01_capa_nova.qxp 02-10-2006 20:33 Page 1 N.º 175 - Outubro 2006 - 2,00 euros DIÁSPORA MACAU TERRA NOSSA MONTEMOR PERCURSOS MOLEDO actividades desportivas.qxp 26-09-2006 21:34 Page 1 DESPORTO a c t i v i d a d e s b á s i c a s JUDO NATAÇÃO GINÁSTICA OUTRAS M ODALIDADES É UM CCD E ESTÁ FILIADO NO INATEL: X X Está inserido no âmbito da actividade desportiva; Tem um conjunto de associados que gostam de praticar desporto. Se preenche estas condições, consulte na página www.inatel.pt os formulários necessários para poder usufruir do apoio do INATEL e organizar a sua própria classe desportiva. Contactos: 210 027 130 /1 - [email protected] 03_segunda via.qxp 02-10-2006 20:37 Page 3 Sumário N.º 175 - Outubro 2006 - 2,00 euros 4 26 EDITORIAL DIÁSPORA MACAU TERRA NOSSA MONTEMOR PERCURSOS MOLEDO 48 DO PROVEDOR O TEMPO E O MUNDO 7 49 NOTÍCIAS Foto: José Frade VIAGENS NA 12 BODAS DE FÍGARO CONCURSO DE EM PORTUGUÊS NO TRINDADE FOTOGRAFIA Estreada em Setembro no Trindade uma inédita versão da famosa ópera de Mozart, cantada em português, vai ser apresentada, até Dezembro, em vários pontos do país. 14 14 PATRIMÓNIO NA DIÁSPORA MACAU, A CIDADE DA DEUSA A-MA Os portugueses estiveram quase cinco séculos na foz do Rio das Pérolas e estabeleceram um particular relacionamento com a China. Desse tempo de contacto entre Ocidente e Oriente ficou um património arquitectónico cuja importância é agora sublinhada pela classificação do centro histórico de Macau como Património Mundial pela UNESCO. 20 PAIXÕES Nelson Pombeiro, Os comboios no coração PERCURSOS Moledo: uma aldeia turística 6 CARTAS E COLUNA NA CAPA 44 HISTÓRIA 26 TERRA NOSSA MONTEMOR-ONOVO Cidade de história e memória e sede de um dos maiores concelhos do país, e importante centro de produção de cortiça, cereais, azeite, gado e vinho, Montemor-oNovo alberga um vasto e rico património arquitectónico 32 DESPORTO CCD de Cascais aposta no golfe 36 50 OLHO VIVO 53 BOA VIDA Consumo/ Livro Aberto/Artes/ Músicas/Palco/ DVD/ Cinema/ À Mesa/ Saúde/ Informática/ Ao Volante/ Palavras da Lei 70 CLUBE TEMPO LIVRE 79 A CHEFE SUGERE Truta com amêndoas (Inatel Luso) 81 O TEMPO E AS ROTA DA LUSOFONIA PALAVRAS 38 Maria Alice Vila Fabião SOLIDARIEDADE Cova da Moura – outro bairro dentro do bairro 82 CRÓNICA Baptista-Bastos Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Hugo da Rocha Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Barrocas, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Rogério Vidigal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 170.880 exemplares 04e05_editorial_175.qxp 03-10-2006 15:11 Page 4 Editorial JOSÉ ALARCÃO TRONI (Re)fundação do INATEL Inicio estas linhas, informando, com a maior tristeza, os associados e leitores do desaparecimento do nosso convívio, em Agosto, de António Gonçalves Ribeiro, o velho Tarzan da Caparica, nadador-salvador do INATEL e nosso amigo e associado, ao longo de mais de cinquenta anos. ucessivas gerações de crianças e jovens, filhos dos sócios, alojados nos Centro de Férias Um Lugar ao Sol e Parque de Campismo da Caparica, ficaram a dever ao velho Tarzan a aprendizagem da natação e muitos a própria vida, salva por este herói anónimo das ondas e correntes do Atlântico, nas praias da margem sul do Tejo e do distrito de Setúbal. O velho Tarzan morreu como sempre vivera, com a dignidade e modéstia dos heróis anónimos e das grandes figuras do nosso imaginário de solidariedade humana. Deus, em Sua infinita misericórdia, concedeu já o eterno descanso, na Sua Divina Presença e entre os resplendores da luz perpétua, a este velho homem bom de Portugal. À família do nosso querido amigo, especialmente à sua viúva e companheira de mais de meio século, transmito a minha sentida homenagem e dos 250 mil associados do INATEL. S (RE)FUNDAÇÃO DO INATEL Em paralelo com o processo legislativo da Reforma Estatutária, a Direcção, a que tenho a honra de presidir, desencadeou, em Setembro, os trabalhos do Projecto Gestão da Mudança, tendente, com os Estatutos, à refundação, do INATEL. Na verdade, após a opção pelo sistema SAP, como ferramenta da Organização e Informática do INATEL nos próximos anos – os primeiros da futura Fundação – iniciou-se a reengenharia dos sistemas e tecnologias de informação e das estruturas orgânicas, formais e informais, consolidadas em cerca de dezassete anos de vigência do velho Estatuto de 1989. A supervisão e consultadoria estratégicas do Projecto Gestão da Mudança estão a ser negociados com um instituto de investigação de referência, integrado em prestigiada Universidade pública portuguesa. TURISMO DE DESENVOLVIMENTO No dia 29 de Setembro – dia de S. Miguel Arcanjo e 4 TempoLivre Outubro 2006 feriado municipal de Fornos de Algodres – foi assinado, em cerimónia pública, no salão nobre do Município, o protocolo que define as condições de gestão pelo INATEL do, no mesmo dia inaugurado, Centro de Férias de Fornos de Algodres, sito no Solar e Quinta da Vila Ruiva, o qual, segundo projecto arquitectónico muito feliz, amplia em 26 quartos a Casa de Turismo Rural existente. O novo hotel social, de grande qualidade arquitectónica, será, agora, equipado e decorado pelo INATEL, e, na rota da Serra da Estrela e das Aldeias Históricas, colocado ao serviço do nosso Turismo Social e Sénior. A memória do ilustre munícipe que foi o dr. Armindo Barata – doador do Solar e Quinta de Vila Ruiva ao Município de Fornos de Algodres para fim de utilidade social, aliás cumprido com a Casa de Turismo Rural – é, de novo, recordada e honrada, com a afectação do seu antigo património ao Turismo de Desenvolvimento e à coesão social entre o Portugal urbano e litorâneo e o Portugal rural e interior. TEATRO DA TRINDADE O Prof. Doutor Carlos Fragateiro considerou concluído o seu projecto, de nove anos, como director do Teatro da Trindade, passando a dedicar-se, em exclusivo, à presidência da sociedade anónima de capitais públicos, proprietária e instituidora do Teatro Nacional de Dona Maria II. É de toda a justiça testemunhar ao Prof. Doutor Carlos Fragateiro o reconhecimento do INATEL pelo inovador brilhantismo do seu desempenho como director do Teatro da Trindade. A pouco mais de um ano do encerramento temporário do Teatro da Trindade para obras de grande restauro e manutenção – no óbvio respeito pela traça oitocentista do edifício – e aprovada a respectiva programação para a época 2006/2007 – em cujo segundo semestre se inclui o programa especial, a integrar na série de eventos culturais que marcará a terceira 04e05_editorial_175.qxp 03-10-2006 15:11 Page 5 Presidência Portuguesa da União Europeia – não vejo, para já, necessidade de nomeação de novo director. Exercerei, assim, por avocação, no âmbito da presidência do INATEL e do pelouro da Cultura, as funções de director do teatro da Trindade, pelo menos até 31 de Dezembro de 2007. Sem prejuízo da programação aprovada para a época teatral de 2006/07, o Teatro da Trindade – antes e depois das obras de reabilitação do edifício e de optimização do espaço – acentuará a sua natureza e missão de espaço cultural, polivalente, do INATEL, ao serviço dos Teatro, Cinema, Música, Canto, Dança e Cultura Tradicional Portuguesa. Espero que, ainda no 4º trimestre de 2006, seja desbloqueado, pelo Município de Lisboa e sua SRU- Sociedade de Reabilitação Urbana, o licenciamento das obras de pintura e reabilitação exterior da fechada do Teatro da Trindade, que muito gostaria de ver concluídas no primeiro semestre do próximo ano, antes da Presidência Portuguesa da União Europeia. A Direcção irá, ainda, equacionar a oportunidade da refundação da Companhia Portuguesa de Ópera, prestigiada escola profissional do canto lírico, sedeada no INATEL e no Teatro da Trindade, criminosamente extinta nos idos de 1975. PATRIMÓNIO No mês de Setembro foi, finalmente, assinada a escritura pública de transmissão – do IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado para o INATEL – da propriedade do prédio urbano, em Lisboa, onde está sedeado o CCD – Centro de Cultura e Recreio do Bairro da Calçada dos Mestres. O edifício fora vendido, na década de sessenta, à então FNAT pelo, também, então Fundo de Fomento de Habitação, estando a situação patrimonial do INATEL, relativamente a este imóvel, por regularizar há cerca de quarenta anos. Pôs-se, assim, termo a mais um triste exemplo de displicência na administração do património imobiliário do Estado. BRASIL E LUSOFONIA A ABCMI – Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade, instituição com a qual o INATEL mantém um protocolo de parceria e intercâmbio, quis honrar-me e ao nosso Instituto, com a participação, como convidado de honra e orador, no I Fórum Nacional de Turismo para a Melhor Idade e I Oficina Nacional de Capacitação de Lideranças para o Turismo Social, congressos que tiveram lugar em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, de 17 a 21 de Setembro. A ABCMI integra os Clubes Seniores – no Brasil designados por Clubes da Melhor Idade – dos 26 Estados membros da República Federativa e do respectivo Distrito Federal, abrangendo mais de 300 mil associados. A ABCMI considera o INATEL seu parceiro estratégico, em Portugal, na União Europeia e na CPLP, e instituição modelar, enquanto gestora dos Programas Turismo Sénior, Saúde e Termalismo Sénior e Portugal no Coração, que este importantíssimo parceiro social brasileiro – dos Governos federal, estaduais e municipais – pretende ver introduzidos no Brasil – com a natureza e cofinanciamento de programas governamentais de inclusão social – pela Presidência e Governo, a constituir na sequência do acto eleitoral em curso no grande país irmão. Foi, assim, com o maior gosto, que participei, a convite das presidências nacional e estaduais da ABCMI no seu Conselho Nacional – a assembleia geral restrita entre congressos – honra concedida pela primeira vez a um convidado estrangeiro, incluindo os representantes dos demais países do Mercosul, assim como fiz ao Fórum e a este órgão estatutário comunicações sobre a experiência portuguesa dos Programas Seniores e os trabalhos preparatórios do Programa Eneias, o futuro Programa de Turismo Sénior da União Europeia. Às presidentes nacional e estadual da ABCMI – Genilda Baroni e Nice Guedes – agradeço, em meu nome pessoal e do INATEL, a honrosa parceria com que nos distinguiram e as grande fidalguia e amizade que puseram no meu acolhimento e participação, como convidado, nos órgãos estatutários da prestigiadíssima e grande instituição que dirigem. IN MEMORIAN A memória do velho Tarzan da Caparica será recordada no espaço onde trabalhou e que toda a vida amou, provavelmente através de um busto. Entretanto, repristinarei, junto da Presidência da República e das Chancelarias das Ordens Honoríficas Portuguesas, a proposta de agradecimento deste herói anónimo com uma condecoração nacional, o que, aliás, já tinha feito em 2005, por ocasião do septuagésimo aniversário do binómio FNAT-INATEL. I Outubro 2006 TempoLivre 5 06.qxp 26-09-2006 18:59 Page 6 Cartas [ Kalidás Barreto ] COLUNA DO PROVEDOR As alterações estatutárias que se espera entrem em funcionamento entre finais deste ano, ou, imediatamente no limiar de 2007, são vistas, pelos nossos associados, simultaneamente, com esperança e com apreensão. É perfeitamente compreensível esta atitude porque inovação traz sempre esse estado de espírito. Para mais em tempos de mudança como os que o mundo atravessa, alimentando esperanças que logo a seguir são frustrações e amargas desilusões a quem luta e confia num mundo Animais de Estimação melhor; não será o caso do INATEL. A vida dos Portugueses, e consequentemente a dos sócios do Inatel, tem sofrido grandes mudanças de comportamento. O que há 20 anos era excepção (ter um animal de companhia) hoje está de tal modo generalizado que não compreendo (até por via dos serviços prestados aos Seniores) a proibição de levar para os Centros de Férias o animal de estimação. Em todos eles existe espaço para construir algumas “boxs”. Rentabilizava-se e tornava mais expedita a ideia de passar uns dias nos centros de férias. Sem ser fundamentalista acerca do tema animal, incomoda-me o facto das Instituições Públicas não actuarem em consonância com as novas ideias do social e não percebam que por via do isolamento a que todos, mais dia menos dia, estamos condenados, o animal de estimação é uma companhia e o receptor/emissor de ternura que nos vai escasseando ou em muitos casos não existe. Porque o Instituto existe para servir os sócios, torna-se premente analisar esta vertente. TEL merecem crédito, até pelo cuidado técnico e Ramiro Silva, Amadora O INATEL manter-se-á assim, fiel à sua história e As transformações que se anunciam para o INAa base científica com que as propostas têm sido elaboradas e aprovadas com largo consenso. A Instituição INATEL, conforme previsto no organigrama do MTSS aprovado na Resolução do Conselho de Ministros, de 21 de Abril de 2006, sairá da Administração Central do Estado. O INATEL passará a ser uma Fundação de direito privado e de utilidade pública, mas com outra agilidade funcional que só beneficiará os seus associados e os seus trabalhadores, mantendo as suas características de agente na economia social. Pela leitura das intenções, aliás confirmadas pelo Ministro Vieira da Silva, “O INATEL continuará a ser um pilar fundamental no apoio à cultura popular, ao turismo social e ao desporto para todos.” às suas responsabilidades sociais “com elevado Sócios há 50 anos Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao Inatel os associados: Manuel Antonio Salgueiro, Amoreira; Marciano Rosa Cordeiro, Alhandra; Carlos José Estrela Casinhas, Algés. grau de independência face a interesses sociais, corporativos ou de natureza partidária” ainda no dizer do Ministro. É isso que todos esperam: Dirigentes, associados e trabalhadores desta Instituição com os seus jovens 71 anos. Portugal precisa de ser melhor? Vamos contribuir para isso! A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected] 6 TempoLivre Outubro 2006 I Tel: 210027197 Fax: 210027179 e-mail: [email protected] 07a11.qxp 02-10-2006 20:46 Page 7 Notícias Estreia no Trindade de «As Bodas de Fígaro» A sala principal do Teatro da Trindade, em Lisboa, foi palco da estreia nacional da versão portuguesa da ópera “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, numa encenação de Maria Emília Correia com participação da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Cesário Costa. A qualidade dos intérpretes (nomes destacados do nosso canto lírico, alguns com carreira internacional em países como Áustria, Holanda e Inglaterra) e da inédita versão de uma das mais célebres óperas de Mozart mereceram o franco elogio de Serra Formigal, director da Companhia Portuguesa de Ópera (1962/1975) e da sua Escola de Canto Lírico e antigo José Alarcão Troni à conversa com alguns presentes na estreia, entre outros, o Ministro da Agricultura, Jaime Silva director do Teatro São Carlos, que fez todos foram unânimes em assinalar o de figuras nacionais amantes da ópera, ainda questão de evidenciar o excelente grande desafio que foi interpretar, pela casos, entre outros, da Jaime Silva, desempenho do maestro Cesário Costa primeira vez, uma ópera na língua Ministro da Agricultura, e da OML. Também Rui Zink, autor do materna, propondo mais iniciativas deste Desenvolvimento Rural e Pescas, e libreto da ópera portuguesa “Os tipo de modo a aproveitar e estimular as Mário Vieira de Carvalho, Secretário de Fugitivos”, estreada no Trindade em potencialidades dos cantores líricos Estado da Cultura. 2002, salientou à ‘TL’ a feliz adaptação portugueses nos palcos do nosso País. O espectáculo vai estar em cena, até da ópera, cantada em português, Com lotações esgotadas, quer na dia 7 de Outubro, no Teatro da Trindade, permitindo um melhor estreia quer nos espectáculos seguindo-se representações no Porto, acompanhamento por parte do público. seguintes, a sala principal do Trindade Cartaxo, Montijo, Figueira da Foz, Em conversa com os actores/cantores, registou a presença, no dia inaugural Aveiro, Espinho e Guimarães. O ex-director do Trindade, Carlos Fragateiro, com Serra Formigal, antigo director da Companhia Portuguesa de Ópera e do Teatro de S. Carlos. Rui Sérgio, director-interino do Trindade junto do Secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho Outubro 2006 TempoLivre 7 07a11.qxp 02-10-2006 20:46 Page 8 Formação para Jovens Músicos Seis dezenas de jovens músicos de várias bandas filarmónicas do continente e da região autónoma dos Açores receberam formação intensiva durante o XXIII Curso Nacional de Jovens Músicos que decorreu em Manteigas, de 21 de Agosto a 3 de Setembro, uma iniciativa do Inatel Guarda, com apoio da autarquia local e da Federação de Bandas do distrito. A culminar este importante curso, já uma referência nacional, com 23 anos de existência e peças de elevado grau de dificuldade, realizaram-se concertos em Manteigas, Gouveia e S. Romão, onde os músicos puderam aplicar e mostrar a qualidade dos conhecimentos adquiridos. A formação esteve a cargo de Ana Maria Figueira, José Monteiro, Francisco Ferreira, António Nogueira, Hermenegildo Campos, João Fatela Monteiro e Tristão Nogueira. Também em Peniche, mais de uma centena e meia de jovens, entre os 10 e 22 anos, representantes de vinte e nove filarmónicas locais, puderam aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais, no âmbito da décima edição do curso Regional de Aperfeiçoamento para os Jovens Músicos de Bandas Filarmónicas, levado a cabo em inícios de Setembro último, em conjunto com o Curso de Maestros de Orquestras de Sopro, uma organização da Delegação de Leiria que contou com parcerias de diversas entidades distritais. Jornada Associativa na Guarda Reflectir sobre o envolvimento juvenil nas Associações, a dinâmica associativa e o seu financiamento, são alguns dos temas em foco na Jornada Associativa que decorre, na Guarda, no Auditório dos Paços da Cultura, no próximo dia 14 pelas 9h30. Trata-se de um importante debate entre representantes do movimento associativo e entidades que os tutelam ou financiam, organizado pelo Inatel Guarda, no sentido de dinamizar as acções de carácter associativo e desbloquear os obstáculos que, actualmente, as condicionam. 8 TempoLivre Outubro 2006 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Notícias Viseu Festa da Sopa Dezenas de sopas diferentes, para os mais variados paladares, vão estar à prova durante o IV Festival do Caldo – Festa da Sopa, que decorre no Pavilhão do Inatel em Viseu, no próximo dia 28 de Outubro, uma organização da Delegação de Viseu em parceria com a Confraria de Saberes e Sabores da Beira “Grão Vasco” e apoios da Região de Turismo Dão Lafões, Governo Civil, Câmara Municipal e Associação Comercial. O certame abre as portas às 17 horas e oferece, ainda, a possibilidade de degustar saborosos vinhos e outros produtos regionais da Beira. Hotel Vila Ruiva Com a inauguração, no passado dia 29 de Setembro, do Hotel Vila Ruiva um novo edifício, concebido de raiz o Centro de Férias Inatel Fornos de Algodres conta, a partir de agora, com amplas e modernas instalações, destinadas a servir os inúmeros visitantes da Rota das Aldeias Histórias, nomeadamente Linhares da Beira, palco privilegiado para os amantes do parapente. Mais pormenores da nova unidade do Inatel serão divulgados na próxima edição da ‘Tempo Livre’. 07a11.qxp 02-10-2006 20:47 Page 9 Sintra evoca Cesário Verde “Se eu não morresse, nunca!” é a mais recente peça da Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva, em cena na Casa de Teatro de Sintra, de 19 de Outubro a 19 de Novembro. Um espectáculo concebido a partir de poemas e extractos de cartas de Cesário Verde, com a encenação de João de Mello Alvim. “Challenge 10Km” O Departamento Desportivo do Inatel apoiou mais uma edição da maior prova nacional de natação de águas abertas, intitulada “Challenge 10Km”, que decorreu no Parque Náutico de Recreio e Lazer da Aldeia do Mato, Barragem de Castelo de Bode, no passado dia 9 de Setembro último, uma organização do CCD ANE - Associação de Nadadores dos Estoris. O torneio incluiu provas de 1.500m, 5.000m e 10.000m, abertas a atletas de todos os Prémios Gazeta 2005 níveis técnicos e idades, Os Prémios Gazeta de Jornalismo foram entregues, no passado dia 13 de Setembro, em incluindo populares, num total cerimónia presidida pelo Chefe do Estado, Prof. Cavaco Silva, com a presença de duas de 342 participantes. Registou- centenas de convidados, na sua maioria jornalistas. Edite Soeiro (Gazeta de Mérito), se ainda o contributo de 15 Alexandra Lucas Coelho e Cândida Pinto (Grande Prémio Gazeta), Inês de Almeida (Gazeta cêntimos por km nadado de Revelação, e semanário Barlavento (Gazeta de Imprensa Regional), foram os vencedores, cada participante à Raríssimas – em 2005, dos mais prestigiados troféus de jornalismo português, uma iniciativa promovida Associação Nacional de pelo Clube de Jornalistas, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos. Deficiências Mentais e Raras. destinado a associados do INATEL CONCURSO DE VÍDEO 2006 categorias: “livre” e “gente da minha terra” www.inatel.pt entrega de trabalhos: de 01 de Setembro a 31 de Outubro ‘06 na sede e delegações distritais do INATEL informações e regulamento: INATEL Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa tel. 210 027 150 [email protected] 07a11.qxp 02-10-2006 20:47 Page 10 MC e Câmara de Lisboa recuperam espólio musical O Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Lisboa assinaram um protocolo para a aquisição do espólio fonográfico português em posse do coleccionador inglês Bruce Bastins, constituído por cerca três mil discos, na sua maioria de fado, e que inclui algumas das primeiras gravações de artistas nacionais. O espólio vai ficar no futuro Museu da Música, a criar em Lisboa, por iniciativa do ministério da Cultura. 60º aniversário do Inatel Beja Jogos populares e um jantar-convívio, seguido de espectáculo musical, assinalaram o 60º aniversário da Delegação de Beja do Inatel, no passado dia 16 de Setembro, em Aljustrel. Dezenas membros dos CCD’s do distrito participaram activamente em várias modalidades, com destaque para os torneios de damas e do pataco (jogo de malha mais pequena), um jogo de kayac pólo na piscina municipal e, por fim, um jogo de futebol de 11 entre duas equipas de CCD’s aljustrelenses, o Messejana e os Jungeiros. Seguiu-se um jantar de convívio com todos os participantes da tarde desportiva, com a presença do vice-presidente da Câmara, vereador Manuel Camacho, e o presidente da Junta de Freguesia de Aljustrel, apoiantes da iniciativa, o delegado distrital do Instituto, António de Maües-Collaço e o representante da Direcção, Kalidás Barreto, Provedor do Associado, com ligações afectivas e familiares a Aljustrel. A encerrar as comemorações, teve lugar, no Auditório da Biblioteca Municipal, uma sessão cultural, antecedida por intervenções de Manuel Camacho, do Delegado do Inatel e de Kalidás Barreto, de uma homenagem ao Grupo Coral do Sindicato dos Mineiros e da entrega de diplomas a novos CCD’s do distrito. Seguiram-se duas belas actuações, do Grupo de Metais da Banda Filarmónica de Instrução e Recreio Aljustrelense e do Grupo Coral do Sindicato dos Mineiros, e um convívio-ceia final, animado pelo Cante às Vozes de boa parte dos presentes. 10 TempoLivre Outubro 2006 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Notícias Jogos populares Luso Galaicos em Vila Real O Jardim da Carreira, em Vila Real, foi palco, em Junho último, da X edição dos Jogos Populares Luso Galaicos, uma iniciativa da Delegação Inatel de Vila Real. Esta jornada de lazer e convívio atraiu centenas de pessoas, muitas das quais participaram nos diversos jogos tradicionais das antigas feiras e romarias transmontanas, entre eles o jogo do cepo, das panelas, do sapo, das argolas, do burro deitado, das varas e a corrida de sacos. Galliano no CCB com “Piazzolla Forever” O acordeonista francês, Richard Galliano, vai estar, no próximo dia 17 de Novembro, no Grande Auditório do CCB, com seis outros músicos, para o concerto “Piazzolla Forever”, uma homenagem ao seu ídolo e mentor argentino, por ocasião dos 10 anos da sua morte. Com uma carreira fulgurante ao serviço da música europeia no início da década de 70, o músico francês pegou nas raízes musicais do seu país, misturou-as com o tango argentino e o jazz e bop norte-americanos para criar um estilo musical único. O seu instrumento de eleição é o acordeão e habituou-se cedo a conquistar o mundo do jazz e da música clássica. Conheceu Astor Piazzolla em 1983 e a amizade que cresceu entre ambos durou até à morte do argentino em 1992. 