CLAREZA AO ENSINAR
Marcelo De Sousa Feitosa
RESUMO
Universidade Católica de Brasília
Este artigo trata de uma investigação a respeito da percepção de estudantes universitários sobre a clareza de seus
professores ao ensinar. Onde se procurou, através de pesquisas bibliográficas, definir os construtos (Explicação;
Apoio ao aluno; Fluência verbal; Repetição/Consolidação; Orientação de tarefa; Justificativa da instrução;
Ajustamento ao nível do grupo; Via escrita; Verificação do entendimento; Organização) que definem um
professor com mais clareza ao ensinar. Posteriormente numa análise de resultados obtidos através de pesquisas
com estudantes universitários, pode-se relacionar se tais construtos eram observados ou não nos professores.
Assim, mostrou-se de maneira geral qual a visão dos alunos em relação a seus professores e também a
importância da valorização de professores mais claros nas faculdades, como também fazer sugestões à futuros
professores e aos que já exercem a profissão, podendo cada um fazer uma auto-avaliação e refletir como poderão
contribuir para o aprimoramento da prática pedagógica.
Palavras-chave: clareza ; professor; educação.
1. INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa pode-se, verificar que o desempenho do professor, em especial de graduação,
relaciona-se diretamente aos resultados obtidos por seus alunos. Dentre várias formas de
comportamentos de professores que são relacionados com os desempenhos de alunos em sala
de aula, a clareza aparece como a mais promissora variável de um professor eficaz, capaz de
influir positivamente nos resultados obtidos pelos alunos.
Assim, especificando os objetivos deste artigo, pode-se resumi-los como os seguintes: a
definição do que venha a ser clareza, mostrando o diferencial que tem um professor com
consciência crítica do método que utiliza para transmitir o conhecimento, observando se
alguns dos detectores de clareza (construtos) são observados em professores, podendo
distinguir se estes são mais claros ou menos claros e posteriormente sugerir recomendações
que venham servir de contribuição para melhoria do desempenho de professores antes de
iniciar suas atividades educacionais e também para os que já exercem a docência.
Ensinar, “Trata-se de um caminho de mão dupla. Ensinar é ensinar a ensinar e aprender é
aprender a aprender. Não estamos falando, portanto, numa simples transmissão de
conhecimento, na expectativa de sua aceitação passiva. Até porque, sendo a educação um
componente da cultura, seu surgimento e evolução implicam mudança. Trata-se, portanto, de
um fluxo contínuo, que não mais se limita à chamada educação intencional. Num sentido mais
amplo, o processo é espontâneo e não admite fronteira” (Mariotti 1999). Dentre vários
pressupostos que possa servir de motivação para justificar a realização deste projeto, esta
citação pode mostrar a importância da educação na sociedade, onde ela se refere ao que é
ensinar e educar, e o que é aprender e estudar. Segundo Magdalena (1980) , quem estuda não
deve perder oportunidade em suas relações com os outros e com a realidade para assumir uma
postura curiosa: a postura de quem pergunta, a de quem indaga e de quem busca. Através da
educação, as pessoas podem reavaliar seus pontos de vista, o que ocasiona mudanças
comportamentais significativas.
_____________________________________________
Licenciando do curso de Matemática da Universidade Católica de Brasília – DF
e-mail: [email protected]
Ocorre que, se não houver uma reestruturação do ensino, as transformações que a educação
gera na sociedade tornar-se-á algo difícil e muitas das vezes impossível para alguns. Com isso
nos chama a atenção uma das mais completas revisões de pesquisa realizada por Rosenshine
(1971), citada no projeto de Magdalena(1980), onde foram analisados cerca de 50 estudos
nesta área. Desta revisão foram destacadas 11 categorias de comportamentos de professores
que parecem estar fortemente relacionadas com o comportamento do aluno e também com o
seu sucesso no aprendizado.
Dentre estas categorias, podemos citar a Clareza que, segundo o professor Florêncio², é uma
variável, passível de ser definida operacionalmente, apresentando-se composta de
comportamentos de inferência intermediária que, se desdobram em comportamento de baixa
inferência, capazes de discriminar professores claros e professores não claros.
