1 COMO PRODUZIMOS OS SONS DA FALA? Quando falamos, o ar que vem dos pulmões, passa pela laringe (garganta) onde a voz é produzida e sobe em direção à boca. Dependendo dos movimentos dos lábios, da língua, da elevação da parte mole do céu da boca, produzimos sons diferentes (vide Informativo 1 para maiores detalhes). Para o ar e os sons não escaparem pelo nariz, a parte mole do céu da boca (palato mole) e as paredes da garganta (faringe) se movimentam, como se fosse uma “porta” que abre e fecha. Na maioria dos sons que produzimos, a “porta” fica fechada, e assim o ar e o som, saem somente pela boca. Estes sons são conhecidos como sons orais (como por exemplo, os sons que produzimos ao falar a palavra “papai”). SONS ORAIS: “P, B T, D, C, G, F, V, S, Z, CH/X, J, L, LH, R, RR” e as vogais “A, Ê, É, I, Ô, Ó, U” Produção do som “p” da palavra “papai” com fechamento do mecanismo velofaríngeo (“porta fechada”) Ao falarmos a palavra “mamãe”, o ar e o som vão para a boca e também para o nariz, pois a “porta” que separa o nariz da boca não fecha, ficando uma comunicação necessária entre o nariz e a boca (a “porta” fica aberta). Estes sons são conhecidos como sons nasais e formam palavras como: “mamão”, “nenê”, “ninho”. SONS NASAIS: “M, N, NH, Ã, Õ” Durante a produção da palavra “mamãe” não ocorre fechamento do mecanismo velofaríngeo (“porta aberta”) 1 2 COMO A CRIANÇA COM FISSURA VAI FALAR? Se a criança apresenta somente fissura de lábio e não tem outros problemas, o desenvolvimento de sua fala pode ser igual ao das crianças que não têm a fissura. Se a fissura é de palato ou de lábio e palato, o risco de ter problemas de fala é maior do que o risco para as crianças que não têm a fissura. Estas crianças também podem demorar um pouco mais para começar a falar. Embora o desenvolvimento da fala possa ocorrer mais lentamente em algumas das crianças com fissura labiopalatina (mesmo sem outras anomalias associadas à fissura), a maioria destas crianças recupera este atraso, e em torno dos 4 ou 5 anos já falam como seus colegas sem fissura. Este atraso no desenvolvimento da fala foi documentado nos livros e por muitos profissionais e não deve preocupar excessivamente pais e cuidadores, porém é muito importante monitorar o desenvolvimento da criança de forma que anomalias e alterações imperceptíveis (que não podemos ver de imediato) possam ser identificadas e tratadas. As avaliações freqüentes com o fonoaudiólogo têm este objetivo: verificar se a fala, a linguagem e a audição estão se desenvolvendo como é esperado. É muito importante também que as crianças recebam os mesmos cuidados e atenção que as crianças sem fissura recebem, de forma que aprendam a importância da comunicação e da interação com as demais pessoas. O desenvolvimento da audição e da fala está associado ao desenvolvimento da habilidade e da necessidade da comunicação. Além de escutar e então aprender os sons da fala, uma criança precisa saber quando e como é a melhor forma de comunicar o que ela quer dizer (linguagem). Para isso, a criança precisa ser estimulada por todos os que convivem com ela. 3 COMO ESTIMULAR A FALA DA CRIANÇA COM FISSURA? Podemos estimular o desenvolvimento da audição, fala e linguagem do bebê desde antes do nascimento. Temos que conversar sempre com os bebês aproveitando todas as situações de vida diária como, por exemplo, o banho, a alimentação, o vestir, etc. Em todos estes momentos, devemos contar para a criança o que está acontecendo e o que a criança está fazendo. 2 Durante o banho, por exemplo, podemos nomear as partes do corpo falando enquanto vamos ensaboando cada parte: “Agora vamos lavar os pés, a perna, a barriga,...”