Tereza
A mulher que ouvia muito
Regina Santos
Regina Santos
Tereza
A mulher que ouvia muito
1 ª Edição
Colombo - Pr
Edição online
2012
Tereza a mulher que ouvia
muito
por Regina Santos
Edição online
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Dedico este livro à minha mãe e a minha tia Tereza que foram ótimas
costureiras e a todas as costureiras do Brasil, pelo dom da transformação e
também pelo dom de ouvir com o coração.
Sumário
Capítulo I – Eduardo -.................................. 07
Capítulo II – Ana-......................................... 13
Capítulo III – Humberto-.............................. 18
Capítulo IV – Cecília -................................. 24
Capítulo V – Elvira -.................................... 30
Capítulo VI – Daniel -................................. 36
Capítulo VII – Pedro -................................ 41
Capítulo VIII – Zulmira-............................. 46
Capítulo IX – Sandro -................................ 51
Capítulo X – Mariza -................................. 56
Tereza é uma costureira em Curitiba, na verdade a melhor
que alguém possa conhecer, seus clientes esperam até três meses
para a roupa ficar pronta. Ela sempre avisa que está muito ocupada
e que a fila está grande, mas mesmo assim todos deixam seus
tecidos na esperança de que ela possa transformá-los numa obra
prima, numa espécie de alquimia.
Tereza tem o dom da transformação, nunca deixou nenhum
cliente descontente, nem os magros, nem os gordos, nem os altos e
nem os baixos, ela entra na alma de cada um, como se tivesse
estudado a fundo cada personalidade.
Cada cliente que chega com uma sacola com alguns tecidos
dentro traz também consigo a esperança de que terá roupas lindas
para desfilar e cada um dos clientes tem histórias para contar.
Além das roupas bonitas que todos esperam que Tereza faça,
tem os desabafos, como numa espécie de divã sentam em seu sofá
enquanto ela costura, falam de suas vidas, de seus sonhos e de
suas esperanças.
É assim a vida de Tereza, suas mãos e seus pés na maquina de
costurar, seus ouvidos e coração atentos ao cliente do momento.
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História (1): Eduardo
Eduardo mora no mesmo bairro de Tereza, é um cliente
extremamente fiel, nunca usou uma camisa comprada em lojas,
também optou por visual bem social desde a sua adolescência. As
pessoas falam que ele é um “almofadinha” porque ele está sempre
com roupa arrumadinha.
Bem, Eduardo tem 38 anos e nunca se casou, ele é muito
exigente com mulheres, mas gosta de mulheres sim, só está
esperando a moça perfeita.
Lá vem Eduardo com uma sacola cheia de tecidos para
Tereza confeccionar e também com histórias para contar.
- Tereza quando me sinto esquecido logo compro uns tecidos,
para você transformá-los com suas mãos mágicas em roupas
lindas e assim não me sinto deprimido! – disse Eduardo brincando
com a rima.
- Olá, Eduardo fico feliz que está de volta, há muito não tinha
noticias suas! – exclama Tereza.
- Como está a fila de clientes esperando? – pergunta Eduardo
esperançoso por uma resposta que o agrada.
- A fila não está muito grande Eduardo, creio que não
demorarei muito para fazer suas roupas - disse Tereza tentando
agradar seu cliente.
- Que bom Tereza, eu fico contente, na verdade estou meio
triste, por isso quero renovar meu guarda roupa – disse Eduardo
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com ar de quem quer conversar mesmo.
- Então, senta aí no sofá e me conta tudo, enquanto pedalo te
escuto – disse Tereza sabendo que tinha algo incomodando o
rapaz.
- Bem Tereza a história que vou te contar é sinistra, nem eu
acredito ainda que estou passando por isso! – disse Eduardo com
um pouco de vergonha.
- Que curiosidade Eduardo, me conta tudo! – exclama Tereza
que a está altura já não consegue nem guiar o tecido na máquina,
põe os óculos na cabeça e encara o rapaz.
- Então, mas seja forte porque não é fácil de acreditar que
alguém passe por isso – argumenta Eduardo.
- Homem de Deus fale logo, estou ficando com urticária de
tanta curiosidade – comenta Tereza.
- Eu fui remanejado para outro local de trabalho, lá no bairro
São Francisco, meu ônibus tem um ponto ao lado do cemitério
municipal. Para ganhar tempo e andar menos eu resolvi cortar
caminho por dentro do cemitério, faço isso há um bom tempo, mas
de uns dias para cá eu tenho uma companhia, ou melhor, uma
moça que me acompanha todos os dias – conta Eduardo já
desconfiando que Tereza possa não acreditar no que vai ouvir.
- Que bom Eduardo você precisa arrumar uma namorada –
disse Tereza sem ter muito no que falar.
- Então, ela não fala quase nada sobre si mesma, está sempre
com o mesmo agasalho de ginástica e o mesmo tênis de
caminhada, dá impressão de que está fazendo caminhada e que
também corta por dentro do cemitério assim como eu – disse
Eduardo encarando Tereza que já está dando sinais no rosto de que
está duvidando da historia.
- O pior é que sou eu quem mais fala, ela sempre mantem
certa distância física de mim e sempre me alcança na entrada e
para de andar ao meu lado na saída, isso me deixa muito intrigado
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– completa Eduardo.
- Que moça estranha você conheceu, não acha? – disse Tereza
já arrumando os óculos e acertando o tecido na máquina.
Isso deixou Eduardo sem jeito, que desconversou
perguntando quando poderá vir provar as roupas.
Então, Eduardo agradeceu Tereza e foi embora.
Um mês depois
Tereza colocou as roupas de Eduardo para provas em menos
tempo que o habitual, na verdade estava muito curiosa para saber
o que deu a tal história dele.
- Que bom que já posso provar minhas roupas – disse
Eduardo
- A história da tal moça que você conheceu me deixou muito
intrigada – disse Tereza desejando que Eduardo continue a falar
sobre o assunto.
- Bem Tereza então, já tem alguns meses que nos
encontramos no mesmo trajeto curtíssimo e somente neste trajeto,
eu a convido para sair e ela sempre dá desculpas que não pode –
comenta Eduardo com tristeza na voz.
- Muito estranho Eduardo, quem sabe ela é casada e fica
dando desculpas porque não quer trair o marido – disse Tereza
querendo ajudar o amigo.
- Eu também penso assim, mas ela insiste em dizer que não é
casada – comenta Eduardo mostrando que está envolvido com a
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moça mais do que queria realmente.
Tereza entrega as roupas para Eduardo provar na esperança
de animá-lo.
Eduardo fica desfilando na frente do espelho, mas não
demonstra muito alegria.
- Tereza as roupas ficaram todas na medida certa, não tem
nada que ajustar, pode fazer os acabamentos, você é sempre
perfeita – disse Eduardo sem muito ânimo.
- Então, pode vir buscá-las na próxima semana e dá um jeito
de desenrolar esta história da moça misteriosa, a fila tem que
andar – comenta Tereza.
- É verdade, darei um jeito ou partirei para outra – disse
Eduardo.
- É assim que se fala meu amigo - disse Tereza dando um
abraço apertado em Eduardo.
Uma semana depois
Tereza colocou as roupas do Eduardo numa sacola, num
canto da mesa e ficou só pensado nele, estava bastante ansiosa
para saber o que deu aquela história.
Quando Eduardo chega, Tereza vai até a porta recebe-lo, nem
sempre ela faz isso, seus clientes vão até o canto onde fica a
máquina, mas ela está muito curiosa para ficar sentada, estica os
braços para abraçá-lo e então, percebe muito tristeza em seu olhar.
- Me conta as novidades Eduardo, estou aflita para saber 10
disse Tereza.
- Então, Tereza é melhor você sentar para ouvir e seja forte o
final da história é de arrepiar! – disse Eduardo num estado quase
de depressão.
- O quê que aconteceu? – pergunta Tereza com um tom de
espanto, sentando no sofá que geralmente é o cliente quem senta.
- Foi assim, na sexta-feira eu a convidei para sair e ela me
disse não outra vez, então, eu perguntei qual era a intenção dela
com relação a mim e disse que estava apaixonado por ela e que
pensava nela o tempo todo, então, ela me pediu desculpas e disse
que não era possível – comenta Eduardo.
- Por que não era possível? – interrompe Tereza angustiada.
- Então, foi assim que o mundo desabou sobre mim, ela me
pediu perdão e disse que já tinha partido do mundo físico e que
vagava pelo cemitério porque seu desligamento foi de uma forma
muito bruta e ela não aceitava que não fazia mais parte deste
mundo – disse Eduardo olhando nos olhos de Tereza esperando
pela pior reação dela.
- Meu Deus, Eduardo não sei o que dizer – exclamou Tereza.
- Não diga nada porque nem eu acredito que passei por isso.
- E você deixou quieta a história não foi averiguar? –
pergunta Tereza apavorada.
- Até então, ela tinha dito que seu nome era Helena, era tudo
que eu sabia a respeito dela. Fui trabalhar naquela sexta quase
morrendo de tristeza e passei o pior final de semana da minha vida
– disse Eduardo.
- Mas ela não apareceu mais? – pergunta Tereza.
- Sim na segunda-feira eu estava com medo de fazer o mesmo
trajeto, mas enfim eu passei novamente e lá estava ela, então, ela
me perguntou se eu queria ver seu túmulo, eu aceitei e lá tinha seu
nome inteiro, então, quando cheguei ao meu serviço fiz pesquisa e
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descobri, no começo deste ano um adolescente trafegava em alta
velocidade e atropelou uma moça que fazia caminhada numa
ciclovia, atingindo a pelas costas, ou seja, Helena morreu sem ver
– comenta Eduardo.
