Pensamento Comunicacional Brasileiro
XVIII Colóquio Internacional da Escola Latino-Americana de Comunicação
I Fórum Brasileiro das Tendências da Pesquisa em Comunicação
São Paulo, 12 a 14 de novembro – ISSN 1806-3500
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Daniel Piza: Referência do Jornalismo Cultural no Brasil1
Gilmar Adolfo HERMES2
(Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul)
Resumo
O jornalista Daniel Piza (1970-2011) é uma referência do Jornalismo Cultural no
Brasil, a começar pelo livro com este título, editado pela editora Contexto, em 2003.
Sem falar de seus textos jornalísticos, ele nos deixou como legado uma série de livros.
Em Questão de Gosto (2000), apresenta um apanhado de seus ensaios e resenhas. Ao
biografar Machado de Assis (2005), buscou lançar uma nova luz sobre o autor e a época
em que viveu. No perfil de Paulo Francis (2004), traça a história do Brasil na segunda
metade do século XX através daquele que foi seu mentor. O livro Os Sertões, de
Euclides da Cunha, uma referência da história e da cultura brasileiras, foi editado de
forma resumida por Piza (1997) como um convite à leitura do original. Já na edição de
Amazônia de Euclides (2010), ele desvenda a complexa realidade do Brasil.
Palavras-chave
Daniel Piza; jornalismo cultural; bibliografia.
O que mais admirava no Daniel era a versatilidade e a produção
caudalosa. Era notável a sua capacidade de escrever sobre qualquer
assunto, do futebol à culinária, da arquitetura à religião, da política à
ciência. E era notável também a quantidade absurda de colunas,
reportagens, resenhas, artigos e livros que ele escrevia, assim como a
quantidade de livros lidos, de shows, concertos, peças e filmes
assistidos e de discos ouvidos para produzir às vezes uma única
coluna! Eu sempre o usava como referência, pelo tanto que ele
produziu em tão poucos anos de vida... (Depoimento de Eduardo
Baptistão, caricaturista e ilustrador, colega de redação de Daniel Piza.)
(TORRES, 2014, s/p.)
1. Legado para jornalistas e pesquisadores
A obra do jornalista e crítico cultural Daniel Piza3 é um legado inestimável para
os jornalistas e pesquisadores da área de jornalismo cultural. Basta pesquisar seu nome
1
Trabalho apresentado no GT Biografias de Pessoas, Instituições e Ideias, durante o XVIII Colóquio
Internacional da Escola Latino-Americana de Comunicação e o I Fórum Brasileiro das Tendências da
Pesquisa em Comunicação, eventos componentes do Pens@com Brasil 2014.
2
Graduado em Jornalismo (1987), mestre em História e Crítica da Arte (1996) e doutor em Comunicação
(2005). E-mail para contato: <[email protected]>.
3
Daniel Piza (1970-2011) iniciou sua carreira no jornal O Estado de S. Paulo como repórter do Caderno
2. Trabalhou no jornal Folha de São Paulo (1992-1995) e Gazeta Mercantil (1995-2000). Voltou para o
Grupo Estado em 2000, onde atuou 11 anos como editor executivo e colunista cultural. Também foi
colaborador da revista Bravo!. “ [Produziu] 17 livros em 20 anos de carreira, entre biografias (do amigo
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no site Google Acadêmico, para encontrar mais de 54 páginas de referências a seu
respeito, muitas delas em torno do assunto “jornalismo cultural”. Ao longo de sua
produção bibliográfica, cujas publicações podem ser conferidas em parte ao final deste
trabalho, pode-se encontrar uma fundamentação para aqueles que pretendem seguir a
carreira do “jornalismo cultural”. Entre os seus textos publicados, ele não só deu
sequência ao seu trabalho como jornalista, mas também mapeou os referenciais da
cultura, dando especial atenção aos autores brasileiros Machado de Assis, Euclides da
Cunha e Paulo Francis, inquestionáveis referências da literatura e jornalismo do País.
Uma obra que, sem dúvidas, está entre as frequentemente citadas, entre as
editadas no Brasil sobre o gênero, é a que leva o título Jornalismo Cultural (2003). Para
os jovens interessados nessa área jornalística, o autor oferece generosamente um amplo
apanhado de informações, que serve como um guia para o estudo e preparação para a
atuação neste setor. Piza compreende o jornalismo cultural sobretudo como um
jornalismo opinativo, que produz crítica de forma a orientar os leitores sobre a produção
cultural, embora também chame atenção para a importância do trabalho de reportagem
nesta área.
