O Papel da Mulher na Economia
“A OUTRA FACE DA MOEDA”
Introdução
Hoje em toda roda de conversa ou qualquer
reflexão em que a tônica seja feminina, podemos notar as
seguintes afirmações: “As mulheres não são as mesmas.“
A frase é impactante e toca em muitos aspectos reais.
No trabalho de Evangelização, constatamos que a
grande parte das lideranças emergentes, tanto
quantitativa quanto qualitativa, são mulheres. No meio de
jovens de classe popular entre 18 e 25 anos, é,
proporcionalmente, maior o número de mulheres que
estudam e trabalham.
Os homens ainda não encontraram seu novo lugar,
devido às mudanças dos papéis sociais, ocorrida nos
últimos trinta anos. As mulheres vão deixando para trás a
imagem tradicional de pessoas submissas, dependentes e
caseiras. Assumem papéis de seres humanos com
iniciativa e criatividade, fazem-se autônomas, capazes de
gerir as pequenas e as grandes coisas, de conciliar
atividades de âmbitos diferentes.
Nas disputas por um emprego em conceituadas
empresas, a equipe de seleção decide pelas mulheres,
pois constatam que as mesmas demonstram maior
desempenho, são mais abertas às novidades ,mais
organizadas e mais responsáveis.
É muito comum ouvir as seguintes afirmativas: “É!
Os homens não conseguem viver mais sem as mulheres.
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Mas as mulheres vivem sem os homens.” A frase ilustra
um fato cada vez mais comum. Muitas mulheres de classe
popular são as pessoas fortes da casa. Algumas vivem
sem marido; outras, como se não os tivessem.
Como mulher, religiosa e profissional da educação,
convivo diariamente com uma grande parcela da
população feminina que atravessa um momento crucial de
sua existência como mulher, mãe, esposa, trabalhadora e
responsável por sua família. Acredito que possa dizer que
60% das mães com as quais convivo, diariamente, são as
responsáveis economicamente por suas famílias. Isso se
deve ao fato de os maridos estarem desempregados ou
por terem sido abandonadas pelos mesmos, deixando-as
com a responsabilidade de educar e suprir todas as
necessidades básicas dos filhos.
Vamos, aos poucos adentrar por este universo
feminino tão marcado pelo sofrimento, discriminação,
indiferença e não valorização do papel da mulher para a
sociedade, em todos os tempos, mas, principalmente,
para a sociedade atual.
I – A Presença Feminina no Brasil
Infelizmente a história oficial não registrou a
participação da mulher nas lutas sociais, no setor
econômico ou em qualquer outro setor da sociedade; Ela
porém, sempre esteve presente na luta contra a
escravidão e pela liberdade. Contou-se sempre com a
presença feminina nas lutas pela independência, nas lutas
pela educação para as mulheres e no mundo do trabalho.
Quando as primeiras máquinas chegaram ao Brasil, elas
estavam presentes, integrando o contingente do
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operariado brasileiro e não escaparam da exploração
perversa e excludente, vivida pelas operárias do mundo
industrializado; salários insignificantes, pesadas jornadas
de trabalho, condições sub-humanas de trabalho. Além de
mães, assumiram, com garra, o papel de colaborar com a
manutenção da família.
Desde o início da industrialização, a mulher
desempenhou importante papel na luta por melhores
condições de trabalho e pelo direito ao voto.
Organizaram-se para defender melhores condições de
vida, denunciaram os maus tratos dos patrões, sendo, por
isso, muitas vezes, demitidas e perseguidas. Nada
porém,cala uma mulher que acredita num sonho de
libertação. A resistência feminina é grande demais para
ser silenciada covardemente. E sua luta pode ser
resumida neste pequeno trecho extraído do texto da
“Coleção Brasil” de Angélica Monteiro.
QUEM SOU EU?
“Venho das terras negras. Meu suor regou canaviais,
garimpos e campos. Apanhei e sangrei. Mas não me submeti. Fui
quilombola.
Venho também de outras plagas e de outros mares. Fui
mãe, esposa, irmã, freira e prostituta, senhora de escravos e
escrava.
Venho da raça vermelha potiguar de Clara Camarão, dos idos do
século XVII, na leitura de alguns, a primeira feminista brasileira.
Venho de um tempo em que as mulheres sequer
escreviam ou recebiam instrução formal. Sou filha da submissão.
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Tive nas mãos o poder da vida. Fui curandeira e parteira.
Fui vítima da Inquisição.