Estes comportamentos formam os construtos, que caracterizam professores claros ou menos
claros. Estes construtos vem sendo enfocados em várias pesquisas, onde Magdalena (1980),
cita obras de Rosenshine e Fusrt, (1971). Mesmo com estes construtos, Magdalena (1980) ao
estudar obras de Kennedy (1978), constatou dificuldade de se operacionalizar a eficácia do
professor, pois, se forem tomadas estas considerações como base, ficam evidentes dois tipos
de dificuldades. A primeira, de ordem conceitual, refere-se à validade de um critério a partir
do qual um professor pode ser julgado eficaz ou não, a segunda relaciona-se a forma de medir
ou observar a fim de garantir a confiabilidade dos resultados. Portanto um professor pode ser
considerado eficaz ou não, dependendo de seus objetivos e de quais desempenhos seus alunos
são capazes de manifestar.
No primeiro caso, se os critérios de eficácia são propostos diversamente por grupos variados a
partir de diferentes metodologias o mesmo professor pode ser considerado claro e eficaz por
alguns e por outros não, daí decorre umas das maiores dificuldades de se alcançar critérios
válidos para se medir competência e clareza do professor. Já no segundo caso, se o critério for
baseado apenas na comparação dos resultados dos alunos, pode-se chegar a estabelecer
critérios falsos.
Com isso, rendimentos de estudantes servindo como indicadores da clareza do professor,
podem ser muitas daz vezes mais aparente do que real. Logo, concluímos que clareza do
professor é um construto que apresenta problemas de ambigüidade, isto porque se apresenta
como uma variável de alta-inferência, difícil, portanto de observação direta.
Mesmo com esta variável, Magdalena (1980) ao analisar obras de Bush (1976), Kennedy e
Cruickshank, (1979) e os estudos de revisões realizados por Rosenshine (1971) pode em
resumo concluir que, o professor claro, parece ser aquele que reúne diversos fatores, e estes
fatores formam os seguintes construtos:
a) Explicação;
b) Apoio ao aluno;
c) Fluência verbal;
d) Organização;
____________________________________
² Prof .José Florêncio Rodrigues Jr, (atual diretor do curso de Pedagogia da UCB), Clareza na instrução,
texto mimeografado. Ceas-Jf ,1992.
e)
f)
g)
h)
i)
j)
Repetição/Consolidação;
Orientação de tarefa;
Justificativa da instrução;
Ajustamento ao nível do grupo;
Via escrita;
Verificação do entendimento.
Desta forma a Clareza, é o comportamento que está ligado diretamente com quem adquire o
conhecimento, onde a sua falta pode contribuir significativamente para o insucesso
educacional. Não se trata apenas de insucesso, no sentido restrito da reprovação, mas também
a grande maioria não compreende o porquê estar estudando a matéria ou conteúdo, pois muitas
vezes o professor transmite apenas técnicas úteis para resolução de problemas propostos.
Segundo Cunha (1992), hoje em dia os professores são avaliados, de forma tradicional e já
ultrapassada, onde nas universidades existem critérios de promoção que são indicadores de
competência do professor, e estes são usados mais como referencial de carreira do que como
referencial para uma melhoria ou incentivo da prática de ensinar em sala de aula.
Assim, saindo um pouco do tradicional, usaremos a pesquisa aplicada a alunos de graduação,
para mostrar uma perspectiva geral de como são vistos os professores, no que diz respeito à
transmissão do conhecimento, não como forma de avaliação, mais sim para mostrar a
importância de se ter no sistema de educação, em especial no ensino superior, professores com
clareza ao transmitir a informação e que primem em tirar dos alunos posturas de educando
com papel mais ativo e interveniente na construção do seu próprio conhecimento. Mostrando
que um professor eficiente não é resultado de uma só atitude pedagógica, mais sim de um
conjunto de elementos que muitas das vezes não depende exclusivamente do professor e suas
ações, porém vale ressaltar a importância do aluno diante do que está sendo proposto. Hoje
temos vários materiais e instrumentos que podem contribuir para uma aula mais clara, onde
poderá ser utilizada nova tecnologia, como computadores e sistema de informação como
também atribuir maior importância à resolução de problemas interdisciplinares.
