting with mild anthropometric changes in the adipose tissue of HIV-infected children with lipohypertrophy. J Obes Relat Metab Disord. 2003; 27:25-30. Bonnet D, Aggoun Y, Szezepanski I, Bellal N, Blanche S. Arterial stiffness and endothelial dysfunction in HIV-infected children. AIDS. 2004; 18:1037-41. Brambilla P, Bricalli D, Sala N, Renzetti F, Manzoni P, Vanzulli A, Chiumello G, di Natale B, Viganò A.Highly active antiretroviral-treated HIV-infected children show fat distribution changes even in absence of lipodystrophy.AIDS. 2001; 15(18): 2415-22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendações para Terapia Antirretroviral em Crianças e Adolescentes Infectados pelo HIV: manual de bolso/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e AIDS. – Brasília: Ministério da Saúde; 2009. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Boletim Epidemiológico AIDS e DST – Ano V n° 1 – julho a dezembro de 2007/janeiro a junho de 2008. http:// www.aids.gov.br Acesso: 13/08/2009. 39 Brito AN de, Castilho EA de, Szwarcwald CL. Aids e HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada. Rev Soc Bras Med Trop. 2000; 34(2): 207-17. Brown TT, Cole SR, Li X, Kingsley LA, Palella FJ, Riddler SA, et al. Antiretroviral therapy and the prevalence and incidence of diabetes mellitus in the multicenter AIDS cohort study. Arch Intern Med. 2005; 165:1179-1184. Buchholz AC, Bartok C, Scholler DA. The validity of bioelectrical impedance models in clinical populations. Nutr Clin Pract. 2004; 19: 433-46. Callaway CW, Chumlea WC, Bouchard C, Himes JH, Lohman TG, Martin AD et al. Circumferences. In: Lohman TG, Roche AF, Martorell R, eds. Anthropometric standardization reference manual. Champaign, IL: Human Kinetics Books; 1988; 39-54. Canani RB, De Marco G, Passariello A, Bucciogrossi V, Ruotolo S, Bracale I, et al. Inhibitory effect of HIV-1 Tat protein on the sodium-D-glucose symporter of human intestinal ephitelial cells. AIDS. 2006, 20:5-10. Charakida M, Donald AE, Green H, Storry C, Clapson M, Caslake M, et al. Early structural and functional changes of the vasculature in HIV-infected children: impact of disease and antiretroviral therapy. Circulation. 2005; 112: 103-9. 40 Centers for Disease Control. Revised classification system for human immunodeficiency virus (HIV) infection in children less than 13 years of age. MMWR; 1994; 43:1-10. Consenso Brasileiro de Densitometria. Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica – SBDens, 2003. http://www.osteodens.com.br/pages/consenso.php. Acesso: 06/01/2010. de Onis M, Onyango AW, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekman J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ. 2007; 85(9):660-7. Dencker M, Thorsson O, Lindén C, Wollmer P, Andersen LB, Karlsson MK. BMI and objectively measured body fat and body fat distribution in prepubertal children. Clin Physiol Funct Imaging. 2007; 27(1):12-6. Ergun-Longmire B, Lin-Su K, Dunn AM, Chan L, Ham K, Sison C, et al. Effects of protease inhibitors on glucose tolerance, lipid metabolism, and body composition in children and adolescents infected with human immunodeficiency virus.Endocr Pract. 2006; 12(5): 514-21. Fawzi W, Msamanga G, Spiegelman D, Hunter DJ. Studies of vitamins and minerals and HIV transmissions and disease progression. J Nutr. 2005; 135:938-44. 41 Fontana M, Zuin G, Plebani A, Bastoni K, Visconti G, Principi N.Body composition in HIV-infected children: relations with disease progression and survival.Am J Clin Nutr. 1999;69(6):1282-6. Forbes GB. Human body composition: growth, aging, nutrition, and activity. New York: Springer-Verlag; 1987. Friedewald WT, Levy RI, Fredrickson DS. Estimation of the concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without use of preparative ultracentrifuge. Clin Chem. 1972; 18(6):499-502. Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Ann Arbor: The University of Michigan Press; 1990. Garcia RWD, Quintaes KD, Leandro-Merhi VA. Nutrição e AIDS. Rev Ciênc Med. 2000; 9 (2): 52-73. Heymsfield SB, Smith R, Aulet M, Bensen B, Lichtman S, Wang J et al. Appendicular skeletal muscle mass: measurement by dual-photon absorptiometry. Am J Clin Nutr. 1990; 52:214-18. Heyward VH, Stolarczyk LM. Avaliação da composição corporal aplicada. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2000. 42 Horlick M, Arpadi SM, Bethel J, Wang J, Moye J, Cuff P,et al. Bioelectral impedance analysis models for prediction of total body water and fat-free mass in healthy and HIV-infected children and adolescents. Am J Clin Nutr. 2002; 76: 991-9. Houtkooper LB, Going SB, Lohman TG, Roche AF, Van Loan M. Bioelectrical impedance estimation of fat-free body mass in children and youth: a crossvalidation study. J Appl Physiol . 1992; 72 (1): 366-372. Jacobson DL, Spiegelman D, Duggan C, Weinberg GA, Bechard L, Furuta L, et al. Predictors of bone mineral density in human immunodeficiency virus-1 infected children. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2005; 41(3): 339-346. Jaquet D, Lèvine M, Ortega-Rodriguez E, Faye A, Polak M, Vilmer E, et al. Clinical and metabolic presentation of the lipodystrophic syndrome HIV-infected children. AIDS. 2000; 14:2123-8. Joffe TH, Welle S, Roubenoff R, Gorbach SL, Weinberg GA, Duggan C, et al. A bioelectral impedance analysis equation for predicting total body water and fatfree mass in children with Human Immunodeficiency Virus-1 in the pre-HAART and HAART era. Int J Body Composition Res. 2005; 3 (1): 15-24. Kakuda TN, Brundage RC, Anderson PL, Fletcher CV. Nucleoside reverse transcriptase inhibitor-associated mitochondrial toxicity as an etiology for lipodystrophy. AIDS. 1999; 13: 2311-12. 43 Kim RJ, Carlow DC, Rutstein JH, Rutstein RM. Hypoadiponectinemia, dyslipidemia, and impaired growth in children with HIV-associated facial lipoatrophy. JPEM. 2007; 20: 65-74. Knox TA, Zafonte-Sanders M, Fields-Gardner C, Moen K, Johansen D. Assessment of nutritional status, body composition, and human immunodeficiency vírus-associated morphologic changes. Clin Infectious Disease. 2003; 36(suppl2):s63-8. Kosmiski LA, Bessesen DII, Stotz SA, Koeppe JR, Horton TJ. Short-term energy restriction reduces resting energy expenditure in patients with HIV lipodistrophy and hypermetabolism. Metabolism Clin and Experimental. 2007; 56:289-95. Krause JC, Toye MP, Fisher DJ, Stechenberg BW, Reiter EO, Allen HF. Metabolic abnormalities in human immunodeficiency virus-infected children: two-year follow-up. J Pediatr Endocrinol Metab. 2009; 22(4):345-51. Kwiterovich POJr. Recognition and management of dyslipidemia in children and adolescents. J Clin Endocrinol Metab. 2008; 93: 4200-4209. Laskey M, Phill D. Dual-energy X-ray absorptiometry and body composition. Nutrition. 1996; 12: 45-51. 44 Lemieuz I, Pascot A, Couillard C, Lamarche B, Tchernof A, Almeras N, et al. Hypertriglyceridemic waist – a marker of the metabolic triad (hyperinsulinaemia; hyperapolipoprotein B; small dense LDL) in men? Circulation. 2000; 102:17984. Lichtenstein AH, Appel LJ, Brands M, Carnethon M, Daniels S, Franch HA, et al. Diet and lifestyle recommendations revision 2006: a scientific statement from the American Heart Association Nutrition Committee. Circulation. 2006; 114(1):82-96. Lohman TG. Dual energy x-ray absorptiometry. In: Roche AF, Heymsfield SB, Lohman TG, eds. Human body composition. Champaign, IL: Human Kinetics Books; 1996; 63-79. Liedtke RJ. The Principles of bioelectrical impedance analysis. RJL Internal Publications; 1997. Lima EMO, Bernoche CYSM de, Caramelli B. III Diretrizes brasileiras sobre dislipidemias: tratamento da dislipidemia em indivíduos infectados pelo HIV. Rev Assoc Med Brás. 2003; 49 (3): 235. Marshall EA, Tanner JM. Growth and physiological development during adolescence. Ann Rev Med. 1975; 19: 283-300. 45 McCarthy HD, Jarrett KV, Crawley HF. The development of waist circumference percentiles in British children aged 5.0 – 16.9y. Eur J Clin Nutr. 2001; 55: 902907. Miller TL. Nutritional aspects of HIV-infected children receiving highly active antiretroviral therapy. AIDS. 2003; 17(suppl 1): S130-40. Miller TL, Agostoni C, Duggan C, Guarino A, Manary M, Velasco CA. HIV Working Group. Gastrointestinal and nutritional complications of human immunodeficiency virus infection. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2008; 47 (2): 247-253. Miller TL, Grant YT, Almeida DN, Sharma T, Lipshultz SE. Cardiometabolic disease in human immunodeficiency virus-infected children. J Cardiometab Syndr. 2008; 3(2): 98-105. Patin RV, Palchetti CZ, Oliveira FLC. Criança e Adolescente com Sida. In: Palma D, Escrivão MAMS, Oliveira FLC, eds. Guia de Nutrição Clínica na Infância e na Adolescência. Barueri, SP: Manole; 2009. p. 571-82. Pinto E, Oliveira AR, Alencastre H, Lopes C. Avaliação da composição corporal na criança por métodos não invasivos. Arqui Med. 2005; 19 (1-2): 47-54. 