- Que história! Estou toda arrepiada e não sei o que te dizer –
disse Tereza que não estava duvidando do moço, porque o conhece
há muito tempo.
- Tereza não há o que dizer numa hora dessas. Eu voltei no
mesmo dia no período da tarde e acendi velas e coloquei flores e
rezei muito, era tudo que eu podia fazer e nunca mais cortarei
caminho dentro de um cemitério – disse Eduardo com muita
tristeza na voz.
Tereza não conseguiu segurar suas lágrimas, abraçou
fortemente seu cliente e amigo.
Eduardo pagou a conta pegou a sacola e despediu-se de
Tereza.
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História (2): Ana
Tereza conhece a vida difícil que Ana leva.
Ana é uma mulher muito forte, tem cinco filhos. Ficou viúva
muito cedo, seu marido morreu atropelado indo para o trabalho de
bicicleta. Foi uma grande tragédia em sua vida, seus filhos todos
pequenos, não tinha emprego, nem profissão e tão pouco
escolaridade para apresentar às empresas. Conseguiu então, um
emprego para fazer café numa empresa de informática num bairro
bem distante.
De tempo em tempo Ana aparece com alguns tecidos e muita
história para contar.
Há dois anos sua filha que na época só tinha quatorze anos
engravidou-se e o pai da criança, outra criança, porque só tinha
quinze anos, não assumiu, assim mais um na família para Ana
sustentar.
Tereza sente muito dó de Ana, sempre sofre com suas
histórias, no ano passado seu filho de dezessete anos foi pego
roubando carro, levou uma surra danada e parece que aprendeu a
lição, ninguém ficou sabendo sobre outros roubos.
O orgulho de Ana é sua filha de treze anos ela é seu braço
direito, faz o serviço da casa, sabe cozinhar como gente grande e
ainda ajuda a mãe a lavar as roupas.
Mas está faltando mais dois filhos, sim estes são os gêmeos
de nove anos, estes sim são arteiros, quase derrubam a casa e
sempre são expulsos da escola, tem professora se tratando com
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psicólogo e desejando que chegue logo a aposentadoria para nunca
mais ver aquelas crianças.
Bem assim são os cinco filhos de Ana, o netinho ainda não se
sabe como vai ser, mas já é bem esperto para a idade dele.
Toda esta história Tereza sabe e sempre reza por Ana, para
que Deus dê saúde e força para que ela possa enfrentar tudo isso
sempre alegre.
Lá vem Ana com seus humildes tecidos na sacola.
- Quanto tempo Ana! – pergunta Tereza e com muita
curiosidade para saber se Ana tem novas histórias para contar.
- Então, Tereza minha vida é corrida como você sabe, meu
dinheiro é curto e por isso desapareço por tanto tempo – disse Ana
com alegria por estar ali com seus tecidos.
- Mas que bom que você está aqui agora – comenta Tereza
pegando a sacola de suas mãos.
- Quero que faça um vestido para uma festa de aniversário da
minha empresa e um jaleco, pois o meu já está rasgando de tanto
lavar – disse Ana rindo de sua situação.
- E quando será esta sua festa? – pergunta Tereza.
- Daqui a três semanas – responde Ana e com muito medo de
que Tereza não consiga aprontar seu vestido até o dia da festa.
- Vou dar um jeito de por seu vestido para prova semana que
vem – disse Tereza porque sente muita pena da amiga e sabe que
se ela não veio antes é porque não tinha o dinheiro.
- Mas agora eu quero saber as novidades – disse Tereza num
sorriso um pouco sem graça.
- Por incrível que pareça eu não tenho novidades, está tudo
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normal lá em casa, dá até medo de falar – comenta Ana indo em
direção da porta para ir embora.
- Que bom Ana um pouco de paz, você merece.
E assim Ana se despediu de Tereza e foi para seu mundo de
dificuldades e de pobreza.
Uma semana depois
Tereza colocou em ponto de prova o vestido de Ana, ficou até
mais tarde numa noite, só para ajudar Ana.
Lá vem Ana se arrastando, numa tristeza de chorar.
- Por que está tão triste Ana? – pergunta Tereza que consegue
ver de longe sua tristeza.
- A minha vida não é fácil quando eu penso que está tudo
bem, aí tudo desaba novamente – desabafa Ana.
- O que foi desta vez Ana? – pergunta Tereza morrendo de
curiosidade.
- Dá para acreditar que meu filho ainda nem completou
dezoito anos e engravidou a namoradinha dele e os pais da menina
expulsaram-na da casa, ela está morando lá em casa? – exclama
Ana com muita tristeza na voz e muito peso nos ombros.
- Meu Deus Ana! – disse Tereza num tom de horror.
- Não sei o que fazer da minha vida, tem horas que parece
que não vou resistir – comenta Ana.
- Que família grande a sua, não sei como você dá conta de
tudo isso – disse Tereza arrepiada com a história.
Ana pega o vestido e vai provar, mas está tão desanimada que
nem vê a beleza do corte novo que Tereza fez exclusivo para ela,
mas percebe que Tereza espera por seu comentário.
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- Perfeito! Tereza ficou lindo, suas mãos são de fada.
- Vou fazer os acabamentos pode buscar no começo da
semana que vem – disse Tereza.
Uma semana depois
Tereza deixou a roupa de Ana numa sacola e espera ansiosa
por ela.
Hoje Ana não chegou a pé como sempre fez, Tereza escutou
um barulho de carro olhou pela janela e viu Ana chegando de táxi
e foi entrando portão à dentro muito rapidamente como se
estivesse fugindo de algo ou não queria ser vista ali.
Tereza ficou curiosa saiu correndo do seu canto de costura e
foi de encontro com sua colega.
- Por que veio de táxi Ana? – pergunta Tereza quase que
adoecendo de tanta curiosidade.
- É melhor você sentar – disse Ana com tanto brilho nos
olhos que era de cegar quem estava olhando para ela.
- Ana! Estou arrepiada de tanto curiosidade – disse Tereza
sem esconder sua reação que era de muito espanto, porque estava
sentindo boas vibrações em Ana.
- Senta aí que eu vou contar tudo – disse Ana.
Então, Tereza sentou novamente no sofá que normalmente
quem senta é o cliente.
- Bem Tereza, a semana passada eu recebi meu pagamento e
fui numa casa lotérica pagar as contas – disse Ana dando uma
pausa na conversa.
- E daí Ana o que aconteceu?
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- Bem, a moça não tinha troco para me dar então, eu pedi dois
cartões da loto fácil para o sorteio desta segunda-feira, então,
aconteceu que aqueles números foram abençoados eu ganhei um
milhão e meio de reais – disse Ana com lágrimas nos olhos de
tanta felicidade.
- Deus é pai! – comenta Tereza, com sentimentos verdadeiros
porque sabe que a vida da amiga sempre foi muito difícil.
- Então, minha amiga, saí do cativeiro em que estava vivendo
e agora só peço a Deus sabedoria para lidar com minha nova vida
– disse Ana enxugando as lágrimas.
- Mas você continua morando aqui? – pergunta Tereza.
- Não na terça-feira depois que saí da caixa, fui para outro
lado da cidade e aqui vai ficar em nossas mentes e corações –
disse Ana pegando a sacola, pagando sua conta e indo em direção
à porta.
Tereza levou Ana até o portão abraçou e beijou a amiga, mas
sabe que a nova vida de Ana, vai colocar limites e que talvez
nunca mais a veja.
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História (3): Humberto
Tereza tem uma grande amizade com Humberto, passaram a
infância e a juventude morando perto um do outro, estudaram
juntos, mas quando ele entrou na faculdade de economia na
Universidade Federal do Paraná, começou uma nova era de sua
vida, foi trabalhar numa empresa multinacional e então,
abandonou a vila.
Bem os anos se passaram e Humberto ficou cada vez melhor
de situação financeira, mas também aumentaram seus tiques
nervosos e suas manias estranhas.
Humberto é um homem de quase dois metros de altura, loiro
e muito magro, já deram vários apelidos para ele inclusive de
boneco de Olinda.
O casamento dele durou menos de um ano, sua mulher não
aguentou tanta esquisitice. Ele colocou a cama de um jeito que
quando o sol nascia tocava em seus pés e brigava com a mulher
porque ambos queriam o mesmo lado da cama, ele não aceitava
levantar e tocar o chão primeiro com seu pé esquerdo, também
dizia que o homem deveria ficar com o lado direito da cama.
Humberto brigava com a mulher por causa da pasta de dente,
porque ela apertava a pasta em cima e ele em baixo, brigava por
causa da margarina, porque ela não deslizava a faca e sim fazia
buracos. O cesto de roupa suja ficava atrás da porta na lavanderia
e ele verificava todos os dias se alguma peça de roupa estava do
avesso, ele odiava e reclamava quando achava uma roupa da
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mulher do lado avesso.
Tereza sempre soube dos cacoetes de Humberto, a cada roupa
que ela confeccionava para ele, ela descobria uma esquisitice nova
dele.
Recém-casado Humberto chegou à sua casa à noite e
encontrou a mulher fazendo faxina, porque ela trabalhava o dia
inteiro e só conseguia limpar a casa à noite, então, quando ela
pegou a vassoura e foi varrer o lixo para fora, ele se desesperou e
quase surrou a pobre mulher porque não se deve varrer o lixo para
fora de noite, ele dizia que isso tirava a proteção do lar.
Quando sua mulher deixava um sapato virado para baixo, ele
a xingava um monte, quando ela queria dormir nua, ele entrava em
desespero porque dizia que enquanto dormimos o espirito saí para
vagar e quando volta, odeia um corpo despido e pode se recusar a
entrar nele de volta.
