AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO COMO RECURSO
DE APRENDIZAGEM DISTÂNCIA: UM OLHAR SOBRE O PROJETO KIDLINK.
GT5 EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIAS.
1
José Carlos Santos (autor)
2
Anne Emilie Souza de Almeida Cabral (coautora)
3
Mariângela Dias Santos (coautora)
4
Clara Angélica de Almeida Santos Bezerra (coautora)
Resumo:
Neste artigo apresentaremos um estudo sobre o projeto kidlink, onde crianças do mundo inteiro
representadas por mais de 160 países, interagem usando os recursos da internet. Para se
comunicarem, empregam o potencial das tecnologias da informação e da comunicação para
promover aprendizagem. O projeto kidlink é um recurso de aprendizagem onde crianças de vários
países podem se comunicar. A experiência do projeto Kidlink, capitaneado pela professora doutora
Marisa Lucena tem contribuído para ampliar os horizontes da aprendizagem através das tecnologias
da informação e da comunicação. Este projeto esta classificado pela sua gestora como: “um modelo
de escola aberta na internet”. Trazemos à discussão questionamentos que surgiram a partir do
assentamento da aldeia global suscitando novos paradigmas para educação.
PALAVRAS CHAVE: tecnologias da informação e da comunicação. Educação.
Projeto Kidlink.
Abstract
In this paper we present a study on the project Kidlink where representeadas children around the
world for more than 160 countries, interact using Internet resources. To communicate, they use the
potential of information technology and communication to promote learning. The project Kidlink is a
learning resource where children from different countries can communicate. Experience Project
Kidlink, led by Professor Dr. Marisa Lucena has helped broaden the horizons of learning through
information technology and communication. This project is classified by management as "a model of
school open Internet." Bring to the discussion questions that arose from the settlement of the global
village raising new paradigms for education.
KEYWORDS: information technologies of communication. Education. Kidlink Project.
INTRODUÇÃO
Este texto apresenta um estudo sobre um projeto intitulado Projeto Kidlink que tem
como objetivo integrar crianças do mundo inteiro através de interação utilizando o
bate-papo (chat) como recurso educacional. Este projeto é uma comunidade virtual
que funciona em mais de 160 países cobrindo todos os continentes. Está instalado
1
Doutorando em Educação pela PUCRS. Mestre em educação pela Universidade Federal de
Sergipe. Membro do Grupo GPGFOP e professor da Universidade Tiradentes.
2
Mestre em Educação pela Universidade federal de Sergipe. Professora na Universidade Tiradentes
3
Mestre em educação pela universidade federal de Sergipe. Professora da Universidade Tiradentes.
4
Mestranda do Programa de pós-graduação em Serviço Social – PPGSS, da UFAL, professora da
Universidade Tiradentes.
2
na rede mundial de computadores tendo uma sede geográfica implantada no Brasil.
O projeto originou-se na Noruega e se espalhou pelo mundo inteiro. A gestora do
projeto é a brasileira Drª Mariza Lucena. Neste ambiente as crianças conversam
sem nenhum compromisso escolar, apenas conversam com outras crianças em
outros países e com isso se dá um processo diferenciado de aprendizagem. Para
estabelecer uma base cognitiva ao leitor trazemos um breve conceito sobe
tecnologias e uma base histórica sobre surgimento da internet.
AS TECNOLOGIAS MODERNAS E AS RAÍZES DA INTERNET.
Quando falamos em tecnologia, automaticamente nos vêm à mente um
computador ou um celular, ou ainda a mais recende invenção contemporânea com
seus chips e placas eletrônicas. - É natural que tenhamos esse pensamento. - Isso
acontece porque costumamos, em princípio, recorrer à memória de curto prazo para
referenciar nosso conhecimento. Diariamente temos contato com as tecnologias
mais recentes, – aquelas que nos cerca cotidianamente – não podemos evitar o
contato com as maravilhas modernas, afinal de contas a nossa sociedade
contemporânea, se pauta na cultura digital e a produção tecnológica absorve os
costumes e necessidade da sociedade com o objetivo de promover consumo de
bens.
