“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância ” nidos em torno do Bom Pastor, que com seu amor nos chama para vivermos a vida que ele nos oferece, vida plena e abundante, norteada pelo amor, a esperança e a fé, saudamos você desejando-lhe paz e bem. Nós do IPDM, agradecemos a todos vocês que semanalmente acolhem nosso pequeno informativo. Através dele, estamos em contato com milhares de irmãos e irmãs aos quais hoje, dirigimos um pedido especial: gostaríamos que cada um de vocês nos apresentasse mais um amigo para receber nosso informativo. Graças a Deus, já somos milhares de leitores espalhados pelo mundo. Mas queremos chegar cada vez mais longe com nosso jeito simples de servir oferecendo a tantos quantos seja possível o nosso serviço. Neste número, você encontrarão reflexões evangélicas, notícias, artigos e opiniões, dentre outras coisas. Que eles possam contribuir um pouco que seja em sua caminhada. Evangelho - Liturgia O Evangelho deste domingo nos apresenta o Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Jesus, o Bom Pastor revela ter vindo a nós para que tenhamos “vida em abundância”. Nós do IPDM, unimos nosso pensamento ao de Suess e com ele, prestamos nossa homenagem a este grande Cristão: Dom Tomás Balduíno. Leia tudo na página 5. Artigos - Opiniões Fazendo uma análise criteriosa sobre canonizações, a Teóloga Ivone Gebara nos brinda com um artigo brilhante no qual reflete sobre a “imitação” e a “inspiração”; “Por que não falar que as pessoas e nelas se incluem certamente os que já saíram fisicamente dessa história nos inspiram, nos ajudam a carregar nossos fardos, nos ensinam conforme nossas necessidades. A inspiração parece um fenômeno que indica maior liberdade do que a imitação. Mas, as canonizações não vão por esse caminho. Têm a ver com Canon, com leis que se estabelecem para os fiéis mesmo que se diga que cada um é livre de acolher ou não a vida deste ou daquele santo como seu modelo.” Leia mais na página 7. O Teólogo Faustino Teixeira fala-nos sobre a espiritualidade e nos mostra que: “A espiritualidade requer o cultivo de uma dimensão fundamental que trata da interioridade do ser humano, ou seja, de “expansão de vitalidade” e qualidade de vida. A espiritualidade suscita o despertar de energias originárias que estão no rincão mais íntimo do ser humano, e que dizem respeito a ele “de forma última”. Também na página 7. Sobre esta passagem evangélica, Padre José Antonio Pagola alertanos sobre a necessidade de ouvirmos a voz do Pastor e da importância de “não a confundir com o respeito às tradições nem com a novidade das modas”, de “não nos deixarmos distrair nem aturdir por outras vozes estranhas que, mesmo que se escutem no interior da Igreja, não comunicam a sua Boa Nova. É importante que nos sintamos chamados por Jesus ‘pelo nosso nome’”. Com sua visão aguçada Frei Betto escreve sobre os erros cometidos pelas UPPs do Rio de Janeiro, a partir dos casos Amarildo e Douglas. “O governo do PMDB no Rio, com apoio do PT, acreditou ter inventado a roda ao instalar UPPs em áreas de conflitos. Cometeu duplo erro: por não fazer os serviços públicos acompanhar a entrada de policiais nas comunidades e por não capacitar os integrantes das UPPs”. O Artigo está na página 8. Padre Gilberto Kasper, com sua ternura constante, nos mostra com toda propriedade que “Cristo ressuscitado é o Bom Pastor que nos conhece pelo nome e nos guia no caminho para Deus. Ele nos abriu a porta da vida através de sua entrega total por amor, que culminou na cruz. É necessário passar por Cristo, pelo seu projeto de libertação, para encontrar a vida em plenitude que procuramos”. Estas duas reflexões completas, você encontra na página 2. Entrevista Unidos mais uma vez, Frei Carlos Mesters, Irmã Mercedes Lopes e Francisco Orofino nos apresentam uma reflexão contemporizada com nossos dias: “Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em abundância. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líderes, mas na realidade são ladrões e assaltantes, pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E, às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo”. Padre Alberto Maggi-OSM fala-nos de Jesus como o “Pastor legítimo que se identifica como quem “entra pela porta” e “as ovelhas escutam a sua voz”. Por que ovelhas? O rebanho é imagem do povo. Por que escutam a sua voz? Porque o povo reconhece, nas palavras de Jesus, a resposta de Deus à necessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora”. Leia estas reflexões na página 3. Para que você vá se preparando desde já para refletir a beleza do Evangelho do próximo domingo, trazemos para você as palavras do Padre Alberto Maggi-OSM. A reflexão está na página 4. Vale a pena uma leitura atenciosa. Palavras de Francisco Na mesma página 4, nosso querido Papa Francisco no convida a nos perguntarmos: por quê seguimos Jesus? Por amor ou para ter alguma vantagem? “Porque nós somos todos pecadores e sempre existe algo de interesse que tem que ser purificado no seguimento de Jesus. Temos que trabalhar interiormente para segui-lo por causa dele mesmo, por amor. Jesus alude a três atitudes que não são boas para segui-lo ou para buscar a Deus”. Leia a mensagem do Bispo de Roma. Ela tem muito a dizer. Nossa Homenagem "Dom Tomás Balduíno era uma memória viva da pastoral indigenista da Igreja Católica. Ele enriqueceu essa pastoral com a herança dominicana, viva em pessoas como Las Casas, António de Montesinos e Chenu. A pastoral indigenista pós-conciliar foi forjada na resistência à ditadura militar, à falácia do progresso e às promessas da integração sistêmica, escreve Paulo Suess, teólogo, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário - CIMI. Segundo ele, "D. Tomás defendeu os povos indígenas no templo e no pretório. Na trajetória de sua longa e abençoada vida de mais de 90 anos, muitas sementes, que o confessor Balduíno lançou, se multiplicaram nos corações e territórios dos povos indígenas”. Sob o título “Os dois Franciscos”, trazemos para você a última entrevista concedida pelo historiador Jacques Le Goff que faleceu no dia 01 de abril/14. Nela, o historiador fala sobre São Francisco de Assis e os Papa Francisco, apontando aquilo que enxerga como “semelhanças” entre os dois. A entrevista, concedida ao Jornalista Fábio Gambaro, foi publicada no Jornal La República no dia 01 de maio/14. Veja a entrevista na página 8. Testemunho "Digo, aos senhores Bispos, que não é fácil ser leigo. Na nossa frente as portas ficam mais fechadas do que abertas e nem sempre nos estendem a mão, nem sempre nos escutam, nem sempre nos olham no rosto e nem sempre podemos falar. Não queremos alimentar ressentimentos, queremos servir. No movimento de Francisco, nós também queremos sair! Queremos primeirear! Sair enquanto Igreja! Uma Igreja em saída!", testemunha Cesar Kuzma, doutor em Teologia, em depoimento prestado na 52ª Assembleia da CNBB, em Aparecida. Vale a pena a leitura deste testemunho que está na página 9. IPDM - Eventos Na página 10, você encontrara o convite para nosso “Encontro Geral IPDM” que será realizado no próximo dia 24 de Maio, quando teremos entre nós o querido amigo e irmão Dominicano Frei Carlos Josaphat. Neste dia, estaremos meditando sobre os “Princípios da Identidade do IPDM”. Você está convidado e será uma grande alegria recebe-lo em nossa casa. Veja todas as informações na página 10. Ainda nesta página, está nossa Agenda de Reuniões para 2014. A Coordenação Ampliada do IPDM se reúne nos meses ímpares e os Padres, Religiosos, Religiosas e Agentes de Pastoral nos meses pares. Vá at´´e a página 10 e veja os detalhes. Eventos apoiados pelo IPDM Buscando apoiar os Movimentos Sociais, Trabalhos de Pastorais e demais eventos que contribuam com a Construção do Reino, o IPDM abre espaço para divulgação de eventos em todas as regiões onde chega. Se você deseja divulgar algum evento na sua região, envie-nos os dados e o divulgaremos em nosso informativo. Esta divulgação, chamamos de “Agenda Cidadã” acrescentando o nome da região. Neste número, divulgamos a Agenda Cidadã da Zona Leste de São Paulo Veja na página 11 eventos que acontecerão na Zona Leste da Cidade de São Paulo nos meses de Maio, Junho, Julho e Agosto. Com fraternal abraço, desejamos a todos ótima leitura. Equipe de Produção LITURGIA 4º Domingo da Páscoa - 11 de Maio de 2014 At 2, 14. 36–41 22 (23) 1Pd 2, 20-25 Jo 10, 1-10 LITURGIA Padre José Antonio Pagola Nas comunidades cristãs, necessitamos viver uma experiência nova de Jesus reavivando a nossa relação com ele. Coloca-lo decididamente no centro da nossa vida. Passar de um Jesus confessado de forma rotineira a um Jesus acolhido vitalmente. O evangelho de João faz algumas sugestões importantes ao falar da relação das ovelhas com o seu sus, mais humano, mais amigo, mais próximo e salvador que todas as nossas teorias. Esta relação viva com Jesus não nasce em nós de forma automática. Vai-se despertando no nosso interior de forma frágil e humilde. Ao início, é quase só um desejo. Em geral, cresce rodeada de dúvidas, interrogações e resistências. Mas, não sei como, chega um momento em que o contato com Jesus começa a marcar decisivamente a nossa vida. Pastor. O primeiro é “escutar a sua voz” em toda a sua frescura e originalidade. Não a confundir com o respeito às tradições nem com a novidade das modas. Não nos deixarmos distrair nem aturdir por outras vozes estranhas que, mesmo que se escutem no interior da Igreja, não comunicam a sua Boa Nova. Estou convencido de que o futuro da fé entre nós se está a decidir, em boa parte, na consciência de quem nestes momentos se sente cristão. Agora mesmo, a fé se está reavivando ou se vai extinguindo nas nossas paróquias e comunidades, no coração dos sacerdotes e fieis que as formamos. É importante que nos sintamos chamados por Jesus “pelo nosso nome”. Deixar-nos atrair por Ele pessoalmente. Descobrir pouco a pouco, e cada vez com mais alegria, que ninguém responde como Ele às nossas perguntas mais decisivas, aos nossos desejos mais profundos e às nossas necessidades últimas. É decisivo “seguir“ Jesus. A fé cristã não consiste em acreditar em coisas sobre Jesus, mas em acreditar nele: viver confiando na sua pessoa. I nspirar-nos no seu estilo de vida para orientar a nossa própria existência com lucidez e responsabilidade. É vital caminhar tendo Jesus “diante de nós”. Não fazer o percurso da nossa vida solitariamente. Experimentar em algum momento, nem que seja de forma desajeitada, que é possível viver a vida a partir da sua raiz: desde esse Deus que se nos oferece em Je- A descrença começa a penetrar em nós desde logo no momento em que a nossa relação com Jesus perde força, ou fica adormecida pela rotina, a indiferença e a despreocupação. Por isso, o Papa Francisco reconheceu que “necessitamos criar espaços motivadores e curadores… lugares onde regenerar a fé em Jesus”. Temos de escutar a Sua chamada. Em: eclesalia.wordpress.com Padre Gilberto Kasper "Eu sou o bom pastor, diz o Senhor. Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem a mim" (Jo 10,14). O Quarto Domingo do Tempo Pascal é também o Domingo do Bom Pastor, Jornada Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas! É também o Dia das Mães! Somos convidados, neste domingo, a reunir-nos em torno de Jesus, nosso pastor por excelência. Ele doou sua vida por nós e nos conhece a cada um. Sua presença manifesta-se também nos pastores que conduzem a Igreja na paz e na unidade. cionamento pessoal e de verdadeira comunhão com suas ovelhas. Neste itinerário pascal, fizemos com as discípulas e os discípulos do Senhor a experiência de ver o Ressuscitado e de professor a fé nele. A partir deste domingo os seguidores e seguidoras de Jesus vão assumindo a proposta de Jesus, dando continuidade a sua missão. A comunidade é chamada a enfrentar a perseguição e o sofrimento, a dar a sua vida, como fez Jesus. Hoje, na certeza de que o Senhor é o Pastor das nossas vidas e que cuida de nós, somos convidados a renovar a nossa vocação batismal, que nos faz participantes da vida e da missão de Jesus. Cristo ressuscitado é o Bom Pastor que nos conhece pelo nome e nos guia no caminho para Deus. Ele nos abriu a porta da vida através de sua entrega total por amor, que culminou na cruz. É necessário passar por Cristo, pelo seu projeto de libertação, para encontrar a vida em plenitude que procuramos. Nossas opções em favor da vida nos conduzem a Deus por meio de Cristo. O discurso de Pedro provoca conversão nos ouvintes (pastores e ovelhas) que dão sua adesão a Jesus. Pastor é quem passa pela porta que é o próprio Jesus e faz também o povo passar por ela, conduzindo-o ao Pai. Jesus Cristo é o modelo de verdadeiro pastor, pois foi capaz de dar a vida pelos seus. O discurso de Pedro provoca conversão e entrada na comunidade mediante o batismo. Trilhando os passos de Jesus Cristo pastor, superamos a vingança e a violência. O Domingo do Bom Pastor é um grande convite a darmos graças pela abundância de vida que vem a nós por meio do sacrifício de Jesus, nosso pastor. Em sua mesa saciamos nossa fome e sede de felicidade plena. Jesus é o pastor verdadeiro. Ele estabelece um rela- Quem passa através de Jesus e faz o rebanho passar por ele exerce uma autêntica missão pastoral. Somos chamados a testemunhar Jesus Cristo, indo ao encontro das pessoas, conduzindo-as através dele às fontes da vida. Irmãos, o que devemos fazer? é a pergunta que todos nós ouvintes do Evangelho devemos nos fazer. O exemplo de Jesus, o Bom Pastor, nos impele a doar a nossa vida para cuidar e defender o rebanho. Com o salmista, proclamaremos que o Senhor é o nosso pastor, que nada nos falta a seu lado, pois ele nos propicia a plenitude dos bens da salvação. A comunhão com Cristo Pastor, a escuta de sua voz, de sua palavra, deve levar-nos ao amor e à compaixão pelo povo. 'Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheuse de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor' (Mc 6,34). O Senhor que nos conhece profundamente, nos chama pelo nome para fazermos parte do seu rebanho. O Pastor nos reúne em seu amor, em comunidade. Entramos pela Porta que é o próprio Senhor. Escutamos a sua voz que nos fala ao coração. Diferentemente de ladrões e assaltantes, Ele nos indica o caminho da vida, nos encaminha para águas repousantes e restaura as nossas forças. Participamos da mesa que Ele nos prepara, mesa farta, dando-se em alimento: “Isto é o meu corpo dado por vós...”. Partilhando dessa mesa, tomamos parte de seu grande mistério de morte, ressurreição, na certeza de sua vinda final. Restaurados nas mesas, onde o Senhor se oferece como alimento, fortalecidos por Jesus Cristo, renovamos nossa vocação batismal de sermos testemunhas eloquentes do seu Reino no mundo. Capazes de conhecer as pessoas pelo nome, carregá-las no ombro, curar suas feridas, ajudá-las a trilharem caminhos seguros...". Muitos foram os pronunciamentos dos nossos Bispos durante a sua 52ª Assembleia Geral. Todos foram unânimes na esperança por uma Igreja Evangelizadora e Missionária, configurada com Jesus Cristo, o Bom Pastor! Preocupados com a santidade dos pastores a serviço de uma Igreja simples, humilde, servidora e conhecedora de seu Rebanho! Há muitos modos de ser pastor e de evangelizar. Cada um colocando seus dons a serviço do Reino de Deus, conforme lhes foram concedidos gratuitamente. Mas há algo em comum que nunca poderá faltar em nosso pastoreio: Sermos todos configurados com Cristo, o Bom Pastor, que conhece suas ovelhas pelo nome, as ama, as acolhe, as compreende, as aceita como são, as perdoa e as traz de suas periferias existenciais às comunidades eclesiais! Participemos todos da SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES! Além de unirmo-nos a esta belíssima iniciativa da Pastoral de Animação Vocacional, rezemos por Vocações santas, simples, puras, configuradas a Cristo, o Bom Pastor! Não esqueçamos o pronunciamento dos Bispos reunidos em Puebla na III Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe: "As Vocações (santas e não mercenárias) são a resposta de um Deus providente à uma Comunidade orante...". Também rezaremos por todas as Mães, especialmente as que sofrem! Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo. Frei Carlos Mesters Nessa reflexão, vamos meditar sobre a imagem do Bom Pastor. Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em abundância. O pastor era a imagem e o símbolo do líder. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líderes, mas na realidade são ladrões e assaltantes, pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E, às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo. Situando 1. O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si: a) pastor e assaltante (Jo 10,1-5); b) comparação: Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10); 2. João 10,6-10: 2ª Imagem: Jesus é a porteira Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava “entrar pela porteira”. Jesus então explicou: “Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes.” De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, e sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo tomar a iniciativa de não seguir o fulano que se apresenta como pastor, mas não busca a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: “Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente!” Este é o critério. c) comparação: Jesus não é simplesmente um pastor, e sim o Bom Pastor (Jo 10,11-18). O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras de como tirar este tipo de cegueira. 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas. 4. João 10,16-18: A meta aonde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. Aqui transparece a atitude ecumênica das comunidades do Discípulo Amado, de que falamos na Introdução. Alargando A imagem do pastor na Bíblia Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores cresceu na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo foi levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4 -17). 2. Temos aqui outro exemplo de como foi escrito o Evangelho de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10,1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus. Comentando 1. João 10,1-5: 1ª Imagem: entrar pela porteira e não por outro lugar Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: “Quem não entra pela porteira, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas!” Para entender esta comparação, temos que lembrar o seguinte. Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saíam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta. Francisco Orofino Irmã Mercedes Lopes 3. João 10,11-15: 3ª Imagem: doar a vida pelas Ovelhas Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, diz que é o pastor. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, e sim o Bom Pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que ele insiste. Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Assim, para quem quer vencer sua cegueira é importante conferir a própria opinião com a do povo. Era isso que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e chamavam-nas de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Jesus, ao contrário, dizia que no povo há uma percepção infalível para saber quem era o bom pastor. Os fariseus pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor nada me falta!” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3,15; 23,4). Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubavam o povo. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!” (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor, é o cordeiro! Em: www.cebi.org.br Padre Alberto Maggi-OSM Por ter aberto os olhos ao cego de nascença (Jo, 1-41), Jesus foi considerado, pelos chefes religiosos, como um inimigo de Deus, um pecador. Agora é o próprio Jesus que se dirige diretamente a eles. Jesus fala aos fariseus no capítulo 10 do Evangelho de João, descrevendo os pretendidos pastores de Israel com as mesmas características dos lobos. Na verdade, tal como os lobos, estes pastores são ladrões e assaltantes. Ladrões: porque tomaram posse do que não é deles, e assaltantes: porque eles usam a violência para subjugar o povo. Vamos ver, com calma, este importante trecho do evangelista João que contém uma advertência muito severa para aqueles que pretendem ser os pastores do povo. Jesus afirma claramente que todos aqueles que tinham pretendido ser os chefes do povo são bandidos - usaram violência - e são ladrões, porque tomaram posse do rebanho que era de Deus, certamente não deles. Agora aparece Jesus, o pastor legítimo! Esse pastor legítimo se identifica como quem “entra pela porta” e “as ovelhas escutam a sua voz”. Por que ovelhas? O rebanho é imagem do povo. Por que escutam a sua voz? Porque o povo reconhece, nas palavras de Jesus, a resposta de Deus à necessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si. Esta é a força da mensagem de Jesus! Quando escutamos essa voz, percebemos na mensagem de Jesus a resposta à nossa necessidade de plenitude de vida. Jesus inaugura uma nova relação pessoal com cada um. De fato, “Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora”. O termo “conduzir” é o mesmo usado no Antigo Testamento para descrever o Êxodo. O que Jesus faz é uma libertação: tira as ovelhas da cerca, quer dizer, do átrio da instituição religiosa judaica, não para prendê-las em outra cerca, mas para dar-lhes plena liberdade. Na verdade, o evangelista João escreve que Jesus “depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz”. O que mantém a fidelidade dos seguidores de Jesus é a voz de Jesus que é a resposta às necessidades humanas. Portanto, Jesus não fecha as ovelhas em outra cerca, mas doa-lhes a liberdade. Depois, mais do que uma constatação, parece ser um conselho o que Jesus diz: “elas não seguem um estranho, antes fogem dele”. “Fugir”: é este o conselho que Jesus dá. Fugir dos que aparentam serem pastores, mas que, na realidade, são lobos. E, como tais, só trazem destruição! “Fogem deles”. Por quê? “Porque não conhecem a voz dos estranhos”. As ovelhas - o rebanho, o povo - conhecem muito bem a voz de quem as ama, mas não reconhecem a voz daqueles que as querem explorar. São estranhos, por quê? Porque não ouvem a voz do povo, não ficam perto das ovelhas. Portanto, o povo não escuta a voz desses estranhos, porque eles não têm nada a lhes dizer. Pois bem, o evangelista logo faz este comentário: “Jesus contou-lhes esta parábola” - muito, muito clara e muito severa - “mas eles” - os fariseus - “não entenderam o que ele queria dizer”. Por que não entenderam? Porque não são ovelhas de Jesus. Eles não têm nenhum desejo de plenitude de vida. Obviamente, eles não são surdos, mas são teimosos. Eles entendem que, se acolherem a mensagem de Jesus, devem perder todo o seu poder, seu prestígio! E, ao invés de dominar, eles devem colocar-se, como Jesus está fazendo, a serviço dos outros. E isso, as autoridades, os chefes, os fariseus não querem de jeito nenhum. Eles querem exercer o domínio sobre o povo e não servi-lo. E Jesus, vendo que eles não entenderam, reivindica, de forma ainda mais gritante e mais clara: “eu sou a porta das ovelhas”, e afirma: “todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas...” - eis aqui a constatação - “... as ovelhas não os escutaram”. O povo pode ser submetido pelo medo, mas não por escolha. O povo pode ser dominado, pode ser subjugado, mas, quando finalmente ouve a mensagem de liberdade, escuta uma mensagem de amor, eis que o povo renasce! Portanto, Jesus garante, aqui, que o povo nunca os escutou. Eles impuseram a sua mensagem, obrigaram o povo a obedecer, mas não o convenceram. Ao contrário, Jesus não impõe sua mensagem, exatamente porque a Sua palavra convence. Esta é a característica que distingue a mensagem que vem de Deus, daquela que não vem de Deus: a primeira é oferecida, porque é uma mensagem de amor, e amor só pode ser oferecido, nunca imposto. A mensagem da autoridade religiosa, ao invés, é imposta, ela é uma doutrina que é imposta. Por quê? Porque os chefes são os primeiros a não acreditar nos benefícios dela! O que é bom, não tem necessidade de ser imposto! E Jesus continua, afirmando, mais uma vez, ser a porta, uma porta, porém, que não se fecha. Diz Jesus: “Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá...”