Tereza sempre soube das esquisitices de Humberto sempre
que podia o aconselhava sobre seus exageros, mas ele não se
ofende quando alguém tenta muda-lo, ele simplesmente ignora.
Humberto um dia pegou seu sobrinho de oito anos dançando
o moonwalk do Michael Jackson e deu uma surra na criança
porque não se pode andar de costas, diz ele que pisa no cabelo de
Nossa Senhora.
Humberto encostou seu belo carro em frente à casa de Tereza
e com a cabeça baixa, evitando ver alguém e também ser visto,
entrou rapidamente pelo portão, na verdade ele não gosta mais do
bairro e não visita ninguém a não ser Tereza.
- Olá Tereza, que saudades de você! – disse Humberto.
- Eu também estava com saudades de você – disse Tereza e
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abrindo os braços para dar um abraço em seu amigo.
- Tereza! Estou com saudades das tuas roupas, das tuas mãos
de fada e do teu ombro amigo! – disse Humberto.
- Porque demorou tanto para vir? – pergunta Tereza.
- Eu não venho aqui desde as minhas férias, lembra que fui
para Machu Picchu lá no Peru? – comenta Humberto.
- Sim – disse Tereza com curiosidade.
- Então, eu sou tão azarado que passei anos desejando ir
conhecer aquele lugar e quando vou, chove sem parar e deixa mais
de dois mil turistas ilhados! – comenta Humberto desanimado.
- Triste meu amigo, mas você terá novas férias e fará novas
viagens e tudo ficará no passado – disse Tereza querendo animálo.
- Obrigado Tereza.
- Então, vamos tirar as medidas? – disse Tereza.
- Creio que não precisa, tenho as mesmas medidas desde os
meus 25 anos! – exclama Humberto.
Então, Humberto escolheu os modelos para suas camisas e
ele sabe que em lojas não consegue comprar suas camisas por
serem muito longas e estreitas como dizia a sua mãe; “um pau de
virar tripas”.
Tereza o acompanha até a porta, pois Humberto não sai das
casas das pessoas pelas suas próprias mãos, tem que ser uma
pessoa da casa para abrir a porta para ele sair.
- Pode vir na próxima semana provar suas camisas – disse
Tereza.
- Fico contente por não ter que esperar três meses! – comenta
Humberto, com um tom de brincadeira.
- Humberto sai esperançoso por suas roupas novas.
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Uma semana depois:
Humberto além de todas as superstições que herdou ao longo
da vida e das pessoas ao seu redor, agora resolveu dedicar um
pouco de seu tempo estudando o esoterismo, já fez vários cursos
entre eles um de viagem astral. E de vez em quando ele resolve
tentar sair do corpo físico em viagem astral, diz ele que uma noite
conseguiu sair do seu corpo e então, resolveu visitar um amigo,
entrou casa adentro, isso em corpo astral e quando chegou à porta
do quarto tentou entrar e uma mão o empurrou muito longe, com
muita força, fazendo com que ele acordasse na hora. No dia
seguinte ele perguntou ao amigo se tinha alguma coisa diferente
na casa dele por volta da onze da noite e explicou o porquê, então,
o amigo respondeu que nesta hora sua esposa estava amamentando
seu filhinho. Humberto sentiu que invadiu a privacidade das
pessoas e ficou muito mal por isso, mas sempre que podia tentava
sair do corpo físico.
Tereza adora ouvir as pessoas e sempre ouve com o coração,
sempre acompanha as histórias de Humberto, apesar de achá-lo
muito diferente da maioria das pessoas, ela se diverte muito.
Lá vem Humberto com o seu caminhar estranho, seus ombros
não são retos, não formam um ângulo de noventa graus, o lado
direito dele é uns cinco centímetros mais alto que o lado esquerdo.
Dá a impressão que o lado direito dele não obedece à gravidade da
terra, parece que quer subir para o espaço, por isso ele anda
saltitando.
- Olá Tereza, estou curioso para provar as minhas camisas! –
comenta Humberto.
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Humberto vai até o canto onde fica o espelho e aprecia a
beleza do corte de Tereza.
- Suas mãos são de fada Tereza! – comenta Humberto.
- Eu já te falei das novidades? – pergunta Humberto, mas já
sabendo da resposta de Tereza.
- Não falou nada, eu estou morrendo de curiosidade –
comenta Tereza, sentando no tal sofá divã.
- Bem Tereza você sabe que tenho feito alguns cursos
esotéricos e por ultimo eu fiz um curso de Reik, isso é massagem
energética. O que aconteceu que o pessoal que deu o curso veio da
Índia e eu me apaixonei por uma indiana chamada Ramani, já faz
algum tempo que nos falamos pela net – disse Humberto e
respirou fundo.
- Que história legal Humberto, tomara que você se acerte com
esta moça, você precisa ter alguém – disse Tereza com sinceridade
mesmo porque tem dó do amigo.
- Ela é bem parecida comigo, gosta das mesmas coisas que eu
– disse Humberto.
- Vou rezar por você e pedir a Deus que te dê uma solução –
disse Tereza, nesta hora se levantou e foi sentar-se à sua máquina.
- Tereza todas as camisas estão na medida, pode fazer os
acabamentos – disse Humberto.
Tereza o acompanhou até a porta.
Quatro semanas depois:
Humberto não pôde vir no tempo combinado e Tereza estava
22
preocupada.
- Tereza me desculpe pela demora, minha vida deu uma
virada muito grande! – disse Humberto.
- Me conta tudo!
- Lembra que eu te falei da moça indiana? – perguntou
Humberto.
- Sim, lembro!
- Então, eu pedi para minha empresa me transferir para um
Call Center deles que existe em Mumbai na Índia, porque a
Ramani mora na região metropolitana desta cidade e eles
aceitaram – disse Humberto
- Então, quer dizer que você vai embora? – pergunta Tereza
com muito espanto.
- Sim, já está tudo pronto viajo semana que vem – disse
Humberto.
- Que mudança de vida! – exclama Tereza.
- Eu tenho que tentar, desde que me separei nunca mais tive
um relacionamento sério, estou envelhecendo sozinho e isso não é
bom – comenta Humberto.
- Então, estas são as ultimas camisas que confecciono para
você? – pergunta Tereza com muito dó do rapaz, porque sabe que
não é fácil deixar tudo, inclusive a pátria.
- Sim Tereza, mas não fique preocupada comigo vai dar tudo
certo – disse Humberto com lágrimas nos olhos, por saber que não
verá mais a sua amiga.
Tereza estendeu os braços, abraçou forte o amigo e
acompanhou até o portão e ficou observando seu carro sumir do
seu campo de visão.
23
História (4): Cecília
Tereza tem grande admiração por Cecília, por ser uma mulher
guerreira.
Cecília veio do interior do estado há uns cinco anos, teve que
sair às pressas porque seu marido foi morto numa emboscada
numa invasão de terras. Seu marido não gostava muito de
trabalhar, dizia que queria seu próprio pedaço de chão, para então,
produzir, tinha muitos sonhos, sonhava que um dia seria um
grande produtor, na verdade nem sequer sabia o que iria produzir.
Sempre que tinha um agito de pessoas querendo tomar terras
de fazendeiros, lá estava ele gerenciando a confusão.
Cecília sofria muito com aquilo, enquanto o marido ficava
viajando em busca de terras aleias, ela tinha que trabalhar duro na
roça cortando cana.
Um dia seu marido saiu para uma tentativa de posse e quando
chegou ao local houve um tumulto com tiroteios e ele foi atingido
por uma bala, nunca se soube quem foi o culpado.
Depois da morte de seu marido Cecília veio morar na capital
no bairro de Tereza e então, ficaram amigas.
Cecília sofreu muito na vida com aquele marido sem juízo e
com duas crianças, tendo que levar para a roça junto com ela
porque não tinha com quem deixar, mas isso não tirou seu alto
astral e nem sua beleza.
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Cecilia é uma morena muito bonita, tem trinta e cinco anos,
mas aparenta menos até, seus cabelos são longos e pretos e seus
olhos são verdes dando um contrate no rosto.
Lá vem Cecília com uma sacola na mão e muito história para
contar.
- Olá Tereza, quanto tempo!
Tereza quase enfartou quando viu a amiga de perto.
- Meu Deus Cecília eu não sabia que você estava gravida! –
exclama Tereza agoniada por não saber nada daquilo.
- Então, minha amiga, já faz quase um ano que eu não venho
aqui – disse Cecilia com um pouco de timidez.
- Você se casou? Pergunta Tereza com espanto.
- Não, Tereza, me envolvi com uma pessoa e engravidei,
pensei que isso não me aconteceria, pois meu medico disse que eu
estava entrando numa menopausa precoce – disse Cecilia.
- Mas você está com o pai? – pergunta Tereza louca de
curiosidade.
- Não, ele nem sabe e até já foi embora de Curitiba – comenta
Cecilia com tristeza na voz.
- E você está trabalhando no que? – pergunta Tereza.
- No mesmo emprego de doméstica, mas minha patroa
morreu faz quase um ano, não sei por quanto tempo ainda vou
ficar por lá, meu patrão é muito esquisito – comenta Cecilia.
- Que idade ela tinha? – pergunta Cecilia.
- Menos de quarenta eu acho, parece que morreu de
depressão – comenta Cecilia.
- Muito triste, mas vamos às medidas – disse Tereza
apressando Cecilia.
25
- Não são roupas para mim, são panos para fazer fraldas –
disse Cecilia.
- Mas hoje em dia ninguém usa mais fralda de pano –
comenta Tereza.
