Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão
de Pequenas Empresas - 2012
O Fracasso Construtivo: Uma Análise sob o ponto
de vista das Competências Empreendedoras
Rodrigo Ventura de Oliveira
UFSC
[email protected]
Alvaro Guillermo Rojas Lezana
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
[email protected]
Florianópolis - Março/2012
Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo
e Gestão de Pequenas Empresas - 2012
O FRACASSO CONSTRUTIVO – UMA ANÁLISE SOB O PONTO DE VISTA DAS
COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
Resumo
De acordo com o estudo do empreendedorismo e da dinâmica econômica é possível afirmar
que o projeto, a criação e o desenvolvimento de empreendimentos inovadores são em si
atividades vitais para o desenvolvimento econômico de determinada região. Porém,
estatísticas mostram que o sucesso nessas atividades é um fato menos freqüente do que o
fracasso. Partindo da premissa que todo indivíduo que almeja ter sucesso em um novo
empreendimento deve estar preparado para gerenciar o fracasso, procurou-se identificar
competências que auxiliam empreendedores a superar e aprender com experiências mal
sucedidas. Tal missão se caracteriza como um processo denominado fracasso construtivo.
Através de uma revisão dos principais autores que trataram da importância do
empreendedorismo inovador, das competências humanas e empreendedoras, bem como dos
estudos mais recentes sobre aprendizado a partir do fracasso foi possível identificar
competências que auxiliam empreendedores a superar e aprender com experiências mal
sucedidas. Foram utilizadas duas pesquisas sobre causas da mortalidade de micro e pequenas
empresas que levaram a um conjunto de competências-chave que podem favorecer o
aprendizado a partir de experiências de fracasso.
Palavras-chave: empreendedorismo, competências do empreendedor, fracasso construtivo
1. Introdução
A identificação dos padrões que levam as organizações ao sucesso sempre foi uma obsessão
de quem estuda a gestão empresarial. A partir disso criaram-se modelos de gestão baseados
nas melhores práticas. Porém, destrinchar os meandros dos casos que são referência no meio
corporativo é tarefa árdua e constante, à medida que os ambientes de negócios se alteram cada
vez mais rápido. Apesar de todo o esforço investido na compreensão e nas tentativas de
replicação dos modelos considerados ideais, continua-se a obter mais fracassos do que
sucessos.
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae de São Paulo em 2008, com micro e pequenas empresas
dos 645 municípios do estado, faz uma leitura completa dessas empresas relatando seu tempo
de sobrevida, o perfil dos empresários, bem como as causas dos sucessos e fracassos destes
empreendimentos. O índice de mortalidade dessas empresas é alto, 27% das empresas com até
um ano de funcionamento fracassam. O percentual aumenta para empresas constituídas há
dois anos, 38%; e após três anos de existência o índice de mortalidade é de 46%. No quarto
ano chega a 50% e no quinto, 62% (SEBRAE-SP, 2008).
Essa é uma realidade que não pode ser ignorada, pois os jovens empreendimentos
representam papel importante na economia. Conforme pesquisa do Sebrae Nacional (2003), a
participação das micro, pequenas e médias empresas (MPEs) brasileiras na geração de
empregos tem aumentado ano a ano. O número desses empreendimentos brasileiros somava
5,5 milhões de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços, os quais respondiam
por 20% do Produto Interno Bruto, 12% das exportações e 43% da renda total.
Representavam 60% dos empregos, ou seja, 60 milhões de brasileiros, e deles 24,1% tinham
carteira assinada (aproximadamente 14,5 milhões de trabalhadores) (ORTIGARA, 2006).
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Levando em consideração estes argumentos, conclui-se que o fracasso de um novo
empreendimento ocorre com mais freqüência do que o seu sucesso. Sendo assim, no geral, um
empreendedor precisa saber conviver com o fracasso, não ter medo de encará-lo e aprender
com ele. Este artigo buscará explorar essa temática, a qual será abordada pela ótica das
competências empreendedoras.
Portanto procurar-se-á neste trabalho identificar competências que auxiliam empreendedores a
superar e aprender com experiências mal sucedidas.
