Por exemplo: matar para aprender
O Brasil é referência para alguns países onde diversos setores da sociedade civil
lutam para acabar com uma prática que perdura por centenas de anos nas escolas
de ensino básico: a de utilizar animais em aulas práticas. Por quê? Porque no Brasil
esta prática é proibida já há muito tempo. E até entendemos: crianças e
adolescentes precisam ser poupados de práticas que banalizam a vida, e não
ensinam absolutamente nada que não possa ser ensinado de outra forma. Além do
mais, podemos ainda pensar que se quiserem um dia abrir animais, que o façam na
universidade. E é aqui que a coisa muda de figura. Enquanto damos o bom exemplo
para outros países no ensino básico, outros países nos dão o exemplo no ensino
superior: a tendência mundial neste nível tem sido o abandono das práticas com
animais na formação de profissionais que lidam com a vida e a saúde (humana ou
animal). Entende-se que, dadas as novas possibilidades e tecnologias disponíveis,
este uso não seja mais necessário. Muitas universidades inclusive não acabaram
com o uso de animais por questões estritamente éticas, mas também por
entenderem que a educação deva estar sintonizada com as novas tecnologias, e
com modelos que otimizem mais o tempo, e facilitem mais o processo de ensinoaprendizagem.
Felizmente não podemos mais dizer que a realidade no Brasil ainda remete aos
tempos medievais neste quesito. Poucas mas expressivas iniciativas de professores
e faculdades aqui no Brasil vêm dando o exemplo para tantas outras. Ou não. A
verdade é que, apesar destas experiências serem consideradas positivas e
inovadoras, terem o aval da sociedade civil (que cada vez mais se envolve na luta
contra estas práticas) e dos estudantes, a grande maioria das universidades ainda
obriga seus estudantes a matarem animais para aprenderem diferentes conceitos
ou habilidades - o que vem provocando não apenas a morte de milhares de
animais, como também a desumanização de estudantes de áreas que precisam ser
humanizadas.
Quem vem dando o exemplo?
Thales Tréz
Biólogo, professor da Universidade Federal de Alfenas e Mestre em Ética Aplicada.
Coordenador da www.1rnet.org
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Por exemplo: matar para aprender