- Tenho medo que meu bebê possa ser alérgico a fraldas
descartáveis – comenta Cecilia.
- Então, eu confeccionarei logo – disse Tereza.
- Eu já estou entrando no oitavo mês, mas como ando com a
pressão um pouco alta, talvez o bebê nasça antes do tempo –
comenta Cecilia numa tentativa de pedir urgência para Tereza.
- Não se preocupe Cecilia ficará pronto logo e se cuide –
disse Tereza.
Tereza voltou para seu canto de costura e não parou de pensar
na história de Cecilia um só instante, sente muita pena de sua
amiga por levar uma vida complicada com seus dois filhos,
pagando aluguel e agora esta situação nova.
Tereza sempre reza por seus clientes, tem muita fé em Deus,
sua vida também tem altos e baixos, mas ela nunca demonstra
nada para seus clientes, está sempre sorrindo e querendo ajudar a
todos.
Histórias como a de Cecilia é que deixa Tereza mais
agradecida a Deus por tudo, pelo modo como vive. Seus três filhos
são maravilhosos, seu marido é um tanto misterioso, mas é um pai
amoroso está sempre presente na vida de todos, nunca se envolve
nas histórias de seus clientes, só não gosta quando ela fica muito
tempo rezando por eles e também não gosta quando ela fica
costurando até altas horas.
Tereza acha que sua vida está sob controle sempre e por isso
ela se dedica de corpo e alma aos seus clientes, ouvindo suas
histórias e confeccionando as mais belas roupas.
26
Dois meses depois
Tereza achou muito estranho que sua amiga, não tenha vindo
buscar as fraldas, mas ela nunca liga cobrando, nem a visita e nem
o dinheiro, sempre deu esta liberdade aos seus clientes, mas isso
não a impede de ficar muito preocupada e curiosa.
Cecilia entrou portão à dentro com sua filhinha em seus
braços e uma alegria fora do comum, havia um brilho tão grande
em seus olhos que Tereza levantou do seu canto e foi ao seu
encontro.
- Cecilia estava muito preocupada com você! – exclama
Tereza
-Peço desculpas minha amiga, mas aconteceram muitas
coisas na minha vida nestes dois meses – comenta Cecilia cheia de
alegria.
- Me conta tudo!
- Faltavam três semanas para minha filhinha nascer eu estava
no ônibus que vai para o meu trabalho, isso às sete horas da
manhã e minha bolsa estourou – comenta Cecilia, tomando folego
porque é longa a história.
- Meu Deus! – exclama Tereza.
- Daí, entrei em desespero e liguei para o meu patrão vir me
socorrer, não tinha ninguém para pedir ajuda – disse Cecilia dando
uma pausa.
- Me fala tudo! – exclama Tereza em desespero para saber o
final da história.
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- Ele chegou bem rápido ao ponto de ônibus em que eu
estava, tive que descer e ficar parada no ponto esperando por ele –
explica Cecilia.
- E ele te levou para o hospital? – pergunta Tereza.
- Sim, mas me levou para uma maternidade particular e
quando chegou ao local o bebê já estava nascendo foi o maior
desespero – disse Cecilia.
- Meu Deus! Que história!
- Lá na maternidade pensaram que ele era o pai da criança e
ele ficou quieto – comenta Cecilia.
- Estou pasma!
- Vou resumir a história, então, eu tive o melhor atendimento
médico da minha vida, ele pagou tudo – comenta Cecilia.
- Mas e o que aconteceu depois?
- Bem quando tive alta ele me buscou e perguntou se eu
queria ficar na casa dele por uns dias, eu aceitei – disse Cecilia.
- E os meninos? – pergunta Tereza preocupada com as
crianças.
- Uma vizinha estava cuidando deles, mas meu patrão os
buscou e ficamos todos na casa dele – explica Cecilia.
- O que deu nele?
- Tem mais história ainda, ele contratou uma nova empregada
e eu só ficava curtindo a minha dieta e meus filhos, mas eu sentia
que a cada dia tinha algo estranho acontecendo com ele, acabou
que ele me pediu em casamento, disse que sempre me admirou e
que é um homem muito sozinho, não teve filhos porque a mulher
sempre foi doente, que ele precisava de mim e eu disse que
aceitava, pois também precisava daquela proteção – comenta
Cecilia tomando fôlego.
- Estou zonza com esta história! – exclama Tereza
28
- Então, ele registrou minha filhinha no nome dele e nos
casaremos em breve – disse Cecilia pegando a sacola e indo em
direção à porta.
Tereza acompanhou sua amiga até o portão deu um longo
abraço e teve a sensação de que não a verá tão cedo, sentiu muito
vontade de rezar por ela.
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História (5): Elvira
Se existe uma pessoa que Tereza é cheia de compaixão é
Elvira. Desde adolescente Elvira foi diferente, seu corpo não se
formou como a maioria das meninas, ela só menstruou aos dezoito
anos e seus seios só ganharam um pouco de volume depois disso,
então, foi muito difícil para ela.
Tereza estudou com Elvira no mesmo colégio, mas não na
mesma série porque Elvira é um pouco mais nova.
O garotos da escola nunca olhavam para Elvira, ela não tinha
seios e nem bumbum, era bem magra e aos quatorze anos já tinha
um metro e oitenta de altura, não era compatível em altura com
nenhum menino da escola.
Tereza conversava muito com Elvira no recreio e também no
trajeto da escola, ouvia o desabafo da menina e sentia pena por ela
ser tão diferente de todas as moças que ela conhecia.
Os anos se passaram Tereza foi para outra escola e só via
Elvira de tempo em tempo.
No casamento de Tereza na hora de pegar o buquê Elvira era
a moça mais alta, mesmo assim não conseguiu pegá-lo.
Elvira não conseguia arrumar namorado nunca, ora por causa
de sua altura, ora por incompatibilidade, enfim os anos se
passaram e todas suas colegas se casaram e o sonho de se casar
ficava cada vez mais distante.
Então, Elvira numa determinada fase de sua vida, tinha
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mesmo ficado para titia, pois seus irmãos todos mais novos já
tinham casados e todos tinham filhos.
Elvira para em frente ao espelho, vê marcas do tempo, faz
uma avaliação de tudo que viveu e decide que vai mudar seu
quadro.
A cada roupa que Tereza confecciona para Elvira ela se
divertia muito, pois em busca de sua alma gêmea, ela aprontava
muitas travessuras, ela dizia que ao invés de achar a alma gêmea
ela encontrava era a alma penada.
O primeiro rapaz por quem Elvira se interessou, casou-se
com sua irmã, a pobre moça sofreu calada ninguém além de
Tereza soube disso.
Elvira ia às festas, aos bailes, aos parques, às feiras, aos
mercados, enfim em todos os lugares ninguém se interessava por
ela, se sentia transparente, na verdade ela era tão branca que quase
era transparente mesmo.
Então, a idade bateu e Elvira travou uma luta consigo mesma
para mudar sua sina e o primeiro lugar que ela visitou foi uma
mulher que via búzios e então, a mulher jogando os búzios disse
para ela que na vida passada Elvira tinha sido uma cigana e que
ela maltratou muito os homens e que nesta vida ela iria ficar
sozinha para pagar por aquilo.
Elvira entrou em desespero e a mulher então, disse que
conseguiria reverter à situação mediante a algumas aquisições.
Elvira tomada por um desejo de mudança aceita. A mulher disse
que ela foi uma cigana chamada Analú, pediu dinheiro para
comprar uma imagem desta moça e a trancou numa casinha. Um
dia pedia dinheiro para a fruta, outro para o cigarro outro para as
velas.
Durante um bom período Elvira visitava aquela mulher e
pedia para ver a imagem da tal cigana, mas a mulher um dia dizia
hoje tem muitas nuvens, no outro dizia o sol já se pôs e assim foi
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até Elvira se cansar, sua Analú ficou lá trancada para sempre na
sua memória e no seu coração.
Pobre Elvira na primeira tentativa já se deu muito mal,
quando ela contou esta façanha para Tereza, viu as lágrimas
escorrendo pela face da amiga.
Tereza sempre teve muito dó de Elvira porque sabe que ela
sofre por tudo isso.
Passado um tempo da primeira tentativa, Elvira escolhe um
caminho um tanto esotérico. Ela resolveu fazer um curso de
projeção astral indicado por um amigo.
Segundo seu professor existe um Tribunal Cósmico, um Juiz
Supremo onde podemos negociar nossas dívidas, ou seja,
modificando as causas pode-se modificar o efeito. A tal balança do
bem e do mal existe e que todos os dias somos avaliados e que má
ação gera má consequência e boa ação gera boa consequência.
Elvira não se achava uma pessoa má e não entendia o castigo
por qual passava, mas durante seis meses ela frequentou o curso e
ficava numa sala em círculos tentando sair do corpo para ir ao tal
Tribunal Cósmico para tentar negociar seu karma fazendo uma
proposta, ou seja, dando algo em troca do seu problema por não se
casar.
Seu professor disse para que uma proposta mereça
consideração, deverá ser perfeitamente clara, de bom coração. Os
pedidos sempre serão deferidos quando a maneira de liquidação
for com obras, isso deixou Elvira avaliando sua vida, ela nunca fez
mal a ninguém, mas também nunca fez nada que mudasse o
sofrimento de alguém.
Quando acabou o curso Elvira havia aprendido muita coisa,
mas nunca conseguiu sair do corpo físico e teve dor de cabeça
todas as noites em que tentou fazer uma viagem astral.
Tereza sofreu por esta tentativa de Elvira e rezou muito por
ela.