46 Pirmohamed M. Clinical management of HIV-associated lipodystrophy. Curr Opin Lipidol. 2009; 20:309-314. Poles MA, Fuerst M, McGowan I, Elliot J, Rezai A, Mark D, et al. HIV-related diarrhea is multifactorial and fat malabsorption is commonly present, independent of HAART. Am J Gastroenterol. 2001; 96:1831-1837. Rosso R, Parodi A, d'Annunzio G, Ginocchio F, Nicolini L, Torrisi C, et al. Evaluation of insulin resistance in a cohort of HIV-infected youth. Eur J Endocrinol. 2007; 157(5):655-9. Saint-Marc T, Partisani M, Poizot-Martin I, Bruno F, Rouviere O, Lang JM, et al. A syndrome of peripheral fat wasting (lipodistrophy) in patients receiving longterm nucleoside-analogue (NRTI) therapy. AIDS. 1999; 13:1659-67. Saitoh A, Fenton T, Alvero C, Fletcher CV, Spector SA. Impact of nucleoside reverse transcriptase inhibitors on mitochondria in human immunodeficiency virus type-1 infected children receiving highly active antiretroviral therapy. Antimicrob Agents Chemoter. 2007; 51(12):4236-4242. Sant´Anna MSL, Priore SE, Franceschini SCC. Métodos de avaliação da composição corporal em crianças. Rev Paul Pediatr. 2009; 27(3):315-21. 47 Sarni RO, de Souza FI, Battistini TR, Pitta TS, Fernandes AP, Tardini PC, et al. Lipodystrophy in children and adolescents with acquired immunodeficiency syndrome and its relation with the antiretroviral therapy employed. J Pediatr (Rio J) 2009; 85(4):329-34. Silva LMDL, Caruso L, Martini LA. Aplicação do ângulo de fase em situações clínicas. Rev Bras Nutr Clin. 2007; 22(4): 317-21. Simon A, Gariepy J, Chironi G, Mengnien JL, Levenson J. Intima-media thickness: a new tool for diagnosis and treatment of cardiovascular risk. J Hypertens. 2002; 20: 159-69. Singhal N, Austin J. A clinical review of micronutrients in HIV infection. J Int Assoc Physicians AIDS Care. 2002; 1 (2): 63-75. Sociedade Brasileira de Pediatria. Avaliação nutricional da criança e do adolescente – Manual de Orientação / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. – São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia; 2009. 112 p. SPSS – Statistical Package for the Social Sciences. Versão 12.0. Chicago: SPSS; 2004. 48 Testolin CG, Gore R, Rivkin T, Horlick M, Arbo J, Wang Z, et al. Dual-energy Xray absorptiometry: analysis of pediatric fat estimate errors due to tissue hydration effects. J Appl Physiol. 2000; 89: 2365-72. Tresaco B, Bueno G, Pineda I, Moreno LA, Garagorri JM, Bueno M. Homeostatic model assessment (HOMA-IR) index cut-off values to identify the metabolic syndrome in children. J Physiol Boichem. 2005; 61:381-8. UNICEF. UNITE FOR CHILDREN UNITE AGAINST AIDS. General Statistics. http://www.uniteforchildren.org/knowmore/knowmore. Acesso: 13/08/2009. Valente AM, Reis AF, Machado DM, Succi RC, Chacra AR. Metabolic alterations in HIV-associated lipodytrophy syndrome. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2005; 49(6):871-81. World Health Organization. The WHO child growth standards. Growth reference, 5 – 19y, 2007. Geneva, Switzerland: World Health Organization. http://www.who.int/childgrowthref/en/ . Acesso: 27/11/ 2007. Winter H. Gastrointestinal tract function and malnutrition in HIV-Infected children. J Nutr. 1996; 126:2620-2622. 49 8. ARTIGO I Composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV: estudo comparativo entre DXA e BIA 50 Composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV: estudo comparativo entre DXA e BIA Body composition in prepubertal HIV infected children: comparison study between DXA and BIA Cecília Zanin Palchetti1, Rose Vega Patin2, Vera Lúcia Szejnfeld3, Regina Célia de Menezes Succi4, Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira5 1. Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Departamento de Pediatria-UNIFESP/EPM. 2. Nutricionista, Doutora em Ciências pelo Programa de Pós- Graduação em Nutrição – UNIFESP/EPM. 3. Reumatologista, Doutora em Reumatologia, Responsável pelo Setor de Osteoporose da Disciplina de Reumatologia, Departamento de Medicina – UNIFESP/EPM. 4. Pediatra, Doutora em Pediatria, Responsável pelo Setor de AIDS Pediátrico da Disciplina de Infectologia Pediátrica, Departamento de Pediatria – UNIFESP/EPM. 5. Pediatra, Doutora em Pediatria, Responsável pelo Setor de Suporte Nutricional da Disciplina de Nutrologia, Departamento de Pediatria- UNIFESP/EPM. Artigo Original Resultados de parte do projeto de mestrado: ´´Composição corporal e lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV ``. Este trabalho não possui financiamento. 51 Autor para correspondência: Prof. Dra. Fernanda L. C. Oliveira UNIFESP / EPM Disciplina de Nutrologia, Departamento de Pediatria Rua Loefgreen, 1647 04040-032 – São Paulo – SP Tel./Fax: 11 5539 - 1783 E-mail: [email protected] / [email protected] 52 Resumo: Objetivo: o presente estudo objetiva comparar equações da BIA elaboradas para indivíduos saudáveis e infectados pelo HIV, utilizando o DXA como padrão ouro. Métodos: Estudo transversal com 40 crianças e adolescentes pré-púberes atendidos no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), de agosto a dezembro de 2008. Coletou-se dados do prontuário referentes à idade, transmissão, profilaxia, classificação clínico imunológica da doença (CDC,1994) e terapia antiretroviral . Utilizou-se o escore z de índice de massa corpórea (zIMC) e de estatura/idade (zE/I) para classificar o estado nutricional e comprometimento estatural, respectivamente (OMS, 2007). Averiguou-se a composição corporal por meio de DXA e BIA. Utilizou-se equações de BIA para crianças saudáveis (Houtkooper et al.,1992) e para crianças infectadas pelo HIV (Arpadi et al.,1996 e Joffe et al.,2005). Utilizou-se o programa SPSS versão 12.0 para análise estatística. Resultados: A média e o desvio-padrão de idade foram de 9,8±1,2anos, 50% do gênero feminino e 82,5% classificados com sintomas clínicos moderados/graves (categorias B e C). Ao comparar a gordura total em quilograma e porcentagem entre BIA e DXA, os coeficientes indicaram alta homogeneidade entre as medidas. Não houve concordância em relação aos valores de massa magra. A equação de Houtkooper et al. mostrou alta sensibilidade e especificidade e a de Joffe et al. apresentou melhor sensibilidade, comparando-se a porcentagem de gordura por meio do DXA. Conclusão: A BIA fornece dados confiáveis de massa gorda. Faz-se necessário a associação de outras metodologias para determinação da massa magra, pois o DXA apresenta limitações para uso rotineiro no atendimento ambulatorial. Palavras-chave: HIV, criança, composição corporal. 53 Abstract Objective: This study aims to compare BIA equations developed for healthy pediatric population and for HIV-infected children, using DXA as golden standard. Methods: Prospective transversal study including 40 prepubertal children and adolescents attended at the Pediatric Infectious Disease Clinic - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo city, Brazil, from August to December, 2008. Epidemiological parameters (age,sex, HIV transmission), clinical and immunological status (CDC, 1994) and HAART were recorded. Body Mass Index (BMI) z-score and height-for-age z score were calculated to characterize the nutritional status and short stature (WHO, 2007). Body composition was analyzed by BIA and DXA. BIA equations for healthy pediatric population (Houtkooper et al.,1992) and for HIV-infected children (Arpadi et al. ,1996 and Joffe et al.,2005) were used. Data were analyzed using SPSS 12.0 software. Results: The mean age and standard deviation was 9,8 ±1,2 years, 50% were girls and 82,5% children from B e C categories. Total body fat mass, in kilograms and percentage, showed homogeneity between BIA and DXA values. However, there was no concordance regarding to fat free mass. The equation of Houtkooper et al. had good sensitivity and specificity while the equation developed by Joffe et al. had higher sensitivity, when comparing the percentage of total body fat mass measured by DXA. Conclusion: BIA has reliable data on total body fat mass. It is necessary to associate other methods to determine fat free mass because DXA shows limitations in routine use. Key words: HIV, child, body composition. 