É significativo que Daniel Piza destaque justamente uma de suas reportagens no
lugar dos textos de crítica, ao tratar no livro Jornalismo Cultural sobre o seu próprio
trabalho, junto ao jornal Gazeta Mercantil, de 1995 a 2000, quando editou o caderno
Fim de Semana. A matéria citada é sobre “um livro que estava sendo feito com as
pinturas rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara, no sul do Piauí” (PIZA,
2003, p.102.) Para a realização da reportagem, acompanhado de um fotógrafo, ele
permaneceu quatro dias no Piauí, onde entrevistou a antropóloga Niede Guidon e
conheceu pinturas rupestres datadas em 18 mil anos atrás. É o único texto de sua própria
autoria citado neste livro, destacando assim a importância da reportagem, apesar de que
ele defina o jornalismo cultural na maior parte das vezes como crítica.
Deve ser mencionado, entre os livros de Piza, o seu trabalho de reportagem para
o jornal O Estado de S. Paulo, acompanhado pelo fotógrafo Tiago Queiroz, que virou
posteriormente o livro Amazônia de Euclides: Viagem de volta a um paraíso perdido
Paulo Francis, seu grande incentivador), livros de reportagem (Amazônia de Euclides), ficção (As
Senhoritas de Nova York, Noites Urbanas) e traduções de autores com Henry James (A Arte da Ficção).”
(GONÇALVES FILHO, 2014.)
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(PIZA, 2010). O jornalista refaz o trajeto de Euclides da Cunha (1866-1909) pelo Alto
Purus, extremo oeste da Amazônia, que resultou nas obras Contrastes e confrontos
(1907) e À Margem da história (1909). Em sua pesquisa e reportagem, Daniel Piza
(2010) permite compreender tanto o contexto de vida de quem buscava entender melhor
o Brasil, como também sobre as mudanças que ocorreram no decorrer de um século.
Euclides da Cunha, que constituiu um referencial histórico do jornalismo e da cultura
brasileira em Os Sertões, foi alvo de vários textos do autor. Inclusive uma seleção de
trechos desta obra citada, como um estímulo para a leitura do livro original (PIZA,
1997).
No artigo publicado na coletânea Questão de Gosto, Piza (2000) comenta a
edição da Correspondência de Euclides da Cunha, lançada pela editora Edusp.
Argumenta que a publicação reconstitui as reflexões de Euclides durante o
acompanhamento dos fatos em Canudos, o que ficou para a posteridade em Os Sertões.
[O] colaborador de O Estado de S. Paulo mantém a expectativa de ver
uma ação militar republicana – uma ação de seus colegas, em suma –
sustar uma revolta de camponeses fanáticos, membros de uma espécie
possivelmente um degrau abaixo na escala natural da evolução. O que
verá é o contrário. As mentes superiores não produzem uma estratégia
militar superior; mostram-se cruéis, comezinhas, tolas. [...]
[Euclides da Cunha] propõe-se como ‘advogado dos pobres
sertanejos’ e, numa passagem notável, cita sua vontade de obter ‘um
consórcio entre ciência e arte’ para impetrar sua denúncia. O resultado
é um livro monumental que até hoje não foi completamente entendido.
É a sina dos clássicos: cada geração os reinterpreta para compreender
a si mesma. (PIZA, 2000, p.118-119)
Aqui fica marcada a constante preocupação de Daniel Piza em compreender os
autores e as obras que conseguiram dar conta da realidade humana no Brasil. Como
pode ser observado, a reflexão sobre a obra de Euclides da Cunha esteve presente
durante todo o período de suas publicações, assim como ocorreu com o legado de outros
autores.
Para Daniel Piza (2003), o sucesso do caderno Fim de Semana, do jornal Gazeta
Mercantil, o qual editou, desmontou “a tese daqueles que diziam que os executivos
brasileiros não se interessam por artes, livros e debates...” (PIZA, 2003, p. 114) E o
lançamento da revista Bravo!, em 1997, seria outra “derrubada de tabu”. Participando
ativamente como crítico de arte e “editor-contribuinte”, ele comenta a concepção que
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predominou enquanto a publicação foi editada pela Editora D’Ávila, pois, a partir de
2004, migrou para a Editora Abril (até agosto de 2013):
A Bravo! também é uma publicação que quer comunicar o prazer da
cultura, não só, em seu caso, pela qualidade dos textos (de autores
como Sergio Augusto, Hugo Estenssoro, Sergio Augusto de Andrade,
Michel Laub, Almir de Freitas e José Onofre), mas também pela
produção visual. Demorou algum tempo até se abrir para áreas como
televisão (especialmente forte na cultura brasileira), continua não
resenhando livros de não-ficção (ignorou, por exemplo, os de Elio
Gaspari sobre o regime militar) e ainda exagera no excesso de
aplausos (há raras críticas negativas na revista), mas é sem dúvida, no
momento, a publicação mais bem-feita sobre cultura no Brasil. (PIZA,
2003, p.115)
Neste parágrafo citado transparece a complexidade do pensamento do autor e
suas múltiplas preocupações, que levam em conta diferentes formas de expressão, da
literatura à televisão.