2. METODOLOGIA
A metodologia adotada para este projeto, foi de início o estudo de bibliografias e também
análise dos seguintes projetos publicados: Clareza do professor (Magdalena, 1980),
Professores claros obscuros no contexto universitário (Souza Junior, 2004) e Clareza na
Instrução (Florêncio JR, 1992). Em seguida foi elaborado um questionário e aplicado à 100
alunos de graduação da UCB (alunos de matérias de cálculo com foco em matemática
cursando o 1º semestre de 2005), com o intuito de observar se alguns dos detectores de clareza
relacionados são observados nos professores e observar alguns comportamentos que
distinguem um professor mais claro do menos claro.
Os alunos foram submetidos a um questionário, em duas versões, a partir de duas
perspectivas, ora enfocando o professor mais claro, ora o menos claro. Este instrumento
composto de 40 itens. O registro será feito por meio de uma escala composta por cinco
alternativas :nunca , raramente, às vezes, quase sempre, sempre. O questionário foi construído
com base em outros realizados anteriormente por Rodrigues Junior (2002), Souza Junior
(2004), onde os mesmos já haviam sistematizado os construtos a partir de referências
bibliográficas, contendo estudos nacionais e internacionais sobre o tema.
Os dados coletados foram processados pelo próprio pesquisador. Esta pesquisa esta limitada
principalmente à verificação do fenômeno por amostragem, com o principal objetivo de notar
a percepção do acadêmico acerca de clareza do professor, despertando apenas a curiosidade
de saber se o percentual dos construtos analisados e observados são praticados no meio
universitário.O fato de ser aplicado em um único ambiente educativo, ou seja, não possuindo
uma dimensão maior, e também de não haver um tratamento mais complexo dos dados
coletados, a pesquisa se limita a uma amostra que não corresponde á uma totalidade. Com o
tratamento dos resultados obtidos na coleta de dados, e com os resultados teóricos estudados,
serão feitas algumas considerações do assunto abordado, que permitirá sugerir algumas
recomendações no sentido de formação de professores como também na auto-avaliação dos
mesmos.
3. RESULTADOS
1.1. Os descritores de clareza :
Foram analisados individualmente, todos os 10 construtos de clareza, citados na introdução,
onde para cada construto foram feitas 2 perguntas tanto para o professor mais claro como para
o menos claro, segundo a opinião dos alunos, onde os 100 alunos que responderam o
questionário geraram um total de 400 respostas (200 para menos claros, 2 para cada 1 dos 10
construtos, e 200 para mais claro, 2 para cada 1 dos 10 construtos). Estes dados foram
dispostos em tabelas na qual antes de cada tabela haverá a definição do construto e logo após
as mesmas o comentário sobre os dados obtidos.
A. Ajustamento ao nível do grupo:
“O ajustamento ao nível do grupo, consiste em entender as possibilidades a partir do seu
conhecimento prévio por meio da ação realizada pelo professor, ajustando sua aula de acordo
com o nível da turma onde se torna indispensável uma revisão de pressupostos conceituais
viabilizando o entendimento por toda a turma. Caso não acorra este ajuste a aula poderá tornase monótona e desagradável gerando muitas das vezes uma falta de correspondência entre o
que esta sendo ensinado e o conhecimento prévio do grupo”, (Magdalena, 1980).
Tendo em vista que a aprendizagem é uma ação continuada então é importante o ajustamento
da instrução ao nível do grupo, não só no sentido de conteúdo, mais também no que diz
respeito a comportamento do professor, pois numa turma ele pode agir de certa maneira e
motivar a turma, porém em outra, esta mesma maneira já não poderá ser aceita como fator
motivador, pois cada grupo tem nível diferenciado. A tabela 1 refere-se ao procedimento do
construto ajustamento ao nível do grupo.