Podemos inferir que esta seja uma das razões pela qual, muito se fala
sobre tecnologias, mas geralmente não temos a dimensão do que ela representa no
nosso cotidiano. O autor Peter F. Drucker (2002) no seu texto O Homem, demonstra
claramente nossa condição de adaptação ao novo e em muitas situações se
desprendendo das informações mais antigas, quando afirma que em poucos anos as
tecnologias transformam o mundo e a sociedade. Drucker afirma que
A cada poucas centenas de anos ocorre na história ocidental uma
transformação significativa. Atravessamos o que eu chamo de
“limite”. Em poucas décadas, a sociedade se reorganiza – muda sua
visão de mundo, seus valores básicos, sua estrutura social e política,
suas artes, suas instituições fundamentais. Cinquenta anos depois,
há um novo mundo. E as pessoas jovens, então, nascidas não
conseguem nem imaginar o mundo em que seus avós viveram e no
qual seus próprios pais nasceram. (DRUCKER, 2002 p.23)
Coaduno com a ideia, pois meu ver este autor tem toda razão, a
velocidade com a qual as inovações tecnológicas avançam, promovem alterações
significativas na sociedade.
3
Essas transformações tendem a nos afastar da capacidade de observar
de maneira mais profunda a nossa história relacionada às tecnologias. O termo
tecnologia não é novo. As tecnologias acompanham o homem desde o seu
surgimento na terra. A palavra tecnologia tem origem grega e está relacionada ao
estudo da técnica, ao estudo do ofício, ou seja, da forma como se faz as coisas aprimoramento do fazer. - A palavra tecnologia é a junção em grego de duas outras
palavras (tekne que representa arte, técnica ou oficio) e a palavra (logos que
representa o saber ou um conjunto de saberes). Então podemos inferir a
representação da palavra tecnologia como sendo o domínio de determinada técnica
de como se produzir algo ou alguma coisa que seja melhor, produzida num curto
espaço de tempo com qualidade superior ao que se praticava anteriormente.
O computador é a última palavra em tecnologia e parece ser uma invenção muito
recente, entretanto sua ideia é bem antiga, vários textos apontam o ábaco como
sendo a origem da ideia. Sabemos que o parente mais próximo do computador é a
máquina de calcular. Um artefato inventado pelo matemático Blaise Pascal (1623 1662), de origem francesa, além de matemático também era filósofo. Seu invento
realizava apenas as duas operações matemáticas básicas: somar e diminuir.
Obviamente a calculadora passou por várias transformações para chegar o que é
hoje. Mas para chegar ao estagio contemporâneo o computador teve a contribuição
de vários inventos. O inglês Charles Babbage (1791 - 1871) projetou a máquina
analítica inspirado no tear industrial, que usava a tecnologia de cartões perfurados,
para selecionar tecidos nobres. A máquina de Babbage realizava cálculos
matemáticos e já contava com a capacidade de armazenamento das informações
processadas. Muitas versões diferentes de computadores foram criadas pra ampliar
sua capacidade e promover os recentes avanços.
Até nossos dias – 2013 – os computadores usam a chamada lógica
binária, reconhece dois estados físicos ou duas representações numéricas,
classificadas como: 0 e 1 (zero e um). Os fundamentos da lógica binária que
permitem a programação dos computadores foram criados em 1854 por George
Boole (1815 - 1864). Daquele momento até nossos dias, as tecnologias passaram
por mudanças significativas. Porem, podemos afirmar que a mais contundente foi a
criação da internet.
Qualquer pessoa que queira conhecer sua história pode encontrar
facilmente, em sites de busca, as informações que deseja, do ano de lançamento à
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origem. Essas informações aparecem bem evidentes logo no início do texto,
entretanto é preciso ir um pouco mais fundo para compreender este fenômeno
tecnológico.
A verdadeira história da internet começa na União Soviética no ano de
1957 com o lançamento do primeiro satélite Sputinik. A partir deste evento os
Estados Unidos deu início a uma corrida armamentista desesperada para alcançar e
superar seu concorrente a então União Soviética. Assim, no ano seguinte, 1958 o
governo americano criou a Advanced Research Projects Agency (ARPA) com a
incumbência de criar as condições necessárias de superação dos seus adversários.
Em setembro de 1969 foi criada a Arpanet, que poderíamos classificar como o
primeiro protótipo da internet. A ARPA tinha a missão de mobilizar pesquisas e
recursos do mundo universitário para superar o inimigo número um dos Estados
Unidos. Portanto a internet naquele momento surge como uma arma de guerra.
