# 12 informativo sbm • ano 4 / 2011 A revista do Microbiologista. ISSN 1982-1301 www.sbmicrobiologia.org.br 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia Data: 02/10/2011 à 06/10/2011. Local: Rafain Palace Hotel e Convention Center Foz do Iguaçu, PR – Brasil. 1º Prêmio Jovem Microbiologista 2011 A Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM) e a OXOID e Remel convidam os microbiologistas, com título de doutor obtido nos últimos três anos anteriores à data de início do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia (02/10/2011), a participarem do Prêmio Jovem Microbiologista 2011, uma oportunidade ímpar de se destacar e deixar sua marca no meio científico. Visando a maior integração entre os países latino-americanos, a SBM abre as inscrições para jovens microbiologistas dos países membros da ALAM (Associação Latino Americana de Microbiologia). Ao primeiro colocado será concedido um prêmio em dinheiro em valor a ser definido. O prêmio será entregue durante a sessão de encerramento do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. Os demais classificados receberão um certificado de participação. Patrocinador Oficial 1 - INSCRIÇÕES da revista Brazilian Journal of Microbiology . Os trabalhos que não estiverem de acor- A inscrição ao Prêmio Jovem Microbiologista 2011 é isenta de taxa e pode ser realizada do com essas especificações serão automaticamente desconsiderados sem qualquer até 01/07/2011. Poderão inscrever-se recém-doutores que tenham defendido a tese nos comunicado ao participante. últimos três anos anteriores à data de início do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. O candidato deverá estar inscrito no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia e 3 - APRESENTAÇÃO E SELEÇÃO deverá submeter apenas um trabalho. O comprovante de inscrição no 26º CBM deverá A Comissão Científica, designada pela Diretoria da SBM, selecionará cinco trabalhos. ser enviado para a Secretaria da SBM ao endereço Av. Prof. Lineu Prestes, 2415, Bu- Os trabalhos selecionados deverão ficar expostos, na forma de painéis, durante o 26º tantã. CEP 05508-000, São Paulo, SP, juntamente com o trabalho, Currículo Lattes e Congresso Brasileiro de Microbiologia, em local a ser designado pela Comissão Organi- documento da comissão de pós-graduação da instituição, declarando a data da defesa zadora. Os autores serão convidados para apresentação pública desses trabalhos, em da tese e o título recebido. A documentação submetida não será devolvida. sessão do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. O tempo de apresentação oral será de 20 minutos, perante Comissão Julgadora, composta por três membros, indicada 2 - TRABALHO pela Diretoria da SBM. Não serão aceitos recursos quanto ao mérito das decisões das O trabalho, de responsabilidade do recém-doutor, deverá ser encaminhado na forma comissões de seleção e julgadora. de paper, tendo como modelo o periódico Brazilian Journal of Microbiology, em três vias, acompanhado do respectivo arquivo gravado em CD-Rom. O texto deverá ser 4 - PRESCRIÇÃO DO DIREITO AO PRÊMIO redigido em inglês e ter, no máximo, 10 páginas (incluindo tabelas e figuras) for- Caso o prêmio não seja solicitado no prazo de 1 ano contado a partir da data da pre- matadas em fonte Arial, tamanho 12, espaçamento de 1,5 entrelinhas, formato A4, miação que acontecerá durante o 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia o mesmo margens 2 cm (esquerda, direita, superior e inferior) em editor de texto Microsoft perderá o direito de recebê-lo. A comissão avaliadora terá poderes para decidir as situ- Word. As citações bibliográficas deverão ser apresentadas de acordo com as normas ações em que nenhum trabalho merece receber o prêmio. 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia 2 a 6 de Outubro de 2011 Rafain Palace Hotel e Convention Center Foz do Iguaçu - Paraná EDITAL DO CONCURSO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MICROBIOLOGIA TEMICRO 2011. 1. Apresentação O Presidente da Sociedade Brasileira de Microbiologia, Adalberto Pessoa Junior, e o Secretário Geral, Carla Taddei de Castro Neves, no uso de suas atribuições legais, farão realizar Concurso para Obtenção do Título de Especialista em Microbiologia-TEMICRO, no dia 03 de outubro de 2011, regulamentado pelo presente Edital. O Título de Especialista em Microbiologia terá validade por 5 (cinco) anos, devendo ser renovado de acordo com as normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Titulação SBM. 2. Das inscrições 2.1. A inscrição do candidato implicará o conhecimento e a tácita aceitação das normas e condições estabelecidas neste Edital, em relação às quais não poderá alegar desconhecimento. 