07a11.qxp 02-10-2006 20:47 Page 11 “Um Barco na Ponta da Língua” “Um barco na ponta da língua” nova exposição de pintura de Susana Neves inaugurada no dia 13 de Outubro, às 22H30, na Galeria Gomes Alves, em Guimarães. Depois da dupla ficção “O Grande Descobridor de Pinguins” (Centro Cultural de Cascais, Fev./Março 2006), a artista apresenta um conjunto de 13 obras, onde se destacam dois retratos de personagens em vias de extinção, oito momentos de um combate postal e ainda vários pares de casais irrepreensíveis. “Pinto a perspectiva do animal”, “pinto para me iluminar” explica Susana Neves, na entrevista realizada por A. Drummond, biólogo e botanista escocês que assina igualmente o texto (“O impulso Barcelona homenageou Mário Ventura Henriques satírico”), de apresentação da mostra: “Num verdadeiro teatro de “fauve- O jornalista e escritor português Mário Ventura Henriques, falecido em Junho nouveau”, todos estes personagens, em passado, foi homenageado, em Setembro último, no Colégio de Jornalistas da estado de calma ebulição, demonstram Catalunha, em Barcelona. No encontro de cerca de 30 “amigos” e moderado que ainda está viva a sombra da flauta pelo decano do Colégio de Jornalistas, Joseph Maria Huertas, participaram, e o espírito do bosque”. entre outros, os jornalistas Mateo Madribejos, Mercè Ibarz e Rafael Vallbona, e Horário: terça a sábado, das 10H30 às 13H e das 15H30 às 19H30 Mais informações em www.galeriagomesalves.blogspot.com os portugueses Mário Zambujal, José Manuel Saraiva e José António Santos. O secretário de Comunicação do governo catalão e amigo do escritor, Ramon Font, relembrou o papel de Mário Ventura como anfitrião de “tantos e tantos” jornalistas catalães que visitaram Portugal depois do 25 de Abril. Para Joseph Huertas, Mário Ventura ficará sempre conhecido como “o Homem de Lisboa (...) a pessoa com que tínhamos que falar para qualquer reportagem” em Portugal. Madridejos referiu-se ao escritor português como uma homem “extrovertido e cordial,” com um conhecimento “muito comprometido” da realidade portuguesa, mas “intransigente nos princípios”. Mário Zambujal evocou o homem “íntegro e integral”, pelo seu percurso de vida por saber ser, ao mesmo tempo, “um intelectual profundamente devotado ao pensamento”, e uma pessoa “tão simples, tão cordial, tão amigo de viver com alegria”. FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE BERLIM F i l m e s G a l a r d o a d o s Leiria Teatro Miguel Franco de 26 a 29 de Outubro’06 F 26 - 21h30 A CAMINHO DE GUANTANAMO 28 - 21h30 THUMBSUCKER - CHUPA NO DEDO de Mike Mills de Michael Winterbottom & Matt Whitecross 2006 – Urso de Prata para Melhor Realizador 2005 – Urso de Prata para Melhor Actor 27 - 21h30 SOPHIE SCHOLL - OS ÚLTIMOS DIAS de Marc Rothemund 2005 – Urso de Prata para Melhor Realizador / Prémio do Júri Ecuménico 29 - 15h30 VAI E VIVE de Radu Mihaileanu 2005 - Prémios do Público e do Júri Ecuménico / Label Europa Cinemas estival Internacional de Cinema de Berlim 29 - 21h30 HEAD ON - A ESPOSA TURCA de Fatih Akin 2004 – Urso de Ouro / Prémio FIPRESCI VENDA DE BILHETES: TEATRO MIGUEL FRANCO . PREÇO: €2,00 / ASSOCIADOS INATEL: €1,50 / PASSE 5 FILMES: €6,00 INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL - DELEGAÇÃO DE LEIRIA – TEL: 244 832 319 . DIVISÃO DE CULTURA DA C. M. LEIRIA – TEL: 244 839 500 APOIO: CÂMARA MUNICIPAL DE LEIRIA – TEATRO JOSÉ LÚCIO DA SILVA www.inatel.pt 12e13.qxp 26-09-2006 19:12 Page 12 Fotos Premiadas [1] [1 ] Estela Machado, Loures [ 2 ] Silva Antunes, Lisboa [ 3 ] Sara Figueiredo, Porto Menções Honrosas [ a ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril [ b ] Alexandre Pinto, Porto [ c ] Fernando Panão, Lisboa [a] [b] [c] 12e13.qxp 26-09-2006 19:12 Page 13 REGULAMENTO 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. [2] 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» [3] 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista Tempo Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. 14a19.qxp 02-10-2006 20:49 Page 14 PATRIMÓNIO NA DIÁSPORA MACAU A cidade da deusa A-Ma Os portugueses estiveram quase cinco séculos na foz do Rio das Pérolas e estabeleceram um particular relacionamento com a China. Desse tempo de contacto entre Ocidente e Oriente ficou um património arquitectónico cuja importância é agora sublinhada pela classificação do centro histórico de Macau como Património Mundial pela UNESCO. erguntareis pelos Chins, e de que parte vêm, e de quão longe”. A frase saiu da pena de D. Manuel, em 1508, por ocasião da largada de Lisboa de uma frota comandada por Diogo Lopes de Sequeira, com o objectivo de explorar a região situada entre a Ilha de São Lourenço (actual Madagáscar) e Malaca. Para as estratégias de expansão do monarca português tornara-se imperioso saber mais sobre aquela gente que era avistada amiúde a sulcar os mares do sudoeste asiático. Só sete anos mais tarde, contudo, sairia de Lisboa uma frota mandatada para iniciar oficialmente as relações diplomáticas e comerciais com a China. Chefiada por Fernão Peres de Andrade, a missão não teve o êxito desejado, designadamente no plano diplomático. A anterior boa recepção em Cantão, em 1517, de uma embaixada chefiada por Tomé Pires tinha passado à história e os navegadores e comerciantes portugueses viram-se metidos em sérios sarilhos. As relações luso-chinesas azedaram-se a tal ponto que chegou a haver confrontos violentos que fizeram estragos de monta entre as hostes portuguesas. Além do mais, os ventos mudaram subitamente de direcção: a China inaugurou nessa altura um período de isolamento e de fechamento a todo o contacto com estrangeiros. A ruptura das relações entre a China e Portugal durou de 1522 até 1554, embora os portugueses tenham continuado a navegar e a estabelecer contactos comerciais não oficiais na região durante todo esse tempo. Em 1554 é assinado um acordo para regularizar as relações entre Portugal e a China e é por essa altura que se registam também os primeiros contactos com uma aldeia de pescadores, localizada na foz do Rio das Pérolas, chamada Ho-Keang (“Baía do espelho em forma de concha”) ou, entre mercadores e marinheiros conhecida por A-Ma-Kao, “Porto da « P 14 TempoLivre Outubro 2006 14a19.qxp 02-10-2006 20:49 Page 15 Outubro 2006 TempoLivre 15 14a19.qxp 02-10-2006 20:49 Page 16 CPLP > MACAU CRITÉRIOS DA CLASSIFICAÇÃO A zona abrangida pela clas- do encontro entre o Oriente Macau e do relacionamento urbanos e exemplares sificação pela UNESCO e o Ocidente, nas suas especial estabelecido entre arquitectónicos aí preserva- inclui edificado civil por- dimensões estética, cultu- os dois povos terem propor- dos. Finalmente, porque tuguês e chinês, ruas em ral, arquitectónica e tec- cionado um intercâmbio nos Macau não só constituiu que esse património surge nológica. domínios cultural, científico, uma via através da qual o harmoniosamente integra- Os critérios que justificaram tecnológico, artístico e Ocidente recebeu um lega- do, edifícios públicos e tem- a inscrição de Macau na arquitectónico, durante do cultural, espiritual, cien- plos construídos pelos dois lista do Património Mundial vários séculos. Depois, tífico e técnico da China, povos, além, ainda, de um da UNESCO remetem porque Macau é um teste- como contribuiu também farol, o mais antigo de toda inequivocamente para o munho singular do encontro para a circulação de ideias a China, e de uma fortaleza. que ressalta de essencial entre o Ocidente e a China, que influenciaram profunda- Como sublinham os técni- em qualquer resenha materializado na fusão de mente o curso da história cos da organização, o cen- histórica do território. Em culturas que caracteriza o na China, e para, nomeada- tro histórico de Macau re- primeiro lugar, o facto da centro histórico da cidade e mente, pôr fim ao regime presenta um testemunho localização estratégica de no conjunto de espaços feudal naquele país. Monumentos que integram o Centro Histórico de Macau > Templo de A-Má > Igreja de S. Lourenço > Biblioteca Sir Robert Ho Tung > Quartel dos Mouros > Seminário e Igreja de S. José > Edifício do Leal Senado > Conjunto do Largo do Lilau > Largo e Igreja de Santo Agostinho > Conjunto do Largo do Senado > Casa do Mandarim > Teatro D. Pedro V > Templo de Sam Kai Vui Kun 16 TempoLivre Outubro 2006 14a19.qxp 02-10-2006 20:50 Page 17 Deusa A-Ma”. Os chineses ergueram no local um templo dedicado à deusa e terá sido na sua proximidade que foi estabelecida uma primeira feitoria. A cessão de Macau a Portugal só seria ratificada em 1557, primeiro pelas autoridades de Cantão, e depois, mais tarde, pelo imperador Chi-Tsung. Consta que a cessão foi uma espécie de prémio pela erradicação da pirataria da região operada pelos portugueses, mas a verdade é que, como é mais credível – e como fazem notar vários historiadores –, o desenvolvimento do comércio externo era benéfico para ambas as partes e a localização estratégica da feitoria de A-Ma-Kao uma mais valia que era imperioso potenciar e reconhecer oficialmente. Em cima: Farol e Fortaleza da Guia e Igreja de Santo Agostinho Em baixo: Ruínas de São Paulo e Igreja de São Lourenço Página da esquerda: Teatro D. Pedro V UM TEMPO LONGO DE PROSPERIDADE A oficialização e consolidação da presença portuguesa na região favoreceram o desenvolvimento de uma actividade que já havia sido iniciada algum tempo antes, quando os navios portugueses se tornaram intermediários privilegiados do comércio entre o Japão, a China, Malaca, Sião, Índia e Europa. A primeira fase de prosperidade de Macau durou 130 anos, até 1685, um período em que o território, no dizer do historiador Joel Serrão, se transformou “num florescente e poderoso empório marítimo-comercial, dos mais activos e importantes do mundo, na época, e, simultaneamente, num não menos importante centro de intercâmbio espiritual e cultural entre o Oriente e o Ocidente”. Foi durante esse período que por ali passaram ou residiram expatriados como Fernão Mendes Pinto ou Luís de Camões. E ali também, supõem os exegetas da obra do autor de “Alma minha gentil”, ter-se-á o vate lusitano perdido de amores por uma bela malaia (ou siamesa), e a ela dedicado os versos daquele célebre soneto. A segunda fase de prosperidade macaense durou 160 anos, entre 1685 e 1845. Outubro 2006 TempoLivre 17 14a19.qxp 02-10-2006 20:50 Page 18 CPLP > MACAU Igreja de São José Macau foi, durante esse tempo, um ponto de passagem obrigatório nas relações entre os povos ocidentais e os chineses. Uma terceira fase abrange já parte da primeira metade do século XX, período em que uma parte do património arquitectónico (modernista) de Macau toma forma. A estrutura de Macau remonta aos primeiros tempos de ocupação portuguesa, com o primeiro casario e a malha urbana a desenvolverem-se a partir de pólos constituídos pelas igrejas das ordens religiosas. É plausível que as habitações construídas então pelos portugueses tenham tido como modelo as de Goa, com um ou dois andares e pátios interiores. Lentamente vão surgindo edificações mais duradouras, incluindo fortificações para deter os ataques da pirataria. Já na primeira metade do século XIX, o comércio do ópio sustenta o florescimento da cidade, irrompendo nessa altura o surto de construção dos casarões da Praia Grande. O fim desse período inaugura um tempo de crise, mas, ao mesmo tempo, de renovação. É durante o consulado do governador Ferreira do Amaral que, conquistada maior autonomia relativamente aos chineses, se elaboram os primeiros planos de urbanização, nomeadamente dos bairros da Mitra e de S. Lázaro, onde hoje encontramos muitos das realizações arquitectónicas que justificaram a classificação do centro histórico de Macau como Património Mundial, decidida pela UNESCO na reunião que teve lugar recentemente em Durban, na África do Sul (ver caixa) ARQUITECTURA MODERNISTA, IMODÉSTIAS ART DÉCO Um passeio pelo centro histórico de Macau exige atenção particular a um mosaico de expressões e a uma miríade de detalhes e ornatos. Os dois quilómetros da marginal, ao longo da baía, acolhem inúmeros casarões bem conservados, que vale a pena admirar ao longo de uma caminhada. Também datadas dos anos 20 do século passado são muitas das edificações do Bairro de S. Lázaro, que conseguiram sobreviver às maleitas do progresso que abateu, nos anos 50 do século XX, muitas preciosidades arquitectónicas noutros pontos da cidade. As ruas de arcadas, de feição comercial, são outro componente da identidade do centro histórico. Elementos chineses, portugueses, sacadas e janelas arte nova, ousadias modernistas (como o Mercado Vermelho) bem como imodéstias art déco, a sublinhar o acompanhamento de Macau das correntes estéticas europeias do primeiro quartel do século XX, encontram-se amiúde nas ruas da área classifi18 TempoLivre Outubro 2006 14a19.qxp 02-10-2006 20:50 Page 19 cada. E há, também, as igrejas (erguidas entre os séc. XVIII e XIX) e os palacetes; as primeiras com inesperados pátios tropicais e labores apurados de madeira pintada, os segundos, testemunhando ainda a vontade de ostentação dos seus prósperos construtores, passaram de residências luxuosas ao acolhimento de novas funções. Dignos de admiração, entre outros, são o palacete ocupado pela escola Leng Nam e o palacete de Lou Cau, hoje ocupado pela escola Pui Cheng. Se muito património se perdeu ao longo do século passado, um conjunto significativo de edifícios interessantes foi, todavia, resgatado do abandono e da semi-ruína. Esse trabalho de recuperação, iniciado depois do 25 de Abril de 1974, permitiu restituir a dignidade perdida a construções que estão agora afectas a serviços públicos. É o caso, por exemplo do nº 91 da antiga Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, ou do notável edifício do Arquivo Histórico, exemplares arquitectónicos que justificam bem a classificação decidida pela UNESCO. I Templo de Kuan Tai e vista do Largo do Senado Jorge A. H. Rangel* [texto] Joaquim Castro [fotografias] *Presidente do Instituto Internacional de Macau Outubro 2006 TempoLivre 19 20a24.qxp 26-09-2006 19:24 Page 20 PAIXÕES NELSON POMBEIRO Os comboios no coração “A coisa foi acontecendo a pouco e pouco, como quando arranca um comboio.” Comprou uma máquina fotográfica e, meio por brincadeira, começou a captar imagens “especiais” do ambiente ferroviário. Assim foi nascendo um hobby que lhe tomou conta do espaço: o seu arquivo fotográfico ultrapassa já as 10.000 fotografias, e ainda tem meio país por descobrir. MUITAS PESSOAS O CONHECEM E NEM desconfiam da sua “mania”. Tem 34 anos, é discreto, simpático para todos, animado para os mais próximos. Trabalha numa instituição europeia, conhece bem a actualidade da música contemporânea, até faz de DJ quando lhe apetece, no bar de um amigo. Poucos sabem, porém, como ocupa muitas das tardes livres, aos fins-de-semana, férias e feriados. Nelson Pombeiro nasceu em Lisboa mas foi morar para a Amadora, em frente à Cometna, que fabricava as rodas para os comboios, mas afirma que “não é daí que vem” o gosto por estas máquinas, nessa altura não se interessava particularmente por isso. Parece que tudo começou quando comprou a máquina fotográfica, tinha 20 anos. Como tem família em Vendas Novas, já era cliente frequente da CP. Um desgosto de amor deixou-o com tempo livre e resolveu dedicar-se mais à fotografia; os passeios de comboio “com a malta lá da rua” deram o impulso; uma foto à luva esquecida do manobrador aqui, uma composição espanhola ali, a roda de uma locomotiva mais à frente...; via uma automotora e fotografava-a 20 ou 30 vezes, mas nada disto era metódico ou mesmo sistemático. Até que uma amiga precisou de fazer um trabalho sobre transportes e aceitou a sua ideia de escrever sobre comboios. Ofereceu-se para o ilustrar e foi à CP pedir autorização para fotografar as máquinas. Foi-lhe concedida até ao final do ano. Enquanto lhe passava a autorização, a Relações Públicas da CP perguntou-lhe se conhecia a Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC). Num Sábado à tarde foi até lá e inscreveu-se, dando início a uma longa amizade e a muitos rolos gastos em estações e comboios. Na APAC descobriu que não “era só eu e mais dois” – afinal há muitos mais aficionados por estas coisas da ferrovia do que pode parecer. Há quem lhes chame “os malucos dos comboios”, por 20 TempoLivre Outubro 2006 20a24.qxp 26-09-2006 19:24 Page 21 Outubro 2006 TempoLivre 21 20a24.qxp 26-09-2006 19:24 Page 22 PAIXÕES não compreender esta paixão, mas “eu acho que as paixões não têm de se compreender”. E, ao contrário do que se possa pensar, esta não é uma paixão de gente idosa. “O ‘núcleo duro’ tem idades entre os 20 e os 40 anos.” E, embora a APAC não tenha a força de outros tempos, quando alguns sócios eram ouvidos pela CP como uma espécie de consultores (por exemplo, o Dr. Américo Ramalho, durante anos Relações Públicas da CP, foi presidente da Mesa da Assembleia da APAC), “tem havido novos sócios e até mais senhoras sócias.” Nas viagens que organizam, há quem só fotografe, quem só filme, quem faça ambas as coisas e quem apenas capte sons – já chegaram a ser confundidos com uma equipa de TV, tal a parafernália de equipamento. Há sócios “generalistas” e outros “especialistas”, que se dedicam exclusivamente a um tema, desde que ligado aos carris: carruagens, automotoras, linhas, metros, eléctricos, elevadores, funiculares, etc. – e sabem mesmo tudo o que há para saber sobre o assunto. “GUARDAR ESSAS MEMÓRIAS…” No caso de Nelson, são as máquinas e as estações de comboios que o fazem mexer. No seu arquivo, em constante crescimento, há secções dedicadas a locomotivas e automotoras diesel e eléctricas, a vapor, de via estreita, carruagens e vagões de via larga e estreita e estações, por ordem alfabética, e por zona. O interesse começou pelas locomotivas e já lhe valeu a publicação de fotos em alguns artigos sobre comboios, no Bastão-Piloto (publicação da APAC), em revistas ferroviárias espanholas e até numa monografia sobre a locomotiva da série 5600, a primeira a andar a 220km/h em Portugal. As estações vieram depois, 22 TempoLivre Outubro 2006 com as viagens pelo país: começou a achar que eram injustamente menosprezadas que, apesar do seu valor estético e histórico, ninguém lhes dava o devido valor – “todos por lá passam e ninguém olha para elas”. A constatação de que muitas são assaltadas sem consequências – colunas de granito e painéis inteiros de azulejos são levados para decorar casas particulares – fêlo querer guardar essas memórias antes que desapareçam por completo, e começou a fotografá-las também. Mas para documentar tudo isto é preciso muita energia, paciência e gasolina. Gasolina? Então não vai de comboio? Não, porque há muitos locais interessantes que já foram desactivados ou estão quase desaparecidos, aos quais só se chega com carro e muita preserverança. Na verdade, é nestes passeios, por vezes quase “detectivescos”, que reside muito do encanto deste hobby. Nelson tem um mapa de 1983 com a rede ferroviária, onde assinala a caneta fluorescente as estações já visitadas – “de Abrantes para baixo falta apenas meia dúzia”. O Norte está mais difícil, pela distância, porque há linhas que desaparecem a meio e que apenas se percebe que ali existiu em tempos alguma coisa – “às vezes as dicas estão em cercas feitas a partir das travessas do carril, e temos de as seguir para descobrir onde era a linha”. Algumas estações não aparecem nos mapas, outras mudaram de nome, outras não são junto à localidade (“Chegam a ficar a 18km!”), outras ainda foram transformadas, em discotecas, por exemplo. DESCOBRIR PORTUGAL Mas nota-se que a paixão é pelo “todo” da experiência, e não apenas pela fotografia. Os interesses cruzam-se, 20a24.qxp 26-09-2006 19:24 Page 23 rificar a autorização por medo de que esteja algum por vezes “a ferros”: “Quem estiver atento às juntas de inspector a ver, mas também não custa dirigir-mo-nos ao dilatação dos carris pode reconhecer lá muitas batidas chefe de estação e informar, para evitar aborrecimende músicas, mais lentas ou mais rápidas”... tos”. Assim tem descoberto grande parte do “Portugal Vai muitas vezes acompanhado apenas pela namoraprofundo”, onde encontra saudades dos comboios e da, mas os passeios com a “seita” (como gosta de queixas sobre o “lobby do alcatrão”. Mesmo explicando chamar à APAC) têm tido momentos inesquecíveis, que não é da CP, ouve lamentos de todos os lados, dos como a viagem ao ramal da Lousã, em que cerca de 400 utentes – actuais e antigos – aos trabalhadores, dos reviassociados atravessaram a baixa de Coimbra com escolsores aos maquinistas. Recebe muitos recados para a ta policial, por se tratar de uma locomotiva a vapor. empresa – “Peça-lhes lá para reactivarem a estação...” –; Durante estas viagens aproveita-se para trocar há muito quem considere que, ao fotografias, falar das inovações desactivar linhas e estações, a CP nas linhas japonesas, contar aneestá a tirar algo que é por direito dotas, trocar peças (a vertente de organiza passeios reda população. Conhecer as maquetismo tem muitos adepgulares a diversos pontos de interesse povoações junto das paragens é tos) ou apenas dormir. Com os da rede ferroviária; sempre que possítambém uma grande mais-valia turistas ingleses (que se deslovel é também organizado anualmente deste hobby, que por vezes gera cam a Portugal só para conhecer um passeio a vapor. No final de cada conversas quase surreais para determinadas linhas e que “enano realiza ainda um Passeio de quem não conhece o mapa de chem sempre os comboios”) Aniversário em CarruagensPortugal assim tão bem: “Coaprenderam a fazer a “photo Restaurante especialmente alugadas nheces ‘XXX’, a seguir a ‘WWW’? line”, uma formação em que para o efeito. Este ano, a Associação Há lá um restaurante onde se todos os entusiastas possam focomemora 25 anos de actividade, pelo come um arroz de polvo excetografar o comboio sem que que prepara uma série de actividades lente!” Truques? “Quando paraninguém obstrua a visibilidade culturais diversas. Destacamos apenas mos em qualquer lado e não dos vizinhos. a exposição “1980-2005: 25 anos de sabemos onde ir comer, esperaUma constante são os enconcaminhos-de-ferro – 25 anos de paixão” mos que o maquinista ou o revitros com os seguranças das e a mostra bibliográfica temática que sor saiam do comboio e vamos estações principais (para tirar decorrerá na Biblioteca Nacional; a lista atrás deles; muitas vezes acabafotografias a comboios é necompleta das actividades pode ser mos todos na ‘palheta’.” cessária uma autorização por obtida no site http://apac.cp.pt, ou pelo Em conversa surgem, como escrito da CP). “Por vezes, o pese-mail [email protected] . cerejas, temas relacionados com soal não deixa tirar fotos sem ve- A APAC Outubro 2006 TempoLivre 23 20a24.qxp 26-09-2006 19:24 Page 24 PAIXÕES Vehicles, que vieram substituir as comboios, que passam despercecarruagens de 1929, barulhentas, bidos ao passageiro comum, , para assinalar 150 pouco cómodas, com janelas de como as diferentes bitolas (a disAnos do Caminho de Ferro, a entrada guilhotina, mas com imensa pertância entre um carril e o outro), é grátis em todas as Áreas sonalidade, um valor acrescentado que passaram de 1,44m para Museológicas da CP – Arco de Baúlhe, para quem passeia de comboio. 