AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO COMO RECURSO DE APRENDIZAGEM DISTÂNCIA: UM OLHAR SOBRE O PROJETO KIDLINK. GT5 EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIAS. 1 José Carlos Santos (autor) 2 Anne Emilie Souza de Almeida Cabral (coautora) 3 Mariângela Dias Santos (coautora) 4 Clara Angélica de Almeida Santos Bezerra (coautora) Resumo: Neste artigo apresentaremos um estudo sobre o projeto kidlink, onde crianças do mundo inteiro representadas por mais de 160 países, interagem usando os recursos da internet. Para se comunicarem, empregam o potencial das tecnologias da informação e da comunicação para promover aprendizagem. O projeto kidlink é um recurso de aprendizagem onde crianças de vários países podem se comunicar. A experiência do projeto Kidlink, capitaneado pela professora doutora Marisa Lucena tem contribuído para ampliar os horizontes da aprendizagem através das tecnologias da informação e da comunicação. Este projeto esta classificado pela sua gestora como: “um modelo de escola aberta na internet”. Trazemos à discussão questionamentos que surgiram a partir do assentamento da aldeia global suscitando novos paradigmas para educação. PALAVRAS CHAVE: tecnologias da informação e da comunicação. Educação. Projeto Kidlink. Abstract In this paper we present a study on the project Kidlink where representeadas children around the world for more than 160 countries, interact using Internet resources. To communicate, they use the potential of information technology and communication to promote learning. The project Kidlink is a learning resource where children from different countries can communicate. Experience Project Kidlink, led by Professor Dr. Marisa Lucena has helped broaden the horizons of learning through information technology and communication. This project is classified by management as "a model of school open Internet." Bring to the discussion questions that arose from the settlement of the global village raising new paradigms for education. KEYWORDS: information technologies of communication. Education. Kidlink Project. INTRODUÇÃO Este texto apresenta um estudo sobre um projeto intitulado Projeto Kidlink que tem como objetivo integrar crianças do mundo inteiro através de interação utilizando o bate-papo (chat) como recurso educacional. Este projeto é uma comunidade virtual que funciona em mais de 160 países cobrindo todos os continentes. Está instalado 1 Doutorando em Educação pela PUCRS. Mestre em educação pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo GPGFOP e professor da Universidade Tiradentes. 2 Mestre em Educação pela Universidade federal de Sergipe. Professora na Universidade Tiradentes 3 Mestre em educação pela universidade federal de Sergipe. Professora da Universidade Tiradentes. 4 Mestranda do Programa de pós-graduação em Serviço Social – PPGSS, da UFAL, professora da Universidade Tiradentes. 2 na rede mundial de computadores tendo uma sede geográfica implantada no Brasil. O projeto originou-se na Noruega e se espalhou pelo mundo inteiro. A gestora do projeto é a brasileira Drª Mariza Lucena. Neste ambiente as crianças conversam sem nenhum compromisso escolar, apenas conversam com outras crianças em outros países e com isso se dá um processo diferenciado de aprendizagem. Para estabelecer uma base cognitiva ao leitor trazemos um breve conceito sobe tecnologias e uma base histórica sobre surgimento da internet. AS TECNOLOGIAS MODERNAS E AS RAÍZES DA INTERNET. Quando falamos em tecnologia, automaticamente nos vêm à mente um computador ou um celular, ou ainda a mais recende invenção contemporânea com seus chips e placas eletrônicas. - É natural que tenhamos esse pensamento. - Isso acontece porque costumamos, em princípio, recorrer à memória de curto prazo para referenciar nosso conhecimento. Diariamente temos contato com as tecnologias mais recentes, – aquelas que nos cerca cotidianamente – não podemos evitar o contato com as maravilhas modernas, afinal de contas a nossa sociedade contemporânea, se pauta na cultura digital e a produção tecnológica absorve os costumes e necessidade da sociedade com o objetivo de promover consumo de bens. Podemos inferir que esta seja uma das razões pela qual, muito se fala sobre tecnologias, mas geralmente não