2.2. As inscrições serão recebidas no período de 02 de fevereiro a 29 de julho de 2011, por via eletrônica www.sbmicrobiologia.org.br/26cbm. 2.3. O candidato deverá efetuar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 390,00 além da inscrição no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. As Especialidades É importante esclarecer que as especialidades regulamentadas são profissionais, isto é, são especialidades no campo do exercício profissional do microbiologista. Foram regulamentadas algumas que se configuraram como mais definidas e consensuais. A Saber: Microbiologia Ambiental Microbiologia de Alimentos Microbiologia Industrial Microbiologia Clínica Deve ser destacado que o título de especialista em microbiologia é uma referência sobre a qualificação do profissional, não se constituindo condição obrigatória para o exercício da profissão. Podem solicitar o título de Especialista os Biólogos, Biomédicos, Farmacêuticos, Médicos, Médicos Veterinários e outros profissionais que tenham atuação em uma das áreas da Microbiologia, desde que preencham alguns dos pré-requisitos abaixo relacionados: I – Das Inscrições: 1. O candidato deverá ser associado da Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM) tendo quitado o ano vigente; 2. O candidato deverá ter nível superior e cinco anos de experiência profissional comprovada na área após a graduação OU carga horária mínima de 1.200 horas de estágio em microbiologia comprovadas depois de formado; 3. Estar inscrito no 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia 4. Pagar a taxa estabelecida pela SBM; 5. O candidato deverá ter uma carta de apresentação e três indicações de associados da SBM; 6. O certificado terá validade por cinco anos. II – Documentos necessários para Inscrição: 1. Preencher a ficha de inscrição do 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia; 2. Durante o processo de inscrição no 26º CBM efetuar a matrícula no CONCURSO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MICROBIOLOGIA Enviar para a SBM via correio curriculum vitae documentado, que deverá ser confeccionado de acordo com a “Plataforma Lattes” , histórico escolar e carteira ou comprovante de trabalho e uma fotografia recente 3x4; Sociedade Brasileira de Microbiologia ICB III - SBM - Dep. de Microbiologia Av. Prof. Lineu Prestes, 2415 Cidade Universitária 05508-000 São Paulo, SP - Brasil Tel: (+5511) 3813-9647/3037-7095 III – Pontuação dos Títulos e Atividades: 1. Para obtenção do título o candidato deverá atingir média final = 7,0; Provas – 90% Títulos – 10% IIIa – Provas Prova escrita: será composta de questões de múltipla escolha e dissertativas sendo que 60% do conteúdo deverá versar sobre Microbiologia Geral e 40% sobre Microbiologia Específica da área de especialização escolhida. Prova Prática: Versará sobre temas específicos da área de especialização escolhida Critérios a serem utilizados na avaliação do CV para OBTENÇÃO do Título de Especialista OBS: Os documentos referentes às atividades pontuadas deverão ser enviados organizadamente, agrupados por atividade. Caberá à SBM, através da Comissão de Titulação, proceder a pontuação estabelecida nos itens acima discriminados, para cada candidato, ação essa que será executada antes da realização da prova. Outrossim, a comprovação de títulos e atividades constantes do currículo devem somar no mínimo 10 pontos nos últimos 5 anos para a aprovação da inscrição no concurso. TÍTULOS Exigências Doutor na área escolhida, Programa regular credenciado pela CAPES Pontuação 5 Mestre na área escolhida Programa regular credenciado pela CAPES 3 Especialização na área escolhida Deverão ter carga horária mínima de 720 horas, considerando-se as horasaulas e os trabalhos de campo, experimental, de estudo e monografia, bem como deverão atender às exigências do Conselho Federal de Educação e deverão ser reconhecidos pela SBM Liderança técnica Liderança técnica em Laboratórios de Microbiologia nos últimos 10 anos 1,5 1 ponto a cada 2 anos de atividade (máximo 5 pontos) Atividade Docente Atividade Docente em Microbiologia nos últimos 10 anos 1 ponto a cada 2 anos de atividade (máximo 5 pontos) Artigos científicos Artigo científico em Microbiologia na área escolhida, publicados em revistas indexadas no ISI e/ou PubMed, como autor ou co-autor nos últimos 5 anos 1 ponto por artigo (máximo 5 pontos) Apresentação em Congresso Trabalhos científicos em Microbiologia, apresentados em Congressos reconhecidos pela SBM, como autor ou co-autor Cursos de aperfeiçoamento Em microbiologia nos últimos 5 anos, carga horária mínima de 180 horas, reconhecido pela SBM Cursos de atualização Em microbiologia nos últimos 5 anos, , reconhecido pela SBM. Abaixo de 36 horas de atualização nos últimos cinco anos não será pontuado Estágio em microbiologia Período mínimo de 480 h consecutivas, nos últimos cinco anos Máximo de 1 ponto Eventos Participação em Congresso de Microbiologia e afins nos últimos 5 anos. Somente eventos reconhecidos pela SBM serão pontuados (veja anexo). Eventos não reconhecidos serão julgados pela comissão 0,2 por evento (Máximo de 1 ponto) Eventos Participação ativa como palestrante em Congressos de Microbiologia nos últimos 5 anos 0,2 por evento (Máximo de 1 ponto) 0,2 por apresentado (máximo 1 