Eurípedes Barsanulfo, conhecido como “O Apóstolo da Caridade”, era filho de
Hermógenes Ernesto de Araújo e de Jerônima Pereira de Almeida, tendo nascido
no dia 1 de Maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, estado de Minas
Gerais (Brasil).
Desde muito pequeno mostrou possuir um caráter bondoso e ser dono de uma
inteligência
brilhante, características estas que lhe permitiram trabalhar para
ajudar a família desde tenra
idade (5/6 anos), pois na altura passavam por
grandes dificuldades financeiras.
Uns anos mais tarde e com a família a viver já com um certo desafogo
econômico, decidiu ir continuar os seus estudos para fora da cidade, pois
Sacramento não oferecia grandes perspectivas.
Contudo, a relutância da sua mãe em vê-lo sair de casa, fê-lo ficar e, assim,
tornou-se um autodidata, desenvolvendo uma série de capacidades inatas para o
seu espírito, já com um grau de evolução muito elevado. E tanto era assim que,
com apenas 22 anos, fundou com um grupo de amigos o “Liceu Sacramentano”.
Católico convicto, foi desde secretário da Irmandade de S. Vicente de Paulo,
para além de jornalista e vereador da Câmara da cidade. Conhecido tanto pela
sua inteligência como pela sua bondade, era sempre muito carinhoso e afável com
toda a gente, inclusive com os animais.
Antes de fazer dezoito anos, já tinha montado na sua casa uma pequena
farmácia homeopática, a fim de ajudar a curar os pobres das redondezas e,
frequentemente, também visitava as favelas próximas.
Ao estar já muito espiritualizado, ajudava na igreja da cidade e, quando lhe
falavam em casamento, ria-se e respondia que já era casado com a pobreza.
Apesar de ter alguns parentes espíritas, era um católico fervoroso.
O seu primeiro contato com a Doutrina Espírita deu-se quando tinha 25 anos,
através da leitura do livro de Léon Denis “Depois da Morte”, que lhe tinha sido
emprestado pelo seu tio Mariano da Cunha Júnior, que tendo sido materialista, se
tinha convertido ao Espiritismo. Quando lhe devolveu o livro, exclamou:
“Realmente este livro é um monumento!”
O tio convidou-o, então, para assistir a uma reunião mediúnica no centro
espírita que frequentava, e ele aceitou. Foi uma noite muito especial, porque
nessa sua primeira reunião, Eurípedes Barsanulfo, através da mediunidade
psicofônica do seu tio, ouviu o Dr. Bezerra de Menezes dar-lhe as boas-vindas e
dizer-lhe que estava ali um espírito de alta hierarquia que lhe queria falar.
Apresentou-se então esse espírito, comunicando-lhe que era o seu protetor, que o
acompanhava desde o seu nascimento, e que já tinham sido amigos em muitos
vidas. Eurípedes perguntou-lhe então como se chamava e a resposta foi que na
sua última existência tinha tido o nome de Vicente de Paulo. Insistindo, Eurípedes
Barsanulfo perguntou-lhe se tinha sido São Vicente de Paulo, tendo ele
respondido que sim. Seguidamente, informou-o de que tinha uma missão a
cumprir: “os espíritos do Senhor – disse-lhe - realizarão diversos trabalhos
contigo. A Caridade, meu filho, é a nossa bandeira. O teu trabalho principal será o
de curar, e Bezerra de Menezes irá ajudar-te nessa área. Tudo está planeado e,
na verdade, é Jesus quem nos dirige.”
A partir daí, abandonou o catolicismo e dedicou-se inteiramente ao Espiritismo.
Pouco depois também a sua mãe, conhecida como D. Meca e, um pouco mais
tarde o seu pai, “seu” Mogico, seguiram os seus passos…
A mediunidade desenvolveu-se-lhe completamente: era médium vidente, de
audiência, de psicofonia, de cura, de psicografia, e de efeitos físicos, através da
qual conseguia a bicorporeidade.
Sob a tutela de espíritos muitos elevados e com a ajuda destes (entre eles
Santo Agostinho), realizou curas difíceis de serem explicadas pela medicina e até
chegou a fazer operações cirúrgicas.
Sob a orientação do Dr. Bezerra de Menezes ampliou a sua farmácia
homeopática, anexando-lhe um laboratório.
Começa, igualmente, a pregar a Doutrina ao povo, o qual, em vez de ir à igreja
católica, prefere ir ouvi-lo falar sobre o Evangelho Segundo o Espiritismo, num
largo de Sacramento, aos sábados. Nesta altura principiou a ser objeto de
perseguições mas, apesar disso, nunca se dirigiu a nenhum dos seus ofensores
de maneira hostil, mesmo depois de ter sido obrigado a fechar o Liceu
Sacramentano.
Amparado pelo espírito de São Vicente de Paulo e Santo Agostinho, fundou em
1905 o “Grupo Espírita Esperança e Caridade” e, mais tarde, em 1907, o “Colégio
Allan Kardec”, o primeiro colégio espírita do mundo. Os alunos, para além das
disciplinas habituais, estudavam também o Evangelho, bem como o resto da
codificação espírita. A extraordinária metodologia pedagógica que utilizava
despertou grande respeito entre todos os seus conterrâneos.