temos a dimensão do que ela representa no nosso cotidiano. O autor Peter F. Drucker (2002) no seu texto O Homem, demonstra claramente nossa condição de adaptação ao novo e em muitas situações se desprendendo das informações mais antigas, quando afirma que em poucos anos as tecnologias transformam o mundo e a sociedade. Drucker afirma que A cada poucas centenas de anos ocorre na história ocidental uma transformação significativa. Atravessamos o que eu chamo de “limite”. Em poucas décadas, a sociedade se reorganiza – muda sua visão de mundo, seus valores básicos, sua estrutura social e política, suas artes, suas instituições fundamentais. Cinquenta anos depois, há um novo mundo. E as pessoas jovens, então, nascidas não conseguem nem imaginar o mundo em que seus avós viveram e no qual seus próprios pais nasceram. (DRUCKER, 2002 p.23) Coaduno com a ideia, pois meu ver este autor tem toda razão, a velocidade com a qual as inovações tecnológicas avançam, promovem alterações significativas na sociedade. 3 Essas transformações tendem a nos afastar da capacidade de observar de maneira mais profunda a nossa história relacionada às tecnologias. O termo tecnologia não é novo. As tecnologias acompanham o homem desde o seu surgimento na terra. A palavra tecnologia tem origem grega e está relacionada ao estudo da técnica, ao estudo do ofício, ou seja, da forma como se faz as coisas aprimoramento do fazer. - A palavra tecnologia é a junção em grego de duas outras palavras (tekne que representa arte, técnica ou oficio) e a palavra (logos que representa o saber ou um conjunto de saberes). Então podemos inferir a representação da palavra tecnologia como sendo o domínio de determinada técnica de como se produzir algo ou alguma coisa que seja melhor, produzida num curto espaço de tempo com qualidade superior ao que se praticava anteriormente. O computador é a última palavra em tecnologia e parece ser uma invenção muito recente, entretanto sua ideia é bem antiga, vários textos apontam o ábaco como sendo a origem da ideia. Sabemos que o parente mais próximo do computador é a máquina de calcular. Um artefato inventado pelo matemático Blaise Pascal (1623 1662), de origem francesa, além de matemático também era filósofo. Seu invento realizava apenas as duas operações matemáticas básicas: somar e diminuir. Obviamente a calculadora passou por várias transformações para chegar o que é hoje. Mas para chegar ao estagio contemporâneo o computador teve a contribuição de vários inventos. O inglês Charles Babbage (1791 - 1871) projetou a máquina analítica inspirado no tear industrial, que usava a tecnologia de cartões perfurados, para selecionar tecidos nobres. A máquina de Babbage realizava cálculos matemáticos e já contava com a capacidade de armazenamento das informações processadas. Muitas versões diferentes de computadores foram criadas pra ampliar sua capacidade e promover os recentes avanços. Até nossos dias – 2013 – os computadores usam a chamada lógica binária, reconhece dois estados físicos ou duas representações numéricas, classificadas como: 0 e 1 (zero e um). Os fundamentos da lógica binária que permitem a programação dos computadores foram criados em 1854 por George Boole (1815 - 1864). Daquele momento até nossos dias, as tecnologias passaram por mudanças significativas. Porem, podemos afirmar que a mais contundente foi a criação da internet. Qualquer pessoa que queira conhecer sua história pode encontrar facilmente, em sites de busca, as informações que deseja, do ano de lançamento à 4 origem. Essas informações aparecem bem evidentes logo no início do texto, entretanto é preciso ir um pouco mais fundo para compreender este fenômeno tecnológico. A verdadeira história da internet começa na União Soviética no ano de 1957 com o lançamento do primeiro satélite Sputinik. A partir deste evento os Estados Unidos deu início a uma corrida armamentista desesperada para alcançar e superar seu concorrente a então União Soviética. Assim, no ano seguinte, 1958 o governo americano criou a Advanced Research Projects Agency (ARPA) com a incumbência de criar as condições necessárias de superação dos seus adversários. Em setembro de 1969 foi criada a Arpanet, que poderíamos classificar como o primeiro protótipo da internet. A ARPA tinha a