pontos) 1 ponto 36 - 72 h 0,5; 73 - 109 h 1.0; >110 h 1,5 (máximo 1,5 ponto) O título terá validade por cinco anos. Para revalidação, o solicitante deverá encaminhar CV circunstanciado à SBM. A avaliação será feita pela Comissão de Titulação pela análise e pontuação do CV. Pontuação mínima exigida será de 10 pontos. Editorial Índice Prezado Microbiologista, Ciência in Foco É com grande satisfação que iniciamos, com esse número, o quarto ano da Revista Microbiologia in Foco. Continuamos com os objetivos iniciais selecionando temas abrangentes e de interesse na divulgação da Microbiologia. No período, foram publicados 62 artigos, incluindo esse volume, abrangendo diversos temas relacionados à microbiologia, além de noticiais e outros informes de interesse dos leitores. Voltamos a enfatizar que esperamos e contamos com a colaboração ativa dos leitores sugerindo temas e encaminhando artigos para publicação. Infelizmente, não temos recebido muitas sugestões por parte da comunidade científica e gostaríamos de deixar claro que os editores estão ansiosos por uma participação mais ativa dos colegas. Esperamos que comunidade de microbiologistas continue a colaborar ativamente para que essa iniciativa possa alcançar o objetivo de divulgar a microbiologia nos mais diversos setores da comunidade brasileira. Lembramos que a revista é de informação e divulgação e é composta de várias seções: Seção 1: Ciência in foco: artigos de informação sobre temas relevantes Seção 2: Resenhas: comentários sobre livros Seção 3: Resumos comentados de trabalhos científicos relevantes Seção 4: Homenagem a profissionais com destaque na fundação da SBM e no desenvolvimento da Microbiologia Seção 5: Ensino em Microbiologia Seção 6: Departamento in Foco: Departamentos em destaque: Noticias de interesse da Microbiologia Seção 7: Leitor in Foco: espaço aberto ao leitor Seção 8: Empresas in Foco - Informes publicitários: espaço destinado a empresas Agradecemos a todos que colaboraram com a edição número 12 da revista Microbiologia in Foco e contamos com a colaboração dos colegas para futuros artigos. Conferência e Mesa Redonda: •Carbapenemases. . . . . . . . . . . . . . 8 •MALDI-TOF ICMS na Microbiologia Clínica: Porquê começar a usar?. . . . . 10 BIOSSÍNTESE E ATIVIDADE DE BACTERIOCINAS, E MECANISMOS BACTERIANOS DE AUTOIMUNIDADE. . . . . . . . . . . . . . . 11 O Potencial de bactérias promotoras do crescimento vegetal para o aumento da tolerância de plantas aos estresses abióticos. . . . . . . . . . 17 GENÉTICA DE CIANOTOXINAS . . . . 24 Aquecimento Ôhmico: Novos desafios no tratamento térmico de materiais. . . . . . . . . . 36 A síndrome hemolítica urêmica (SHU) e a busca de uma estratégia de controle para a doença. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 SBM In Foco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Expediente SBM in Foco Revista da Sociedade Brasileira de Microbiologia Ano 4, nº 12 São Paulo: SBM, 2011 Periodicidade Trimestral Adalberto Pessoa Junior Presidente Agenda In Foco . . . . . . . . . . . . . . . 50 Marina B. Martinez Editora Carlos P. Taborda Editor Curso de Especialização e Aperfeiçoamento em Microbiologia . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Editores: Carlos P. Taborda e Marina B. Martinez Tiragem: 2000 exemplares - Circulação Nacional Distribuição gratuita para sócios SBM Impressão: Vox Editora Ltda. (11) 3871-7300 Diagramação: Hermano Design Editorial [email protected] Responsabilidade autoral: Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos respectivos autores Responsabilidade editorial: Tífani Luri N. Hanashiro 7 Conferência e Mesa Redonda Tópicos apresentados no II Simpósio Internacional de Microbiologia Clínica Conferência Dia: 30 de setembro de 2010 Hora: 18:00 às 19:00 Sala: 01 Carbapenemases Karen Bush Indiana University - USA Carbapenemases representam um dos grupos mais versátil de b-lactamases [1]. Essas enzimas são notáveis por sua capacidade de hidrolisar carbapenens, a b-lactâmicos com maior espectro de atividade antibacteriana. Além disso, a maioria das carbapenemases pode hidrolisar praticamente todas as penicilinas e cefalosporinas, e geralmente não são afetadas pelos inibidores de b-lactamase disponíveis comercialmente. Carbapenemases são encontrados principalmente em organismos Gram-negativos, mas também são codificados no cromossomo de várias Bacillus spp. Gram-positivas, incluindo Bacillus cereus e Bacillus anthracis [2]. Carbapenemases se dividem em duas categorias principais. O primeiro grupo de enzimas das classes moleculares A e D podem utilizar a serina como sítio ativo de aminoácidos que está diretamente envolvida na hidrólise de b-lactâmicos. O segundo grupo de carbapenemase é definido pelo metalo-b-lactamases (MBLs), enzimas que contêm pelo menos um átomo de zinco cataliticamente ativa. MBLs são caracterizados por um mecanismo de hidrólise que envolve aminoácidos específicos que agem como ligantes de zinco que diferem ligeiramente entre os subgrupos de MBLs [1]. Essas enzimas podem ter o mesmo amplo espectro de hidrólise como a serina carbapenemases, com uma notável exceção em que MBLs não hidrolisam monobactam (aztreonam). Eles também não respondem à inibição pelos inibidores disponíveis na b-lactamase, mas são inibidas por agentes como o EDTA que quelata o zinco do sítio ativo. 