O artigo começa trazendo uma revisão da literatura que trata sobre o fracasso e como
empreendedores aprendem a partir de experiências mal sucedidas. Em seguida são
apresentados os conceitos clássicos sobre empreendedorismo inovador e discute-se sua
importância para a economia. A revisão teórica se encerra com algumas considerações acerca
das competências humanas e, mais especificamente, do indivíduo empreendedor. A partir de
dados secundários oriundos de duas pesquisas sobre fracassos de empreendimentos iniciantes,
Sebrae-SP (2008) e Vox Populi (2007), apresenta-se um levantamento das principais causas
de mortalidade das micro e pequenas empresas. Na seqüência faz-se uma análise cruzada
dessas informações com as principais características do indivíduo empreendedor segundo
Lezana (2001). Por fim relaciona-se um conjunto de competências que, acredita-se, ajudam
empreendedores a aprender com experiências de fracasso.
2. Fracasso Construtivo
Em geral, fracasso, refere-se ao estado ou condição de não atingir um objetivo desejado ou
pretendido. Pode ser visto como o oposto de sucesso. Os critérios para o fracasso dependem
do contexto de uso, e podem ser relativos a um observador particular ou a uma certa cultura.
Uma situação considerada como um fracasso por certo indivíduo, pode ser considerado um
sucesso por outro.
Desta forma chega-se a uma definição do fracasso construtivo: um processo no qual o
indivíduo ou organização aprende com situação em que não se atingiu critérios prédeterminados. No caso de uma empresa, sua sobrevivência.
Mullins e Komisar (2009) caracterizam o fracasso como um elemento de uma cultura local.
Essa cultura pode ser resumida na capacidade de tolerar o fracasso, seguir em frente, fazer de
novo e tomar a experiência passada como patrimônio. Sociedades ou pessoas com baixa
tolerância ao fracasso tendem a insistir demais no erro ou a ser muito conservadoras.
Pesquisas realizadas com empreendedores em série, ou seja, que após o término de um
empreendimento, voltam a empreender, sugerem que a habilidade de ex-empreendedores em
aprender com suas experiências anteriores não é homogênea (Stam, Audretsch et al., 2008).
Sendo assim, é possível separar os elementos que caracterizam o fracasso construtivo da
seguinte forma:
1)
2)
3)
4)
Disposição em assumir riscos ou em outras palavras a tolerância ao fracasso;
Capacidade de superar um fracasso;
Capacidade de aprender com o fracasso;
Capacidade de aplicar conhecimento adquirido num fracasso e obter sucesso.
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Aprender com o fracasso de um projeto envolve o entendimento das causas do fracasso, a
verificação das premissas chave que levaram o projeto ao fracasso para decidir se vale a pena
retê-las ou alterá-las, e desenvolver as capacidades necessárias para mudar os processos,
estratégias, procedimentos, ou ações que levaram ao fracasso (Shepherd e Cardon, 2009).
A resposta emocional negativa a perda de um negócio representa uma dor que, enquanto
presente, diminuirá a habilidade do indivíduo de aprender com os eventos envolvendo a
perda, especialmente quando existe uma grande carga de críticas. Se recuperar da dor de
perder um negócio permite o aprendizado sem a interferência de emoções mais intensas
(Shepherd, 2003).
3. Empreendedorismo Inovador
Joseph Alois Schumpeter, nascido no extinto império Austro-Húngaro em 1883, considerado
um dos economistas mais importantes do século XX, fez diversas contribuições no âmbito das
teorias do desenvolvimento econômico, mais especificamente acerca das definições do
empreendedorismo inovador.
Seu trabalho enfatizou o papel do empreendedor no processo de criação destrutiva que
contribui para a descontinuidade da economia. Na visão de Schumpeter o empreendedor é o
agente de mudança, ou seja, aquele que destrói a ordem econômica existente através da
introdução de novos produtos e serviços, através da criação de novas formas de organização e
também da exploração de novos recursos e materiais. Schumpeter postulava que o
desequilíbrio dinâmico provocado pelo empreendedor inovador, em vez de equilíbrio e
otimização, é a norma de uma economia sadia e a realidade central para a teoria e a prática
econômicas (DRUCKER, 1987).
Segundo Schumpeter, o empreendedor é o “motor da economia”, um agente de mudanças. Ele
associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao aproveitamento de
oportunidades em negócios. Diz que empreendedorismo consiste em fazer coisas que,
geralmente, não são feitas no curso ordinário dos negócios, ou seja, inovar (SHUMPETER
apud KURATKO & HODGETTS, 2001, p.29).