Venho de casamentos arranjados e maridos impostos.
Venho do tempo da tirania masculina, quando as mulheres
serviam para criar os cidadãos, mas a elas era negado o direito à
cidadania.
Lutei contra a escravatura e me fiz guerreira: branca, índia
e negra. Fui monarquista e republicana. Participei da luta de
Canudos e fui do bando de Lampião. Amei e fui amada.
Construí o progresso. Fui operária, teci sonhos de
igualdade e de felicidade. Sofri maus tratos, abuso sexual,
obrigaram-me a trabalhar exaustivamente. Não tive garantias
trabalhistas e dormi entre máquinas. Rebelei-me. Fui perseguida e
espancada. Queimada viva, mas resisti.
Conquistei o direito ao voto.
Lutei pela anistia,contra a carestia, pelos direitos
trabalhistas, pelas campanhas nacionalistas. Organizei-me: fiz
greve. Reivindiquei e conquistei.
Guerras, revoluções e golpes militares me reprimiram,
mas não calei
Na clandestinidade, apesar do medo, me reorganizei
paciente e silenciosamente, com a força de quem crê e quer. Fui
presa, torturada, estuprada, morta exilada. E, mais uma vez resisti
e avancei.
Reorganizei bandeiras. Conquistei espaços. Organizei
Conselhos dos Direitos da Mulher e Delegacias de Defesa da
Mulher.
Integrei a vida pública como Deputada Constituinte.
Vereadora. Senadora. Prefeita e Governadora. A Constituição me
garantiu a igualdade, mas os preconceitos e as barreiras
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invisíveis impedem o exercício dessa igualdade. Continuo
discriminada.
Rompi as barreiras que me negavam o mundo e a vida.
Ganhei ruas e praças e me fiz ouvida.
Sou mulher e penso. Sou mulher e trabalho. Sou mulher e
estudo. Sou mulher e procrio. Sou mulher e me permito a
felicidade. Sou amante e sou companheira.”
II – Ocupando espaços...
Em toda trajetória feminina, ao longo da história,
podemos perceber o crescimento da consciência crítica e
valorização da mulher, porém, na década de 1970 ela
decide abandonar o papel de dona de casa, de
coadjuvante, tomar seu destino nas mãos e acumular
funções de trabalhadora, mãe e esposa. Essa decisão foi
gestada durante séculos de dominação, silêncio e muita
luta. Já na década de 90, a mulher marca sua presença,
abandona em definitivo o papel de sexo frágil e marca sua
presença forte na economia. “ Com a globalização e todas
as transformações pelas quais passamos nos anos
noventa, muitos postos de trabalho foram extintos,
criando-se o chamado desemprego estrutural, que pode
ser resumido na substituição da mão-de-obra pela
tecnologia. A mulher firma seu espaço neste contexto”.
Essa transformação levou muitos maridos ao desemprego
e a mulher continuou ingressando na economia,
ocupando, assim, a chefia da família. A mulher passa a
ser o ponto de apoio fundamental para o marido.
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Podemos perceber isso, reparando em quantos
pequenos negócios foram e continuam sendo abertos por
mulheres ou mesmo fazendo seus trabalhos em casa e
vendendo de maneira informal como: doces, costuras,
artesanatos, pequenos eventos de aniversário e tantos
outros... Não podemos nos esquecer das muitas
cooperativas
de
mulheres,
fundadas
nestas
circunstâncias, nas várias comunidades pobres de nosso
país. É assim que a mulher vai ocupando espaços e
garantindo a sobrevivência de suas famílias.
O processo cruel de globalização da economia é
responsável pelo aumento da miséria, não só do nosso
país, mas do mundo. Esta nova lógica do capital produz,
cada vez mais milhões de marginalizados, excluídos em
nossa sociedade e destes milhões, 70% são mulheres. A
mulher foi reduzida à condição de mão-de-obra barata e
descartável. Os postos fixos nas grandes empresas são
destinados a trabalhadores qualificados e, em sua
maioria, homens. Às mulheres, restaram os postos
terceirizados
e
baixos
salários,
pois,
mesmo
correspondendo a 42% da população economicamente
ativa, as mulheres recebem, em média 60% da
remuneração dadas aos homens. A instabilidade, medo,
insegurança e responsabilidades cada vez maiores fazem
parte do cotidiano das mulheres e as doenças do trabalho
rondam constantemente suas vidas.