54 Introdução O processo de crescimento, ocorrido nas primeiras décadas de vida, acarreta alterações na quantidade de massa livre de gordura devido à diminuição da água corporal total e ao aumento no conteúdo mineral ósseo durante este período1. Existem diferentes métodos para avaliar a composição corporal, desde os mais simples aos mais sofisticados2. Os dois métodos mais utilizados em pesquisas científicas são a análise de impedância bioelétrica (BIA) e a absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA). A técnica da BIA consiste na passagem de uma corrente elétrica de baixa intensidade e baixa freqüência. A impedância representa a oposição dos tecidos à passagem dessa corrente, podendo ser de dois tipos: resistência (oposição do condutor à passagem da corrente) e reactância (inversamente proporcional à freqüência). Os tecidos livres de gordura são altamente condutores pela sua constituição de água e eletrólitos, enquanto que o tecido adiposo e ósseo são mais resistentes3, 4. Em relação ao DXA, utiliza-se fonte de raio-X que converte o feixe de raios em picos fitoelétricos de baixa e alta energia, o qual atravessa o corpo do indivíduo. Permite medidas mais acuradas dos tecidos mole (gordura, água, músculos, órgãos viscerais) e ósseo, inferindo a composição corporal relativa a três componentes: massa magra, gorda e mineral óssea 5,6. A composição corporal é alterada segundo gênero, idade, estadiamento puberal, condição nutricional e saúde do indivíduo. Em crianças e adolescentes infectados pelo HIV, a própria infecção, o uso contínuo da medicação antirretroviral, as alterações clínico-metabólicas e o estado nutricional inadequado podem contribuir para mudanças corporais, tornando-se 55 inquestionável a monitoração da composição corporal destes pacientes. Estudos realizados pelos métodos de BIA e DXA demonstraram alterações como diminuição da massa magra, redução de gordura em membros inferiores e aumento no tronco em crianças infectadas pelo HIV quando comparadas ao grupo controle7-9. Apesar da BIA ser considerado método atrativo, devido ao baixo custo e facilidade de execução, a aplicabilidade das equações tem sido questionada quanto às características da população saudável estudada. Assim, equações próprias para crianças e adolescentes HIV positivos foram elaboradas a fim de melhor avaliar a composição corporal destes pacientes10. Dessa forma, o presente estudo objetiva comparar equações da BIA elaboradas para indivíduos saudáveis e infectados pelo HIV, utilizando o DXA como padrão ouro. Métodos Realizou-se estudo transversal, com 40 crianças e adolescentes prépúberes, entre 7 e 12 anos, de ambos os gêneros atendidos no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica (CEADIPe) do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM no período de agosto a novembro de 2008. Participaram do estudo 39 crianças e adolescentes infectados pelo HIV por transmissão vertical e um por transfusão sanguínea. Não foram incluídas as crianças que apresentaram síndrome genética ou neuropatias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, sendo iniciado após consentimento por escrito dos pais ou responsáveis. O estadiamento puberal foi avaliado pelos pediatras da equipe, utilizando como critério o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários propostos por Marshall & Tanner 11 . Foram incluídas no estudo as crianças e adolescentes que apresentaram estadiamento 1. Para a classificação da doença, utilizaram-se os parâmetros clínicos e as categorias imunológicas 56 propostos pelo Ministério da Saúde12, que adotou às normas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)13, além da inclusão da tuberculose pulmonar como critério para a categoria clínica B. Os dados sobre identificação, idade, tipo de transmissão, realização de profilaxia, cuidador legal e/ou responsável pelo paciente e esquema antirretroviral foram coletados do prontuário médico desses pacientes. As medidas de peso e estatura foram utilizadas para o cálculo do escore z de índice de massa corpórea (zIMC) e escore z de estatura/idade (zE/I), seguindo o padrão de referência e a preconização da Organização Mundial da Saúde 14 . A carga viral foi determinada pela técnica de RT-PCR (Cobas Amplicor HIV-1 MonitorTM Test, version 1.5) e os linfócitos T CD4 e T CD8 foram avaliados por citometria de fluxo (BD FACSCalibur™ System). Averiguou-se a composição corporal por absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA) por um único técnico treinado (aparelho LUNAR TM DPX-L,software para exames pediátricos versão1.5) e por aplicação do método de biompedância utilizando aparelho Quantum BIA101Q® (RJL Systems Inc. Clinton, MI, EUA) com freqüência fixa de 50 kHz de quatro eletrodos, obtendo-se os valores de resistência (R) e reactância (Xc). Com os valores de resistência e de reactância obteve-se o ângulo de fase, que consiste na relação entre os valores do arco-tangente da reactância/resistênciax180o/π. Utilizou-se equações de predição de BIA para crianças saudáveis (Houtkooper et al.15)e para crianças infectadas pelo HIV (Arpadi et a.16 e Joffe et al.10). Utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 12.0. As variáveis qualitativas foram apresentadas como freqüências absolutas (n) e relativas (%). Nas variáveis quantitativas, utilizouse média e desvio-padrão. Para a comparação dos métodos de BIA e DXA, calculou-se o coeficiente de correlação de Pearson, a fim de apontar o grau de correlação linear entre as variáveis. Avaliou-se a sensibilidade, a 57 especificidade, o valor preditivo positivo (VPP), o valor preditivo negativo (VPN) e a eficiência das equações de BIA em relação ao valor de gordura total (porcentagem) segundo o DXA, utilizando como pontos de corte os valores propostos por Dencker et al. 17 (feminino: valores acima de 21,9 % e masculino: valores acima de 16,5%). Resultados Na tabela 1, estão descritos dados a respeito da caracterização da população estudada, assim como os parâmetros imunológicos, os medicamentos utilizados, a classificação do estado nutricional e os valores de resistência, reactância e ângulo de fase dos pacientes atendidos. Os valores médios e os desvios padrão de gordura corporal e massa magra, expressos em kilos (kg) e porcentagem (%), obtidos pelo DXA e pelas equações de BIA desenvolvidas por Houtkooper et al.15, Arpadi et al.16 e Joffe et al.10 estão apresentados na tabela 2. A análise de correlação de Pearson está descrita na tabela 3 e os valores de sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e eficiência das equações de BIA em relação ao valor de gordura total (porcentagem) segundo o DXA estão apresentados na tabela 4. Discussão O método da BIA é rápido, não invasivo e relativamente barato para utilização em situações de campo e clínica. Avalia a gordura corporal total e a massa magra, entretanto não diagnostica alterações na redistribuição de gordura corporal, podendo não ser precisa na lipodistrofia18. A DXA é uma metodologia não invasiva, considerada padrão ouro, permitindo medidas mais acuradas de gordura corporal total e periférica, porém exige alto custo e tecnologia, sendo mais utilizada em pesquisas clínicas18. As equações generalizadas de BIA baseiam-se em indivíduos saudáveis e podem ser utilizadas para populações heterogêneas, variando em idade, sexo e nível de gordura corporal. Em relação às equações de populações 58 específicas, por considerarem diferenças de idade, etnia, sexo, nível de atividade física e nível de gordura corporal, podem apenas ser aplicadas para indivíduos cujas características físicas são similares àquelas do subgrupo específico19. Desta forma, considerou-se equação generalizada a proposta por Houtkooper et al. 15, que utilizou amostra de 94 pacientes saudáveis entre 10 e 14 anos de ambos os sexos, raça branca. A primeira equação específica para a SIDA foi desenvolvida por Arpadi et al. 16 , baseando-se em amostra de 20 crianças infectadas pelo HIV , com idade de 4 a 11 anos . Joffet et al. 10 considerou 30 crianças infectadas pelo HIV, com idade de 3 a 13 anos e para validação, 15 crianças e adolescentes infectados pelo HIV de 4 a 19 anos, de diferentes raças. O estadiamento puberal não foi considerado nas equações descritas acima. Entretanto, sabe-se que durante a puberdade ocorrem importantes alterações nos tecidos muscular e adiposo, além de modificações no padrão de distribuição da gordura corpórea segundo gênero20. Dessa forma, a amostra deste estudo foi constituída apenas de pré-púberes. Em relação à contagem de células T CD4, a população do presente estudo apresentou 795,4 (+589,1) células/ mm³, para esta faixa etária preconiza-se contagem acima de 500 células/ mm³ 12 . Na amostra de Arpadi et al.16 obteve-se contagem de 319 (+ 330) células/ mm³ , no grupo de referência e validação na equação de Joffe et al. 10, a contagem foi de 643 (+521) e 812 (+530) células/ mm³, respectivamente. A depleção das células T CD4, observada no estudo de Arpadi, aponta maior gravidade dos pacientes e pode estar associada à diarréia, caquexia e doenças secundárias, influenciando no estado de hidratação e alteração da massa celular10. Indubitavelmente, ao se comparar a medicação disponível na década de 90 com o tratamento antiretroviral atual, surgiram novas classes de medicação, novas drogas e associações entre as mesmas, preservando ou melhorando o sistema imunológico dos pacientes. 