Tabela 1: Cruzamento do descritor ajustamento ao nível do grupo com a variável, mais
claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca
13
6,50%
3,25%
35
17,50%
8,75%
48
Raramente Ás vezes
14
29
7,00%
14,50%
3,50%
7,25%
46
58
23,00%
29,00%
11,50%
14,50%
60
87
Quase Sempre
45
22,50%
11,25%
38
19,00%
9,50%
83
Sempre
99
49,50%
24,75%
23
11,50%
5,75%
122
Nesta tabela pode-se observar que esse descritor é muito observado no professor mais claro, o
qual emprega sempre e quase sempre mais que seu colega menos claro. Analisando os dados
do menos claro vemos que aparenta um equilíbrio e nos mostra um contraste onde apenas
11,5% observam este construto sempre no professor contra quase 50% do outro. O item mais
observado na amostra foi o sempre em virtude do professor mais claro ter sido bastante
considerado nesta escala.
B. Justificativa da instrução:
Antes e durante a aula é fundamental, para se estabelecer clareza, que o professor justifique a
importância e esclareça a aplicabilidade do que esta sendo ensinado, mostrando a atividade a
ser realizada e explicando exemplos dados. A contextualização pode ser construída através do
estabelecimento da relação entre o novo e antigo, fazendo com que os alunos assimilem os
conteúdos com mais facilidade, mostrando também que ao justificar o que vai ser ensinado, o
professor estará contribuindo com a interdisciplinaridade. A tabela 2 refere-se ao
procedimento do construto, Justificativa da instrução.
Tabela 2: Cruzamento do descritor Justificativa da instrução com a variável, mais claro /
menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
7
10
25
66
3,50%
5,00%
12,50%
33,00%
1,75%
2,50%
6,25%
16,50%
26
53
61
40
13,00%
26,50%
30,50%
20,00%
6,50%
13,25%
15,25%
10,00%
33
63
86
106
Sempre
92
46,00%
23,00%
20
10,00%
5,00%
112
A preocupação em justificar a instrução é bastante evidente no professor claro, onde podemos
observar mais de 70% de uso do quase sempre e sempre, sendo que 46% dos professores
claros costumam usar sempre este descritor em suas instruções. Esses dados nos mostram que
há uma preocupação evidente, por parte dos professores, em justificar, mostrar, porquê o
aluno está estudando certos conteúdos, mostrando-o onde aplicar no mercado de trabalho ou
até mesmo em pesquisas. Já observando o professor menos claro nota-se uma certa dispersão,
não há uma unanimidade nos quesitos observados, onde a maioria fica em ás vezes ou
raramente, além do que apenas 10% utilizam o sempre, visto que este construto é tão
importante para o ensino universitário. Nota-se ainda que são expressivas as utilizações no
nunca(13%) pelo professor menos claro superando a utilização sempre(10%).
C. Organização:
“Quando um professor organiza sua instrução ele tem maior facilidade para ministrar suas
aulas e os alunos mais facilidade para assimilar o que esta sendo transmitido,” (Magdalena
1980). Uma aula planejada apresenta coerência e consistência em relação ao que se propõe a
ensinar.
Um professor organizado não é só aquele coerente ou que prepara antes suas aulas, mais
também, a organização se relaciona com o ambiente em que será ministrada a aula, o modo
que a desenvolve, respeitando o limite de cada aluno, mostrando claramente o que é pra ser
realizado. Sempre atualizando, porém nunca mostrando apenas novidades sem nexos com o
que já vinha sendo estudado. A organização é um caminho para os demais descritores pois
uma aula organizada mostra um caminho a ser seguido facilitando tanto o aprendizado do
aluno, como a maneira de o professor expor suas idéias. A tabela 3 refere-se ao procedimento
do construto Organização.
Tabela 3: Cruzamento do descritor Organização com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
7
8
20
62
3,50%
4,00%
10,00%
31,00%
1,75%
2,00%
5,00%
15,50%
70
28
39
35
35,00%
14,00%
19,50%
17,50%
17,50%
7,00%
9,75%
8,75%
77
36
59
97
Sempre
103
51,50%
25,75%
28
14,00%
7,00%
131
observa-se que o descritor organização apresenta uma freqüência que representa mais de 80%
de quase sempre e sempre dos casos em professor mais claro, mostrando que este construto é
um dos mais utilizados pela maioria dos professores de graduação, como também é um
construto de alta inferência, pois se torna fácil à percepção dos alunos em distinguir um
professor organizado de um não organizado. Já no professor menos claro tem uma freqüência
14% em sempre, concentrando em nunca e raramente e às vezes mais de 68% dos casos.