1,67m em 1857, mas que ainda é Bragança, Chaves, Estremoz, Lagos, Conta, com nostalgia, uma viagem possível ver em circulação (ou Lousado, Macinhata do Vouga e nesta linha: “Fizemos Tua - Minum museu – “destaque para o Santarém. Mas, antes de ir, não deixe randela e regresso, e a maior parte Núcleo Museológico de Lousado, de consultar os horários e condições das pessoa que foram também vale a pena ver, mesmo quem não de abertura, muito variáveis e sui voltaram, ou seja, estavam também é grande fã de comboios vai apregeneris.. a passear, a conhecer a linha, como ciar”); a importância dos ramais nós. E, no regresso, quando alindustriais, como o extinto guém perguntou qualquer coisa ao revisor, os passageiros mineiro do Lena; o horário dos maquinistas, a chamada juntaram-se em volta dele a ouvir as suas explicações e “carta impressa” que tem todos os detalhes do comboio, histórias antigas, como crianças na escola. São estas coisas do peso à velocidade máxima autorizada, dos tempos de que se vão perdendo, com o desaparecimento daquele tipo paragem às ultrapassagens previstas, todos os dias, para de comboios, substituídos por autocarros, que são uma cada comboio; os pormenores das carruagens, como o coisa muito fria, onde as janelas nem se abrem, não se conquase extinto tampo em madeira das sanitas (“Uma vez segue sentir o ar e ouvir aquele silêncio, que é uma coisa queria fotografar o tampo em madeira quando me caiu a que também conta; na nossa viagem, enquanto estivemos tampa da objectiva pela abertura...”); as “politiquices” parados à espera do comboio que vinha em sentido consubjacentes à gestão das linhas de caminho de ferro: qual trário, o silêncio quase que assustava, só se ouvia a máquina é o comboio mais lucrativo da CP, as mudanças, por a trabalhar e a água a correr, do rio Tua...” vezes “contra o bom senso”, que os sucessivos governos Tem a teoria de que “os comboios são um mundo à introduzem na liderança da empresa, as suas perdas de parte”. “Encontram-se muitas coisas e personagens inteeficiência e a evolução, nem sempre positiva, do negócio. ressantes – uma das minhas secções de fotografia chamaMas também há bons augúrios, como o comboio na se precisamente “Comboios, um mundo à parte”, só com ponte 25 de Abril, de que é admirador confesso: “Ao fotos curiosas.” Está, desde há alguns anos, a escrever lado do maquinista é uma viagem espectacular, o paspequenos contos, histórias verídicas desta sua experiênsageiro normal não tem grande percepção, temos uma cia, para eventualmente publicar num volume temático. linha normalíssima, a céu aberto, de repente ficamos Como a do “Comboio fantasma”, sobre a impressão, com a malha de ferro da ponte à volta e depois entra-se sobre uma linha abandonada, de sentir o comboio a no túnel, por baixo da praça da portagem!” aproximar-se. “Não sei explicar, mas é mesmo assim, uma pessoa sente de tal forma que tem de olhar para trás, “UM MUNDO À PARTE” para ter a certeza de que não vem lá nada...” O mais certo E quais são, afinal, as suas linhas preferidas? Os troços é que só o sinta quem tem os comboios no coração. I Régua-Pocinho, Abrantes-Ródão, e a linha do Tua. Aqui, lamenta a perda de carisma dos chamados LRVs, Light Rail Marta Martins Em 2006 24 TempoLivre Outubro 2006 DOMINO + TOCHAS.qxp 26-09-2006 20:34 Page 1 DOMINÓem Derrocada PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL, UM EVENTO ÚNICO! SÁBADO 9 DEZEMBRO 22h00 FIL-LISBOA Envolva-se na Fantasia do Natal e assista à singularidade da derrocada de 125 000 peças de uma construção mágica da Weijers Domino Productions, detentora do Recorde Mundial desta arte. 1ª PARTE dominó, Best of BILHETES: Sectores 1 e 2: €20 , Associados INATEL: €17 ; Sectores 3 e 4: €15 , Associados INATEL: €13 BILHETES À VENDA A PARTIR DE 16 DE OUTUBRO EM www.ticketline.pt, FNAC (ATRIUM SALDANHA, CASCAIS SHOPPING, CHIADO, COLOMBO, FÓRUM ALMADA, VASCO DA GAMA) E LOJAS ABREU VIAGENS DE TODAS AS CAPITAIS DE DISTRITO. Reservas a partir de 16 de Outubro nas Delegações Distritais do INATEL. Preço: €60,00 por pessoa. Informações: 210 027 150 . [email protected] . www.inatel.pt uma iniciativa 26a31.qxp 26-09-2006 19:29 Page 26 TERRA NOSSA MONTEMOR- 26 TempoLivre Outubro 2006 26a31.qxp 26-09-2006 19:29 Page 27 O-NOVO Levantado da terra Primeira e sugestiva imagem: o castelo erguido no monte maior, origem do topónimo, qual veleiro de pedra, lugar mágico com vista para nascente e poente, guardião primeiro de harmoniosas colinas e férteis planícies, palco de amores ancestrais e memoráveis batalhas contra invasores castelhanos e franceses. Mais abaixo, o abraço sereno do Almansor, um rio singular e vital tanto para a cidade como para o concelho, um dos maiores do país e importante centro de produção de cortiça, cereais, azeite, gado e vinho. Outubro 2005 TempoLivre 27 26a31.qxp 26-09-2006 19:29 Page 28 TERRA NOSSA idade e concelho de História e Memória, Montemor alberga um vasto e rico património arquitectónico – ermidas, igrejas, cruzeiros, conventos, mosteiros, casas senhoriais – como o antigo Convento de S. João de Deus, onde coexistem a Biblioteca Municipal, o Arquivo Histórico e a Galeria Municipal. Na Igreja Matriz (sécs. XVII-XVIII) sobressai um fresco original, de rara beleza, que cobre a abóbada da nave. Na cripta, inteiramente renovada, destaca-se a informação sobre a devoção de Montemor ao Santo que aqui nasceu, fundador da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, de que encontramos vestígios muito fortes no Hospital da congregação. No recinto do castelo, monumento de invulgar beleza arquitectónica, destacam-se a Igreja de Santiago, a Torre de Menagem, a Igreja de S. João Batista, o Paço dos Alcaides, as ruínas da antiga Cadeia ou Paços do Concelho, a Torre e Porta do Anjo, as ruínas da Igreja de StªMaria do Bispo, a Casa da Guarda e a Torre do Relógio - que serviu de pousada a vários monarcas e onde se reuniam as Cortes, como as de 1496, que antecederam a primeira viagem marítima para a Índia. C No mesmo espaço, sobressai o Convento da Saudação, monumento quinhentista de inestimável valor artístico do concelho, alvo de transformações e aditamentos até ao século XIX. Foi mosteiro da ordem religiosa de S. Domingos e, posteriormente, abrigo de infância desvalida. Alberga, desde o início deste século, o Centro Coreográfico de Montemor-o-Novo/Rui Horta, que, em estreita colaboração com o Município, pôs a cidade na rota das programações internacionais da dança. A sua associação “o Espaço do Tempo”, que começa já a ter patrocínios de empresários locais, tem um projecto de recuperação integral do Convento. Visita obrigatória, ainda, ao Convento de S. Domingos, erigido na transição do séc. XVI para o séc. XVII. Encerrado em 1834, na sequência do decreto de extinção das ordens religiosas, a sua Igreja ostenta belíssimos e raros azulejos do séc. XVII. É, actualmente, sede do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo e do Núcleo Museológico do Convento de S. Domingos – Museu de Arqueologia, com salas de olaria, arte sacra, etnografia e tauromaquia. Monumentos igualmente dignos de registo: a Igreja da Misericórdia (século XVI), com um portal manuelino 1 1. Praça de Touros | 2. Convento de São Domingos | 3. Vestígios medievais na cércea do castelo | 4. Piscinas | 5. Pormenor de janela Manuelina no centro histórico | 6. Actuação da Oficina do Canto, dirigida por Maria do Amparo | 7. Cine-Teatro Curvo Semedo | 8. Edifício da Sociedade Círculo | 9. Desfile na feira medieval 28 TempoLivre Outubro 2006 26a31.qxp 26-09-2006 19:29 Page 29 2 3 4 5 DR 6 7 8 9 26a31.qxp 26-09-2006 19:29 Page 30 TERRA NOSSA GUIA Circuitos culturais região tipicamente mediter- poejo e granito dominam a A MARCA organiza os rânica, avultam impor- boa gastronomia local, com “Passeios da Primavera”, tantes montados de sobro e restaurantes de qualidade, em saídas para o campo azinho onde encontramos como “A Ferrenha” e o para reconhecimento das ainda resquícios de carval- “Azinheirinha”, no Escoural plantas e leitura do ter- hais de carvalho-cerquinho , “ O Ciborro”, “Ao Pôr do ritório e da realidade natur- (Quercus faginea) e carval- Sol”, na EN4, para Vendas al do concelho, orientadas ho-negral (Quercus pyre- para a interpretação da naica), naquele que é o lim- das mais importantes do na Herdade da Ameira, paisagem e dos seus val- ite Sul da sua distribuição Alentejo, onde coexistem junto à EN 114, à saída ores naturais e humanos, em Portugal continental. as actividades lúdicas, os para Évora, e na cidade “O algumas delas guiadas Ainda no Monfurado, concursos de Mel e do Arado”, na Av. Gago pelo Mestre José Salgueiro, destaca-se um conjunto Rafeiro Alentejano, Coutinho, a “Adega que as 87 anos com grande importante de apiários, exposições, Feira do Livro, Manjares da Nossa Terra”, vigor e “rijo que nem um com uma cuidada produção tauromaquia, jogo de na Rua do Pedrão e “A pêro”, verdadeiro de mel, uma actividade malha e a música popular. Prancha”, nas Piscinas alquimista da natureza, económica de grande A Semana Gastronómica Municipais. conhece de “olhos fecha- importância em todo o con- da Vitela Tradicional do dos”quatrocentas plantas celho, num total mais de Montado, decorre no mês Dormir utilizadas para cura das 4000 colmeias, distribuídas de Julho, organizada pela Diversidade e qualidade, maleitas humanas (ver TL, pelos cerca de 70 apicul- ACOMOR – Agrupamento desde e pensões e nº 158, Março 2005). tores, organizados na dos Produtores de hospedarias modestas, mas O “Telheiro da Encosta do MONTEMORMEL, presidi- Montemor, em parceria funcionais, no centro da Castelo”, gerida pela da por Alexandre Pirata. com o Município/Turismo e cidade, passando pelo MARCA, produz artesanal- Na Galeria 9Ocre, funciona restaurantes do concelho, o “Hotel da Ameira” – tel. mente cerâmica para con- o atelier de Manuel Casa maior produtor de carne do 266898240, (60 quartos, strução, como o tijolo burro, Branca, pintor, com for- país. café, centro hípico, canil, que depois de cosido é mação académica na área e Em Dezembro, decorre o falcoaria), situado numa seco ao sol. uma intensa actividade de Festival de Gastronomia de herdade aprazível, junto à Ao Encontro de Montemor- produção e divulgação Caça da Região de Turismo EN114, até ao Turismo o-Novo: Passeios na Cidade artística na última década. de Évora, organizado pela Rural de grande qualidade e no Campo, consiste numa O artesanato de Montemor, RTE e pelos Municípios de como o “Monte do Chora aliciante proposta de três de grande beleza e diversi- Montemor, Mora e Vila Cascas” – tel. 266899690 (7 circuitos: um no centro dade, abrange o mobiliário, Viçosa e com a partici- quartos, piscina e ténis) ou histórico de Montemor, cestaria, artes decorativas, pação dos restaurantes o Agro-Turismo no “Monte para fazer a pé e dois no pintura alentejana e em montemorenses. dos Arneiros” (Lavre), tel. campo, para fazer de carro, tecido, empalhamento, possibilitando ao viajante azulejaria, ferro forjado, tra- Comer apartamentos e casa da conhecer o melhor do con- balho em pele e em couro, Os pratos de caça, as malta, piscina e bicicleta) celho. pirogravura, com os diver- empadas, enchidos, mel, ou a “Herdade do Barrocal No Sítio do Monfurado, sos artesãos e artistas cernelhas, queijadas, de Baixo” – tel 266847319, uma área total de 23.946 plásticos, organizados na doçaria conventual, a vitela na Courela da Frexeirinha, hectares, dos concelhos de CIRANDA. tradicional do montado e o Foros de Vale Figueira (12 Montemor-o-Novo e Évora, No primeira fim de semana borrego de Montemor, vin- quartos). com altitudes de 150 met- de Setembro realiza-se a hos regionais de qualidade, Informações no Posto de ros a 420 metros, numa secular Feira da Luz, uma licores tradicionais de Turismo, tel: 266 898 103 30 TempoLivre Outubro 2006 Novas, o “Café do Monte”, 265894254 (12 quartos, 26a31.qxp 26-09-2006 19:30 Page 31 de mármore branco; a Casa do Despacho (XVII); o Convento de S. Francisco, que teve origem na ermida da N. Sra. da Graça, em 1495, e é actualmente sede da Associação Cultural de Artes e Comunicação, “Oficinas do Convento”; a Igreja do Calvário e Irmandade das Almas, quinhentista e com exterior em linhas barrocas dos inícios de setecentos; a Igreja de S. Pedro da Ribeira (séc. XVI), com antigas composições murais de grande valor histórico, artístico e simbólico, onde se destaca um magnifico fresco de estilo gótico representando S. Pedro e uma sucessão de cenas de agricultura e pastoreio, sem esquecer o painel de azulejos de Querubim Lapa, existente nas escadarias de acesso ao Salão Nobre dos Paços do Concelho. O centro histórico inclui, a par da área monumental histórica, uma zona habitacional de grande significado arquitectónico e urbanístico, com vielas empedradas e modestas casas, caiadas de branco, a par de antigas mansões e solares setecentistas, mandados construir pelos ricos proprietários e fidalgos locais. Fora do casco histórico, referência ainda para a Ermida da N. Sra. da Visitação, do séc. XVII, de estilo manuelino-mudéjar e com painéis de azulejos do séc. XVIII alusivos à vida de Maria, tem, na sacristia, uma curiosa colecção de duas centenas de ex-votos. património histórico de Montemor-o-Novo não se esgota, porém, na cidade. O viajante não pode ignorar outras realidades incontornáveis de um Escoural vasto e multifacetado concelho, como o Roteiro do Megalitismo, um conjunto apreciável de antas, menires e cromeleques, ou os Itinerários do Fogo e Fornalhas em Santiago do Escoural e S. Cristóvão, espaços e memórias de caeireiros, carvoeiros, forneiros e fogueiros. E, ainda, os Percursos Pedrestes nos Sítios de Cabrela e Monfurado, esta última serra constituída por um conjunto de colinas de uma grande beleza paisagística e fauna e flora invulgares, com dezenas de espécies. Este património natural de grande beleza, integrado na Rede Natura 2000, para ser melhor compreendido, tem ao dispor do viajante o Núcleo de Interpretação Ambiental dos Sítios de Cabrela e Monfurado, entidade municipal, que organiza os respectivos passeios, o mesmo acontecendo com os Passeios da Primavera, de responsabilidade da MARCA, Associação de De- O senvolvimento Local - em parceria com o Posto de Turismo. As gravuras paleolíticas da Gruta do Escoural, classificadas como monumento nacional, são outro dos pontos obrigatórios de uma visita atenta ao património montemorense. Concelho eminentemente rural, Montemor-o-Novo tem, para além do património histórico, uma vida cultural própria e uma qualidade de vida ímpar. O grupo cénico “Theatrom”, em franca actividade; a “Oficina da Criança”, que desenvolve projectos em todas as escolas básicas do concelho; a “Oficina do Canto”, onde Maria do Amparo trabalha com centena e meia de jovens; a pluridisciplinar livraria “Fonte de Letras”; o Coral S. Domingos; o “Festival das Quatro Cidades”, parceria ar- tística com o Fundão, Marinha Grande e Vila Real de Santo António no âmbito do teatro, música e dança. Cidade tranquila, com um parque urbano bem equipado, piscinas, uma indústria em expansão, desportos aquáticos geridos pelo “Sky Clube do Alentejo”, na Barragem da Atabueira, Ciborro, e para o lazer um grande espelho de água na Barragem dos Minutos, ou ainda uma reserva natural com mais de 20 hectares e 200 animais domésticos e selvagens de mais de 60 espécies, o “Monte Selvagem”, situado no Lavre, local inspirador de “Levantado do Chão”, de José Saramago. No Lavre, registe-se, nasceram os famosos cavaleiros tauromáquicos Simão da Veiga e seu filho Simão da Veiga Júnior. I Eduardo M. Raposo (texto) Alexandre Pirata (fotos) Outubro 2005 TempoLivre 31 32a35.qxp 02-10-2006 20:51 Page 32 DESPORTO CCD EM CASCAIS APOSTA NO GOLFE Pancadinhas populares Portugal, país abençoado pelo sol, dispõe de magníficos campos de golfe, mas a modalidade permanece, ainda, restrita às horas de lazer de minorias privilegiadas, nacionais e estrangeiras. A remar contra tal maré está o trabalho desenvolvido pelo CCD (Centro de Cultura e Desporto) do Inatel em Cascais, onde o cabouqueiro e o juiz jogam lado a lado, qual aldeia gaulesa, num reduto de golfe democratizado, à saída de Lisboa. O GOLFE FIXOU-SE EM PORTUGAL EM FINAIS do século XIX, embora sempre demarcado às classes mais altas. A modalidade, com fortes ligações no nosso País à indústria imobiliária e ao turismo, tarda ainda a aproximar-se da maioria dos cidadãos. Não obstante, no concelho de Cascais, região com tradição de golfe graças ao campo do Estoril, em tempos uma grande escola de caddies, a modalidade cresceu e chegou a um maior número de pessoas. Há cerca de 15 anos, a pedido de alguns associados do CCD de Cascais, oito golfistas funcionários dos serviços municipalizados do concelho deram origem à secção de golfe, regida pela mesma filosofia comunitária e social da instituição, pretendendo-se, segundo o presidente da direcção, António Silva, “que todos se unam para poder jogar”. “Desde logo foi grande a afluência, e pensou-se na formação de um clube devidamente organizado e federado, tendo como objectivo a divulgação e a prática do golfe”, diz António, sublinhando a importância do envolvimento da Câmara de Cascais, que então atribuiu ao clube a tarefa de organizar anualmente cerca de seis torneios e gerir as prestações dos seus 32 TempoLivre Outubro 2006 32a35.qxp 02-10-2006 20:51 Page 33 Masseneiro Vieira ao centro, rodeado por praticantes e familiares de membros do CCD. associados: “O clube atingiu os 90 praticantes, todos inscritos na Federação Portuguesa de Golfe (FPG). Cresceu e prestigiou-se graças não apenas à sua organização, como também ao mérito desportivo de alguns dos associados, que foram ganhando torneios nacionais a nível individual e de clube. Tal se deve também ao apoio dado pela Câmara e pelo clube da Quinta da Marinha, que cedeu o seu campo como home club.” DO CABOUQUEIRO AO JUIZ O carácter inusitado de um número apreciável de golfistas de todas as classes sociais e idades no CCD tem uma explicação lógica: “Estes jogadores eram pessoas que, na sua juventude, se iniciaram na prática do golfe como caddies; pessoas de origem muito modesta que, desde os anos 50, iam para o campo do Estoril apanhar bolas ou levar os sacos. Outros, eram amigos de caddies que se apaixonaram pela modalidade e, muitas vezes, praticavam à noite, às escondidas, quando os campos estavam fechados, porque não tinham dinheiro para poder jogar”, constata António. Muitas dessas pessoas viram no CCD uma oportunidade de integração num clube não elitista, antes popular, acabando por se tornarem, por essa via, funcionários camarários. E foi, de facto, um grande grupo de golfistas antigos caddies, que deram origem à secção de golfe do CCD. “Canalizadores e pedreiros foram muito bem integrados em termos sociais. Acho extremamente interessante quando hoje os vejo com um enorme à-vontade num hotel de cinco estrelas, por causa do golfe”, diz agora Masseneiro Vieira, presidente da assembleia geral do clube, reiterando a ideia de que “é ponto de honra da secção de golfe a heterogeneidade de níveis etários e sociais”. “Temos – explica - desde o cabouqueiro ao juiz ou ao administrador de uma grande empresa. E todos convivem em harmonia e bem-estar. O desporto deve ter também uma função de promoção das pessoas na sociedade. Procuramos sempre ir aos melhores campos, mas de Outubro 2006 TempoLivre 33 32a35.qxp 02-10-2006 20:51 Page 34 DESPORTO CCD de Cascais: uma missão social forma a que as pessoas menos habituadas a esses meios não se sintam diminuídas. Houve formação e um ensinamento de como estar nesses ambientes, e as pessoas, sem se aperceberem, foram aprendendo, por exemplo, a comer com a ‘ferramenta’ toda, como os próprios diziam”. O CCD do Município de Cascais tem como “COPIAR O PRESIDENTE…” finalidade, desde a sua fundação, em 1954, o “Quando se joga em campos de alto gabarito, nos quais o preço ou green fee anda na ordem dos 150 euros, cujos club houses e os hotéis são de cinco estrelas, normalmente faz-se o almoço a seguir ao torneio e à distribuição dos prémios nos restaurantes ou nos club houses desses campos. Como somos habitualmente cerca de 50 a 60 jogadores, é nossa missão fazer com que essas pessoas se sintam bem, e isso passa por saber estar nesses espaços. Inicialmente, as instruções que os jogadores tinham seriam olhar e copiar os actos do presidente. Pegavam no garfo ou na colher que o presidente pegava, ou seja, estava tudo a olhar para o presidente”, recorda Masseneiro Vieira. O mimetizado, alvo de todas as atenções, não se mostra, no entanto, constrangido, dando por certo o objectivo do CCD de proporcionar aos associados a possibilidade de jogar em campos onde lhes seria impossível fazê-lo individualmente, dado serem “exageradamente caros”. “Isto torna-se possível porque fazemos protocolos e torneios, e, mesmo que os custos sejam muito elevados, temos sponsors que nos possibilitam a presença», garante Masseneiro, para quem «o máximo que um associado deve pagar, e já é muito, ronda os 50 euros», não só pelo green fee, licença que se adquire para fazer os 18 buracos, como pelo almoço. O golfe não deixa de ser um desporto de etiqueta e fair play. Além da aprendizagem da etiqueta à mesa, dáse primazia à aprendizagem das regras e da etiqueta que as serve, no que respeita à cortesia e aos cuidados a ter com o campo, antes ainda do aspecto técnico. No CCD, que já teve escola de golfe, são os associados que se ensinam mutuamente. “Os melhores ensinam os menos experientes”, afirma Masseneiro. apoio ao trabalhador e uma profunda missão social. A organização, dos e para os trabalhadores dos serviços municipalizados de Cascais, contou sempre com o apoio da Câmara Municipal, sendo subsidiada pelas Águas de Cascais. Inicialmente, foi criado um supermercado - cuja função seria a de permitir aos operários comprar fiado e pagar no final do mês -, um refeitório, e o compromisso de comparticipação medicamentosa. Paralelamente, criaram-se secções desportivas como a pesca, o hóquei em patins, o atletismo ou o futebol. Depois da revolução de 25 de Abril é criada a Casa da Criança e o Jardim Escola, face à necessidade de dar apoio aos filhos dos trabalhadores, tendo em vista a ocupação de tempos livres, numa vertente social de apoio pré-escolar. Hoje mantém, em pleno funcionamento, apenas as modalidades da pesca, do golfe e do atletismo. No passado, o clube chegou a sagrar-se campeão nacional de hóquei em patins, modalidade depois suspensa; alcançou um 5.º lugar num Europeu de pesca; foi pioneiro do triatlo em Portugal, sendo organizador da prova Triatlo de Cascais, e foi co-organizador do Europeu de Triatlo, decorrido na Baía de Cascais. Outros eventos, como a prova 20 km de Cascais, este ano na sua 24.ª edição, e a também já tradicional Rapidinha (9.ª edição) - um percurso de 5 km para os menos resistentes -, foram criações do CCD, não esquecendo GOLFE SOLIDÁRIO ainda a organização do Concurso A entreajuda e a solidariedade são pilares do clube, e Masseneiro e António são disso exemplo. Os dois presidentes de assembleia e direcção fizeram percursos paralelos, tendo ambos começado no CCD como vogais. Antes, conheciam-se dos então chamados SMAS (Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento). “Foi um amor à primeira vista. Fomos grandes profissionais nos SMAS”, diz Masseneiro, lançando um olhar cúmplice a quem o Intermunicipal de Pesca de Mar e o Torneio de Golfe Interclubes sem Campo. Actualmente movimenta cerca de 150 atletas (20 na pesca, 40 no atletismo e 90 no golfe. 34 TempoLivre Outubro 2006 32a35.qxp 02-10-2006 20:51 Page 35 introduziu no CCD, António, então seu braço direito. Os dois afirmam univocamente ter sido «a parte social, o apoio aos trabalhadores», o maior argumento do CCD para ainda hoje se lhe dedicarem de corpo e alma. Com uma satisfação notória de sabor a dever cumprido, contam a história curiosa do associado mais idoso do clube, um golfista de 73 anos que vive de uma modesta reforma: “Como se pode calcular, com 200 euros não se consegue viver e jogar golfe. Portanto, esse senhor, um apaixonado pelo golfe, viu-se na iminência de não poder jogar, dado que o valor de que vive mal chega para comer. Soubemos que haviam dois ou três associados que se juntavam para lhe pagar não só a quota como a inscrição nos torneios. Pensámos então que era nossa obrigação colaborar e, quando fazemos as contas, todos pagamos a parte do nosso amigo associado. Ele não tem carro nem conduz, mas há sempre alguém que o vai buscar e levar a casa. Vemos a felicidade dele nos torneios e isso realiza-nos.” Com cerca de 15 por cento de praticantes da classe alta, 50 da média e 35 da baixa, a secção de golfe do CCD consegue autogerir-se apenas com o dinheiro das quotas dos associados. Os funcionários da Câmara de Cascais pagam 75 euros por ano; outros associados pagam 150, e os jovens até aos 14 anos pagam apenas 30, o valor da inscrição na FPG. Através de convénios estabelecidos com diferentes campos, os sócios podem reduzir significativamente as despesas e, consequentemente, a distância que os separa de um green. “Normalmente, quanto mais altas são as habilitações literárias, piores são os jogadores”, nota Masseneiro Vieira, que exemplifica: “Do Ministério da Justiça temos quatro juízes e um motorista. O melhor jogador é de longe o motorista.” Na verdade, o golfe tem vindo a ser conquistado, em todo o mundo, por jovens oriundos de famílias pobres, o que torna mais incompreensível ainda o facto de, em Portugal, insistir-se em circunscrever o jogo a um grupo restrito. Ao cobrar-se 100 ou 150 euros de fee para que se possam bater umas bolas durante uma hora, afastam-se inúmeros jovens que nunca terão a oportunidade de testar o seu talento. A título de exemplo, Vijay Singh, número dois do ranking mundial, era cortador de lenha; o pai de Tiger Woods, número um do mundo, era militar de baixa patente; em Espanha, Sergio Garcia é filho do empregado de um clube de golfe, e o grande Severiano Ballesteros descende de empregados de mesa do restaurante de outro campo. A democratização do golfe passa por popularizá-lo mais na vertente do praticante do que do espectador, e a ninguém continuará a interessar a sua elitização, que significa também a sua estirilização. O futuro da modalidade em Portugal pode depender de visões semelhantes àquela tornada prática pelo CCD de Cascais, cuja grande ambição é possuir um campo de 18 buracos. A direcção acredita que, com o apoio da Câmara e de outras entidades, poderá colaborar, a curto prazo, na construção de um campo de golfe municipal. A semente já foi lançada. I Hugo Simões [texto] José Frade [fotos] Outubro 2006 TempoLivre 35 36e37.qxp 26-09-2006 19:32 Page 36 ROTA DA LUSOFONIA MANUEL LUCIANO DA SILVA O médico das descobertas fantásticas A casa onde nasceu na pequena aldeia de Cavião, concelho de Vale de Cambra, promete perpetuar a memória do seu percurso ímpar, onde as facetas de médico, historiador, comunicador e proeminente membro da comunidade portuguesa nos Estados Unidos ombrearam sempre. COM 80 ANOS ACABADOS DE COMPLETAR, Manuel Luciano da Silva afastou-se da prática médica que exerceu durante mais de quatro décadas, mas continua firme na actividade de “cientista” da história, investigando e defendendo teses polémicas como a de que Cristóvão Colombo era português. Para Manuel Luciano da Silva, que há mais de 50 anos estuda as inscrições e a história da pedra de Dighton, em Rhode Island, não restam dúvidas de que os portugueses foram os primeiros europeus a criar uma colónia na Nova Inglaterra e que Cristóvão Colombo era português. No livro “Portuguese Piligrims and de Dihgton Rock”, publicado em 1971, Luciano da Silva defende que as inscrições portuguesas na pedra foram gravadas por Miguel Corte Real, em 1511, e sustenta a sua teoria com as descobertas no mesmo sentido feitas em 1918 pelo o chefe do departamento de psicologia da Universidade de Brown em Providence, o professor Delabarre, que identificou a data, o nome de Miguel Corte Real e um escudo português em forma de “V”. Segundo Manuel Luciano da Silva, quem terá chegado à Terra Nova e à Nova Escócia foi o pai de Miguel, João Vaz Corte Real, em 1472, ou seja, 22 anos antes do contacto de Colombo com as ilhas da América Central. Miguel Corte Real teria vindo em busca do pai em 1502, tendo deixando as marcas da sua presença na Nova Inglaterra. A fraca aceitação que esta tese tem tido entre a comunidade de investigadores e historiadores não preocupa, 36 TempoLivre Outubro 2006 Manuel Luciano da Silva que depois de 80 anos volvidos sobre as descobertas do professor Delabarre não encontra qualquer dado que permita a refutação do que defende. E avança com a descoberta de três cruzes da ordem de Cristo e o escudo português em forma de “U” feitas em 1951 para reforçar a sua ideia. O próprio Luciano da Silva diz ter encontrado uma quarta cruz de Cristo na pedra, em 1960. Dessa descoberta se apressou a dar a conhecer ao mundo no primeiro Congresso Internacional da História dos Descobrimentos perante o cepticismo geral da plateia de historiadores e investigadores. Para Luciano da Silva, o cepticismo tem origem na ignorância desses professores em interpretar as inscrições originais portuguesas na pedra e lamenta que nenhum historiador de Portugal tenha alguma vez analisado a pedra no local. Igualmente controversa é a tese, também vertida em livro, de que Cristóvão Colombo era um judeu sefardita, 100 por cento português. Nas suas investigações sobre este tema, Manuel Luciano da Silva descartou todas as teorias conhecidas sobre a origem de Cristóvão Colón – erradamente conhecido como Colombo, diz – e começou tudo de novo. Analisou a sigla do navegador, descobriu um monograma com as iniciais de Salvador Gonçalves Zarco, nascido em Cuba, Portugal, descobriu no Vaticano duas bulas papais de Alexandre VI, com o nome português do descobridor e verificou que Colombo deixou nas últimas 12 cartas que escreveu ao filho uma mensagem em judaico, e constatou que o emblema de armas do 36e37.qxp 26-09-2006 19:32 Page 37 navegador tinha as quinas de Portugal. TRATAR DA SAÚDE À COMUNIDADE Durante 41 anos, Manuel Luciano da Silva foi médico das comunidades portuguesas de Rhode Island (RI) e Massachusetts (MA) fazendo a ligação destas com o sistema de saúde norte-americano. Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra e em Ciências Biológicas pela de Nova Iorque, quando chegou ao bairro de Brooklyn, em 1946, era um jovem desgostoso por ter sido obrigado a deixar Portugal. Ainda hoje considera o dia da partida para os Estados Unidos – 9 de Janeiro – como o mais triste da sua vida. Com 19 anos, começou por trabalhar nas limpezas na fábrica Westinghouse Electric International Company e posteriormente como amanuense no consulado de Portugal em Nova Iorque. Trabalhando de dia e estudando à noite, fez um curso de inglês e obteve um bacharelato em Biologia. Era o único filho de emigrantes portugueses que frequentava a universidade. Voltou a Portugal para concretizar o sonho de ser médico que o acompanhava desde os 12 anos e formou-se com media de 17 valores na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Regressou aos Estados Unidos onde estagiou no St. Luke’s Hospital em New Beford, MA, e especializou-se em medicina interna na prestigiada Lahey Clinic em Boston. A integração na comunidade local e a guerra colonial que entretanto rebentara encarregaram-se de o manter afastado de Portugal. A partir de 1963, trabalhou como médico associado do Centro Médico do condado de Bristol, RI, fez parte do corpo clínico do Roger Williams Medical Center, um dos hospitais filiados da Universidade de Brown e durante 21 anos foi director clínico do Rhode Island Veteran’s Home. Foi ainda médico chefe da União Portuguesa Continental, a maior organização portuguesa da Costa Leste dos Estados Unidos. Em 1998, retirou-se da prática médica activa, mas continuou com os seus programas de rádio e televisão sobre saúde de que foi pioneiro ao promover informação médica na comunicação social numa linguagem simples e acessível a todos. “Perguntar ao Médico” e “Tribuna Médica” foram alguns dos programas que animou, tendo igualmente promovido na comunicação social a sua herança portuguesa com programas como “Os portugueses na Nova Inglaterra”. CENTENAS DE CONFERÊNCIAS A par da sua carreira médica e da sua actividade como historiador amador, Manuel Luciano da Silva publicou mais de uma dezena de textos quer sobre medicina quer sobre as suas descobertas históricas. O livro “A electricidade do amor”, uma das suas primeiras obras publicadas, surgiu depois da constatação de que, tanto portugueses como americanos, desconheciam o “abc da sexualidade normal”. No texto “As verdadeiras Antilhas: Terra Nova e Nova Escócia”, publicado em versão americana e portuguesa em 1987, o médico-historiador apresenta aquela que considera uma das suas maiores descobertas cartográficas. Tendo como referência a latitude da sua aldeia, a 40 graus norte, descobriu as linhas de latitude da Carta Náutica de 1424 que lhe permitiram concluir que as verdadeiras Antilhas são a Terra Nova, Nova Escócia e Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, e não as ilhas existentes a duas mil milhas de distância ao Sul, no Mar das Caraíbas. Foi com base nestes textos que proferiu em todo o mundo mais de 400 conferências em universidades, instituições e sociedades históricas. Toda esta actividade valeu-lhe igualmente distinções diversas nos Estados Unidos e em Portugal, onde foi agraciado com Ordem do Infante D. Henrique, depois de ter organizado o Congresso Internacional de Medicina na Nova Inglaterra, com a participação de médicos de língua portuguesa de todo o mundo. As suas descobertas e o seu percurso ímpar, estão desde Junho de 2001 documentados na Biblioteca-Museu da Diáspora, instalada na casa que o viu nascer a 05 de Setembro de 1926, em Cavião, Vale de Cambra. É a nova menina dos olhos de Manuel Luciano da Silva que quer homenagear aqui a história dos emigrantes “feita com sangue, suor e lágrimas”. I Cristina Fernandes Ferreira Outubro 2006 TempoLivre 37 38a43.qxp 26-09-2006 19:34 Page 38 SOLIDARIEDADE COVA da MOURA Outro bairro dentro do bairro Aperta-se a mão a quem passa, cumprimenta-se este e aquele, à medida do cruzar de caminhos, trata-se cada um pelo nome de baptismo. Todos se conhecem, bem ou mal. Sobretudo para o bem como não se cansa de referir Heidir, o nosso guia local e principal mentor da criação do passeio turístico pela Cova da Moura, um dos bairros de pior fama dos arredores de Lisboa O ENCONTRO É MARCADO NA BOMBA DE gasolina da Buraca, frente a uma das principais entradas do bairro, construído encosta acima. Não se vêem barracas. Nenhuma. De fora parece apenas um subúrbio pobre de qualquer cidade do mundo. Do lado esquerdo um edifício de pelo menos dois andares chama a atenção pelas cores garridas. É a Associação Moinho da Juventude, destino a ter em conta durante a visita, até porque a instituição dá apoio, de uma forma ou outra, à maioria dos habitantes daquele aglomerado. Heidir chega, de passo decidido como quem já está habituado a receber quem cá vem. A conversa, casual vai decorrendo enquanto subimos a rua em direcção à associação. Do lado esquerdo, vergonhosamente, jazem os contentores de lixo que de tão repletos acabam por transbordar para a rua, sacos encostados ao muro. Mais tarde as críticas surgem de forma natural para a autarquia. “Vêm muito de vez em quando, não o suficiente para a quantidade de pessoas que vivem no bairro e limitam-se a fazer a ronda por fora. Nem sequer entram”, afirma o guia do projecto Sabura. 38 TempoLivre Outubro 2006 Sabura significa tudo o que existe de bom. É o que Heidir quer transmitir. Dar uma volta de 180 graus à fama da Cova da Moura, mostrar aos visitantes como se pode andar à vontade pelas ruas sem se ser incomodado, o convívio são da maioria dos habitantes, dar a coxnhecer através das pessoas, dos restaurantes, dos cabeleireiros, dos estabelecimentos comerciais, a cultura do povo do bairro. Tudo para combater o estigma, a segregação. Diz quem já sentiu na pele os olhares esquivos quando afirmou: “eu sou da Cova da Moura”. As casas crescem feitas de todos os tamanhos, materiais, cores, acrescentos e anexos, sem planeamento. O ambiente é o mesmo de quase todas as cidades caboverdianas. É a inevitabilidade de construir aos bocados, à medida do pouco dinheiro que vai aparecendo, à dimensão da família que vai crescendo. Pouco a pouco, com o que se tem. Por isso, o ar um tanto ou quanto labiríntico, entrecortado por ruas mais espaçadas, atravessado pela Rua Principal, segundo Heidir a «rua mais filmada da cidade porque é aqui que acontecem todas as rusgas, sempre que a polícia se lembra da Cova da 38a43.qxp 26-09-2006 19:34 Page 39 Outubro 2006 TempoLivre 39 38a43.qxp 26-09-2006 19:34 Page 40 SOLIDARIEDADE Moura”. E o cimento à mostra, num dos últimos pormenores a cuidar no aspecto exterior das casas. Tal como em Cabo Verde. APOIO IMPRESCINDÍVEL encontram em risco de abandonar a escola ou já desistiram. É a procura do preencher as horas livres, tirá-los da rua, proporcionar-lhes actividades interessantes. Os onze membros do grupo de rap também se juntam aqui. Dois ecrãs e um computador «próprios para fazer som» absorvem os jovens músicos. Fazem maquetas que vão passando de mão em mão, dão concertos nos cafés e restaurantes do bairro, mas ainda não têm nada gravado. «Contam a sua vida numa letra, falam dos problemas do bairro. Às vezes deixo-os aqui horas e horas porque quando começas a fazer o som embalas e esqueces», explica Heidir. No pátio superior, estão pintados grafites e… António Gedeão! «Minha aldeia é todo o mundo / todo o mundo me pertence / aqui me encontro e confundo / com gente de todo o mundo / que a todo o mundo pertence» A Associação Moinho existe desde o início dos anos 80 e presta apoio social, cultural e económico aos habitantes do bairro. Emprega já mais de 70 pessoas que trabalham para crianças, adolescentes e idosos. Na creche os miúdos acorrem curiosos para observarem os visitantes. Tocam, querem mexer na máquina fotográfica digital que julgam ser uma câmara de televisão. Gritam de excitação e acompanham a visita pelas diversas salas. A sala de marcha é para os que têm um ano, depois há o berçário, a sala das crianças de dois anos. Beti trabalha aqui. Já viveu em Santiago do Cacém (Alentejo), no Porto, na Cova da Moura e há dois anos mudou-se para Vila Franca de Xira «para ter uma casa maior e dar outras PROJECTOS E CULTURA condições às filhas», explica. Mas À MISTURA custou-lhe deixar «o convívio, as Noutro piso está o atelier de pessoas, a amizade e a cultura» do fotografia, dirigido por Dino, e seu povo, o de Cabo Verde. a secretaria que gere todos os A Árvore é o nome desta creche projectos e fundos de origem na que acolhe crianças dos cinco Santa Casa da Misericórdia e no meses aos três anos. Depois existe Fundo Social Europeu. Carlos Godelieve Meersschaert, da Associação Moínho o jardim-de-infância para os miú’Relha diz que são mais de vinte dos entre os três e os cinco anos. E há ainda o conceito e que abrangem desde a inserção de pessoas em situde creche familiar apoiado em amas que tomam conta ação desfavorecida, o emprego, até programas como o de quatro crianças cada. O refeitório onde a dona Joana “Cegonha”, especialmente dirigido a mães adolesé uma das responsáveis, alimenta 400 crianças ao centes. almoço. As marmitas são preparadas e levadas aos seus É também ele que explica a existência de um plano de destinatários. Hoje é bacalhau à Brás, mas podia bem requalificação do bairro, ratificado por uma resolução ser caldo de peixe, cachupa ou qualquer outra ementa do Conselho de Ministros e como esta intervenção goentre comida tradicional portuguesa e receitas tipicavernamental salvou a Cova da Moura da quase mente africanas. Sim, é que apesar do bairro estar conoextinção, solução apoiada no passado pela Câmara tado com os cabo-verdianos, a verdade é que cerca de Municipal da Amadora. Agora é esperar mais um pouco metade dos quase sete mil habitantes são brancos retoraté o estudo ficar concluído e acertado entre todas as nados, que em 1977 começaram a ocupar a área. entidades envolvidas, sendo que as associações do bairNo cimo de umas escadas, entra-se para uma sala de ro terão sempre uma palavra a dizer. convívio. É o Espaço Jovem, do qual Heidir também é Ermelindo, mais conhecido por Mimi dá formação responsável e que funciona das 19 às 21 horas. Sobressai base em informática e cuida da sala onde o serviço de o ambiente fresco e relaxado, a mesa de snooker, os Internet é gratuito para todos, durante duas horas matraquilhos e o bar, sem bebidas alcoólicas. «Tem de se diárias. Qualquer pessoa pode vir, mesmo quem aqui dar o exemplo». Mas de manhã o grupo «Bem passa ku não vive, diz Heidir. Mas acrescenta que, devido à nós» trabalha aqui com jovens dos 10 aos 19 anos que se escassez de computadores, quando há muita procura 40 TempoLivre Outubro 2006 38a43.qxp 26-09-2006 19:35 Page 41 38a43.qxp 26-09-2006 19:35 Page 42 SOLIDARIEDADE tem de se fazer uma escala. Segue-se o polivalente. À entrada, do lado direito, um piano velhinho dá-lhe um ar de clube desportivo e sala de baile. Os funcionários da associação almoçam aqui, mas a sala serve, sobretudo para as reuniões dos corpos gerentes, os ensaios do grupo de dança tradicional e do grupo Finka-Pé (que aqui se reúne aos fins-de-semana). As Finka-Pé sugiram em 1988 e o conjunto é formado exclusivamente por mulheres cabo-verdianas que habitam na Cova da Moura. O batuque é género musical, património histórico da ilha de Santiago. Em círculo as dançarinas tocam a tchabeta (pano enrolado que se percute pousado entre as pernas) e cantam longas melodias em que falam das alegrias e tristezas, até chegarem ao clímax, em que uma só palavra é repetida pelo todo, em tudo semelhante a um mantra. O grupo já ultrapassou as fronteiras do bairro em muitas ocasiões e foi convidado inclusivamente para estar presente na Expo 92, em Sevilha e nos encontros ACARTE. QUEM É QUEM Quem é da Cova da Moura trabalha na construção civil, nas limpezas, ou procura a Associação Moinho como um apoio mais técnico para encontrar outras alternativas. No entanto, há também quem, com a chegada de traficantes e drogados vindos do Casal Ventoso (aquando da sua destruição), tenha encontrado no tráfico de estupefacientes, uma saída «fácil» e mais proveitosa, explica Godelieve Meersschaert, belga de nascença, portuguesa desde 1984 (a viver em Portugal desde 1978). Foi ela e o marido, Eduardo Pontes que com muitos sacrifícios e dedicação conseguiram pôr de pé a Associação Moinho da Juventude, num bairro onde metade dos habitantes têm menos de 20 anos. Em 1982, mudou-se para a Cova da Moura para um quarto de uma colega do Sindicato das Empregadas Domésticas, onde dava apoio, sem saber que esta seria a sua morada por escolha própria. Envolveu-se com as pessoas, a cultura o sentido de comunidade e, já em sua casa, viveu três anos sem água. Conseguiu empréstimos sem juros, apoios, mobilizar trabalho voluntário de dentro e de fora das fronteiras do bairro. É a partir do seu último feito, a biblioteca e centro de documentação que caracteriza a comunidade por épocas e países. «Vieram pessoas de outras terras de Portugal trabalhar para Lisboa, depois apareceram os retornados, sobretu42 TempoLivre Outubro 2006 do de Angola, mas também de Moçambique. A seguir muitos cabo-verdianos e nos anos 90 chegaram mais angolanos e alguns são-tomenses.» Hoje, o principal problema da Cova da Moura é ter cerca de sete mil habitantes num bairro que nos anos 80 tinha metade da população. Durante o dia, o bairro tem a sua vida muito própria com os restaurantes, cafés, cabeleireiros, uma agência de viagens – que segundo Heidir arranja verdadeiras pechinchas para África e ainda financia os clientes – e as mercearias que vendem de tudo, sendo que alguns itens como cigarros e fraldas chegam a ser vendidos à unidade. Nos cabeleireiros do bairro os estudantes de fora já são clientes habituais. Fazem-se tranças em cabelos lisos e escorridos, algo impensável em muitos outros locais. Os desenhos com motivos florais, na base da nuca, são outro «must». A comunidade exterior parece pouco a pouco querer misturar-se. E a Cova da Moura também. I Paula Carvalho [texto] José Frade [fotografias] 38a43.qxp 26-09-2006 19:35 Page 43 PARCERIAS Estabelecimentos com parcerias com Beco da Tasca, 3, tel. 9664161494; africana nos restaurantes; os frutos, a Associação Moinho da Juventude: Kok Bafa (Fogo) – Travessa de S. legumes e especiarias africanos; a Restaurantes: O Coqueiro (Santo Vicente, 5, tel. 962403701; e ainda música e o artesanato; a arte dos Antão) – Rua dos Reis, 4, tel. os restaurantes Chili e Luísa que cabeleireiros africanos; o jogo do 963023438/918273199; Roque não têm número de telefone. Uril e as suas aplicações na apren- (Santo Antão) – Rua do Moinho, 12, dizagem da matemática; a literatu- tel. 966836418; Cantinho do Cabeleireiros: Lopes, Neusa, Deus ra africana na biblioteca do Moinho; Sossego (Santo Antão) – Rua de Tem, Stalony e Pérola Negra. as batuqueiras do Finka-Pé; o São Tomé e Príncipe, 8, tel. funaná tradicional e as danças com 214902260; Pedro Ramos (Santiago) Outros: Mercearia Africana; empresa Ta kai ta Rabida; curso de danças – Rua S. Francisco Xavier, 2, tel. de importação e exportação de africanas; a exposição fotográfica 962475945; Passa Sabi (Santiago) – grogue e ponche da ilha de Santo «Crescer com Dignidade»; as plan- Rua 8 de Dezembro, 29, tel. Antão; Agência de Viagens Varanda. tas medicinais que nascem espon- 963548226; Princesa do Bairro taneamente no bairro; a comu- (Santiago) – Rua dos Anjos, 3, tel. Sugestões de roteiros no bairro Cova nidade africana do bairro, a sua 966626736; Nôs Casa (Santiago) – da Moura: Os sabores da cozinha história e cultura. Outubro 2006 TempoLivre 43 44a46_segunda_via.qxp 02-10-2006 20:55 Page 44 PERCURSOS Uma aldeia turística A Av. de Santana, uma rua estreita e comprida que desemboca na antiga Estrada Nacional 13, é um repositório de memórias de uma tradição balnear com mais de dois séculos em Moledo. construção da maioria dos prédios remonta ao final do século XIX e ao início do século XX, quando alguns membros das elites do Norte edificaram deslumbrantes casas de férias a escassas centenas de metros do mar. O arrojo arquitectónico de algumas destas moradias é um espelho dos gostos requintados das classes abastadas da época. Militares, armadores de pesca, políticos, comerciantes, industriais, médicos, artistas, iniciadores de uma das mais antigas tradições balneares em Portugal, projectaram nestas casas de férias uma beleza decorativa que ainda hoje surpreende. A meia dúzia de casas de férias concentradas no início da Av. de Santana, uma espécie de recanto da antiga atmosfera aristocrática, desafia a imaginação a representar um estilo de vida que transformou uma pobre aldeia de pescadores e agricultores numa estância de turismo do jet-set nortenho. Moledo do Minho, como a povoação era antigamente conhecida, mantém ainda uma forte atracção sobre as elites do Norte. Mesmo com a forte concorrência das águas tépidas do Algarve, muitas famílias das classes média e alta do Minho, do Porto e até do Centro, que têm um lugar cativo no areal há gerações, continuam a passar férias 44 TempoLivre Outubro 2006 nesta praia de águas geladas. Quando chega a Agosto, desde sempre o mês preferido dos banhistas, Moledo enche-se de intelectuais, empresários e políticos conhecidos. O ambiente anima-se, os cafés e os bares rebentam pelas costuras. A pacata aldeola de ruas limpas, casas coloridas e árvores frondosas é, durante um mês, um corrupio de gente. AMBIENTE FAMILIAR As personalidades mais notáveis continuam a encontrar-se no selecto Ínsua Club, centro da recatada vida social elitista enraizada há décadas em Moledo. Manuel Guardão era um adolescente quando alguns dos veraneantes mais importantes da praia fundaram o clube em meados da década de 40 e lembra-se como tudo aconteceu. “Este clube, que apenas tem actividade na época balnear, é o continuador de dois gru- 44a46_segunda_via.qxp 02-10-2006 20:55 Page 45 pos que se constituíam todos os anos no início do Verão para organizarem encontros, reuniões e festas, de que se destacavam as chamadas ‘Verbenas’, uma espécie de arraial minhoto em que cada uma das famílias tinha uma barraca de comes e bebes e tiro ao alvo”. A rivalidade entre estes dois grupos ultrapassava a simples convivência social. Manuel Guardão recorda-se que “um grupo estava ligado à monarquia e outro à ditadura” e “manifestavam-se separadamente segundo as suas ideologias, sem contudo se digladiarem, e até frequentavam as festas que realizavam separadamente em locais e dias diferentes”. Era o tempo em que estas famílias bem colocadas na vida “faziam grandes passeatas de barco ao ilhéu da Ínsua e organizavam lá grandes almoçaradas”. O ambiente familiar, característica histórica desta aldeia balnear, não mudou muito com o passar dos anos. A praia de Moledo, mesmo com as suas manhãs envoltas em nevoeiro e bruma e o areal pontuado de sargaço, é uma espécie de segredo preciosamente guardado pelos veraneantes habituais. As caras nunca variam muito de ano para ano. Os turistas estrangeiros, por desconhecimento ou desinteresse, raramente param aqui. E, no entanto, a paisagem costeira entre Moledo e a foz do rio Minho, com o Forte da Ínsua e o monte de Santa Tecla no horizonte, é uma agradável surpresa. A aldeia conserva as suas casas baixas e estreitas à beira-mar em perfeita harmonia com a paisagem, sem grandes sinais de especulação imobiliária à vista, e a praia, não sendo deslumbrante diante da povoação, é um espanto junto à foz do rio Minho. É nesta baía de areias finas, batidas pela ondulação suave do mar e ladeadas pela mancha verde do pinhal do Camarido, que o cenário é mais encantador: o Forte da Ínsua, construído numa ilhota de areia que já foi península, fica mesmo em frente, no sítio da junção de mar e rio, à entrada da barra de Caminha; a praia de La Guardia espraia-se aos pés do pontiagudo monte de Santa Tecla, na outra margem da foz do Minho, na Galiza; e a praia fluvial de Caminha, com as suas águas mansas pontuadas de barcos de pesca, está mesmo ali ao lado, apenas separada por um vasto areal salpicado de vegetação esparsa. Caminha bordeja a imensa foz do rio Minho, Outubro 2006 TempoLivre 45 44a46_segunda_via.qxp 02-10-2006 20:55 Page 46 PERCURSOS importante porto de pesca natural desde o século XV. Por trás das muralhas fundadas pelos romanos e ampliadas e reforçadas ao longo de vários reinados, esconde-se uma cidade antiga primorosamente conservada. A mancha urbana, com as suas ruas estreitas e casas em granito rendilhadas de fachadas e varandas artísticas, mantém-se praticamente intacta. As casas senhoriais evidenciam ainda o poder desmesurado dos grandes proprietários dos séculos XVII e XVIII. O encanto da cidade adquire ainda maior expressão no dia 19 de Junho de cada ano, quando as ruas são atapetadas com flores para celebrar a festa do Corpo de Deus. Hortênsias, pampilhos do campo, cardos, rosas, cravos, geribérias, cascas de batata, rodelas de cenoura, sal, lascas de madeira e os mais diversos produtos vegetais, recolhidos e conservados ao longo de três meses, são utilizados na composição de frases, cálices e figuras religiosas sobre o empedrado. É uma noite inteira de trabalho árduo para deixar o cenário arrumado até ao ama- nhecer. Cada rua tem a sua própria decoração e é difícil seleccionar a mais bela. A surpresa estampada nos rostos dos transeuntes revela isso mesmo. I António Sérgio Azenha [texto e fotografias] GUIA A NÃO PERDER através de uma língua de são um sucesso. Com o 378/Caminha O Forte da Ínsua, à entrada areia que ligava a costa empenhamento da popu- Verde Pinho, Estrada da barra de Caminha, é um àquele ilhéu de areia e lação local, durante três Nacional 13, Moledo excelente