. Jesus não veio para fechar ninguém numa outra cerca, mas para dar plena liberdade, pois, só onde há plena liberdade há também a dignidade e a plenitude do ser humano. E aqui, o evangelista acrescenta: “... e encontrará pastagem”. Ele usa o termo “pastagem”, que, em grego, é “nomé” que é muito semelhante a “nómos”, que significa "lei". Em Jesus, não encontramos uma doutrina que deve ser observada, mas uma “pastagem”, quer dizer, o amor que alimenta a nossa vida. E, finalmente, se aproximando à conclusão, Jesus repete de novo: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir”. Portanto Jesus associa os pastores aos ladrões, isto é, aos lobos. Aqueles que aparentam serem pastores e que deveriam defender o rebanho dos lobos, na realidade são piores do que os lobos, porque o povo tem medo dos lobos, mas dos pastores tem confiança! E Jesus conclui: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Os chefes do povo tomaram posse das pessoas, levando-as à ruína. De fato, são eles que, em nome de Deus, têm explorado o povo, sacrificando-o às suas próprias ambições, à sua sede de poder, insensíveis aos sacrifícios que impõem e ao sofrimento que causam. Mas agora veio Jesus. A Sua mensagem é a resposta de Deus à necessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si. E, quando nós escutamos esta voz, todas as outras vozes perdem importância! Em: www.studibiblici.it Padre Alberto Maggi-OSM São os últimos momentos que Jesus vive com seus discípulos. Jesus quer dar-lhes certezas e tranquilidade. Quer que eles consigam compreender um paradoxo: isto é, que sua morte não será uma perda para eles, mas um ganho; que sua morte não será uma ausência e sim uma presença ainda mais intensa. Portanto Jesus, que mal tinha terminado de anunciar aos discípulos perturbados a traição de Pedro e que sobre eles estaria para cair uma tremenda tempestade, o próprio Jesus garante que Deus está com Ele. Eis porque Jesus diz: “Tendes fé em Deus: tende fé em mim também”. E, depois, os tranquiliza sobre os efeitos da sua partida e continua dizendo que: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Para entender estas palavras, é preciso deixar-se iluminar pelo versículo 23, quando Jesus dirá: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Não se trata aqui de uma morada perto do Pai, mas da morada do Pai entre nós. Eis aqui a novidade, a grande novidade revelada por Jesus: não há mais necessidade de um santuário onde Deus se manifesta e sim, em cada pessoa que O acolhe, Deus se manifesta! Portanto, o Deus de Jesus è um Deus que pede para ser acolhido a fim de se identificar com o ser humano e dilatar nele a capacidade de amar. Está aqui a morada de Deus! Mas, por que Jesus fala em “muitas moradas”? Porque Deus é Amor: o amor não pode se expressar e se manifestar em uma só forma, mas em muitas formas como múltiplas são as naturezas dos seres humanos e suas situações. Depois Jesus renova o convite à serenidade dizendo que, onde Ele estiver eles também estarão, isto é, na esfera da dimensão divina, na esfera do amor. De repente, Jesus é interrompido por um dos discípulos, Tomé, que, pergunta: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?”. “Para onde vais”: é um verbo que indica um caminho sem volta. Tomé não entende como a morte possa ter efeitos positivos. E Jesus responde com uma afirmação solene, importante: “Eu sou...”, - portanto, reivindica a sua igualdade com Deus - “o Caminho”, isto é, caminho para algo mais, em outras palavras, “caminho” para “a Verdade”. Jesus não afirma de ter a verdade, não diz: “eu possuo a verdade” e sim “Eu Sou a Verdade”. E não pede aos discípulos de possuir a verdade, mas de ser a verdade. A diferença é grande! Quem afirma possuir a verdade, pelo fato de achar de possuí-la, acredita de ser o juiz de todos e condena todos aqueles quem não pensam como ele. Estar na verdade significa estar inseridos no mesmo dinamismo do amor de Deus que identifica o bem do ser humano, como valor absoluto. Estar na verdade significa não separar-se de ninguém, mas ficar ao lado de todos, numa atitude de amor que se transforma em serviço. A verdade è um dinamismo divino que não pode expressar-se com formulas de doutrina, mas somente com uma oferta de amor e comunicação de obras de serviço. E, para terminar, temos: “Eu sou a Vida”. Quem segue a Jesus neste caminho e é verdade como Ele é, chega à Vida indestrutível, à plenitude da vida. E depois Jesus diz aos discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai”. Surpreende o fato que Jesus não diz “vão conhecê-lo no futuro”, mas Jesus afirma: ”desde agora o conheceis e o vistes”. E depois Jesus diz aos discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai”. Surpreende o fato que Jesus não diz “vão conhecê-lo no futuro”, mas Jesus afirma: ”desde agora o conheceis e o vistes”. Quando é que os discípulos viram e conheceram Jesus? No lava- pés. Jesus, que è a manifestação visível de Deus, mostrou quem é Deus: Amor que se faz serviço! Então, quanto mais autêntica for a adesão a Jesus, fazendo da própria vida amor e serviço pelos outros, tanto maior será o conhecimento do Pai. A esta altura, intervém outro discípulo, Filipe. Filipe não cosegue entender como em Jesus possa manifestar-se Deus e, portanto, insiste: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”. E eis aqui a importante revelação de Jesus: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai”. Terminando o prólogo a este evangelho, João tinha feito uma importante declaração: “A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer”. O que significa tudo isso? Significa que, não Jesus é igual a Deus e sim que Deus é igual a Jesus. Em outras palavras, o evangelista nos convida a deixar de lado o que pensamos e sabemos de Deus, para concentrar a nossa atenção sobre Jesus. Tudo o que Jesus faz e diz, tudo isso é Deus! Portanto, todas as ideias, as imagens, os pensamentos, os conhecimentos que temos sobre Deus e que não encontramos em Jesus, devemos eliminá-los, porque são incompletos ou falsos. Jesus fala muito claro: “Quem me viu, viu o Pai”. Quem é esse Pai que se manifesta em Jesus? Amor que se faz serviço, como aconteceu no lava-pés. E Jesus, frente à incredulidade dos discípulos, acrescenta que, se não querem acreditar nas suas palavras, acreditem pelo menos “nas obras”! As obras – e as obras de Jesus são todas ações com as quais Ele comunica e enriquece a vida dos outros – são, portanto, o único critério de credibilidade. E, no final, temos uma fórmula solene - como Amém, Amém - isto é: “Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço”. As obras de Jesus são todas elas comunicações de vida para os outros. Depois Jesus diz - e isso parece incrível - “e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai”. Como è possível fazer ações maiores daquelas que fez Jesus? Jesus não conseguiu dar uma resposta a todas as necessidades da humanidade! Então, é a comunidade dos discípulos que, em nome Dele, tem como único valor absoluto da sua própria existência - único e sagrado - o bem do ser humano: uma comunidade que se coloca neste dinamismo do “ser Verdade”. Portanto, não se trata de ‘ter a verdade’ para julgar os outros, mas de “ser verdade” para se aproximar de todos. Se assim fizer, sem dúvida, será uma comunidade na qual a ação divina vai crescendo numa medida dinâmica, até trasbordar em favor dos outros. Tudo isso vai acontecer porque, diz Jesus: “eu vou para o Pai”. Quer dizer, Ele, junto do Pai, irá colaborar com os discípulos. Portanto Jesus dá esta certeza que a sua morte não será uma ausência, mas uma presença ainda mais intensa e vivificante. Em: www.studibiblici.it Mensagem do papa Francisco extraída das leituras do dia e explicada na homilia da missa celebrada na capela da Casa Santa Marta em 05 de maio de 2014 No evangelho do dia, Jesus repreende a multidão que o procura porque tinha se saciado depois da multiplicação dos pães e dos peixes. O Santo Padre nos convidou a perguntar se seguimos o Senhor por amor ou para ter alguma vantagem. “Porque nós somos todos pecadores e sempre existe algo de interesse que tem que ser purificado no seguimento de Jesus. Temos que trabalhar interiormente para segui-lo por causa dele mesmo, por amor. Jesus alude a três atitudes que não são boas para segui-lo ou para buscar a Deus. A primeira é a vaidade. Em particular, explicou o pontífice, “ela aparece nos dirigentes religiosos que dão esmola ou jejuam para aparecer.” “Eles gostavam de se exibir e se comportavam como verdadeiros pavões! Eram assim. E Jesus diz: ‘Não, não pode ser assim. Não pode. A vaidade não faz bem’. E, algumas vezes, nós fazemos as coisas tentando nos mostrar um pouco, procurando a vaidade. A vaidade é perigosa, porque nos faz cair imediatamente no orgulho, na soberba, e, depois, tudo termina nisso. Eu me pergunto: Como é que eu sigo Jesus? As coisas boas que eu faço, faço escondidas ou gosto que todo o mundo me veja?”. “E também penso em nós, os pastores, porque um pastor que é vaidoso não faz bem ao povo de Deus. Pode ser um sacerdote, um bispo, mas, se ele gosta da vaidade, então não segue Jesus”. “A outra coisa que Jesus repreende em quem o segue é o poder. Alguns seguem Jesus, mas ‘só um pouco’, não com plena consciência, um pouco inconscientemente. Porque eles procuram o poder. O caso mais claro é o de João e Tiago, os filhos de Zebedeu, que pediam a Jesus a graça de ser o primeiroministro e o vice-primeiro-ministro quando chegasse o Reino. E na Igreja há muitos ‘arrivistas’! Há muitos que usam a Igreja para subir… Se é isso que você quer, faça alpinismo: é mais saudável! Mas não venha à Igreja tentar subir! E Jesus repreende esses arrivistas que procuram o poder”. “Só quando vem o Espírito Santo é que os discípulos mudam. Mas o pecado em nossa vida cristã permanece e seria bom nos perguntarmos: Como é que eu sigo Jesus? Só por Ele, até a cruz, ou procuro o poder e uso um pouco a Igreja, a comunidade cristã, a paróquia, a diocese para ter um pouco de poder?”