No seu livro Jornalismo Cultural, Piza (2003) toma como referência para o
surgimento dessa especificidade profissional a revista The Spectator, publicada de 1711
a 1712, cujo título voltou a ser publicado em 1828, em uma proposta editorial que se
volta para vários assuntos, principalmente a política, embora também publique muitos
textos sobre artes (THE SPECTATOR, 2014). No século XVIII, editada por Joseph
Addison, The Spectator era voltada ao mesmo tempo para as ideias do homem moderno
e a divulgação da filosofia, estando aí já uma concepção de jornalismo cultural próxima
do que a revista Cult, da editora Bregantini, pratica hoje no Brasil.
A seguir Daniel Piza (2003) lista e referencia uma lista de críticos que marcaram
a história da cultura ocidental, sendo eles, além de atuantes na área de crítica cultural, os
próprios objetos de interesse do jornalismo cultural. São citados Samuel Johnson (17091784), “o primeiro crítico cultural” (PIZA, 2003, p.13); John Ruskin (1891-1900),
Marcel Proust (1871-1922), Saint-Beuve (1804-1869), Denis Diderot (1713-1784),
Charles Baudelaire (1821-1867), G. E. Lessing (1729-1781), Heinrich Heine (17971856), Edgar Allan Poe (1809-1849) e Henry James (1843-1916).
2. Machado de Assis: um marco no Brasil
Conforme Piza (2005) o “nascedouro do jornalismo cultural brasileiro” se dá nas
publicações Espelho Diamantino (fundada em 1827) e no Almanaque Laemmert (criado
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em 1839 como Folhinha Laemmert e rebatizado em 1844) (PIZA, 2005, p.62). No
Brasil, o autor reconhece que o jornalismo cultural só ganha força no final do século
XIX (PIZA, 2003, p.16).
Daniel Piza (2003) lembra que Machado de Assis (1839-1908) começou a sua
trajetória como crítico de teatro e de literatura. Há vários textos sobre Machado de Assis
entre os livros escritos do jornalista, sejam menções e artigos esparsos ou a sua obra
principal sobre o autor, Machado de Assis: Um gênio brasileiro (PIZA, 2005). Nesta
edição primorosa, com várias fotos e fac-símiles, presta uma justa homenagem ao
escritor cuja obra foi revalorizada nas últimas três décadas, tendo em vista sobretudo a
sua crítica social. Afrodescendente, Machado de Assis vivenciou o fim do período
escravocrata no Brasil e tornou-se o principal expoente da literatura da sua época a
partir da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), nada convencional
para os padrões literários do seu tempo. No ponto de vista de Piza, o autor era “dono de
um olhar mordaz sobre a classe dominante brasileira que não cultiva a ética do trabalho
nem o espírito público” (PIZA, 2005, p.15-16). Ao biografar o autor, seu objetivo foi
permitir ler as entrelinhas de sua época.
No livro Questão de Gosto, em seu artigo Imbricações de Machado de Assis,
Piza (2000) enfatiza que o autor oitocentista viveu um período de transição sobre o qual
estava plenamente consciente. “[Enxergou] com uma clareza impressionante todas as
implicações envolvidas na troca de mundos a seu redor” (PIZA, 2000, p.113). Segundo
Piza, Machado teve a capacidade de transpor as mudanças para a sua própria linguagem,
o que seria uma atitude moderna.
Machado, que nasceu em 1839, vivenciou o Rio de Janeiro modificado após a
vinda da família real portuguesa, em 1808. Nos anos 1850, a cidade convivia com
milhares de europeus, muitos deles artistas. “Toda a sua ficção, na verdade, traz os
vestígios desse universo intenso de peças, óperas, folhetins e sociedades literárias que o
Rio imperial lhe ofereceu quando, ainda adolescente, deixou sua casa” (PIZA, 2005,
p.74).
A abertura para a sua participação no meio artístico se dá pelo jornalismo.
Através da amizade com Paula Brito, impressor da Casa Imperial e dono de uma loja de
tipografia, Machado conviveu com intelectuais de renome, a exemplo de Joaquim
Manuel de Macedo, autor de A Moreninha, lançado em 1844. Depois de publicar seus
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primeiros poemas, Machado passou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Imprensa
Nacional, em 1856, quando também publicou o seu primeiro texto em prosa. A partir
deste momento, “daria rumo a suas duas carreiras: a de cronista (ou jornalista, o que na
época era a mesma coisa) e a de funcionário público” (PIZA, 2005, p. 78).
Ao descrever a trajetória de Machado, Piza recupera o cotidiano do Rio de
Janeiro, com o qual não tivemos contato, tratando-se do contexto vivencial do autor
biografado. Segundo Piza (2005), Machado começou a demonstrar publicamente a sua
paixão pela música e pela ópera em 1859:
O canto lírico lhe chamava mais a atenção do que tudo, assim como a
de seus contemporâneos. Numa crônica de 1877, na revista Ilustração
Brasileira, ele chegou a contar que teria sido ‘um dos cavalos de
Candiani’ – ou seja, um dos jovens entusiastas que, depois da
performance de Norma, carregaram a soprano italiana nos ombros, em
júbilo, pelas ruas. [....]