. Durante a alimentação podemos chamar atenção para os nomes dos alimentos, a temperatura, a cor, etc: “Hummm! Que feijão gostoso! Ai, tá quente,... olha a folha de alface que é verde...” No inicio devemos usar frases curtas com o nome dos objetos ou pessoas e a ação, como: “a boneca caiu” e conforme a criança vai crescendo e entendendo mais as coisas, podemos construir frases maiores, como: “coitada da boneca, ela caiu no chão” (expressar o sentimento de acordo com a vivência da situação). Outra forma de estimular a criança é participar das atividades dela: ler livros infantis, assistir a seus desenhos favoritos junto com ela, e então, solicitar que ela conte o que viu e o que aconteceu na história. O fonoaudiólogo é o profissional que pode orientar os pais e cuidadores quanto às atitudes que favorecem a aquisição e o desenvolvimento da fala, da audição e da linguagem. É importante observar e respeitar as fases normais do desenvolvimento de fala da criança. Também, não devemos estressar a criança, exigindo que faça coisas que não são esperadas para a sua idade ou para as quais ela ainda não está preparada. Como já comentamos, se sua criança tem fissura no palato, atrasos ou desvios no desenvolvimento da fala podem acontecer! Desde que a criança não tenha outras anomalias ou alterações, o melhor a fazer quando ela atrasa para falar, é continuar estimulando-a, ou seja, criar oportunidades nas quais ela tenha que se comunicar! Portanto, atender e antecipar o que ela precisa, sem dar a oportunidade da criança comunicar o que ela quer, não é uma boa estratégia. Também é importante que a criança seja avaliada periodicamente pelo fonoaudiólogo, que poderá identificar se existem outras alterações ou anomalias (além da fissura) que possam comprometer o desenvolvimento da fala audição ou linguagem. 4 A CRIANÇA COM FISSURA ESCUTA BEM? A relação entre o ouvir e o falar é tão importante que todos nós já escutamos a expressão “surdo-mudo”. Quando uma criança não escuta, ela não aprende os sons da fala da mesma maneira que as crianças que escutam aprendem. Apesar de não percebermos, aprendemos a falar porque escutamos, e por isso precisamos estar sempre falando corretamente com os bebês, para que aprendam a falar corretamente. A criança que não escuta, ou que escuta menos, pode ter dificuldade para aprender a falar. 3 Problemas com a audição, mesmo sendo imperceptíveis e de grau leve, são bastante comuns nas crianças com fissura de palato. E, portanto, a audição destas crianças precisa ser monitorada com freqüência desde o primeiro ano de vida. Na parte de cima e de trás da garganta, na área da porta que separa o nariz da boca, existe uma outra “porta”, bem pequena. É uma “porta” que comunica a garganta ao ouvido. O ouvido (orelha) é a parte do corpo que nos ajuda a escutar os sons. Assim, se algo acontece com esta “porta” que liga o ouvido à garganta, podemos ter problemas para ouvir. A grande maioria dos bebês que nasce com fissura no palato tem problemas com a “porta” que separa o ouvido da garganta e devido a estes problemas, o ouvido se enche de secreção (catarro). O mesmo catarro que sai pelo nariz pode parar dentro do ouvido. Às vezes, devido a essa secreção, o ouvido pode inflamar e o bebê pode chorar muito, pois tem dor. São as chamadas otites (inflamações do ouvido). Muitos dos bebês com fissura no palato têm otites de repetição. Isto é, mal termina uma inflamação do ouvido, logo vem outra. Nem todos os bebês com fissura têm otite. Mas a grande maioria tem catarro dentro do ouvido. Como nem sempre o ouvido inflama, alguns bebês não têm dor e às vezes nem sabemos que o ouvido está cheio de catarro. Porém, quando o ouvido está cheio de catarro, pode haver uma perda pequena da capacidade da criança escutar e a criança pode sentir um desconforto, parecido com o desconforto que sentimos quando entra água no buraquinho da orelha. Esta pequena perda de audição não costuma causar problemas para as pessoas que já aprenderam a falar. Entretanto, para um bebê, esta diminuição da audição pode privá-lo de escutar os sons da fala e aprender corretamente. Portanto, a perda repetida e temporária (não é para sempre) e mesmo pequena da audição, com a entrada de catarro dentro do ouvido, pode ser uma das razões para aquele atraso de fala e linguagem que descrevemos anteriormente. A melhor