O primeiro diretor da Arpanet era um psicólogo que foi para (MIT) Massachusetts
Institute of Technology (Instituto de tecnologia de Massachusetts) para ser
transformado em cientista da computação, chamado Joseph Carl Robnett Licklider
(1915 –1990), sua missão era estimular a pesquisa em computação interativa. Como
era um projeto secreto as universidades e o cientista que desenvolviam a pesquisa
sabiam apenas que era um projeto que visava distribuir tempo de computação para
as instituições que trabalhavam na pesquisa. Para chegar à montagem de uma rede
interativa de computadores os principais ingredientes foram os recursos de
telecomunicação e a comutação de pacotes que era uma tecnologia desenvolvida
por dois programadores e cientista da computação de empresas independentes que
se chamavam: Paul Baran(1926–2011) e Donald Davies (1924–2000). Essa ideia
havia sido desenvolvida exatamente para o departamento de defesa dos Estados
Unidos com o objetivo de sobreviver a um ataque nuclear. O sistema interativo
baseado em comutação de pacotes descentralizaria o comando central de forma
que se um comando fosse atingido e destruído haveria vários outros pontos que
ainda estariam aptos a lançar o ataque nuclear em represaria. Assim o inimigo não
teria a capacidade de destruir todos os comandos, pois eles eram móveis e sempre
poderiam encontrar outro caminho para comandar os disparos. Até hoje o princípio
da internet é o mesmo, transformou-se em uma grande teia onde cada encontro ou
nó é um ponto de retransmissão da informação garantindo que ela sempre chegue
ao seu destino.
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Os primeiros nós da Arpanet foram instalados em 1969, na Universidade da
Califórnia em Los Angeles, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e na
Universidade de Utah. No ano de 1971 já haviam 15 nós instalados em centros
universitários de pesquisa.
O projeto precisava de um teste mais pomposo, então a arpanet resolveu conectar
seus projetos a outras redes de computadores que ela administrava, a PRNET e a
SNTNET, com este teste que foi bem sucedido já vislumbrava um revolucionário
conceito inovador: era a rede de redes. Para que você entenda melhor uma rede é
formada por dois ou mais computadores. Assim, podemos ter uma rede com dois
computadores ou uma rede com mil computadores. Neste novo conceito havia a
possibilidade de integrar milhares de redes e estabelecer comunicação entre elas.
No ano de 1973, os cientistas Robert Kahn e Vint Cerf, publicaram um artigo
delineando a arquitetura básica da internet. Naquele momento havia uma
necessidade que as redes pudessem se comunicar umas com as outras e para isso
seria preciso produzir um protocolo de comunicação, o objetivo da publicação deste
artigo era para que outros cientistas pudessem trabalhar em sistema cooperativo na
produção deste protocolo. Em 1973 parte do projeto foi completado com a criação
do protocolo (TCP) Transmission Control Protocol (protocolo de controle de
transmissão), no ano de 1978 o TCP foi dividido e complementado com outro
protocolo interno de rede chamado de (IP) Internet protocol (protocolo de internet). O
resultado desta alteração deu origem ao protocolo TCP/IP que é usado até hoje em
todas as comunicações por computadores.
No ano de 1983 havia rumores de brechas nas informações que circulavam na
arpanet e o departamento de defesa resolveu criar a MILNET uma rede mais segura
e com acesso apenas aos militares. A Arpanet foi transformada em ARPAINTERNET, foi então, dedicada as universidades e centros de pesquisa. No ano de
1990 a Arpanete está, do ponto de vista tecnológico, totalmente arcaica para os
propósitos militares e de pesquisa então deste ponto em diante não havia mais
como manter a internet sob o domínio do governo, pois o avanço nas
telecomunicações além do advento do código aberto tornou insustentável mantê-la.
Desta forma o governo optou pela sua privatização. Na década de 90 os
computadores eram fabricados com capacidade de receber placa de rede e também
placa de modem o que os capacitava ao acesso à internet. Estava se abrindo um
novo espaço tecnológico, mas o que realmente possibilitou a ascensão em todo o
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mundo foi o trabalho de um programador chamado Tim Berners Lee que
desenvolveu a WWW – word wide web, uma aplicação que tinha a capacidade de
compartilhar informações dentro da internet.