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O tempo passa e de vez em quando Elvira aparece com seus
tecidos, seus desabafos e suas mágoas. Sempre deseja ter uma
história nova e com vitória para contar para Tereza.
Lá vem Elvira.
- Olá Tereza, quanto tempo!
- Você sumiu Elvira! – exclama Tereza.
- Vim renovar meu guarda roupa eu agora só uso saias e
vestidos, não uso mais calças cumpridas – comenta Elvira.
- Qual a novidade Elvira?
- Então, na tentativa de me casar eu resolvi ser evangélica –
disse Elvira.
- Conheci uma igreja nova e me tornei membro – disse Elvira
um pouco envergonhada da situação.
- Te desejo boa sorte então, que seu sonho se realize – disse
Tereza e com muito dó da moça e já indo pegar a fita métrica para
tirar as medidas.
- Faz uns dois meses que estou frequentando a igreja e já
senti que muita coisa melhorou – comenta Elvira.
- Que bom, a fé modifica tudo! – exclama Tereza.
Tereza tirou as medidas de Elvira, acompanhou-a até a porta,
sentiu vontade de rezar pela amiga.
Um mês depois:
Elvira veio provar as roupas e de longe deu para ver tristeza
em sua face.
- Desculpe a demora em vir provar as roupas – disse Elvira.
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- Tem um motivo em especial esta demora? – pergunta Tereza
sentindo uma energia ruim no ar.
- Nem vou usar mais estas roupas, já me decepcionei com a
igreja – comenta Elvira.
- Mas o que foi que aconteceu? – pergunta Tereza com muita
curiosidade.
- Um poderoso lá da igreja disse que eu estava com um
encosto e que se ele tirasse minha virgindade, o encosto iria
embora e eu arrumaria um casamento bem rápido – comenta
Elvira com muita tristeza na voz.
Tereza ficou tão estarrecida com a história e porque também
não sabia que a amiga com quase quarenta anos era virgem ainda.
- Meu Deus que história!
- É de espantar mesmo, quero distância de tudo e de todos –
disse Elvira com uma expressão bem abatida.
Tereza deu a roupa para Elvira provar e foi sentar- se no seu
canto com muito dó da amiga.
- As roupas estão todas na medida Tereza, você e suas mãos
de fada – disse Elvira querendo se animar.
Elvira despediu-se de Tereza e foi embora com sua tristeza.
Uma semana depois:
Tereza rezou todos os dias por Elvira e ficou até mais tarde
trabalhando só para terminar suas roupas.
Elvira entra portão adentro com uma expressão bonita e
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Tereza vai até a porta recebe-la.
- Parece que você está feliz Elvira!
- Houve umas mudanças na minha vida – disse Elvira com
muito brilho nos olhos.
- Me conta estou muito curiosa!
- Fui promovida na minha empresa e fui transferida para
Berlim na Alemanha, porque falo alemão fluentemente – disse
Elvira com muita euforia na voz.
- Que coisa boa Elvira vai para a Europa!
- Então, coisa boa mesmo e o melhor ainda é que eu
correspondo há algum tempo com alemão viúvo desta mesma
cidade – comenta Elvira toda cheia de esperança.
- Que bom! Deus sabe de todas as coisas! – exclama Tereza
- Minha documentação está pronta por causa da minha
família, tenho dupla cidadania alemã, então, está sendo mais fácil
– disse Elvira.
- Muito bom! Fico feliz por você – disse Tereza com lágrimas
nos olhos porque sabe que muito provavelmente não verá mais sua
amiga.
Tereza entrega as roupas para Elvira, dá um grande abraço e
vai até o portão e fica observando-a pela ultima vez.
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História (6): Daniel
Daniel cresceu com Tereza, estudaram juntos até o ensino
fundamental, mas o ensino médio ele não quis fazer na época,
sempre foi nervoso, se tivesse uma confusão lá estava ele.
Nunca foi muito certo das ideias, quando ele era adolescente
de vez em quando ele passava a noite no topo do morro do
Anhangava porque achava que uma noite um óvni iria passar por
lá.
Daniel só fazia amizade com pessoas esquisitas, mas
conseguiu uma boa moça para se casar e até fez um bom
casamento. Sua mulher fez com que ele voltasse a estudar e ele
terminou o ensino médio e fez um concurso público e se
classificou.
Tereza sempre acompanhou a vida de Daniel, a cada ano ele
mandava fazer umas camisas e relatava tudo de sua vida.
E assim os anos foram passando e o Daniel foi ficando mais
difícil de lidar, arruma confusão no trabalho, no transito, no
mercado, no médico e em casa então, ninguém mais aguenta ele,
seus três filhos sonham completar dezoito anos para fugir de casa,
sua mulher toma remédio tarja preta para não enlouquecer igual a
ele, seu cachorro fareja o seu cheiro à distância e corre se esconder
no porão.
Daniel tornou-se uma pessoa amarga, não tem amigos no
trabalho e nem no bairro onde mora, mas quem mais sofre com ele
é o seu gestor.
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Daniel já foi remanejado do local de trabalho algumas vezes
e sempre o jogam para os piores locais e os mais longes possíveis,
isso o deixa muito irritado.
Então, Daniel se defende com atestados médicos, sempre dá
um jeito de enganar os médicos para conseguir um atestado.
Teve uma vez que ele foi ao médico sem ter nenhum
problema de saúde, simplesmente foi só para conseguir um
atestado e o médico percebeu isso e o mandou de volta para o
trabalho, quando ele percebeu que o médico não iria dar o atestado
então, Daniel olhou pela janela estava o maior sol e ele falou para
o médico que estava vindo a maior tempestade e que ele tinha que
sair correndo dali e o médico ficou muito impressionado e deu
uma semana de atestado.
E assim é a vida de Daniel está sempre tentando não
trabalhar, seus gestores nunca podem dar tarefas importantes,
porque nunca as cumpre.
Como Tereza o conhece desde menino tem paciência, mas
sempre dá conselhos e reza para que ele mude este tipo de
comportamento.
Lá vem Daniel com seus tecidos e suas histórias.
- Olá Tereza, quanto tempo! – disse Daniel dando um sorriso
um tanto tímido.
- Você sumiu! – exclama Tereza e cheia de curiosidade para
saber o que ele anda aprontando.
- Quero te pedir desculpas por vir de noite – comenta Daniel
com ar de tem muito assunto para contar.
- Tem uma razão para você vir esta hora? – pergunta Tereza.
- Estou de licença médica, mas não fico em casa de dia –
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comenta Daniel.
- E onde você fica então?
- Fico numa Clinica dia, fazendo terapias – explica Daniel
com vergonha da situação.
- O que é Clinica dia? – pergunta Tereza cheia curiosidade.
- Clinica dia é destinado ao atendimento de pacientes
psiquiátricos que estão sendo reintegrados ao convívio social,
sendo que o atendimento é intensivo, ou seja, o paciente passa o
dia na clinica e a noite fica com a família – disse Daniel.
Tereza fica perdida no assunto, pois há um bom tempo não
sabe histórias sobre Daniel e fica pensando o que levou os
médicos a dar este tipo de tratamento.
- Mas tem um motivo em especial para você fazer este
tratamento? – pergunta Tereza.
- Bem Tereza a história é que eu andava muito nervoso e meu
chefe começou a me irritar, um dia eu faltei no trabalho, só porque
eu não avisei, ele me humilhou um monte e então, eu dei uns
socos na cara dele – comenta Daniel e rindo da situação.
- Você bateu no teu chefe! – exclama Tereza.
- Só tirei um pouco de sangue e por causa disso me
mandaram para clinica dia – disse Daniel.
Tereza pegou os tecidos da sacola e foi tirar as medidas de
Daniel e ficou pensando no quando está se agravando o problema
dele e sentiu muito dó de seu colega.
- Pode vir provar suas camisas daqui uma semana – disse
Tereza e indo em direção ao seu canto e colocando os óculos.
Daniel foi embora e Tereza sentiu vontade de rezar por ele,
saiu do seu canto de costura e foi para seu quarto rezar, mas como
seu marido estava no quarto ela não pode rezar naquele momento.
Tereza não gosta de irritar seu marido apesar de ser um bom
pai, um grande chefe de família, ele é muito calado e parece ter
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sempre um segredo.
Uma semana depois:
Tereza rezou muito por Daniel e colocou suas camisas em
ponto de prova.
Daniel provou e como sempre aprovou todas e elogiou um
monte as mãos de Tereza.
- Tereza você é iluminada! – disse Daniel depois de vários
elogios.
Tereza não quis saber de muita conversa porque já era tarde e
seu marido fica com o humor alterado quando ela trabalha até
muito tarde da noite.
Um mês depois:
A esposa de Daniel vai buscar suas camisas e Tereza se
espanta com sua presença.
- O que aconteceu que o Daniel, sumiu? – pergunta Tereza e
com pressentimento ruim.
- A notícia sobre meu marido não é muito boa – comenta
Mara.
- Me conta faz favor! – disse Tereza
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-Então, a clinica deu alta ele voltou a trabalhar, mas teve uma
recaída e o chefe dele o maltratou – disse Mara.
- E o que aconteceu?
- Ela estava com uma arma e então, descarregou o revolver
no homem matando-o na hora – comenta Mara.
- Meu Deus! – exclama Tereza
- Agora ele está internado num hospital psiquiátrico e vamos
ver o que vai dar – disse Mara.
- Mas o advogado vai alegar sanidade mental, é possível que
ele fique fora de uma prisão comum – comenta Tereza com muita
tristeza.
- É muito triste tudo isso e só nos resta aguardar os
julgamentos – comenta Mara com lágrimas nos olhos.
Tereza entregou as roupas de Daniel para Mara, deu um
longo abraço e chorou junto com sua colega.