De acordo com Degen (1989), o processo, chamado por Schumpeter de “destruição criativa”,
– é “o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista” e quem
dirige esse motor é o empreendedor. Tal processo é responsável pela substituição de produtos
antigos por outros mais eficientes, mais baratos, mais ágeis, mais acessíveis, de melhor
qualidade e comodidade, como por exemplo, a substituição da máquina de escrever por
computadores pessoais, o telégrafo pelo telefone, a caneta tinteiro pela esferográfica, a
viagem de navio pela viagem de avião, o trem a vapor pelo trem elétrico e pelo metrô, o ferro
a brasa pelo ferro elétrico, entre muitas outras destruições criativas que foram marcos no
nosso desenvolvimento econômico. Nesse processo o empreendedor está constantemente
utilizando sua capacidade visionária e sua criatividade para aprimorar os produtos, tornandoos melhores e mais acessíveis para atender a necessidade e o bem-estar da população.
Segundo Filion (1999), Schumpeter não foi o único a associar empreendedorismo à inovação.
Clark, em 1899, havia feito o mesmo de forma bem clara, Higgins em 1959, Baumol em
1968, Schloss em 1968, Leibenstein em 1978 e a maioria dos economistas que tinham
interesse no campo também fizeram o mesmo algum tempo depois, pois todos os economistas
estavam interessados na compreensão do papel do empreendedor como motor do sistema
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econômico. A partir daí os economistas não se restringiram a desenvolver estudos no sentido
de aprimorar a contextualização de empreendedor.
Sendo assim, de acordo com o que foi demonstrado até aqui, pode-se partir do pressuposto
que o medo de fracassar, a incapacidade de superar e aprender com o fracasso são obstáculos
ao empreendedorismo inovador e, portanto, ao desenvolvimento econômico. O que indica a
justificativa para este trabalho: encarar o fracasso, tornando-o algo edificador é importante
para o empreendedorismo inovador, consequentemente para o desenvolvimento econômico.
Portanto, a partir de certo momento o empreendedorismo foi vinculado de maneira muito
intensa à inovação, temática muito debatida nos dias atuais. Segundo Mullins e Komisar
(2009), inovar leva a assumir riscos de fazer coisas que nunca foram feitas antes. Se inovar
fosse possível com certo grau de certeza, somente as grandes empresas o fariam. Mas os
modelos de negócios das grandes empresas não toleram os altos índices de fracasso
necessários para inovar.
4. Teoria das Competências
Competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada
para realizar alguma coisa. O seu oposto, ou o seu antônimo, não implica apenas a negação
desta capacidade, mas guarda um sentimento pejorativo, depreciativo. Chega mesmo a
sinalizar que a pessoa se encontra ou se encontrará brevemente marginalizada dos circuitos de
trabalho e de reconhecimento social (FLEURY e FLEURY, 2001).
Nos últimos anos, o tema competência entrou para a pauta das discussões acadêmicas e
empresariais, associado a diferentes instâncias de compreensão: no nível da pessoa (a
competência do indivíduo), das organizações (as core competences) e dos países (sistemas
educacionais e formação de competências) (FLEURY e FLEURY, 2001).
A competência humana, portanto, do indivíduo, é tradicionalmente associada a desempenho e
eficiência, respectivamente atrelados aos domínios do conhecimento na área da educação e à
qualificação para o trabalho. As interpretações sobre a competência surgem de diferentes
áreas das ciências humanas e sociais, que a definem com base em contextos distintos, gerando
visões, conceitos, modelos diversos a respeito do tema. Autores como Cheetham e Chivers
(1998) indicam três abordagens predominantes nos estudos da competência.
Na primeira, a abordagem americana, o foco são os atributos individuais que podem ser
previstos e estruturados para gerar um conjunto ideal de qualificações, possibilitando ao
indivíduo desenvolver uma performance superior no trabalho. A competência é vista como
um estoque de recursos do indivíduo, ou seja, um conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes que podem explicar um desempenho elevado e cuja base encontra-se em sua
inteligência e nos traços de sua personalidade (McCLELLAND, 1973).
