ANAIS DO II CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA – ANDA
Comitê Produção de Discurso Crítico sobre Dança– Julho/2012
NAS TRILHAS DE UM SERTÃO DE DENTRO:
PADRÕES QUE SE REPLICAM ATÉ OS DIAS ATUAIS
Andréia Barreto Lira (UFPI)
Andreia Barreto, desde 1998 já iniciava os estudos no campo da dança. Atualmente investigadora,
pesquisadora e intérprete com enfoque em dança contemporânea. Formada em Licenciatura Plena em
Pedagogia – FAP (2009). Pós-Graduada em Estudos Contemporâneos em Dança pela UFBA (2011) e
em Docência do Ensino Superior – FAP (2012). Integra a equipe de produção do Fórum Nacional de
Dança - PI e do Núcleo de Pesquisa de Arte e Cultura NUPEAC – UFPI. E-mail: [email protected]
Resumo
O presente trabalho visa lançar um olhar para a temática de como o corpo é capaz de
se configurar continuamente através de suas relações interativas. Contudo as
contínuas configurações não impedem observar as possíveis continuidades de certos
padrões corporais que insistem em permanecer, o que permite analisar configurações
de corpo e identificar padrões corporais que estão sendo replicados como dança.
Partiremos de uma análise crítica da história do Piauí, dos primeiros confrontos entre
os nativos moradores conhecidos popularmente como índios e os colonizadores,
oriundos de países da Europa, fazendo analogia com a dança contemporânea, para
inferir que algumas configurações de dança contemporânea brasileira apresentam
como continuidade a ações reacionárias que visam manter um sistema de dominação
que representa um modelo de relações hierárquicas. As análises dessas configurações
de dança nos permitem identificar que o corpo se apresenta como campo de ocorrência
de fluxos de informações de dança.
Palavras-Chave: Corpo, Configuração, Continuidade, Informações.
IN THE TRACKS OF A SERTÃO INSIDE:
PATTERNS THAT REPLICATE TO THE PRESENTE DAY
Abstract
The present work aims to launch a look at the issue of how the body is able to configure
continuously through their interactive relationships. However the settings do not prevent
continued to observe the possible continuities of certain physical standards that insist
on staying allowing to analyze body configurations and identify physical standards that
are being replicated as dance. Depart from a critical analysis of the history of Piaui, the
first clashes between the native inhabitants popularly known as Indians and settlers,
from countries of Europe, making the analogy with contemporary dance, to infer that
some configurations of Brazilian contemporary dance, presented as continuation of
reactionary actions that aim to maintain a system of domination that represents a model
of hierarchical relationships. The analyzes of these settings dance allows us to identify
the body presents itself as a field of occurrence of flows of information.
Keywords: Body, Configuration, Continuity, Information.
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Introdução
Partindo de uma análise crítica da história do Piauí, dos primeiros confrontos
entre os nativos moradores conhecidos popularmente como índios e os colonizadores,
oriundos de países da Europa, investigou identificações de possíveis padrões de corpo
na dança que estão sendo replicados como dança no Piauí. Padrões corporais que dão
continuidade a ações reacionárias que visam manter um sistema de dominação que
representa um modelo de relações hierárquicas. O Corpo, aqui, é tratado como um
sistema complexo que se encontra sempre em modificação e troca matéria, energia e
informação com o meio.
O corpo não pode ser entendido como um produto pronto: “muda de estado no
momento em que ocorre uma ação” (GREINER, 2005). Este é um processo complexo
que começa antes mesmo de se organizar, uma representação possível de identificar.
Para isso, é importante perceber o movimento no corpo e suas relações, para
compreender as
informações
existentes, que
são
necessárias
para
a
sua
sobrevivência, adaptação e reprodução. O corpo negocia informações com o ambiente.
A ideia de corpo aqui adotada é de um sistema aberto, capaz de contaminar e ser
contaminado. Para Jorge de Albuquerque Vieira:
É necessário que os sistemas sejam abertos, ou seja, troquem matéria,
energia e informações com outros, o mais imediato costuma ser o
ambiente. É através dessa interação que um sistema é gerenciado pela
evolução universal. É no sistema ambiente que encontramos todo o
necessário para trocas entre sistema, desde energia até cultura,
conhecimento, afetividade, tolerância, etc. (VIEIRA, 2000, p. 06)
Os padrões corporais observáveis em determinadas configurações de dança
atualmente, são possíveis continuidades que se replicaram ao longo do tempo,
oriundas também do choque cultural devastador ocorrido no primeiro momento, do
contato dos nativos e exploradores, dando continuidade a ações reacionárias que
visam manter um sistema de dominação que representa um modelo de relações
hierárquicas.
Entender questões relacionais vem modificar todo o entendimento de análises
das coisas inclusive das próprias configurações de dança. Aposta-se na articulação
para que seja possível desenvolver e consolidar contribuições epistemológicas, a partir
de um diálogo entre conhecimento científico e conhecimento artístico. Não é de
interesse elaborar teorias que reduzam a realidade do que já existe, mas de criar
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lugares de possibilidades, avaliando a natureza e o âmbito das alternativas em relação
aquilo que está empiricamente dado.
A intenção não é negar, e sim dialogar com as variedades de conhecimentos
que são produzidos, mantendo-se com uma visão critica em oposição a uma produção
de conhecimento que se reduz somente a um único caminho, surgindo, assim, um fator
epistemológico em questão.
