Concertos
ID: 21331840
11-07-2008 | Ípsilon
Concerto
Clássica
Dois mestres
ao piano
Enquanto Stephen
Kovacevich toca Beethoven
e Schubert em Espinho,
Grigory Sokolov mostra
a sua arte em Mozart e
Chopin no Festival de Sintra.
Cristina Fernandes
Grigory Sokolov
Sintra. Centro Cultural Olga Cadaval. Pç. Dr.
Francisco Sá Carneiro. 6ª, 11, às 21h30. Tel.:
219107110. 20€ a 25€ (sujeito a descontos).
Stephen Kovacevich
Espinho. Auditório de Espinho. Rua 34, 884. 6ª, 11,
às 22h00. Tel.: 227340469. 10€. -25 e +65 anos: 7€.
Dois dos mais importantes festivais
de música portugueses recebem esta
noite dois pianistas de peso no
panorama internacional: o norteamericano Stephen Kovacevich toca
Beethoven e Schubert em Espinho, às
22h, e Grigory Sokolov fecha a série
de grandes intérpretes russos que
este ano se apresentaram no Festival
de Sintra. Às 21h30, no Centro
Cultural Olga Cadaval, Sokolov
apresenta um programa preenchido
com duas Sonatas de Mozart em Fá
Maior (K. 280 e K. 332) e com os 24
Prelúdios, de Chopin, colectânea
imortalizada numa das suas
gravações mais memoráveis na
etiqueta Opus 111.
Kovacevich e Sokolov têm visitado
Portugal frequentemente mas a sua
qualidade técnica e o elevado nível
intelectual e artístico das suas
interpretações contribuem para que
cada nova actuação seja aguardada
com renovado interesse. Nascido em
Los Angeles em 1940, Kovacevich
deu o primeiro concerto público aos
11 anos e aos 18 foi estudar para
Inglaterra com a célebre Myra Hess.
Desde jovem foi sempre um
intérprete compulsivo de Beethoven
(tendo efectuado uma interessante
gravação das suas 32 Sonatas na
EMI) e foi nessa qualidade que se
apresentou no passado em
Janeiro no CCB,
interpretando as
“Variações sobre
uma Valsa de
Chama-se Beat It
e realiza-se a 6 de
Setembro, na praia do
Castelo do Queijo, no
Porto. É um festival
dedicado
à dança,
na recta
final do
Verão,
O homem
que não
acalmou
Continua conturbado.
Queiram os deuses da
música que ele esteja com
este espírito quando pisar
o palco da ZDB.
João Bonifácio
Bonnie ‘Prince’ Billy
Com Ruby Kash (voz e violino),
Joshua Abrams (contrabaixo),
Emmet Kelly (guitarra), Michael
Zerang (percussão).
Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 Bairro Alto. 6ª e Sáb. às 23h00. Tel.: 213430205.
12€. Pré-venda: 10€.
Grigory Sokolov
Bonnie ‘Prince’ Billy, actual “nom de
plume” de Will Oldham, antigo líder
de uma banda conhecida por Palace
(ou Palace Brothers ou Palace Music
ou Palace Songs) atende o telefone às
dez da manhã, ensonado e num
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País: Portugal
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Área: 27,67 x 36,36 cm²
Âmbito: Informação Geral
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e tem nos Ladytron,
que ali apresentarão
o recente “Velocifero”,
um dos primeiros
nomes confirmados. A
eles, com cartaz ainda
incompleto, juntam-se
por agora nomes como
Etienne de Crécy ou
Dusty Kid.
Diabelli”, op. 120. Em Espinho
regressa a Beethoven - com as
Bagatelas op. 126 (nºs 1, 2, 5 e 6) e a
Sonata nº31, op. 110 - mas tocará
também uma das mais belas
partituras de outro grande mestre
vienense: a Sonata em Lá Maior, D.
959, de Schubert.
Grigory Sokolov conseguiu a proeza
de obter a medalha de ouro do
Concurso Tchaikovski de Moscovo
quando tinha apenas 16 anos. Dotado
com forte personalidade e de grande
imaginação, é também detentor de
uma técnica exímia onde todos os
parâmetros pianísticos surgem
elevados à máxima perfeição. Um
apurado sentido estético, que inclui
uma plena consciência do universo
sonoro que deu origem a cada obra,
faz com que se transfigure num
pianista diferente em cada
interpretação. A sua destreza digital, a
clareza do contraponto, a enorme
paleta de cores e dinâmicas, a
liberdade rítmica, a elasticidade do
fraseio e a espontaneidade são
qualidades frequentemente citadas
nas críticas aos seus concertos. O
repertório de Sokolov é amplo,
especialmente no domínio do recital,
com alguns compositores a gozar de
especial preferência: Bach,
Beethoven, Chopin, os mestres russos.
O repertório mais recente encontra-se
normalmente ausente, mas conforme
o pianista disse numa entrevista ao
PÚBLICO (3-7-2002) toda a boa música
é música contemporânea: “Não faço
uma divisão entre música
contemporânea e música antiga. O
único critério é ser música viva ou
música morta. Uma peça escrita
ontem pode já estar morta e outra
escrita há 300 anos pode estar viva.”