Na abordagem funcional a competência é definida como um conjunto de conhecimentos,
habilidades e atitudes identificadas através da análise funcional/ocupacional do desempenho e
das responsabilidades assumidas pelo indivíduo (CHEETHAM; CHIVERS, 1998). Os
atributos e capacidades dos empregados são mobilizados na direção do desempenho previsto e
esperado, e as competências vinculadas aos objetivos organizacionais.
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Por fim, a abordagem da ação, originada na França, analisa a competência como um processo
dinâmico, reconhecido por meio do resultado de uma ação, contrapondo-se às anteriores.
Sandberg (2000) critica as referidas abordagens, caracterizando-as como racionalistas, por
entender que tanto reduzem a competência a medidas ou a atributos quantificáveis, como
permitem generalizações simplistas do desempenho humano, sem considerar a sua
complexidade em um contexto dinâmico de trabalho. Na verdade, como a competência é uma
expressão dinâmica dos recursos de uma pessoa, não há como conhecê-los se não existir uma
ação que os mobilize. Trata-se, portanto, da noção da competência prática ou da competência
em ação (SANDBERG, 2000).
Na análise do comportamento e das competências do indivíduo empreendedor, Lezana e
Tonelli (1998) afirmam que o empreendedor intervém no processo de criação e
desenvolvimento das empresas por suas necessidades, conhecimentos, habilidades e valores.
Segundo os autores as necessidades referem-se a desequilíbrios internos do individuo que age
para satisfazer uma necessidade. O conhecimento representa aquilo que as pessoas sabem a
respeito de si mesmas e do ambiente que as rodeia. Habilidade é a facilidade para utilizar
capacidades, manifestas por meio de ações que têm início a partir do conhecimento do
indivíduo, desenvolver atitudes e respostas frente a diversas situações. Os valores referem-se
às crenças, preferências, aversões, predisposições internas e julgamento do indivíduo.
Quadro 1: As características que definem o empreendedor
Características
Necessidades
Conhecimentos
Habilidades
Valores
Especificação
Aprovação
Independência
Desenvolvimento pessoal
Segurança
Auto-realização
Vínculos
Aspectos técnicos relacionados com o negócio
Experiência na área comercial
Escolaridade
Experiência em empresas
Formação complementar
Vivência com situações novas
Identificação de novas oportunidades
Valoração de oportunidades e pensamento criativo
Comunicação persuasiva
Negociação
Aquisição de informações
Resolução de problemas
Alcançar metas
Motivação e decisão
Existenciais
Estéticos
Intelectuais
Morais
Religiosos
Fonte: Lezana (2001, p.38)
Estas características serão utilizadas na identificação das competências relacionadas ao
fracasso construtivo.
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5. Metodologia
O objetivo principal deste artigo é encontrar o conjunto de competências do empreendedor
que favorecem o fracasso construtivo. As análises serão realizadas sob o ponto de vista das
teorias que perfazem o empreendedorismo inovador.
No início do trabalho será feita uma revisão teórica acerca do empreendedorismo e sua
importância para o desenvolvimento econômico. A seguir serão mencionadas algumas visões
sobre a teoria das competências e mais especificamente sobre as competências
empreendedoras.
Duas pesquisas que indicam as principais causas de fracasso de empresas brasileiras servirão
de base para a investigação. Dentro das pesquisas serão identificados os fatores que tem
relação direta com as competências do empreendedor e a partir disso relacionar-se-á as
características empreendedoras necessárias para superação e aprendizagem relacionadas ao
fracasso.
6. Fracasso Construtivo e as Competências do Empreendedor
A tendência humana é, muitas vezes, de culpar as circunstâncias, e não os próprios atos, pelo
fracasso. Embora essa tendência seja perdoável, a auto-ilusão que se cria impede o ser
humano de aprender com os erros. De acordo com Cox (1994), a armadilha a evitar é dar
guarida à disposição de culpar nas circunstâncias ou tornar habitual essa fuga da
responsabilidade pessoal, pois em todas as ocasiões em que nos livrarmos da
responsabilidade, mais fácil se tornará repetirmos os mesmos erros no futuro.