8 Entre as carbapenemases mais importantes estão as serina b-lactamases da classe A que podem ser inibida pelo ácido clavulânico e tazobactam em ensaios enzimaticos isolados. Estas enzimas começaram a ser identificados no início de 1980 em isolados clínicos individuais, mas não foram a causa da extensa epidemias de doenças infecciosas. Alguns poucos isolados produtores de enzimas SME-1 e SME-2 começaram a aparecer em meados da década de 1990 em diversas localizações geográficas, mas nunca foram um problema clínico principal, como todas as serina carbapenemases, que nesse momento apareceu como enzimas cromossomicamente codificadas que eram espécie-específicos [1]. É interessante notar que várias serina carbapenemases foram identificadas de amostras de microrganismos isoladas de rios no meio dos Estados Unidos [3]. Na sequência de relatos de plasmídeo que codificam enzimas KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) a menos de 10 anos atrás [1], o papel da serina carbapenemases na clínica mudou drasticamente. Estas enzimas surgiram na costa leste dos Estados Unidos, foram transferidos para Israel e França, e já se tornaram um fator importante na disseminação global de Klebsiella multi-resistente [4], o aparecimento nos hospitais brasileiros ocorreu entre 2005-2006 [5-6]. Estas serina carbapenemases KPC são facilmente transferidos entre as Enterobacteriaceae e também estão sendo identificados em bactérias não fermentadoras, como a Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter sp. [7]. Os genes que codifi- cam essas enzimas são facilmente encontrados em transposons transmissíveis que normalmente, carregam outros determinantes de resistência, resultando em grande resistência as infecções nosocomiais. Apesar de algumas epidemias parecerem ser devido à distribuição clonal da mesma linhagem, outras epidemias, podem ser rastreadas pela transmissão de um transposon dominante, que é encontrado em várias espécies [8]. Pensou-se, em um determinado momento, que as metalo-b-lactamases eram um menor fator de resistência, mesmo após IMP-1 MBL ser identificada como uma enzima codificada por plasmídeo em 1990. As MBLs quase sempre aparecem em organismos que codificam pelo menos uma outra b-lactamase com perfis de substrato que se sobrepõem ao perfil MBL. A principal familia de MBL incluie as familias IMP e VIM que hoje somam mais de 50 enzimas [9]. Essas enzimas têm se espalhado por todo o mundo, com problemas particularmente notado no Sul da Europa [10] e na América do Sul [11]. No Brasil, as enzimas IMP-1 e SPM-1 (São Paulo metalo-b-lactamases) são MBLs predominantemente identificadas [12]. Recentemente, outra MBL geograficamente localizada, chamada de Nova Delhi metalo-b-lactamases (NDM1), foi identificada em bactérias entéricas e P. aeruginosa, e é a causa de grandes surtos na Índia, bem como em pacientes indianos que viajam para lugares como Austrália, Reino Unido e Estados Unidos [13]. O mais preocupante são os relatos de isolados contendo uma serina carbapenemase e uma MBL como visto na Grécia [14]. Se esses isolados tornaram-se amplamente disseminado, o futuro de antibióticos blactâmicos ficará dependente de terapia combinada, que inclui vários b-lactâmicos e inibidores de b-lactamases. Referencias 1. Queenan AM, Bush K: Carbapenemases: the versatile beta-lactamases. Clinical Microbiology Reviews 2007, 20:440-458. 10. Giske CG, Libisch B, Colinon C, Scoulica E, Pagani L, Fuzi M, Kronvall G, Rossolini GM: Establishing clonal relationships between VIM1-like metallo-beta-lactamase-producing Pseudomonas aeruginosa 2. Materon IC, Queenan AM, Koehler TM, Bush K, Palzkill T: Biochemical characterization of beta-lactamases Bla1 and Bla2 from Bacillus anthracis. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2003, 47:2040-2042. strains from four European countries by multilocus sequence ty- 3. Aubron C, Poirel L, Ash RJ, Nordmann P: Carbapenemase-producing Enterobacteriaceae, US rivers. . Emerg. Infect. Dis. 2005, 11:260-264. 11. Tognim MCB, Gales AC, Penteado AP, Silbert S, Sader HS: Dissemi- 4. Hawser SP, Bouchillon SK, Hoban DJ, Hackel M, Johnson JL, Badal RE: Klebsiella pneumoniae isolates possessing KPC beta-lactamase in Israel, Puerto Rico, Colombia and Greece. International Journal of Antimicrobial Agents 2009, 34:384-385. 5. Monteiro J, Santos AF, Asensi MD, Peirano G, Gales AC: First report of KPC-2-producing Klebsiella pneumoniae strains in Brazil. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2009, 53:333-334. 6. Pavez M, Mamizuka EM, Lincopan N: Early dissemination of KPC2-producing Klebsiella pneumoniae strains in Brazil. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2009, 53:2702. 