pretexto para pedra. As provas documen- meses recolhe-se um leque passar um dia na praia do tais registam esse aconteci- variado de flores, a maioria DORMIR ilhéu da Ínsua. O forte, cuja mento em 1582, 1629, 1708, desviadas com discrição de Hotel Porta do Sol, Av. dr. muralha e interior benefi- 1895 e 1947. Milhares de propriedades alheias Dantas Carneiro, 1, Tel.: ciou de algumas obras de pessoas percorreram então (ninguém leva a mal), para 258 722 340/ Caminha restauro nos últimos anos, a pé e em carros de bois os compor um tapete lindíssi- Residencial Ideal, Av. Engº foi construído no século cerca de quatro quilómetros mo sobre o chão de pedra Sousa Rego, 125, Tel.: 258 XVII, sob o reinado de D. de distância. Há cerca de das ruas estreitas da 721 505/ Moledo do Minho João IV, para defender o cinco anos, o fenómeno cidade. É sobre esse tapete Convento de Santa Maria repetiu-se, ainda que o colorido que a procissão de Ínsua (edificado pela nível da água desse pelo desfila depois ao final da Ordem dos Franciscanos no joelho e pelo peito. O dia 19 tarde. século XIV), que se encon- de Junho é também uma tra na praça de armas do boa oportunidade para visi- COMER CONTACTOS forte, e reforçar a defesa da tar Caminha. É nessa data A Primavera Posto de Turismo: Rua costa portuguesa durante a que se realiza a festa do Pç Constantino da Silva Ricardo Joaquim de Sousa, Guerra da Restauração. Corpo de Deus: interrompi- Torres, 99 – 101, Tel.: 258 Tel.: 258 921 952 O recuo do mar já permitiu dos durante algum tempo, 921 306 /Caminha Museu Arqueológico, várias vezes o acesso ao os festejos foram recupera- Ínsua Club, Foz do Minho – Travessa do Tribunal, Tel.: Forte da Ínsua por terra, dos há cerca de oito anos e Vilarelho/ Tel.: 258 921 258 710 310 46 TempoLivre Outubro 2006 INATEL CERVEIRA Lovelhe Tel.: 251 708 360 VIAGENS AMALIA 2.qxp 26-09-2006 21:38 Page 1 RECORDAR AMÁLIA VENHA ASSISTIR AO EVENTO DOMINÓ em Derrocada E REVISITE A DIVA DO FADO VIAGENS LISBOA SÁBADO 9 DEZ ‘06 VIAGENS DAS CAPITAIS DE DISTRITO RESERVAS: DELEGAÇÕES DO INATEL A PARTIR 16 OUT. P rograma* • Visita à Casa Museu Amália Rodrigues (antiga residência da fadista) • Visita ao Panteão Nacional • Jantar com “Fados de Amália” • Visita à NATALIS (Feira de Natal de Lisboa) • DOMINÓ EM DERROCADA e Best of PEDRO TOCHAS Preço: €60 por pessoa I Info. 210 027 150 I Delegações Distritais do INATEL [email protected] I www.inatel.pt I * O programa não inclui almoço. uma iniciativa 48.qxp 26-09-2006 19:40 Page 48 O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ Tempos antigos no mundo de hoje ACOMPANHO PELOS JORNAIS A REUNIÃO cimeira da UE com os países asiáticos, em particular os da ASEN, Associação dos Países do Sudeste Asiático, que agrega Estados tão diferenciados como (por ordem alfabética) Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Singapura,Tailândia e Vietname. Por cima disto tudo, pairam a China, o Japão e a Coreia do Sul, como veremos. No conjunto, trata-se de facto um grupo heterogéneo, em dimensão, em PIB e renda per capita, em tradição histórica, em estatuto político. Mistura monarquias e repúblicas, democracias relativas e ditaduras ocultas ou assumidas, de esquerda ou de direita, ligadas aos PCs ou aos militares... E, para além deste grupo, que ainda por cima não oculta diferendos e contenciosos políticos de curto e médio prazo, paira a presença, sobretudo, da China (e dos outros dois citados), a Norte, e da Austrália e da Nova Zelândia, a Sul. Convenhamos que não é fácil. MEMÓRIAS Em 1991, representei o Governo português num Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da ASEN que teve lugar no Luxemburgo. Para já, não se tratava, como ocorreu em Setembro último, em Helsínquia, de uma cimeira de Chefes de Estado e de Governo: o registo politico faz toda a diferença. Depois, do lado europeu como do lado asiático, os Estados membros eram em menor número. Mesmo assim, ficam memórias que, pelo menos para mim, continuam bem presentes. E desde logo, no que diz respeito a Portugal, a presença, extremamente actuante, da Indonésia, na pessoa do seu então célebre Ministro Ali Alatas, porta voz e definidor político, para efeitos diplomáticos, da ocupação de Timor. Não era fácil para nós essa coexistência, apesar da solidariedade dos parceiros europeus e não só, e da rigidez que a presidência luxemburguesa impôs à agenda de trabalhos. Mesmo assim, o contacto pessoal, aliás cortês e correcto como é uso nestas grandes paradas diplomáticas, sem ser minimamente concludente no que realmente nos importava, continha todo o potencial do 48 TempoLivre Outubro 2006 litigio que, na altura, opunha Portugal e a Indonésia. Inclusive, recordo uma reunião que me foi proposta pelo MNE das Filipinas, e que, sobretudo, incidiu sobre o problema de Timor. A posição portuguesa era clara:: cumprimento das Resoluções das Nações Unidas no que respeita à autodeterminação de Timor Leste, e direitos humanos, sistemática e violentamente violados no Território, como na altura se sabia já e de que maneira foi por esta época que se deu o massacre de Santa Cruz. Curiosamente, o MNE filipino referiu-se ao problema de Mindanao, separatismo de raiz islâmica, que dura até hoje. Valha a verdade que a conversa pessoal e directa com Alatas decorreu num local protocolar e politicamente neutro, e de significado histórico para Portugal – a saber, o palácio do Grão Duque do Luxemburgo, que nos recebeu a todos... O que me impressionou na altura, foi o peso regional da Indonésia ou, se quisermos, o peso do seu MNE. Levantou-se o problema do regime politico e dos direitos humanos no Minanmar, antiga Birmânia, então como hoje dominada por uma ditadura militar. O país não participava na reunião: mas Alatas tomou-lhe veementemente a defesa, insistindo na ideia de que se tratava de um problema regional que a ASEN resolveria internamente! O PESO DA CHINA Ora bem: neste contexto, é evidente que a China tem um peso específico que obviamente não é de hoje, mas se acentua com as reformas económicas em curso. Em qualquer caso, em Maio de 2000, por iniciativa do Governo de Beijing, os países ASEN assinaram com a China, Japão e Coreia do Sul um ambicioso acordo de cooperação financeira, que tenderá, a prazo, a uma verdadeira união económica, segundo os termos do tratado, reforçado aliás em 2003 pela criação de um Fundo de Desenvolvimento. China, Japão e Coreia somavam, em 2005, um total de reservas da ordem de mais de mil biliões de dólares, o que é de facto astronómico. Se se juntar a isto o peso real das economias, percebe-se até que ponto vale a ASEN em si, isto é, sem os parceiros dominantes. I 49.qxp 26-09-2006 19:41 Page 49 VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR O grande Senhor O facto não está fielmente relatado em documentos coevos, mas a tradição que o narra persiste, teimosamente, através do tempo: em finais do século XIV, em Braga, um grande senhor, um ex-combatente de Aljubarrota, observava o túmulo que mandara fazer para si próprio e olhava com especial atenção para a estátua jacente, que, esperava, seria o seu fiel retrato. MAS ALGO LHE DESAGRADOU NESSA ESTÁTUA; faltava-lhe, pensou, um pormenor que ele considerava essencial. Então — prossegue o relato tradicional — desembainhou a sua espada e com ela feriu o rosto de pedra, que era o seu, de modo a deixar-lhe um entalhe bem visível e depois de o fazer declarou (ou terá declarado): «Agora, sim, que está ao natural!». Porque este grande senhor fora ferido na face em Aljubarrota e daí lhe ficara uma cicatriz que era o seu orgulho. É uma bela história, esta. Que se torna ainda mais curiosa para quem souber que o senhor em questão era um respeitável prelado: D. Lourenço Vicente, arcebispo de Braga. E a crónica deste mês é-lhe dedicada. A Lourinhã ainda hoje se orgulha dele, porque é a sua terra natal. Mas todos nós, e não só os da Lourinhã, deveríamos, para começar, conhecer-lhe a existência (e quantos serão os Portugueses que a conhecem?) e, para continuar, deveríamos ter-lhe, pelo menos, respeito. Não propriamente porque, logo no início do Grande Cisma do Ocidente, ele deu a sua fidelidade e apoio ao Papa de Roma, contra o de Avinhão; essas são questões eclesiásticas e políticas que, hoje, têm somente um interesse histórico. Mas porque, desde a primeira hora, aderiu à causa do Mestre de Avis, quando se iniciou, em Lisboa, o encadeado de acontecimentos que viriam a transformar-se na Revolução de 1383 – 1385. Com efeito, devemos recordar que D. Lourenço não era, então, um vago presbítero ou um cónego ambicioso e ansioso por subir na hierarquia. Pelo contrário, era já arcebispo de Braga quando se iniciou a Revolução; nesses tempos, os prelados — e mormente os arcebispos de Braga — eram grandes senhores, não só no seio da Igreja como nos meios políticos e militares. Ora, em 1383, poucos foram os grandes senhores no reino de Portugal que não se declararam a favor de D. Beatriz e de Juan I de Castela. Portanto, aquela opção política já é suficiente, a meu ver, para justificar a nossa admiração e a nossa simpatia. Mas há mais: D. Lourenço Vicente não se limitou a fazer uma opção, antes fez aquilo a que se chama «dar o corpo ao manifesto». De facto, acompanhou pessoalmente o Mestre de Avis nas acções militares e quando, em Março de 1385, se reuniram cortes em Coimbra para cuidar da defesa do reino e escolher um novo rei, o arcebispo de Braga esteve presente — foi, de resto, a «cabeça» da representação do clero — e colocou todo o seu peso na balança, a favor do Mestre. Depois, como se sabe, às cortes de Coimbra seguiu-se, em Agosto, a batalha de Aljubarrota — e o arcebispo lá estava, combatendo e distribuindo bênçãos e absolvições aos que combatiam pelo novo rei. Como ficou dito, a batalha deixou-lhe uma cicatriz no rosto. E resta dizer que, mesmo em tempo de paz, fazemnos falta homens assim, sejam ou não arcebispos. I Outubro 2006 TempoLivre 49 50e51.qxp 26-09-2006 19:43 Page 50 OlhoVivo Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ] Contra a obesidade, lutar, lutar Embalagens verdes Já todos sabemos que a obesidade é uma epidemia a nível Sainsbury procura cair nas boas mundial mas, segundo a Associação Internacional para o graças dos ambientalistas, anun- estudo da Obesidade, ainda estamos muito ciando que, a partir de Janeiro, 80% aquém do que podemos fazer para a com- das embalagens de produtos ali- bater. Se é verdade que muitos países já mentares da sua marca serão apre- têm algum tipo de leis e regulamentos sentados para controlar o comércio e a dis- degradáveis. Será o caso das frutas e tribuição de “comida de plástico”, legumes, mas também das refeições em embalagens bio- nomeadamente quando dirigida a cri- prontas, num total de mais de 500 anças, também é verdade que a publici- produtos. Esta alteração deverá evi- dade não se deixa limitar facilmente. E é tar o uso de 3.550 toneladas de plás- precisamente o marketing alimentar infantil o tico por ano. A medida foi, natural- alvo do pedido elaborado no último congresso interna- mente, bem recebida entre os “ver- cional sobre Obesidade: que seja banido todo o tipo de des”, que, no entanto, não deixam de publicidade e marketing de alimentos de baixo valor pedir a erradicação de todos os tipos alimentar dirigidos a crianças. É que, segundo vários de embalagens não recicláveis. estudos apresentados neste congresso, se é relativamente fácil controlar a publicidade nos meios de comunicação tradicionais (imprensa, TV e rádio), o mesmo não acontece com a Internet, onde as acções de marketing são tão numerosas e diversificadas que é muito difícil evitá-las. Por isso, as entidades participantes na reunião pediram a intervenção da Organização Mundial de Saúde, a fim de enfatizar a necessidade de se imporem rapidamente regras a este tipo de actividade, sob risco de se desperdiçarem milhões de euros em campanhas preventivas… em vão. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Inconsequentes por natureza? Segundo um estudo recentemente apresentado pela Drª bastante menos do que os adultos esta parte do cérebro, Sarah-Jayne Blakemore, do Institute of Cognitive suportando a hipótese de que pensam menos nas con- Neuroscience da University College de Londres, os ado- sequências que os seus actos podem ter para os outros e lescentes usam menos do que os adultos o córtex pre- até para si mesmos. Segundo a investigadora, perante a frontal, a área do cérebro envolvida nos pensamentos mesma questão, um adolescente pensaria “O que faria “elevados”, como empatia, culpa, a compreensão do que eu nesta situação?”, enquanto um adulto pensaria “O os outros podem estar a sentir e pensar. No seu estudo, que faria eu, tendo em conta o que me poderia aconte- quando questionados sobre as suas prováveis reacção cer e como outras pessoas reagiriam às minhas perante situações hipotéticas, os adolescentes usaram acções?”. 50 TempoLivre Outubro 2006 50e51.qxp 26-09-2006 19:43 Page 51 Mais segurança… sem capacete??? Numa curiosa experiência, levada a cabo pelo Dr. Ian Walker, psicólogo de trânsito da University of Bath (Reino Unido), revelou-se que os condutores de carros têm menos cuidado ao ultrapassar ciclistas com capacete do que ciclistas sem capacete. Segundo apurou o Dr. Walker, os carros ultrapassam em média 8,5 cm mais perto quando o ciclista usa capacete do que quando não o usa (ou 14 cm mais longe, no caso de se tratar de uma mulher ciclista), o que pode levantar a questão da real utilidade desta protecção, uma vez que o risco parece aumentar com o uso… A explicação para este comportamento parece estar na ideia de que um ciclista que usa capacete será, em princípio, mais experiente e previsível do que um sem capacete, pelo que o cuidado na condução pode ficar à sua responsabilidade. Esta ideia, porém, não tem grande base de realidade, uma vez que é bastante provável que condutores inexperientes também usem capacete. O Dr. Walker, aliás, afirma que um grande passo para melhorar a convivência nas estradas seria fazer com que mais pessoas experimentassem andar de bicicleta, nem que fosse uma vez, para se aperceberem do ponto de vista dos outros. Tele-trânsito A empresa IntelliOne, de Atlanta (EUA), encontrou uma forma interessante de utilizar os sinais constantemente emitidos pelos telemóveis. A companhia faz uma monitorização permanente destes sinais (duas vezes por minuto para cada telefone) e assim consegue perceber a que velocidade se movem, o que, por sua vez, permite detectar engarrafamentos de trânsito em tempo real – o sistema sabe distinguir entre uma paragem num sinal vermelho e uma imobilização devida a excesso de tráfego. A fase de testes, na Florida, correu bem e o sistema está já a ser instalado em Toronto, no Canadá. Outubro 2006 TempoLivre 51 Project1 02-10-2006 20:57 Page 1 53.qxp 26-09-2006 19:49 Page 53 BOAVIDA CONSUMO LIVRO ABERTO ARTES A contrafacção e a pirataria exercem um efeito nefasto nas empresas, na economia e na sociedade, mas também nos consumidores. Para quem gosta de animais e do mundo fascinante em que eles vivem, “O Kamasutra das Meninas”, de Marc Giraud, é uma boa surpresa. Um início da temporada, em Lisboa, dominado pelos artistas mais novos, caso de Carla Tavares, na Galeria Novo Século, com “Suave Acometida”. Página 54 Página 56 Página 58 CINEMA EM CASA MÚSICAS NO PALCO Se ainda vivesse, Freddie Mercury, completaria 60 anos há cerca de um mês. Pretexto para a edição de 20 das suas melhores canções. Em foco, “Stabat Mater”, encenado por J. Silva Melo, nas Mónicas, “Dois Amores”, no Villaret; e “O Homem Almofada”, de M. McDounagh, no Maria Matos. O regresso do Outono traz novas ‘fitas’ para os mais variados gostos, como “Os Edukadores”, “Maria Madalena”, “Capote” e “Nada a esconder”. Página 60 Página 62 Página 64 FILMES MEMÓRIA À MESA SAÚDE Lenta e cautelosamente, a ficção cinematográfica começou a voltar-se para o neo-terrorismo que, a partir de 11 de Setembro de 2001, mudou o mundo. A produção de alimentos, o seu transporte e as suas embalagens são hoje reconhecidos como grandes consumidores de energia, de água… Quando a idade aperta e a insuficiência de testosterona é significativa, é aconselhável consultar um especialista das doenças do envelhecimento. Página 65 Página 66 Página 67 INFORMÁTICA AO VOLANTE PALAVRAS DA LEI As cópias de segurança dos nossos ficheiros libertam-nos do drama que é a perda de importantes dados no computador. Os carros têm que ser grandes? Quanta alegria de viver consegue a inovação gerar? Respostas nas várias versões do Smart. A doação tem um carácter pessoal e só é plena, se houver aceitação. Nenhum donatário é obrigado a receber um bem que não queira. Página 68 Página 69 Página 70 Outubro 2006 TempoLivre 53 54e55.qxp 26-09-2006 19:53 Page 54 BOAVIDA C O N S U M O André Letria CONTRAFACÇÃO E PIRATARIA A contrafacção e a pirataria são fenómenos de dimensão mundial, mas mal conhecidos. A sua acção perniciosa é, no entanto, bem visível nos planos económico e social, pelo que a Comissão Europeia decidiu actuar. I Carlos Barbosa de Oliveira A contrafacção e a pirataria exercem um efeito nefasto nas empresas, na economia e na sociedade, mas também nos consumidores, em especial no que concerne à saúde e segurança pública. Para se perceber um pouco a dimensão do problema, refira-se apenas que pro- 54 TempoLivre Outubro 2006 vocam a perda anual de mais de 100 mil postos de trabalho na União Europeia, ou que os sectores de actividade mais atingidos são a indústria áudio visual (25%), os brinquedos (12%), perfumes (10%), e informática de “software” (46%). Por outro lado, estas actividades clandestinas representam cerca de 7% do comércio global, gerando prejuízos nas empresas da União Europeia que ascendem a cerca de três mil milhões de euros. Em Portugal, estima-se que cerca de dez mil famílias vivam à custa das actividades de contrafacção e pirataria, o que além de causar prejuízos às empresas, pune severamente todos os cidadãos, pois estas actividades permitem a fuga aos impostos (IVA e IRS) e ao pagamento à Segurança Social. Apesar de serem criminosas, estas actividades são vistas com alguma simpatia por muitos consumidores*, que correm para as feiras, na mira de encontrar “produtos de marca” a preços reduzidos. Esta tolerância dos consumidores (que no caso de produtos alimentares e medicamentos lhes pode acarretar graves problemas de saúde...) constitui uma dificuldade acrescida às autoridades para a controlar. A Comissão Europeia também mostra preocupação, tendo elaborado um “Livro Verde” sobre esta matéria, onde conclui que o alvo dos infractores não se limita à contrafacção de produtos de luxo, como perfumes, vestuário, adereços, ou relógios, estendendo-se também “aos direitos de autor, registos fonográficos e videográficos, ao sector informático, ao mobiliário, biscoitos e baterias de cozinha”. A Comissão reconhece a dificuldade no combate ao fenómeno. Por um lado, porque muitas vezes o “negócio” é de natureza estritamente familiar, não envolvendo o “fabrico” mais do que o agregado que a compõe. Por outro, os Estados-membros não têm uma definição comum dos conceitos de “contrafacção” e “pirataria”. 54e55.qxp 26-09-2006 19:53 Page 55 Assim, procurou no “Livro Verde” precisar os conceitos, englobando nestas actividades situações como “fabrico, distribuição, detenção para fins comerciais, importação na Comunidade, ou exportação para países terceiros de mercadorias, produtos ou serviços que sejam objecto de uma violação de um direito de propriedade intelectual (marca de fábrica ou de comércio, modelo industrial, patente de invenção, modelo de utilidade, indicação geográfica) direito de autor ou direito conexo (direitos dos artistas, intérpretes ou executantes, direito dos proprietários de fonogramas, de filmes e de organismos de radiodifusão) ou, ainda, o direito do fabricante de uma base de dados”. Este conceito permite englobar na contrafacção não apenas os produtos copiados fraudulentamente, mas também produtos idênticos ao original fabricados sem o consentimento do titular do direito e serviços ligados ao desenvolvimento da sociedade de informação. A Comissão Europeia aponta várias formas de combate a estas actividades, com destaque para a adopção de um “código penal comunitário” que puna a violação (deliberada) do direito de propriedade intelectual, com penas de prisão até quatro anos, e multas até 300 mil euros. Reconhecendo a dificuldade de detecção da origem destes produ- tos, vendidos essencialmente em feiras e mercados, mas também em armazéns e estabelecimentos considerados legais, a Comissão sugere “a obrigatoriedade de os infractores (que sejam apanhados na posse de produtos, ou comercializando serviços) revelarem informações sobre a origem das mercadorias, os circuitos de distribuição e a identidade de terceiros implicados na distribuição ou produção”. Os que se recusarem a fazê-lo, ficarão igualmente sujeitos a sanções. I * Em artigo publicado na TL nº 70, expliquei as razões para a simpatia dos consumidores pela contrafacção 56e57.qxp 26-09-2006 19:58 Page 56 BOAVIDA L I V R O A B E R T O LEITURAS VÁRIAS PARA RECEBER O OUTONO Para quem gosta de animais e do mundo fascinante em que eles vivem, sejam selvagens ou domésticos, minúsculos ou de grande porte, “O Kamasutra das Meninas”, do francês Marc Giraud, com a chancela da Ambar, será, sem dúvida, uma agradabilíssima surpresa. I José Jorge Letria T rata-se de uma visita guiada a esse mágico universo cujas regras desconhecemos e com o qual temos sempre muito a aprender. O autor, numa linguagem divertida, lúdica mas sempre cientificamente rigorosa, familiariza-nos com os segredos dos ouriços, dos macacos, das aranhas ou dos arganazes, entre muitas outras espécies, mas também com as suas estratégias de sedução e acasalamento e de confrontação. Para além disso, fornece ao leitor informações úteis sobre a forma de criar um pequeno jardim onde as aves e outras espécies possam sentir-se como se estivessem em casa. E há uma outra coisa que se aprende e confirma: o Homem con56 TempoLivre Outubro 2006 tinua a ser o pior de todos os predadores, por ser o único animal que mata sem ser para se alimentar ou para se defender. Por todas estas razões e por outras mais, trata-se de uma obra a não perder. Também da Ambar é o romance de “O Silêncio do Patinador”, de Juan Manuel de Prada, nascido em Espanha, em 1970, e já considerado como um dos mais interessantes ficcionistas contemporâneos do país vizinho. Há nesta narrativa, pontuada pelo sarcasmo, uma visão do mundo, das personagens e da própria linguagem que, por certo, irá alargar o número dos leitores que Prada já conseguiu fidelizar. O mesmo poderá ser dito de “ A Herança de Eszter ”, obra-prima incontestável de um grande escritor húngaro nascido em 1900. O autor exilou-se nos Estados Unidos em 1948, tendo a sua obra sido proibida pelo regime comunista de Budapeste. Márai suicidou-se em San Diego, Califórnia, em 1989. Destaque ainda, com a chancela da mesma editora, para “Picasso e as Mulheres”, de Paula Izquierdo, um fascinante ensaio biográfico e analítico sobre a importância que as mulheres tiveram na vida de um dos maiores pintores de sempre, estimulando nele o torrencial processo criador. É também um retrato polémico de um homem que nem sempre soube tratar as mulheres em pé de igualdade e com o respeito que lhes era devido. “A FONTE NÃO QUIS REVELAR” é o sugestivo e actualíssimo título de um livro de Rogério Santos agora editado pela Campo das Letras que analisa com profundidade e rigor académico as relações entre jornalistas e fontes de informação a partir da leitura de notícias e de um vasto trabalho de campo. Da mesma editora é a segunda edição portuguesa de “História Breve da Literatura Portátil”, do espanhol Enrique Vila-Matas. Para milhares de leitores em todo o mundo, este livro tornou-se uma obra de culto, tendo contribuído para que muita gente descobrisse o talento e a originalidade de Vila-Matas, que vale sempre a pena ler e reler. “DUAS CRIANÇAS no Tecto do Mundo”, de Nadine Delpech, é uma interessante proposta de leitura de Publicações Europa-América, que nos descreve um fascinante “raid” efectuado pela autor e pela sua família, com duas crianças (seis e oito anos), na região de Zanskar, o mais alto vale habitado do mundo, com cumes de 5000 metros de altitude. O relato intenso de uma aventura de alto risco que, 56e57.qxp 26-09-2006 19:58 Page 57 muita gente, a começar pelos médicos, desaconselhava. Um livro que se lê com gosto e emoção, por ser também reflexão sobre a natureza humana e os seus limites. DE SÉRGIO LORRÉ é o romance “Veneno com Veneno”, da Oficina do Livro, que tem como tema central o complexo processo de descoberta que se inicia em cada um de nós quando o tempo da inocência termina e a realidade do mundo e da vida nos confronta com problemas complexos e nem sempre superáveis. Este é o segundo romance do autor, que se estreou com “ A Cruz de Génio”. “TEATRO PARA CRIANÇAS em Portugal”, de Glória Bastos e