A Internet é uma rede mundial formada por outras redes de computadores. Por traz
destas conexões existem pessoas desenvolvendo as mais variadas atividades. Para
muitas pessoas acessar a internet se tornou uma rotina indispensável. Nos anos 90
acessar a internet não era tão simples como é hoje, era necessário ter uma linha
telefônica e um modem. A linha ficava ocupada o tempo inteiro e era totalmente
impossível ouvir uma música ou assistir a um vídeo pela internet. A velocidade era
muito baixa e não havia a menor condição de trafegar arquivos muito grandes como
imagem e som. Praticamente o tráfego só permita texto. Os downloads já existiam,
mas eram lentos e não era possível executar diretamente um arquivo. Naquele
momento já havia milhares de usuários, a conexão era discada via provedor. Os
programas mais utilizados eram o ICQ e MIRC (bate-papo) que seria um prenúncio
das redes sociais atuais. Estatísticas mostram que existem mais de dez milhões de
host (computadores conectados à Internet), o que equivale a milhões de pessoas
usando a Internet ao mesmo tempo.
Mas o que essas pessoas estão fazendo? A resposta é: quase tudo! Tem-se o
correio eletrônico, transferência de arquivos, pesquisa e recuperação de
informações, recebimento de notícias, e a maior parte delas estão usando as redes
sociais. Há um forte mercado de negócios na Internet. Setores do governo, grandes
corporações, serviços comerciais online, partidos políticos além de faculdades e
universidades que estão conectadas e usam a net diariamente. O acesso à
Educação é, obviamente, um dos itens mais importantes da vida em sociedade.
Quando a Internet começou como ARPANET, foram as Instituições de Ensino
Superior que lideraram a iniciativa de democratização deste serviço. As reuniões de
negócios que antes exigiam viagens de avião e estadia em hotel, agora podem ser
conduzidas via e-mail e conferência eletrônica.
Segundo Castells (2003, p.34) existe uma cultura da internet que nasceu com seus
fundadores “a cultura da Internet caracteriza-se por uma estrutura em quatro
camadas: a cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker, a cultura virtual e a cultura
empresarial”. Embora tenham se passado dez anos este conceito não mudou.
Mudaram-se as formas de abordagem, a velocidade e até alguns formatos na rede,
mas o conceito de cultura permanece o mesmo. Sob a ótica de Castells (2003)
7
essas culturas juntas “contribuem para a uma ideologia da liberdade que é
amplamente disseminada no mundo da internet”.
A cultura tecnomeritocrática pode ser comparada a cultura Hacker quando incorpora
e dissemina normas éticas a serem seguidas na rede.
Já a cultura comunitária social destaca-se pela sua interação e dedicação
ao compartilhamento de informações. A cultura empresarial explora as demais
culturas procurando sempre um espaço para os negócios, seja na linha da
cooperação ou das atividades sociais e comunitárias, está sempre disposta a
explorar as possibilidades.
O PROJETO KIDLINK E SUA PROPOSTA EDUCACIONAL
O
propósito
estrutural
de
comunidade
permanece
presente
nas
comunidades virtuais, entretanto é preciso um atrativo sólido para manter os seus
membros envolvidos e atuantes nas comunidades. Outro fator a ser observado nas
comunidades virtuais é objetividade no tratamento das questões. Os processos são
viabilizados da maneira mais rápida possível. Podemos constatar isso nas
experiências com as redes sociais como: orkut, facebook, twiter e outros... Nestas
comunidades, pode se encontrar tudo, desde negócio a familiares que estão
separados há muito tempo, lixo eletrônico, divulgação de serviços e produtos,
compra e venda e até candidatos a casamento. Nas redes sociais e comunidades
eletrônicas circulam todo tipo de informação e gostando ou não, elas interferem na
formação social do indivíduo.
No que se refere à educação, existem várias comunidades com o
propósito de promover conhecimento e contribuir nos espaços virtuais. Para
representar uma comunidade virtual, voltada para a educação, que tem dado
resultados positivos, apresentaremos o nosso objeto de estudo, intitulado “Projeto
KidLink: um modelo de escola aberta na internet”. O nome kidlink sugere crianças
interligadas, conectadas em tempo real. Para entender como o projeto funciona,
podemos nos valer do histórico apresentado pela gestora do projeto, professora
Marisa Lucena, que na sua tese de doutorado, afirma que: o “Projeto Kidlink” no
Brasil tornou-se oficialmente, um dos projetos piloto do Grupo de Educação à
Distância do Comitê Gestor da Internet no Brasil (http://www.cg.org/gt.html) em
março de 1996, tendo como missão produzir resultados de curto prazo.