7. Robledo IE, Aquino EE, Sante MI, Santana JL, Otero DM, Leon CF, Vazquez GJ: Detection of KPC in Acinetobacter spp. in Puerto Rico. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2010, 54:1354-1357. 8. Naas T, Cuzon G, Villegas MV, Lartigue MF, Quinn JP, Nordmann P: Genetic structures at the origin of acquisition of the beta-lactamase bla KPC gene. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2008, 52:12571263. 9. Jacoby GA, Bush K: Amino acid sequences for TEM, SHV and OXA extended-spectrum and inhibitor resistant b-lactamases. Edited by: Lahey Clinic; 2010. ping. Journal of Clinical Microbiology 2006, 44:4309-4315. nation of IMP-1 metallo- beta -lactamase-producing Acinetobacter species in a Brazilian teaching hospital. Infection Control & Hospital Epidemiology 2006, 27:742-747. 12. Wirth FW, Picoli SU, Cantarelli VV, Goncalves AL, Brust FR, Santos LM, Barreto MF: Metallo-beta-lactamase-producing Pseudomonas aeruginosa in two hospitals from southern Brazil. Brazilian Journal of Infectious Diseases 2009, 13:170-172. 13. Yong D, Toleman MA, Giske CG, Cho HS, Sundman K, Lee K, Walsh TR: Characterization of a new metallo-beta-lactamase gene, bla(NDM-1), and a novel erythromycin esterase gene carried on a unique genetic structure in Klebsiella pneumoniae sequence type 14 from India. Antimicrobial Agents & Chemotherapy 2009, 53:50465054. 14. Pournaras S, Poulou A, Voulgari E, Vrioni G, Kristo I, Tsakris A: Detection of the new metallo-b-lactamase VIM-19 along with KPC-2, CMY-2 and CTX-M-15 in Klebsiella pneumoniae. Journal of Antimicrobial Chemotherapy 2010, 65:1604-1607. 9 Mesa Redonda Dia: 01 de Outrubro de 2010 Hora: 16:30 às 18:00 Sala: 03 MALDI-TOF ICMS na Microbiologia Clínica: Porquê começar a usar? Cledir Santos e Nelson Lima IBB - Centro de Engenharia Biológica, Micoteca da Universidade do Minho, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal [email protected]; [email protected]. Matrix Assisted Laser Desorption Ionisation – Time Of Flight Mass Spectrometry (MALDI-TOF MS) é uma técnica físico-química robusta para a análise de moléculas orgânicas. Esta técnica tem dado um grande contributo para o conhecimento científico a cerca da identificação dos microrganismos, sendo já utilizada como uma ferramenta eficaz para testes rápidos de análises clínicas em hospitais e centros de saúde. Neste caso, o interesse da técnica em questão é a análise da célula intacta microbiana, onde o espectro gerado é interpretado como um fingerprint celular. Esta abordagem é designada por MALDI-TOF IC (Intact Cell) MS. Em MALDI-TOF ICMS, uma pequena quantidade da amostra do material biológico (cerca de 50 µg) é transferida directamente da placa de cultura para a placa de MALDI-TOF e recoberta por uma matriz orgânica em solução aquosa e acidificada. Sendo a acidez do meio fundamental para a extracção proteica óptima. Depois de evaporada a fase líquida, obtém-se um material cristalizado, necessário à ionização das moléculas. As amostras são, então, submetidas a um sistema de vácuo e irradiadas por um laser pulsado de nitrogénio a 337 nm. Esta irradia- 10 ção conduz à ionização suave das moléculas, onde a matriz orgânica previne a fragmentação molecular. A nuvem de iões gerada durante a ionização é acelerada para dentro do tubo “TOF”, onde esses iões são separados de acordo com os seus tempos de voos individuais. O tempo de voo de cada ião ocorre em função da razão massa/carga (m/z) e os espectros finais são obtidos numa escala de 2 a 20 kDa. Finalmente, os espectros são tratados numa base de dados contendo espectros teóricos e experimentais para as diferentes espécies de microrganismos. A presente técnica é bastante robusta na identificação microbiana até ao nível de espécie. Contudo, em alguns casos, é possível a diferenciação de microrganismos até ao nível de estirpe. O MALDI-TOF ICMS tem-se mostrado como sendo de grande relevância para a investigação em microbiologia clínica, dado tratar-se de uma técnica simples, económica, rápida (~ 2 min/amostra) e de elevada eficácia. Neste contexto, a identificação microbiana por esta técnica apresenta-se, ainda, como a ponta de um iceberg, ficando aqui a questão: MALDI-TOF ICMS na microbiologia clínica: Porquê começar a usar? Ciência in Foco BIOSSÍNTESE E ATIVIDADE DE BACTERIOCINAS, E MECANISMOS BACTERIANOS DE AUTOIMUNIDADE Marcela Motta Drechsel Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Agronomia, Departamento de Fitotecnia, Seropédica, RJ - Brasil. Stefan Schwab, Marcia Soares Vidal, José Ivo Baldani Embrapa Agrobiologia, Laboratório de Genética e Bioquímica, Seropédica, RJ - Brasil. Introdução Atualmente, na agricultura, a utilização crescente de agroquímicos com fungicidas, pesticidas e herbicidas têm preocupado cada vez mais a sociedade devido aos aspectos econômicos e ambientais. O controle biológico vem nesse ambito como uma alternativa ecologicamente viável no ramo da fitopatologia. O controle biológico por organismos