. “A terceira coisa que nos afasta da retidão de intenções é o dinheiro”. “Quem segue Jesus por dinheiro tenta se aproveitar economicamente da paróquia, da diocese, da comunidade cristã, do hospital, do colégio… Pensemos na primeira comunidade cristã, que teve essa tentação: Simão, Ananias e Safira… Essa tentação existiu desde o começo e nós conhecemos tantos bons católicos, bons cristãos, amigos, benfeitores da Igreja, inclusive com condecorações várias… Muitos! Mas, depois, descobrimos que eles fizeram negócios um pouco obscuros: eram verdadeiros especuladores e ganharam muito dinheiro! Eles se apresentavam como benfeitores da Igreja, mas recebiam muito dinheiro e nem sempre era dinheiro limpo”. “Peçamos ao Senhor a graça do Espírito Santo de ir atrás dele com retidão de intenção: só por Ele. Sem vaidade, sem desejos de poder e sem desejos de dinheiro”. Em: www. news.va NOSSA HOMENAGEM Morreu no dia 2 de maio em Goiânia, o bispo emérito da cidade de Goiás, Dom Tomás Balduíno, aos 91 anos de idade. Dom Tomás era uma memória viva da pastoral indigenista da Igreja Católica. Ele enriqueceu essa pastoral com a herança dominicana, viva em pessoas como Las Casas, António de Montesinos e Chenu. A pastoral indigenista pós-conciliar foi forjada na resistência à ditadura militar, à falácia do progresso e às promessas da integração sistêmica. Essa resistência perpassa uma mancha de sangue de testemunhas qualificados na grande tribulação – precursores da páscoa definitiva. Herança Tomás Balduíno era dominicano como Bartolomé de las Casas, Francisco de Vitória e António de Montesinos. Com faro político-pastoral se tornaram defensores intransigentes dos povos indígenas. Mas nem todos os dominicanos são como Las Casas, Vitória e Montesinos. Também inquisidores receberam a sua formação na Ordem dos Pregadores (OP). A pregação do Evangelho pode cegar e iluminar. A ordem religiosa é uma família que, apesar das intervenções virtuais periódicas do fundador e das fontes estudadas no noviciado e relidas, mais tarde, nos retiros espirituais, não garante nada, mas facilita muito. Como na hora da Conquista, também na segunda metade do século XX, a família dominicana foi uma voz profética e inovadora da ação pastoral da Igreja Católica. Nessa fonte, Tomás Balduíno bebeu durante seus estudos na França, onde respirava uma nova teologia, a chamada Nouvelle théologie, decisiva para seu itinerário eclesial posterior. Essa nova teologia tinha fundamentos sólidos no passado, em Tomás de Aquino, xará de nome e confrade dominicano de Tomás Balduíno. A proximidade na defesa dos povos indígenas entre Las Casas e Tomás Balduíno tem uma raiz comum na teologia da Ordem dos Dominicanos. leitura ajuda a teologia a reconhecer os limites dos seus próprios campos. Tomás de Aquino faz, livremente inspirado por Aristóteles, avançar a reflexão teológica, quando começa a distinguir entre o natural e o sobrenatural, entre razão e fé. Como o natural não dispensa a graça (o sobrenatural), também a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa. O direito divino, que tem a sua origem na graça, não suspende o direito humano, que é de ordem natural. Na teologia agostiniana, que era a teologia hegemônica da Idade Média e na Conquista, a natureza pagã era uma natureza destruída pelo pecado original, e, portanto, sem possibilidade de salvação, a não ser, pelo batismo. Na teologia dos dominicanos, explicitado por Las Casas em seu Tratado de “Único modo”, a natureza dos povos indígenas não foi destruída pelo pecado original. Há uma continuidade entre a ordem de criação e de salvação. Tomás Balduíno nunca explicitou esse fundo teológico de sua herança que mais tarde daria a base de sustentação antropológica e teológica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Talvez por causa dos seus interlocutores, que eram índios, lavradores e movimentos sociais, ele se destacou mais por suas análises políticas que por reflexões teológicas. Mesmo nas Assembleias da CNBB, na época ainda realizadas em Itaicí, quando pediu a palavra, se ouviu um staccato político-pastoral certeiro e não o legato de uma fuga bachiana. Noite adentro, quando seus colegas jogavam pôquer ou tomavam uma cervejinha, Tomás, em off, era um articulador incansável e estrategista hábil. Para ele, a teologia tinha que ser prática, política, serva da práxis pastoral. O Vaticano II (1962-1965), que se definiu como concílio pastoral, veio ao seu encontro. Vaticano II Foram três grandes teólogos da família dominicana que se destacaram no Vaticano II e no tempo pós-conciliar: Marie-Dominique Chenu (1895-1990) e seus dois alunos, Yves Congar (1904-1995) e Edward Schillebeeckx (19142009). Chenu e Congar chegaram à porta do Concílio, como a maioria dos teólogos relevantes da época, arrastados na corrente da suspeita e da proibição, condenados ao silêncio e exílio por um “regime de denunciação e de centralismo totalitário”, como escreve Congar em seu diário, um regime “sem justiça e sem misericórdia”. A coragem dos movimentos bíblicos, litúrgicos e pastorais foi – por longos anos pré-conciliares – acompanhada e estimulada pela coragem inovadora e a retidão intelectual de teólogos, como Chenu, que resistiram à perda da percepção da realidade no interior da Igreja. Com seu serviço teológico ao povo de Deus ultrapassaram as fronteiras da academia e do legalismo, e colocaram a sua vida profissional em risco. A reflexão teológica de Chenu, que era medievalista, contribuiu para a teologia indutiva do Concílio que reconheceu a “história”, a “realidade terrestre”, a “autonomia da cultura e ciência” e os “sinais dos tempos” como pilares que deveriam sustentar o conjunto teológicopastoral do evento conciliar. Além da reflexão teológica indutiva focada na história e na sociedade, mais tarde assumida pela “Teologia Política”, de João Batista Metz, e a “Teologia de Libertação”, de Gustavo Gutierrez, Chenu estava, concomitantemente com a produção teológica, envolvido em trabalhos pastorais. Por longos anos foi assistente da Ação Católica e da pastoral operária. Esta presença pastoral, com seu método da “revisão de vida” (ver, julgar, agir), influenciou fortemente seus tratados teológicos. Nos anos pós-conciliares, a Pastoral da América Latina e seus documentos eclesiais se beneficiaram desse método indutivo, desde o papa João XXIII (1958-1963) assumido pelo magistério como um instrumento válido para a análise da realidade (cf. Mater et magistra, 235). O primeiro período da teologia medieval foi a Patrística, que em Santo Agostinho (354-430), com base na filosofia de Platão, teve seu maior expoente. O representante gigante do segundo período, da Escolástica, foi Tomás de Aquino (1225-1274). Como professor em Paris e através dos Árabes, começa a conhecer e introduzir em sua reflexão Aristóteles, até então proibido na cristandade. Com grande simplificação pode-se dizer que Platão é o filósofo das ideias eternas de quem Agostinho se serviu para a construção de sua teologia, predominantemente, dedutiva. Aristóteles é o filósofo do chão concreto da realidade, da ciência e da ética prática. Tomás de Aquino se serviu de Aristóteles para uma teologia de cunho indutivo, articulada com a realidade concreta e palpável. Essa é a teologia que o Vaticano II assumiu, com seus pilares na história, sociedade e realidade político-econômica. A sobriedade missionária do movimento dos padres operários e da Mission de France, o despojamento de um Abbé Pierre (1912-2007), fundador do movimento dos maltrapilhos-construtores de Emaús, já apontaram para a opção pelos pobres e pelos que mais sofrem. Desde o início do século XX se tinha notícia do martírio e da opção corajosa pelos Outros de um Charles de Foucauld (1858- Na conquista das Américas, essas duas correntes marcaram referenciais teológicos opostos que influenciaram diretamente no tratamento dos povos indígenas. Uns se apoiavam, em sua reflexão, no substrato agostiniano da “teologia das sentenças” do século XII, com sua visão teocrática do poder papal e seu olhar pessimista sobre a natureza humana; outros se serviram da posição jusnaturalista elaborada por Tomás de Aquino no século XIII. Na “teologia das sentenças” de Pedro Lombardo, por exemplo, havia certa confusão entre a ordem natural e a sobrenatural. Seguindo a tradição de Santo Agostinho (354-430) nas lutas contra o pelagianismo, que negava o pecado original e a necessidade do batismo das crianças, os sentencialistas atribuem ao pecado original uma influência que quase destrói a natureza humana. Daí provêm as exigências de um contrapeso na graça e no sobrenatural. A minimização do natural inspirou as interpretações teocráticas do poder pontifício, desde os tempos de Gregório VII (1073-1085). Já no século XIII, nas universidades de Paris, Bolonha, Oxford e Salamanca, nasce algo novo. Agora, por influência dos Árabes, Aristóteles é traduzido, e sua 1916) e dos seus seguidores nos mais diversos movimentos espirituais e fundações religiosas. Em 1958, nove anos antes da chegada de Tomás Balduíno como bispo, as Irmãzinhas de Jesus iniciaram sua presença no meio do povo Tapirapé deram à igreja local de Goiás/ GO lições de inculturação. Muitos anos antes do Vaticano II, quando Tomás Balduíno ainda concluía seus estudos teológicos em Saint Maximin (1948-1950), a França era um laboratório pastoral criativo e sua Igreja, que era pobre, antecipava questões pastorais posteriormente articuladas pelos paradigmas da inserção, da inculturação e da opção pelos pobres e Outros. Com a teologia, que assumiu a realidade terrestre inserida na história da salvação e os sinais dos tempos, como sinais de Deus no tempo, no Vaticano II venceram Tomás de Aquino e sua corrente do Direito Natural. O Concílio declarou liberdade e pluralidade religiosas como direitos humanos que foram, antes do Vaticano II, consideradas inaceitáveis ou aceitáveis apenas como realidades de fato, mas não de jure, porque ao “erro” não se deve atribuir legalidade. A proximidade do mundo e dos reais problemas da humanidade, e o reconhecimento da autonomia da realidade terrestre e da pessoa são aprendizados históricos. Permanecem buscas permanentes para escapar da conformação alienante à prosperidade material e da adaptação superficial a modas e ondas, ou ao distanciamento deste mundo em nichos de bem-estar espiritual. Muitas questões que no Concílio pareciam ter encontrado um consenso, voltaram à tona no tempo pós-conciliar, marcado pela euforia pentecostal de pequenos grupos e pelo pessimismo autoritário de certo neoagostinianismo. Novamente, a liberdade religiosa em sua forma de pluralismo religioso é questionada como de João XXIII a uma modernização conservadora norteada pela pergunta: uma “teoria de índole relativista” que se pretende justificar “não apenas de fato, mas também de jure (ou de princípio)”. Num mundo de grandes mudanças, um setor significativo da Igreja Católica corre o risco de reduzir o aggiornamento Santarém), 364 (Cuiabá-Porto Velho) e210 (Perimetral Norte) projetou suas sombras sobre dezenas de povos indígenas na Amazônia. O órgão da política indigenista do Estado, a Fundação Nacional do Índio (Funai), teve a incumbência de garantir que os índios não representassem obstáculo à política desenvolvimentista. O grupo convocado por Ivo Lorscheiter se constituiu em “Conselho”, oficiosamente ligado à CNBB. A ata da primeira reunião desse Conselho, escrita a 23 de abril de 1972, por Dom Geraldo de Proença Sigaud, um dos ferrenhos contestadores do Vaticano II e então bispo de Diamantina (MG), foi assinada por outros 25 participantes, entre eles os bispos Ivo Lorscheiter (secretário-geral da CNBB), Henrique Froehlich (Diamantino, MT), Luís Gomes de Arruda (GuajaráMirim, RO), Eurico Kräutler (Altamira, PA), Pedro Casaldáliga (São Félix, MT), Tomás Balduíno (Goiás, GO), Estêvão Cardoso de Avelar (Marabá, PA) e os missionários Thomaz de Aquino Lisboa e Sílvia Wewering. Foi o nascimento do Cimi, dez anos depois do início do Concílio Vaticano II. Os participantes do primeiro encontro ainda elegeram sete membros como primeiros conselheiros estatutários do Cimi: os padres Adalberto Holanda Pereira, jesuíta; Casimiro Beksta, salesiano; Thomaz de Aquino Lisboa, jesuíta; irmã Sílvia Wewering, das Servas do Espírito Santo e D. Tomás Balduíno Ortiz. Os padres Ângelo Jaime Venturelli, salesiano, e José Vicente César, do Verbo Divino, foram respectivamente eleitos presidente e secretário do Cimi. A presença de D. Tomás Balduíno para a transformação desse grupo heterogêneo numa pastoral profética pró-índio, era essencial. O que facilitou a sua tarefa foi o fato de que na hora da fundação do Conselho Indigenista Missionário(1972), a Igreja latino-americana já tinha feito a sua leitura do Vaticano II com os