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Naquele momento a professora Marisa Lucena apresentou um projeto
justificando a importância de Kidlink para o ensino de 1º e 2º Graus no Brasil e a
relevância de um sub-projeto Kidlink House para desmistificar a reputação de
elitismo da Internet.
A primeira tentativa de implantação do Projeto Kiddlink aconteceu em
1991, na Noruega quando Odd de Presno recebeu, em seu país, a visita do diretor
da Escola do Futuro da USP Universidade de São Paulo, surgiu os primeiros
contatos para a investigação sobre a possibilidade de se abrir um canal de
comunicação no idioma português. Marisa Lucena nos conta que em 1991, houve a
primeira mensagem eletrônica de criança brasileira, respondendo às Quatro
Perguntas Kidlink em inglês. Em 1992, Odd de Presno veio ao Brasil participar da
Peace Conference, convidado pela Escola do Futuro e fez suas primeiras
apresentações sobre Kidlink em São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas. Entretanto,
sua comunicação não sensibilizou muito os educadores, despreparados que
estavam para o entendimento sobre o uso da Internet. Naquele momento, redes
somente eram usadas em algumas universidades e poucos tinham acesso a ela. É
importante lembrar que a informática na educação no Brasil nasceu em 1971
quando da I Conferência Nacional de Tecnologia na Educação – I CONTECE,
realizado no Rio de Janeiro. A segunda tentativa acontece somente em 1982 com o I
Seminário nacional de Informática na educação que se realizou em Brasília.
(VALENTE, 1993).
A professora Marisa Lucena nos conta que naquela época, a Educação
do Brasil dedicava-se, fundamentalmente, ao estudo e divulgação da linguagem e
filosofia do software Logo5 e apenas começavam pesquisas acadêmicas sobre o uso
de aplicativos, a qualidade e avaliação de softwares educacionais. Poucas escolas
possuíam computadores e as que estavam ligadas à Internet, usavam, em estágio
ainda muito inicial de seus recursos, através de algum programa ou projeto de
5
O Logo nasceu com base nas referências teóricas sobre a natureza da aprendizagem desenvolvidas por Piaget
(reinterpretadas por Papert), e nas teorias computacionais, principalmente a da Inteligência Artificial, vista como
Ciência da Cognição, que para Papert também é uma metodologia de ensino-aprendizagem, cujo objetivo é fazer
com que as crianças pensem a respeito de si mesmas. De acordo com sua teoria do conhecimento e do
desenvolvimento humano, o processo educacional tem como pressuposto que a criança não aprende apenas pelo
ensino formal e deliberado, que ela é uma aprendiz inata, que mesmo antes de chegar à escola apresenta
conhecimentos adquiridos por meio de uma aprendizagem natural, espontânea e intuitiva, que se dá através da
exploração, da busca e da investigação, a qual pode ser caracterizada como uma real auto-aprendizagem, aquilo
que a criança aprendeu porque fez, após ter explorado, investigado e descoberto por si própria, além de
contribuir para o desenvolvimento de suas estruturas cognitivas, reveste-se de um significado especial que ajuda
a reter e transferir com muito mais facilidade aquilo que foi aprendido.
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pesquisa com alguma universidade. O professor brasileiro, por sua vez, ainda
debatia se os computadores seriam úteis ou não à educação e se a máquina iria ou
não substituí-lo em sala de aula. Então, falar sobre redes e ligações de escolas e
alunos à Internet estava muito distante da realidade educacional brasileira.
Ao final de 1993, no IV Simpósio Brasileiro de Educação na Informática,
em Recife, Kidlink foi reapresentado à comunidade acadêmica que, por sua vez, em
pouco tempo, havia despertado para a investigação do uso de redes, já com
algumas pesquisas realizadas em comunicações nacionais e internacionais via rádio
amador e correio eletrônico.
Em 1994, o Brasil teve uma participação inexpressiva em Kidlink, mas
naquele momento já contava com duas listas em funcionamento: KidcafePortuguese e Kidleader-Portuguese que apresentaram pouco volume de mensagens
e de projetos.