59 As alterações clínico-metabólicas decorrentes do uso da medicação e da própria doença foram descritas inicialmente em adultos no final da década de 9021, e posteriormente em crianças e adolescentes1. Na equação proposta por Joffe et al.10, não foram incluídos pacientes que apresentavam lipodistrofia, uma vez que o acúmulo de gordura abdominal poderia influenciar na interpretação dos resultados. No presente estudo, a prevalência clínica de lipodistrofia foi de 27,5% (17,5% lipohipertrofia e lipodistrofia mista), que apesar de ser uma complicação freqüente verificada nessa população, poderia ser fator limitante na utilização dessas equações. Na comparação da gordura em quilograma entre BIA e DXA, os coeficientes de correlação estão acima de 0,90 indicando altíssima homogeneidade entre as medidas. Em relação à porcentagem de gordura, o valor obtido foi alto, apresentando concordância entre as equações de BIA e o DXA. A equação de Houtkooper et al.15 mostrou alta sensibilidade e especificidade quando comparada ao DXA, segundo ponto de corte de Dencker et al.17 Apesar de ter sido elaborada com adolescentes em vários estadiamentos puberais e em população saudável, apresenta maior número amostral e constitui a equação com maior eficiência. No sentido de detectar as crianças infectados pelo HIV com maior quantidade de gordura corporal, a equação de Joffe et al.10 apresentou a melhor sensibilidade. O fato da equação ter sido formulada a partir de população SIDA parece ser um bom método para avaliar o acúmulo de gordura nesses pacientes. Ressalta-se que o ponto de corte utilizado foi escolhido de modo de contemplar a mesma faixa etária, o gênero e o estadiamento puberal (pré-púbere). A baixa sensibilidade da equação de Arpadi et al.16 pode ser explicada pela amostra reduzida de pacientes; maior comprometimento imunológico, acarretando menor quantidade de massa gorda; menor valor médio de 60 gordura total calculado; além de ser a única fórmula que utiliza a idade como variável. Estudo realizado com 86 crianças infectadas pelo HIV comparou as equações de Houtkooper et al.15 e Arpadi et al.16, encontrando valores similares de massa magra7. Entretanto, a massa magra obtida pelas equações de BIA, apresentou valores menores em pacientes pertencentes às categorias clínicas B e C, quando comparados àqueles sem ou com sintomas leves (categorias N e A)7. Ao se avaliar a composição corporal por meio do DXA, verificou-se que a massa magra relacionou-se negativamente à replicação viral e ingestão alimentar insuficiente22. Contudo no presente estudo, quando se comparou o DXA com as equações de BIA para análise da massa magra, expressa em quilograma e porcentagem, não houve concordância entre os resultados obtidos. Assim, a avaliação da composição corporal em pacientes pediátricos infectados pelo HIV por meio de equações de BIA apresenta limitações. Não se questiona a sua alta correlação com o DXA no estudo da massa gorda. Em relação à massa magra, o DXA parece ser a melhor metodologia, apesar do seu alto custo e acesso limitado na prática clínica. O fato das equações terem sido realizadas com pacientes de outras etnias, diferentes graus de estadiamento puberal e faixa etária mais ampla pode limitar as conclusões deste estudo. A análise da composição corporal deve ser incluída na avaliação nutricional das crianças e adolescentes infectados pelo HIV, sendo que a metodologia da BIA fornece dados confiáveis de massa gorda. Dessa forma, faz-se necessário a associação de outras metodologias para determinação da massa magra, pois o DXA apresenta limitações para uso rotineiro no atendimento ambulatorial. 61 Referências Bibliográficas: 1. Miller TL. Nutritional aspects of HIV-infected children receiving highly active antiretroviral therapy. AIDS. 2003; 17(suppl 1): S130-40. 2. Pinto E, Oliveira AR, Alencastre H, Lopes C. Avaliação da composição corporal na criança por métodos não invasivos. Arqui Med. 2005; 19 (1-2): 4754. 3. Buchholz AC, Bartok C, Scholler DA. The validity of bioelectrical impedance models in clinical populations. Nutr Clin Pract. 2004; 19: 433-46. 4. Liedtke RJ. The Principles of bioelectrical impedance analysis. RJL Internal Publications; 1997. 5. Laskey M, Phill D. Dual-energy X-ray absorptiometry and body composition. Nutrition. 1996; 12: 45-51. 6. Lohman TG. Dual energy x-ray absorptiometry. In: Roche AF, Heymsfield SB, Lohman TG, eds. Human body composition. Champaign, IL: Human Kinetics Books; 1996; 63-79. 7. Fontana M, Zuin G, Plebani A, Bastoni K, Visconti G, Principi N. Am J Clin Nutr. 1999;69(6):1282-6. 8. Brambilla P, Bricalli D, Sala N, Renzetti F, Manzoni P, Vanzulli A, Chiumello G, di Natale B, Viganò A.Highly active antiretroviral-treated HIV-infected children show fat distribution changes even in absence of lipodystrophy.AIDS. 2001; 15(18): 2415-22. 9. Arpadi SM, Bethel J, Horlick M, Sarr M, Bamji M, Abrams EJ, et al. Longitudinal changes in regional fat content in HIV-infected children and adolescents. AIDS. 2009; 23(12): 1501-9. 62 10. Joffe TH, Welle S, Roubenoff R, Gorbach SL, Weinberg GA, Duggan C, et al. A bioelectral impedance analysis equation for predicting total body water and fat-free mass in children with Human Immunodeficiency Virus-1 in the preHAART and HAART era. Int J Body Composition Res. 2005; 3 (1): 15-24. 11. Marshall EA, Tanner JM. Growth and physiological development during adolescence. Ann Rev Med. 1975; 19: 283-300. 12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendações para Terapia Antiretroviral em Crianças e Adolescentes Infectados pelo HIV: manual de bolso/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e AIDS. – Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 13. Centers for Disease Control. Revised classification system for human immunodeficiency virus (HIV) infection in children less than 13 years of age. MMWR; 1994; 43:1-10. 14. World Health Organization. The WHO child growth standards. Growth reference, 5 – 19y, 2007. Geneva, Switzerland: World Health Organization. http://www.who.int/childgrowthref/en/ . Acesso: 27/11/ 2007. 15. Houtkooper LB, Going SB, Lohman TG, Roche AF, Van Loan M. Bioelectrical impedance estimation of fat-free body mass in children and youth: a cross-validation study. J Appl Physiol . 1992; 72 (1): 366-372. 16. Arpadi SM, Wang J, Cuff PA, Thompton J, Horlick M, Kotler D, et al. Application of bioimpedance analysis for estimating body composition in preburtal children infected with human immunodeficiency virus type 1. J Pediatr. 1996; 129(5): 755-7. 63 17. Dencker M, Thorsson O, Lindén C, Wollmer P, Andersen LB, Karlsson MK. BMI and objectively measured body fat and body fat distribution in prepubertal children. Clin Physiol Funct Imaging. 2007; 27(1):12-6. 18. Knox TA, Zafonte-Sanders M, Fields-Gardner C, Moen K, Johansen D. Assessment of nutritional status, body composition, and human immunodeficiency virus-associated morphologic changes. Clin Infectious Disease. 2003; 36(suppl2):s63-8. 19. Heyward VH, Stolarczyk LM. Avaliação da composição corporal aplicada. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2000. 20. Loomba-Albrecht LA, Styne DM.Effect of puberty on body composition. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2009; 16(1):10-5. 21. Carr A, Samaras K, Chrisholm DJ, Cooper DA. Pathogenesis of HIV-1 protease inhibitor-associated peripheral lipodistrophy, hyperlipidemia, and insulin resistance. Lancet. 1998; 351: 1881-83. 22. Arpadi SM, Cuff PA, Kotler DP, Wang J, Bamji M, Lange M, Pierson RN, Matthews DE. Growth velocity, fat-free mass and energy intake are inversely related to viral load in HIV-infected children. J Nutr. 2000; 130(10): 2498-502. 64 Tabela 1- Caracterização das crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV atendidos no CEADIPe – UNIFESP/EPM (n=40). Variáveis n % Idade (anos) * 9,8 (1,2) Gênero feminino 20 50 Transmissão vertical 39 97,5 Profilaxia total ou parcial 17 43,6 Classificação clínica B e C 33 82,5 Parâmetros imunológicos Contagem de CD4(células/mm³)* 795,4(589,1) Carga viral (log)* 2,9(1,3) Medicamentos utilizados ITRN 34 85 ITRNN 10 25 IP 21 52,5 Classificação do estado nutricional Eutrofia 33 82,5 Sobrepeso/obesidade 6 15 Estatura adequada 34 85 BIA 733,9(85,6) Resistência (Ω) * 70,2(6,4) Reactância (Ω) * Ângulo de fase * 5,52(0,58) ITRN = inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos; ITRNN = inibidores de transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos; IP = inibidores de protease; BIA = bioimpedância elétrica. * Média (DP). 