[A] presença da ópera em sua memória é tão forte que romances como
Brás Cubas fazem algumas referências à própria Candiani e à maneira
como ela habitava os desejos dos homens da época. (PIZA, 2005,
p.82-83)
No fim dos anos 1850, a “crônica teatral” passa a ser uma presença frequente
nos jornais brasileiros. A música instrumental e o teatro dramático ocupam boa parte
dos textos opinativos publicados por Machado. Na coluna “A revista dos teatros”, do
periódico semanal O Espelho, “Machado critica os ‘parasitas’ da literatura brasileira e
exalta a imprensa como palco de discussão democrática, não como bajuladora da
aristocracia” (PIZA, 2005, p.84) Com o tempo, Machado começa a defender a criação
de uma “ópera brasileira”. Também expõe critérios universais da crítica cultural ao
afirmar seu desejo por “um teatro que interfira no modo de pensar das pessoas, que
conteste seus valores e costumes, que eduque o público nacional para as novas
tendências” (PIZA, 2005, p.87).
O autor oitocentista atingiu um maior público ao tornar-se cronista do Diário do
Rio de Janeiro, um jornal liberal e abolicionista, em 1860, em que passou a atuar na
área de política. Esta vivência como jornalista propiciou uma nova compreensão da
realidade social:
O Partido Liberal, que reunia principalmente proprietários rurais e
profissionais liberais, com mais força em São Paulo, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul, muitas vezes não se diferenciava do Conservador,
defendendo a descentralização apenas da boca para fora. Esse jogo de
interesses, que se punha acima das ideias e do espírito público, muito
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marcaria a percepção de Machado, tanto do cronista, como do
ficcionista. (PIZA, 2005, p.91.)
Em 1862, em constante atualização sobre o teatro francês, lendo as publicações
Revue de Deux Monde e Moniteur Universel, que chegavam por navio ao Rio de
Janeiro, Machado passou a escrever também para a Semana Ilustrada, criada por
Henrique Fleiuss, em que atuaria durante 15 anos e cujo espaço usou para a defesa de
uma companhia de repertório pelo imperador dom Pedro II. Desta forma, Piza
demonstra que Machado teve importância não somente como autor literário, mas
também pela sua atuação como jornalista cultural nos primórdios da imprensa brasileira,
reconstituindo ao mesmo tempo todo o sistema cultural existente na então capital do
País.
3. Início do século XX
Internacionalmente, o início do século XX é marcado, na reconstituição de
Daniel Piza (2003), no livro Jornalismo Cultural, por Émile Zola (1840-1902), George
Bernard Shaw (1856-1950) e Karl Kraus (1874-1936). A crítica é colocada em questão
por Oscar Wilde (1854-1900), que assume o papel do “crítico artista” (PIZA, 2003,
p.20). Nos Estados Unidos, ganham proeminência Ezra Pound (1885-1972) e T. S.
Elliot (1888-1965).
No século XX, conforme Piza (2003), os críticos já não partem da área da
literatura, como ocorreu com grande parte dos nomes já citados, mas se formam dentro
das redações jornalísticas. É o caso de um dos nomes mais prezados pelo autor, H. L.
Mencken (1880-1956), influenciado pela filosofia de Nietzsche e herdeiro de Shaw e
Kraus. Ao lado do crítico de teatro George Jean Nathan (1882-1958), fez o jornalismo
cultural ganhar popularidade nas revistas Smart Set e American Mercury.
Outro nome louvado pela autor é o de Edmund Wilson (1895-1972), que
trabalhou nas revistas Vanity Fair, The New Republic e The New Yorker, esta última que
é apresentada como “capítulo obrigatório em qualquer história do jornalismo cultural”
(PIZA, 2003, p.23). A The New Yorker cumpriu com o papel de revelar grandes
escritores e impulsionar o jornalismo literário, tendo como articulistas E. B. White
(1899-1985) e A. J. Liebling (1904-1963), tratados até hoje como dois dos mais
importantes jornalistas da história americana. “Foi ali que Lilian Ross, num perfil de
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Ernest Hemingway em 1990, fundou esse gênero do jornalismo moderno e abriu
caminho para as invenções do ‘New Journalism.” (PIZA, 2003, p.23-24.) O autor
também observa que se pode falar em jornalismo literário desde os romancistas ingleses
dos séculos XVIII e XIX, como Daniel Defoe (1660-1731) e Charles Dickens (18121870).
Como tende a ocorrer com a questão dos gêneros jornalísticos, aqui são
colocadas em tensão as concepções de “jornalismo cultural” e “jornalismo literário”,
sobretudo por que a maioria dos autores citados está ligada à área de literatura. Este é
um aspecto crítico a ser levado em conta sobre a abordagem de Daniel Piza.