De acordo com Marisa Lucena, somente em 1995, após se terem
adquirido conhecimento teórico sobre a Internet, tido a experiência prática do seu
uso e serviços através da organização e da implementação do Projeto Keypal e de
ter realizado uma investigação em campo ao participar de mais de 15 listas
educacionais, com comunicação em língua inglesa, optou-se por Kidlink como a lista
mais indicada para promover o uso educacional de redes no Brasil. Passou-se então
a considerar Kidlink como “o Jardim de Infância da Internet”. Em primeiro lugar, por
ser uma organização inteiramente dedicada a jovens entre 10 e 15 anos. Em
segundo lugar, por introduzir e guiar escolas, professores e alunos em seus
primeiros passos pela Internet. Neste sentido, Kidlink é considerado como uma
grande escola internacional que atende ao novo paradigma da Educação
proporcionado pela Internet. Oferece uma aprendizagem cooperativa à distância que
resulta numa Escola Aberta na internet.
Assim, em março de 1995, iniciou-se um processo de reativação das
listas em idioma português através do correio eletrônico, atraindo para este espaço
escolas, educadores e crianças que se apresentavam em condições de participar de
um diálogo global.
Nesta ocasião, o Projeto Kidlink brasileiro passou a fazer parte da
International Kidlink Society na condição de Kidforum Assistant Manager, fazendo
parte do Advisory Group de Kidforum que planeja uma série de projetos de curta
duração, congregando escolas de várias nacionalidades. Coordenamos o Projeto
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Kidforum Virtual Transaction (http://www. kidlink.org/kidforum), atraindo algumas
crianças brasileiras para participarem do projeto que foi o primeiro em Kidforum a ter
mensagens por elas traduzidas. Isto mostrou a possibilidade da existência de
projetos multiculturais assegurando a autonomia na aprendizagem de uma segunda
língua.
Em agosto de 1995, a pesquisadora participou do I Annual International
Kidlink Meeting, em Arendal, Noruega.
Neste mesmo ano, ela organizou a segunda visita de Odd de Presno ao
Brasil que encontrou um ambiente bem mais fértil para disseminar Kidlink. Presno
participou em seminários e worshops em Salvador (Bahia), São Paulo (SP), Recife
(Pernambuco), Florianópolis (Santa Catarina/SBIE95) e Rio de Janeiro (RJ/I
Workshop Kidlink/Rio). Suas palestras despertaram o interesse de um grande
número de professores que a partir daí, inscreveram seus alunos e passaram a
participar nas atividades das listas e nos projetos nacionais.
Em janeiro de 1996, foi desenvolvido um planejamento coordenado e
abrangente para as atividades presentes naquele momento em Kidcafe-Portuguese
e Kidleader-Portuguese que serviram de exemplo, sendo seguidas pelas demais
listas de idiomas específicos a partir do II Annual International Kidlink Meeting
(agosto de 1996), como parte do V Encontro da Educação com a Informática.
O IRC6 KidlinkBr foi estruturado partir de novembro de 1996 e, possui um
canal próprio, nacional, localizado na PUC-Rio e conta com a participação ativa de
crianças que participam a partir de suas casas. As escolas não estão equipadas
nem sensibilizadas para o uso educacional deste recurso tecnológico.
Atualmente, Kidlink no Brasil funciona graças ao trabalho voluntário de
educadores e de pessoas interessadas na área de Educação, provenientes das mais
diversas áreas de atividade. Estes voluntários oferecem sua colaboração, após
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O IRC (Internet Relay Chat) é um protocolo utilizado na Internet como troca de arquivos e de
informações. Desenvolvido em 1988 pelo programador Jarkko Oikarinen, só foi utilizado de maneira
formal em 1993. O objetivo da criação foi desenvolver um sistema compatível a TCP/IP e SSL, com
capacidade e armazenamento de conversas entre muitos usuários simultaneamente. A primeira rede
com IRC surgiu em Universidades da Finlândia e em 1993, o sistema foi utilizado para informar as
notícias em tempo real pela internet. O modo de comunicação e canais do IRC é a conversação de
um canal, no qual os usuários enviam mensagens ao servidor que as reenvia a todos do mesmo
canal. Como o IRC é um protocolo de texto, pode ser utilizado através de um servidor como o netcat
ou telnet. No início do ano de 2000, o IRC tornou-se o principal sistema da internet com capacidade
para suportar o bate-papo e concentrar milhões de usuários ao mesmo tempo. O gerenciamento de
dados e a facilidade de interação eram insuperáveis. O sistema era monitorado pelos Operadores
(OPs), os quais gerenciavam o canal para o bom funcionamento do mesmo, e expulsavam os que
queriam confusão.