Portando estes dados nos mostram que o hábito de organizar uma aula é muito mais freqüente
em professores claros, onde apenas 3,5% nunca utiliza este construto.
D. Repetição / consolidação:
A assimilação do conteúdo pelo aluno é um dos maiores objetivos da instrução, portanto o
procedimento de repetição e consolidação deve ser um dos mais utilizados pelos professores.
Em pesquisas anteriores, Magdalena(1980), este construto foi observado tanto no professor
menos claro quanto no mais claro pois é um procedimento comum para os professores. Não se
trata apenas de repetir o que foi ensinado anteriormente, mais sim em contribuir para a fixação
sistemática da instrução, enfatizando detalhes do que está sendo ensinado, explicando várias
vezes até atingir um entendimento quase unânime por toda a turma, exemplificando tanto por
via oral como escrita. A tabela 4 refere- se ao procedimento do construto repetição /
consolidação.
Tabela 4: Cruzamento do descritor Repetição / consolidação com a variável, mais claro /
menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
9
8
23
46
4,50%
4,00%
11,50%
23,00%
2,25%
2,00%
5,75%
11,50%
22
56
58
29
11,00%
28,00%
29,00%
14,50%
5,50%
14,00%
14,50%
7,25%
31
64
81
75
Sempre
114
57,00%
28,50%
35
17,50%
8,75%
149
Este descritor é uma determinante do professor mais claro onde podemos observar 80% de
sempre e quase sempre, e apenas 8,5% no nunca e raramente. Já no professor menos claro
pode-se notar também uma elevação no sempre (17,5%) com predominância no às vezes e
raramente(57%), com um decréscimo significativo no nunca onde se observou apenas 11%.
Porém, esta melhora nos dados não corresponde ao que é necessário para uma melhora no
ensino, pois este construto como foi falado anteriormente em outras pesquisas, Magdalena
(1980), pode-se observar um certo equilíbrio nas pesquisas, porem aqui já não se pode
comprovar tal fato. Concluirmos mais uma vez que este construto como tantos outros é uma
ação pedagógica muito recorrente de professores mais claros.
E. Verificação do entendimento:
É uma das exigências atuais no contexto educacional, onde o professor comprova se o que foi
transmitido esta sendo assimilado e que o mesmo possa refletir sobre os resultados obtidos,
facilitando a observação de dúvidas que possam existir. Este construto não diz respeito a
aplicações de provas ou testes somente, mais ao realizar esta verificação o professor retoma
conceitos repetindo informações principais, quando possível de forma diferenciada, orientando
os alunos a desenvolverem as tarefas e estimulando o raciocínio, esta ação pode ser feita por
atividades previamente estabelecidas com participação da turma tanto no ambiente
educacional como fora dele. A tabela 5 refere-se ao procedimento do construto, Verificação
do entendimento.
Tabela 5: Cruzamento do descritor Verificação do entendimento com a variável, mais claro /
menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre Sempre
12
10
21
53
104
6,00%
5,00%
10,50%
26,50%
52,00%
3,00%
2,50%
5,25%
13,25%
26,00%
36
49
73
24
18
18,00%
24,50%
36,50%
12,00%
9,00%
9,00%
12,25%
18,25%
6,00%
4,50%
48
59
94
77
122
A verificação deste construto é de grande importância no ensino superior pois ele também
ajusta o conteúdo ao nível do grupo, pois o professor estando sempre verificando o que os
aluno está assimilando ele pode exigir mais do grupo ou ajudar o grupo em dificuldade no
aprendizado. Os dados apontam uma continuidade no que vem sendo observado, a
predominância do sempre e quase sempre nos professores mais claros. Porém nos professores
menos claros sempre aparece apenas 9%, porém raramente e às vezes chega a mais de 60%.