missão de mobilizar pesquisas e recursos do mundo universitário para superar o inimigo número um dos Estados Unidos. Portanto a internet naquele momento surge como uma arma de guerra. O primeiro diretor da Arpanet era um psicólogo que foi para (MIT) Massachusetts Institute of Technology (Instituto de tecnologia de Massachusetts) para ser transformado em cientista da computação, chamado Joseph Carl Robnett Licklider (1915 –1990), sua missão era estimular a pesquisa em computação interativa. Como era um projeto secreto as universidades e o cientista que desenvolviam a pesquisa sabiam apenas que era um projeto que visava distribuir tempo de computação para as instituições que trabalhavam na pesquisa. Para chegar à montagem de uma rede interativa de computadores os principais ingredientes foram os recursos de telecomunicação e a comutação de pacotes que era uma tecnologia desenvolvida por dois programadores e cientista da computação de empresas independentes que se chamavam: Paul Baran(1926–2011) e Donald Davies (1924–2000). Essa ideia havia sido desenvolvida exatamente para o departamento de defesa dos Estados Unidos com o objetivo de sobreviver a um ataque nuclear. O sistema interativo baseado em comutação de pacotes descentralizaria o comando central de forma que se um comando fosse atingido e destruído haveria vários outros pontos que ainda estariam aptos a lançar o ataque nuclear em represaria. Assim o inimigo não teria a capacidade de destruir todos os comandos, pois eles eram móveis e sempre poderiam encontrar outro caminho para comandar os disparos. Até hoje o princípio da internet é o mesmo, transformou-se em uma grande teia onde cada encontro ou nó é um ponto de retransmissão da informação garantindo que ela sempre chegue ao seu destino. 5 Os primeiros nós da Arpanet foram instalados em 1969, na Universidade da Califórnia em Los Angeles, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e na Universidade de Utah. No ano de 1971 já haviam 15 nós instalados em centros universitários de pesquisa. O projeto precisava de um teste mais pomposo, então a arpanet resolveu conectar seus projetos a outras redes de computadores que ela administrava, a PRNET e a SNTNET, com este teste que foi bem sucedido já vislumbrava um revolucionário conceito inovador: era a rede de redes. Para que você entenda melhor uma rede é formada por dois ou mais computadores. Assim, podemos ter uma rede com dois computadores ou uma rede com mil computadores. Neste novo conceito havia a possibilidade de integrar milhares de redes e estabelecer comunicação entre elas. No ano de 1973, os cientistas Robert Kahn e Vint Cerf, publicaram um artigo delineando a arquitetura básica da internet. Naquele momento havia uma necessidade que as redes pudessem se comunicar umas com as outras e para isso seria preciso produzir um protocolo de comunicação, o objetivo da publicação deste artigo era para que outros cientistas pudessem trabalhar em sistema cooperativo na produção deste protocolo. Em 1973 parte do projeto foi completado com a criação do protocolo (TCP) Transmission Control Protocol (protocolo de controle de transmissão), no ano de 1978 o TCP foi dividido e complementado com outro protocolo interno de rede chamado de (IP) Internet protocol (protocolo de internet). O resultado desta alteração deu origem ao protocolo TCP/IP que é usado até hoje em todas as comunicações por computadores. No ano de 1983 havia rumores de brechas nas informações que circulavam na arpanet e o departamento de defesa resolveu criar a MILNET uma rede mais segura e com acesso apenas aos militares. A Arpanet foi transformada em ARPAINTERNET, foi então, dedicada as universidades e centros de pesquisa. No ano de 1990 a Arpanete está, do ponto de vista tecnológico, totalmente arcaica para os propósitos militares e de pesquisa então deste ponto em diante não havia mais como manter a internet sob o domínio do governo, pois o avanço nas telecomunicações além do advento do código aberto tornou insustentável mantê-la. Desta forma o governo optou pela sua privatização. Na década de 90 os computadores eram fabricados com capacidade de receber placa de rede e também placa de modem o que os capacitava ao acesso à internet. Estava se abrindo um novo espaço tecnológico, mas o