No livro “A Vida Escreve”, escrito através da psicografia de Chico Xavier, o
espírito Hilário Silva dá-nos a conhecer o episódio mais sublime da sua vida: uma
noite, após adormecer, Eurípedes desdobrou-se espontâneamente e sentiu-se a
subir, a subir, a subir, notando uma atmosfera cada vez mais límpida e ténue. Viuse então numa paisagem linda e, olhando à sua volta, reparou que, ao longe,
havia alguém sentado que parecia meditar. Aproximou-se, viu que era Jesus, e
que estava a chorar. Perguntou-Lhe então porque o fazia, e o Senhor disse-lhe
que era por causa daqueles que conheciam o Evangelho, mas que não o
praticavam. Desde essa noite e até ao fim da sua vida, nunca mais deixou de
trabalhar com Jesus.
Temos aqui mais uma prova de que, efetivamente, Eurípedes era já um espírito
de uma elevação enorme, pois estes sublimes encontros só se dão, se os
espíritos já tiverem uma alta hierarquia… E no seu caso, já tinha sido até, amigo
de Jesus, pois numa das suas encarnações foi o Apóstolo João Evangelista, e
noutra, ocorrida durante a Idade Média, foi Francisco de Assis.
A abnegação deste espírito, pouco conhecido pela humanidade na sua
encarnação como Eurípedes Barsanulfo, chegou até ao extremo de que, quando,
em 1918, se deu a epidemia que ficou conhecida como “gripe espanhola”, e
sentindo-se também atacado por ela, não parou de atender os doentes na sua
farmácia homeopática até ao momento em que o seu corpo desfaleceu.
A sua missão estava no fim e, tal como ele já tinha previsto, desencarnou no
dia 1 de Novembro de 1918.
Espíritos das altas esferas vieram receber o amoroso amigo de Jesus, um
verdadeiro “Apóstolo da Caridade”.
Apesar de viver num século de grandes transformações sociais, culturais e
politicas, Euripedes Barsanulfo, não teve acesso direto aos estudos filosóficos e
pedagógicos de J.J. Rousseau, ou de J.H. Pestalozzi, mas, no entanto, vamos
encontrar na sua ação pedagógica métodos, conceitos e objetivos muito similares.
O Colégio Allan Kardec, teve uma média de inscrições anuais de 100 alunos,
com idades compreendidas entre os 7 e os 16 anos, distribuídos por três cursos:
primário (elementar), médio e superior.
Como fundador e orientador do Colégio, desde 1907 até 1918 (data do seu
desencarne), Euripedes Barsanulfo pôs em prática as seguintes inovações
pedagógicas:
· Turmas mistas de ambos os sexos
· Integração de alunos e professores de raça negra
· Horários flexíveis, adaptados ás necessidades dos educandos, para que estes
não perdessem as aulas
· A duração das aulas variava entre 30 minutos a várias horas, podendo integrar
conversas, debates e passeios
· Os professores eram todos voluntários
· A equipa de professores, diretor, família, alunos, trabalhava em colaboração,
não existindo hierarquias
· Não existiam aulas de Espiritismo, mas sim o estudo comparado das religiões,
onde se estudava o Espiritismo
· A avaliação era contínua, sobretudo oral, e os exames finais eram partilhados
por toda a comunidade que era convidada a assistir
· Alunos e professores faziam visitas aos doentes e prestavam auxilio aos
familiares, numa ação social permanente, integrada na educação proporcionada
pelo Colégio
· Inexistência de prêmios (deveriam estudar por prazer e por dever) e castigos
(reparação do erro em vez da repreensão)
· Criação de debates coletivos sobre Deus, a guerra, a vida, a felicidade, as
religiões, a pobreza, etc.
Para Eurípedes Barsanulfo os educandos faziam parte de uma grande família,
e a escola era o complemento do lar.
Sem estudos superiores, Eurípedes deu aulas de Matemática, Geometria,
Aritmética, Trigonometria, Ciências Naturais, Anatomia, Botânica, Zoologia,
Geologia,
Paleontologia,
Português,
Francês,
Inglês,
Castelhano,
Latim,
Astronomia e Química… conforme relatos dos seus alunos.
Euripedes propôs uma pedagogia que respeitava a liberdade e a
individualidade da criança, cuja aprendizagem nascia da ação, da experiência.
Para orientá-la nesse processo, era essencial a figura do mestre amigo, do
educador, que com o seu amor e incentivo, despertava nela a vontade de saber
mais, e pelo diálogo, o desenvolvimento da inteligência.
A sua preocupação não era só com o desenvolvimento físico, cultural,
intelectual e moral da criança. Sendo a criança um espírito eterno, imortal, e tendo
vivido antes, a educação devia promover a recordação da aprendizagem anterior,
já feita, fazendo desabrochar as suas virtudes, a centelha divina que cada um traz
dentro de si.
Como vemos, Euripedes, foi mais um daqueles seres que nos iluminaram com
a sua presença, quase silenciosa, mas profundamente marcante para quem, com
ele, conviveu e aprendeu…
Fonte:
http://www.forumespirita.net/fe/biografias-espiritas/euripedes-barsanulfo/
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Eurípedes Barsanulfo - Casa do Caminho Londrina