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tomarem conhecimento da organização pelas listas educacionais, após ouvirem
alguma palestra, após a divulgação por algum canal da mídia ou após receberem
um convite especial. É com esse histórico que a professora Marisa Lucena
apresenta o surgimento de Kidlink no Brasil.
O projeto Kidlink se apresenta como um espaço para a educação, mais
abrangente que qualquer outro já experimentado em proporções geográficas.
Quebra barreiras lingüísticas e culturais enquanto dá possibilidade de ajustes
culturais por regiões do país, sem negar etnias e costumes. O grande avanço do
projeto, é promover o intercâmbio cultural e étnico global, uma vez que se faz
presente em vários países. No Brasil, seu desenvolvimento acelerado se deu a partir
do início de 1995, quando a internet passou por um processo de democratização,
chegando às residências e favorecendo a comunicação entre pessoas que estavam
geograficamente distantes. Com isso, o projeto agregou novos valores e se tornou
um Projeto Nacional, apoiado pelo GT de Educação à Distância do Comitê Gestor
da Internet no Brasil. O kidlink reúne professores e alunos do mundo inteiro e está
presente em 164 países, atingindo assim todos os continentes.
O kidlink quebra barreiras de linguagens e culturais colocando em
contato crianças e adolescentes que provavelmente nunca venham a ter um contato
físico, dado à distância geográfica em que se encontram. Prima pelo respeito à
realidade nacional, dado cunho social intrínseco no seu desenvolvimento. No Brasil,
o projeto busca atender as classes desfavorecidas economicamente, orientando a
criação de projetos educacionais e sociais que favoreçam àqueles que não possuem
condições de financiar e de utilizar a internet no seu cotidiano. O projeto é mantido
por uma organização internacional sem fins lucrativos, chamada Kidlink Society.
Para ser membro do projeto, pode ser implantada uma KidHouse, em qualquer parte
do Brasil. Para tanto, é necessário um projeto a ser submetido à apreciação da
coordenação nacional do projeto Kidlink. É preciso preencher alguns requisitos
humanos e materiais como uma estrutura composta de gerente, suporte técnico,
suporte pedagógico e suporte psicossocial. Qualquer profissional envolvido no
projeto pode acumular funções. É necessária estrutura física com um laboratório
contendo computadores que sejam condizentes com o número de alunos
matriculados. Neste caso, são aceitáveis três alunos por computador como limite
máximo. Qualquer instituição pública ou privada pode montar um projeto agregado à
kidlink. As crianças que quiserem participar do projeto terão obrigatoriamente que
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responder, no momento da inscrição, as perguntas: Quem eu sou?; O que eu quero
ser quando crescer?; Como eu gostaria que o mundo fosse no futuro?; O que eu
posso fazer atualmente para que isto aconteça?. Depois, é só se engajar em algum
projeto educacional lançado pelos professores e coordenadores, ou simplesmente
trocar mensagens, “bater papo” (chat) sem firmar nenhum compromisso educacional
com algum companheiro de outra cultura ou sociedade.
Definitivamente o Projeto Kidlink não é uma ferramenta de ensino à
distância que reproduz um conjunto de regras pré-definidas em um ambiente de
programação. Sua estrutura básica depende da interação e sua ação é construída
diariamente cada vez que uma criança ou adulto interage com outro dentro ou fora
do seu país, construindo novos conhecimentos.
Lucena diz no seu texto “Um modelo de Escola Aberta na internet” que o
projeto não está preocupado com os resultados, mas sim, com sua aplicação
prática. Entretanto, entendemos que o projeto em questão perpassa por temas
relevantes que merecem um estudo aprofundado, pois invariavelmente ele
apresenta resultados e estes interferem na sociedade e na educação brasileira,
conseqüentemente na formação do trabalhador, na cultura e na comunicação o que
pode vir a definir novos paradigmas e um novo perfil etnográfico. É fato que ao ter
acesso a novas culturas em outros países os cidadãos passarão a ver o mundo e
seus problemas de forma diferente, passarão a promover o que Marshall McLuhan
(1964) Chamou de “aldeia global”. Talvez essa ação possa implantar a
interdisciplinaridade que buscamos na educação. Por isso o Kidlink no Brasil é um
tema importante a ser estudado.