Conforme Piza (2003), ganhou proeminência o crítico de teatro inglês Kenneth
Tynan (1927-1980), que escreveu na revista The Spectator, nas décadas de 1930 e 1940.
Da mesma época, são os críticos Philip Rahv (1908-1973) e Lionel Trilling (19051975), da revista Partisan Review, fechada em 2003. Lá também atuaram os críticos de
cinema, Dwight McDonald (1906-1972), e de artes visuais, Harold Rosemberg (19061978) e Clement Greenberg (1909-1994).
O autor identifica como o principal suplemento de livros dos Estados Unidos,
dos anos 1960 até a edição do seu livro, a New York Review of Books. Ao enfatizar o
papel de autores vinculados ao jornalismo literário, na revista Esquire, Piza (2003) mais
uma vez ultrapassa os limites entre o que pode ser compreendido como “jornalismo
literário” e “jornalismo cultural”. Ali são destacados os nomes de Aldous Huxley (19371963), Scott Fitzgerald (1896-1940), Norman Mailer (1923-2007), Gay Talese (nascido
em 1932) e Truman Capote (1924-1984).
Também é citado o crítico de arte inglês Kenneth Clark (1903-1983), as revistas
francesas Le Monde de la Musique e Cahier du Cinéma; e a revista mexicana Vuelta,
editada pelo “maior ensaísta latino-americano do século XX”, Octávio Paz (1914-1998).
(PIZA, 2003, p.28.) Na Itália, são identificados os críticos de artes visuais e arquitetura,
Giulio Carlo Argan (1909-1992) e Roberto Longhi (1890-1970).
Entre os críticos do jornal New York Times, são destacados Renata Adler
(nascida em 1938), crítica de cinema que esteve em voga nos anos 1970; Frank Rich
(nascido em 1949), crítico de teatro nos anos 1980; e Jon Pareles (nascido em 1953),
crítico de música pop.
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Robert Hughes (1938-2012) é apontado como um crítico que teve muito sucesso
de público com seus textos publicados na revista Time, sendo um herdeiro de Edmund
Wilson e Kenneth Clark. Para Daniel Piza, contudo, a Inglaterra é a “pátria dos grandes
críticos” (PIZA, 2003, p.30) Alguns migraram para os Estados Unidos, como é o caso
de Cristopher Hitchens (1949-2011) e James Wood (nascido em 1965). Outros
permanecem na Inglaterra, como é o caso de John Carey (nascido em 1934), Frank
Kermode (1919-2010), William Feaver (nascido em 1942) e David Sylvester (19242001). Com atuação dos dois lados do Atlântico, são citados Martin Amis (nascido em
1949) e Julian Barnes (nascido em 1946).
Daniel Piza observa que, nos anos 1980, houve uma expansão do jornalismo
cultural para a área de livros. Ao mesmo tempo, há em todo lugar uma noção de “crise”
vigente. Neste ponto, depois deste amplo leque de referências da cultura ocidental, ele
situa-se mais precisamente no contexto das práticas jornalísticas dos séculos XX e XXI,
marcados pela presença da chamada “indústria cultural”.
De fato, nomes como Robert Hughes hoje são mais escassos; revistas
culturais ou intelectuais já não têm a mesma influência que tinham
antes; críticos parecem definir cada vez menos o sucesso ou fracasso
de uma obra ou evento; há na grande imprensa um forte domínio de
assuntos como celebridades e um rebaixamento geral dos critérios de
avaliação dos produtos. O jornalista cultural anda se sentindo pequeno
demais diante do gigantismo dos empreendimentos e dos ‘fenômenos’
de audiência. (PIZA, 2003, p.31)
Lembrando que “essa história não parou de ser escrita” (PIZA, 2003, p.31), o
autor volta-se com mais incidência ao jornalismo brasileiro. Ele já havia chamado
atenção para a importância da revista Klaxon na época do Movimento Modernista, nas
primeiras décadas do século. Nesta retomada do contexto nacional, cita Lima Barreto,
que antes de se consagrar como autor literário, passou pelo jornalismo e pela crítica.
Mário de Andrade foi outro autor que dialogou criticamente com diversos âmbitos
artísticos.
Dando espaço para os jornalistas, surgem a revista O Cruzeiro em 1928,
tornando-se a mais importante do País entre os anos 1930 e 1940, e a revista Diretrizes,
coordenada por Samuel Wainer nos anos 1940. Piza afirma que a crônica é uma
“modalidade inegável do jornalismo cultural brasileiro” (PIZA, 2003, p.33),
problematizando a definição de “jornalismo cultural”.
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Daniel Piza observa que as críticas culturais em jornais brasileiros começam a
aparecer com maior incidência nos anos 1940, tendo como grande época os anos 1960.
Um jornal que recebe uma certa ênfase nesta reconstituição é o Correio da Manhã, no
qual escrevem críticos como Álvaro Lins (1912-1970), na área literária, e Otto Maria
Carpeaux (1900-1978), nas áreas literária e de música. O jornal é qualificado como
independente e bem escrito. Carpeaux é o austríaco naturalizado brasileiro, que teria
trazido para o País a proposta da revista britânica The Spectator, com a divulgação da
cultura. Foi autor dos livros História da Literatura Ocidental (1947) e Uma nova
história da música (1958).