com a chancela da Editorial Caminho, é um estudo de fundo sobre o teatro para crianças escrito em Portugal ao longo dos tempos, nele se efectuando uma análise rigorosa de obras, autores, tendências e temas. Pode ainda este livro de Glória Bastos ajudar a perceber até que ponto as companhias profissionais devem apostar muito mais do que têm apostado no teatro para a infância, de preferência de autores nacionais. ÚTIL, CERTEIRO E OPORTUNO é o estudo “Os Inventores de Doenças” (ed. Ambar), do jornalista científico alemão Jorg Blech, que demonstra, com base num rigoroso e bem estruturado trabalho de investigação, até que ponto a indústria farmacêutica se envolve na criação, mais ou menos artificial, de quadros clínicos que depois tornem viáveis os processos de comercialização de novos medica- mentos. A área das depressões é das mais reveladoras e preocupantes. Livro desafiador e heterodoxo, “Os Inventores de Doenças” ajuda a fazer luz num domínio onde há, quase sempre dificuldade, em gritar “o rei vai nu”, até por ser da saúde dos cidadãos que, efectivamente, se trata. “A CIDADE E O MAR na Poesia do Algarve” é o título de uma antologia organizada e apresentada pelo advogado algarvio Fernando Cabrita e editada pela Sulscrito com o patrocínio de Faro-Capital Nacional da Cultura, nela se podendo encontrar textos de poetas como João de Deus, António Ramos Rosa ou Nuno Júdice, entre muitos outros que, pela escrita e pela vida, terão sempre os nomes ligados àquela região de Portugal. Da mesma editora é o romance “Sexo Entre Mentiras”, de Fernando Esteves Pinto, nascido em 1961 e autor de mais um romance e de três recolhas poéticas. Uma escrita ágil que revela um bom domínio da técnica dos diálogos. Em matéria de ficção narrativa, aqui ficam ainda algumas sugestões de qualidade: a colectânea de contos “Os Peixes Voadores”, de Artur Portela, com ilustrações de Luiz Duran e a chancela de Publicações Dom Quixote, “A Mulher de Neruda”, de Hugo Santos, Prémio Albufeira de Ficção 2005, também da Dom Quixote, “O Pequeno Amigo”, de Donna Tartt, da mesma editora, “A Ilha de Arcangel” ( Casa das Letras), romance do português Nuno Figueiredo, distinguido com o Prémio Vasco Branco,e ainda “A Incrível e Triste História do Espião sem Nome” (Publicações EuropaAmérica), de Robert Littell, por alguns classificado como o John Le Carré do outro lado do Atlântico. “MARIA DULCE – A Verdade a que Tem Direito”, escrito por Luciano Reis e com a chancela da Sete Caminhos, é uma obra memorialística e confessional da actriz de teatro, cinema e televisão Maria Dulce que faz o balanço, por vezes amargo, de décadas de trabalho artístico em Portugal e em Espanha. PARA OS MAIS NOVOS, três sugestões de qualidade: “Anjos de Pijama”, de Matilde Rosa Araújo, autora fundamental da literatura infanto-juvenil portuguesa nas últimas décadas, que conta com um conjunto de excelentes ilustrações da pintora Maria Keil, nome incontornável das nossas artes plásticas; e ainda “O Meu Primeiro Larousse de Contos” e “O Meu Primeiro Larousse de Inglês”, ambos com a chancela da Campo das Letras. I 58e59.qxp 26-09-2006 20:00 Page 58 BOAVIDA A R T E S O TEMPO DOS MAIS NOVOS Decididamente, o começo da temporada em Lisboa está dominado pelos artistas mais novos, o que é deveras positivo. Carla Tavares, na Galeria Novo Século, apresenta “Suave Acometida”, num registo cheio de referências actuais, enquanto Paulo Damião, na Galeria Arte Periférica, mostra “Um lugar ao lado do coração”. I Rodrigues Vaz M anifestando uma evidente solidão pausada, onde o silêncio se converte em companheiro e confidente, Carla Tavares busca na fragilidade a essência bela das coisas, os mundos escondidos em que habitam os sonhos, a música, a literatura e, inclusivamente as obsessões. Por isso é que, em certa medida, a sensibilidade das suas técnicas mistas parece não poder conter-se só no entorno físico das mesmas, pelo que Carla Tavares constrói um mundo mágico, de inquietante fantasia, em criações cheias de mistério que vão ganhando sentido à medida que se percebe em solidão o rumor calado das vozes que enchem os seus espaços. Já Paulo Damião “trouxe para cima o que era preciso vertebrar, e o lugar lavou-se por dentro, e eu ardia-me no outro lado. Desci até à doença de chumbo, o que eu pensava ser outra coisa, uma mensagem que chamaste relação, e lutei. Nunca existiu. Acabou-se o metal, o branco, o chumbo, o amor, e reexiste, nele, um outro, mais perigoso.” Paulo Damião, que nasceu na Bretanha, em S. Miguel, Açores, em 1975, e terminou recentemente o curso de Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, com a classificação de 18 valores, tendo-se revelado ao vencer, no XVI Salão de Primavera (2003), organizado pela 58 TempoLivre Outubro 2006 Galeria de Arte do Casino Estoril, o “Prémio Estoril Sol” (1º Prémio), tinha sido já notado na ARCO’05, em Madrid, e a sua presença foi igualmente relevante na ARTE LISBOA do ano passado. A sua obra retém o nosso olhar Composição de Paulo Damião. Página da direita: em cima, técnica mista de Carla Tavares. Em baixo, “Deambulações III”, de Helena Justino 58e59.qxp 26-09-2006 20:00 Page 59 pela sua grande riqueza plástica, deleitando-nos em particular pela sua forma de semear as cores suaves, sempre sabiamente administradas e bem encaixadas entre si, desenvolvendo-se com um carácter muito gestual mas sem forçar nem extremar a grafia. Neste estalido vital, pleno de matizes informalistas, há algo de provocativo e contundente, algo que em nenhum caso é gratuito mas sim resultado do vigor da expressão que este artista quer plasmar nas suas obras. Helena Justino na Artela Por sua vez, Helena Justino apresenta, na Galeria Artela, igualmente em Lisboa, “Deambulações”, projecto que continua, de forma mais exuberante, a série “Ninhos”, com que obteve um relativo êxito quando da sua apresentação, no ano passado, na Alemanha. Helena Justino nasceu no Porto em 1944. Curso Geral de Pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto e licenciatura em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Fez a primeira exposição individual no Museu de Angola, Luanda, em 1963, e expõe regularmente desde 1985. Conciliando a liberdade criativa de Júlio Resende com o rigor do traço de Lagoa Henriques, seus mestres na Escola Superior de Belas Artes do Porto, Helena Justino mantém a essência neo-figurativista da sua arte, em que o lirismo está sempre presente, assim como as ligações afectivas a África, que estão patentes no estilo de composição e sobretudo nas cores vivas e fortes que fazem a peculiaridade da obra. Apresenta esta exposição o Professor Rocha de Sousa, que salienta: “Desde a proposta ‘Sei um ninho’, aliás muito ligada ao seu período criador no estrangeiro, conseguida internacionalização que haveria de superar, na obra, os habituais ostracismos nacionais, Helena Justino como que retoma o seu mistério inicial, o balanço entre a força, a claridade, a sombra e o sentido táctil da macieza e da aspereza, a ordem submetida ao convívio com diferentes devaneios nocturnos. Entre este ponto e certos limites já longínquos, a pintora reivindica para o seu modo de formar origens temáticas, ou temas aplicados posteriormente às formas plásticas apresentadas, bem como a ideia de mensagem, no sentido próprio da comunicação com os outros pela linguagem pictórica – a par de uma frequente pontuação africana indicadora de apelos por aquelas terras efectivamente mágicas ou encantatórias. A autora não deixa de referir, neste conjunto de autoavaliações, dois sentidos fundamentais do seu trabalho – o factor integrante da projecção poética, o qual arrasta a vibração lírica do próprio discurso, e o factor de reordenação dos sentidos coordenando as expectativas abertas.” I Outubro 2006 TempoLivre 59 60e61.qxp 26-09-2006 20:04 Page 60 BOAVIDA M Ú S I C A S A PEQUENA-GRANDE HERANÇA DE FREDDIE MERCURY Frederick Bulsara nasceu em 5 de Setembro de 1946, na ilha de Zanzibar. Se fosse vivo, teria completado 60 anos há cerca de um mês. É conhecido universalmente por Freddie Mercury e, em jeito de homenagem, 20 das suas canções acabam de ser editadas num CD, com o óbvio título “The Very Best of Freddie Mercury Solo”. I Victor Ribeiro L íder incontestado do grupo “Queen”, Freddie Mercury distinguiu-se não só enquanto criador de algumas das mais belas canções pop /rock do século XX, mas também (ou sobretudo) como cantor de voz invulgar e intérprete de excepção. A fantástica interpretação do tema “Barcelona”, num dueto com Monserrat Caballé”, nos Jogos Olímpicos de 1992, assinalou um dos pontos mais altos da carreira de Mercury, cuja voz está associada a cantigas universalmente conhecidas, de entre as quais recordamos “We Are The Champions”, “The Great Pretender”, “Made in Haven”, “A Kind of Magic”, “Friends Will Be Friends”… Com a colectânea agora publicada foi paralelamente editado o DVD “Freddie Mercury – The Untold Story”, enriquecendo-se, assim, a pequena-grande herança que Frederick Bulsara nos legou. “Excessivo”, “provocador”, “chocante”, “exuberante”, Mercury tinha a capacidade de congregar multidões que, em estádios de futebol ou noutros grandes recintos, celebravam de forma impressionante o prazer e a alegria do canto e da música. Freddie Mercury morreu dia 24 de Novembro de 1991, 24 horas após ter tornado público que era seropositivo. Uma estátua do cantor foi erguida na cidade suíça de Montreux, junto ao Lago Léman. No pedestal pode ler-se: “Lover of Life, Singer of Songs”. O autor da frase é o músico Brian May. REGGAE EM PORTUGUÊS “Comunicar” é o título do CD de estreia do “Souls of Fire”, grupo do Porto praticante de reggae. Com participações consistentes em festi60 TempoLivre Outubro 2006 60e61.qxp 26-09-2006 20:05 Page 61 Muse no Campo Pequeno vais de referência (Ilha do Ermal, Sudoeste, Sapo Surf Beats…), os “Souls of Fire” buscam um lugar de destaque no difícil “nicho de mercado” da música reggae, revelando neste primeiro trabalho discográfico indubitável qualidade. Propõem-se praticar “um estilo musical entendido numa linguagem universal, sem nacionalidade, sem idioma, sem etnia, sem estatuto social”. Posto de parte este algo confuso propósito, vale a pena ouvir os “Souls of Fire”. I O trio inglês, Muse apresentamse ao vivo no Campo Pequeno, em Lisboa, no próximo dia 26. Um concerto que dá a conhecer o quarto álbum “Black Holes And Revelations” e confirma a força de uma das mais recentes bandas de rock da actualidade. Mariza e Jamie Cullum no Coliseu Mariza retoma os concertos em Portugal, com duas actuações nos Coliseus de Lisboa e Porto, dias 1 e 2 de Novembro respectivamente. Concertos que são uma oportunidade de rever a fadista na companhia de Jaques Morelenbaum e da Sinfonietta de Lisboa. Ainda no palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, poderá apreciar no dia 9 de Novembro, Jamie Cullum, o menino-prodígio dos ingleses que continua a trilhar uma carreira de sucesso com melodias simples onde a harmonia do jazz marca forte presença. Glória Lambelho GINÁSIO DA MOURARIA GINÁSTICA - Abertas as inscrições para a época 2006/2007 COM 10 CLASSES, O GINÁSIO DA MOURARIA OFERECE-LHE ACTIVIDADE FÍSICA DE 2ª A 6ª A PARTIR DE 2 DE OUTUBRO TAXA DE INSCRIÇÃO: € 3,00 + € 5,00 (para quem não tem seguro desportivo) = € 8,00 PREÇOS DE FREQUÊNCIA: 2 horas por semana: Mensal € 8,00; Trimestral € 24,00; Anual € 64,50. 3 horas por semana: Mensal € 12,00; Trimestral € 38,00; Anual € 96,50. Tel. 210 027 088 / 218 861 315 www.inatel.pt 62e63.qxp 26-09-2006 20:09 Page 62 BOAVIDA N O PA L C O STABAT MATER NAS MÓNICAS Nesta nova produção dos Artistas Unidos, encenada por Jorge Silva Melo, com estreia marcada para 12 de Outubro, no Convento das Mónicas (Lisboa), não há lugar para alegrias, mas para a angústia e tristeza. imigrantes, de uma mistura de dialectos, com ou sem verdades absolutas e supremas, sobressai a heresia, característica da vida, de uma dor que não serve nem salva e da história que impiedosamente repete o seu ciclo sem evoluir.” Ficha Técnica: STABAT MATER, de Antonio Tarantino Tradução: Tereza Bento; Intérprete: Maria João Luis;Cenografia e figurinos: Rita Lopes Alves; Luz: Pedro Domingos; Encenação: Jorge Silva Melo. No Convento das Mónicas a partir de 12 de Outubro de 2006. I Maria Mesquita M aria João Luís interpreta a difícil personagem de Maria, uma mulher que em busca do filho desaparecido acaba por sucumbir aos efeitos dessa mesma perseguição. Vítima de uma sociedade à margem, Maria, ex-prostituta e pobre encontra-se perante uma realidade atroz e, como tal, sente-se revoltada para com o mundo que a rodeia. O texto, da autoria do escritor e artista italiano Antonio Tarantino, revela-se um espelho das sociedades actuais, principalmente daqueles cuja integração é vedada e só lhes resta a alternativa de sobreviverem na base do que é física e psicologicamente possível. De uma “linguagem de rua de 62 TempoLivre Outubro 2006 DOIS AMORES NO TEATRO VILLARET Poder-se-ia tratar de uma canção de Marco Paulo e, de certa forma, até existe um certo paralelismo entre a letra desta melodia e a comédia encenada por António Feio. Este trabalho conta a história de João, taxista em Lisboa, o qual aparentemente tinha uma vida perfeita. Para tal era feliz no casamento com Maria e curiosamente, também no seu matrimónio com Ana. Com esta duplicidade tão bizarra a vida ia decorrendo sem grandes sobressaltos ou outro prejuízos até à data em que, por obra do destino, ou quem sabe, de outra circunstância mais complexa, a vida do João dá uma volta de 180º. E agora vá-se lá saber o motivo desta “rotação”? Certo dia, João vê-se envolvido num assalto onde heroicamente salva uma velhinha e a confusão instala-se. Com essa ocorrência torna-se capa de jornal, trava conhecimento com dois inspectores de polícia e, como se não bastasse, os seus dois vizinhos de cima de cada uma das suas casas, Simão e Beto, em vez de o ajudarem, ainda complicam mais o seu triângulo amoroso aparentemente perfeito. Desta feita tudo o que parecia ser fácil passa a ser um pesadelo não só na vida do pacato taxista João, como igualmente na vida bígama das duas amantíssimas esposas. Sem alardes de grande teatro, este trabalho de Ray Cooney oferece-nos divertidos e descontraídos momentos, bem necessários nos tempos que correm. Ficha Técnica: Teatro Villaret Terça a Sábado, às 21h30 | Domingos às 16h30 Autor: Ray Cooney; Encenação: António Feiro; Tradução: Ana Sampaio; Cenário: Eric da Costa; Desenho de Luz: Manuel Antunes; Figurinos: Bárbara Gonzalez Feio; Música: Alexandre Manaia; Interpretação: António Feio, António Machado, Claudia Cadima, João Didelet, Joaquim Guerreiro, José Pedro Gomes, Maria Henrique, Martinho Silva O HOMEM ALMOFADA Da autoria de Martin McDounagh, este conto escrito para teatro é dirigido por Tiago Guedes, na sua primeira experiência como encenador. The Pillowman narra a vida de um escritor submetido a um interrogatório acerca do conteúdo algo estranho dos contos que escreve e dos quais resultam semelhanças, como a sequência de homicídios ocorrida com crianças e que acontecem na sua cidade. Tudo se passa num regime totalitário e dessa forma o escritor confronta-se com os 62e63.qxp 26-09-2006 20:09 Page 63 José Frade maiores obstáculos para conseguir a sua liberdade pessoal, bem como para encontrar a possibilidade de poder continuar a expressar o seu poder criativo de modo a que este subsista nesta configuração. Em síntese, poderá um artista ser culpado pelos sentimentos que o seu trabalho provoca? Por outro lado, se alguém se comportar segundo esses mesmos sentimentos também será ele o principal responsável? Estas são algumas das questões expostas e respondidas em The Pillowman – O Homem Almofada.. Ficha Técnica: Teatro Maria Matos; de 4ª a sábado, 21h30, domingo às 17h00; Autor: Martin McDounagh; Encenador: Tiago Guedes; Intérpretes: Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, Marco Vela Cursos na Foz do Arelho 14 e 15 de Outubro e 4 e 5 de Novembro 2006 Inicie-se na Vela e venha desfrutar de novas sensações! PREÇO: 49€ INCLUI MATERIAL, ACOMPANHAMENTO TÉCNICO, SEGURO E INSTALAÇÕES DE APOIO. Tels: 210 027 130 /1 ou [email protected] SE PRETENDER ALOJAMENTO, pode contactar o Centro de Férias do INATEL na Foz do Arelho. 64e65.qxp 26-09-2006 20:11 Page 64 BOAVIDA CINEMA EM CASA NOVIDADES DE OUTONO I Sérgio Barrocas O regresso do Outono traz novas ‘fitas’ para os mais variados gostos. “Os edukadores”, sobre a juventude actual, “Maria Madalena”, uma intensa e complexa reflexão sobre a religião, “Capote”, sobre o escritor Truman Capote que valeu a Philip Seymour Hoffman o Óscar da Academia para o melhor actor e “Nada a esconder”, de Michael Haneke, uma viagem perturbadora pela sociedade contemporânea. OS EDUKADORES CAPOTE NADA A ESCONDER (THE EDUKATORS) O brutal homicídio, em Novembro de 1959, de uma família numa cidade do Kansas, atrai a atenção de Truman Capote (Philip Seymour Hoffman), o famoso escritor. Capote decide investigar o caso, fazendo-se acompanhar pela sua amiga de infância, Harper Lee (Catherine Keener), também escritora. Com o decorrer da investigação, ele acredita que pode provar uma teoria antiga, a de que, pela arte do escritor certo, a realidade pode ser tão apaixonante como a ficção. Desempenho notável de Philip Seymour Hoffman na pele de Capote, que lhe assegurou uma série de prémios entre os quais, o Óscar para melhor actor. (CACHÉ) Jan e Peter estão a viver a sua juventude rebelde. Unidos pela paixão comum de mudar o mundo, deixam, de forma misteriosa e criativa, nas casas dos mais ricos, diversas mensagens, como “Os Vossos Dias de Abundância estão contados”. Jan (Daniel Brühl) defende que os mais ricos devem ser “edukados”. O seu companheiro de casa, Peter (Stipe Erceg), partilha os mesmos ideais, mas é mais descontraído. Jule (Julia Jentsch), a namorada de Peter, muda-se lá para casa porque já não consegue sobreviver com o salário de empregada. Uma metáfora sobre o inconformismo anticapitalista da juventude actual. REALIZAÇÃO: Hans Weingartner; INTÉRPRETES: Daniel Bruhl, Júlia Jentsch, Stipe Erceg. DURAÇÃO: 128’ Cor 2005,Alemanha Distr: Atalanta Filmes 64 TempoLivre Outubro 2006 Bennett Miller Com Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener. DURAÇÃO: 110m, Cor, USA, 2005 DISTRIBUIDORA: Sony Pictures REALIZAÇÃO: Georges, apresentador de um programa televisivo de crítica literária, recebe pacotes anónimos contendo vídeos dele próprio com a sua família – filmados da sua rua – e desenhos de significado obscuro. Georges e Anne Laurent sentem a ameaça pairar sobre a sua família mas, devido à inexistência de uma ameaça directa, a polícia recusa-se a ajudálos. Um filme incómodo que valeu a Haneke, o prémio de realização no último Festival de Cannes. Michael Haneke Com Daniel Auteuil, Juliette Binoche e Annie Girardot DURAÇÃO: 114m, cor, França, 2005 DISTRIBUIDORA: Atalanta Filmes REALIZADOR: MARIA MADALENA (MARY) Maria Madalena é inspirado na história da discípu- la de Jesus. Três personagens ligadas pelo espírito e pelo mistério mas com relações distintas com a religião: a actriz Mary Palesi encarna a Maria Madalena no cinema, deixa-se absorver pela personagem e parte para Jerusalém; Tony Childress, realizador, interpreta Jesus Cristo; Ted Younger, jornalista célebre, apresenta um programa sobre a fé. O fascínio e a procura da espiritualidade vão unilos … Prémio Especial do Júri em Veneza 2005, é assinado por um dos mais controversos realizadores norte-americanos Abel Ferrara e inclui um notável elenco. Abel Ferrara Com Juliette Binoche, Forest Whitaker e Mathew Modine DURAÇÃO: 83m,cor, Itália/França/USA, 2005 DISTRIBUIÇÃO: Lusomundo Audiovisuais REALIZADOR: 64e65.qxp 26-09-2006 20:11 Page 65 BOAVIDA FILMES COM MEMÓRIA TRIÂNGULO DE PÓ Cautelosamente, lentamente, a ficção cinematográfica começou a voltarse para o neo-terrorismo que, a partir de 11 de Setembro de 2001, mudou o mundo. Algumas das suas obras são já referências irrecusáveis I Fernando Dacosta F ilmes de invulgar qualidade e diversidade destacam-se, como consequência, hoje nas nossas salas desvendando (pela sua essência criativa) um dos fenómenos mais perturbadores do tempo que vivemos. A actualidade, a factualidade dos seus acontecimentos tornaram-se, entretanto, e por sua vez, objecto exaustivo de toda a comunicação social, através do documentalismo e do comentarismo que lhe são próprios. Várias televisões têm, a propósito, realizado trabalhos de reconstituição e investigação excepcionais – até aqueles que põem em dúvida a versão oficial divulgada Nas salas portuguesas coincidem nesta altura três películas (duas directamente, uma indirectamente) sobre o tema, ultrapassando sobreposições entre si - na intencionalidade, na estrutura, na atmosfera, na estética. As histórias que assumem complementarizam-se, contrastando-se, surpreendendo-se. Torna-se-nos por isso irresistível situá-las, como em firmamento estrelado, sob a forma de uma pequena constelação triangular a ganhar, num futuro breve, novas dimensões. Os filmes que referimos são World Trade Center de Oliver Stone, Voo 93 de Paul Greengrass e O Paraíso Agora de Hany Abu-Assad (palestiniano). O primeiro, o mais espectacular, decorre após o desmoronamento das Torres quando dois polícias da Port Authority de Nova Iorque, os sargentos John McLouglin e Will Jomeno, interpretados por Nicolas Cage e Michael Peña, tentam emergir do caos (o pó) para a luz (o sol) com a ajuda dos vivos no exterior e dos moribundos no interior. Entre estes, sobressairá a figura de António Rodrigues, português nascido em Moçambique e emigrado nos Estados Unidos, onde se tornou profissional num dos corpos de agentes fardados da cidade, que o realizador faz, em simbólica ho- menagem aos socorristas desaparecidos, reviver aos nossos olhos. O segundo filme é um pouco o contrário do de Oliver Stone. Austero, objectivo, descarnado, elíptico dá-nos a reacção dos passageiros do voo da United Airlines de Nova Iorque para São Francisco ao saberem que haviam sido sequestrados, e ao perceberem, através dos seus telemóveis, que três outros aviões, igualmente desviados, acabavam de se despenhar contra as torres gémeas de Nova Iorque e o Pentágono de Washington. Ao aparelho em que seguiam caberia destruir ou a Casa Branca ou o Capitólio. A percepção disso, e da inexorabilidade do fim, determinou-os: em uníssono, uniram-se e reagiram. Friamente, implacavelmente – como que transmutados da luz para o pó – o pó em que eles e os assaltantes se transformaram num campo despovoado de Shanksville, na Pennsylvania. O terceiro dá-nos o outro lado dos anteriores, desocultando a génese do terrorismo suicidário, monstruosa arquitectura engendrada (até agora) com êxito por diabólicos entes do Mal. Subtilmente, Hany Abu-Assad, realizador e argumentista, atravessa as imagens do seu paraíso de fios de humor que dessacralizam as ênfases místicas dadas a comungar aos escolhidos para as auto-imolações. Formatados em fábricas de mártires de pequenas cidades palestinianas, dois jovens, Saïd e Khaled, vivem as suas últimas 48 horas antes de executarem um atentado suicida em Telavive. Têm, no entanto, dúvidas íntimas sobre o acto que lhes destinam, sobre a realidade em que se movem (os movem), labirinto percorrido, cumprido estonteantemente entre rituais de absurdos, de delírios, de burlescos. A barbárie e o riso são cumpliciados até se tornarem (o que faz a excepcionalidade do filme) indizíveis. O segredo está no iludir que se acredita no que tem de se acreditar – até acreditar. Nos écrans dos três filmes fica, depois de terminados, uma névoa de pó invisível. Poderão os lados do seu triângulo ser alterados? I Outubro 2006 TempoLivre 65 66e67.qxp 26-09-2006 20:12 Page 66 BOAVIDA À M E S A BOM AMBIENTE À MESA Recentemente, a União Europeia considerou que “um ambiente limpo e saudável é essencial para o bem-estar e para a prosperidade da sociedade” fixando como prioridade reduzir a poluição em todos os países europeus. I Pedro Soares A exposição aos poluentes existentes no ar, na água ou nos alimentos, ainda que por tempo reduzido, pode ter consequências dramáticas na nossa saúde. Estima-se que cerca de 20% das causas de doenças nos países europeus possam ser atribuídas a factores ambientais afectando particularmente as crianças. Apesar desta situação, existem milhares de substâncias químicas em circulação que nunca foram sujeitas a uma avaliação aprofundada dos riscos associados, pois esta avaliação só começou a ser efectuada a partir de 1981. A alimentação, ou seja, a produção de alimentos, o seu transporte e as suas embalagens são hoje reconhecidos como grandes consumidores de energia, de água, de matéria-prima e de resíduos. O que podemos fazer, como consumidores para reduzir o impacte deste actividade no ambiente? Alguns gestos simples, multiplicados por vários milhares de pessoas podem fazer toda a diferença. Por exemplo: Identificar os locais perto da sua casa onde se vendem alimentos. Os frescos (frutos e hortícolas) e o