1 Pigmentos à Base de Fe2TiO4 Obtidos pelo Método Pechini Silva, R. F. L.(1); Cassia-Santos, M. R.(1); Santos, I. M. G.(1); Souza, A. G.(1); Soledade, L. E. B.(1); Longo, E.(3); Lima, S. J. G.(2) [email protected] (1) Química/LTM, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Química/ LIEC, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) (3) Engenharia Mecânica/LSR, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). (2) Resumo Pigmentos cerâmicos são óxidos inorgânicos, estáveis em relação à cor, a altas temperaturas. A cor do pigmento é proveniente da presença de um íon cromóforo, neste caso o ferro, na própria matriz. A síntese é feita pelo método dos precursores poliméricos que consiste na quelação dos cátions metálicos seguida de sua imobilização em uma rede polimérica, obtida a partir da esterificação do citrato metálico com etileno glicol. A resina é em seguida calcinada e depois caracterizada por análise termogravimétrica (TG). Após nova calcinação entre 500 e 1000 ºC, a caracterização é feita por difração de raios-X (DRX) e espectroscopia de infravermelho (IV). As curvas de TG apresentaram duas etapas de decomposição: a primeira referente à perda de água e gases adsorvidos, e a segunda à decomposição da matéria orgânica. Os difratogramas apresentam-se monofásicos, indicando o sucesso na síntese dos pigmentos. Os espectros de IV apresentam as bandas Me - O. Palavras-chave: pigmento cerâmico, Pechini, análise térmica 2 INTRODUÇÃO Nas industrias, a cor representa um dos parâmetros principais para a obtenção de um material cerâmico.1 Embora pigmentos a base Fe2TiO4 ainda sejam pouco estudados e pouco conhecido na indústria cerâmica, é sabida a sua aplicabilidade nas industrias devido a sua propriedade ferromagnética. Pigmentos cerâmicos são pós a base de óxidos inorgânicos, estáveis em relação à cor, quando dissolvidos em vidros ou esmaltes cerâmicos, a altas temperaturas, apresentando propriedades ópticas e físicas bem definidas. As cores resultantes de cada pigmento são resultados da adição de íons cromóforos (como o metal de transição Fe), a uma matriz (óxido ou sistema de óxidos TiO2) inerte.2 O sistema FexOy - TiO2 não somente apresenta atividades fotocatalísticas, mas também é usado como catálise de óxido binário no processo de desidrogenação, sínteses de diamantes e material resistente à corrosão. Prévios estudos têm investigado a interação de gels Fe2O3 – TiO2 à redução de sistemas do Fe2O3 – TiO2 e reações pelo qual resultam na formação do Fe2TIO5.3 Como mostra a figura 1, várias são as fases possíveis para o sistema TiO2 – Fe2O3 – FeO, como por exemplo, Fe2TiO5, Fe2Ti2O5, FeTiO3 e Fe2TiO4 . Figura 1 – Figura que representa as várias fases possíveis do sistema TiO2 – Fe2O3 – FeO.4 3 A estrutura do Fe2TiO4 é do tipo espinélio, que consiste em um arranjo cúbico de face centrada (CFC) de ânions oxigênio, com um oitavo dos 64 sítios tetraédricos e metade dos 32 sítios octaédricos ocupados por cátions metálicos. Por sua vez, o Fe2TiO5 tem estrutura pseudobroquita. É um óxido isolante contendo somente um tipo de íons magnético Fe3+, que consistem em uma célula unitária ortorrômbico, no qual, de acordo com a difração de nêutron, Fe3+ e Ti4+ são distribuídos randomicamente nos sítios octaédricos ocupando os locais 8f e 4c. 5 Métodos químicos têm sido usados na síntese da pseudobroquita. Neste trabalho, foi usado o método dos precursores poliméricos, que consiste na formação de um quelato entre cátions metálicos e um ácido α-carboxílico (Ex. ácido cítrico). Posteriormente, este quelato é polimerizado a partir da esterificação do citrato metálico com um poliálcool (etilenoglicol), levando à formação de um poliéster, que contém na sua estrutura complexos de íons metálicos homogeneamente distribuídos (Figura 2). Figura 2 -Representação da Polimerização no Método dos Precursores Poliméricos6. Geralmente, o ácido cítrico é usado como agente quelante e o etilenoglicol como agente polimerizante. A rede polimérica é calcinada, resultando num pó cerâmico, apresentando um controle preciso de estequiometria, controle do tamanho das partículas, boa morfologia dos pós.7 O objetivo do trabalho consiste em obter pigmentos cerâmicos, a partir do espinélio do metal de transição e titânio, Fe2TiO4, usando o método dos Precursores Poliméricos. 