Nos anos 1950, o Correio da Manhã criou o Quarto Caderno, que circulava aos
domingos. Ali destacaram-se na crítica de cinema, Moniz Vianna (1924-2009) e José
Lino Grünewald (1931-2000), sem falar de Paulo Francis (1930-1997), que será um dos
profissionais mais destacados entre os jornalistas vinculados ao jornalismo cultural.
Conforme Piza (2003), Francis editou o Quarto Caderno em seu auge, entre os anos
1967 e 1968.
4. Paulo Francis: um capítulo a parte
Um capítulo a parte na história do jornalismo brasileiro como um todo, e no
jornalismo cultural especificamente é a obra do jornalista Paulo Francis (1930-1997).
Daniel Piza registra que ele começou a carreira como crítico de teatro no Diário
Carioca em 1957. Foi o expoente do Correio da Manhã entre 1964 e 1967. Escreveu na
revista Senhor de 1959 a 1962, e no jornal Pasquim, em 1969. Em 1970, escreveu na
revista Opinião, que, de acordo com Piza (2003), era uma publicação semanal nos
moldes do New York Review of Books.
O autor registra que Francis exilou-se por vontade própria em Nova York em
1971, época da ditadura militar no Brasil. Passou a ser correspondente do jornal Folha
de São Paulo a partir de 1977; da TV Globo, em 1985; e dos jornais O Estado de S.
Paulo e O Globo a partir de 1990. No ponto de vista de Daniel Piza, o colunista chegou
ao auge do “que tinha de melhor: o comentário cultural” (PIZA, 2003, p. 39), ou seja, a
“opinião sobre livros, filmes e peças”.
No livro Paulo Francis, Piza (2004) não tem a intenção de biografar o autor, que
escreveu dois livros de memórias (O Afeto que se encerra e Trinta anos esta noite), mas
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quer principalmente mostrar como o jornalista “foi uma inspiração para a independência
intelectual de duas gerações” (PIZA, 2004, p.13). Daniel Piza reconhece em Francis um
daqueles que lhe motivou a exercer a profissão de jornalista.
O consagrado comentarista vivenciou na juventude o suicídio do presidente
Getúlio Vargas, e, na sequência, os episódios que antecederam o golpe militar de 1964.
Expatriou-se em Nova York, depois de ser preso quatro vezes durante o período de dois
anos. Defensor do socialismo, Francis, acompanhando os acontecimentos, passou a
assumir uma postura irônica, tipicamente pós-moderna, diante dos partidos de esquerda.
Com seus textos nos jornais e para a TV Globo, tornou-se uma celebridade midiática.
Quanto ao jornalismo cultural, a participação de Francis ao lado de Grünewald
no Correio da Manhã é destacada no livro de Daniel Piza (2004):
Afora suas polêmicas políticas nos anos 67 e 68 no Correio da
Manhã, Francis era complementado por Grünewald no ‘Quarto
Caderno’ e este suplemento fez história ao combinar as resenhas
críticas (teatro, cinema, literatura, etc.) com artigos analíticos sobre o
momento histórico (como a guerra do Vietnã), rompendo com o
isolamento beletrista das secções de artes até então e introduzindo no
Brasil pensadores como Marcuse, Walter Benjamin e Umberto Eco. O
próprio Grünewald era um exemplo, pois em sua crítica de cinema
comentava os filmes de Fellini, Godard e Bergman com uma
densidade e um comprometimento raramente vistos. Francis também
escrevia sobre cinema, além de TV, literatura e, claro, política. (PIZA,
2004, p.26)
Ao longo de seu livro, Piza (2004) lista as referências intelectuais que fizeram a
diferença na formação de Paulo Francis, que também aparecem como sugestões aos
leitores no seu livro Jornalismo Cultural (2003).
A maior paixão intelectual de Francis, em toda a vida, foi por Georg
Bernard Shaw (1856-1950). O brilhante crítico cultural e dramaturgo
irlandês falou alto ao adolescente em ebulição mental, que tinha lido
Dostoievski e Nietzsche e buscava um discurso mais atualizado sobre
os dramas do século XX. Shaw era ao mesmo tempo um socialista
(heterodoxo) e um elitista (não esnobe) e, na visão futura de Francis,
sabia falar a um público amplo sem abrir mão de seus altos critérios
intelectuais. (PIZA, 2004, p.56)
Um dos pontos de mudança significativa de Francis foi em 1951, quando veio a
participar do grupo Teatro dos Estudantes (TE), organizado pelo crítico e produtor
Paschoal Carlos Magno, um grande estimulador do teatro estudantil e dos festivais em
todo o Brasil. Francis participou de uma viagem às regiões Norte e Nordeste, como ator,
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o que foi um “choque de sensibilidade social”, para quem estava ilhado na “pacífica” e
cosmopolita Zona Sul do Rio de Janeiro da época.