que realmente possibilitou a ascensão em todo o 6 mundo foi o trabalho de um programador chamado Tim Berners Lee que desenvolveu a WWW – word wide web, uma aplicação que tinha a capacidade de compartilhar informações dentro da internet. A Internet é uma rede mundial formada por outras redes de computadores. Por traz destas conexões existem pessoas desenvolvendo as mais variadas atividades. Para muitas pessoas acessar a internet se tornou uma rotina indispensável. Nos anos 90 acessar a internet não era tão simples como é hoje, era necessário ter uma linha telefônica e um modem. A linha ficava ocupada o tempo inteiro e era totalmente impossível ouvir uma música ou assistir a um vídeo pela internet. A velocidade era muito baixa e não havia a menor condição de trafegar arquivos muito grandes como imagem e som. Praticamente o tráfego só permita texto. Os downloads já existiam, mas eram lentos e não era possível executar diretamente um arquivo. Naquele momento já havia milhares de usuários, a conexão era discada via provedor. Os programas mais utilizados eram o ICQ e MIRC (bate-papo) que seria um prenúncio das redes sociais atuais. Estatísticas mostram que existem mais de dez milhões de host (computadores conectados à Internet), o que equivale a milhões de pessoas usando a Internet ao mesmo tempo. Mas o que essas pessoas estão fazendo? A resposta é: quase tudo! Tem-se o correio eletrônico, transferência de arquivos, pesquisa e recuperação de informações, recebimento de notícias, e a maior parte delas estão usando as redes sociais. Há um forte mercado de negócios na Internet. Setores do governo, grandes corporações, serviços comerciais online, partidos políticos além de faculdades e universidades que estão conectadas e usam a net diariamente. O acesso à Educação é, obviamente, um dos itens mais importantes da vida em sociedade. Quando a Internet começou como ARPANET, foram as Instituições de Ensino Superior que lideraram a iniciativa de democratização deste serviço. As reuniões de negócios que antes exigiam viagens de avião e estadia em hotel, agora podem ser conduzidas via e-mail e conferência eletrônica. Segundo Castells (2003, p.34) existe uma cultura da internet que nasceu com seus fundadores “a cultura da Internet caracteriza-se por uma estrutura em quatro camadas: a cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker, a cultura virtual e a cultura empresarial”. Embora tenham se passado dez anos este conceito não mudou. Mudaram-se as formas de abordagem, a velocidade e até alguns formatos na rede, mas o conceito de cultura permanece o mesmo. Sob a ótica de Castells (2003) 7 essas culturas juntas “contribuem para a uma ideologia da liberdade que é amplamente disseminada no mundo da internet”. A cultura tecnomeritocrática pode ser comparada a cultura Hacker quando incorpora e dissemina normas éticas a serem seguidas na rede. Já a cultura comunitária social destaca-se pela sua interação e dedicação ao compartilhamento de informações. A cultura empresarial explora as demais culturas procurando sempre um espaço para os negócios, seja na linha da cooperação ou das atividades sociais e comunitárias, está sempre disposta a explorar as possibilidades. O PROJETO KIDLINK E SUA PROPOSTA EDUCACIONAL O propósito estrutural de comunidade permanece presente nas comunidades virtuais, entretanto é preciso um atrativo sólido para manter os seus membros envolvidos e atuantes nas comunidades. Outro fator a ser observado nas comunidades virtuais é objetividade no tratamento das questões. Os processos são viabilizados da maneira mais rápida possível. Podemos constatar isso nas experiências com as redes sociais como: orkut, facebook, twiter e outros... Nestas comunidades, pode se encontrar tudo, desde negócio a familiares que estão separados há muito tempo, lixo eletrônico, divulgação de serviços e produtos, compra e venda e até candidatos a casamento. Nas redes sociais e comunidades eletrônicas circulam todo tipo de informação e gostando ou não, elas interferem na formação social do indivíduo. No que se refere à educação, existem várias comunidades com o propósito de promover conhecimento e contribuir nos espaços virtuais. Para representar uma comunidade virtual, voltada para a educação, que tem dado resultados positivos, apresentaremos o nosso objeto de estudo, intitulado “Projeto KidLink: um modelo de escola aberta na internet”. O nome kidlink sugere crianças interligadas, conectadas em tempo real. Para entender como o projeto funciona, podemos nos valer do histórico apresentado pela gestora do projeto, professora Marisa Lucena, que na sua tese de doutorado, afirma que: o “Projeto Kidlink” no Brasil tornou-se oficialmente, um dos projetos piloto do Grupo de Educação à Distância do Comitê Gestor da Internet no Brasil (http://www.cg.org/gt.html) em março de 1996, tendo como missão produzir resultados de curto prazo. 