É claro que há ocasiões em que as circunstâncias ocorrem de tal forma que nos impedem de
cumprir o que nos propusemos fazer. No entanto, é verdade que fatos considerados
imprevisíveis poderiam ter sido previstos e controlados se tivesse planejado melhor. O que se
pode notar, é que houve uma falta de planejamento inicial do negócio (GREATI, 2003).
Sendo assim, mostrar-se-á duas pesquisas que indicam as principais causas de mortalidade,
fracasso portanto, de micro e pequenas empresas no Brasil.
1ª Pesquisa acerca das causas da mortalidade empresarial
Desde 1998 o SEBRAE-SP realiza uma pesquisa que avalia a mortalidade de micro e
pequenas empresas. Durante dez anos de monitoramento da mortalidade de empresas,
verificou-se que, em geral, as causas desse fenômeno sofrem pouca variação. A cada novo
estudo, constatou-se também que não é possível atribuir a um único fator a causa da
mortalidade das empresas. O que ficou evidente é que, a exemplo do que ocorre com
freqüência nos acidentes aéreos, o fechamento das empresas está associado a um conjunto de
“fatores contribuintes”. As empresas encerram suas atividades não apenas devido a uma única
causa, mas sim, devido a uma sucessão de falhas ou problemas que, por não serem resolvidos
no tempo apropriado, levam à paralisação de suas atividades (SEBRAE-SP 2008).
Assim, entre os fatores contribuintes para o encerramento prematuro dos negócios, foram
identificados seis conjuntos de fatores (Quadro 2).
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Quadro 2: Principais causas da mortalidade das empresas
Fatores contribuintes da mortalidade de empresas
Ausência de um comportamento empreendedor*
Ausência de um planejamento prévio adequado
Deficiências no processo de gestão empresarial
Insuficiência de políticas públicas de apoio aos pequenos negócios
Dificuldades decorrentes da conjuntura econômica
Impacto dos problemas pessoais sobre o negócio
Fonte: Observatório das MPEs do SEBRAE-SP (2008)
*Interpreta-se este tópico como o conjunto de competências do indivíduo empreendedor.
2ª Pesquisa acerca das causas da mortalidade empresarial
Uma pesquisa encomendada pelo SEBRAE nacional para o Vox Populi teve como principal
objeto mensurar a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas e os fatores
condicionantes da mesma. A pesquisa teve abrangência nacional e teve como público alvo
MPE (micro e pequenas empresas formalmente estabelecidas) criadas em 2003, 2004 e 2005
considerando como MPE criada aquela que efetuou sua inscrição junto ao CNPJ (Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda). A seguir está o resultado que indica
as principais razões para o fechamento das empresas pesquisadas.
Quadro 3: Razões para o fechamento da empresa
FALHAS GERENCIAIS
Falta de capital de giro
Problemas financeiros
Ponto/Local inadequado
Falta de conhecimentos gerenciais
Desconhecimento do mercado
Qualidade do produto/serviço
CAUSAS ECONÔMICAS CONJUNTURAIS
Falta de clientes
Concorrência muito forte
Inadimplência/Maus pagadores
Recessão econômica no país
POLÍTICAS PÚBLICAS E ARCABOUÇO LEGAL
Carga tributária elevada
Falta de crédito bancário
LOGÍSTICA OPERACIONAL
Falta de mão-de-obra qualificada
Instalações inadequadas
PROBLEMAS COM A FISCALIZAÇÃO
OUTRAS
NS/NR
BASE*
68%
37%
25%
19%
13%
11%
4%
62%
27%
25%
19%
18%
54%
43%
16%
21%
16%
6%
7%
4%
3%
446
Fonte: Vox Populi (2007)
*Resposta múltipla: Cada entrevistado podia dar várias respostas.
Os resultados assinalados a cinza, não são a soma dos seus sub-itens por se tratar de uma
resposta múltipla, isto é, o entrevistado pode citar vários sub-itens, mas no agrupamento conta
apenas como uma resposta.
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Analisando o fracasso sob outra ótica também buscou-se por pesquisas que tratam do sucesso
de empreendedores que já fracassaram. Em uma pesquisa, Ucbasaran, Westhead et al. (2009)
entrevistaram 630 empreendedores e descobriram que empreendedores que já tinham sido
donos de outros negócios identificavam mais oportunidades de negócios e oportunidades mais
inovadoras. Contudo, acima de certo nível (4,5 negócios), essa experiência estava associada
com uma menor habilidade para identificar oportunidades.