olhos de Medellín (1968): assumir a realidade dos pobres, presença nessa realidade (inserção), articulação dos sujeitos que vivem nessa realidade, alianças com Igrejas e movimentos fora do País que estava atravessando anos de ditadura militar colada em certa euforia desenvolvimentista na contramão dos povos indígenas no Brasil e na maioria dos países do continente. Tomás Balduíno continuou até hoje como patriarca iluminado, conselheiro e amigo do Cimi. A ruptura com o sistema de acumulação e de injustiça não depende do pastor, mas se torna mais viável com ele. Sua missão é “despertar esperança em meio às situações mais difíceis, porque, se não há esperança para os pobres, não haverá para ninguém” (DAp 395). Virada pastoral Na época da fundação do Cimi, em 1972, a sociedade brasileira e as Igrejas locais não acreditavam na possibilidade de os povos indígenas virem a ter futuro próprio, como povos e nações. Parecia lógico que o caminho indicado para o futuro dos 90 mil (segundo dados do governo militar da época) ou 180 mil índios, segundo o recenseamento do Cimi de então, seria a sua integração aos padrões culturais e jurídicos da sociedade nacional e a sua assimilação étnica e religiosa. A perspectiva de integração dos índios na sociedade classista dispensaria a demarcação de suas terras e a sua proteção específica; a perspectiva de sua conversão dispensaria o diálogo interreligioso e a inculturação. “Como podemo-nos adaptar ao mundo sem transformar nossas estruturas pastorais caducadas”? Ao protelar a “conversão pastoral”, proposta por Aparecida (DAp 365ss), a chamada Nova Evangelização corre o perigo da encenação de uma peça antiga, que precisa e pode ser reescrita. Contexto No oitavo ano da ditadura militar no Brasil, cinco anos depois da extinção do “Serviço de Proteção aos Índios/SPI” por corrupção, sadismo e massacres de tribos inteiras, quatro anos depois de Medellín e do Ato Institucional n. 5, no terceiro ano do terceiro general-presidente, Emílio Garrastazu Médici, no período mais repressivo da história do Brasil, e um ano depois das denúncias do “espírito faraônico das missões”, pelos antropólogos de Barbados I, naquele ano de 1972 quando os Estados Unidos retiram as suas tropas do Vietnam, quando em Estocolmo se realiza a Primeira Conferência do Meio Ambiente, quando o conflito do Oriente Médio alcança os Jogos Olímpicos, em Munique, onde oito palestinos fazem 11 reféns entre os integrantes da comitiva de Israel, exigindo a libertação de 200 Feddayns, presos em Telaviv (11 reféns e cinco palestinos mortos); naquele ano de 1972 quando a Doutrina da Segurança Nacional dos Estados Unidos criou uma insegurança total na América Latina, quando a Transamazônica (BR 230) que vai destruir 29 territórios indígenas, é inaugurada e celebrada como símbolo do desenvolvimento e do “milagre brasileiro”; Os princípios, que desde o início fundamentaram a ação do Cimi e condensaram a “virada pastoral, foram: a) o respeito à alteridade indígena em sua pluralidade étnico-cultural e histórica e a valorização dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas; b) o protagonismo dos povos indígenas sendo o Cimi um aliado nas lutas pela garantia dos seus direitos históricos; c) a opção e o compromisso com a causa indígena dentro de uma perspectiva mais ampla de uma sociedade democrática, justa, solidária, pluriétnica e pluricultural. D. Tomás defendeu esses princípios no templo e no pretório. Acompanhou a história do Cimi marcada por testemunhas qualificadas. Na trajetória de sua longa e abençoada vida de mais de 90 anos, muitas sementes, que o confessor Balduíno lançou, se multiplicaram nos corações e territórios dos povos indígenas. Nenhum inverno político ou eclesiástico conseguiu sufocá-los por baixo de um cobertor de gelo neoliberal ou neoagostiniano. Hoje, somos testemunhas de uma pastoral indigenista que aprendeu que a catequese a serviço da Vida passa pela questão da terra, da cultura e da participação política. Somos testemunhas de uma pastoral que devolveu o protagonismo da causa indígena aos próprios indígenas, sem jamais abandonar a sua causa. naquele ano de 1972 um pequeno grupo de 25 missionários e missionárias, convocados pelo Secretário geral da CNBB, Dom Ivo Lorscheiter, se reúne em Brasília para discutir o projeto de Lei n. 2328 que tramitava na Câmara e dispunha sobre o Estatuto do Índio. Ao convocar esse grupo missionário, pensou-se, na CNBB, criar uma assessoria ligada às bases missionárias que deveria observar a política indigenista do governo e promover o aggiornamento missionário da Igreja Católica. Havia preocupações concretas: as denúncias feitas na Declaração de Barbados I (1971) , a insatisfação dos missionários com a pastoral neocolonial e não específica junto aos povos indígenas, as denúncias sobre matanças de índios. Em 1969, apareceram no exterior notícias sobre o genocídio dos índios no Brasil, inclusive com fotos de índios torturados. A “pacificação” dos CintaLarga ocupou, desde 1969, as manchetes dos jornais. A construção das rodovias BR 230 (Transamazônica), 174 (Manaus-Boa Vista), 163 (Cuiabá- Tomás Balduíno, você foi enviado por Deus para incomodar. Obrigado. Deus seja louvado! ARTIGOS—OPINIÕES Ivone Gebara A multidão de fiéis na Praça de São Pedro foi impressionante no último vinte de Abril. A força do catolicismo reapareceu de novo publicamente em todo seu vigor, particularmente no seu poder de propor aos fiéis vivos sua adesão a alguns mortos como símbolos de um cristianismo/catolicismo bem vivido. João XXIII e João Paulo II foram elevados ao altar e agora são "sujeitos” de veneração do povo católico de todo mundo. Muitas dúvidas e críticas assim como adesões e elogios circularam pelos meios de comunicação social em relação aos nomes indicados. Não há como chegar a um consenso de opiniões dada a pluralidade do "Povo de Deus”. A hierarquia clerical responsável pelas decisões é que julgou as indicações e tomou a decisão final executada pelo papa em missa solene. Não sei se os hierarcas se lembraram das devoções dos mais pobres pouco afeitos a venerar papas, muitas vezes identificados a reis e senhores poderosos. As devoções dos pobres são mais ligadas a Virgem Maria, a Jesus e aos santos mais tradicionais como São Francisco, São José, Santo Expedito que acreditam ser mais capazes de entender seu cotidiano sofrido. As questões que levanto fogem até certo ponto dessa polêmica entre nomes indicados e querem abrir-se a outra problemática. Podemos imitar os santos, os mártires, os heróis, os grandes líderes? Como se faria isso? Seriam eles, depois de mortos, proprietários de qualidades superiores e isentos dos limites de sua própria história? Não estaríamos nós alienando nossa responsabilidade histórica e pessoal de reconhecer que cada um de nós tem que viver sua história e suas opções? Não estaríamos deixando de lado as ações de mulheres e homens na construção de nossa história atual para seguir modelos que embora tenham tido o seu valor não poderão ser imitados? O que imitar neles? E como fazê-lo de fato? As perguntas são existenciais e não abstratas, visto que vão exigir comportamentos pessoais em nossa história atual. Na proposta de imitação como propõem alguns grupos da Igreja Católica certamente não entram considerações mais críticas em relação aos escolhidos para a santidade. Por que não chamar a atenção também dos erros cometidos no passado que não deveriam ser repetidos? Perceberíamos talvez com mais clareza a mistura e a contradição presentes no ser humano e em suas ações. Mas, provavelmente esse procedimento crítico e realista macularia a figura do santo ou do herói e fugiria do esquema de perfeição dualista presente na Igreja. Fugiria igualmente da oposição firmemente mantida pela maioria entre céu e terra, entre Deus e os homens, entre o bem e o mal, entre anjos e demônios. De fato se admite nos ambientes de Igreja que o santo ou o herói não tenham sido perfeitos, mas não se fala em direto do que poderia ter sido evitado ou do que pode parecer criticável em vista do bem comum situado e datado. Os escolhidos para a santidade institucional aparecem como protótipos do bem, da coragem, da justiça de forma que suas fraquezas e covardias não aparecem. Mais uma vez o "homem ideal” ou idealizado assim como "a mulher idealizada” segundo alguns parâmetros estabelecidos se torna modelo para os fiéis. Esse modelo foge do ordinário da vida e é capaz de acentuar sacrifícios inúteis e neuroses de muitos tipos nos fiéis. Conhecemos, além disso, a vida de santos/as que se infligiram torturas e sacrifícios corporais que já não há como imitar. Intuo que muitas vezes estamos pouco conscientes do significado alienante das imitações. Ao imitar alguém deixo de mostrar meus dons pessoais, deixo de lado minha maneira própria de ser, deixo de reconhecer minha capacidade pessoal e, de certa forma me diminuo buscando na pessoa alheia minha realização pessoal. A imitação proposta no catolicismo não é a arte do teatro em que o ator ou a atriz interpretam um romântico apaixonado ou um carrasco ditador e depois voltam a ser atores à espera de novos papéis. A imitação que a Igreja propõe é uma espécie de conformidade a um ideal de vida considerado mais perfeito que outro e por isso digno de ser imitado. Sem dúvida muitos fiéis sabem que certas vivências pessoais e escolhas não podem ser imitadas. Nesse caso, exaltam-se as virtudes que presumidamente o santo/a teria vivido e essas virtudes passam a ser proclamadas porque fortalecem as convicções da instituição religiosa. É interessante notar que a virtude da obediência a um modelo de ser humano que a Igreja considera mais próximo da vontade divina parece ser uma constante nos modelos de santidade. Os santos são, salvo exceções, submissos à Igreja hierárquica e se não foram em vida passam a ser depois de mortos. A vida do santo/a é reinterpretada de forma a servir aos interesses e aos valores defendidos pela instituição. a vida dessa pessoa é digna de imitação. O que motiva algumas pessoas a quererem tornar santo ou santa a uma outra pessoa? Pensariam elas que isso promoveria e acrescentaria valor e glória aos fiéis defuntos? Que razões tem o papado para acolher e decretar sua santidade? Como podem os juízes de uma causa de beatificação ou de santificação julgar que aquele indivíduo foi agradável a Deus? De que Deus se está falando? Que modelo de Deus está em jogo? Que implicações políticas e econômicas têm essas ações que de repente introduzem uma aureola na cabeça de um "morto” e mandam imprimir santinhos para serem vendidos ou distribuídos aos fiéis? Tudo isso sem falar dos extraordinários milagres muitas vezes exigidos como forma de provar a santidade de alguém. Por que não falar que as pessoas e nelas se incluem certamente os que já saíram fisicamente dessa história nos inspiram, nos ajudam a carregar nossos fardos, nos ensinam conforme nossas necessidades. A inspiração parece um fenômeno que indica maior liberdade do que a imitação. Mas, as canonizações não vão por esse caminho. Têm a ver com Canon, com leis que se estabelecem para os fiéis mesmo que se diga que cada um é livre de acolher ou não a vida deste ou daquele santo como seu modelo. Tenho consciência de ter mais perguntas do que respostas e nas perguntas manifesto minha inquietação em relação aos rumos que está tomando o papa Francisco em relação ao lugar das devoções na vida dos católicos. Embora reconheça a qualidade de sua pessoa, de seus discursos e ações em relação aos pobres desse mundo inquieta-me a contradição de sua teologia. E essa contradição, a meu ver, diminui a força de sua palavra, sobretudo quando falamos de justiça nas relações humanas. Às vezes se tem a impressão de que o papa é cativo de um esquema religioso estabelecido e consagrado