8 Naquele momento a professora Marisa Lucena apresentou um projeto justificando a importância de Kidlink para o ensino de 1º e 2º Graus no Brasil e a relevância de um sub-projeto Kidlink House para desmistificar a reputação de elitismo da Internet. A primeira tentativa de implantação do Projeto Kiddlink aconteceu em 1991, na Noruega quando Odd de Presno recebeu, em seu país, a visita do diretor da Escola do Futuro da USP Universidade de São Paulo, surgiu os primeiros contatos para a investigação sobre a possibilidade de se abrir um canal de comunicação no idioma português. Marisa Lucena nos conta que em 1991, houve a primeira mensagem eletrônica de criança brasileira, respondendo às Quatro Perguntas Kidlink em inglês. Em 1992, Odd de Presno veio ao Brasil participar da Peace Conference, convidado pela Escola do Futuro e fez suas primeiras apresentações sobre Kidlink em São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas. Entretanto, sua comunicação não sensibilizou muito os educadores, despreparados que estavam para o entendimento sobre o uso da Internet. Naquele momento, redes somente eram usadas em algumas universidades e poucos tinham acesso a ela. É importante lembrar que a informática na educação no Brasil nasceu em 1971 quando da I Conferência Nacional de Tecnologia na Educação – I CONTECE, realizado no Rio de Janeiro. A segunda tentativa acontece somente em 1982 com o I Seminário nacional de Informática na educação que se realizou em Brasília. (VALENTE, 1993). A professora Marisa Lucena nos conta que naquela época, a Educação do Brasil dedicava-se, fundamentalmente, ao estudo e divulgação da linguagem e filosofia do software Logo5 e apenas começavam pesquisas acadêmicas sobre o uso de aplicativos, a qualidade e avaliação de softwares educacionais. Poucas escolas possuíam computadores e as que estavam ligadas à Internet, usavam, em estágio ainda muito inicial de seus recursos, através de algum programa ou projeto de 5 O Logo nasceu com base nas referências teóricas sobre a natureza da aprendizagem desenvolvidas por Piaget (reinterpretadas por Papert), e nas teorias computacionais, principalmente a da Inteligência Artificial, vista como Ciência da Cognição, que para Papert também é uma metodologia de ensino-aprendizagem, cujo objetivo é fazer com que as crianças pensem a respeito de si mesmas. De acordo com sua teoria do conhecimento e do desenvolvimento humano, o processo educacional tem como pressuposto que a criança não aprende apenas pelo ensino formal e deliberado, que ela é uma aprendiz inata, que mesmo antes de chegar à escola apresenta conhecimentos adquiridos por meio de uma aprendizagem natural, espontânea e intuitiva, que se dá através da exploração, da busca e da investigação, a qual pode ser caracterizada como uma real auto-aprendizagem, aquilo que a criança aprendeu porque fez, após ter explorado, investigado e descoberto por si própria, além de contribuir para o desenvolvimento de suas estruturas cognitivas, reveste-se de um significado especial que ajuda a reter e transferir com muito mais facilidade aquilo que foi aprendido. 