Comparados com empreendedores novatos, os ex-empreendedores com experiência já
passaram por um processo de filtragem no qual os novatos ainda não foram submetidos
(Stam, Audretsch et al., 2008). A apesar das preocupações sobre a natureza traumática do
fracasso, evidências dos estudos sugerem que o fracasso nos negócios pode estimular
empreendedores a identificar oportunidades subseqüentes. A experiência de fracasso, no
entanto, não estimula a exploração de oportunidades inovadoras. Adicionalmente, se as
experiências de fracasso prevalecem em relação às experiências de sucesso, a experiência com
o fracasso pode reduzir o número de oportunidades identificadas no futuro (Ucbasaran,
Westhead et al., 2009).
Para chegar no conjunto de competências desejado, realizou-se um cruzamento das pesquisas
sobre mortalidade e das competências do indivíduo empreendedor. Depois de identificados os
principais fatores de mortalidade procurou-se estabelecer uma relação entre a primeira
pesquisa e a segunda, agrupando os fatores de fracasso similares. Além disso, apontou-se
quais destes fatores podem sofrer influência direta do empreendedor. O resultado está
indicado no Quadro 4. A partir desse resultado foi possível relacionar o conjunto de
competências do empreendedor que favorecem o fracasso construtivo.
Quadro 4: Relação entre as pesquisas e identificação das características que sofrem influência
direta do empreendedor
Causas da mortalidade de empresas
1ª Pesquisa
2ª Pesquisa
Ausência de um comportamento empreendedor
Falta de clientes
Ausência de um planejamento prévio adequado
Concorrência muito forte
Instalações inadequadas
Falta de capital de giro
Problemas financeiros
Ponto/Local inadequado
Deficiências no processo de gestão empresarial
Falta de conhecimentos gerenciais
Desconhecimento do mercado
Qualidade do produto/serviço
Insuficiência de políticas públicas de apoio aos
Carga tributária elevada
pequenos negócios
Falta de crédito bancário
Inadimplência/Maus pagadores
Dificuldades decorrentes da conjuntura econômica
Recessão econômica no país
Falta de mão-de-obra qualificada
Impacto dos problemas pessoais sobre o negócio
Problemas com a fiscalização
Sofrem influência
direta do
empreendedor
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Não
Fonte: Adaptação do autor
Cruzando as causas de fracasso que possuem influência direta do empreendedor com as
características do empreendedor de Lezana e Tonelli (1998), chega-se a um conjunto de
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competências importantes para a gestão do fracasso, apresentadas no Quadro 5. Tais
competências devem ser desenvolvidas por todo empreendedor que deseja obter sucesso,
tenha ele ou não fracassado alguma vez.
Quadro 5: Conjunto final de competências que favoreceriam o fracasso construtivo
Causas da mortalidade de empresas
1ª Pesquisa
2ª Pesquisa
Ausência de um comportamento empreendedor
Ausência de um planejamento prévio adequado
Deficiências no processo de gestão empresarial
Impacto dos problemas pessoais sobre o negócio
Competências empreendedoras
Atitudes empreendedoras
Falta de clientes
Concorrência muito forte
Instalações inadequadas
Falta de capital de giro
Problemas financeiros
Ponto/Local inadequado
Falta de conhecimentos gerenciais
Desconhecimento do mercado
Qualidade do produto/serviço
-
Experiência na área comercial
Vivência com situações novas
Experiência em empresas
Identificação de novas oportunidades
Valoração de oportunidades e pensamento criativo
Experiência na área comercial
Aspectos técnicos relacionados com o negócio
Aquisição de informações
Negociação
Resolução de problemas
Motivação e decisão
Resolução de problemas
N
V
C
C
C
H
H
C
C
H
H
H
H
H
Fonte: Adaptação do autor
*Legenda: C = Conhecimento, H = Habilidade, N = Necessidade, V = Valores
Resultados de outros trabalhos
Outras abordagens sugerem, além destas, outras características que ajudariam o empreendedor
a lidar com o fracasso.
Segundo Degen (1989), os riscos fazem parte de qualquer atividade e o sucesso do
empreendedor está na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles. Para isso é
preciso aprender a administrá-los. O empreendedor não é mal sucedido nos seus negócios
porque sofre revezes, mas porque não sabe superá-los.