pelo Vaticano. Por mais que ele tente quebrar as hierarquias e os formalismos com gestos mais simples, em situações como as canonizações, ele se rende a esses procedimentos e se torna publicamente conivente com eles. Será que ainda precisamos de canonizações? Não seriam elas algo em contra a afirmação da liberdade como prerrogativa dos seres humanos? Não reforçariam as hierarquias tão presentes em nosso mundo, hierarquias que excluem que privilegiam e que marcam diferenças sociais e às vezes até ontológicas entre as pessoas? Será que necessitamos cerimônias tão pomposas, com a presença de chefes de estado, embaixadores, reis e príncipes para, na aparência, corroborar tais ações do papa? Sem dúvida muitas pessoas julgam tudo isso um reconhecimento do poder da Igreja e, sobretudo o reconhecimento das virtudes e qualidades dos candidatos a santos e santas. Vive-se ainda na necessidade da adoração de pessoas tanto a nível político, artístico e religioso. Não se trata aqui de negar aos diferentes grupos o direito de constituir um fã clube religioso, mas sim de ajudá-las a desenvolver uma reflexão que as torne mais libertas e responsáveis pelos destinos do mundo e por sua vida pessoal. Mais uma vez somos convidados/as a pensar, a tentar compreender melhor o que nos acontece e o que nos é proposto. A fé não pode ser o esquecimento de nossos valores historicamente situados, ela não pode se reduzir a uma adesão ao projeto do outro por melhor que ela/ele seja. A fé não é algo banal, mas vital. A fé não é escuridão e obediência cega, mas acolhida da vida na sua diversidade de aspectos, acolhida da originalidade de minha pessoa, de meu caminho, de suas luzes e sombras. Mas tudo isso, não nos esqueçamos, habita na diversidade da vida, irredutível a um modelo único, a uma forma única, a uma linguagem única. Creio que é preciso pensar mesmo sabendo que os pensamentos de muitos não influenciam a massa e nem as hierarquias. Não podemos abrir mão da dignidade e da grande aventura de poder pensar e repensar a vida, de senti-la desde lugares e formas diferentes e de assumir a parte que nos cabe em nosso pedaço de chão. Tal postura tem consequências em nossas vidas, em nossas crenças e na relação que mantemos com pessoas e instituições. A vida não nos pede que conformemos nossa própria vida a de outros, mas que deixemos florescer a originalidade que nos constitui regada pela contribuição e inspiração de muitos/as. Outra questão é a de saber que critérios seguir para elevar aos altares e decretar que Em: www.adital.com.br “O toque da espiritualidade incide na acolhida do cotidiano em sua elementar maravilha” FAUSTINO TEIXEIRA A questão da espiritualidade vem ganhando a cada dia uma compreensão mais rica e ampla. Distingue-se claramente da religião. Esta é um “sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas” (Durkheim). Um empreendimento coletivo, envolvendo a presença de uma comunidade moral. A espiritualidade, por sua vez, está relacionado a “qualidades do espírito humano”, como tão bem mostrou Dalai Lama em obra sobre a ética para o novo milênio (1999). Todo ser humano é capaz de desenvolver tais qualidades como o amor, a compaixão, a hospitalidade, a atenção, o cuidado e a delicadeza, sem recorrer necessariamente a um sistema religioso. Não há por que concentrar na religião esse monopólio da espiritualidade. Trata-se de um dado essencial para quem quer se adentrar nesse desafiante campo. A espiritualidade requer, assim, o cultivo de uma dimensão fundamental que trata da interioridade do ser humano, ou seja, de “expansão de vitalidade” e qualidade de vida. A espiritualidade suscita o despertar de energias originárias que estão no rincão mais íntimo do ser humano, e que dizem respeito a ele “de forma última”. O cultivo da espiritualidade, entendida como movimento e caminho para a experiência do Real, exige do sujeito uma dinâmica particular de despojamento e interiorização. Há que romper com um modo habitual e rotineiro de ser e deixar-se tocar pelos apelos da profundidade. Não se trata de uma viagem tranquila, mas de uma “saída” para dentro de si mesmo, e um retornar ao tempo transformado. Para viver a intensidade desta experiência firmam-se algumas disposições precisas, como o exercício do despojamento, humildade e purificação do coração. Há que deslocar o ego de sua centralidade, reconhecendo a dinâmica humana essencial em sua contingência e vulnerabilidade. Animado por tais energias espirituais, o ser humano vem disponibilizado a assumir no tempo um modo de ser distinto, pontuado por um “desaforado amor pelo todo”. Como diz um mestre zen, “se os nossos olhos são novos, todas as coisas revelam-se igualmente novas em cada momento”. A peculiaridade está no exercício do respiro da vida e a atenção desperta para os pequenos sinais do cotidiano. Deixar-se habitar pela atmosfera da espiritualidade é criar um espaço garantido e especial para as fragrâncias da profundidade. Os frutos vão surgindo naturalmente, irrompendo de dentro e atuando nas diversas direções, como bem mostrou Leonardo Boff. É uma paz espiritual que irradia, qualificando as relações e despertando energias secretas: algo que “alimenta o amor, o cuidado, a vontade de acolher e de ser acolhido, de compreender e de ser compreendido, de perdoar e de ser perdoado”. A prática da justiça e do amor ao próximo desabrocham como as flores irrigadas pela chuva, naturalmente, quando suscitadas na experiência fontal da sintonia com o grande Mistério. Em: www.fteixeira-dialogos.blogspot.com.br Frei Betto Primeiro, mataram Amarildo de Souza. Ajudante de pedreiro, pai de família, reputação ilibada, caiu em mãos de policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da favela da Rocinha, no Rio, e desapareceu. Sabe-se, hoje, que sofreu espancamentos até a morte atrás da cabina da Policia Militar, na Rocinha. Seu corpo continua desaparecido. Paira a suspeita de que teria sido triturado em uma caçamba de caminhão de lixo. Agora assassinaram o bailarino Douglas Rafael Pereira, encontrado morto, com um tiro nas costas, na creche da favela Pavão-Pavãozinho, na divisa de Copacabana com Ipanema. Testemunhas viram-no em mãos de policiais militares da UPP local. Favela não é reduto de bandidos nem a Polícia Militar uma corporação de assassinos. Moram em favelas famílias trabalhadoras sem recursos para adquirir um imóvel melhor ou pagar aluguel em áreas urbanizadas, dotadas de saneamento e vias asfaltadas. Há, sim, entre os moradores da comunidade, bandidos e traficantes de drogas, assim como eles também são encontrados em bairros como o Morumbi de São Paulo e a Barra da Tijuca, no Rio, onde residem famílias de alto poder aquisitivo. Nas décadas de 1970-80, a expansão de movimentos populares no Brasil se estendeu para o interior das favelas. Por razões pastorais, morei na de Santa Maria, em Vitória, entre 1974 e 1979. Naqueles cinco anos participei de uma comunidade relativamente bem organizada em torno do Centro Comunitário. No Rio e em São Paulo multiplicavam-se Associações de Moradores. Em fins dos anos 1980 e início da década seguinte, lideranças comunitárias da periferia começaram a ser cooptadas por prefeitos e governadores. Como ocorre hoje com a UNE e as centrais sindicais, as entidades comunitárias perderam credibilidade na medida em que se transformaram em agentes do poder público junto à população, quando deveriam atuar na direção inversa. A acefalia abriu espaço ao narcotráfico, que passou a monitorar favelas e bairros da periferia. Na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social, assegurando tratamento de saúde, bolsas de estudos, transporte e crédito aos desfavorecidos. Por sua vez a PM, um resquício da ditadura, tornou-se, no Rio e em São Paulo, o avatar na guerra contra o narcotráfico. A ação preventiva deu lugar à mera ação repressiva. Sem preparo pedagógico e psicológico, policiais militares encaram moradores de favelas como o governo dos EUA jovens muçulmanos: todos são suspeitos até prova em contrário. Como declarou um amigo e vizinho de Douglas, os PM tratam os moradores da favela com arrogância. Muitos não admitem que a pessoa abordada mire em seus olhos. Sentem prazer sádico em ver o cidadão humilhado, de cabeça baixa, suplicando por clemência. Achacam o comerciante local, bebem e comem de graça em bares e lanchonetes da comunidade, recebem propinas do narcotráfico para fazer vista grossa frente ao crime organizado. O governo do PMDB no Rio, com apoio do PT, acreditou ter inventado a roda ao instalar UPPs em áreas de conflitos. Cometeu duplo erro: por não fazer os serviços públicos acompanhar a entrada de policiais nas comunidades e por não capacitar os integrantes das UPPs. A ação repressiva não veio casada com a ação educativa. Crianças e jovens continuaram sem escolas de qualidade, oficinas de arte, áreas de lazer e esportes. E por vestirem uma farda e portarem armas, PMs se arvoram em senhores acima do bem e do mal. Revistam um trabalhador como um senhor de engenho tratava um escravo em tempos coloniais. O estranho é que muitos policiais, moradores em favelas, não se reconhecem em seus amigos de infância e vizinhos, e agem como se não fossem um deles. Amarildo e Douglas, como tantos outros anônimos, foram sacrificados pela prepotência. Quem será a próxima vítima? Amarildo e Douglas são mortos insepultos. Seus sacrifícios clamam por um Estado que efetivamente reduza a desigualdade social, construa mais escolas que prisões, incuta nos policiais o sagrado respeito aos direitos humanos, e puna com rigor bandidos de colarinho branco e assassinos fardados. Se até hoje o Estado brasileiro não obrigou as Forças Armadas a abrir os arquivos da ditadura nem puniu os torturadores, não é de se estranhar que policiais se sintam no direito de ignorar a lei e a cidadania, para agir como se fossem apenas UPPs – Unidades de Policiais Pervertidos. Em: www.adital.com.br < E N T R E V I S T A > Última entrevista de Jacques Le Goff Como foi que o senhor se ocupou de São Francisco? É um interesse que eu cultivo há anos, desde a primeira vez que eu vi Assis no pós-guerra. Eu era um jovem historiador atraído pela Itália, um país onde eu estivera várias vezes, até porque a família da minha mãe veio da região de Imperia. O que o impressionou em Assis? Acima de tudo, a topografia dos lugares. Para mim, a ligação entre a história e a geografia sempre foi essencial, e em Assis a história social e espiritual de Francisco se expressavam geograficamente. Por um lado, a colina com a cidade que representava a vida comercial e política da época. Depois, a solidão e o afastamento da ermida de Cárceres, símbolo da nova forma de solidão monástica proposta pelo franciscanismo. Finalmente, a natureza que circunda a igreja de São Damião, o lugar da nova ecologia espiritual de São Francisco. Em suma, diante desses lugares, pareceu-me ver uma encarnação particularmente evidente em um movimento histórico. Qual era a sua relação com a religião? Eu comecei a me interessar pelo franciscanismo no momento em que eu me afastava definitivamente da religião católica. Quando jovem, eu recebera uma educação religiosa. Minha mãe, segundo a tradição italiana, era muito católica e devota. Meu pai, ao invés, era um filho do "affaire Dreyfus", portanto secular e anticlerical. Apesar de tal diferença, os meus pais eram muito unidos, e a religião nunca foi um assunto de disputa. A sua formação é o resultado dessas duas tradições? Sim, embora durante a juventude tenha prevalecido a influência da minha mãe. Depois, porém, eu me afastei progressivamente da fé. Quando cheguei em Assis, olhei para São Francisco com os olhos do historiador e não do crente. Interessavam me acima de tudo as suas ações e as suas escolhas, mais do que ele podia representar