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História (7): Pedro
Pedro é um grande amigo de Tereza, seus pais tiveram que se
mudar para o bairro de Tereza em função dos acontecimentos que
ocorreram com ele.
Pedro desde pequeno foi afeminado, seus pais sofreram muito
com isso, principalmente o pai, por seu um homem que veio da
roça, sempre muito definido na sexualidade, um homem
extremamente bruto, nunca entendeu o porquê de Pedro ter ficado
delicado.
Quando Pedro entrou na adolescência passou a ter trejeitos e
sua voz ficou alterada, então, começaram os problemas tanto dele
como dos pais e também dos educadores, devido ao Bullying
Homofóbico.
Na verdade houve muitas mudanças, físicas, psicológicas e
comportamentais. Parecia que ele tinha a necessidade de
autoafirmação perante todos que ele era um homossexual.
Pedro nunca se preocupou em esconder, pelo contrário ele
queria mesmo se expor, o que lhe rendeu algumas surras. Teve
uma vez que ele estava andando à noite sozinho pelo bairro e um
carro parou ao seu lado e atiraram uma caixa inteira de ovos nele,
um por um, ele ficou com o corpo todo roxo.
Pedro apanhou do pai, dos tios, dos avós e dos meninos da
escola, mas nunca mudava o seu jeito afeminado de ser.
Sempre determinado e fiel a sua escolha, ele enfrentava o
mundo.
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Pedro era dono de uma beleza extrema e uma simpatia que
fazia todas as meninas reféns de sua amizade, estava sempre
rodeado de mulheres. De vez em quando uma moça se apaixonava
de verdade por ele, mas na mais pura educação ele a convencia de
que ambos tinham a mesma preferência.
Tereza sofria por ver o amigo sofrer, ela nunca teve nada
contra e nem a favor, mas aprendeu a respeitar as diferenças.
Pedro foi fazer faculdade em São Paulo e sem a presença da
família ficou extremista mesmo, causava choque nas pessoas que
não eram preparadas para ver todo aquele homossexualismo à flor
da pele.
Cursou apenas dois anos de faculdade de Artes, sofreu
decepções de todos os tipos, viu muita coisa errada e resolveu
voltar para os braços da família. Quando voltou, não demorou
muito, seu pai faleceu e na hora de sua morte pediu perdão por não
tê-lo aceitado.
Então, aconteceu que Pedro conheceu um estudante de
medicina, se apaixonou e logo foram morar juntos. Este rapaz
tinha um comportamento bem masculino, se vestia como homem,
andava como homem, falava como homem, só não gostava de
mulheres e então, eles viveram uma grande história de amor por
longos cinco anos, ou seja, o tempo para o tal rapaz se formar.
Pedro ficou orgulhoso na formatura do amor da sua vida,
depois do jantar da formatura o rapaz disse para Pedro que ele
estava com remorso por levar aquele tipo de vida, porque sua
família era católica e não podia saber de nada daquilo e que então,
ele fez uma promessa para Deus de que a partir daquele dia ele iria
viver sozinho, sem romances, sem aventuras ou qualquer
aproximação mais intima com o mesmo sexo e como ele não
suportava o sexo oposto, então, iria levar uma vida de abstinência,
que esqueceria os prazeres da carne e que só iria se dedicar ao
espirito.
Pedro sofreu horrores, se sentiu usado, passado para trás e
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Tereza chorou junto com seu amigo. Neste período de sofrimento
ele mandou fazer muitas roupas e virou um grande consumista,
queria afogar suas magoas nas compras, comprava tudo que via
pela frente, trocou de carro, de apartamento e como ele não
ganhava muito como professor sua vida virou de cabeça para
baixo. Tinha uma gaveta cheia de carnês e muita preocupação.
Pedro ficou enlouquecido com pouco dinheiro e muita conta
para pagar que resolveu ser um prostituto da vida, então, saía com
os mais difíceis parceiros possíveis e o pior é que ele sempre
contava suas aventuras para Tereza, que ficava arrepiada e ia
correndo rezar pela alma dele.
E assim passou um longo período da vida de Pedro, vivendo
no submundo dos horrores da sexualidade, por dinheiro o que era
pior ainda, mas conseguiu pagar suas contas, recuperou seu nome
no comércio e teve de volta sua dignidade, nunca mais fez nada
desse tipo de coisa por dinheiro.
Tereza sempre rezou muito por Pedro chegou até fazer
novena para que ele tivesse consciência de tudo aquilo, ela sempre
teve muito carinho por ele, por ser uma pessoa maravilhosa,
meigo, educado, nunca ofendeu ninguém na vida e foi criado na
base de chutes e mesmo assim se tornou uma pessoa gentil, capaz
de dar a roupa do corpo se visse alguém com frio.
As pessoas na vila diziam que ele era bonzinho porque ele era
homossexual, que eles são legais mesmo e que todos são muito
meigos.
Tereza sempre vê além do que todos veem, ela sempre soube
que Pedro tinha um bom coração e por isso jamais criticou o
amigo.
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Lá vem Pedro com sua sacola e seu rebolar um tanto
exagerado.
- Olá minha amiga querida, que saudades! – exclama Pedro
indo em direção de Tereza.
- Que bom vê-lo! – exclama Tereza estendendo os braços
para abraçar seu amigo.
Tereza observou que Pedro está com o físico mudado.
- O aconteceu que você está diferente?
- Então, eu fiz uma plástica, tirei umas gordurinhas da barriga
e coloquei no bumbum – comenta Pedro dando uma empinada no
bumbum.
- Ficou bom mesmo – disse Tereza sem muita empolgação.
- Resolvi investir em mim – comenta Pedro.
- Está certo meu amigo – disse Tereza se levantando para
pegar a fita métrica para tirar as medidas de Pedro.
Pedro escolheu os modelos para suas camisas e se despediu
de Tereza sem fazer nenhum tipo de comentário sobre sua vida
amorosa.
Uma semana depois:
Pedro veio provar suas roupas e também não fez comentários
sobre seus relacionamentos, o que deixou Tereza um tanto curiosa
com a situação, mas achou melhor não fazer perguntas.
Pedro provou e aprovou suas camisas.
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Um mês depois:
Pedro veio buscar suas camisas e estava acompanhado por
uma moça, o que deixou Tereza muita intrigada, ela se levantou e
foi até a porta para recebê-los.
- Olá, Tereza trouxe minha namorada para você conhecer –
disse Pedro.
Tereza teve que controlar-se para não demostrar na face que
estava perdida no assunto.
- Que legal! Meus parabéns, bonita a moça! – comenta Tereza
mais perdida que cachorro caído do caminhão de mudança.
- Não tinha contado para você ainda porque queria fazer uma
surpresa – comenta Pedro.
- E você fez surpresa mesmo – comenta Tereza que a esta
altura está ruborizada.
- Já estamos morando junto – disse Pedro.
- Que novidade!
Tereza está em estado de choque e não entende porque se ele
estava namorando uma mulher, alguém do sexo feminino, porque
então, ele colocou aquele bumbum todo. O bumbum dele é maior
do que o da moça, isso a perturbou muito.
Tereza entregou a sacola com as camisas e Pedro pagou.
Então, ela os acompanhou até a porta, abraçou seu amigo e sua
namorada, desejou sorte na sua nova vida e na nova aventura.
Tereza sentiu que devia rezar muito pelo seu amigo.
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História (8): Dona Zulmira
Dona Zulmira era zeladora no colégio que Tereza estudava no
ensino fundamental. Desde daquela época que dona Zulmira já
não era muito normal.
Tinha uma menina na escola que passava batom bem
vermelho e beijava o espelho deixando a marca da sua boca, um
dia dona Zulmira descobriu quem era a moça e foi no banheiro na
mesma hora e a marca já estava lá, ela simplesmente não falou
nada, apenas mergulhou seu pano no vaso sanitário e limpou o
batom e a moça assistiu aquilo e quase vomitou de tanto nojo e
nunca mais apareceu mancha de batom no espelho.
Uma vez uma adolescente arrumou um namoradinho e ficava
se agarrando sempre nos lugares que dona Zulmira estava
limpando e ainda ria da cara dela. Um dia dona Zulmira deu um
jeito, colocou duas camisinhas em sua mochila, quando a menina
chegou à sua casa, sua mãe achou aquilo e contou para seu pai que
lhe deu uma surra danada.
Tereza sempre observou dona Zulmira e achava que ela não
era muito certa das ideias.
Quando alguém escutava música nos intervalos sem fone de
ouvido, ela sempre dava bronca e dizia que o ouvido dela não era
pinico, para ter que escutar aquele tipo de música. Um dia um
menino a desafiou, ela correu atrás dele e picou o fone de ouvido.
Dona Zulmira era tão alterada no humor, que até suas colegas
tinham medo dela, a diretora da escola também procurava fazer
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vista grossa porque tinha receio dela.
Entrava ano e saía ano e lá estava dona Zulmira firme e forte
e cada vez mais brava.
Os anos se passaram e Tereza foi para outra escola e não a
viu mais até começar sua profissão de costureira. Então, dona
Zulmira se tornou sua cliente.
A cada roupa que Tereza confeccionava, ela descobria uma
nova loucura em sua cliente.
Depois de muitos anos que dona Zulmira dominava o
colégio mudou a diretora e ela foi transferida para outro local do
outro lado da cidade.
Depois que dona Zulmira foi remanejada, ela mudou um
pouco seus hábitos, mas a coisa que mais se observou é que sua
casa virou uma floricultura, tinha flores nas janelas, nas paredes,
no jardim, na horta, dentro de casa. Enfim tinha flores em todos os
lugares, algumas espécies eram difíceis de serem encontradas, mas
em sua casa as encontrava.