4 METODOLOGIA O citrato de titânio foi preparado conforme descrito na literatura8. Fe2TiO4 foi preparado sob aquecimento e agitação, dissolveu-se o ácido cítrico em citrato de titânio, sendo que a solução permaneceu sob aquecimento a uma temperatura de aproximadamente 70 ºC. Após a dissolução do ácido, acrescentou-se o composto férrico utilizando-se Fe(NO3)3.9H2O. Foi mantida a relação ácido cítrico:metal de 3:1. Em seguida, foi adicionado o etilenoglicol em uma razão, em massa, de 40:60 em relação ao ácido cítrico. Por volta de aproximadamente 100 ºC, ocorreu a polimerização da solução a partir da reação de esterificação do citrato metálico com o etilenoglicol. Em seguida, houve a redução do volume da resina, até metade do valor inicial, para que ocorresse um aumento na viscosidade da solução, resultando em um gel polimérico. O béquer com a solução foi colocado em um forno tipo mufla para uma calcinação primária de 300 ºC/1 h (esta calcinação decompõe o polímero dando origem a uma resina expandida ou pó precursor). O pó precursor é constituído por um material semi-carbonizado. Posteriormente, este material foi desaglomerado em almofariz, passado por uma peneira de mesh 100 e submetido a uma análise térmica, difração de raios-X e infravermelho. A análise termogravimétrica e termodiferencial foi realizada de forma simultânea em um aparelho da TA instruments, modelo SDT 2960. Foi utilizada uma atmosfera de ar sintético, com um fluxo de 110 mL.min -1 , uma razão de aquecimento 10 0C-min-1 e cadinhos de alumina. Os espectros de absorção na região do infravermelho foram obtidos através de um Espectrofômetro, marca BOMEM, modelo, MB-102, na região de 4000 a 500 cm-1, com pastilhas de KBr. A caracterização por DRX foi feita utilizando um equipamento Siemens modelo D-5000, com passo de 0,03 e tempo 1s, radiação de KαFe (λ = 1,9373 Å e θ = 30 a 90º) e monocromador de grafite, incidência normal à temperatura ambiente. Os resultados da análise foram comparados e analisados com as fichas cristalográficas JCPDS. O procedimento descrito para a obtenção dos pigmentos pode ser observado no fluxograma apresentado na Figura 3. 5 Citrato de Titânio Ácido Cítrico Adição de Sais dos cromóforos Etileno Glicol Aquecimento 100 ºC Agitação Resina Polimérica Calcinação Primária a 300 oC/1 h Análise Térmica Desaglomeração Formação do pó precursor Calcinação DRX Infravermelho Figura 3 – Fluxograma da Síntese do Pigmento RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da análise termogravimétrica (TG), foram avaliadas as perdas ou ganhos de massa do pó-precursor pelo aumento gradual da temperatura. Nestes eventos térmicos, ocorre uma mudança na massa da amostra, devido a algumas reações como: sublimação, vaporização, oxidação, redução, dessorção, absorção ou decomposição, que são observadas pela TG. A análise térmica diferencial (DTA) é utilizada para acompanhar os diferentes eventos envolvidos, como por exemplo, transições de fase, através dos processos endotérmicos ou exotérmicos. As curvas térmicas diferenciais mostram variações de energias térmicas, havendo ou não variação da massa. A partir do resultado da curva termogravimétrica (Figura 4) do composto, observou-se que ocorreram três etapas de decomposição térmica no precursor, sendo a primeira atribuída à perda de água e alguns gases adsorvidos na superfície do pó e a segunda e a terceira atribuídas à decomposição da matéria orgânica. O resultado obtido da curva TG para o intervalo de temperatura no primeiro evento foi 6 entre 38 – 130 ºC com perda de massa de 5% e no segundo evento foi entre 246 – 338 ºC e a sua perda de massa foi de 11%. A curva DTA (Figura 4) apresentou pico exotérmico, indicando uma grande quantidade de energia liberada pelo método dos precursores poliméricos, devido à grande quantidade de matéria orgânica utilizada. Esta sofre um processo de combustão que pode levar a um aumento local da temperatura durante a calcinação provocando a oxidação das cadeias carbônicas e conseqüentemente provocando a formação de agregados. 14 100 TG DTA 12 8 90 6 4 80 2 DTA Perda de Massa (%) 10 0 -2 70 -4 0 200 400 600 800 1000 Temperatura ºC Figura 4 - Sobreposição das curvas TG e DTA para o precursor do espinélio Fe2TiO4. O resultado analisado na curva DTG e DTA para o espinélio Fe2TiO4, apresentaram praticamente a mesma temperatura de pico. A temperatura da DTG para o primeiro evento foi de 330 ºC e para o segundo evento foi de 357 ºC e para DTA foi, no primeiro evento de 332 ºC e no segundo de 351 ºC. A Figura 5 ilustra o resultado de difração de raios X do precursor cerâmico calcinado nas temperaturas de 600, 800 e 1000 ºC por uma hora. Foi observada a formação da pseudobroquita, provavelmente devido à predominância do Fe3+, uma vez que no espinélio é observado, predominantemente, o Fe2+, enquanto a pseudobroquita é caracterizada pela presença do Fe3+. 