De acordo com McClelland, dentre as características do empreendedor está a persistência.
Para o autor ser persistente significa agir diante de um obstáculo significativo; agir
repetidamente ou mudar de estratégia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo;
e assumir responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário ao atingimento de metas e
objetivo (SEBRAE, 1990). Persistência é a energia que leva o empreendedor a agir de
diferentes formas até alcançar aquilo que deseja. Tendo definido claramente seus objetivos e
metas, o empreendedor aprende com seus fracassos, reformula estratégias e persiste no seu
desejo, até ser alcançado. A persistência não deve ser confundida com a teimosia, pois o
indivíduo teimoso busca alcançar seus objetivos sempre utilizando as mesmas estratégias,
mesmo que não estejam dando certo. Já o persistente não desiste dos objetivos, mas busca
alcançá-los de formas diferentes, ou seja, uma vez que uma estratégia não tenha dado certo,
ele muda a estratégia e começa tudo de novo, até conseguir atingir o esperado (GREATI,
2003).
7. Conclusões e Recomendações
Conforme a pesquisa realizada foi possível destacar a importância do empreendedorismo
inovador no desempenho de uma economia. De acordo com algumas pesquisas quantitativas,
destacaram-se os elevados índices de insucesso dos empreendimentos no contexto estudado,
principalmente os inovadores. A partir disso assumiu-se o pressuposto que existem aspectos
do comportamento empreendedor que podem impactar diretamente na gestão do fracasso.
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Foram levantados dados de pesquisas que mostraram as principais causas de fracasso de
micro e pequenas empresas no Brasil. Assim conseguiu-se determinar os aspectos mais
importantes do comportamento empreendedor, que deveriam ser desenvolvidos para facilitar
o processo chamado de fracasso construtivo.
Contudo, este estudo limitou-se a estudar duas pesquisas quantitativas e apenas uma
abordagem acerca das competências do empreendedor. Recomenda-se em estudos posteriores
a utilização de um maior número de pesquisas, que sejam mais abrangentes e, se possível,
mais recentes. Além disso, sugere-se a investigação de outros modelos que caracterizam o
comportamento empreendedor, que poderiam trazer um volume maior de características ou
serem mais específicos quanto a esses aspectos. Quanto à profundidade da análise poder-se-á
também analisar outros aspectos do fracasso construtivo, como as competências necessárias
para superar as frustrações de um fracasso e ainda as competências relacionadas ao
aprendizado e a capacidade de aplicação do conhecimento adquirido.
8. Referências
COX, Allan. O perfil do realizador: 100 perguntas e respostas para aguçar seus instintos de
executivo empreendedor. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.
DEGEN, R. J. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo:
McGraw-Hill, 1989.
DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. 6º Edição, São
Paulo. Pioneira: 1987.
FILION, Louis Jaques. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de
pequenos negócios. Revista de Administração. Universidade de São Paulo (USP). V. 34, n. 2,
p. 05-28, abril/junho, 1999.
FLEURY, A. C. C. E FLEURY, MTL. Construindo o conceito de competência. Revista de
Administração, Curitiba, edição especial, 2001.
GREATI, Ligia. Perfis Empreendedores: Análise comparativa das trajetórias de sucesso e
do fracasso empresarial no Município de Maringá. Dissertação de Mestrado no Programa de
Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Maringá e Universidade
Estadual de Londrina, 2003.
KURATKO, D.F. & HODGETTS, R.M. Entrepreneurship: a contemporary approach.
Orlando: Harcourt College Publishers, 2001.
LEZANA, A. Empreendedorismo e ciclo de vida das organizações. Apostila do Curso de
Especialização em empreendedorismo na Engenharia. Florianópolis: LED - UFSC, 2001.
MULLINS, J. E KOMISAR, R. Getting to Plan B: Breaking Through to a Better Business
Model. Harvard Business Press, 2009.
ORTIGARA, Anacleto Angelo. Causas que condicionam a mortalidade e/ou sucesso das
Micro e Pequenas Empresas no Estado de Santa Catarina. 2006. 173f. Tese (Doutorado
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e Gestão de Pequenas Empresas - 2012
em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção,
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O Fracasso Construtivo: Uma Análise sob o ponto de vista das