Viva a sociedade interativa
Augusto de Franco
Quanto o objetivo é induzir o desenvolvimento, investir no ambiente
social é sempre a melhor solução. Ensejar condições para que as
pessoas possam fazer o que querem e não o que queremos que elas
façam. Constelar situações que incentivem as pessoas a ter ideias e a
tomar iniciativas. Desenhar processos que estimulem as pessoas a
polinizar mutuamente suas ideias e a compartilhar suas iniciativas.
Nos novos mundos altamente conectados que estão emergindo você
é o que você compartilha, não o que você esconde e tranca para
acumular para si.
Foi pensando assim que o Centro Ruth Cardoso, em parceria com
várias organizações, lançou uma iniciativa inédita: o Festival de
Ideias: inovações para o desenvolvimento social.
O processo é inédito porque combina crowdsourcing (interação de
muitos para inovar) com polinização em rede, superando aquele
espírito competitivo das chamadas centralizadas feitas por empresas
hierárquicas, que lançam mão da terceirização para reduzir custos e
escondem do público as inovações que obtiveram para levar
vantagem. Aqui se faz exatamente o contrário: inovação aberta,
exposta à interação e vulnerável ao outro imprevisível. Na plataforma
onde as ideias foram inscritas, as pessoas puderam não só propor
suas ideias originais, mas também clicar num botão para melhorar
uma ideia já apresentada. A novidade, portanto, é a interação.
O festival selecionou três assuntos momentosos no Brasil: mobilidade
urbana, violência e catástrofes naturais. Havia dúvidas sobre a
responsividade do público. No entanto, em três semanas, surgiram
346 propostas. Ideias simples, porém engenhosas e factíveis, como a
do aplicativo para celular que permite compartilhar localização e
destino e facilita a carona entre pessoas circulando pela mesma
região da cidade. Ou, ainda, como a dos pontos de encontro
acionados por luz e som para agregar pedestres que desejem fazer
juntos um trajeto pré-definido em áreas perigosas.
Durante o festival, que ocorrerá na Cinemateca Brasileira, em São
Paulo, nos dias 20 e 21 de setembro, vinte ideias selecionadas
passarão por um processo de criação coletiva, onde serão melhoradas
e formatadas como projetos.
Cada uma das três ideias vencedoras será premiada com 10 mil reais.
Os projetos decorrentes destas e de outras ideias selecionadas serão
financiados por meio de crowdfunding (apoio a empreendimentos por
meio de microfinanciamentos).
Para refletir sobre o significado de tudo isso, três “jovens”, um
professor, um poeta e um articulador de redes sociais, comporão uma
mesa pública de conversação intitulada – vejam só! – “Viva a
Sociedade Interativa”. Um parêntesis: o professor tem 80 anos e já
foi presidente da República.
A sociedade alternativa cantada por Raul Seixas será a composição
fractal de muitas sociedades interativas. Um novo mundo único não é
mais possível, porque os mundos altamente conectados são múltiplos
e assim também serão as sociedades que estão brotando agora da
interação.
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