65 Tabela 2 – Valores médios e desvios padrão da gordura corporal e massa magra em quilograma (kg) e porcentagem (%) obtidos pelos métodos de BIA e DXA de pré-púberes infectados pelo HIV. Variáveis DXA Equação Equação Equação BIA 1 BIA 2 BIA 3 Média (DP) Média (DP) Média (DP) Média (DP) Gordura 5,4(4) 5,3(2,8) 4,2(4) 6,9(3,7) corporal (kg) Gordura corporal (%) 17,6(8,3) 17,8(5,8) 13,1(9,2) 23(7,8) Massa magra (kg) 24,8(10,6) 23,3(4,9) 24,4(4,1) 21,7(4,5) Massa magra (%) 80,8(12,7) 82,2(5,8) 86,9(9,2) 77(7,8) Equação BIA 1 : Houtkooper et al., 1992; Equação BIA 2 : Arpadi et al., 1996; Equação BIA 3 : Joffe et al., 2005. Tabela 3 - Análise de correlação linear de Pearson da gordura corporal total e massa magra em quilograma (kg) e porcentagem (%) obtidos pelo método de BIA comparadas aos valores de DXA de pré-púberes infectados pelo HIV. Variáveis DXA DXA DXA DXA gordura gordura Massa Massa total (kg) total (%) magra (kg) magra (%) Equação BIA 1 0,85 0,32 0,49 0,96 Equação BIA 2 0,86 0,30 0,54 0,95 Equação BIA 3 0,86 0,33 0,51 0,96 Equação BIA 1 : Houtkooper et al., 1992; Equação BIA 2 : Arpadi et al., 1996; Equação BIA 3 : Joffe et al., 2005. Tabela 4 - Sensibilidade, especificidade , valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN) e eficiência das equações de BIA em relação ao DXA. Variáveis Sensibilidade Especificidade VPP VPN Eficiência % % % % % BIA 1 86,7 92,0 86,7 92,0 90,0 BIA 2 46,7 95,8 87,5 95,8 76,9 BIA 3 92,9 56,0 54,2 56,0 69,2 Equação BIA 1 : Houtkooper et al., 1992; Equação BIA 2 : Arpadi et al., 1996; Equação BIA 3 : Joffe et al., 2005. 66 8.1 ARTIGO II Avaliação antropométrica e composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia 67 Avaliação antropométrica e composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia Anthropometric measurements and body composition in prepubertal HIV -infected children with and without lipodystrophy Cecília Zanin Palchetti1, Rose Vega Patin2, Aída de Fátima Thomé Barbosa Gouvêa3, Vera Lúcia Szejnfeld4, Regina Célia de Menezes Succi5, Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira6 1. Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Departamento de Pediatria-UNIFESP/EPM. 2. Nutricionista, Doutora em Ciências pelo Programa de Pós- Graduação em Nutrição – UNIFESP/EPM. 3. Pediatra. Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. 4. Reumatologista, Doutora em Reumatologia, Responsável pelo Setor de Osteoporose da Disciplina de Reumatologia, Departamento de Medicina – UNIFESP/EPM. 5. Pediatra, Doutora em Pediatria, Responsável pelo Setor de AIDS Pediátrico da Disciplina de Infectologia Pediátrica, Departamento de Pediatria – UNIFESP/EPM. 6. Pediatra, Doutora em Pediatria, Responsável pelo Setor de Suporte Nutricional da Disciplina de Nutrologia, Departamento de Pediatria- UNIFESP/EPM. 68 Artigo Original Resultados de parte do projeto de mestrado: ´´ Avaliação antropométrica e composição corporal em pré-púberes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia``. Este trabalho não possui financiamento. Autor para correspondência: Prof. Dra. Fernanda L. C. Oliveira UNIFESP / EPM Disciplina de Nutrologia, Departamento de Pediatria Rua Loefgreen, 1647 04040-032 – São Paulo – SP Tel./Fax: 11 5539 - 1783 E-mail: [email protected] / [email protected] 69 Resumo Objetivo: identificar a lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV por meio de parâmetros de avaliação antropométrica e composição corporal. Metodologia: Estudo transversal com 40 crianças e adolescentes pré-púberes de ambos os sexos atendidos no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), de agosto a dezembro de 2008. Coletou-se dados do prontuário referentes à idade, classificação clínico imunológica da doença, profilaxia, transmissão, terapia antirretroviral. Coletou-se dados de peso e estatura e para a classificação do estado nutricional, utilizou-se o escore z de Índice de Massa Corpórea (zIMC) e de Estatura/Idade (zE/I)(OMS, 2007). Utilizou-se fita flexível para as circunferências e adipômetro para as dobras cutâneas. A gordura corporal e a massa magra foram obtidas pelo método do DXA. Identificou-se a lipodistrofia por meio de avaliação clínica. Utilizou-se o programa STATA 8.0 para análise dos dados. Resultados: A média e o desvio-padrão de idade foram de 9,8±1,2anos, 50% eram do gênero feminino e 82,5% foram classificados com sintomas clínicos moderados/graves (categorias B e C). A relação tronco/braço e a relação braço+perna/tronco apresentaram associação positiva com a lipodistrofia, assim como a circunferência abdominal com o uso de inibidor de protease. Os pacientes com lipodistrofia apresentaram baixa estatura, maior valor de triglicérides e diminuição do HDL – colesterol. Conclusão: A relação tronco/braço e a relação braço + perna/tronco foram sensíveis para indicar alteração na composição corporal de pacientes com lipodistrofia, podendo auxiliar no diagnóstico da mesma. Palavras- chave: HIV, criança, lipodistrofia, antropometria, composição corporal. 70 Abstract Objective: to identify lipodystrophy in prepubertal children and adolescents infected with HIV utilizing parameters of anthropometric evaluation and body composition. Methodology: Prospective transversal study including 40 prepubertal children and adolescents of both gender attended at the Pediatric Infectious Disease Clinic - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo city, Brazil, from august to december, 2008. Age, clinical and immunological status, prophylaxis, transmission and HAART were recorded. Body Mass Index (BMI) z-score and height-for-age z score were calculated to characterize the nutritional status (WHO, 2007). Circumferences were measured with flexible tape and skinfolds were assessed by using an adipometry. Fat mass and lean mass were determined by DXA. Presence of clinical signs of lipodystrophy was assessed by a trained clinician. Data were analyzed using SPSS 12.0 software. Results: The mean age and standard deviation was 9,8±1,2 years, 50% were girls and 82,5% children from B e C categories. The trunk arm ratio and the trunk: peripheral fat ratio had positive association with lipodystrophy, just like the abdominal circumference with the use of protease inhibitor. Patients with lipodystrophy had short stature, higher triglycerides values and lower HDLcholesterol. Conclusion: The trunk arm ratio and the trunk: peripheral fat ratio were sensitive to indicate alterations in body composition in patients with lipodystrophy, these measurements can auxiliate the diagnosis of lipodystrophy. Key words: HIV, child, lipodystrophy, anthropometry, body composition. 71 Introdução A introdução da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) diminuiu significativamente a morbidade e mortalidade em crianças com HIV/ AIDS. Estudo multicêntrico americano demonstrou que, entre 1994 e 2000, a taxa de óbitos apresentou decréscimo de 7,2 para 0,8 por 100 crianças-ano, mantendose estável até 20061. No Brasil, a probabilidade de sobrevida de 60 meses aumentou de 52,8% entre crianças diagnosticadas no período 1983 - 1998 para 86,3% entre crianças nascidas de 1999 a 20072. Indubitavelmente, além de preservar ou restaurar o sistema imunológico, o uso da HAART também contribui para a manutenção ou melhora do crescimento pondero-estatural3. Entretanto, a própria infecção pelo HIV e o uso da terapia antirretroviral acarretam alterações clínico-metabólicas inicialmente descritas em adultos no final da década de 904 e posteriormente observados em crianças e adolescentes5. Devido à precocidade e à grande exposição aos medicamentos, principalmente na infecção adquirida por transmissão vertical, esta população apresenta maiores riscos de desenvolver os efeitos adversos da terapia antiretroviral5. Dentre as repercussões metabólicas da terapia antirretroviral, pode-se citar a síndrome lipodistrófica, a qual engloba a lipodistrofia, a dislipidemia, a resistência à insulina e o risco cardiovascular6. A identificação e classificação da lipodistrofia são realizadas utilizando parâmetros clínicos, o que acarreta várias dificuldades7,8.As medidas antropométricas e a avaliação de composição corporal são instrumentos úteis para acompanhar a evolução do crescimento, 72 sendo também sensíveis para identificar presença de alterações clínicometabólicas9. Desta forma, o presente estudo objetiva identificar a lipodistrofia em crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV por meio de parâmetros de avaliação antropométrica e composição corporal. Métodos Realizou-se estudo transversal, com 40 crianças e adolescentes prépúberes, entre 7 e 12 anos, de ambos os gêneros atendidos no Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica (CEADIPe) do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM no período de agosto a novembro de 2008. Não foram incluídas as crianças que apresentaram síndrome genética ou neuropatias. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, sendo iniciado após consentimento por escrito dos pais ou responsáveis. O estadiamento puberal foi avaliado pelos pediatras da equipe, utilizando como critério o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários propostos por Marshall & Tanner10,sendo incluídas no estudo as crianças e adolescentes que apresentaram estadiamento 1. Para a classificação da doença, utilizaram-se os parâmetros clínicos e as categorias imunológicas propostos pelo Ministério da Saúde3 que adotou às normas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)11, além da inclusão da tuberculose pulmonar como critério para a categoria clínica B. 73 Os dados sobre identificação, idade, tipo de transmissão, realização de profilaxia, cuidador legal e/ou responsável pelo paciente e esquema antirretroviral foram coletados do prontuário médico desses pacientes. A lipodistrofia clínica foi identificada clinicamente pelo pediatra, apresentando três caracterizações: lipoatrofia, lipohipertrofia e mista12. As medidas de peso e estatura foram utilizadas para o cálculo do escore z de índice de massa corpórea (zIMC) e escore z de estatura/idade (zE/I), seguindo o padrão de referência e a preconização da Organização Mundial da Saúde13.Para a aferição das dobras cutâneas, utilizou-se adipômetro da marca Lange® (Beta Technology Inc. Santa Cruz, CA, EUA) com precisão de 1 mm e para as circunferências, fita flexível, inextensível, com precisão de 0,1cm. A relação tronco: braço foi calculada por meio da soma da dobra cutânea subescapular e suprailíaca dividida pela valor da adição das dobras triciptal e biciptal12. Averiguou-se a composição corporal por absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X (DXA) por um único técnico treinado (aparelho LUNAR TM DPX-L,software para exames pediátricos versão1.5). A relação braço + perna/ tronco foi obtida por meio da soma da gordura (g) dos braços e pernas dividida pelo valor do gordura (g) do tronco. A carga viral do HIV foi determinada pela técnica de RT-PCR (Cobas Amplicor HIV-1 MonitorTM Test, version 1.5) e os linfócitos TCD4 e T CD8 foram avaliados por citometria de fluxo (BD FACSCalibur™ System). O perfil lipídico foi determinado por método de espectrofotometria de refletância - colorimétrico – 540 nm (Vitros Systems Chemistry 750 XRC - Ortho-Clinical Diagnostics, Inc 74 – Johnson & Johnson Company. New York, NY, EUA), utilizando os pontos de corte propostos por Kwiterovich14. A glicemia foi dosada pelo método enzimático utilizando enzima hexoquinase e glicose-6-fosfato desidrogenase (Advia Chemistry System 1650 - Bayer) e a insulina, pelo método imunoenzimático (Tosoh - Tosoh Corporation. Tokyo, Japan). A insulina e glicemia em jejum foram utilizadas para o cálculo do HOMA-IR (Homeostatic model assesment), que caracteriza resistência à insulina quando HOMA-IR > 3 15 . O cálculo de massa muscular esquelética foi realizado de acordo Heymsfield et al.16. Para a análise estatística, utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 12.0. Para a comparação das variáveis qualitativas, utilizou-se o teste qui-quadrado ou o teste Exato de Fisher. Para a comparação das variáveis quantitativas, utilizou-se o teste t-Student, considerando nível de significância de 5% (p<0,05). Resultados Neste estudo, a amostra foi composta por pré-púberes, sendo que 50% do sexo masculino, com média e desvio padrão de idade de 9,8 + 1,2 anos. A infecção pelo HIV foi contraída por meio de transmissão vertical em 39 (97,5%) das crianças e adolescentes, sendo que 23 (56,4%) não realizaram qualquer tipo de profilaxia na fase gestacional, perinatal e nos primeiros meses de vida. Em relação à classificação clínica, 33 (82,5%) pertenciam às categorias B e C. A terapia antirretroviral com associação de três drogas era utilizada por 30 (75%) pacientes estudados e 21 deles (52,5%) utilizavam esquema terapêutico 75 com inibidor de protease. Considerando o estado nutricional, 33 (82,5%) eram eutróficos, 6 (15%) sobrepeso/obesidade e 34 (85%) apresentaram estatura adequada. As alterações clínico-metabólicas estão descritas na tabela 1. Nas tabelas 2 e 3, compararam-se as variáveis clínicas e os parâmetros laboratoriais de crianças e adolescentes em uso ou não de inibidor de protease e na presença ou ausência de lipodistrofia, respectivamente. Utilizando índices antropométricos como a relação tronco/braço, obtida pelas dobras cutâneas, assim como a relação braço+perna/tronco, determinada por meio de DXA, observou-se forte associação com a presença de lipodistrofia (tabela 4). Quanto à utilização ou não de inibidor de protease na terapia antirretroviral não se observou associação com as medidas/índices antropométricos e avaliação da composição corporal realizados, exceto a circunferência abdominal que apresentou associação positiva com o uso desta medicação (63,25 + 8,32 cm versus 58,5 + 5,63 cm; p = 0, 043). Discussão Estudo americano com follow-up de 2 anos realizado em crianças infectadas pelo HIV demonstrou a presença de lipodistrofia em 20% dos pacientes, sendo que se detectou nesses indivíduos maior prevalência de dislipidemia17. Estudo brasileiro com 30 crianças infectadas pelo HIV encontrou prevalência de 53,5 e 60% de lipodistrofia e dislipidemia, respectivamente18. Verificou-se no presente estudo menor prevalência de lipodistrofia (27,5%), podendo ser justificada pela amostra constituída apenas de pré-púberes. 76 Quanto à presença de lipodistrofia, o presente estudo não demonstrou diferença significante em relação às classes de antirretrovirais. A literatura vigente demonstrou dados conflitantes quanto à presença de lipodistrofia associada ao uso de inibidores de protease, sendo observada associação positiva em estudo brasileiro com pacientes com média de idade de 9,1 anos18 e resultado negativo em estudo americano com pacientes com média de idade de 11,9 anos19. Entretanto, os pacientes em uso dos inibidores de protease apresentaram menor carga viral quando comparados àqueles sem esse medicamento, comprovando a eficácia deste antirretroviral sobre a replicação viral. Apesar do seu efeito benéfico, o uso de inibidores de protease associouse positivamente a maiores níveis séricos de triglicérides, colesterol total e LDL- colesterol. Dados prévios da literatura corroboram a relação entre a dislipidemia e administração de inibidores de protease20. Pacientes infectados por transmissão vertical com idade entre 7 a 24 anos, classificados segundo estadiamento puberal, demonstrou que o uso de inibidor de protease relacionou--se à maior prevalência de dislipidemia e resistência à insulina21.Tais alterações parecem estar relacionadas à semelhança entre algumas proteínas envolvidas no metabolismo lipídico e o sítio de ligação à proteína viral dos inibidores de protease, os quais podem promover inibição total ou parcial da via metabólica lipídica. A inibição da atividade da lipase lipoprotéica plasmática (LLP) acarreta redução na hidrólise dos quilomícrons e conseqüente aumento de triglicérides. Ainda, por similaridade molecular, pode 77 haver competição entre os inibidores de protease e os quilomícrons remanescentes pelo sítio de ligação dos receptores hepáticos22. Considerando-se o valor médio de circunferência abdominal, o mesmo apresentou relação positiva com o uso de inibidor de protease. Embora não tenha apresentado diferença estatística significante, talvez pelo tamanho amostral, esta variável foi maior no grupo com lipodistrofia. Alguns estudos sugerem que as alterações metabólicas também resultam da adiposidade central, como a resistência à insulina, que parece estar mais pronunciada na presença de lipohipertrofia23. Neste estudo, observa-se prevalência de lipoatrofia e lipodistrofia mista nos pré-púberes. Evidências científicas sugerem que a lipohipertrofia e a própria lipodistrofia são mais freqüentes em crianças púberes, visto que a maturação sexual e os fatores hormonais podem contribuir para este desfecho12, 24. Na presença de lipodistrofia, observou-se maior prevalência de baixa estatura. Mesmo resultado não foi observado quando a variável estudada foi o uso ou não de inibidor de protease. A infecção pelo HIV também se caracteriza por distúrbios hormonais, dentre eles pode-se citar o comprometimento do eixo hormônio de crescimento/fator de crescimento insulina-like tipo 1(GH/IGF-1). No entanto, o real mecanismo pelo qual esse comprometimento ocorre não está bem elucidado na literatura, havendo divergências entre os pesquisadores e várias revisões a respeito desse assunto25,26. Parece haver resistência ao 78 GH, com aumento dos níveis do mesmo e diminuição de IGF-127. Outra hipótese seria a modificação dos níveis de IGF-1, resultante da síntese inadequada de proteína ligadora de IGF do tipo 1 (IGFBP-1) e aumento da proteólise da proteína ligadora de IGF do tipo 3 (IGFBP-3)28.Em crianças infectadas, a resistência ao GH e as alterações na produção do cortisol influem diretamente na composição corporal e na interrupção do crescimento29. Além destes fatores, o estado nutricional, os distúrbios gastrointestinais e endócrinos, a ingestão alimentar insuficiente e as infecções de repetição também podem acarretar no comprometimento da evolução estatural25,30. A interação entre os distúrbios hormonais e lipodistrofia parece estar relacionado ao aumento do tônus da somatostatina, a qual inibirá a secreção de GH, a diminuição da grelina e a supressão do GH causada pelo aumento de ácidos graxos livres26. O GH e IGF-I agem diretamente nas fibras musculares, aumentando a síntese protéica e a massa muscular. Entretanto, em doenças crônicas como a SIDA, o