pão que desempenham um papel decisivo na nossa saúde devem ser consumidos diariamente. Um passeio a pé até este local ao final do dia, permite-lhe fazer exercício físico, reduzir os gastos de combustível, reduzir embalagens, reduzir gastos no armazenamento e adquirir estes 66 TempoLivre Outubro 2006 alimentos com teores mais elevados de nutrientes. Se comprar no supermercado, evite o excesso de embalagens. Compre embalagens maiores, prefira o cartão ou o vidro. Depois de utilizar, separe e recicle. Aumentar o consumo de frutos, hortícolas, leguminosas, cereais e escolher o azeite como principal gordura. Os produtos de origem vegetal necessitam, de um modo geral, de menores quantidades de água e energia para originarem as mesmas quantidades de calorias e proteína, quando comparados com alimentos de origem animal. Sempre que possível escolher produtos provenientes da agricultura biológica pois preservam os recursos naturais, solo, água e excluem a quase totalidade dos produtos químicos de síntese como adubos, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos alimentares para animais. Esteja atento aos novos produtos amigos do ambiente que vão aparecendo. Por ex. a produção de “aves biológicas” garante uma área de movimentação livre alargada para os animais, reduzindo todas as formas de poluição do solo, das águas superficiais e dos lençóis freáticos. Estes animais têm ainda um crescimento lento, adequado a este modo André Letria de produção, sendo abatidos com a idade mínima de 81 dias. Lute para que o seu município forneça água potável de qualidade. A utilização de água engarrafada, que é uma excelente opção do ponto de vista do sabor e qualidade, deve ser uma alternativa e não a primeira opção. São pequenos gestos, ao longo da semana, mas fazem toda a diferença para as novas gerações. I 66e67.qxp 26-09-2006 20:12 Page 67 BOAVIDA S A Ú D E SERÁ QUE A ANDROPAUSA EXISTE? O Sr. F. veio pela primeira vez à minha consulta. Tem uma vida profissional e familiar sem grandes problemas mas, desde há algum tempo, mais precisamente depois dos 60 anos, sente-se desinteressado por tudo. Dorme mal, perdeu a vontade de conviver, isola-se e, em tom confessional, diz que se sente “menos homem”. I M. Augusta Drago P rocurei tranquilizá-lo. Disse-lhe que estava deprimido e que a depressão podia ser a causa de todas as suas queixas. Assegurei-lhe que o podia ajudar. Os medicamentos existentes hoje em dia para tratar a depressão são muito eficazes. Precisava no entanto de fazer alguns exames, para poder descansar em relação a algumas doenças que afectam as pessoas na “meia idade”. Numa sociedade como a nossa, onde ainda dominam os valores masculinos, torna-se difícil para a maior parte dos homens falar das suas dificuldades. Foi com algum embaraço que o Sr. F. falou de diminuição da líbido e de impotência sexual. Falámos da semelhança entre aquilo que sentia e a menopausa das mulheres. Não pareceu convencido. Muitos médicos também não concordam com a existência de semelhanças. O assunto continua a ser controverso. A polémica sobre este tema vem de longe, mas só se tornou visível no início do séc. XX. Começou por se falar de “menopausa masculina”. A literatura médica introduziu então o termo “climatério masculino”, para designar o período da vida dos homens em que se verifi- ca um declínio na produção de testosterona. Hoje é comum chamar a este período da vida dos homens “andropausa”. A testosterona é a hormona masculina por excelência. É produzida pelas glândulas supra-renais e pelos testículos, após estimulação do eixo hipotálamo-hipofisário. A testosterona é responsável pelo desenvolvimento das características sexuais masculinas e, porque aumenta a massa muscular e diminui os depósitos de gordura, é por vezes usada abusivamente pelos que querem aumentar rapidamente os seus músculos. Qualquer lesão ou doença que afecte gravemente o desempenho dos orgãos mediadores ou produtores de testosterona pode baixar a sua produção e, independentemente da idade, desencadear a “andropausa”. Os homens de quem se pode dizer que entraram na “andropausa” queixam-se de pensamentos depressivos, ansiedade, perda de cabelo, diminuição da líbido, disfunção eréctil, perda de memória e cansaço fácil. Estas queixas, mais frequentes a partir dos 60 anos, são para os defensores da existência de “andropausa” sintomas suficientes para caracterizar a síndrome e preconizar uma terapêutica hormonal de substituição com testosterona. Do outro lado, estão os que argumentam que as queixas dos homens de “meia idade” são sinais normais de envelhecimento que surgem mais precocemente nuns do que noutros. Entre outras diferenças, a testosterona, ao contrário do estrogénio feminino, não protege o homem da osteoporose. No entanto, o argumento mais poderoso contra o tratamento com testosterona é que é caro e aumenta consideravelmente o risco de cancro da próstata. Quando a idade aperta e a insuficiência de testosterona é significativa, com sintomas persistentes e incapacitantes, é aconselhável consultar um especialista das doenças do envelhecimento. Envelhecer é um processo complexo e individual. O doente deve ser apoiado na sua globalidade e não apenas num único aspecto. Se a disfunção eréctil se dever apenas à diminuição de testosterona, existe no mercado um medicamento (sildenafil) que apresenta bons resultados, desde que o doente não tenha contra-indicações – como estar a tomar medicamentos com nitratos. O seu médico de família poderá aconselhá-lo.I [email protected] André Letria Outubro 2006 TempoLivre 67 68e69.qxp 26-09-2006 20:13 Page 68 BOAVIDA TEMPO INFORMÁTICO RECUPERAÇÃO DE DADOS Apesar dos conselhos em manter sempre cópias de segurança dos nossos ficheiros que se encontram no PC e de as fazer regularmente, dependendo da frequência com que trabalha e os grava no seu disco rígido, acontece que ouvimos constantemente casos de alguém que perdeu os seus importantes dados no computador. I Gil Montalverne D evido a ser atingido por um vírus ou por simples avaria num disco rígido, de repente deixa de ter acesso aos seus dados ou mesmo ao disco rígido. As razões são várias e pode até ter apagado sem querer algum ficheiro ou imagem importante. Não é uma situação agradável mas antes de entrar em pânico é importante verificar se o PC funciona. Se liga à corrente e nada acontece pode ser até que seja avaria do sistema ou do PC e o disco rígido esteja mais ou menos em bom estado. Nesse caso, após a reparação do hardware, esse disco será colocado como disco secundário e encontra lá os seus ficheiros, bastando copiá-los para outro local. No caso de ficheiros eliminados acidentalmente ou corrompidos pode tentar-se a recuperação com programas específicos. Importante é não gravar nada nesse disco, a partir do momento em que perdeu os dados. O Windows não apaga ficheiros totalmente nem mesmo depois de saírem do Recycling bin ou Reciclagem. Apenas liberta o local onde estão gravados para usar de novo e então sim os ficheiros antigos desaparecem. Podemos mesmo em certas circunstâncias recuperar ficheiros de discos formatados por engano. É importante para a recuperação que o disco não esteja muito fragmentado e por isso se recomenda a regular desfragmentação para que cada ficheiro esteja 68 TempoLivre Outubro 2006 sequencialmente gravado. É também importante que se diga que são os ficheiros de texto e as imagens que se podem provavelmente recuperar, o que não acontece com ficheiros de programas que pode voltar a instalar. Condição essencial é possuir uma outra unidade de disco mesmo amovível para gravar os dados recuperados. Existem na Internet vários Sites onde se encontram programas de recuperação. Aconselhamos para ficheiros de texto o Drive Rescue. Pode fazer o download da versão gratuita e verificar a recuperação dos ficheiros mas nem sempre os pode gravar. Para isso terá de comprar a licença (cerca de 50 Euros). Para as imagens, inclusive as que tenham sido apagadas de um cartão de memória, existe um bom programa Digital Image Recovery. Em qualquer dos casos procure no Google algum Site que disponibi- lize uma versão freeware com alguma possibilidade de gravação. De vez em quando aparecem. Outros programas que podem experimentar: File Scavenger e Active Undelete Data Recovery Se for o caso de ter apagado um ficheiro, mesmo da Reciclagem, acidentalmente ou não, existe de facto um programa totalmente gratuito para fazer a recuperação, chamado Restoration. Pode fazer o download do seguinte endereço: http://www.download.com/Resto ration/3003-2094_4-10322949.html O programa é muito simples e limita-se a apresentar uma janela onde iremos dizer qual a drive onde pretendemos fazer a busca e depois clicar no botão “Search Deleted files”. O programa segundo vários testes efectuados consegue ressuscitar ficheiros, pastas ou clusters perdidos, apagados ou mesmo até corrompidos. I [email protected] 68e69.qxp 26-09-2006 20:13 Page 69 BOAVIDA A O SMART: PEQUENO, MAS EFICAZ Os carros têm mesmo que ser grandes? De quanta razão precisa o coração? Quanta alegria de viver consegue a inovação gerar? A fantasia pode ter um lado prático? I Carlos Blanco S ão muitas as perguntas com que a smart se depara. Com base nestas questões foi criada uma Visão. O objectivo: torná-la realidade. Passados mais de sete anos e, na sua qualidade de membro integrante do Mercedes Car Group, a Smart oferece actualmente três gamas de modelos. Para cada necessidade e novo sentido da vida. Entretanto, a Smart implantou-se em 36 mercados espalhados em todo o mundo. Tornou-se impensável a imagem das estradas sem a sua presença. E da Visão resultou o expoente máximo de uma conjugação sem igual entre funcionalidade e alegria de viver. De cima para baixo: SmartforTwo, SmartforFour, Smart Roadster V O L A N T E O trânsito no século XXI: um automóvel por pessoa. Os lugares de estacionamento escasseiam. Conduzir com prazer é caro. Uma pena, concluíram também os engenheiros da Smart. E assim nasceu o Smart fortwo. Um exemplo de sucesso garantido, que com a mais recente tecnologia Mercedes-Benz se adapta na perfeição à imagem da cidade moderna. De tudo isso se irá aperceber quando encontrar um lugar para estacionar a porta de casa. A Smart pensou em termos racionais, mas não deixou de se dedicar de igual modo aos sentimentos. Aos mais profundos sentimentos. Que no Smart roadster se encontram apenas a uns escassos 20 cm do asfalto. A não esquecer: o mais recente membro da família - o Smart forfour. Com o primeiro automóvel smart de 4 ou 5 lugares, o condutor percorre a estrada em estilo desportivo e de forma económica. Quer utilize este grande automóvel compacto para ir às compras ou para ir à praia, o Smart forfour é o melhor companheiro do seu dia-a-dia. I Outubro 2006 TempoLivre 69 70.qxp 26-09-2006 20:14 Page 70 BOAVIDA PA L AV RA S D A L E I DOAÇÃO COM RESERVA DE PROPRIEDADE Tenho 81 anos, casado, com dois filhos. Gostaria de doar alguns imóveis aos meus filhos, e gostaria de saber se, após a doação, e no caso de necessitar, poder deixar os imóveis à minha esposa e vice-versa. ? Sócio n.º 39463 – Porto I Pedro Baptista-Bastos R egra geral, os contratos são onerosos, isto é, o Direito entende que existe um valor, um preço, uma quantia, caracterizadora das prestações, ou actos, que as pessoas efectuam, no cumprimento desses mesmos contratos; exemplo máximo é a compra e venda. No entanto, os contratos gratuitos em que as pessoas, por generosidade, dispõem dos seus bens, ou assumem uma obrigação, a favor de outra pessoa, são as doações. A nossa lei caracterizou as doações nos artigos 940º a 979º do Código Civil. Tome-se em atenção que a doação só é plena, se houver aceitação. Nenhum donatário é obrigado a receber um bem que não queira. Por outro lado, a doação tem um carácter pessoal, isto é, não podemos atribuir a alguém a capacidade para doar por nosso intermédio; temos que ser nós a realizar os actos de doação. Com estes bens são imóveis, a doação tem que ser feita por escritura pública, de acordo com o n.º 1 do artigo 947º do Código Civil. 70 TempoLivre Outubro 2006 O pedido deste nosso leitor é esclarecido à luz do artigo 959º do Código Civil, através do que a lei chama de “Reserva do direito de dispor de coisa determinada”. Esta norma consiste no seguinte: o doador pode doar um bem a alguém; no entanto, para que o bem não esteja imediatamente na propriedade do donatário, pode o doador, no acto da doação, querer que o bem contenha uma reserva legal. Essa reserva legal consiste na possibilidade de, enquanto o doador for vivo, dispor desse bem como quiser a favor de terceiros. Naturalmente que, se houver alguma venda a terceiros, a doação finda. Como o âmbito da reserva legal desta doação é para a esposa deste sócio, não haverá problemas para os filhos, dado que estes são herdeiros legítimos. Assim, fica a família deste sócio protegida, especialmente a sua esposa.I Toda a correspondência deve ser dirigida à Redacção da «Tempo Livre» André Letria ACADEMIA JORGE DE SENA 906.qxp 26-09-2006 20:44 Page 1 Delegação do Porto ACADEMIA JORGE DE SENA Formação Sócio-Cultural C U R S O S 2006 - 07 (Setembro - Junho) HORÁRIO LABORAL E PÓS-LABORAL LÍNGUAS E CIÊNCIAS HUMANAS / SOCIAIS . Iniciação: Inglês; Alemão; Espanhol; Russo . Inglês Nível I . Língua Gestual Portuguesa . Literatura Portuguesa . Escrita Criativa . Psicologia . História da Arte ARTES E OFÍCIOS . Arte de Representar - Teatro . Artes Plásticas: Iniciação à Pintura; Pintura Nível I . Artes Florais . Artes Aplicadas . Tapeçarias . Bordados . Restauro . Culinária . Pastelaria / Panificação . Reciclagem Artística . Fotografia EDUCAÇÃO MUSICAL CULTURA TRADICIONAL PORTUGUESA . . . . Viola Cavaquinho Canto (Rancho Orfeão) Antropologia Tradicional Portuguesa CULTURA POPULAR PORTUGUESA INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: Delegação do Porto SAÚDE, CORPO E MOVIMENTO . Yoga . Tai Chi Chuan . Danças de Salão . Natação . Hidroginástica . Ginástica de Manutenção . Socorrismo . Técnicas de Defesa Pessoal INFORMÁTICA . Informática Nível I . Access (Base de Dados) . Office Nível II . Internet . Design Gráfico . Web Design OFICINAS JUVENIS . Expressão Dramática - Teatro . Expressão Corporal - Hip Hop . Capoeira Descontos para estudantes, desempregados e reformados Rua do Bonjardim, 495/501 . Tel. 220 007 950 / 220 007 999 e-mail: [email protected] 26-09-2006 20:15 Page 72 CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES 1-JANTARADA; ÁGAPE. 2-AVO; SEMOLA; RIOS. 3-COSE; SAM; GRUDE. 4-OS; GA; R; DIETA; P. 5-B; CAIM; VALIA; CÁ. 6-SÓ; SELIM; S; PAR. 7-TALO; SAMOS; SOÍA. 8-ODE; D; TOSÃO; ER. 9-CO; VELAS; ORAR; C. 10-A; CAMUS; L; EM; VÁ: 11-BELOS; PÓS; ADIR. 12-DONO; ÁRABES; OVO. 13-AMARO; ARAMEIROS. Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas Horizontais: I-Jantarão; Refeição entre amigos. 2-Insignificância; Fécula de arroz; Correntes.3-Costura; São; Massa dos sapateiros. 4Anéis; Gálio (s.q.); Regime especial de alimentação. 5-Fratricida; Socorria; Aqui. 6-Isolado; Sela pequena; Parceiro. 7-Caule; Ilha grega do Arquipélago, pátria de Pitágoras; Solha. 8-Composiçao poética; Rede para apanhar trutas (prov.); Aliás. 9-Cobalto (s.q.); Círios; Rezar. 10- … (Albert), escritor francês, autor de “A Peste”; Prep. de “lugar”; Ande. 11-Lindos; Cinzas; Juntar. 12-Proprietário; Serracenos; Germe. 13-Amargo; Alambradores. Verticais: 1-Patriarca hebreu filho de Isaac e de Rebeca, que teve 12 filhos; Burado; Entrega. 2-Antepassados; Rio que banha Alcácer do Sal; Benevolente. 3-Laços apertados; Pegue; Palco. 4-Condessa por quem Junot se apaixonou, quando este ocupou Portugal em 1807; Merecimento. 5-Carta de jogar; Lamentos; Demónio. 6-Rente; Período de tempo; Lusitana. 7-Idolatrar; Caixas feitas de folha; Nome que os antigos Egípcios davam ao Sol. 8-Título nobiliárquico; Assistimos; Casal. 9-Outra coisa; Oferecemos; Batina eclesiástica. 10Desembaraçado; Santo; Prep. indicativa de “carência”. 11-Soberanos; Discurse; A si. 12-Caverna; Patroa. 13-Uma ópera de Verdi; Pôr (ant.); Sofrimento. 14-Nome do escritor americano (1807-1849), autor de “Histórias Extraordinárias”; Abater; Esperto. 15-Estás; Suspende o andamento; Estimados. Nota: Todos os termos da solução podem ser verificados nos Dicionários “Língua Portuguesa”, “Sinónimos” (Porto Editora) e “Prático Ilustrado” (Lello & Irmãos) Xadrez > por Joaquim Durão Tudo parece estar controlado pelas pretas, mas não está. Num ápice as brancas demostram que estão bastante melhor… até ao mate. AS BRANCAS JOGAM E GANHAM John Nunn (25.04.1955) é um dos mais brilhantes mestres ingleses contemporâneos, com importante obra didáctica publicada, que lamentavelmente deixou a alta competição por outros interesses ou anseios superiores. Mas alguém o convenceu a voltar ao tabuleiro, há semanas, e parece que a ausência não o destreinou, nem afectou as suas virtudes. Brancas: Nunn (Inglaterra); pretas: J. Smeets (Holanda). Amesterdão, 22.08.2006. Abertura Ruy Lopez. 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 Cf6 4.d3 (Paulatinamente. Preferência recente, “de alto nível” (?), é 4.0-0 Cxe4 5.d4 Cd6 6.Bxc6 dxc6 7.dxe5 Cf5 8.Dxd8+ Rxd8 e as pretas confiam que a perda do roque – sem damas – não é perigoso e compensado pelo par de bispos) 4…. Bc5 5.0-0 d6 6.c3 0-0 7.Cbd2 Bd7 8.h3 a6 9.Ba4 Ba7 Te1 Ce7 11.Bb3 Cg6 12.Cf1 h6 13.Cg3 c6 14.d4 Dc7 15.Be3 Tfe8 16.Dd2 (Deixa latente um possível sacrifício do B em h6) 16….exd4 17.Bxd4 Bxd4 18.cxd4 c5 19.Tac1 b6 20.Dc3 Db7 21.dxc5 dxd5 22.e5 Cd5 23.Dd2 Cdf4 24.Tc4 Ce6? (Nesta posição aberta, com figuras reciprocamente apontadas aos roques, as pretas deixam escapar a oportunidade de indefinir o desfecho, com 24…., Cxh3+. Se 25.gxh3 Dxf3 e após 26.Dxd7 Cxe5 27.Txe5 Txe5 28.Dd2 com posição de mutuas possibilidades) 25.Ce4 Dc7 26.Cf6+!! gxf6 27.Dxh6 f5 (Única) 28.Ch4! Bb5 (A superioridade das forças atacantes e o congestionamento das defensivas são factores decisivos 28…. Cef8 29.Cxg6 Cxg6 30.Tg4 Be6 31.Txg6+ fxg6 32.Dxg6+ Rh8 33.Bxe6 Dg7 34.Dh5+ Rh7 35.Dxh7+ Rxh7 36.Bxf5+ Rg7 37.f4 e a avalanche dos peões brancos será decisiva) 29.Cxf5 Tad8 30.Tg4 c4 31.Bc2 Td5 32.Th4! e as pretas abandonam (32…. Cxh4 33.Ce7+!! obriga à captura, obstruindo a casa de fuga, e abre a diagonal ao Bc2, para Dh7+ e Dh8++. Nunn é doutor em matemáticas; a partida teve um desfecho matemático. 72 TempoLivre Outubro 2006 SOLUÇÕES 1.Tg5! Txf6 2.Dxf6 Dd4! 3.Tg6 Txg6 a perda da dama ou o mate Cxf7 não tem defesa. 72.qxp 73e74.qxp 26-09-2006 20:17 Page 73 Viagens Viagens surpreendentes! PORTUGAL PASSEIOS TEMÁTICOS LOCAIS DE PODER Palácio Nacional de Belém Museu da Presidência da República Jardins do Palácio – Assembleia da República/Parlamento Nº TSN2396 – 28 de Outubro de 2006 PARTIDAS: LISBOA Preço por pessoa: € 40,00 CEMITÉRIO DOS PRAZERES Trajecto até ao Cemitério efectuado de eléctrico privativo Uma visita que surpreende pela beleza das construções das jazidas, pelas histórias das diversas personalidades aí sepultadas ou pelos conhecimentos que se podem adquirir ao percorrer este espaço de Lisboa Nº TSN2416 – 04 de Novembro de 2006 PARTIDAS: LISBOA Preço por pessoa: € 50,00 ROTAS ROTA DO OURO E DO LINHO - NO CORAÇÃO DO VERDE MINHO Museu do Ouro e oficinas de Filigrana. Típico almoço minhoto no restaurante preferido do escritor Jorge Amado. Prova de vinho verde com actuação exclusiva de uma Tuna Académica Nº TSN2386 - 27 a 29 de Outubro 2006 PARTIDAS: BEJA/ÉVORA Preço por pessoa em quarto duplo: € 240,00 PARTIDAS: LISBOA Preço por pessoa em quarto duplo: € 230,00 SÃO MARTINHO À LAREIRA - lume, castanhas e vinho PARTIDAS: FARO/BEJA/ÉVORA Nº TSN2686- 10 a 12 de Novembro de 2006 Preço por pessoa em quarto duplo: € 240,00 MAGUSTO SALOIO A SINTRA festa deste Outono FESTAS E ROMARIAS SINTRA ROMÂNTICA DE EÇA DE QUEIROZ Inclui visita à Quinta da Regaleira e Lanche Saloio (queijadas de Sintra) Nº TSN2676 – 25 de Novembro Partidas: LISBOA Preço por pessoa: € 60,00 Vila de Sintra Feira saloia de São Pedro de Sintra Almoço saloio e lanche de magusto Fados e música ao vivo para dançar 11 a 13 de Novembro de 2006 FEIRA DE CASTRO VERDE – a feira é festa Desde 1621 até aos nossos dias numa vila luminosa perdida na imensidão do Alentejo PARTIDAS: VIANA DO CASTELO/BRAGA/PORTO Nº TSN2346 – 13 a 15 Outubro 2006 Preço por pessoa em quarto duplo € 225,00 Nº TSN2426 - VIANA CASTELO/BRAGA/AVEIRO Nº TSN2356 COVILHÃ/GUARDA/VISEU/COIMBRA Preço por pessoa em quarto duplo: €195,00 Nº TSN2666 – 12 de Novembro de 2006 PARTIDAS: SETÚBAL/LISBOA Preço por pessoa: € 60,00 73e74.qxp 26-09-2006 20:17 Page 74 Viagens CIRCUITOS 24 a 29 de Novembro 2006 MONTES PINTADOS – cor, música e vinho Os tons quentes do Outono no Douro PARTIDAS: LISBOA/COIMBRA/AVEIRO Nº TSN2406 – 03 a 05 de Novembro de PARTIDAS: BEJA/ÉVORA/LISBOA Preço por pessoa em quarto duplo: €435,00 PARTIDAS: LEIRIA Preço por pessoa em quarto duplo: €425,00 Preço por pessoa em quarto duplo: € 305,00 PARTIDAS: FARO/BEJA/ÉVORA Preço por pessoa em quarto duplo: € 315,00 08 de Julho de 2007 PARTIDAS: SETÚBAL/LISBOA Preço por pessoa (viagem de 1 dia): € 55,00 2006 ESPANHA Preço por pessoa em quarto duplo: € 265,00 SAFARI AO GADO BRAVO Toiros e cavalos lusitanos na pátria dos campinos Nº TSN2436 – 18 de Novembro de 2006 PARTIDAS: SETÚBAL/ LISBOA Preço por pessoa: € 60,00 NOITE DAS BRUXAS & CEIA DO DIABO Nº TSN2446 – 24 a 26 de Novembro de 2006 PARTIDAS: SETÚBAL/ LISBOA Preço por pessoa: € 200,00 ROTEIROS ECOLÓGICOS OUTONO CELTA FAMOSA MARISCADA & MEXILHÕES À GALEGA Nº TSN2456 Festa dos Tabuleiros 2007 TOMAR Inscreva-se já, lugares limitados Assista a uma das tradições mais belas de Portugal!!! Realiza-se de 4 em 4 anos. A sua origem remonta ao Culto do Espírito Santo, instituído no século XIV, com origens remotas das antigas festas das colheitas. O ponto alto da festa é no Domingo, com o cortejo dos tabuleiros a percorrer as ruas da cidade. O Tabuleiro é o Símbolo e principal alfaia da Festa dos Tabuleiros. Deve ter a altura da rapariga que o carrega e em média pesam 22 kg. A função dos homens é a de ajudarem as mulheres mas nunca transportam os tabuleiros. Participe numa manifestação de rara beleza e alto significado cultural. PARTIDAS: ESPECTÁCULOS CIRQUE DO SOLEIL - MADRID Nº TSI 2636 – 17 a 19 de Novembro de 2006 PARTIDAS: LISBOA e PORTO Preço a divulgar oportunamente FRANÇA MAGIA DO NATAL NA ALSÁCIA OBERNAI Nº TSI 2616 - 03 a 08 de Dezembro PARTIDAS: Lisboa/Porto/Faro Preço por pessoa em duplo: 1035,00 € CRUZEIROS CRUZEIRO 3 CONTINENTES Nº TSI 2606 06 a 08 de Julho de 2007 23 Novembro a 11 de Dezembro PARTIDAS: VISEU/GUARDA/COVILHÃ Preço por pessoa em quarto duplo: € 300,00 PARTIDAS: VIANA DO CASTELO/BRAGA/PORTO Partida: Lisboa Possibilidade de regresso a Lisboa e Porto Preços disponíveis nas Delegações e na Brochura de Turismo Social Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações Sede/Loja do Turismo: Calçada de Sant’Ana 180, 1169-062 Lisboa Telf. 210027160/61/62 fax: 210027170 e-mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt 75.qxp 26-09-2006 20:19 Page 75 CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2006 Remeter para Clube Tempo Livre – LIVROS, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. 76e77.qxp 02-10-2006 21:02 Page 76 CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS CAMPO DAS LETRAS SUBJECTIVIDADE E RACIONALIDADE - UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICOHERMEN UTICA Maria José Cantista (Coord.) 