F. Via escrita:
Não podemos deixar de considerar a importância da utilização da via escrita como um
importante construto a ser observado na instrução. A letra legível facilita a leitura do aluno e
poupa tempo dos mesmos em copiar o que esta sento ensinado, como também na explicação
do que esta sendo escrito no quadro, os professores podem também contar com vários recursos
de apoio para o desenvolvimento satisfatório deste construto, como slides, projetores, não
limitando-se apenas à escrita manual. Esse construto não se limita apenas ao professor mais
ao aluno cabe participar da aula por meio de elaboração de resumos, resenhas, onde estes
estimulam o desenvolvimento da pesquisa. A tabela 6 refere-se ao procedimento do construto
via escrita.
Tabela 4: Cruzamento do descritor Via escrita com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
34
15
21
29
17,00%
7,50%
10,50%
14,50%
8,50%
3,75%
5,25%
7,25%
24
40
59
43
12,00%
20,00%
29,50%
21,50%
6,00%
10,00%
14,75%
10,75%
58
55
80
72
Sempre
101
50,50%
25,25%
34
17,00%
8,50%
135
Os professores percebidos como mais claros tiveram uma freqüência expressiva nessa
característica onde mais de 50% apresentam sempre como comportamento para este construto,
e mais de 25% do total geral de dados foram sempre observados nos mais claros. Assim a
amostra nos revela que a maioria dos professores tem uma preocupação de como os alunos
estão recebendo a informação. Verificando agora os dados relativos a professores menos
claros, veremos que há um equilíbrio nos dados apresentados (raramente-20%, às vezes29,5%, quase sempre-21,5%), mostrando que há uma utilização razoavelmente freqüente por
parte dos mesmos.
G. Explicação:
Durante todo o processo de aprendizado o professor deve procurar sempre que possível
explicar o que esta sendo ensinado, de forma mais clara e objetiva possível, para que haja uma
maior assimilação por parte dos alunos, marcando momentos importantes da aula,
respondendo pergunta dos alunos e explicando detalhadamente expressando-se corretamente, e
sempre que possível explicar individualmente em especial aos que apresentam dificuldades de
assimilação. A tabela 7 refere ao procedimento do construto Explicação.
Tabela 7: Cruzamento do descritor Explicação com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
4
5
40
43
2,00%
2,50%
20,00%
21,50%
1,00%
1,25%
10,00%
10,75%
21
45
47
53
10,50%
22,50%
23,50%
26,50%
5,25%
11,25%
11,75%
13,25%
25
50
87
96
Sempre
108
54,00%
27,00%
34
17,00%
8,50%
142
A explicação é freqüentemente utilizada pelo professor mais claro. Sua freqüência é percebida
com maior incidência em sempre e quase sempre (75,50%). A utilização pelo professor menos
claro apresenta um equilíbrio nas freqüências observadas. “A explicação é pratica comum no
ensino médio”, (Magdalena 1980). Essa tendência permanece no ensino superior tornando
prática comum entre os docentes considerados mais claros e esse fato justifica o equilíbrio
observado nos professores menos claros onde apenas 10,5% nunca utiliza a explicação.
H. Apoio ao aluno:
Segundo Souza Junior (2004), ao relacionar a clareza no contexto da aula em si, ou seja, no
ponto de vista de ocorrência no processo e ensino aprendizagem, é essencial que haja interação
professor-aluno e aluno-aluno. Então a troca de experiência, a relação conteúdo com a
realidade, o
acesso à informação adicional além do que se encontra em livros, o
fornecimento de material necessário para o desenvolvimento das atividades, são de grande
importância para os alunos que irão se sentir amparados, e saberão que quando precisarem
terão o professor como ponto de apoio em sua caminhada acadêmica. O apoio ao aluno não se
resume apenas em atitudes pressupostas pelo professor mais também os alunos devem ser
incentivados a fazer perguntas, indagações, realizando desafios e questionamentos propostos.
A tabela 8 refere-se ao procedimento do construto, Apoio ao aluno.