estresse gerado pelo permanente estado inflamatório contribui para depleção de aminoácidos essenciais do músculo esquelético por meio da gliconeogênese hepática25. A rápida perda de massa muscular deve-se à aceleração na quebra de proteínas e degradação das proteínas miofibrilares pela ativação do sistema ubiquitina-proteossoma31. Nessa via metabólica alternativa, há ativação de fatores de transcrição (FoxO3) no núcleo acarretando aumento da proteólise lissossomal e 79 proteossomal, que será responsável pela perda mitocondrial e miofibrilar 31 . Fisiologicamente, quando a via sinalizadora IGF1/insulina –P13k-Akt é ativada, o FoxO3 é inativado e liberado no citosol32. Observa-se neste estudo maior nível sérico de triglicérides e menor de HDL-colesterol nos pacientes com redistribuição corporal de gordura. Rosso et al.33, relacionaram a presença de lipodistrofia aos níveis de triglicérides, insulina e glicemia. Estudo espanhol realizado com 56 pacientes entre 21 meses e 18 anos verificou maior presença de lipodistrofia nas crianças e adolescentes de faixa etária mais elevada e com hipertigliceridemia, enquanto que os valores de carga viral, linfócito T CD4, colesterol total e glicose não apresentaram associação positiva24. A lipodistrofia, a resistência à insulina e a dislipidemia, com conseqüente aumento do risco cardiovascular, caracterizam a síndrome lipodistrófica, cuja etiologia parece estar relacionada algumas classes de medicamentos, como inibidores de protease (IP) e inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN); tempo de uso da medicação; aumento da carga viral; baixos níveis de CD4 e aumento prévio dos níveis séricos de triglicérides e colesterol4, 6. A classificação da lipodistrofia é feita de forma clínica e subjetiva. Dessa forma, a avaliação das medidas antropométricas e de composição corporal poderiam ser instrumentos para auxiliar na detecção de alterações clínicas e metabólicas. 80 A relação tronco/braço pode ser parâmetro de redistribuição de gordura, o qual mostra o afilamento dos membros superiores e acúmulo adiposo na região abdominal e gibosidade dorsal12. Neste estudo, demonstrou-se associação positiva desta relação com a lipodistrofia. Este é índice de fácil aplicação, obtido pelas dobras cutâneas, sendo viável na prática clínica. Em crianças em uso de HAART comparadas ao grupo controle, observaram-se mudanças na composição corporal obtida pelo DXA mesmo na ausência de sinais clínicos de lipodistrofia7. O diagnóstico clínico de lipodistrofia parece ser subestimado, pois estudo mostrou que 31/37 não identificados como lipodistróficos, apresentaram alterações na composição corporal como redução da gordura em membros inferiores e aumento da adiposidade visceral por meio do DXA; enquanto apenas 8/37 pacientes tinham conformidade de diagnóstico clínico e de imagem8. Neste presente estudo, não se verificou alterações na porcentagem de gordura de membros inferiores e superiores quando comparados os grupos com e sem lipodistrofia, entretanto, a relação braço + perna / tronco apresentou forte correlação com esta alteração clínica. O acompanhamento antropométrico e de avaliação corporal podem ser considerados ferramentas para auxiliar no diagnóstico de lipodistrofia. A avaliação da composição corporal por meio do DXA tem a desvantagem de necessitar de tecnologia e alto custo, portanto a utilização das medidas antropométricas, obtidas pelas dobras cutâneas, apresenta uma alternativa exeqüível e de baixo custo. As complicações clínico-metabólicas dos pré81 púberes infetados pelo HIV devem ser precocemente diagnosticadas e tratadas, necessitando de acompanhamento interdisciplinar. 82 Referências bibliográficas 1. Brady MT, Oleske JM, Williams PL, Elgie C, Mofenson LM, Dankner WM, Van Dyke RB; Pediatric AIDS Clinical Trials Group219/219C Team. Declines in mortality rates and changes in causes of death in HIV-1-infected children during the HAART era. J Acquir Immune Defic Syndr. 2010; 53(1):86-94. 2. Matida LH, Ramos AN Jr, Heukelbach J, Hearst N; Brazilian Study Group on Survival of Children with AIDS. Continuing improvement in survival for children with acquired immunodeficiency syndrome in Brazil. Pediatr Infect Dis J. 2009;28(10):920-2. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendações para Terapia Antiretroviral em Crianças e Adolescentes Infectados pelo HIV: manual de bolso/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e AIDS. – Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 4. Carr A, Samaras K, Chrisholm DJ, Cooper DA. Pathogenesis of HIV-1 protease inhibitor-associated peripheral lipodistrophy, hyperlipidemia, and insulin resistance. Lancet 1998; 351: 1881-83. 5. Miller TL. Nutritional aspects of HIV-infected children receiving highly active antiretroviral therapy. AIDS. 2003; 17(suppl 1): S130-40. 6. Valente AM, Reis AF, Machado DM, Succi RC, Chacra AR. Metabolic alterations in HIV-associated lipodytrophy syndrome. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2005; 49(6):871-81. 83 7. Brambilla P, Bricalli D, Sala N, Renzetti F, Manzoni P, Vanzulli A, Chiumello G, di Natale B, Viganò A.Highly active antiretroviral-treated HIV-infected children show fat distribution changes even in absence of lipodystrophy.AIDS. 2001; 15(18): 2415-22. 8. Viganò A, Mora S, Testolin C, Beccio S, Schneider L, Bricalli D, Vanzulli A, Manzoni P, Brambilla P. Increased Lipodystrophy Is Associated With Increased Exposure to Highly Active Antiretroviral Therapy in HIV-Infected Children. JAIDS. 2003; 32: 482-9. 9. Sociedade Brasileira de Pediatria. Avaliação nutricional da criança e do adolescente – Manual de Orientação / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. – São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia; 2009. 112 p. 10. Marshall EA, Tanner JM. Growth and physiological development during adolescence. Ann Rev Med. 1975; 19: 283-300. 11. Centers for Disease Control. Revised classification system for human immunodeficiency virus (HIV) infection in children less than 13 years of age. MMWR; 1994; 43:1-10. 84 12. Jaquet D, Lèvine M, Ortega-Rodriguez E, Faye A, Polak M, Vilmer E, et al. Clinical and metabolic presentation of the lipodystrophic syndrome HIV-infected children. AIDS. 2000; 14:2123-8. 13. World Health Organization. The WHO child growth standards. Growth reference, 5 – 19y, 2007. Geneva, Switzerland: World Health Organization. http://www.who.int/childgrowthref/en/ . Acesso: 27/11/ 2007. 14. Kwiterovich POJr. Recognition and management of dyslipidemia in children and adolescents. J Clin Endocrinol Metab. 2008; 93: 4200-4209. 15. Tresaco B, Bueno G, Pineda I, Moreno LA, Garagorri JM, Bueno M. Homeostatic model assessment (HOMA-IR) index cut-off values to identify the metabolic syndrome in children. J Physiol Boichem. 2005; 61:381-8. 16. Heymsfield SB, Smith R, Aulet M, Bensen B, Lichtman S, Wang J et al. Appendicular skeletal muscle mass: measurement by dual-photon absorptiometry. Am J Clin Nutr. 1990; 52:214-18. 17. Krause JC, Toye MP, Fisher DJ, Stechenberg BW, Reiter EO, Allen HF. Metabolic abnormalities in human immunodeficiency virus-infected children: two-year follow-up. J Pediatr Endocrinol Metab. 2009; 22(4):345-51. 18. Sarni RO, de Souza FI, Battistini TR, Pitta TS, Fernandes AP, Tardini PC, et al. Lipodystrophy in children and adolescents with acquired immunodeficiency 85 syndrome and its relation with the antiretroviral therapy employed. J Pediatr (Rio J) 2009; 85(4):329-34. 19. Ergun-Longmire B, Lin-Su K, Dunn AM, Chan L, Ham K, Sison C, et al. Effects of protease inhibitors on glucose tolerance, lipid metabolism, and body composition in children and adolescents infected with human immunodeficiency virus.Endocr Pract. 2006; 12(5): 514-21. 20. Tassiopoulos K, Williams PL, Seage GR 3rd, Crain M, Oleske J, Farley J; International Maternal Pediatric Adolescent AIDS Clinical Trials 219C Team. Association of hypercholesterolemia incidence with antiretroviral treatment, including protease inhibitors, among perinatally HIV-infected children. J Acquir Immune Defic Syndr. 2008 ;47(5):607-14. 21. Aldrovandi GM, Lindsey JC, Jacobson DL, Zadzilka A, Sheeran E, Moye J,et al.; Pediatric AIDS Clinical Trials Group P 1045 team. Morphologic and metabolic abnormalities in vertically HIV-infected children and youth. AIDS. 2009; 23(6):661-72. 22. Lima EMO, Bernoche CYSM de, Caramelli B. III Diretrizes brasileiras sobre dislipidemias: tratamento da dislipidemia em indivíduos infectados pelo HIV. Rev Assoc Med Bras. 2003; 49 (3): 235. 23. Beregszàszi M, Jaquet D, Lévine M, Ortega- Rodriguez E, Baltakse V, Polak M, et al. Severe insulin resistance contrasting with mild anthropometric 86 changes in the adipose tissue of HIV-infected children with lipohypertrophy. J Obes Relat Metab Disord. 2003; 27:25-30. 24. Sánchez Torres AM, Munoz Muniz R, Madero R, Borque C, García-Miguel MJ, De José Gómez MI. Prevalence of fat redistribution and metabolic disorders in human immunodeficiency virus-infected children. Eur J Pediatr. 