no plano religioso. Para o senhor, qual é o aspecto central da figura de São Francisco? A modernidade. Diante da nova sociedade em mutação, ele identifica claramente o problema da riqueza e das desigualdades. Tal consciência o levou a cuidar da pobreza. Por outro lado, se o atual papa escolheu o seu nome pela primeira vez na história da Igreja, é precisamente por causa de tal modernidade, em cujo rastro ele se inscreve. E se há um elemento comum a São Francisco e ao Papa Bergoglio, é justamente a luta contra o dinheiro e a defesa dos pobres. Duas épocas diferentes, mas uma mesma preocupação? No século XIII, para satisfazer as necessidades da economia e, em particular, do comércio, o uso do dinheiro tornou-se cada vez mais importante. Essa evolução, porém, produziu alguns excessos contra os quais São Francisco luta. Ainda hoje assistimos a uma revisão das atitudes em relação ao dinheiro, só que não se trata mais de uma reação a uma novidade, como no século XIII, mas sim de uma reação a uma crise, a que abalou a economia do início do século XXI. O Papa Francisco é o papa de crise. Provavelmente uma parte dos cardeais que o elegeram viram nele o homem capaz de ajudar a Igreja e a sociedade a superar essa fase do mundo capitalista. A crítica da riqueza é acompanhada pela necessidade de novas formas de espiritualidade, a serem contrapostas ao materialismo, filho do dinheiro? Certamente. No século XIII, isso é particularmente evidente. São Francisco prega a necessidade do retorno ao Evangelho, em cujo interior encontram-se as bases para combater os excessos da riqueza. Basta pensar na célebre frase: "É mais fácil um camelo passar pelo olho de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus". A espiritualidade contemporânea é menos fácil de decifrar. Hoje, ao lado do fascínio do dinheiro sempre muito forte, manifesta-se uma suspeita crescente em relação à riqueza e às suas manifestações. Daí uma demanda de espiritualidade, que, porém, talvez, não tem muito a ver com a espiritualidade cristã. Em todo o caso, a modernidade do Papa Francisco, assim como a do santo de Assis, nasce da vontade de lutar contra a materialização da sociedade, do espírito e das religiões, retomando, ao mesmo tempo, a tradição dos Evangelhos, para colocá-la novamente no centro da reflexão e da prática do mundo católico. O Evangelho das origens em oposição aos Padres da Igreja? Em parte, é isso. Mas também é preciso ressaltar que, ao contrário de todas as heresias que surgiram entre os séculos XII e XIII, Francisco permaneceu dentro da Igreja, porque sentia a necessidade dos sacramentos. Precisamente porque se trata de uma modernização que é também um retorno às origens, nele havia uma vontade de renovação, mas sem romper com as instituições. Assim como me parece que o pontífice está fazendo. Que outro aspecto da modernidade de São Francisco parece-lhe particularmente importante? Parece-me que a temática da ecologia pode falar de forma significativa para o nosso tempo. A ecologia implica a necessidade de espiritualidade não necessariamente ligada a uma religião. Pode, portanto, ser compartilhada por todos. Quais são as características da preocupação ecológica de São Francisco? Se olharmos para a forma como o santo de Assis se expressa e como ele constrói o franciscanismo, notamos que ele se distancia do maior movimento social do seu tempo, isto é, o desenvolvimento das cidades. São Francisco contrapõe a ele a natureza e a estrada, já que promove a pregação "a caminho". Além disso, se há uma obra literária que podemos considerar como ecologista é justamente o Cântico das Criaturas. A preocupação pela natureza é um traço importante da sua pregação, embora, por enquanto, parece-me que o Papa Francisco não o ressaltou particularmente. Talvez porque seja uma temática menos sentida naquele mundo da América Latina de onde ele provém. Em: www.ihu.unisinos.br < E S P E C I A L > Depoimento prestado por Cezar Kuzma na 52ª Assembleia da CNBB, em Aparecida, no dia 01 -05-2014 1. A importância da CNBB falar sobre este tema A CNBB sempre foi referência por estar na vanguarda e por aplicar nas suas ações e diretrizes as grandes novidades conciliares, fortalecendo o serviço da Igreja ao mundo, sendo sinal, um sinal realizador. Portanto, falar sobre os Leigos, dedicar uma Assembleia e um ano a esta vocação (até mesmo mais um documento) é, na verdade, reconhecer aqueles e aquelas que estão em maior número no corpo eclesial (a maioria) e que não querem (e não devem) mais ser tratados de maneira passiva, como aqueles que sempre ouvem e recebem, ou como o povo conquistado... Os Leigos de hoje, apontamos aqui todos os que assumem verdadeiramente a sua vocação e missão, querem ser verdadeiros discípulos missionários, querem (e devem) ser tratados naquilo que o batismo lhes garante por direito, eles querem ser sujeitos eclesiais. Podemos dizer que eles têm o “direito” de ter “dever”, e este dever é um serviço colocado para a edificação da Igreja e para o serviço do Reino, um serviço no mundo. Os Leigos querem exercer a sua autonomia, garantida pelo Vaticano II e que reflete uma maturidade eclesial, exigida a toda a Igreja. Sabemos que muitos são os desafios e grandes são os contextos, tanto sociais quanto eclesiais. Mas nos alegra e nos encoraja saber que os Bispos do Brasil, em comunhão com toda a Igreja, estão decididos em seguir este caminho. Parabéns! E Coragem! Nas palavras de Francisco: “Ousem e primeireem!”. Precisamos disso! 2. Quem sou eu e qual é o meu objetivo aqui Meu nome é Cesar Kuzma, sou leigo, melhor dizendo, um cristão-leigo. Tenho 37 anos de idade, sou casado há 11 anos e minha esposa chama-se Larissa, ela é Assistente Social. Nós temos dois filhos: a Julia, que tem 2 anos e 6 meses, e o Daniel, de apenas 11 meses. Digo a vocês que a família é o que temos de mais precioso e, também, é o que temos de mais sensível, pois tudo a atinge e nela devemos ser sempre zeladores, cuidadores da vida que nos foi confiada e que é a nossa missão, mas ao mesmo tempo devemos ser promotores da justiça e da dignidade para todos. A vida familiar hoje nos coloca novos desafios e nos faz pensar, de maneira aberta e conscienciosa o novo papel da mulher, o novo papel do homem, a nova condição dos filhos, e a situação de todos os que da família fazem parte e que dela se aproximam. Se a sociedade hoje é plural, esta noção obriga a família, enquanto Igreja doméstica, ao exercício da acolhida, do respeito e da promoção humana; sem reducionismos, sem fundamentalismos ou extremismos. O exercício do Amor, que sacramenta esta união e condição eclesial, nos abre a esta perspectiva. Minha trajetória eclesial começa por influência de minha mãe, uma mulher guerreira, leiga engajada e comprometida, líder de pastorais e de comunidades eclesiais de base. Uma mulher que sempre se colocou em serviço e sempre nos ensinou a servir, a colocar-se a caminho, em marcha, sem aparecer, mas na simplicidade e no testemunho. Fui membro da Pastoral de Juventude, onde iniciei a minha caminhada, expressão da Igreja a qual sou bastante simpático e é um berço de bons cristãos e de boas vocações, autênticas e proféticas com a causa do Reino. Os ensinamentos de minha mãe e a experiência de Pastoral me levaram a outros grupos, onde pude aprender e dar um pouco mais de mim mesmo. Isso me levou às comunidades, às ações pastorais e sociais, às palestras e assessorias a grupos de jovens, de casais e de pastoral social e cultural. Tenho orgulho do caminho que fiz como leigo e digo que não saberia ser Igreja de outra maneira. Acho sublime, e me encanta saber que a condição batismal, muito bem descrita na Lumen Gentium nos garante esta plenitude. Vejo no ser leigo algo peculiar, que o mantém aberto ao horizonte do Reino proclamado por Jesus, que também era leigo, e por ser leigo estava inserido no contexto de seu tempo e foi em seu tempo, e para os seus, um autêntico testemunho; trouxe a todos o novo rosto de Deus, um Deus próximo e solidário, um Deus que se despoja para nos atingir, que vem até nós e que nos ama, um Deus que é Amor. Assim é o Leigo, é alguém que está no mundo, que se despoja para estar nele, que é rosto da Igreja no mundo e o rosto do mundo na Igreja, como atestou a Conferência de Puebla, e Aparecida repetiu e reafirmou. De minha mãe, já falecida (jovem aos 58 anos e praticamente nos meus braços), aprendi a seguinte lição: 1) Caminhar com Cristo; 2) surpreender-se por Cristo; 3) e, o continuar a obra de Cristo, o Reino de Deus. Para ela, isso se fazia servindo. Esta experiência comunitária e de pastoral me levou à Teologia. E fiz este caminho por influência de Clodovis Boff, a quem tenho muito estima e respeito. A graduação me levou à pós, ao mestrado e ao doutorado. Atuei como professor da PUC do Paraná por 7 anos, sendo 5 anos como diretor. E hoje desembarco no Rio de Janei- ro, também na PUC, para exercer ali um ministério e uma pastoral. É a Teologia a serviço da Igreja, um serviço no discernimento crítico de nossa vocação e missão. 3. Algumas questões que nos tocam enquanto leigos e que pude vivenciar, mesmo com pouca idade A questão do clericalismo. O Papa Francisco tem falado insistentemente sobre isso, falou aqui no Rio, tem falado em suas homilias e deixou registrado na Exortação Evangelii Gaudium. I sso não nos é novidade, pois há tempos já se fala sobre este assunto, mas algo precisa ser feito. O problema do clericalismo é que ele nos leva a ver a Igreja apenas por um lado, não se vê o todo e facilmente se cai na esfera do poder, não do serviço. Isso aparece em atitudes do clero, mas também nos leigos, quando falta maturidade e a experiência pastoral parece turva. Tal questão dificulta o exercício da vocação laical, pois impede o seu desenvolvimento, retira a sua autonomia e não implica no respeito e na comunhão, não gera fraternidade. A relação entre leigos e hierarquia. É necessário dizer que há bons frutos desta relação e há bons caminhos percorridos, mas isso não é uma regra. Em algumas situações, notamos que o contato é áspero. Vejo isso muito mais como um efeito cultural do que intencional. Chego a dizer que o clero, em parte, acostumou-se a viver independente do leigo, ou a tê-lo em seu domínio; já o leigo, por sua vez e em parte, acostumou-se por ficar dependente do clero, por ser mais cômodo, talvez, o que não gera inquietação e compromisso. A falha está nos dois lados e apenas uma maturidade de ambas as vocações pode mudar esse quadro. O trabalho do leigo na Igreja. O que é? O que se quer dele? Sempre fui levado a trabalhar na Igreja pela experiência e vivência de minha mãe. Vi a Igreja como uma extensão de minha casa, e a minha casa sempre foi uma extensão da Igreja, sempre presenciei isso, principalmente pelas inúmeras atividades que minha mãe exercia em sua comunidade. Mas acompanhando de perto, vem a nós a pergunta: “a quem servimos com o nosso trabalho?”. “Como somos vistos e de que maneira o nosso trabalho, como um serviço eclesial/missionário/pastoral é importante?”