Ás condições precárias de vida soma-se a violência
doméstica. Cerca de 2.500 mulheres morrem,
anualmente, vítimas de violência, e 500 mil são
maltratadas física e psicologicamente no país. É bom
perceber, que em menos de um século, a mulher
conquistou espaço em vários setores da sociedade como:
política , economia, cultura e na vida pessoal cresceu sua
auto-estima. Não podemos negar sua maioria nas
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universidades. No entanto, nos cargos de chefia,
gerência, diretoria e presidência a presença da mulher
ainda é muito pequena. Ainda se fazem necessárias leis
que assegurem a presença da mulher em, pelo menos,
25% do total de cargos disponíveis e, mesmo assim, não
sem uma certa desconfiança por parte dos homens. Isto
nos faz perceber, claramente,a discriminação existente,
caso contrário, não precisaríamos de leis de
obrigatoriedade. Não quero e nem posso acreditar que
essa discriminação tenha seu embasamento num antigo
pensamento de uma visão tacanha, tanto de homens
como de mulheres, que “lugar de mulher é na cozinha.”
Além desta visão distorcida da realidade feminina, temos,
hoje, um outro agravante que leva as empresas a não
conceder às mulheres cargos de maior responsabilidade
ou de destaque, que é a dupla jornada de trabalho da
mulher; é o fato de conciliar as funções de mãe, esposa e
executiva. É claro que são conciliáveis, mas juntam-se a
estes fatores os direitos adquiridos pela mulher
trabalhadora ao longo da história, principalmente em se
tratando das mais jovens que estão em fase de
construção familiar, onde, com certeza, terão seus filhos,
e conseqüentemente a licença-maternidade. A empresa
se sente lesada, prejudicada, pois ficará sem sua
funcionária por quatro meses.
A realidade, porém, nos mostra que as mulheres
conseguem, com muita competência, conciliar suas
funções e fazem carreira, pois têm real noção de seu
valor e de sua responsabilidade. No entanto, elas estão
cada vez mais decididas a ocupar seu espaço no
mercado de trabalho. Não há necessidade de disputa,
mas sim, de complementariedade e de dividir, igualmente,
entre homens e mulheres tanto direitos quanto deveres.
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Este processo de inserção da mulher no mercado
de trabalho não vem acontecendo de maneira rápida e
nem de forma igualitária para todas as mulheres. Tal
fenômeno veio num crescendo e em situações
diferenciadas como: situação de desemprego, abandono
do marido, crescimento familiar e tantos outros que
poderíamos enumerar e que, certamente, cada uma e
cada um que estiver refletindo sobre o assunto estará
elencando em sua memória e em seu coração. Não
podemos nos esquecer que cada família, a seu modo,
busca conquistar ou manter uma certa qualidade de vida
e faz projetos para o futuro dos filhos.
Nestas condições, as mulheres são, seguramente
as mais afetadas. Não há mais um padrão único de
família e o ciclo vital da mesma não corresponde ao ciclo
vital
das
pessoas.
Podemos
verificar
estas
transformações pelo fato de que, cada vez mais, mulheres
jovens, por opção ou contingências da vida, vivem
sozinhas, e provavelmente não constituíram uma família.
Por outro lado, temos aquelas que se casam, mas sem
nenhuma garantia que envelheceram casadas. Algumas
continuarão suas trajetórias casadas, outras passarão por
uma ou mais experiências da dissolução da união e de
um novo casamento, podendo, ainda ser chefes de família
com filhos e sem parceiros. Algumas vão buscar apoio
econômico e social no grupo familiar para compensar a
ruptura da união.
A) Quais os possíveis sentidos do trabalho
feminino em tais circunstâncias?
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Nestes, e em tantos outros casos, o trabalho é
extremamente importante para a manutenção da família.
O crescimento da participação da mulher no mundo do
trabalho está intimamente ligado ao desemprego,
nascimento de filhos ou ao abandono da mulher pelo
marido que a obriga a trabalhar cada vez mais, para
sustentar sua família.
Podemos observar a dura jornada de trabalho,
principalmente das mulheres mais jovens e com filhos
ainda pequenos para as quais, além do trabalho
profissional, ainda existe o doméstico, que nem mesmo, é
reconhecido como tal. Existe também uma forte
discriminação por parte das empresas contra as mulheres
que têm filhos pequenos. Elas já entram na competição
em desvantagem. Assim sendo, não se trata só da
desigualdade de gênero no seio familiar, mas o mercado
utiliza esse privilégio e graça da mulher de gerar novas
vidas para discriminá-la.