2005; 164(5):271-6. 25. Spinola-Castro AM, Siviero-Miachon AA, da Silva MT, Guerra-Junior G The use of growth hormone to treat endocrine-metabolic disturbances in acquired immunodeficiency syndrome (AIDS) patients] Arq Bras Endocrinol Metabol. 2008; 52(5):818-32. 26. Stanley TL, Grinspoon SK. GH/GHRH axis in HIV lipodystrophy Pituitary. 2009; 12(2): 143-52. 27. Gelato M, McNurlan M, Freedland E. Role of recombinant human growth hormone in HIV-associated wasting and cachexia: pathopysiology and rationale for treatment. Clin Ther. 2007; 29: 2269-88. 28. Moyle GJ, Daar ES, Gertner JM, Kotler DP, Melchior JC, O´Brien F, et al. Serono 9037 Study Team. Growth hormone improves lean body mass, physical performance, and quality of life in subjects with HIV-associated weight loss or wasting on highly active antiretroviral therapy. J Acquir Immune Defic Syndr. 2004; 35: 367-75. 87 29. Chantry C, Byrd R, Englund J, Baker CJ, McKinney RE Jr. Pediatric Aids Clinical Trials Group Protocol 152 Study Team. Growth, survival and viral load in childhood HIV infection. Pediatr Infect Dis J. 2003; 22: 1033-9. 30. Patin RV, Palchetti CZ, Oliveira FLC. Criança e Adolescente com Sida. In: Palma D, Escrivão MAMS, Oliveira FLC,eds. Guia de Nutrição Clínica na Infância e na Adolescência. Barueri, SP: Manole; 2009. p. 571-82. 31. Zhao J, Brault JJ, Schild A, Goldberg AL.Coordinate activation of autophagy and the proteasome pathway by FoxO transcription factor. Autophagy. 2008; 4(3): 378-80. 32. Sandri M, Sandri C, Gilbert A, Skurk C, Calabria E, Picard A , et al. FoxO transcription factors induce the atrophy-related ubiquitin ligase atrogin-1 and cause skeletal muscle atrophy. Cell. 2004; 117:399-412. 33. Rosso R, Parodi A, d'Annunzio G, Ginocchio F, Nicolini L, Torrisi C, et al. Evaluation of insulin resistance in a cohort of HIV-infected youth. Eur J Endocrinol. 2007; 157(5):655-9. 88 Tabela 1 – Prevalência das alterações clínicas e metabólicas de crianças e adolescentes pré-púberes infectados pelo HIV atendidos no CEADIPe – UNIFESP/EPM (n=40). Variáveis n % Lipodistrofia 11 27,5 Lipoatrofia 4 10 Lipohipertrofia 3 7,5 Lipodistrofia mista 4 10 Dislipidemia 28 70 Hipertrigliceridemia 16 40 Colesterol > 200 mg/dL 13 32,5 HDL – colesterol <35 mg/dL 13 32,5 LDL – colesterol > 130mg/dL 7 17,5 Glicemia > 100mg/dL 2 5 HOMA –IR > 3 1 2,5 89 Tabela 2 - Caracterização, medicação antiretroviral, parâmetros bioquímicos e imunológicos de crianças e adolescentes infectados pelo HIV na vigência ou não de inibidores de protease (IP). IP Sem IP (n=21) (n=19) Variáveis n (%) n(%) p Idade (anos)* 9,93(1,24) 9,64(1,16) 0,466 Gênero masculino 13(61,9) 7(36,8) 0,113 Transmissão vertical 20(95,3) 19(100) 0,999 Classificação clínica B e C 18(85,7) 15(78,9) 0,689 Lipodistrofia 15(71,4) 14(73,7) 0,873 Parâmetros imunológicos Carga viral (log) 2,43(1,15) 3,43(1,2) 0,011 CD4 (células/mm³) 795,9(388,26) 794,74(764,48) 0,995 CD8 (células/mm³) 1233,24(639) 947,86(459,13) 0,116 Estado nutricional Eutrofia 17(81) 16(84,2) 0,449 Estatura inadequada 3(14,3) 3(15,8) 0,999 Medicamentos em uso D4T 3(14,3) 2(10,5) 0,549 ITRN 21(100) 13(68,4) 0,007 ITRNN 1(4,8) 9(47,4) 0,003 Parâmetros bioquímicos Triglicérides (mg/dL)* 147,9(59,63) 101,42(69,07)1 0,028 Hipertrigliceridemia 13(61,9) 3(15,8) 0,004 Colesterol total (mg/dL) * 169,29(37,83) 137,42(25,16) 0,004 Colesterol > 200 mg/dL 11(52,4) 2(10,5) 0,005 LDL- colesterol (mg/dL) * 95,05(31,85) 74,11(24,23) 0,026 6(28,6) 1(5,3) 0,095 LDL – colesterol > 130mg/dL HDL – colesterol (mg/dL) * 42,86(14,29) 42,79(13,79) 0, 988 HDL- colesterol <35 mg/dL 15(71,4) 12(63,2) 0,577 Glicemia (mg/dL) * 85,81(9,43) 82,16(7,39) 0,184 Glicemia > 100mg/dL 2(9,5) 0 0,488 HOMA-IR * 0,76(0,71) 0,88(0,72) 0,580 HOMA-IR >3 1 (4,8) 0 0,999 ITRN = inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos; ITRNN = inibidores de transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos; D4T = estavudina. * Média (DP) – teste t-Student Teste qui-quadrado ou Exato de Fisher 90 Tabela 3 – Caracterização, medicação antiretroviral, parâmetros bioquímicos e imunológicos de crianças e adolescentes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia. Lipodistrofia Lipodistrofia presente (n=11) ausente (n=29) Variáveis n (%) n(%) p Idade (anos)* 10,2(1,1) 9,6(1,2) 0,179 Gênero masculino 4 (36,4) 16(55,2) 0,288 Transmissão vertical 11 (100) 28(96,6) 0,999 Classificação clínica B e C 10(90,9) 23(79,3) 0,650 Parâmetros imunológicos Carga viral (log) * 3,2(1,3) 2,8(1,3) 0,310 CD4 (células/mm³) * 939,1(923,1) 740,8(409,7) 0,349 CD8 (células/mm³) * 1199,1(313,4) 1059,2(644,6) 0,497 Estado nutricional Eutrofia 10 (90,9) 23 (79,3) 0,650 Estatura inadequada 4(36,4) 2(6,9) 0,020 Medicamentos em uso IP 6(54,5) 15(51,7) 0,873 D4T 2(18,2) 3(10,3) 0,603 ITRN 10(90,9) 24(82,8) 0,999 ITRNN 3(27,3) 7(24,1) 0,295 Parâmetros bioquímicos Triglicérides (mg/dL)* 160,6(87,9) 112,7(54,4) 0,044 Hipertrigliceridemia 6(54,5) 10(34,5) 0,295 Colesterol total (mg/dL)* 142,9(33,6) 158,4(36,3) 0,227 Colesterol > 200mg/dL 1(9,1) 12(41,4) 0,068 LDL – colesterol (mg/dL)* 76,6(34,9) 88,3(28) 0,273 1(9,1) 6(20,7) 0,650 LDL–colesterol > 130mg/dL HDL- colesterol (mg/dL)* 34,6(8,6) 45,9(14,3) 0,019 HDL- colesterol <35 mg/dL 5(45,5) 22(75,9) 0,128 Glicemia (mg/dL)* 82,3(6) 84,8(9,4) 0,422 Glicemia > 100mg/dL 0 2(6,9) 0,999 HOMA-IR * 1,2(1,1) 0,7(0,5) 0,150 HOMA-IR >3 1(9,1) 0 0,999 ITRN = inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos; ITRNN = inibidores de transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos; IP = inibidores de protease; D4T = estavudina. * Média (DP) – teste t-Student Teste qui-quadrado ou Exato de Fisher 91 Tabela 4 – Média e desvio padrão das medidas/índices antropométricos e porcentagem (%) de gordura avaliada pelo DXA de crianças e adolescentes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia. Lipodistrofia Lipodistrofia ausente presente p (n=29) Variáveis (n=11) Média (DP) Média (DP) ZIMC -0,2(1,7) 0,0(1,3) 0,764 ZEI -1,1(1,7) -0,7(1,1) 0,532 Circunferência abdominal (cm) 64,7(8,8) 59,6(6,5) 0,051 Circunferência do braço (cm) 19,1(2,2) 18,6(2,8) 0,601 Circunferência da panturrilha (cm) 25,6(2,1) 26,1(3,2) 0,633 Dobra cutânea triciptal (mm) 7,4(1,6) 8,8(3,2) 0,079 Dobra cutânea biciptal (mm) 4,9(2,3) 6,0(2,1) 0,184 Dobra cutânea subescapular (mm) 7,2(3,5) 6,3(1,9) 0,316 Dobra cutânea suprailíaca (mm) 7,7(5,2) 6,1(2,9) 0,240 Relação tronco/braço 1,2(0,4) 0,9(0,2) 0,024 Índice massa muscular esquelética 5,36(0,6) 5.07(0,7) 0,227 DXA Massa magra (%) 79,9(14,1) 83,1(8,2) 0,491 DXA Massa magra (kg) 25(12,2) 24,2(4,4) 0,850 DXA Gordura total (%) 17,88(8,4) 16,91(8,2) 0,746 DXA Gordura total (kg) 5,5(4,12) 5,25(3,6) 0,860 DXA Gordura braço (%) 10,8(9,6) 11,5(7,7) 0,807 DXA Gordura perna (%) 15,5(6,8) 21,1(9,6) 0,085 DXA Gordura tronco (%) 20,1 (10,7) 18,1(9,4) 0,564 DXA Gordura andróide (%) 24,9(13,7) 17,7(9,6) 0,066 DXA Gordura ginóide (%) 23,5(8,8) 29,3(9,2) 0,076 DXA Relação braço+perna/tronco 0,7(0,2) 1(0,2) 0,001 Teste t-Student BIA = Bioimpedância ; DXA = absorciometria de duplo feixe de energia emitida por fonte de raios-X. 92 9. ANEXOS 93 Ficha para coleta de dados Nome:__________________________________________________________ RH: ____________________________________________________________ DN: ___/___/___ Idade: ____anos Idade ao diagnóstico: ____ anos Tipo de transmissão: ( ) vertical ( ) transfusão sanguínea ( ) outros _________ Realização de profilaxia (quando transmissão vertical): ( )sim ( ) não Cuidador/responsável: ( ) pais ( ) mãe ( ) pai ( ) avós ( ) tios ( ) outros ____ Tanner: _______ Sida: ______ Peso: _______kg Estatura: ____cm DCT: __/__/__m DCB:__/__/__ mm DCSE:__/__/__ mm DCSI:__/__/__ mm CB: _____cm CPant: ____ cm CAbd: ____cm Lipodistrofia clínica: ( )lipoatrofia ( ) lipohipertrofia ( ) mista Bioimpedânica: resistência (R) _________ reactância (Xc) _________ DXA: ______% gordura total ______ % massa magra ________(kg) gordura total ________(kg) massa magra Medicação: _____________________________________________________ Idade no início do tratamento: __________anos Exames laboratoriais: CT LDL-c HDL-c TG Insulina Glicemia CV CD4 CD8 Avaliação sócio-econômica: 94 Grau de instrução do chefe da família Analfabeto/ até 3ª Série Fundamental 0 4ª Série Fundamental 1 Fundamental completo 2 Médio completo 4 Superior completo 8 Recordatório 24h 95 Carta de submissão do artigo: São Paulo, 19 de fevereiro de 2010. Prezado Dr.(a )Cecília Zanin Palchetti, Seu artigo foi protocolado em nosso sistema e será avaliado por nossos revisores e Conselho Editorial. O Jornal de Pediatria agradece a sua colaboração. Título do Artigo: 1062/2010 - Avaliação antropométrica e composição corporal em prépúberes infectados pelo HIV com e sem lipodistrofia Acesse www.jpededitorial.com.br para ter acesso as informações. 96 97 98 99