www.brasil-economia-governo.org.br O CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO DA ECONOMIA BRASILEIRA TEM SIDO SATISFATÓRIO? Marcos Mendes 1 A economia brasileira teve um mal desempenho em termos de crescimento econômico nos últimos 25 anos. O Gráfico 1 mostra a taxa anual de crescimento da renda per capita, cuja média foi de apenas 1,4% ao ano. O Gráfico também mostra quão volátil tem sido o crescimento: em 10 dos 26 anos ali mostrados o crescimento foi negativo ou nulo. Para anos mais recentes o gráfico mostra uma taxa média de crescimento um pouco mais alta: 2,8% ao ano para o período 2004-2012. Essa pode ser considerada uma época de ouro para o comércio internacional brasileiro (2004-2008), pois os preços das commodities exportadas pelo país subiram bastante, o que abriu maior possibilidade de crescimento para o país, financiado por ganhos nos termos de troca internacionais. Em 2009 a crise econômica mundial teve impacto sobre o ritmo da economia nacional. Mas como o governo afrouxou as políticas monetária e fiscal, e o mercado internacional de commodities se recuperou rapidamente, houve forte recuperação em 2010. Porém, em 2011 e 2012, apesar da continuidade dos estímulos governamentais, houve um retorno para o padrão de baixo crescimento, apesar de o país ainda poder contar com um cenário externo bastante favorável em termos de preços de commodities e disponibilidade de crédito. Gráfico 1 – PIB per capita brasileiro – taxa anual de crescimento (1985-2012) 8% 6% 4% 2% -2% 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0% -4% -6% -8% Per capita GDP: real annual growth Mean 1985-2012 Mean 2004 - 2012 Fonte: Banco Central do Brasil Quão ruim é o desempenho brasileiro quando comparado com outros países? O Gráfico 2 apresenta a taxa média de crescimento da renda per capita brasileira no período 1985-2010, 1 Doutor em economia www.brasil-economia-governo.org.br comparando-a com outros 27 países. Por abarcar um período de 26 anos, pode-se considerar essa taxa como sendo o crescimento de longo-prazo das economias consideradas. O conjunto de países escolhidos para essa comparação é bastante representativo, pois inclui: vizinhos latino-americanos; alguns países asiáticos que são conhecidos casos de sucesso em termos de crescimento econômico; um país asiático que não tem sido tão bem sucedido quanto seus vizinhos (Filipinas); membros do grupo conhecido como BRICs 2; um país desenvolvido que, assim como o Brasil, é altamente dependente da exportação de commodities (Austrália); economias emergentes da Europa que foram afetadas pela crise iniciada em 2008 (Portugal, Espanha e Irlanda) e outros países de renda média relevantes (Turquia, Polônia e Egito). Gráfico 2 – Taxa anual de crescimento do PIB per capita: países selecionados (1985-2010) 8,5 CHINA 5,4 SOUTH KOREA TAIWAN 5,0 5,0 VIETNAM CHILE 4,2 4,4 INDIA EGYPT IRELAND 3,4 3,4 3,5 3,6 MALASYA POLAND 2,9 BOTSWANA TURKEY PORTUGAL SPAIN AUSTRALIA COSTA RICA PERU ARGENTINA COLOMBIA BRAZIL PHILIPPINES BOLIVIA ECUADOR SOUTH AFRICA MEXICO RUSSIA* 2,1 2,2 2,3 2,4 1,6 1,8 1,9 1,9 1,1 1,2 1,3 1,3 1,0 1,0 0,9 0,7 PARAGUAY 0,3 VENEZUELA 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 Fonte: Alan Heston,Robert Summers and Bettina Aten, Penn World Table Version 7.1, Center for International Comparisons of Production, Income and Prices at the University of Pennsylvania, Nov 2012 (*) Média para o período 1991-2010. É fácil verificar que o desempenho do Brasil não é satisfatório. Sua taxa de crescimento é bem inferior à média do grupo (representada pela linha horizontal). Se, por exemplo, o Brasil tivesse crescido no mesmo ritmo da Costa Rica (1,9% ao ano), durante os 26 anos considerados no gráfico, o PIB nacional seria hoje 17% maior. Ainda que consideremos apenas o melhor período de crescimento do Brasil (2004-2010), o país não fica em uma posição de destaque. Esse exercício é feito no Gráfico 3. Para o período 2004-2010, Espanha, Portugal e Irlanda, fortemente afetados pela crise do Euro, puxam para baixo o crescimento médio do grupo de países. Mas isso não é suficiente para que o Brasil fique acima da média. É importante frisar esse ponto: tomamos o período mais favorável para a economia brasileira, que é um período em que alguns países estavam sob forte crise; apesar dessa comparação enviesada, a taxa de crescimento do Brasil ainda continua abaixo da média. 2 A sigla BRIC refere-se a Brasil, Rússia, Índia e China. Mais recentemente a África do Sul tem sido incluída no grupo. O termo foi criado por Jim O’Neil, um executivo do grupo Goldman Sachs, para denominar um grupo de países considerado emergente nos cenários político e econômico. www.brasil-economia-governo.org.br Para criar um viés ainda mais forte a favor do Brasil, podemos tirar a China e a Índia do grupo de comparação, pois esses são os dois países de maior crescimento, e que puxam a média do grupo para cima. Mesmo nesse caso a média do grupo (3.0%) ainda é um pouco superior à média brasileira (2.9%). Gráfico 3 - Taxa anual de crescimento do PIB per capita: países selecionados (2004-2010) 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 INDIA CHINA PERU VIETNAM RUSSIA ARGENTINA POLAND EGYPT TAIWAN VENEZUELA CHILE TURKEY MALASYA COLOMBIA Mean SOUTH KOREA Per Capita GDP annual growth rate ECUADOR COSTA RICA BRAZIL PHILIPPINES PARAGUAY BOLIVIA SOUTH AFRICA MEXICO AUSTRALIA BOTSWANA SPAIN PORTUGAL -2,0 IRELAND 0,0 Mean excluding China and India Fonte: Alan Heston,Robert Summers and Bettina Aten, Penn World Table Version 7.1, Center for International Comparisons of Production, Income and Prices at the University of Pennsylvania, Nov 2012 Fica claro, portanto, que a taxa de crescimento de longo prazo da economia brasileira, desde meados dos anos 80, tem sido decepcionante. Não se pode responsabilizar a crise econômica internacional, iniciada em 2008, por esse desempenho medíocre. Como visto acima, desde muito antes da crise, o crescimento já deixava a desejar. As causas do baixo crescimento não são externas, mas sim inerentes à nossa própria economia. Entre elas podem-se citar: carga tributária excessiva, baixa poupança do setor público, infraestrutura precária, baixo nível educacional da população, alta proteção à indústria nacional, fragilidade de instituições capazes de garantir o cumprimento dos contratos comerciais e proteger a justa concorrência (judiciário, agências reguladoras) e legislação trabalhista ultrapassada. Este texto está disponível em: http://www.brasil-economia-governo.org.br/2013/05/13/ ocrescimento-de-longo-prazo-da-economia-brasileira-tem-sido-satisfatorio