[Foi] o ano em que Franz Paul passou a se chamar Paulo Francis. O
batismo foi de Paschoal, preocupado em ter um ator com um nome
mais middlebrow e brasileiro para apresentar na excursão. [...]
Ali nasceu o Paulo Francis que o Brasil inteiro conheceria. Francis
virou Francis em todos os sentidos: ele se soltou um pouco, achou seu
meio, abandonou parte daquele jeito fechado de estranho semieuropeu no ninho tropical. E, em suas próprias palavras, em meio a
essa ‘suruba emocional’ que o teatro representou, descobriu ‘o Brasil’.
(PIZA, 2004, p.61.)
Do mesmo modo que Euclides da Cunha no final do século XIX, Francis fez a
sua viagem de transformação pelo Brasil, como ocorreu com muitos outros intelectuais.
Em 1957, ele tornou-se o “dono de duas tribunas teatrais na capital federal”, escrevendo
críticas para a Revista da Semana e para o Diário Carioca (PIZA, 2004, p.66-67). Em
1958, ao lado de Bárbara Heliodora, no Jornal do Brasil, participou da criação do
“Círculo Independente dos Críticos Teatrais (CICT) em contraposição à Associação
Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT), na qual estava, entre outros, Paschoal Carlos
Magno” (PIZA, 2004, p.70) Queria-se acabar com uma crítica compromissada somente
com a divulgação de espetáculos, sem uma análise objetiva, mesmo que para isso fosse
necessário ferir certos modos de fazer já reconhecidos. Paulo Francis assumiu uma
postura agressiva em seus textos, mas tornou-se um referencial por analisar
concretamente as deficiências “do teatro, do jornalismo e da cultura brasileira naquele
momento”. (PIZA, 2004, p.69)
5. Jornalismo cultural moderno no Brasil
Conforme Daniel Piza (2003), o Caderno B, do Jornal do Brasil, em 1956
representa o início do jornalismo cultural moderno no País. Ali escrevem a crítica teatral
Bárbara Heliodora (nascida em 1923) e o crítico de artes visuais Ferreira Gullar
(nascido em 1930). No início dos anos 1960, começa a ser editado o Suplemento
Literário do Estado de S. Paulo, dirigido por Décio Almeida Prado (1917-2000).
Reuniu intelectuais como Antonio Candido (nascido em 1918), na literatura; Paulo
Emilio Salles Gomes (1916-1977), na área de cinema; Lourival Gomes Machado (19171967), nas artes visuais; e Sábato Magaldi (nascido em 1927), escrevendo sobre teatro.
Piza observa que esta publicação passou a ser um modelo para os cadernos na área de
literatura.
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Nos anos 1980, Piza (2003) destaca que os jornais Folha de São Paulo e O
Estado de S. Paulo criaram seus cadernos culturais diários, a Ilustrada e o Caderno 2,
respectivamente. Em ambos cadernos, Paulo Francis teve a sua coluna assinada nas
contracapas.
Daniel Piza enfatiza o sentido polêmico que a Ilustrada criou com jornalistas
que atuaram como repórteres e críticos ao mesmo tempo. Destacaram-se nomes como
Pepe Escobar (nascido em 1954), Matinas Suzuki Jr., Antônio Gonçalves Filho, Luís
Antônio Giron, Bernardo Carvalho (nascido em 1960) e Nelson Ascher (nascido em
1958). No auge do Caderno 2, revelou-se a geração de Wagner Carelli, Zuza Homem de
Mello (nascido em 1933) e Enio Squeff . Na crítica de cinema, destacou-se José Onofre.
Ganhou destaque Ruy Castro (nascido em 1948), que a partir de 1989 começou a
publicar livros hoje emblemáticos, como Chega de Saudade (1990), sobre a Bossa
Nova, e O Anjo Pornográfico (1992), contando a vida do jornalista e dramaturgo
Nelson Rodrigues.
Nos anos 1990, Daniel Piza nota que os cadernos culturais dão espaço cada vez
maior para outros assuntos que não fazem parte das sete artes, a exemplo da moda,
gastronomia e design (PIZA, 2003, p.41).
Pensando-se em cultura, não há como desconsiderar a emergência da televisão a
partir dos anos 1950; e a fundação da Rede Globo em 1968. Com a passar das décadas
essa empresa foi ganhando cada vez mais proeminência, intervindo de diversas formas
na produção cultural, a começar pelo poder crescente de sua teledramaturgia, causando
influências nas áreas de teatro, música, cinema, literatura, etc.