Pop
Tiragem: 59760
Dois dias com Bonnie ‘Prince’ Billy
na ZDB
estado de má disposição que, nele, é
tão previsível quanto o exacto oposto.
A meio de uma conversa sobre o seu
novo disco, “Lie Down In The Light”,
e os concertos que dará na Galeria
ZDB hoje e amanhã, falamos sobre
uma certa mansidão que tomou conta
dos seus mais recentes discos e ele
afirma: “As pessoas diziam que pela
forma como canto devia ser uma
pessoa sem positividade. Acho”, diz
como quem tem lixa na língua, “que
houve uma decisão consciente de
aceitar a alegria.”
Se o homem teve de aprender a
aceitar a alegria, é porque antes não
a aceitava. Uma frase valida a
conclusão: “Não tenho a certeza,
mas acho que a minha inquietude é
uma forma de vida, é a forma como
a minha sobrevivência se
desenvolveu, em que o movimento é
essencial”.
O que era suposto ser uma
conversa sobre o novo disco e um
par de concertos dá uma volta. Os
ditos de Oldham permitem não só
entrever a sua carreira como uma
fuga constante a si mesma (no que se
aproxima de Dylan) como
igualmente fazem rima com um
comentário que David Berman, dos
Silver Jews, fez uma vez a respeito de
Oldham: “Will is a vitalist”.
Mencione-se isso ao homem e a
resposta é:
- “É assim que o David me vê?”
- “Foi isso que disse”.
- “Vitalista em que sentido?”
- “Imagino que o de
experimentar tudo”.
- “Esse é o sentido que o David
deu? Qual é o sentido que dá à
frase do David?”
- “Bem, o oposto de um vitalista
será alguém que gostasse de
passar o dia todo no sofá sem
fazer nenhum. Presumo que
seja isso”.
- “Não gosto de dormir o dia todo
no sofá, devo ser um vitalista”.
Tudo isto num tom ríspido e
abrupto, como gostamos. É assim
que Oldham fala nos dias maus:
secura por um lado, total relativismo
por outro - isto é: comporta-se de
forma acossada (o que é
imensamente divertido).
Perguntamos se há “punição” na
sua música. Responde: “É possível,
mas tudo é possível.” E, clássico dos
clássicos: “Acho que a interpretação
de um ouvinte é correcta, mas não
tem nada a ver com a minha ou
comigo”.
Pode pensar-se que este tipo de
resposta é típico de quem não quer
falar. Quando lhe dizemos que ele
está a evitar o diálogo, atira: “Talvez
não esteja a fazer perguntas tão
simples quanto pensa.
Está à espera de um
tipo de resposta e
fica desiludido se
não obtém o que
quer.”
Madeleine Peyroux:
capaz do banal e do sublime
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11-07-2008 | Ípsilon
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País: Portugal
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Área: 17,09 x 35,83 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 2
Oportunidade única para presenciar
a arte do saxofonista
e clarinetista Michel Portal
Não vale a pena pensar que
Oldham despreza o outro. É mais
fundo que isso. Se pomos a hipótese
de ele estar mais manso, a resposta
é furiosa: “Acho que mais ninguém
pensa isso, só você.” O tom de voz
da frase seguinte é mais manso:
“Acho que luto com a raiva muitas
vezes, muitas vezes mesmo”.
- “Os outros notam isso, essa
raiva?”
- “[Pausa] As pessoas notam, sim.
É notório. É algo que me faz sentir
muito exposto.”
E aqui chegamos à história do
nome Bonnie ‘Prince’ Billy, de como
funciona como máscara. Disso já
sabíamos, mas agora há um “twist”:
“Tem de haver uma personagem que
me faça esquecer o álcool e as contas
para pagar e que me permita só
cantar.”
- “As contas são um problema?”
- “Claro que sim”.
- “E o álcool?”
- “O que é que acha? Claro que
sim”.
- “Quão grande?”
- “O vitalista em mim [podem
imaginar a dose de sarcasmo na voz]
não me deixa beber até cair no sofá.
Prefiro fumar erva ou andar horas
sozinho pelas ruas ou estar com uma
mulher”. (Seguiu-se diatribe sobre
estar com mulheres.)
Num momento qualquer em que o
homem se zangou dizemos-lhe que
nunca o tínhamos visto tão de pé
atrás. “É que se calhar é
desagradável estar numa entrevista
em que alguém quer tocar numa
coisa em que queremos que não
toquem.” Talvez estivéssemos
enganados: o homem continua
conturbado ou, se não, disfarça
bem. Queiram os deuses da música
que ele esteja com este espírito
quando pisar o palco da ZDB.
Jazz
Voz quente
em festival
“cool”
Integrada no Cool Jazz Fest,
Madeleine Peyroux visita
de novo o nosso país para
mais uma actuação
que se prevê inesquecível.