antagonistas pode se dar por diferentes formas sendo que as principais são: antibiose, competição, parasitismo, interferência nos mecanismos de virulência do patógeno e indução de resistência na planta (Strange, 2003). Em relação a antibiose, os microrganismos antagonistas possuem a capacidade de sintetizar muitos compostos antimicrobianos. Dentre eles estão a produção de antibióticos (fenazinas, acetilfloroglucinol, oomicina, antranilatos), bacteriocinas, sideróforos e outros compostos voláteis. As bacteriocinas são compostos produzidos por bactérias que inibem ou matam outras bactérias sendo estas na maioria das vezes filogeneticamente re- lacionadas com as produtoras (James et al., 1996). Apesar de haver grande diversidade de bacteriocina, a maioria delas apresenta características em comum. Elas geralmente apresentam alto peso molecular e uma ação anti-microbiana que interfere na parede celular do organismo alvo de diversas formas, podendo inibir a biossíntese da parede celular ou ocasionando a formação de poros na mesma, resultando assim a morte celular (Jack et al., 1995). Diferentemente de outros compostos antibacterianos produzidos por bactérias, as bacteriocinas se caracterizam por sua ação letal primária, sua inativação por tripsina e resistência a pH 2 (Klaenhammer, 1988). Bacteriocinas em bactérias gram-positivas Classificação As bacteriocinas produzidas pelas bactérias gram-positivas são geralmente catiônicas, anfifílicas e de tamanho que varia de 2 a 6 kDa (van Kraaij et al., 1999). As bactérias gram-positivas mais conhecidas como sendo produtoras de bacteriocinas são as bactérias produtoras de ácido lático (LAB) que atuam na conservação de carnes e produtos lácteos. Segundo Klaenhammer (1993), as bacteriocinas produzidas por bactérias gram-positivas estão distribuídas em 4 diferentes classes. Em geral, na classe I encontram-se os lantibióticos que são pequenos peptídeos (19 a 38 resíduos de aminoácidos), termoestáveis de baixo peso molecular (< 5 kDa) e que apresentam em sua composição aminoácidos de lantionina e ß-metil-lantionina (Guder et al., 2000). A classe II caracteriza-se por apresentar bacteriocinas com tamanho de 30 a 60 aminoácidos, termoestáveis, de peso molecular menor que 10 kDa e que não contenham a lantionina como aminoácido. As bacteriocinas da classe III caracterizam-se por apresentar peptídeos termolábeis extremamente sensíveis ao calor e de alto peso molecular (> 30 kDa). Já na classe IV encontram-se grandes complexos peptídicos contendo carboidrato ou lipídio em sua estrutura (Riley, 1998). 11 Biossíntese A síntese de bacteriocina geralmente envolve quatro genes distintos, que geralmente se localizam em um só operon. O primeiro é o responsável pela síntese de um pré-peptídio ou pré-bacteriocina. O segundo gene é responsável pela síntese de uma proteína que confere imunidade a bacteriocina por ela produzida. O terceiro que codifica proteínas do transporte ABC que exportam a bacteriocina e, por fim, o quarto gene ainda tem uma função pouco conhecida, mas se sabe que ele codifica uma proteína acessória que embora não pertença ao transporte ABC, se faz necessária para a exportação (Nes et al., 1996). As bacteriocinas são sintetizadas, primeiramente, na forma de pré-peptídeos ou pré-bacteriocinas biologicamente inativos. Esses pré-peptídeos contêm uma seqüência guia N-terminal de 18 a 27 aminoácidos, apresentando 2 glicinas. Este precursor é transportado à superfície celular durante a fase de crescimento exponencial e catalisado na forma ativa. O transportador contém uma porção proteolítica N-terminal, responsável pela clivagem do peptídeo guia, além de uma porção C-terminal responsável pela hidrólise do ATP e fornecimento de energia (Aucher et al., 2005). A função da seqüência guia na pré-bacteriocina é de evitar que a bacteriocina seja biologicamente ativa dentro da célula produtora e servir como sinal de reconhecimento para o sistema de transporte que envolve as proteínas do transporte ABC e a proteína acessório (Nes et al, 1996). Segundo Moll et al. (1999), as duas glicinas presentes na seqüência de aminoácidos são as responsáveis pelo reconhecimento da pré-bacteriocina no sistema de transporte. Após o reconhecimento do pré-peptídio, a seqüência de aminoácidos é removida, e a bacteriocina, excretada da célula. (Ennahar et al., 2000) O sistema responsável pela regulação da produção de bacteriocinas é composto por três componentes: um peptídeo indutor (ferormônio ou fator de ativação), uma histidina quinase transmembrana (proteína receptora do fator de ativação) e uma proteína reguladora de resposta (Nes & Eijsink, 1999). O peptídeo indutor é produzido no ribossomo como pré-peptídeo que é clivado e secretado no meio externo pelo transportador. Quando este atinge uma certa concentração no meio extracelular, a histidina quinase transmembranar é ativada fosforilando assim a Figura 1: Representação esquemática da biosíntese e regulação da bacteriocina da classe II. Adaptação de Drider et al., 2006. 