Se nas famílias tidas como estruturadas, onde
existem mãe, pai e filhos, a situação já está complicada,
imagina a família cujo chefe é, unicamente, a mulher. É
comum, na separação, as mulheres ficarem com os filhos,
transformando-se em “cabeça do casal”, ou seja, passam
a sustentar, financeiramente, a família como mostra o
censo de 2000 do IBGE ( instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística ). O levantamento comprova que, de um total
de 44,7 milhões de famílias brasileiras, 11,2 milhões são
chefiadas por mulheres, número que cresceu de 18,1%
para 24,9/% nos últimos dez anos.
B) “Ser mãe é padecer no paraíso...”
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Ser mãe é gerar nova vida, é trazer ao mundo um
novo ser, é fazer acontecer o milagre da vida. Para uma
grande porcentagem de mulheres, porém, se torna um
grande desafio e até mesmo um peso. Não pelo fato em
si, mas pelas grandes renúncias que fazem, visando o
bem estar e o crescimento saudável de seus filhos/as e
pela discriminação exercida, fortemente, por uma
sociedade marcada pela economia produtiva, seletiva e
excludente do mundo atual.
Este assunto já se tornou para muitos estudiosos
temas de suas teses de mestrado e doutorado, no
entanto, muito pouco ajudou para a conscientização e
mudança da mentalidade machista que ainda impera no
mundo pós- moderno.Uma das teses atuais tratou do
assunto numa tentativa de explicar a redução do poder
aquisitivo das mulheres, em conseqüência da redução
salarial nos meses posteriores ao parto.
Uma possível explicação é porque muitas mulheres
buscam empregos com horários mais flexíveis, pois
precisam cuidar também da casa e do filho ainda pequeno
que necessita de cuidados especiais e estes cargos
pagam menores salários.O impacto da maternidade
nestes casos é negativo e faz com que as mulheres
busquem trabalhar cada vez mais para recuperar o
padrão de vida anterior. Um outro fator, entretanto, aponta
para a criança que precisa de muitos cuidados, fazendo
com que muitas mães abandonem o trabalho e se
dediquem somente ao trabalho doméstico. Ser mãe
porém, não é apenas padecer no paraíso, pois a pesquisa
mostra que a participação da mulher no mercado só sofre
“perdas” no curto prazo. Geralmente elas voltam ao
mercado de trabalho após 2 anos de ausência, e quase
sempre, conquistam seus antigos postos com igual ou
maior remuneração.
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Outra conclusão positiva para as mulheres é que o
desempenho feminino na disputa por postos de trabalho
se mostra mais favorável para o “sexo frágil” do que para
os homens.
C) O lado escuro da vida feminina
Existe uma “profissão,” e das mais antigas da
história da humanidade, mas falar dela ou sobre ela,
ainda é quase que pornográfico ou pecado mortal para a
“sociedade puritana” em que vivemos. Por outro lado, levo
a sério as palavras de Jesus quando diz que é possível
que as prostitutas nos precedam no reino dos céu.
Quando se conversa com mulheres que foram
obrigadas, pelas circunstâncias da vida a se prostituírem
para sustentar seus filhos e conseguimos encará-las nos
olhos, acolhê-las em sua dor, em sua vergonha, em seu
medo transformado em coragem, fazemos a mesma
experiência feita por Jesus junto à mulher adúltera.
Sentimos uma profunda compaixão.
Cada uma delas traz, no coração, marcas
profundas da brutalidade dos homens que as usam como
objetos de prazer, de desumanização, de satisfação de
seus instintos animalescos , como meio de sustento e
depois as entregam aos seus algozes para que as punam
e as libertem de seus pecados.
Muitas delas já foram presença na minha vida
como confidentes. Foram muitas histórias contadas entre
lágrimas, vazio e silêncio profundo, a fim de recuperar
forças para continuar a jornada. São incontáveis os filhos
gerados e sustentados por mulheres condenadas a
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vender seu próprio corpo. São muitos os “maridos”
sustentados também com o dinheiro ganho por estas
mulheres. Mulheres olhadas com desprezo, nojo, como se
fossem a escória da humanidade, julgadas e condenadas,
mesmo antes de analisarmos sua trajetória de vida.
Mulheres que trazem, no corpo e na alma, as marcas da
destruição de sua dignidade de filhas de Deus, de sua
auto-estima, do seu lado terno, solícito, geradora de vida,
capaz de doar sua última gota de sangue para defender o
vida daqueles que colocou no mundo, seus filhos , razão
de sua existência, que, muitas vezes se tornam, mais
tarde, seus próprios juízes e juízes de outras Marias...