Na verdade os vizinhos observavam aquele novo
comportamento de dona Zulmira, inclusive Tereza que achava
aquilo muito exagerado. E então, descobriram que ela para ir ao
trabalho passava por dentro do cemitério municipal e que quase
todos os dias ela roubava flores dos túmulos, mas ela só pegava as
flores que eram em mudas para poder plantar.
Também dona Zulmira fez amizade com os mendigos que
moravam no cemitério e por uma quantia mínima em dinheiro se
ofereceu para lavar as roupas deles e assim ela sempre carregava
uma sacola com roupas e flores.
Dona Zulmira nunca sentiu medo e nunca se arrependeu por
pegar aquelas flores, às vezes a família acabava de colocar a flor e
ela já roubava e ninguém nunca via aquilo a não ser os mendigos.
Bem, que dona Zulmira é perturbada todos sabem, seus filhos
todos já saíram de casa e seu marido morreu de desgosto.
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Pelo menos uma vez por ano dona Zulmira faz algumas
roupas com Tereza.
- Olá! Tereza, quanto tempo!
- Então, dona Zulmira a senhora sumiu! – exclama Tereza,
mas sem sair do seu canto.
- Eu trouxe uns tecidos e um vestido de exemplo, pode fazer
todos do mesmo modelo e tamanho – disse dona Tereza.
- Mas porque não quer fazer modelos diferentes dona
Zulmira? – pergunta Tereza com dó da simplicidade da mulher.
- Não, Tereza está bem assim – responde dona Zulmira
encurtando o assunto.
- E as novidades dona Zulmira? – pergunta Tereza cheia de
curiosidade.
- Eu mudei de endereço no emprego outra vez – disse Dona
Tereza.
- E para onde a senhora foi desta vez? – pergunta Tereza.
- Agora eu trabalho no lixão, limpo e faço cafezinho –
comenta dona Zulmira.
- A senhora gosta de trabalhar lá? – pergunta Tereza.
- Sim, eu acho muita coisa boa lá, quando o fiscal não está
por perto eu mexo no lixo – disse dona Tereza.
- Mas isso é proibido, não é?
- Mas ninguém vê ninguém sabe – comenta dona Tereza.
Tereza muda de assunto e diz para ela vir provar a roupa dali
uma semana e sente necessidade de rezar por ela, porque fica
imaginando o que vai acontecer com sua casa agora, vai virar um
deposito de lixo, pior que a história das flores.
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Uma semana depois:
Dona Zulmira veio provar seus vestidos, Tereza está curiosa
com suas histórias.
- E o novo emprego dona Zulmira?
- Eu estou um pouco abatida, porque eu fui mexer no lixo,
encontrei uma caixa, abri e então, tinha o corpo de uma mulher
dentro da caixa – conta dona Zulmira com cara de espanto.
- E o que aconteceu?
- Eu dei um grito e então, todos perceberam que eu mexia no
lixo – comenta dona Tereza.
- E agora?
- Me encaminharam para uma psicóloga, por causa de todo
meu histórico – responde dona Zulmira.
- Mas o que fizeram com o corpo? – pergunta Tereza.
- Não fizeram nada, o corpo foi triturado junto com os lixos,
por isso eu fiquei assim – disse dona Zulmira.
- Que horror!
- Eu nunca mais vou tocar naquele lixo! – exclama dona
Zulmira.
Tereza entrega os vestidos para dona Zulmira provar, mas
percebe que ela está pior, muito abatida e tremendo muito, sente
uma agonia por vê-la naquele estado, uma pessoa que era tão forte
como ela era.
Dona Zulmira prova seus vestidos e vai embora, Tereza fica
cheia de dó e reza por ela por viver tão só, pelas manias estranhas,
pela saúde e também pela fé.
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Um mês depois:
Tereza estava muito preocupada com a demora de dona
Zulmira, quando sua filha apareceu.
- Oi Tereza eu vim buscar as roupas da minha mãe – comenta
Carolina.
- Mas o que aconteceu com sua mãe? – pergunta Tereza.
- Ela foi internada num hospital psiquiátrico – disse a moça.
- Mas o estado de saúde dela piorou?
- Sim, ela estava enlouquecendo, estava vendo a mulher que
ela achou no lixão caminhando em casa e tocando nas flores e
dizia que aquilo não pertencia a ela – explica Carolina.
- Meu Deus, que coisa sinistra!
- Ela chorava muito, ficava tremendo o tempo todo e dizia
que a mulher estava desesperada ali nas flores – disse Carolina.
- Eu não sei o que te dizer Carolina, vou rezar muito pela sua
mãe e por vocês – disse Tereza com muita tristeza.
Tereza acompanhou a moça até a porta e deu um longo
abraço.
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História (9): Sandro
Sandro estudou com Tereza os oito anos escolares, e por
causa da letra do alfabeto sempre pegaram o mesmo ensalamento.
Apesar da proximidade física estavam muito distante um do
outro. Tereza não se sentia muito bem com a presença dele.
Os anos se passaram, Sandro se tornou um moço muito
bonito, mas definiu um estilo diferente de ser, resolveu se vestir
como um cowboy, sempre com a calça jeans bem apertada, chapéu
de couro e as camisas xadrezes e ainda deixava as unhas dos dedos
mindinhos grandes, é como se ele quisesse mostrar para todos que
os dedos mindinhos são somente de enfeites e por isso divulgava
bem eles.
Certa época ele disse para Tereza que estava apaixonado por
ela, isso causou ojeriza nela.
Desde que Tereza montou seu atelier lá estava Sandro
confeccionando suas camisas xadrezes.
Sandro se tornou um peão de verdade e fazia montaria em
touros nos rodeios pelo Brasil afora, ganhou alguns troféus, uma
vez ganhou um troféu na Espanha e isso enriqueceu muito seu
currículo.
A pior das histórias de sua juventude é que ele uma vez, num
de seus rodeios, engravidou uma moça e quando ela procurou por
ele contando, ele disse para ela fazer um aborto, a moça foi
embora para sua cidade. Não demorou muito ele contraiu caxumba
e teve complicações gravíssimas e ficou estéreo, então, lembrou
que a única chance dele ser pai era com aquela moça e foi
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procura-la, mas foi tarde porque a moça já tinha feito o aborto,
isso o deixou muito deprimido porque ele mandou abortar sua
única chance de ser pai.
O povo comenta que talvez não fosse a caxumba que deixou
Sandro estéreo e sim em chifrada muito forte que ele levou.
Tereza é uma mulher católica, sempre ficou aterrorizada com
as histórias de Sandro, ela acompanhou bem suas histórias porque
sua mãe também sempre foi sua cliente e nunca deixou de contar
as aventuras do filho e mostrar seus troféus com muito orgulho.
Tereza achava que a velha contava tudo isso só porque sabia
da admiração de Sandro por ela.
Mas Sandro se casou e dois anos depois de casado, sua
mulher engravidou, ela não sabia que ele era estéreo, foi a maior
confusão, ele esperou o bebê nascer e fez exames de paternidade e
realmente a criança não era filho dele, então, ele se divorciou e
mais uma vez ele mandou embora a chance de ser pai, mas quando
ele quis se arrepender por ter mandado a mulher embora, ela ficou
com o pai verdadeiro da criança.
A cada sacola com tecidos, sempre xadrezes, que ele trazia
para Tereza confeccionar suas camisas, juntos vinham suas
histórias e sua admiração por Tereza.
Tereza sempre ficou discreta, mas sempre percebeu o olhar
observador sobre ela.
Sempre que Sandro aparece Tereza sabe que ele vai para
algum rodeio por isso quer camisas novas.
Não se sabe do que ele mais gosta se dos touros ou da
multidão que seguem estes rodeios pelo Brasil, a preferida dele é a
Festa do Peão de Barretos, essa ele não perde uma.
Depois da decepção de seu casamento Sandro se tornou um
namorador nato, em cada cidade que vai arruma várias namoradas.
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Lá vem Sandro com seus panos xadrezes.
- Oi, Tereza quanto tempo! – exclama Sandro
- É mesmo, você sumiu! – comenta Tereza com um pouco de
timidez e com receio da conversa.
- Ando meio ocupado, mas como estou precisando de umas
camisas novas, aqui estou – disse Sandro.
Tereza pegou a sacola das mãos de Sandro, buscou a fita
métrica para tirar suas medidas, ela não gosta muito da
proximidade dele, mas tem que tirar suas medidas então, quase o
abraça.
- E quais são as novidades? – pergunta Tereza.
- Não são muitas, para dizer a verdade eu estou cansado desta
vida de peão – comenta Sandro.
- Mas é o que você gosta de fazer – comenta Tereza
- Sim, mas estou ficando velho e quero mudar minha vida –
disse Sandro.
Tereza ficou observando Sandro, ele pinta os cabelos para
não aparecer os fios brancos, mas a coloração que ele escolheu
não deu muito certo, seus cabelos ficaram com uns tons
avermelhados, também pinta as unhas de prata, ainda para ajudar
ele tem uma tatuagem de um chifre no peito, o que a deixa
arrepiada por ver tudo aquilo.
- E o que pretende fazer da sua vida? – pergunta Tereza.
- Ficar quieto num canto, sem ter que percorrer o Brasil
inteiro – disse Sandro.
- Você está certo – disse Tereza indo sentar no seu canto de
costura.
Sandro se despediu de Tereza e foi embora.
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Uma semana depois:
- Tereza gostaria que você terminasse pelo menos umas três
camisas, fazendo um favor, é que eu vou para Barretos no próximo
final de semana – disse Sandro quase que implorando para Tereza
terminar suas camisas.
