Comunicado 62 Técnico ISSN 1414-9850 Junho, 2008 Brasília, DF Desenvolvimento de equipamento para debulhar vagens de hortaliças leguminosas João Bosco Carvalho da Silva1 José Lindorico de Mendonça2 Esta publicação tem como objetivo descrever a construção de um equipamento que visa separar mecanicamente os grãos verdes contidos em vagens de hortaliças leguminosas, como o feijão-verde (Vigna unguiculata), a soja–verde (Glycine max), o guandu (Cajanus cajans), a fava (Phaseolus lunatus) e a ervilha (Pisum sativum). Princípio de funcionamento Os grãos contidos em vagens se separam da casca por meio da fricção das vagens ao passarem entre pinos de borracha, semelhantes aos que são utilizados em depenadores de aves. Uma parte dos pinos é mantida fixa e 1 2 outra se movimenta, mantendo uma distância de aproximadamente cinco milímetros entre os dedos fixos e os móveis. Ao colocar as vagens no equipamento, estas são arrastadas pelos pinos móveis e sofrem fricção ao serem forçadas a passarem nos espaços de distanciamento entre os pinos fixos e móveis. Construção do equipamento Os pinos móveis são instalados na face externa de um cilindro ou na lateral de uma roda acionada por um eixo e um motor com um redutor de velocidade. Os pinos fixos são instalados na face interna de um cilindro aberto ou de um segmento de roda, de Eng. Agr., DSc., Embrapa Hortaliças, Brasília-DF. E-mail: [email protected] Eng. Agr., MSc., Embrapa Hortaliças, Brasília-DF. E-mail: [email protected] ? 2 Desenvolvimento de equipamento para debulhar vagens de hortaliças leguminosas forma que, quando em movimento, os pinos móveis passem próximo aos pinos fixos (Figuras 1 e 2). Detalhes da construção Na Figura 1, é apresentado um esquema do funcionamento do equipamento, em forma circular, e na Figura 2, o equipamento no formato cilíndrico. Na Figura 1, parte dos pinos de borracha (1) é instalada de forma fixa (2) ou móvel (3), com distanciamento de aproximadamente 5 mm entre eles. Na estrutura (8), é montada uma plataforma fixa (4) para sustentar uma roda com aproximadamente 30 cm de diâmetro, tracionada pelo eixo (5) que se liga a um motor elétrico dotado de um redutor, para ter velocidade final de aproximadamente 100 rpm. Na face superior da roda são feitos furos de 21 mm de diâmetro, onde são instalados pinos de borracha (3), seguindo-se círculos circunscritos de forma que as diferenças entre os raios destes círculos seja de 25 mm, o que corresponde ao diâmetro da base dos pinos de borracha, para que, no espaço entre dois círculos, passe o pino (2) que vai ser instalado na estrutura fixa (4), na face oposta à localização da roda. As vagens são colocada na boca de entrada (6), passam por entre os pinos de borracha, sofrendo fricção, quando ocorre a separação dos grãos contidos nas vagens. Tanto as cascas das vagens quanto os grãos saem pelo fundo (7) e, posteriormente, são separados por meio de peneiras. Uma calha conduz os grãos e as cascas até um contentor, onde são separados manualmente com uso de uma peneira de furos grandes. O interruptor elétrico é o de dupla entrada, qu epermite inverter periodicamente, a rotação do motor para desembuchar o equipamento quando muitas cascas das vagens sxe entrelaçam nos pinos de borracha. Figura 1. Debulhador de vargem montado na forma circular. Desenvolvimento de equipamento para debulhar vagens de hortaliças leguminosas Na Figura 2 é apresentado o esquema de construção do modelo na forma circular, onde os pinos de borracha (1) são fixados em um cilindro (2), com aproximadamente 20 cm de diâmetro, formando anéis distanciados entre si de 25 mm. A distância entre os anéis é correspondente ao diâmetro da base dos pinos para permitir a passagem dos pinos fixos que serão instalados na estrutura externa (4). O cilindro (2) é trespassado por um eixo que pode ser acionado manualmente por meio de uma manivela (7) ou por meio de motor elétrico dotado de redutor de velocidade. Na estrutura (3) que sustenta todo o conjunto, é fixado o cilindro com pinos de borracha (1) e também dois segmentos circulares fixos (4) onde são instalados os pinos de borracha fixos, distanciados de 25 mm, para permitir a passagem dos pinos móveis. As vagens são colocadas na abertura (5), passam por entre os pinos fixos e móveis, sofrem a fricção para a debulha e tanto os grãos quanto as cascas das vagens saem pela calha (6) e são separado posteriormente com uso de peneira. Utilidade do equipamento O equipamento é destinado a debulhar vagens verdes de hortaliças leguminosas, como o feijão-verde, a soja–verde, o guandu, a fava e a ervilha-verde. Este equipamento é de grande utilidade para produtores e comerciantes de vagens verdes, permitindo agregar valor ao produto ao ofertá-lo debulhado, uma vez que o trabalho de debulha manual tem baixo rendimento. Rendimento Figura 2. Debulhador de vargem construído na forma de cilindro. Foi construído o protótipo circular (Figura 3) que foi avaliado por um feirante durante três semanas e por técnicos da Embrapa Hortaliças. 