Quando o desânimo bate à nossa porta, quando os
desafios se tornam maiores que as nossas possibilidades,
quando nos sentimos frágeis, impotentes diante da
sociedade castradora em que vivemos, diante das
injustiças, da marginalização, da discriminação, do medo
e da insegurança de continuar lutando pela vida e pela
dignidade, nos perguntamos, no silêncio do nosso
coração: Por que tantos esforços? Por que tanto
sofrimento? Até quando Senhor, suportaremos essa dor
que dilacera o nosso SER? Por outro lado, sabemos que
toda gestação de um sonho, de um novo ser, de vida
nova inclui necessariamente a dor do parto do qual nasce
vida nova. Toda mulher vive esta experiência no cotidiano
de sua existência. Gerar vida nova é perder muito de si a
favor do outro. “Mulher é sempre grávida do sofrimento
humano e o seu lugar, em nosso continente tão
machucado está nas frentes de combate, ao lado dos
oprimidos, contra a opressão. Trago para esta reflexão as
palavras de uma guerreira comunitária, da Comunidade
de São José em São Paulo:
“Sou mulher,
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Fui ao sepulcro do meu povo
Um dia – e vi.
Havia vida a proclamar.
Sou mãe ... dou a vida.
Sou esposa. Sou Compaixão.
Sou mulher, sou dor
Sou povo. Sou Amor- Anunciação.
Meu nome é Libertação.
Sou Paz. Sou Esperança.
Sou Igualdade.
Meu nome é Fraternidade
Sou apenas Maria Miguel .”
(Comunidade de São José – Itaim – São Paulo – Revista
Tempo e Presença – CEDI – RJ – nº 204 – Dezembro
1985)
III – A chama continua acesa...
Refletir sobre a mulher em qualquer que seja a
ótica, ainda nos causa dor e perplexidade, pois, depois de
tantos milênios, diante de tantos avanços científicos,
tecnológicos e sociais, a sociedade moderna continua
tacanha em suas relações com o universo feminino. É
preciso falar e falar muito sobre o assunto! É preciso
estudar, aprofundar, questionar, conhecer melhor o
chamado “sexo frágil” que na realidade, de frágil não tem
nada. A própria mulher precisa se conhecer e conhecer
sua força, sua importância, seu valor na composição de
uma sociedade pluralista, mas ainda conservadora e
machista.
Acredito que mudanças mais significativas
acontecerão, quando a educação for focada, não nas
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diferenças como meio de submissão, de divisão, de
poder, mas quando as diferenças forem vistas , aceitas e
integradas como complemento, como enriquecimento do
sexo oposto, como forma de equilíbrio do ser humano. É
necessário crescermos no conhecimento e no
aprendizado da convivência com o diferente e com as
diferenças, de uma forma transparente, sem medo de
perder
sua
individualidade,
suas características
próprias,sem medo de perder espaço, sem concorrências.
Nós, mulheres, precisamos acreditar em nós
mesmas, nos nossos valores, na nossa capacidade de
doação, de renúncia , se amar incondicionalmente, de
lutar por aqueles que de nós dependem, de ser elo de
união, de silenciar diante das evidências. Precisamos
continuar agindo sutilmente, sem entrar em conflitos, mas
também, não podemos fugir dos desafios resultantes do
crescimento de consciência, do reconhecimento do seu
valor, do seu papel na sociedade. A mulher faz a
diferença numa organização, seja ela qual for.
A história continua sendo escrita com muita dor,
mas também com muita alegria e esperança, lutas e
conquistas. Diante de tudo isto que vimos, podemos
afirmar que a estrada é longa, que os desafios são
imensos. A coragem e a ousadia das mulheres, porém,
são maiores que todos os obstáculos. Continuamos
sonhando com uma nova sociedade, onde não
precisaremos disputar espaço nem provar o valor de cada
ser humano.
Podemos notar também que, apesar da luta
feminina vir de longa data, a emancipação aconteceu a
bem pouco tempo, portanto estamos apenas começando
a nos profissionalizar, a mudar a mentalidade e a cultura
milenar da submissão. A mulher tem um grande caminho
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a percorrer, porém, carrega dentro de si grandes trunfos
para driblar as adversidades como: persistência, sutileza ,
e inteligência criativa e intuitiva. É só acreditar...
Irmã Maria de Fátima de Carvalho, CDP
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