- Darei um jeito, mas as sete camisas eu não vou poder, tenho
muitas peças para terminar – disse já querendo cortar o assunto.
Sandro escolheu as três camisas, uma semana depois já pôde
buscá-las e ficou muito contente por isso.
Tereza terminou as outras camisas e ficou esperando por
Sandro.
Dois meses depois:
- Olá, Tereza desculpe a demora é que aconteceram umas
mudanças na minha vida – disse Sandro louco para contar as
novidades para Tereza.
- Me conta logo que estou curiosa – comenta Tereza.
- Há alguns anos atrás, quando comecei a participar de
rodeios eu conheci uma moça e ficamos alguns dias juntos – disse
Sandro e dando uma pausa.
- E ai que aconteceu? – pergunta Tereza.
- Então, depois disso eu não a vi mais e se passaram quinze
anos na história. Agora ela me reencontrou naquele final de
semana lá em Barretos – responde Sandro.
- Que história!
- O melhor eu não contei ainda, ela disse que tem uma filha
de quatorze anos e que esta menina é minha filha e eu fiz as contas
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ainda não tinha me dado o problema da caxumba – disse Sandro.
- Maravilha! Deus te deu a chance de ser pai outra vez!
- Então, ela se casou com um fazendeiro velho e por isso
nunca me procurou – comenta Sandro.
- Mas o que aconteceu que ela resolveu procura-lo agora?
- O velho morreu e ela começou a me procurar, isso já tem
um bom tempo – responde Sandro.
- E agora o que vai fazer? – pergunta Tereza, cheia de
curiosidade.
- Eu estava mesmo cansado desta vida de peão que eu levo,
então, vou dar uma chance para o destino – responde Sandro.
- Vai ser fazendeiro então?
- Sim, vou ajuda-la a administrar, mas o mais importante é
curtir uma família, sinto falta disso – exclama Sandro e respira
fundo.
Tereza sabe o quanto uma família é importante, ama seu
marido e seus filhos, não consegue nem imaginar a vida sem eles.
- Que Deus o abençoe mesmo e seja um grande pai e um
ótimo marido, aproveite bem esta chance – disse Tereza, com
muita sinceridade no olhar.
Tereza entregou a sacola com as camisas e o levou até o
portão e deu um longo abraço em seu admirador antigo e sentiu dó
por saber que não o verá mais.
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História (10): Mariza
Mariza tem a mesma idade de Tereza, morava no mesmo
bairro e estudou na mesma escola que ela, mas nunca foram
grandes amigas, porque Mariza era uma menina muito pobre e
muito feia por isso se sentia excluída e tinha poucos amigos.
Desde criança Tereza sempre observou Mariza, sua vida
difícil, seus pais não lhe davam carinho, dando a impressão que
uma criança feia não precisa de atenção, de proteção e muito
menos de amor.
Mariza tinha uma irmã mais jovem, muito bonita e esta sim
era amada, a preferida dos pais, andava sempre bem arrumadinha
e perfumada.
Mariza cresceu a base de chutes e pontapés e se tornou uma
adolescente amarga pela pobreza em que viveu, pela falta de amor,
sua mãe nunca lhe disse que toda menina é uma princesa, ao
contrario disso a fez se sentir uma bruxa.
Os cabelos de Mariza eram muitos mal tratados, nunca
usaram um creme para baixar o volume, pobre menina seus
cabelos pareciam uma vassoura de piaçava e seus olhos pareciam
que um estava de mal com o outro, ela era vesga ao extremo e
seus pais nunca se preocuparam com aquilo, deixaram a menina
crescer ao natural e por isso ela sofreu muito, em cada lugar que
estava sempre era observada.
Mariza viveu na pobreza extrema, num ambiente não tão
limpo e sempre sendo humilhada por sua falta de beleza. Ela
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aprendeu desde cedo que o mundo valoriza muito a beleza
externa.
Tereza sentia muito dó por ver aquela menina e depois moça
sempre sozinha e triste por sua aparência.
As pessoas ao seu redor nunca entenderam porque ela se
tornou uma pessoa crítica, revoltada e com muita amargura.
Cada tentativa de arrumar namorado então, ai sim entrava na
sua realidade, levou muito não pela vida e por causa de sua falta
de beleza não acreditou naqueles rapazes que queiram namora-la e
fugiu deles, não levou ninguém a serio nunca.
Bem, os anos se passaram e seus pais morreram e então,
Mariza lutou contra as forças do destino e mudou a sua sina na
questão pobreza, arrumou um bom emprego e construiu uma casa
tão linda quanto uma casa de bonecas, comprou um carro zero e
então, passou a frequentar bailes, casas noturnas, bingos,
quermesse, enfim todos os lugares onde tinha homens, lá estava
Mariza procurando sua alma gêmea.
Uma vez, num baile, um belo moço a tirou para dançar e ela
nem acreditou que aquilo poderia acontecer, então, dançou com o
moço mais sabia que não haveria o dia seguinte, pois sua beleza
iria acabar quando a bebida parasse de fazer efeito no rapaz, mas
não foi isso que aconteceu ele a amou por vários meses, isso lhe
fez muito bem, pois se olhava no espelho e via beleza, a beleza
que o amor dá, a autoconfiança e o amor próprio.
Mas isso acabou, o moço foi morar nos Estados Unidos e
nunca mais a procurou. Quando voltou para o Brasil voltou casado
e pastor de uma igreja.
Tereza acompanhou as histórias de Mariza e sempre sofreu
por sua colega, pela falta de tudo, pelos cortes que a vida lhe deu,
pelos nãos vida afora e principalmente por ela não se gostar e
pensar que foi a sua falta de beleza que rendeu esta vida farta de
escassez.
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Por causa da vida de pobreza que Mariza levou, ela ficou
com traumas e por isso sente um pouco de medo de envolver com
homens pobres e feios também, tem outro problema ela sempre
gostou de homens mais jovens, devido a tudo isso sua conquista se
torna mais difícil ainda.
Tereza sempre teve um carinho por Mariza e nunca a achou
feia, ela a vê com olhos do coração é uma pessoa que está sempre
querendo ajudar os outros, sempre esta à disposição de todos.
Lá vem Mariza com seus tecidos e suas histórias.
- Olá, Tereza quanto tempo! – exclama Mariza indo em
direção ao canto de costura para dar um abraço em sua colega.
- Que bom que você apareceu! Conte-me as novidades!
Tereza pegou a sacola das mãos de Mariza e já foi tirando
suas medidas.
- Não tenho novidades – disse Mariza num tom de desânimo.
- Está com aparência boa! – disse Tereza com sinceridade.
- Andei fazendo Botox – responde Mariza.
- Isso é bom, melhorou muito sua aparência – disse Tereza e
feliz por ver uma melhora na moça.
- Quanto aos homens, eu ainda não arrumei nenhum, já estou
quase desistindo – desabafa Mariza.
- Não fala assim, dizem que não há panela sem tampa –
comenta Tereza.
- É, mas a tampa da minha panela caiu da mudança! –
exclama Mariza.
Tereza anotou as medidas de Mariza e a levou até a porta.
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Uma semana depois:
Mariza provou suas roupas e aprovou todas.
Embora todos saibam que Mariza não é dada a elogios,
Tereza sentiu pelo seu olhar que ela havia gostado das roupas.
Um mês depois:
Mariza chegou para buscar suas roupas, muito animada, coisa
que Tereza nunca viu e fica curiosa.
- Você está com uma aparência boa! – comenta Tereza.
- Até tenho novidades, mas receio que isso seja um sonho e
que a qualquer momento eu venha acordar – disse Mariza com um
ar de mistério.
- Me conta logo!
- Sabe aquele meu namorado que virou pastor? – pergunta
Mariza.
- Lógico que sei!
- Então, me procurou e disse que sua esposa morreu há quase
três anos, disse que quer se casar comigo – comenta Mariza.
- E você quer ficar com ele? – pergunta Tereza.
- Eu não quero envelhecer sozinha, por isso vou dar uma
chance ao destino – comenta Mariza.
Tereza entregou as roupas de Mariza e acompanhou-a até a
porta e desejou-lhe muita sorte e sentiu vontade de rezar por sua
colega.
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Tereza parou para pensar em quantos de seus clientes que se
mudaram, por alguma razão foram para bem longe dali, outros que
nunca mais vieram visita-la, na verdade são muitos ao longo dos
anos e ela tem cada um em sua mente e coração.
Acompanhou muitos deles desde criança e aprendeu a amar
cada um mesmo com suas diferenças.
Está sendo construído perto da casa de Tereza um
condomínio com sessenta casas, então, ela sabe que haverá novos
clientes e fará novas amizades e terá muitas outras histórias para
contar.
FIM
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Sobre o Autor:
Regina Santos nasceu em Paranavaí, noroeste do
estado do Paraná, com quatorze anos saiu de sua cidade
natal em busca de uma vida melhor na capital. Trabalhou
alguns anos como balconista e aos dezoito anos torna-se
servidora publica, ingressou na faculdade de matemática,
porem não concluiu a graduação, em outra tentativa deu
inicio a graduação de letras língua portuguesa, porem não
obteve êxito, somente no ano de 2011 conclui sua primeira
graduação em Processos Gerencias.
Desde muito jovem alimentava um sonho de um dia
tornar-se uma escritora.
Em 2011 publicou seu primeiro livro “Perfil Visto” pela
Editora Lexia, à venda somente no site da Editora pelo link
a seguir:
http://www.editoralexia.com/perfil-visto.html
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Tereza A mulher que ouvia muito Regina Santos