9 pesquisa com alguma universidade. O professor brasileiro, por sua vez, ainda debatia se os computadores seriam úteis ou não à educação e se a máquina iria ou não substituí-lo em sala de aula. Então, falar sobre redes e ligações de escolas e alunos à Internet estava muito distante da realidade educacional brasileira. Ao final de 1993, no IV Simpósio Brasileiro de Educação na Informática, em Recife, Kidlink foi reapresentado à comunidade acadêmica que, por sua vez, em pouco tempo, havia despertado para a investigação do uso de redes, já com algumas pesquisas realizadas em comunicações nacionais e internacionais via rádio amador e correio eletrônico. Em 1994, o Brasil teve uma participação inexpressiva em Kidlink, mas naquele momento já contava com duas listas em funcionamento: KidcafePortuguese e Kidleader-Portuguese que apresentaram pouco volume de mensagens e de projetos. De acordo com Marisa Lucena, somente em 1995, após se terem adquirido conhecimento teórico sobre a Internet, tido a experiência prática do seu uso e serviços através da organização e da implementação do Projeto Keypal e de ter realizado uma investigação em campo ao participar de mais de 15 listas educacionais, com comunicação em língua inglesa, optou-se por Kidlink como a lista mais indicada para promover o uso educacional de redes no Brasil. Passou-se então a considerar Kidlink como “o Jardim de Infância da Internet”. Em primeiro lugar, por ser uma organização inteiramente dedicada a jovens entre 10 e 15 anos. Em segundo lugar, por introduzir e guiar escolas, professores e alunos em seus primeiros passos pela Internet. Neste sentido, Kidlink é considerado como uma grande escola internacional que atende ao novo paradigma da Educação proporcionado pela Internet. Oferece uma aprendizagem cooperativa à distância que resulta numa Escola Aberta na internet. Assim, em março de 1995, iniciou-se um processo de reativação das listas em idioma português através do correio eletrônico, atraindo para este espaço escolas, educadores e crianças que se apresentavam em condições de participar de um diálogo global. Nesta ocasião, o Projeto Kidlink brasileiro passou a fazer parte da International Kidlink Society na condição de Kidforum Assistant Manager, fazendo parte do Advisory Group de Kidforum que planeja uma série de projetos de curta duração, congregando escolas de várias nacionalidades. Coordenamos o Projeto 10 Kidforum Virtual Transaction (http://www. kidlink.org/kidforum), atraindo algumas crianças brasileiras para participarem do projeto que foi o primeiro em Kidforum a ter mensagens por elas traduzidas. Isto mostrou a possibilidade da existência de projetos multiculturais assegurando a autonomia na aprendizagem de uma segunda língua. Em agosto de 1995, a pesquisadora participou do I Annual International Kidlink Meeting, em Arendal, Noruega. Neste mesmo ano, ela organizou a segunda visita de Odd de Presno ao Brasil que encontrou um ambiente bem mais fértil para disseminar Kidlink. Presno participou em seminários e worshops em Salvador (Bahia), São Paulo (SP), Recife (Pernambuco), Florianópolis (Santa Catarina/SBIE95) e Rio de Janeiro (RJ/I Workshop Kidlink/Rio). Suas palestras despertaram o interesse de um grande número de professores que a partir daí, inscreveram seus alunos e passaram a participar nas atividades das listas e nos projetos nacionais. Em janeiro de 1996, foi desenvolvido um planejamento coordenado e abrangente para as atividades presentes naquele momento em Kidcafe-Portuguese e Kidleader-Portuguese que serviram de exemplo, sendo seguidas pelas demais listas de idiomas específicos a partir do II Annual International Kidlink Meeting (agosto de 1996), como parte do V Encontro da Educação com a Informática. O IRC6 KidlinkBr foi estruturado partir de novembro de 1996 e, possui um canal próprio, nacional, localizado na PUC-Rio e conta com a participação ativa de crianças que participam a partir de suas casas. As escolas não estão equipadas nem sensibilizadas para o uso educacional deste recurso tecnológico. Atualmente, Kidlink no Brasil funciona graças ao trabalho voluntário de educadores e de pessoas interessadas na área de Educação, provenientes das mais diversas áreas de atividade. Estes voluntários oferecem sua colaboração, após 6 O IRC (Internet Relay Chat) é um protocolo utilizado na Internet como troca de arquivos e de informações. Desenvolvido em 1988 pelo programador Jarkko Oikarinen, só foi utilizado de maneira formal em 1993. O objetivo da criação foi desenvolver um sistema compatível a TCP/IP e SSL, com capacidade e armazenamento de conversas entre muitos usuários simultaneamente. A primeira rede com IRC surgiu em Universidades da Finlândia e em 1993, o sistema foi utilizado para informar as notícias em tempo real pela internet. O modo de comunicação e canais do IRC é a conversação de um canal, no qual os usuários enviam mensagens ao servidor que as reenvia a todos do mesmo canal. Como o IRC é um protocolo de texto, pode ser utilizado através de um servidor como o netcat ou telnet. No início do ano de 2000, o IRC tornou-se o principal sistema da internet com capacidade para suportar o bate-papo e concentrar milhões de usuários ao mesmo tempo. O gerenciamento de dados e a facilidade de interação eram insuperáveis. O sistema era monitorado pelos Operadores (OPs), os quais gerenciavam o canal para o bom funcionamento do mesmo, e expulsavam os que queriam confusão. 