12 proteína reguladora de resposta. A proteína reguladora, uma vez fosforilada, ativa a transcrição da bacteriocina iniciando assim um feedback positivo (Drider et al., 2006) (Figura 1). Mecanismos de ação Estudos revelam que muitas das bacteriocinas produzidas pelas bactérias gram-positivas como os lantibióticos atuam a nível de membrana plasmática (Montville & Chen, 1998). Estas bacteriocinas permeabilizam a membrana plasmática por meio da formação de poros ocasionando assim desbalanço iônico e do fluxo de íons fosfato. Com isso há a dissipação da força protômica (PMF) que está envolvida diretamente com a síntese de ATP, fosforilação das proteínas, síntese e rotação dos flagelos e transporte de proteínas (Rosa & Franco, 2002). Com a dissipação da força protônica, 98,9% de ATP é hidrolisado. O transporte ativo de aminoácidos cessa e os aminoácidos de reserva são liberados da célula pelos poros formados. Esse distúrbio primário talvez gere outras desordens como lise celular. (Garcerá et al., 1993). A formação dos poros pela bacteriocina se dá pelas interações eletrostáticas entre a carga positiva e os resíduos polares da bacteriocina com os fosfolipídios aniônicos presentes na membrana plasmática das células alvo (Abee et al., 1995). Em relação a formação dos poros as bacteriocinas podem atuar de duas formas distintas. Elas diferem quanto a forma de inserção da bacteriocina na membrana da célula-alvo. No modelo Barrel-stave, a bacteriocina se liga como monômero na membrana citoplasmática, inserindo-se na bicamada lipídica e se agregando lateralmente para a formação do poro (Moll et al., 1999). No modelo Wedge-like a formação do poro se dá pela atuação local da bicamada lipídica. Quando a bacteriocina se liga a membrana plasmática, esta apenas entra em contacto com a parte hidrofílica e não com a parte hidrofóbica (Figura 2). Mecanismos de auto-proteção pelas bactérias produtoras de bacteriocinas As bactérias produtoras de bacteriocinas possuem a capacidade de se auto-defender contra seus agentes an- timicrobianos uma vez que estes são sintetizados em uma forma não ativa dentro da célula. Como já dito anteriormente, o pré-peptídeo formado possui uma seqüência guia N-terminal que além de tornar a bacteriocina inativa ainda serve como reconhecimento para as proteínas de transporte. Os sistemas de secreções das bacteriocinas contribuem para a auto-defesa da célula produtora. Estes transportadores do tipo ABC utilizam ATP para secretar a bacteriocina através da membrana. Nos estudos de Haverstein et al., 1995 foi observado que as proteínas de transporte ABC que excretam bacteriocina possuem um domínio proteolítico em sua região N-terminal que realizam duas funções. Uma delas é a remoção da seqüência terminal da prébacteriocina e a outra é sua subseqüente translocação através da membrana plasmática. Com isto o sistema de transporte impede que a bacteriocina madura permaneça no citoplasma. Como já descrito anteriormente, no mesmo operon, além do gene da síntese da pré-bacteriocina e do transportador, está localizado o gene que codifica uma proteína de imunidade (Moll et al., 1999). Esta proteína confere às células produtoras uma alta resistência as bacteriocinas por elas sintetizadas. Cada bacteriocina apresenta a sua própria proteína que lhe confere imunidade, e esta é expressa concomitantemente com a bacteriocina. As proteínas de imunidade permanecem no espaço intracelular e se ligam a proteínas de membrana da célula produtora, impedindo a atuação da bacteriocina (Figura 4) (Nascimento et al., 2008). O mecanismo de ação destas proteínas ainda não foi claramente elucidado. Atualmente se sabe que as proteínas de imunidade das células gram-positivas se encontram no citoplasma (Dayem et al., 1996). Alguns autores sugerem que o domínio C-terminal da bacteriocina é reconhecido pelo domínio C-terminal da proteína de imunidade. De acordo com este modelo, a bacteriocina e a proteína de imunidade estão localizadas de lados opostos da membrana plasmática não parecendo haver um contato direto entre as duas moléculas (Fimland et al., 2005). Ou seja, a própria membrana ou algum componente específico ainda não conhecido parece desempenhar um pa- Figura 2: Formação de poros membranares ocasionados por bacteriocinas Onde: a letra A representa o modelo Barrel-stave e B o modelo Wedge-like Fonte : Moll et al., 1999 Figura 4: Mecanismo de biossíntese, regulação e imunidade de bacteriocinas produzidas por bactérias gram-positivas. Fonte: Nascimento et al., 2008. pel crucial como mediador no reconhecimento entre a bacteriocina e a proteína de imunidade. A princípio, a proteína de imunidade poderia interagir com o poro formado pela bacteriocina bloqueando-o (Drider et al., 2006). Outra possibilidade seria a proteína de imunidade interagir com receptores para bacteriocinas e inibir diretamente ou indiretamente sua ação por meio da alteração da conformação do receptor (Venema et al, 1994). Bacteriocinas em bactérias gramnegativas