7 250 1000ºC Intensidade 200 150 800ºC 100 50 600ºC 0 30 40 50 60 70 80 90 2θ Figura 5 - Difratograma do Fe2TiO4 nas temperatura de 600, 800 e 1000 ºC,observando a formação de um novo composto com estrutura pseudobrokita. Os resultados de espectroscopia de infra-vermelho são apresentados na Figura 6. Dependendo da quantidade de ligações do titânio coordenado com o anion oxigênio, pode ser formada uma estrutura octaédrica (seis ligações), tetraédrica (quatro ligações) e piramidal (cinco ligações). Tipos diferentes de coordenação, têm diferentes freqüências de vibração no espectro infravermelho. A absorção do Ti-O octaédrico é em 600 cm-1, tetraédrico é 750-700 cm-1 e piramidal é de aproximadamente de 600 cm-1 com ocorrência de bandas entre 900-800 cm-1.9 A Figura 6 mostra absorção em 659,6 cm –1 caracterizando a presença do Ti-O na sua coordenação octaédrica, característica da pseudobroquita. Por sua vez, a banda em 484 cm-1 é devido ao Fe3+ em sítio octaédrico. Transmitância (u. a.) 90 80 70 60 50 1000ºC 800ºC 600ºC 40 30 659.6 484.09 20 2000 1500 1000 500 -1 núm ero de onda (cm ) Figura 6 – Espectros de IV do Fe2TiO4 nas temperaturas 600, 800 e 1000ºC 8 CONCLUSÕES Foram produzidos pós cristalinos, homogêneos e monofásicos, pelo método dos precursores poliméricos. Observou-se a formação do composto Fe2TiO5 com estrutura pseudobroquita, causado pela oxidação do cátion Fe+2 / Fe+3. Na espectroscopia de infravermelho, as bandas de absorção tanto comprovaram a presença de titânio, quanto a presença do ferro no composto, em sítios octaédricos. AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq pelo apoio financeiro do projeto universal edital 02/2003 e ao CT – Infra pelo apoio à manutenção de equipamentos. REFERÊNCIAS 1. BONDIOLI, F.; MANFREDINI, T.; OLIVEIRA, A. P. N., “Pigmentos Inorgânicos: projeto, Produção e Aplicação Industrial”. Cerâmica Industrial, 3 (1998)13 – 17. 2. Conceitos sobre Pigmentos Cerâmicos. Acessado em: http://www.liec.ufscar.br/ceramica/pesquisa/pigmentos/index.html Acesso em: 14 de fevereiro de 2005. 3. HUANG, W., et al., “Preparation and characterization of FexOy-TiO2 via sonochemical Synthesis”. Materials Research Bulletin, 37 (2002)1721-1735. 4. TAYLOR, R. W., “Liquidus temperature in the system FeO – Fe2O3 – TiO2”. J.Am. Ceram. Soc., 46 (1963) [6] 276-279. 5. KHRAMOV, D.A., et al., “The spin glass transition in tin-containing pseudobrookite”. Journal of Magnetism and Magnetic Materials, 150 (1995) 101-104. 6. KAKIHANA, M., J. Sol-Gel Sci. And Tech., 6 (1996) [7]. 7. LESSING, P. A., “Mixed-cation oxide powders via polymeric precursors”. Ceramic Bulletin, 68, (1989) [5]. 8. SILVA, M.R.S., et al., “Stability studies on undoped and doped Mg2TiO4, obtained by the polymeric precursor method”. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, 79 (2005) 421-424. 9 9. P. TARTE, A. RULMONT, M. LIÉGCOIS- DUYCKAERTS, R. CAHAY AND J. M. WINAND, “Vibrational spectroscopy and Solid state chemistry”. Solid State Ionics, 42 (1990) 177- 196. Fe2TiO4 – based pigments obtained by the polimeric precursor method Abstract Ceramic pigments are inorganic oxides which present good color stability at high temperatures. The color of a pigment is provenient from a chromophore ion, in the present case iron from the lattice itself. The synthesis is carried out by the polymeric precursor method, which consists in the chelation of metal cations, followed by their immobilization in a polymeric network, obtained from the esterification reaction of the metal citrate with ethylene glycol. The resin is submitted to a primary heat treatment at 300 ºC. The polymeric precursor thus obtained is next characterized by TG. After a final heat treatment at temperatures ranging from 500 to 1000 ºC, the powder samples are characterized by XRD, and infrared spectroscopy. The TG curves display two thermal decomposition steps: the first one refers to the loss of water and adsorbed gases and the second steps refers to the decomposition of organic matter. The XRD diffraction patterns were shown to be ascribed to a single phase, indicating the successful synthesis of the pigments. The infrared spectra presented bands ascribed to the Me-O bonds. Keywords : ceramic pigments; polymeric precursor method; thermal analysis