forma de consertar a “porta” que separa o ouvido (orelha) da garganta é a cirurgia para corrigir a fissura do palato. Esta cirurgia, portanto, deve ser feita o quanto antes para “consertar” as duas portas (tanto a que separa o ouvido da garganta quanto a que separa a boca do nariz). A cirurgia de palato é, geralmente, a segunda cirurgia que o bebê com fissura labiopalatina faz e é importante para que o bebê possa comer, ouvir e falar adequadamente. Os pais devem ficar atentos se o bebê está ouvindo bem ou se está sempre tocando na orelha como se indicasse desconforto, pois como dissemos, a criança com secreção no ouvido (mas sem inflamação) nem sempre tem dor e chora. As avaliações freqüentes com o fonoaudiólogo e o 4 médico são essenciais para garantirmos um desenvolvimento auditivo adequado às crianças com fissura. 5 SE ESTIMULARMOS A CRIANÇA CORRETAMENTE, ELA VAI FALAR CERTINHO? Bem, não é tão simples assim. Pode acontecer da criança com fissura de palato continuar com dificuldades para produzir os sons da fala, mesmo após a cirurgia e mesmo sendo bem estimulada. Por quê? Isto pode ocorrer porque mesmo após a cirurgia no palato, a porta (velofaringe) que separa o nariz da boca pode não funcionar corretamente durante a fala, e assim o ar e os sons podem escapar pelo nariz resultando numa fala fanhosa (hipernasal) e/ou numa fala difícil de entender (cheia de “soquinhos”, por exemplo). O nome que damos a esta condição é disfunção velofaríngea. Velofaringe normal após cirurgia de palato, ar e som saem somente da boca durante produção da palavra “papai” Disfunção velofaríngea após cirurgia de palato ar e som saem da boca e do nariz durante produção da palavra “papai” A fala fanhosa acontece quando o som que deveria sair somente pela boca, sai também pelo nariz, aumentando a nasalidade da fala, por isso chamamos esta condição de hipernasalidade. Se o ar escapa pelo nariz, a criança também pode ter dificuldades para produzir os sons orais e então para evitar o escape de ar, ela pode desenvolver uma fala diferente, que muitas vezes é difícil entender. Parece que ela fala com “soquinhos” ou “raspadinhos” na garganta. Aos sons feitos deste jeito “diferente” damos o nome de articulação compensatória. Não ocorre fechamento (a porta fica aberta) GARGANTA “raspadinhos” 5 Articulação compensatória, portanto, corresponde a essa maneira diferente de falar na qual a criança produz os sons usando “soquinhos” ou “raspadinhos” feitos na garganta (ou na parte de trás da boca). As crianças não fazem os soquinhos ou raspadinhos porque querem ou porque não podem mover os lábios e a língua adequadamente. Na verdade, elas não encontram outra forma de produzir os sons orais, pois perdem muito ar pelo nariz, já que aprendem a falar quando a porta que separa o nariz da boca não funciona adequadamente (ou não está operada). Recomendamos que vocês conversem com um fonoaudiólogo sobre a articulação compensatória e esclareçam todas as dúvidas que tiverem quanto aos aspectos relacionados à fala, linguagem e audição. Para mais informações vide os informativos 1 e 3. Manual em desenvolvimento pelas seguintes autoras (use link para acessar biografia das autoras): Josiane F. D. A. Neves Jeniffer Dutka-Souza Roberta Ribeiro Ortelan Maria Inês Pegoraro-Krook Diagramação e adaptação das figuras por Douglas Casoto CONTATOS: Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo – HRAC/USP (“Centrinho”) Rua Silvio Marchione, 3-20 Caixa Postal: 1501 CEP: 17012-900 Consulte a CENTRAL DE INFORMAÇÕES do HRAC-USP, telefones: (14) 3235-8132; (14) 3235-8139, e e-mail: [email protected], para esclarecimentos de dúvidas e solicitação de agendamento. Consulte o SETOR DE SERVIÇO SOCIAL DO HRAC-USP (Projetos Comunitários) por meio do telefone (14) 3235-8124, para informações sobre a existência de pais-coordenadores e associações de pais e de pessoas com fissura labiopalatina na sua cidade ou na região. Sites para consulta: www.centrinho.usp.br www.profis.com.br www.redeprofis.com.br 6