11 tomarem conhecimento da organização pelas listas educacionais, após ouvirem alguma palestra, após a divulgação por algum canal da mídia ou após receberem um convite especial. É com esse histórico que a professora Marisa Lucena apresenta o surgimento de Kidlink no Brasil. O projeto Kidlink se apresenta como um espaço para a educação, mais abrangente que qualquer outro já experimentado em proporções geográficas. Quebra barreiras lingüísticas e culturais enquanto dá possibilidade de ajustes culturais por regiões do país, sem negar etnias e costumes. O grande avanço do projeto, é promover o intercâmbio cultural e étnico global, uma vez que se faz presente em vários países. No Brasil, seu desenvolvimento acelerado se deu a partir do início de 1995, quando a internet passou por um processo de democratização, chegando às residências e favorecendo a comunicação entre pessoas que estavam geograficamente distantes. Com isso, o projeto agregou novos valores e se tornou um Projeto Nacional, apoiado pelo GT de Educação à Distância do Comitê Gestor da Internet no Brasil. O kidlink reúne professores e alunos do mundo inteiro e está presente em 164 países, atingindo assim todos os continentes. O kidlink quebra barreiras de linguagens e culturais colocando em contato crianças e adolescentes que provavelmente nunca venham a ter um contato físico, dado à distância geográfica em que se encontram. Prima pelo respeito à realidade nacional, dado cunho social intrínseco no seu desenvolvimento. No Brasil, o projeto busca atender as classes desfavorecidas economicamente, orientando a criação de projetos educacionais e sociais que favoreçam àqueles que não possuem condições de financiar e de utilizar a internet no seu cotidiano. O projeto é mantido por uma organização internacional sem fins lucrativos, chamada Kidlink Society. Para ser membro do projeto, pode ser implantada uma KidHouse, em qualquer parte do Brasil. Para tanto, é necessário um projeto a ser submetido à apreciação da coordenação nacional do projeto Kidlink. É preciso preencher alguns requisitos humanos e materiais como uma estrutura composta de gerente, suporte técnico, suporte pedagógico e suporte psicossocial. Qualquer profissional envolvido no projeto pode acumular funções. É necessária estrutura física com um laboratório contendo computadores que sejam condizentes com o número de alunos matriculados. Neste caso, são aceitáveis três alunos por computador como limite máximo. Qualquer instituição pública ou privada pode montar um projeto agregado à kidlink. As crianças que quiserem participar do projeto terão obrigatoriamente que 12 responder, no momento da inscrição, as perguntas: Quem eu sou?; O que eu quero ser quando crescer?; Como eu gostaria que o mundo fosse no futuro?; O que eu posso fazer atualmente para que isto aconteça?. Depois, é só se engajar em algum projeto educacional lançado pelos professores e coordenadores, ou simplesmente trocar mensagens, “bater papo” (chat) sem firmar nenhum compromisso educacional com algum companheiro de outra cultura ou sociedade. Definitivamente o Projeto Kidlink não é uma ferramenta de ensino à distância que reproduz um conjunto de regras pré-definidas em um ambiente de programação. Sua estrutura básica depende da interação e sua ação é construída diariamente cada vez que uma criança ou adulto interage com outro dentro ou fora do seu país, construindo novos conhecimentos. Lucena diz no seu texto “Um modelo de Escola Aberta na internet” que o projeto não está preocupado com os resultados, mas sim, com sua aplicação prática. Entretanto, entendemos que o projeto em questão perpassa por temas relevantes que merecem um