Podemos definir o estado da arte do projeto, a partir do Grupo de
Pesquisa KBr/Kidlink que concebeu e implementou, na PUC-Rio, uma KHouse
Modelo, que é tanto o centro de pesquisa quanto a responsável em repassar toda a
orientação pedagógica e metodológica necessária a cada nova unidade, respeitando
sempre as características sociais, econômicas e culturais de cada região e de cada
unidade KHouse;
O projeto KHouse é um trabalho sócio-educacional que pretende
democratizar o acesso à computadores e à Internet aos grupos de comunidades que
não tenham essa tecnologia: professores, alunos de escolas públicas, população
infanto-juvenil e de terceira idade. O contínuo desenvolvimento e acompanhamento
de projetos específicos e práticos visam diminuir a exclusão social e digital, tentando
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inserir uma parcela desassistida da população no novo mundo da TIC - Tecnologia
da Informação e da comunicação;
O projeto KHouse é um sub-projeto dentro da amplitude de iniciativas do
Grupo de Pesquisa KBr/Kidlink - responsável também por manter o portal Kidlink no
Brasil, além de desenvolver projetos de capacitação, realizar workshops, seminários
e cursos;
Há quatro modelos de KHouse, que variam conforme a idade e interesse
de cada aluno: Modelo para crianças e jovens: visa proporcionar o uso do
computador, seus aplicativos e a Internet aos alunos de escolas públicas que não
têm acesso aos mesmos, - Modelo aberto – voltado aos jovens de até 18 anos que
queiram utilizar o computador e a Internet para trabalhos escolares, supervisionados
pela equipe responsável pelo projeto e não mais por seus professores da escola,
como no Modelo para crianças e jovens. O Modelo aberto assegura, assim a
continuidade do acesso a Internet e às atividades de Kidlink aos alunos que já
passaram pela KHouse Modelo para crianças e jovens;
Modelo adultos: está
voltado para a democratização do acesso ao computador, seus aplicativos e a
Internet com a participação de adultos e idosos, procurando resgatar sua autoestima; Modelo Profissionalizante: este modelo foi criado com o objetivo de qualificar
os jovens que saem das KHouse Modelo aberto para a inserção no mercado de
trabalho, estimulando uma mudança de atitude e, de aspiração em relação ao futuro,
contribuindo assim, para a diminuição tanto dos índices de violência como os de
desemprego.
Considerações Finais:
Concluímos que Kidlink traz relevante contribuição social, pois sua
natureza pedagógica e educacional aponta para novos paradigmas na formação
educacional. Podemos dizer que este projeto demanda contribuições não apenas
sociais, mas também, ética, cultural, educacional e política. O formato de Kidlink
adotado no Brasil, respeitando suas particularidades, inclusive regionais, demanda
ferramenta de aprendizagem colaborativa e cumpre um papel importante de educar
dentro do modelo globalizado preservando, sobretudo a cultura de cada região.
Pensemos que quando uma criança se comunica com outra em outro país, ela não
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absorve sua cultura, mas estabelece uma troca conceitos culturais. Neste contexto
devemos ressaltar que nesta conversa entre crianças não há uma relação de
negócio e sim uma relação de curiosidade de ambas em conhecer a cultura do seu
interlocutor. Do ponto de vista da educação esse momento é mágico. Não temos aí
um livro produzido num país hegemônico e enviado para um país pobre, interferindo
na sua cultura. Temos a troca em nível de igualdade. Daí dizermos que kidlink é um
ambiente de aprendizagem colaborativa, apoiado pelas tecnologias da informação e
da comunicação.
Referências bibliográficas:
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócio e a sociedade.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
______. A Sociedade em rede. Trad. Roneide Venâncio Majer, col. de Klauss
DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker: A Sociedade. São Paulo: Nobel, 2001.
______. O melhor de Peter Drucker: o homem. São Paulo: Nobel, 2002
FERRETI, Celso João. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar.
Petrópolis-Rj: Vozes, 2003.
HESSELBEIN, Frances. A comunidade do futuro: Idéias para uma nova comunidade. São Paulo:
Futura, 1998.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: ed 34, 1996.
LUCENA, Marisa, Um modelo de escola aberta na internet: Kidlink no Brasil. Rio de Janeiro:
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2011.
VALENTE, José Armando. O computador na sociedade do conhecimento. Coleção Informática
para mudança na educação. Primeira edição, São Paulo, USP, 1993.
WEBER, Max. Economia e sociedade. São Paulo: editora UNB, 2004
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Para definir bem o que seja o projeto kidlink o nome sugere