3 4 Desenvolvimento de equipamento para debulhar vagens de hortaliças leguminosas A média de várias medições feitas com a debulha de feijão-verde ou feijão-de-corda, a remoção foi 73% dos grãos na primeira passada e 82% com duas passadas. As vagens que continuam grãos após a segunda passada eram as colhidas no estágui de “verdes”, que apresentavam os grãos bastantes aderidos à casca das vagens, dificultando a sua remoção. Os grãos removidos mecanicamente se apresentavam inteiros, com os tegumentos intactos e sem amassaduras. O tempo de debulha foi de sete minutos por quilogrma de grãos quando se fez uma passada e dez minutos para duas passadas. O rendimento de debulha foi de 46% em relação ao peso das vagens, resultando no tempo de debulha de quantro minutos por quilograma de vagens, ou quarenta minutos por caixa. O rendimento de debulha manual é bastante variável. Uma pessoa bem treinada gasta cerca de uma hora para debulhar um quilograma de grãos. Utilizando o equipamento, além de reduzir o tempo de atendimento ao cliente, o comerciante poderá vender maior quantidade de produto. Havendo tempo livre, o comerciante pode ainda recuperar os grãos retidos nas vagens que não se debulharem. Embora o protótipo tenha funcionado bem nos testes com feijão-verde, algumas modificações podem ser feitas para reduzir o tempo de processamento e aumentar a eficiência da debulha: Aumento no número de pinos de borracha, o que implica no aumento das dimensões internas do equipamento. Redução no espaçamento entre os pinos. Confecção de pinos com formatos expandido lateralmente, para aumentar a superfície de atrito entre as vagens e os pinos. Estas modificações, bem como a construção de modelo proposto na forma de cilindro (Figura 2), não foram realizadas. Para a construção do protótipo foram utilizados os pinos de borracha de depenadores de aves, como os da marca Prosperidade - www. prosperidade.com.br Feijão–verde (Vigna unguiculata) Figura 3. Debulhador de vargens verdes. É uma hortaliça muito importante para o Nordeste, Norte, Centro-Oeste do Brasil e ainda para o Norte de Minas Gerais, sendo Desenvolvimento de equipamento para debulhar vagens de hortaliças leguminosas bastante consumido nestas regiões. Não existe no Brasil um equipamento para debulha de vagens verdes, que é realizada manualmente, aumentando o custo do produto e limitando sua comercialização na forma de grãos verdes minimamente processados. Segundo a FAO, no mundo a área total colhida em 2004 de feijão-verde, incluindo o feijãovagem (Phaseolus vulgaris), foi de 893.010 ha, com uma produtividade média de 7.043 kg/ha. A China é o país com a maior área cultivada (203.030 ha), seguida da Indonésia (150.000 ha), Turquia (66.000 ha), Itália (23.290 ha), Egito (21.300 ha), Espanha (17.700 ha) e EUA (16.840 ha), que juntos cultivam mais de 70% da área mundial. O Brasil não consta nas estatísticas da FAO para esta cultura. Pelas suas características de ciclo curto e tolerância a estresse hídrico, o feijão-de-corda, feijão macassar, ou ainda feijão caupí, como é conhecido no Brasil, ocupa especial relevância no suprimento alimentar e na composição da renda familiar do nordestino. A área cultivada com a cultura do feijão-verde no Brasil em 1996, segundo o IBGE foi de 40.503 ha, sendo que a Região Nordeste cultiva a maior área (35.466 ha) e, em segundo lugar, vem a Região Sudeste com 3.306 ha, que juntas somam mais de 95 % da área. Na América do Sul, além do Brasil, os países que cultivam as maiores áreas são o Equador (25.500 ha); o Peru (7.800 ha); e o Chile (5.600 ha). Soja-verde (Glycines max) A soja é uma cultura que hoje está presente em quase todos os estados brasileiros. Na atualidade, existe um grande apelo para o consumo de alimentos funcionais, e a soja tem a isoflavona, substância que atua no controle do balanço do hormônio feminino, a progesterona, e que também está relacionado com incidência de câncer de mama e de próstata. Uma das formas de consumo em que a soja apresenta os mais baixos níveis de rejeição pelo consumidor, é a soja-verde (ou soja-hortaliça), que no Brasil ainda é praticamente desconhecida. O uso do equipamento para debulha é essencial para que esta nova hortaliça seja difundida e adotada pelo consumidor brasileiro. A Embrapa Soja lançou recentemente a ‘BRS267’, a primeira cultivar de soja destinada ao cultivo como soja–verde. Para viabilizar a comercialização de grãos verdes de soja existe a necessidade de se desenvolver uma debulhadeira de vagens verdes. O potencial da soja-verde no Brasil tende ser maior que o do feijão-verde. Ervilha (Pisum sativum) A ervilha é um grão que apresenta elevado valor nutritivo, principalmente em proteínas e sais minerais. No Brasil, em 2004, a área cultivada foi de 3.600 ha, sendo que em uma parte desta área são cultivadas variedades destinadas a colheita de grãos verdes, segmento que tende aumentar em razão da qualidade superior destes grãos. O que limita o crescimento da área plantada com ervilhas para grãos verdes é justamente a falta de um debulhador, de pequeno porte, para vagens verdes, sendo que atualmente a operação é feita manualmente em escala familiar. Outras Vagens A fava-verde (Phaseolus lunatus) e o guandu (Cajanus cajans) são bastante cultivados no Nordeste do Brasil. Os grãos são consumidos no estádio verde e também no estádio seco, e são debulhados manualmente em razão da falta de um debulhador mecânico para vagens verdes. 5 Comunicado Técnico, 62 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Hortaliças Endereço: BR 060 km 9 Rod. Brasília-Anápolis C. Postal 218, 70.539-970 Brasília-DF Fone: (61) 3385-9115 Fax: (61) 3385-9042 E-mail: [email protected] 1ª edição 1ª impressão (2008): 1000 exemplares Comitê de Presidente: Gilmar P. Henz Publicações Editor Técnico: Flávia A. Alcântara Membros: Alice Maria Quezado Duval Edson Guiducci Filho Milza M. Lana Expediente Normatização Bibliográfica: Rosane M. Parmagnani Editoração eletrônica: José Miguel dos Santos