estudo aprofundado, pois invariavelmente ele apresenta resultados e estes interferem na sociedade e na educação brasileira, conseqüentemente na formação do trabalhador, na cultura e na comunicação o que pode vir a definir novos paradigmas e um novo perfil etnográfico. É fato que ao ter acesso a novas culturas em outros países os cidadãos passarão a ver o mundo e seus problemas de forma diferente, passarão a promover o que Marshall McLuhan (1964) Chamou de “aldeia global”. Talvez essa ação possa implantar a interdisciplinaridade que buscamos na educação. Por isso o Kidlink no Brasil é um tema importante a ser estudado. Podemos definir o estado da arte do projeto, a partir do Grupo de Pesquisa KBr/Kidlink que concebeu e implementou, na PUC-Rio, uma KHouse Modelo, que é tanto o centro de pesquisa quanto a responsável em repassar toda a orientação pedagógica e metodológica necessária a cada nova unidade, respeitando sempre as características sociais, econômicas e culturais de cada região e de cada unidade KHouse; O projeto KHouse é um trabalho sócio-educacional que pretende democratizar o acesso à computadores e à Internet aos grupos de comunidades que não tenham essa tecnologia: professores, alunos de escolas públicas, população infanto-juvenil e de terceira idade. O contínuo desenvolvimento e acompanhamento de projetos específicos e práticos visam diminuir a exclusão social e digital, tentando 13 inserir uma parcela desassistida da população no novo mundo da TIC - Tecnologia da Informação e da comunicação; O projeto KHouse é um sub-projeto dentro da amplitude de iniciativas do Grupo de Pesquisa KBr/Kidlink - responsável também por manter o portal Kidlink no Brasil, além de desenvolver projetos de capacitação, realizar workshops, seminários e cursos; Há quatro modelos de KHouse, que variam conforme a idade e interesse de cada aluno: Modelo para crianças e jovens: visa proporcionar o uso do computador, seus aplicativos e a Internet aos alunos de escolas públicas que não têm acesso aos mesmos, - Modelo aberto – voltado aos jovens de até 18 anos que queiram utilizar o computador e a Internet para trabalhos escolares, supervisionados pela equipe responsável pelo projeto e não mais por seus professores da escola, como no Modelo para crianças e jovens. O Modelo aberto assegura, assim a continuidade do acesso a Internet e às atividades de Kidlink aos alunos que já passaram pela KHouse Modelo para crianças e jovens; Modelo adultos: está voltado para a democratização do acesso ao computador, seus aplicativos e a Internet com a participação de adultos e idosos, procurando resgatar sua autoestima; Modelo Profissionalizante: este modelo foi criado com o objetivo de qualificar os jovens que saem das KHouse Modelo aberto para a inserção no mercado de trabalho, estimulando uma mudança de atitude e, de aspiração em relação ao futuro, contribuindo assim, para a diminuição tanto dos índices de violência como os de desemprego. Considerações Finais: Concluímos que Kidlink traz relevante contribuição social, pois sua natureza pedagógica e educacional aponta para novos paradigmas na formação educacional. Podemos dizer que este projeto demanda contribuições não apenas sociais, mas também, ética, cultural, educacional e política. O formato de Kidlink adotado no Brasil, respeitando suas particularidades, inclusive regionais, demanda ferramenta de aprendizagem colaborativa e cumpre um papel importante de educar dentro do modelo globalizado preservando, sobretudo a cultura de cada região. Pensemos que quando uma criança se comunica com outra em outro país, ela não 14 absorve sua cultura, mas estabelece uma troca conceitos culturais. Neste contexto devemos ressaltar que nesta conversa entre crianças não há uma relação de negócio e sim uma relação de curiosidade de ambas em conhecer a cultura do seu interlocutor. Do ponto de vista da educação esse momento é mágico. Não temos aí um livro produzido num país hegemônico e enviado para um país pobre, interferindo na sua cultura. Temos a troca em nível de igualdade. Daí dizermos que kidlink é um ambiente de aprendizagem colaborativa, apoiado pelas tecnologias da informação e da comunicação. Referências bibliográficas: CASTELLS, Manuel. 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