Cabe lembrar que os fatores socioculturais podem acarretarem novas
possibilidades de configurações de corpos. Essa relação de corpo e ambiente pode ser
percebida no universo da dança piauiense. Por exemplo, quando declaramos que
produzimos dança contemporânea somente para sermos aceitos, Será que de fato
estamos aceitando de forma passiva a imposição do pensamento dominante? sem
perceber que estamos dando continuidade ao um sistema de dominação.
As configurações servirão de inferências para demonstrar as ideias acerca de
padrões já estabelecidos e que se definem como alguns modos de se fazer dança e
que estão sendo replicados como dança contemporânea.
Referencial Teórico
Pretende-se trabalhar com sistemas complexos, com auxílio de Vieira (2000),
que considera o corpo como um sistema aberto capaz de trocas dinâmicas e
permanentes. Traremos as inferências de Santos (2010), para pensar em
epistemologias do Sul; também a Teoria da Complexidade de Morin (2000) que aborda
uma nova visão de mundo tanto para compreendê-lo quanto para transformá-lo,
através de um pensamento complexo. Como Katz (2005) propõe a dança como
pensamento do corpo através de uma epistemologia naturalizada a partir de teoria
evolucionista neo-dawinista, usando como arcabouço teórico a semiótica americana e
as Ciências Cognitivas.
Tornando necessário pensar que o corpo é esse lugar de ocorrências é preciso
substituir um pensamento que separa, por um pensamento que une, e essa ligação
exige a substituição da lógica linear e unidimensional por uma lógica multidimensional,
assim como a troca da rigidez do pensamento clássico e tradicional por um
pensamento dialógico capaz de conceber noções complementares e antagônicas,
modificando todo o entendimento de análises das coisas inclusive das próprias
configurações de dança.
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Objetivos
Geral: Constatar nas configurações de dança contemporânea brasileira possíveis
padrões de corpo na dança que estão sendo replicados como dança no Piauí. Padrões
corporais que dão continuidade a ações reacionárias que visam manter um sistema de
dominação que representa um modelo de relações hierárquicas.
Específicos:
- Produzir reflexão teórica acerca da dominação do corpo na dança contemporânea;
- Analisar padrões de configurações da dança contemporânea brasileira;
- Dialogar através da epistemologia do Sul produções de discursos de ações artísticas
em dança contemporânea;
Metodologia
A pesquisa caracterizada como exploratória, analisou configurações de dança
contemporâneas produzidas no Brasil, partindo do Piauí. Por tanto, envolveu:
levantamentos bibliográficos, entrevistas com pesquisadores e críticos que escrevem
sobre dança contemporânea, para investigar como os trabalhos foram recebidos na
cena de dança.
Foram fundamentais durante o processo de desenvolvimento desta pesquisa,
dois focos principais: Pesquisa bibliográfica específica para a compreensão mais
apurada, trazendo levantamentos bibliográficos e análise das configurações de dança,
provocando reflexões acerca do tema, com o intuito de promover o cruzamento interrelacionado de teorias que fortaleçam a produção de discurso artístico com uma visão
desvinculada do pensamento dominante.
Em seguida, depois de ter realizados os levantamentos, coletados os dados, os
objetivos alcançados foram analisados para que se possa verificar a presença de
padrões de configurações na dança que estão sendo replicados como dança do Piauí.
Padrões corporais que dão continuidade a ações reacionárias que visam manter um
sistema de dominação que representa um modelo de relações hierárquicas.
Conclusões
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Podemos na atualidade perceber padrões corporais que dão continuidade às
ações reacionárias que visam manter um sistema de dominação que representa um
modelo de relações hierárquicas.
Ao averiguar as configurações padronizadas, e, portanto, padrões corporais que
estão sendo replicados como modos de dança, foi possível perceber que tais
replicações resultam de fatores socioculturais e promovem a necessidade de pensar
uma dança fincada em valores socioculturais, preocupada com a necessidade do
contexto, fazendo com que os saberes sejam produzidos como conhecimentos
Para tanto é necessário refletir acerca dos pensamentos cartesianos que
propõem a dança como atividade apenas corporal e não como ação cognitiva do corpo
para relacionar à produção de informações, possibilitando espaços para a construção
de conhecimentos e diálogos que possam contribuir para as produções artísticas e em
especifico a dança, tirando-a do aprisionamento do pré-estabelecido imposto, sem que
haja questionamentos.
Uma necessidade de reinventar culturalmente a partir de modelos hegemônicos,
para transformar o que em num determinado momento foi capaz de promover a
repressão, e utilizar todo o aprendizado em função da criação de novas atitudes
coerentes com as ações, no sentido de pensar diante das diferenças e de conectar
com o contexto.
Referências
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó, SC: Argos,
2009.
BRITTO, F. Temporalidade em dança: parâmetros para uma história contemporânea.
Belo Horizonte. Edição do autor, 2008.
DIAS, C. M. História dos Índios do Piauí. Teresina: EDUFPI/ Gráfica do povo, 2011.
KATZ, H. Um, Dois, Três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID
Editora, 2005.
KATZ, H.; GREINER, C. Corpomídia: a questão epistemológica do corpo na área da
comunicação. Revista Húmus, número 1. Caxias do Sul: Secretaria Municipal de
Cultura, 2003.
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MORIN, E. Educar na era planetária: pensamento complexo como método de
aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2007
SANTOS, B. de S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma
ecologia de saberes, Epistemologias do Sul, org. por Boaventura de Sousa Santos e
Maria Paula Menezes. São Paulo: Cortez Editora, 2010.
VIEIRA, J. de A. Organizações e Sistema. Informática na educação: Teoria & Prática.
Revista da Pós-Graduação em Informática na Educação da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v. 3, nº 1, set. 2000.
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