. Falta aqui uma intencionalidade mais clara por parte da instituição e também por parte dos leigos, que atuam de coração aberto, livres e de boa vontade, sempre querendo agradar. Falte, talvez, um reconhecimento, em vários níveis. É importante deixar claro que o seu trabalho não é um plus a mais, não é uma extensão ou um apoio, não é apenas suprimir uma falta... O seu trabalho é um apostolado, pois é o próprio Cristo que o chama e o garante em sua missão e o leva ao bom exercício da mesma, através do seu Espírito. O Concílio Vaticano II afirma que os Leigos não estão sós e que sua missão não é em vão, maneira como termina o Decreto. A questão ministerial. É o que nos leva a uma questão urgente e importante que, penso eu, deve ser tocada por esta Assembleia, não apenas nesta ocasião, mas em outras, e cada vez de modo mais profundo. O que entendemos e o que queremos entender por ministério? Aproveito aqui a presença do teólogo Bruno Forte que muito tem se dedicado a isso. Faz-se necessário ampliar a compreensão que temos de ministério, pois o mesmo está muito focado na sacramentalidade e no ministro ordenado, e não se completa na condição do trabalho e do serviço de toda a Igreja. Ou seja, a quem se destina e a quê? Se focarmos o ministério apenas, ou com um reforço maior, na sacramentalidade, tornamos a comunidade refém de parte do clero, ou mesmo infantilizada na fé; e esta não é a intenção que se quer para os ministros ordenados. Com isso, a Igreja não atinge a sua identidade missionária, para a qual convoca todos os batizados, cada membro do seu corpo, cada qual com seu dom e carisma, e é o mesmo Espírito que sustenta a todos e todos corroboram para a edificação da Igreja e para o crescimento de todos. Faço lembrar que o documento 62, que já trabalhou a questão do laicato, e diga-se bem, de maneira profunda, já aborda a questão da ministerialidade, chegando até a ousar. Penso que as necessidades de nossas comunidades e de nossas periferias, que no Brasil são longínquas, exigem de nós algo mais ousado. O contexto eclesial que irrompeu com o Papa Francisco nos provoca a esta questão. A questão da formação, sobretudo, a teológica. Para este momento gostaria de trazer um pouco da minha experiência de universidade e de gestão de curso de teologia. É um fato que os cursos de Teologia não são destinados para uma vocação específica. A formação e o entendimento teológico são necessidades de toda a Igreja que busca entender o que crê; e, entendendo, tem a capacidade de discernir e, por isso, pode servir mais e melhor. No entanto, é uma realidade que por muito tempo se deu uma importância maior para a formação teológica dos seminaristas e religiosos e se deixou de lado a formação teológica dos leigos; ou quando era oferecida, não tinha o mesmo frescor e não abordava os mesmos conteúdos, pelo menos não em totalidade ou em profundidade. Isso mudou com os anos, e hoje, principalmente pelo bom desenvolvimento da formação catequética e pelo au- mento (e de qualidade!) dos cursos de Teologia no Brasil, sobretudo os que são reconhecidos pelo MEC, temos um número grande (talvez até maior) de leigos que buscam a formação teológica. Vejo isso como louvável, pois o interesse pelo qual buscam não é o de uma obrigatoriedade, como um passo necessário para ordenação ou votos religiosos, mas o entendimento, o amor a Cristo e à Igreja, o serviço. Tenho acompanhado muitos leigos entrarem em cursos de graduação trazendo para estes a riqueza de suas vidas, de suas experiências e de sua outra formação. Fazem da Teologia um espaço público e de diálogo, não de respostas prontas; e neste espaço eles a colocam na prática e no serviço. Contudo, nem tudo são flores neste jardim... As dificuldades que os leigos enfrentam são maiores e mais graves, pois não recebem apoio institucional, não recebem incentivos e ajudas financeiras de suas comunidades e dioceses (salvo algumas exceções), precisam acomodar os estudos com os afazeres do trabalho (em horários difíceis) e com a guarda familiar, algumas vezes precisam pedir tutela (declarações) do bispo ou do pároco para poder fazer este curso, o que tira a sua autonomia; e muitas vezes, não são privilegiados com bolsas em instituições católicas, como acontece com os seminaristas, o que não é apenas uma falta apenas para com estes cristãos comprometidos, mas com toda a Igreja que necessita “urgentemente” de formação, ressalto aqui uma formação que seja aberta e capaz de dialogar, nunca, jamais de enfrentamento e de fechamento. Continuando... Eu enfrentei este problema quando dirigi o curso da PUC de Curitiba. Tínhamos um excelente curso, mas pouquíssimos alunos. Na ocasião, em 2012, conversei com Dom Moacyr José Vitti, conversei com a Pastoral da Arquidiocese e conversei com a Reitoria e com o Provincial dos Irmãos Maristas (que administram a PUC). Consegui convencê-los da importância eclesial deste curso e de como estava ligado à missão institucional. Resultado: fechamos numa bolsa de quase 90% para todos os alunos, deixando a mensalidade em R$ 150,00, em Curitiba e em Londrina. Isso para todos: leigos, religiosos, seminaristas, ricos ou pobres, e também a nossos irmãos protestantes, a todos. Resultado: abriram-se turmas cheias em Curitiba e em Londrina, e isso se repetiu no ano seguinte. E mais, quase 80% são leigos e leigas. Este exemplo poderia ser repetido em outros lugares, ou se poderia ver mais exemplos parecidos e criar novas perspectivas. É certo que o lado financeiro não garante o todo, mas alguém tem que puxar este braço e oferecer, e quem pode mais, ajudar quem não pode tanto. Ainda sobre a formação: falo por experiência na gestão do curso de Teologia. Eu entendo as razões que no passado se levou a separar a formação seminarística da formação laical, em alguns casos, até da feminina. Todavia, em vista da questão do mundo de hoje e da necessidade de se fortalecer a dimensão de Povo de Deus na Igreja, isso não se justificaria mais. Seria um avanço muito grande se pudéssemos ter em uma mesma sala leigos, religiosos e seminaristas. Isso engrandeceria muito. Precisaria, evidentemente, respeitar o espaço de cada vocação e favorecer também (e isso nos falta!) aspectos e disciplinas teológicas que favoreçam aquilo que é específico da vocação laical, a sua atuação no mundo secular. Ressalto aqui, que a formação universitária não é a única forma de se buscar conhecimento e aprofundamento da fé. Faz sentido e é também urgente fomentar a formação em vários níveis, também pastoral e popular, na experiência e na mística, em cada pastoral e em suas especificidades, de modo que o entendimento do “ser” e do “fazer” cristão se tornem uma realidade. A Igreja ganharia muito se acolhesse também a sabedoria de muitos leigos e leigas, testemunhas vivas do Evangelho e que marcam a vida de pessoas e mais pessoas. Tive isso com a minha mãe. 4. Para finalizar: Digo a vocês que os leigos querem servir, e precisamos ajudá-los a isso, para que sejam verdadeiros sujeitos eclesiais, que atuem como luz do mundo e sal da terra. Os leigos não querem ocupar um espaço que não lhes pertence; eles querem ocupar um espaço que corresponde a sua vocação e missão, a fim de que possam exercêla e santificar-se, sendo testemunhas do Reino no mundo, com autenticidade e coerência, no serviço. Digo, aos senhores Bispos, que não é fácil ser leigo. Na nossa frente as portas ficam mais fechadas do que abertas e nem sempre nos estendem a mão, nem sempre nos escutam, nem sempre nos olham no rosto e nem sempre podemos falar. Por isso, agradecemos esta oportunidade e de antemão agradecemos os frutos desta Assembleia. Não queremos alimentar ressentimentos, queremos servir. No movimento de Francisco, nós também queremos sair! Queremos primeirear! Sair enquanto Igreja! Uma Igreja em saída! Que o Espírito da comunhão favoreça o nosso entendimento e nos leve a servir, como Igreja, como Povo, como Povo de Deus. Em: www.ihu.unisinos.br Com o Dominicano, Doutor em Teologia, Escritor e Professor Emérito da Universidade de Friburgo (Lc 24, 29) Av. Maria Luiza Americano, 1500 —Cidade Líder—São Paulo—SP Maiores informações podem ser obtidas com: Irmã Aline: [email protected] Rafaela: [email protected] - Eduardo: [email protected] Professor Waldir: [email protected] C O O R D E N A Ç Ã O A M P L I A DA A Coordenação Ampliada do IPDM reunir -se-á com todos os seus membros às 20h00 de todas as Terceiras Terças-Feiras dos meses ímpares ou em caráter extraordinário quando for necessário. A agenda para o ano de 2014 obedecerá as seguintes datas: 20 de Maio - 22 de Julho - 16 de Setembro - 18 de Novembro As reuniões da Coordenação Ampliada serão realizadas na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Guilhermina Praça Porto Ferreira, 48 - Próximo ao Metro Guilhermina - Esperança Nossas reuniões são abertas e todos os que desejarem dela participar serão muito bem vindos. PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS - AGENTES DE PASTORAL As reuniões com Padres, Religiosos, Religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas sempre às 9h30 das últimas Sextas-Feiras dos meses pares ou em caráter extraordinário quando se fizer necessário. Durante o ano de 2014, as reuniões se darão nas seguintes datas: 27 de Junho - 29 de Agosto - 31 de Outubro As reuniões dom Padres, Religiosos, Religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas na Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera Nas dependências do Centro Itaquerense de Famílias Amigas—CIFA Rua Flores do Piauí, 182 - Centro de Itaquera COORDENÇÃO AMPLIADA PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS - AGENTES DE PASTORAL Reunião Unificada e Confraternização no dia 02 de Dezembro Maiores informações em breve. Quem é Jesus de Nazaré: «Um profeta poderoso em ação e palavras, diante de Deus e de todo o povo". (Lc 24,19) Dia: 14 de Maio de 2014 - Quarta-Feira às 18h30 Reunião sobre a Antiga Fábrica da Matarazzo COM GRUPO DE MEMÓRIA NA ZONA LESTE Local: Salão da Igreja São Francisco de Assis Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo Objetivo: Recuperar esse espaço de mais de 220.000 m2, para gerar empregos, moradia e espaço cultural... O Arquiteto Ruy Ohtake apresentará proposta para utilização do espaço. Maiores Informações com Luis: 97194-4426 Dia: 20 de Maio de 2014 - Terça-Feira às 19h30 Reunião sobre Políticas Culturais para a Zona Leste Local: Salão da Igreja São Francisco de Assis - Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo Maiores informações com Luis: 97194-4426 ou Tião Soares: 97995-5230 Quantos pontos de Cultura queremos na Zona Leste? Vamos conquistar juntos! Dia: 28 de Maio de 2014 - Quarta-Feira às 14h00 Reunião dos Gr upos de Terceira Idade da Zona Leste Local: CRI de São Miguel Paulista - Em Frente a Praça do Forró - São Miguel Paulista Maiores informações com Maria do Carmo: 2943-2277 Dia: 05 de Junho de 2014 - Quinta-Feira às 9h00 Reunião pelas Urgentes Melhorias na Segurança Pública Local: Casa da Terceira Idade Tereza Bugolin - Rua Primavera da Vida, 1-B - Ermelino Matarazzo Ao lado da Igreja São Francisco de Assis As mudanças sempre vêm do Povo consciente, organizado e participativo. Dia: 10 de Junho de 2014 - Terça-Feira às 9h00 Reunião pelas Melhorias na Saúde da Zona Leste e entrega das Cadeiras de Rodas Motorizadas Local: Salão da Igreja São Francisco de Assis - Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo Só há vitória com luta e perseverança. Vamos lutar juntos! Dia: 13 de Junho de 2014 - Sexta-Feira às 19h00 Grande Ato pela Implantação da Universidade Federal da Zona Leste Local: Salão da Igreja São Francisco de Assis - Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo Depois de 7 anos de lutas não podemos ficar de braços cruzados. Tudo parou! Por que parou? Só temos um caminho: PRESSIONAR 24 HORAS POR DIA. Só peixe morto desce a correnteza. Governo é como feijão só funciona na pressão. Divulgue esta luta pela UNIVERSIDADE FEDERAL DA ZL e venha participar. Ela é também é sua. Maiores informações com Luis: 97194-4426 Dia: 09 de Agosto de 2014 - Sábado às 9h30 2º Seminário do Patrimônio Histórico e Cultural da Zoda Leste Local: Centro Cultural Penha—Teatro Martins Penna Urgente Recuperação do Patrimônio Histórico da Zona Leste -Projetos, Custos—Prazos e Soluções Sítio Mirim - Fazenda Biacica - Capela da Penha - Fábrica Matarazzo Vamos lutar juntos pela preservação do nosso Patrimônio Histórico. Não somos um povo sem História. Maiores informações com Danilo: 96924-5693 / Tião Soares: 97995-5230 / Patrícia e Júlio