Tabela 8: Cruzamento do descritor Apoio ao aluno com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
8
9
18
37
4,00%
4,50%
9,00%
18,50%
2,00%
2,25%
4,50%
9,25%
42
46
61
27
21,00%
23,00%
30,50%
13,50%
10,50%
11,50%
15,25%
6,75%
50
55
79
64
Sempre
128
64,00%
32,00%
24
12,00%
6,00%
152
Este descritor não pode ser considerado uma característica marcante do ponto de vista para o
professor menos claro, pois os dados encontram-se bastante dispersos, isso se deve ao fato de
que o respondente pode ter levado a um lado pessoal, onde uns se sentem mais apoiado pelo
professor do que outros, muitas das vezes esse apoio não depende simplesmente do professor
mais da desenvoltura do aluno em solicitar apoio, e também, porque no ensino superior o
relacionamento professor-aluno parece ser menos intenso. Porém no mais claro existe uma
tendência relativamente significante ao sempre (64%).
I. Fluência verbal:
O comportamento lingüístico do professor é um fator que interfere na qualidade da instrução.
No Brasil costuma-se comparar o domínio da língua culta com o grau intelectual do indivíduo.
Bagno, citado por Magdalena (1980), relata que se um professor comunica-se em um nível de
linguagem que não corresponde à variável padrão da língua, tende a ser considerado
inconsistente em sua formação acadêmica. Porém, deve-se levar em conta que o importante é
a necessidade de existir ajustamento do nível da linguagem do professor ao nível do aluno, ou
seja, não pode se confundir uma linguagem correta com uma linguagem complexa, ou
especificamente técnica, onde de nada ajudará na contribuição da clareza. O professor deve
respeitar os preceitos básicos de concordância e regência e fazer uso de palavras comuns à
realidade lingüística dos alunos, dando explicação oral e escrita, pronunciando pausadamente
de forma que os alunos entendam e também não esquecendo o posicionamento perante o grupo
ouvinte. A tabela 9 refere-se ao procedimento do construto Fluência verbal.
Tabela 9: Cruzamento do descritor Fluência verbal com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre
8
13
22
28
4,00%
6,50%
11,00%
14,00%
2,00%
3,25%
5,50%
7,00%
21
28
50
34
10,50%
14,00%
25,00%
17,00%
5,25%
7,00%
12,50%
8,50%
29
41
72
62
Sempre
129
64,50%
32,25%
67
33,50%
16,75%
196
A fluência verbal, pode ser considerada como um descritor comum tanto para o professor
menos claro quanto para o mais claro, tendo uma tendência favorável ao professor mais claro.
Conforme a tabela acima mais de 78% da freqüência do professor mais claro estão em quase
sempre e sempre e apenas 4% em nunca. Observando o menos claro, mais de 50% utiliza
quase sempre e sempre. Confirmando no entanto a importância do uso deste construto,
fluência verbal, no ensino, pois este é indispensável em qualquer nível de ensino pois esta
associada ao conhecimento formal que o professor possui e seu domínio da linguagem técnica
da área em que atua.
J. Orientação de tarefa:
Consiste em orientar o aluno para o que será realizado, tanto pelo professor quanto pelo aluno.
O aluno precisa entender o que o professor esta transmitindo, e também saber como ira realisar
o que é solicitado. Um fato importante é que este construto relaciona-se com o de Apoio ao
Aluno, pois no simples fato de o professor estar orientando o aluno, revisando assuntos
importantes, lendo com os alunos assuntos complexos de entendimento, explicando como deve
ser feita cada tarefa etc, não deixa de ser um apoio. Porém não coloca toda a responsabilidade
no professor em apoiar, pois na orientação de tarefa o aluno pode buscar outros recursos. A
tabela 10 refere-se ao procedimento do construto Orientação de tarefa.
Tabela 10: Cruzamento do descritor Fluência verbal com a variável, mais claro / menos claro
Mais Claro - casos
% em mais claros
% do total
Menos claro - casos
% em menos claros
% do total
Total gera l - casos
Nunca Raramente Ás vezes Quase Sempre Sempre
15
12
19
44
110
7,50%
6,00%
9,50%
22,00%
55,00%
3,75%
3,00%
4,75%
11,00%
27,50%
54
53
52
25
16
27,00%
26,50%
26,00%
12,50%
8,00%
13,50%
13,25%
13,00%
6,25%
4,00%
69
65
71
69
126
A orientação de tarefa é um construto bastante utilizado pelo professor mais claro, onde
predomina mais de 77% em sempre e quase sempre, porem o professor menos claro utiliza
apenas 20,5% de sempre e quase sempre. Esperava-se destes um melhor resultado, pois a
orientação como já foi relatado se assemelha ao construto de apoio ao aluno, onde neste houve
aparentemente um equilíbrio na distribuição das freqüências, e também pelo fato de os
professores universitários terem uma certa experiência na orientação com vivencias próprias
durante seus processos de formações.