Rodrigo Amado
Madeleine Peyroux
Mafra Jardim do Cerco, dia 17, às 22h; Bilhetes 15/35 €.
Madeleine Peyroux é uma grande
cantora e perpetua a
tradição da “femme
fatale” na música. A
sua voz, apontada
como inspiração
directa de Billie
Holliday, navega com
naturalidade entre tons
de jazz, blues e soul,
numa entrega
apaixonada que teima
em surpreender-nos a
cada nova audição. A
sua estreia em 1996
com o notável
“Dreamland”, com
participação de James
Carter, projectou o
seu nome como
uma das grandes
promessas do jazz
vocal. Mais
interessada em
cantar do que promover a sua imagem
ou se afirmar como diva do jazz, deu
início a um percurso errático e
instável em que se apresentou apenas
em pequenos espectáculos, em clubes
ou na rua, gerando enormes
especulações em torno do seu nome.
Em 2004, após “Got You on My
Mind”, registo irregular gravado com
o seu companheiro de então, William
Galison, Peyroux edita “Careless
Love”, sucesso imediato para o
público e para a crítica que a confirma
como uma das mais intrigantes
cantoras “jazzy” do momento. Dois
anos depois, aparentando uma maior
estabilidade artística, lança o notável
“Half The Perfect World”, registo que
servirá de base ao espectáculo de
Mafra e que dá continuidade a uma
mistura inteligente de pop, soul,
blues, country e jazz, construída sobre
canções originais ou interpretação de
temas de gente tão respeitável como
Tom Waits, Leonard Cohen ou Joni
Mitchell.
Capaz, verdadeiramente, do banal
e do sublime numa mesma canção,
Peyroux tem como principal trunfo
uma entrega intensa a cada uma das
frases que canta e uma honestidade
desarmante que se adivinha no seu
tom frágil e envolvente.
Há jazz
no parque
Michel Portal e Steve Khun
lideram duas excelentes
formações, de áreas
musicais bem distintas.
Rodrigo Amado
Trio Steve Kuhn
12, às 18h00
André Fernandes Quarteto
“Cubo”
19, às 18h00
Michel Portal Quarteto
26, às 18hoo
Todos os espectáculos no Ténis do Parque Fundação Serralves, Porto; Bilhetes - 5/10 €.
Este ano na sua 17ª edição, o ciclo Jazz
no Parque da Fundação Serralves
apresenta uma excelente
programação, da responsabilidade de
António Curvelo, distribuida por três
sábados ao longo do mês de Julho.
O arranque é dado pelo trio do
veterano Steve Khun, músico de
grande sensibilidade, especializado
nas formações de trio. Foi o pianista
original no quarteto de John
Coltrane, posteriormente
substituído por McCoy Tyner, e
integrou as formações de Stan Getz,
Kenny Dorham e Art Farmer. Na sua
discografia, de onde se destacam os
excelentes “The October Suite”,
“Trance” e “Promises Kept”,
dominam as gravações em trio com
secções rítmicas que revelam muito
do percurso deste excelente
pianista; Ron Carter, Gary Peacock,
Bill Stewart, Miroslav Vitous, Aldo
Romano, Al Foster, Eddie Gomez,
George Mraz, Pete La Roca, Steve
Swallow, entre outros. Neste
espectáculo, Khun é acompanhado
pelo contrabaixista David Finck e
pelo baterista Joey Baron, secção
rítmica presente no registo
“Remembering Tomorrow”, gravado
em 95 para a ECM.
No sábado seguinte é a vez do
quarteto do guitarrista André
Fernandes, proporcionando nova
ocasião para assistir ao
desenvolvimento de uma das mais
fascinantes formações do jazz
português. Mário Laginha no piano,
Nelson Cascais no contrabaixo e
Alexandre Frazão na bateria
completam uma formação que,
baseada na tradição, explora de forma
intensa, natural e espontânea os
limites das composições tocadas,
tornando-as indissociáveis do som do
grupo.
No terceiro concerto do ciclo,
oportunidade única para presenciar a
arte do saxofonista e clarinetista
Michel Portal, aqui numa formação
rara que integra o nova-iorquino Tony
Malaby, menino prodígio do saxofone
tenor. A completar o quarteto, Bruno
Chevillon no contrabaixo e Daniel
Humair na bateria. Portal, mais
conhecido em Portugal pelo seu duo
com o acordeonista Richard Galliano,
é considerado percussor do jazz
moderno em França e é um multiinstrumentista excepcional que se
move com igual à vontade nas áreas
do jazz e da música erudita
contemporânea. Ícone do free jazz na
Europa dos anos 60, editou “Alors!!!”
e “Arrivederci le Chouartse”, dois
registos chave do jazz moderno
francês. As maiores expectativas deste
concerto vão para o seu encontro com
Malaby, saxofonista extraordinário
que faz de cada uma das suas
improvisações um assombro de
controlo, intensidade e emoção.
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Dois mestres ao piano O homem que não acalmou