Daniel Piza articula o desenvolvimento do jornalismo cultural com esse novo
momento vivido:
As revistas culturais se multiplicaram a partir dos anos 20 e as seções
culturais da grande imprensa diária ou semanal se tornaram
obrigatórias a partir dos anos 50; pode-se dizer, portanto, que
acompanharam os momentos-chave da ampliação da tal “indústriacultural”, numa escala que hoje converteu o setor de entretenimento
num dos mais ativos e ainda promissores da economia global. (PIZA,
2003, p.43-44)
Na opinião do autor, “a imprensa cultural tem o dever do senso crítico” (PIZA,
2003, p.45). Ele compreende, no entanto, que ocorre o equívoco de associar a cultura a
algo inalcançável. Observa que é como se produzisse uma espécie de desistência para o
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público, que pensa que nunca chegará lá ao ler as abordagens. (PIZA, 2003, p. 46).
Dessa forma, a responsabilidade do jornalista cultural é o compromisso com a melhoria
do repertório dos seus leitores, mas com textos em uma linguagem acessível.
Piza critica a noção de jornalismo cultural como serviço, que estaria presa ao
agendamento determinado pelos produtores culturais. Este seria um dos três males que
afligem esta área editorial, que levaria ao domínio dos grandes nomes bem-sucedidos. O
outro seria o espaço restrito que impede um aprofundamento. E o terceiro a
marginalização da crítica, que certamente é o que o autor mais preza no jornalismo
cultural.
[Com] poucas linhas e pouco destaque visual, mais e mais baseada no
achismo, no palpite, no comentário mal fundamentado mesmo quando
há espaço para fundamentá-lo, há uma nostalgia, endossada pelas
reedições de livros e coletâneas, dos grandes críticos do passado, de
sua credibilidade autoral. (PIZA, 2003, p.63)
Dessa forma percebe-se a contribuição de Piza (2003) para a compreensão do
jornalismo cultural. Com todas essas referências, a prática do jornalismo cultural está
comprometida com o desenvolvimento de um repertório específico dos diversos âmbitos
que alcança.
Há uma tendência de haver muita proximidade com o jornalismo literário, na
medida em que a forma de expressão torna-se importante nos seus processos de
produção textual. Isto também é motivado pelo fato de que o jornalismo cultural lida
com outras formas de expressão, o que acontece historicamente na proximidade mais
estreita com a literatura.
Ao final do livro, Piza (2003) lança mais uma perspectiva diante do jornalismo
cultural chamando atenção para a necessidade de que os jornalistas da área estejam
informados sobre os mais diversos assuntos. E aí estabelece uma síntese que alarga o
conceito de jornalismo cultural, não tão preso à noção de crítica:
[Abrir-se] para outros assuntos não significa abandonar sua razão de
ser, que é a avaliação dos produtos e eventos culturais, de suas
personalidades e tendências, nas formas da crítica, da entrevista, da
reportagem e da coluna, em suas mais diversas camadas de
tratamento, em seus mais diversos suportes (jornal, revista, Internet,
rádio, TV, livro). (PIZA, 2003, p.119)
Nesta síntese de algumas das referências bibliográficas do autor, busca-se
sobretudo chamar atenção para o legado da obra de Daniel Piza e da sua importância
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para o campo do jornalismo. Pode ser problematizada a sua definição de jornalismo
cultural sobretudo como crítica, ou seja o texto opinativo sobre artes no lugar das
reportagens. Também deve ser questionada a relação que, em alguns momentos,
estabelece com o gênero da crônica e do jornalismo literário, mas deve-se prezar
sobretudo a iniciativa de mapear os autores que fizeram a diferença e podem ser
tomados como exemplos na prática do jornalismo cultural.
Referências
GONÇALVES FILHO, Antonio. A polêmica como ofício. Disponível em :
<http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,a-polemica-como-oficio,819533> . Acesso
em: 27 jul. 2014.
PIZA, Daniel (org). Trechos de Os Sertões. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
_______. Questão de gosto: ensaios e resenhas. Rio de Janeiro: Record, 2000.
_______. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2003.
_______. Paulo Francis: Brasil na cabeça. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.
_______. Machado de Assis: Um gênio brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial de São
Paulo, 2005.
_______. Mistérios da Literatura: Poe, Machado, Conrad, Kafka. Rio de Janeiro:
Mauad, 2005.
_______. Contemporâneo de mim: dez anos da coluna Sinopse. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007.
_______. Amazônia de Euclides: viagem de volta a um paraíso perdido. São Paulo:
Leya, 2010.
_______. Dez anos que abalaram o mundo: 2001-2010. São Paulo: Leya, 2011.
TORRES, Mara Vanessa. A parceria entre Eduardo Baptistão e Daniel Piza. In:
Interrogação: Conteúdo cultural diferenciado. Disponível em:
<http://interrogacao.com.br/2014/06/a-parceria-entre-eduardo-baptistao-e-daniel-piza/>.
Acesso em: 12 nov. 2014.
THE SPECTATOR. Wikipédia. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Spectator>. Acesso em: 26 jul. 2014.
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Daniel Piza: referência do jornalismo cultural no Brasil