4. DISCUSSÃO
Esta pesquisa teve como objetivos; definir clareza, mostrar o grande diferencial obtido pelo
professor que tem consciência critica do método que utiliza para transmitir o conhecimento,
verificar se alguns dos detectores de clareza relacionados são observados nos professores,
observar alguns comportamentos observáveis que distinguem um professor mais claro ou
menos claro, sugerir algumas recomendações no sentido de formação de professores como
também na auto-avaliação dos mesmos, contribuir para a futura melhoria do desempenho do
professor antes de iniciar suas atividades educacionais e também para os que já exercem
docência.
Porém, pode-se traçar um perfil do professor percebido como mais claro, pois através destes
dez construtos podemos perceber que os professores mais claros manifestam características
peculiares e de fácil observação. Assim o professor mais claro é aquele que manifesta
freqüentemente os seguintes descritores de clareza: Explicação, organização, repetição
consolidação, orientação de tarefa, justificativa da instrução e ajustamento ao nível do grupo.
Os demais construtos também são utilizados pelo professor mais claro, porém numa freqüência
menor.
5. CONCLUSÃO
Com os resultados obtidos permitiu-se que se chegar a seguinte conclusão, a Clareza é um
aspecto importante no contexto educacional, em especial o universitário, e que este construto
transcende a expectativa de simplesmente melhorar a explicação do conteúdo, mais sim em
justificar o que esta sendo ensinado, ao uso de uma exposição clara e ajustada ao grupo,
aproveitando que atualmente tem-se vários recursos didáticos que tornem uma aula mais
atrativa e clara. Percebe-se também que o professor claro tem consciência do método que
utiliza na transmissão do conhecimento e que ao ceder um espaço para que o aluno participe
ativamente da instrução, estará reconhecendo que a instrução como um todo fica beneficiada,
gerando em sua prática docente uma realidade na qual o objetivo de aprender o que é ensinado
torna-se algo notório para o aluno.
Fica aqui a sugestão que para uma melhoria no ensino, superior, possa ser realizados mais
estudos relacionados à Clareza, criando novos construtos com intuito de inovar a prática
docente através do uso de procedimentos que tornem as aulas mais interessantes e proveitosa
aos alunos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA
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Centro de estudos e aperfeiçoamento dos servidores da Justiça Federal, 1992.
Gil, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa, São Paulo: Atlas, 1999.
Isabel da Cunha, Maria . O bom professor e sua pratica, São Paulo, Papirus editora, 1992.
Junior, Ailton Paulo de Oliveira , Normas para os artigos científicos do trabalho de
conclusão de curso II - Licenciatura em Matemática da Universidade Católica de Brasília,
2005, Disponível em: < http://www.ucb.br/graduação on-line>, acesso em :14 de junho de
2005.
Magdalena, B. C. Percepção de alunos sobre clareza do professor: Um estudo na terceira
serie do segundo grau. Dissertação de Mestrado, UFRS, 1980.
MARIOTTI, Humberto. Organizações de Aprendizagem. Editora Atlas, 2ª Edição, São
Paulo/SP, 1999. Disponível em: <ICPG- Instituto Catarinense de Pós-Graduação –
www.icpg.com.br> acesso em: 19 de Setembro de 2004.
Martins, Gilberto de Andrade. Guia para elaboração de monografias e trabalhos de
conclusão de cursos. São Paulo : Atlas , 2000.
Rodrigues Junior,J .F. Manual do instrutor. Editora Universa, Brasília. 2002.
Sousa Junior,V.F. Professores claros e obscuros no contexto universitário.UCB dissertação
de mestrado, 2004.
Zanotto, Maria de Loudes Bara. Formação de professores: a contribuição da análise de
comportamento. São Paulo, EDUC, 2000.
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Clareza ao Ensinar - Universidade Católica de Brasília