340 pg. |15,12 (PVP) A obra aborda a perspectiva fenomenológica do binómio SubjectividadeRacionalidade, confrontado, antes de mais, com o equacionamento moderno, numa crítica denunciadora dos seus “extravios”, redutores de facetas essenciais, quer do sujeito, quer da razão, e, consequentemente, da realidade com que ambos nos brindam. ESTRUTURAS SOCIAIS DA ECONOMIA Pierre Bourdieu 340 pg. | 17,85 (PVP) O carácter abstracto e ilusório dos postulados clássicos é aliás criticado actualmente por alguns economistas; mas é preciso ir mais longe: a oferta, a procura, o mercado e mesmo o comprador e o vendedor são o produto de uma construção social, de forma que não é possível descrever adequadamente os processos ditos «económicos» sem recorrer à sociologia. Colibri NO REINO DOS NABOS Silvério Manata 157 pg. | 12,60 (PVP) A partir da gastronomia regional gandaresa, levada à mesa pela Confraria Nabos e Companhia de que 76 TempoLivre Outubro 2006 é Grão-Mestre, o autor propõe um retrato escrito da Gândara, afamada pelos seus grelos de nabo e da sua gente anónima: a personagem central destes contos. CARTAS AMORDAÇADAS Deolinda da Ascensão Morgado Milhano 142 pg. | 13 (PVP) A autora tece subtilmente, neste romance, sensibilidades e afectos, onde o amor e a morte marcam presença e são motivo de encontros e desencontros, caminhos que se cruzam, sonhos que se desfazem. A gestão do tempo e do espaço é concedida pela abordagem da paixão de Anita, dolorosamente recordada por Carolina, que questiona o término da paixão e da vida da sua melhor amiga. EDITORIAL PRESENÇA DUAS IRMÃS, UM DESTINO Shobhaa Dé 260 pg. |17,50 (PVP) A autora, um dos maiores ícones da literatura da Índia, conta-nos, numa prosa intensa, sensual e glamorosa, a história de duas irmãs, Mikki e Alisha, que se movem no mundo corrupto e trepidante das altas esferas empresariais e da finança, impulsionadas pela ambição, pela luxúria e pelo ódio. Um romance sublime, que retrata de forma admirável o papel da mulher nos relacionamentos afectivos. O PORTÃO DE PTOLOMEU Jonathan Stroud 432 pg. | 17,50 (PVP) O autor desafia os estereótipos do bem e do mal nas suas personagens e o que está em jogo é ainda mais difícil: Nathaniel, Kitty e Bartimaeus vão ter de confiar uns nos outros para conseguirem vencer a teia de altas conspirações e traições que levarão a um golpe de estado que por sua vez conduzirá a um clímax nunca antes visto. EUROPA-AMÉRICA AS CARNÍVORAS Sabina Murray 312 pg. | 19,90 (PVP) Um romance de contornos góticos adaptado à nossa era, que tem como protagonista Katherine Shea, uma jovem mulher de 23 anos, obcecada pela temática do canibalismo e que vagueia pelo mundo da literatura, arte e história em busca de respostas para as suas obsessões. POR QUE CASAM OS HOMENS COM ALGUMAS MULHERES E COM OUTRAS NÃO John T. Molloy 192 pg. | 16,91 (PVP) Um estudo que dá a conhecer como milhares de mulheres conquistaram os seus homens, que inclui ainda informação sobre como aumentar as possibilidades de casar e activar uma proposta; as vantagens e perigos de acompanhar homens divorciados ou viúvos; encontros através da Internet e como lidar com os filhos. EVITA David Lelait-Helo 152 pg. | 19,90 (PVP) Mito ou porta-estandarte de um regime ditatorial. Se para muitos argentinos Eva Perón (1919-1952) ficou para a eternidade, para outros ela não passou de uma forma de propaganda do regime político do seu marido, Juan Perón. Nesta vibrante biografia poderá descobrir quem foi realmente Eva Perón. O JOGO DA NAVALHA Ruth Rendell 196 pg. | 19,90 (PVP) Uma história empolgante, recheada com os condimentos essenciais da literatura policial. Não havia cadáver nem crime… apenas uma carta anónima e o nome intrigante de Smith. Segundo a polícia, não era caso, de maneira nenhuma, para considerar a abertura de um inquérito a um assassínio. PERGAMINHO A BRUXA DE PORTOBELLO Paulo Coelho 288 pg. | 16, 00 (PVP) Um romance surpreendente e cativante que relata a história de Athena, uma mulher invulgar e misteriosa, em quem a chama da espiritualidade brilha intensamente. Através do olhar das pessoas cujas vidas marcou, pode acompanhar o crescimento espiritual desta figura – desde a infância marcada por uma religiosidade intensa, até à rebeldia e à descoberta de uma forma própria de viver que a tornará vítima de perseguição por parte dos poderes instituídos. 76e77.qxp 02-10-2006 21:02 CULTIVE AS SUAS VENDAS - TUDO AQUILO QUE PRECISO DE SABER SOBRE VENDAS APRENDI COM O MEU JARDIM Alan Vengel e Greg Wright 140 pg. |12 (PVP) O livro apresenta através de uma divertida parábola, técnicas e conselhos práticos para ajudar os vendedores de qualquer sector a recuperar o entusiasmo e as empresas a manter uma equipa comercial eficaz e feliz. ROMA EDITORA MALAMALA – VIDA E SONHO DE UM CAÇADOR DESTINO Page 77 Manuel Oliveira Martins 271 pg. | 40 (PVP) O autor relata a sua vida de caçador em Moçambique. O perigo que espreita, que tanto pode ser o leão, ou a cobra mais traiçoeira. Um obra interessante, recheada de fotografias de zebras, búfalos, elefantes e outros animais que autenticam as histórias vividas e contadas na primeira pessoa. Um livro imprescindível para os caçadores e amantes de África. 357 pg. | 17 (PVP) O facto singular da expulsão da “classe” dos jesuítas ocorrido na I República também singularmente é analisado na obra, já que, até hoje, sobre caso tão curioso, nenhuma outra foi produzida. A unificação por “categorias”, por “crenças”, religiosas ou não, jamais constituiu motivo para exílios ocorridos posteriormente no Estado Novo. JESUÍTAS E ANTIJESUÍTAS NO PORTUGAL REPUBLICANO António de Araújo ANEDOTAS E OUTRAS EXPRESSÕES DE ANTICLERICALISMO NA ETNOGRAFIA PARADISÍACO NO Aldeia do Piódão tel. 235 730 100 . [email protected] PORTUGAL • • PORTUGUESA Paulo Correia de Melo 348 pg. | 17 (PVP) Sobre padres e freiras bastaria uma crítica social polvilhada de ditos e expressões mais ou menos inocentes para se consubstanciar uma obra que atraísse a curiosidade do púbico leitor. Mas a investigação do autor, com finalidade académica, não podia ficar por aí. Estudos críticos sobre clero e religião são tópicos que transformam este livro num interessantíssimo anticlerical acervo etnográfico. PROFUNDO ! • • • • • • • • Turismo de Montanha INATEL 78.qxp 26-09-2006 20:23 Page 78 CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas BRAGA Cultura MUSICA: dia 1 às 15h30 Conjunto “Musicália” no Lar de Santa Cruz em Braga; dia 8 às 15h30 - Domingos Oliveira na Col. de Férias da Seg. Social em Apúlia; dia 22 às 15h30 - Conjunto “Picband” de Fafe na Col. de Férias da Seg. Social em Apúlia FOLCLORE: dia 1 às 15h30 – R. Folcl. de Mogege em Sande; dia 8 às 15h – Gr. Folcl. de Vila Nova de Sande no Centro Social de Sande; dia 15 às 15h – R. Reg. de Fradelos em Fradelos; dia 15 às 16h – R. Folcl. de Cabreiros em Nogueiró. TEATRO: dia 20 às 21h – peça “Amo-te Rosinha” pelo Gr. de Teatro da Coelima em S. Torcato Guitarra Clássica, Cavaquinho e Reciclagem Artística. CINEMA: filme “Lolita” - dia 4 às 16h em Fermentões; dia 5 às 21h na União Desportiva Bairrense; dia 6 às 21h em Cavês; dia 7 às 21h em Lijó; dia 11 às 21h em Balugães; dia 12 às 15h em Cibões; dia 14 às 21h em Esperança; dia 15 às 21h em Moreira de Cónegos; dia 18 às 15h no C.C. Chorense; dia 19 às 21h em Campelos; dia 20 às 21h em Valdosende; dia 22 às 21h em Milhazes; dia 25 às 10h em Carvalhal; dia 26 às 21h em S. Mateus da Ribeira; dia 27 às 21h no Centro de Anim. Termal do Gerês; dia 28 às 21h no Centro Cult. de Carvalheira. ESCOLAS DE LAZER: cursos de Danças de Salão e Latino Americanas, Tapeçarias de Arraiolos, Bordados Regionais e Confecção, Artes Decorativas, Pintura, Educação Musical e Piano, Canto. COIMBRA Cultura MUSICA: dia 1 às 16h – Encontro de Bandas em Ançã, dia 8 às 15h em Serpins e dia 15 às 15h em Maiorca; dia 28 às 16h – Gr. de Música Pop. do Coro dos Professores, nas Comemorações do Dia Intern. do Idoso em Miranda do Corvo; dia 26 às 21h30 Recital de Canto e Piano no Teatro Acad. Gil Vicente em Coimbra; dia 28 às 21h30 Concerto a dois pianos no Teatro Acad. Gil Vicente em Coimbra. ESCOLA DE LAZER: Inscrições para os cursos de Cerâmica e Iniciação à Pintura, Órgão, Viola, Acordeão, Instrumentos de Sopro e Formação Musical. Desporto ACTIVIDADES BÁSICAS: Abertas inscrições para classes de Ginástica, Judo e Natação. COVILHÃ Desporto ATLETISMO: dia 15 - 8º GP do CCD Amigos do Bairro Municipal na Covilhã; dia 22 14º GP “Carlos Algueiro” do CCD Gr. Recr. Refugiense, em Refugio; dia 29 - 8º GD das Castanhas do Gr. Desportivo Sarzedense em Sarzedo. GUARDA Desporto ESCOLA DE PARAPENTE: cursos de Piloto Autónomo e Baptismos de Voo em bilugar, em Linhares da Beira (telef. 271 776 590 ou 271 212730). LISBOA Salsa e Merengue, Artes Florais, Reciclagem Artística, Ginástica, Natação, Hidroginástica e Inglês. SANTARÉM Cultura FOLCLORE: dia 7 às 16h30 – R. Folcl. “Os Camponeses” de S. Vicente do Paul na Casa do Povo de Montalvo. MÚSICA: dia 14 às 21h - Gr. de Música Pop. Portuguesa “Cantares d’Outrora” no Cine-Teatro de Mação. DANÇAS SALÃO: dia 22 às 16h - Gr. de Danças de Salão em Ribeira de Cima. VIANA DO CASTELO Cultura Teatro da Trindade SALA PRINCIPAL: As Bodas de Fígaro – Até ao dia 7 Erva Vermelha (Trilogia do Cão) – a partir do dia 7 TEATRO BAR: Quem não trabuca não manduca! – dias 5 a 28. ESCOLAS DE LAZER: cursos de Bordados e Meias Rendadas, Cavaquinho e Concertina, informações na Delegação PORTO Festival do Caldo/Festa da Sopa no Pavilhão do Inatel FEIRA: dia 5 às 10h - Feira À Moda Antiga no Mercado 2 Maio em Viseu. FESTA: dia 15 às 15h - Festa do Vinho em Pereiras de Bodiosa. Desporto TIRO AO ALVO: dia 10 às 14h prova na Casa da Cultura de St.ª Comba Dão; dia 21 às 14h – Torneio Reg. no Gr. Desp. de Penedono. Cultura EXPOSIÇÃO: dias 6 a 30 Individual de Pintura “Máscara e Caretos” de Maria Amália Soares, na Delegação. PASSEIO: dia 28 - Visita com História ESCOLAS DE LAZER: Abertas as inscrições para Restauro, Teatro, Tango Argentino, VISEU Cultura FESTIVAL: dia 28 às 17h - IV destinatários: associados do INATEL entrega de trabalhos: 2 a 9 de Outubro’06 NA SEDE E E DELEGAÇÕES DISTRITAIS DO INATEL Concurso de 2006 Pintura Escultura Instalações categorias: Artes mais informações: Sede e Delegações do INATEL . Tel. 210 027 148 / 150 . e-mail: [email protected] . www.inatel.pt 79.qxp 26-09-2006 20:24 Page 79 O CHEFE SUGERE |LUÍS PETRONILHO | INATEL ALBUFEIRA Caldeirada à Algarvia O prato apresentado é rico por conter peixes de espécies variadas, proporcionando uma excelente fonte de proteínas de boa qualidade, ferro, fósforo, iodo, magnésio, cálcio e vitaminas A, D, E e do complexo B. Para além disso, e apesar dos peixes utilizados para esta caldeirada serem essencialmente peixes magros, trazem ainda um pequeno aporte de ácidos gordos ómega-3, INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 1,5 kg de pescado fresco (raia, cação, pescada, maruca, linguado, amêijoa), 0,5 kg de tomates maduros, 200g de cebolas, 10g de alho, 100g de pimento verde, 1 dl de azeite, 1,5 dl de vinho branco, 500g de batatas, salsa q.b., pimenta q.b., piripiri q.b., noz-moscada q.b., sal q.b. PREPARA-SE ASSIM: Amanhamse e lavam-se os peixes e amêijoas, passando-os por várias águas. Cortam-se os peixes em postas mais ou menos regulares e temperam-se com um pouco de sal grosso. Cortam-se as cebolas, os tomates e o pimento às rodelas, procedendo de igual modo com as batatas, depois de descascadas. Num tacho coloca-se um pouco de cebola, pimento, tomate e alho picado numa primeira camada. Por cima, estende-se uma camada de batatas, seguida de outra de peixes e amêijoas. Continuam a alternar-se as camadas, tendo o cuidado de as regar com o azeite e o vinho branco e temperar com sal, pimenta, piripiri e noz-moscada. Tapa-se o tacho e leva-se a cozer em lume brando, agitando de vez em quando. importantes pelos seus benefícios para a saúde. A “carne” do peixe é macia e de fácil digestão, tendo ainda vantagens quanto à qualidade da sua gordura por esta ser do tipo insaturado, ao contrário da que predomina na maioria das carnes. A amêijoa é típica de regiões do litoral e muito utilizada em preparações culinárias da região Algarvia. A inclusão deste molusco como ingrediente confere a este prato um cariz tradicional do Centro de Férias no qual é servido. COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: • 71,6 g de proteínas; • 6,7 g de gordura; • 33,3 g de hidratos de carbono; • 5,4 g de fibra; • 470,7 kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL ALBUFEIRA Av. Infante D. Henrique, 8200-862 Albufeira Tels: 289 599 300 - Fax: 289 599 340 Email: [email protected] Outubro 2006 TempoLivre 79 80_moradas.qxp 26-09-2006 20:25 Page 80 moradas Sede Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 LISBOA Telf: 210 027 000 Fax: 210 027 027 e.mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt Delegações e Subdelegações ANGRA DO HEROISMO Beco do Pereira, 4 9701-868 ANGRA DO HEROISMO Tel. 295 213 407 /215 038 Fax. 295 212 233 [email protected] AVEIRO Av. Dr. Lourenço Peixinho,144/146 Edificio Oita - 4º E 3800-160 AVEIRO Tel. 234 405 200 / 207 Fax.234 405 208 [email protected] BEJA Rua do Vale, 14, 7800 - 490 BEJA Tel. 284 318 070 Fax. 284 323 163 [email protected] BRAGA Av. Central, 77, 4710-228 BRAGA Tel. 253 613 320 Fax.253 214 202 [email protected] BRAGANÇA R. Alexandre Herculano, 111 - 1º, 5300-075 BRAGANÇA Tel. 273 331 653 Fax. 273 326 947 [email protected] COIMBRA R. Dr. António Granjo, 6 3000 - 034 COIMBRA Tel. 239 853 380 Fax.239 853 384 [email protected] COVILHÃ “Casa de Agostinho Roseta” Av. Frei Heitor Pinto, 16-B 6200-113 COVILHÃ Tel. 275 335 893 Fax.275 327 276 [email protected] ÉVORA “Palácio Barrocal” Rua Serpa Pinto, 6 7000-537 ÉVORA Tel. 266 730 520 Fax. 266 730 521 [email protected] FARO “Casa Emílio Campos Coroa” Rua do Bocage, 54 8004 - 020 FARO Tel. 289 898 940 Fax. 289 823 521 [email protected] FUNCHAL Rua Alferes Veiga Pestana, 1 L, sala 25 9050-079 FUNCHAL Tel. 291 221 614 Fax.291 228 147 [email protected] GUARDA R. Mouzinho da Silveira, 1 6300-735 GUARDA Tel. 271 212 730 Fax.271 215 779 [email protected] HORTA R. Comendador Ernesto Rebelo, 10 9900 - 112 HORTA Tel. 292 292 812 Fax.292 293 147 [email protected] LEIRIA “Casa Miguel Franco” R. João XXI, 3-A r/c - Loja D 2410-114 LEIRIA Tel. 244 832 319/834 017 Fax. 244 834 735 [email protected] PONTA DELGADA Rua do Contador, 73-A 9500 - 050 PONTA DELGADA Tel. 296 284 684 Fax. 296 283 166 [email protected] PORTALEGRE Largo de São Bartolomeu, 2 e 4, 7300-101 PORTALEGRE Tel. 245 203 675/207 593 Fax. 245 207 569 [email protected] PORTO Casa “Jorge de Sena” Rua do Bonjardim, 495 4000-126 Porto Tel. 220 007 950 Fax. 220 007 999 [email protected] Tel. 265 543 800 Fax. 265 543 819 [email protected] Tel. 231 930 358 Fax. 231 930 038 [email protected] VIANA DO CASTELO Rua de Stº António, 117 4900 - 492 VIANA DO CASTELO Tel. 258 823 357 Fax. 258 811 644 [email protected] INATEL MADEIRA Madeira - Santo da Serra 9100-267 SANTA CRUZ Tel. 291 550 150 Fax. 291 552 227 [email protected] VILA REAL Av. 1º de Maio, 70-1º D 5000-651 VILA REAL Tel. 259 324 117 Fax. 259 372 592 [email protected] INATEL SERRA DA ESTRELA Manteigas, 6260-012 MANTEIGAS Tel. 275 980 300 Fax. 275 980 340 [email protected] VISEU Rua do Inatel Urb. Quinta do Bosque 3510 - 018 VISEU Tel. 232 423 762/428 727 Fax. 232 423 781 [email protected] INATEL OEIRAS Alto da Barra - Estrada Marginal, 2780-267 OEIRAS Tel. 210 029 800 Fax. 210 029 840 [email protected] Centros de Férias INATEL ALBUFEIRA Av Infante D. Henrique, 8200-862 ALBUFEIRA Tel. 289 599 300 Fax. 289 599 340 [email protected] INATEL CASTELO DE VIDE Rua Sequeira Sameiro, 6 7320 - 138 CASTELO DE VIDE Tel. 245 900 200 Fax. 245 900 240 [email protected] INATEL “UM LUGAR AO SOL” Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 918 420 Fax. 212 900 051 [email protected] INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre 4575-416 PORTELA PNF Tel. 255 616 059 Fax. 255 615 170 [email protected] SANTARÉM Prta. Pedro Escuro, 10-2º D 2000-183 SANTARÉM Tel. 243 309 010 Fax. 243 309 014 [email protected] INATEL FOZ DO ARELHO R Francisco Almeida Grandela, 17 2500-487 FOZ DO ARELHO Tel. 262 975 100 Fax. 262 975 140 [email protected] SETÚBAL Praça da República 2900-587 SETÚBAL INATEL LUSO Rua Dr. Costa Simões 3050 - 226 LUSO INATEL SANTA MARIA DA FEIRA Santa Maria da Feira 4520-306 SANTA MARIA DA FEIRA Tel. 256 372 048 Fax. 256 372 583 [email protected] INATEL PALACE Termas - São Pedro do Sul 3660-692 VÁRZEA SPS Tel. 232 720 200 Fax. 232 720 240 [email protected] INATEL CERVEIRA Lovelhe 4920-236 VILA NOVA DE CERVEIRA Tel. 251 708 360 a 62 Fax. 251 795 050 [email protected] INATEL PORTO SANTO Cabeço da Ponta 9400 PORTO SANTO Tel. 291 980 300 Fax. 291 980 340 [email protected] INATEL PIODÃO 6285-018 PIODÃO Tel. 235 730 100/1 Fax. 235 730 104 [email protected] INATEL FORNOS DE ALGODRES 6370-401 VILA RUIVA Reservas: 232 720 243 (Inatel Palace) [email protected] INATEL MONTALEGRE Lugar de Penedones 5470-069 CHÃ/PENEDONES Reservas: 255 616 059 (Inatel Entre-os-Rios) [email protected] INATEL GAVIÃO 6040-999 GAVIÃO Reservas: 245 900 243 (Inatel Castelo de Vide) [email protected] Parques de Campismo INATEL CABEDELO Av. dos Trabalhadores Cabedelo 4900-056 VIANA DO CASTELO Tel. 258 322 042 Fax. 258 331 502 [email protected] INATEL CAPARICA Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 900 306 Fax. 212 911 553 [email protected] INATEL SÃO PEDRO DE MOEL Av. do Farol, 2430-502 MARINHA GRANDE Tel. 244 599 289 Fax. 244 599 550 [email protected] Teatro da Trindade R. Nova da Trindade 1200-301 LISBOA Tel. 213 423 200 Fax. 213 432 955 [email protected] Parque de Jogos 1º de Maio Av. Rio de Janeiro 1700-330 LISBOA Tel. 218 453 470 Fax. 218 473 193 [email protected] Parque de Jogos de Ramalde Rua Dr. Aarão de Lacerda 4100-015 PORTO Tel. 226 184 684 Fax. 226 109 721 Escola de Parapente Linhares da Beira Tel. 271 776 590 81.qxp 26-09-2006 20:27 Page 81 MARIA ALICE VILA FABIÃO | O TEMPO E AS PALAVRAS Deus, o homem e a guerra – em dia de nevoeiro Dois homens falavam um com o outro. / Então, como estão as coisas? / Bastante mal. / Quantos tem ainda? / Se tudo correr bem, quatro mil. / Quantos pode dar-me? / No máximo, oitocentos. / Esses vão ser liquidados. / Então mil. / Obrigado. / Os dois homens separaram-se. / Falavam de homens. / Eles eram generais. / Era a guerra. Wolfgang Borchert*, Histórias de Antologia, in: Das Gesamtwerk, Rowohlt Verlag, 1970 Trad. do alemão: MAVF No buraco que eles próprios escavaram na terra, os dois homens têm uma arma. Os dois homens são soldados. Um pouco mais longe, noutro buraco, que outros homens escavaram, espreita uma cabeça, uma cabeça que tem olhos para ver uma flor, um nariz para a cheirar e uma boca para comer pão e dizer Maria ou mãe: a cabeça de um homem. Um dos soldados, a quem, com a arma, tinham dado ordem de disparar, dispara. A cabeça desaparece. Nunca mais poderá ver, nem cheirar uma flor; nunca mais poderá dizer Maria, nem mãe. Nunca mais! Ao longo dos dias, os dois soldados fazem desaparecer muitas cabeças, cabeças de homens que não conhecem, tantas que com elas podiam fazer uma montanha. E à noite, quando adormecem, as cabeças começam a rolar, a rolar, como bolas em pista de bowling. O ruído que fazem acorda os dois soldados. E eles não conseguem dormir. Os dois soldados falam um com o outro. Um murmura: - Fizemo-lo porque nos mandaram fazê-lo! O outro grita: - Mas fizemo-lo! – Pois fizemos, mas porque Deus nos fez assim! – Pois é. Mas Deus tem uma desculpa: é que Ele não existe! – Não existe? – pergunta o primeiro. – Essa é a sua única desculpa! – responde o segundo. – Mas nós… nós existimos! – Pois é: nós existimos! Ao amanhecer, os dois soldados pegam de novo na arma e disparam sobre todas as cabeças que vêem, cabeças de alguém que não conhecem e que nunca lhes fez mal. Mas para isso lhes tinham dado a arma – e alguém lhes tinha dado ordem de a disparar. Era a guerra. Uma vez mais, onze de Setembro – que todos os dias é algures onze de Setembro. Todas as janelas fechadas pelo nevoeiro, treino na arte do esquecimento e da serenidade: os meus olhos evitam as velhas e novas imagens de horror e sofrimento que passam e repassam no ecrã da televisão. Ontem à noite, porém, o telefone, cordão umbilical que ainda me liga a todas as realidades, traz alimento indesejado à minha imaginação: “Vamos enviar tropas para o Líbano… As que estão na Bósnia… Nos Balcãs…A Espanha já enviou. A Alemanha…” No seu tabuleiro de xadrez, os políticos do mundo movem e abatem peões, dão xeque-mate à paz. Na madrugada breve, o texto** de Boches persegueme. Não como Boches o escreveu, mas como o guardo na memória desde o tempo em que a sua leitura era uma forma de luta pacífica contra a opressão policial, contra a prepotência vestida de paz. Sempre vivi a guerra à distância, no tempo e no espaço. Vivi-a, na primeira infância, já em tempo de paz, pela mão do meu pai, que, recolhido diante de uma esburacada parede de um quartel espanhol – eram de balas, as dezenas de orifícios, e a parede, parede de fuzilamentos –, murmurava, como quem entoa um magnificas: “Pelo menos alguns atiraram por cima das cabeças”; vivi-a na solidão dos amigos a quem ela tinha feito crescer ou envelhecer sem o conforto de uma voz familiar; vivi-a no contacto do número tatuado nos braços amigos que para mim se estenderam em gesto de boas-vindas. Era a guerra, diziam. Chamavam-lhe War, Orlog, Krieg, Krig, Guerre, Guerra – mas que interessava o nome que lhe davam? Hoje falamos de “conflitos armados”, o mesmo horror, foneticamente suavizado. No séc. XVIII, Fénelon***, teólogo e escritor francês, parte do princípio de que a necessidade de matar é um elemento do Mal inerente à natureza humana, cujo responsável é afinal, defendem outros, o próprio Criador. Como “substituto moral da guerra” e processo de preservar a paz internacional, Fénelon propõe, consequentemente, a manutenção, “em regiões remotas”, de reservas de animais ferozes, a luta com os quais permitiria aos homens não só cultivar a sua destreza e demonstrar a sua coragem, mas, sobretudo, libertar-se da sua tendência para se matarem uns aos outros. E eis, de súbito, a explicação – que não a justificação! – da existência das touradas no nosso país! Apenas uma dúvida subsiste: qual dos dois é o animal feroz: o touro ou o toureiro? I * Poeta e escritor alemão, crítico da política belicista de Hitler. 1921-1947. ** “Die Kegelbahn” – “A Pista de Bowling”. *** François de Salignac de la Mothe Fénelon, 1651-1715 Outubro 2006 TempoLivre 81 82.qxp 26-09-2006 20:28 Page 82 CRÓNICA | BATISTA-BASTOS Dança dos verões antigos Às vezes, ela dançava. Às vezes, pintava-se. Tudo em excesso. Rodava sobre si mesma, braços erguidos, tronco hirto, cabeça levemente pendente para trás, sorriso indefinido. OU UTILIZAVA O BÂTON E O ROUGE DE TAL modo que o seu rosto ficava grotesco, patético e trágico como o de um palhaço. Os lábios haviam murchado. As faces, encovado. No entanto, ainda mantinha a leveza antiga da sua figura, não totalmente macerada pelos pelo tempo por ela passado sem trégua nem clemência. O desejo aturdido de reverter à época em que fora nova e cobiçada, e a circunstância de abrir as janelas de par em par, quando dançava sozinha, ao som de músicas que só ela escutava, faziam com todo aquele cenário expusesse algo de delicado e de pungente. «Era muito bonita, eu». Dizia e sorria, levada por sentimentos, por emoções e por recordações que se não poluíam porque ela os alimentava permanentemente. Eu nunca soube, creio que nenhum de nós, os do bairro, o soube, as razões pelas quais ela se deixara a si própria, moradora numa solidão construída na Os rapazes do bairro continuavam a dinastia proletária: filhos de serralheiros, serralheiros seriam; filhos de carpinteiros, carpinteiros seriam e por aí fora. Coisas normais, coisas banais distância e, até, na soberba. Fora a rapariga mais bela do bairro. Era no tempo em que, nos meses de verão, as sociedades de recreio montavam verbenas ao ar livre, e as campanuláceas emolduravam os muros, e os perfumes provindos do Jardim Botânico deixavam as raparigas inebriadas e os rapazes doidos por elas, quando dançavam nos bailes de damas ao bufete e troupes-jazz com cantores que imitavam os brasileiros Dick Farney e Lúcio Alves, e o calor estonteava, e alguns pares davam escapadelas para os bosques de Monsanto, e estoiravam zaragatas, e resolviam-se as coisas com casamentos rápidos. «Era muito bonita, eu». 82 TempoLivre Outubro 2006 Fora. Filha de um funcionário público, um homem austero, grave e hirto, que aos domingos envergava uma farda verde para desfilar ou simplesmente para comparecer no quartel da Legião Portuguesa, na Penha de França, ela distinguia-se das outras raparigas porque usava tranças loiras e longas, vestidos de tecidos frágeis, nunca aparecia nos bailes populares, e permanecia horas a fio apoiada no peitoril da janela do rés-dochão onde vivia, observando o longe, que longe?, divisando coisas imponderáveis, que coisas? A família vivia num ambiente concêntrico, não se dava com ninguém e vigiava-a com minuciosa eficácia. Mãe, pai, tios e tias nunca se descuidavam na guarda da filha e sobrinha única. Os rapazes do bairro continuavam a dinastia proletária: filhos de serralheiros, serralheiros seriam; filhos de carpinteiros, carpinteiros seriam - e por aí fora. Coisas normais, coisas banais. «Era muito bonita, eu». Destinavam-lhe outro destino, a outra vida, a outro futuro. E ela, linda, linda, loira, loira, longínqua e remota, sempre debruada no peitoril da janela, vigiada, resguardada, protegida, sem perceber o fluir majestoso do tempo, as semanas enoveladas noutras semanas, os anos arrastados uns pelos outros. Nas verbenas dançava-se ao som de boleros e de sambas, «Sabor a ti», «Copacabana», ela apenas as ouvia, distante e longínqua, afastada de tudo, loira e linda, já a janela era só ela, e ela era já a janela, enliçadas uma na outra. O tempo revoluteou. As verbenas desapareceram. As pessoas dirigiram-se para os seus destinos comuns e inexoráveis. O bairro desvaneceu-se nas memórias. Morreram uns, traíram-se outros, todos envelheceram com humilde tristeza, suportando fardos e infortúnios vários. Só ela ficou, girando no ar antigo, envolvida em odores de folha e de flor, docemente tonta. E todos os verões, janelas escancaradas, ela dança as músicas e as canções que nunca dançou nem cantou. Todos os verões. «Era muito bonita, eu». I Project1 26-09-2006 21:41 Page 1 Project1.qxp 02-10-2006 21:03 Page 2