Classificação Geralmente as bacteriocinas das bactérias gram-negativas são maiores que as das gram-positivas. Porém seu tamanho varia de cerca de 10kDa a 20 kDa. Dentre as bacteriocinas mais conhecidas estão a colicina, a microcina 13 Ciência in Foco e a piocina. Das bacteriocinas produzidas pelas bactérias Gram-negativas, as colicinas da bactéria Escherichia coli é a mais estudada (Lazdunski, 1988). Elas possuem alto peso molecular (acima de 20 kDa) e seus genes se localizam geralmente em plasmídeos. As colicinas tem por característica inibir o crescimento de bactérias que são estreitamente relacionadas filogeneticamente com a E. coli e o gênero Salmonella (Braun et al., 1994). As colicinas têm sido amplamente estudadas e são utilizadas como modelo no estudo dos mecanismos de síntese, ação e regulação das bacteriocinas (Braun et al., 1994). As microcinas se caracterizam por serem termoestáveis, resistentes a certas proteinases, hidrofóbicas, resistentes em pH baixo e por possuir baixo peso molecular (menos que 10 kDa). É sintetizada principalmente por bactérias do gênero Enterobacteriaceae (Gillor et al., 2005). Outro grande grupo de bacteriocinas produzidas por bactérias gram-negativas é o da piocina. O gênero Pseudomonas representa seu maior produtor sendo que até 90% das estir- Figura 3 : Modo de ação da colicina A. Onde: OM = membrana externa, IM = membrana interna, PG = peptideoglicanos, P = espaço periplasmático. 1: Colicina com seus três domínios, 2: Domínio RB se liga ao receptor (BtuB) e se desdobra. O domínio C entra na porina OmpF. 3: O domínio T interagem com a proteína TolB que não pode mais interagir com a proteína PAL. 4: O domínio C penetra na membrana interna formando o poro. (Fonte: Cursino et al., 2002). 14 pes da espécie Pseudomonas aeroginosa sintetiza pelo menos uma piocina Uma característica que difiere as piocinas das colicinas é que os genes que sintetizam as piocinas são encontrados exclusivamente em cromossomos e não em plasmídios (Riley & Gordon, 1992). Biossíntese A maioria dos artigos que abordam a síntese de bacteriocinas em bactérias gram-negativas faz referência a produção das colicinas. Os genes que codificam as colicinas são encontrados em plasmídios denominados pCol de Escherichia coli (Braun et al., 1994). Nestes plasmídios, são encontrados os genes estruturais (que codifica a colicina propriamente dita (col ou cea)), o gene que codifica uma proteína de imunidade e o gene que codifica uma proteína de transporte para a liberação da colicina no meio. O gene para a colicina e o de sua liberação geralmente constituem um único operon. Em condições normais, a transcrição do operon é reprimido pela ligação da proteína repressora LexA (Cursino et al., 2002). A produção da colicina é induzida pela presença de agentes que danificam o DNA ou por fatores ambientais como o aumento da densidade populacional ou falta de nutrientes. Quando as bactérias produtoras são expostas a irraidação UV a colicina é produzida em grande escala (James et al., 1996). O fator responsável por esta indução é o “sistema SOS de reparo do DNA” que causa a ativação da proteinase RecA que inativa a proteína LexA desbloqueando a síntese da colicina (Spangler et al., 1985). Quando o sistema SOS é induzido, a colicina se acumula dentro da célula e sua exportação só inicia quando esta se encontra em uma grande concentração no citoplasma bacteriano. Pela ação da proteína de transporte, a membrana externa começa a ficar permeável permitindo assim a liberação de proteínas de baixo peso molecular, o que inclui as colicinas. Em algumas bactérias, o aumento na permeabilidade da membrana externa acarreta na lise parcial das células ocasionando a morte das células produtoras. Desta forma, a produção de colicina é conhecida como um fenômeno “suicida” (Alonso et al., 2000). Ciência in Foco Mecanismos de ação No caso das colicinas, estas possuem a capacidade de ocasionar a morte celular de bactérias sensíveis por três diferentes formas. A principal delas, como acontece nas bactérias gram-positivas, é a formação de poros na membrana plasmática, resultando na despolarização membranar (Smarda & Smajs, 1998). Este mecanismo é melhor entendido quando se observa a figura 3. Na figura, observa-se que a colicina, neste caso a colicina A, possui três domínios distintos. Um domínio responsável pela ligação com receptores das células alvos (RB), um domínio responsável pela translocação da proteína (T) e um domínio responsável pela ação da colicina propriamente dita (C). Primeiramente, a colicina se liga a um receptor específico na membrana externa da célula alvo (BtuB). Após o reconhecimento e ligação com este receptor, a colicina então é desdobrada, permitindo a translocação do domínio T para dentro de uma proteína porina (OmpF). Dentro da membrana externa, o domínio T reagem com a proteína TonB. A proteína TonB ligada ao domínio T não pode mais interagir com a proteína de membrana PAL. Quando esta ligação não ocorre há uma desestabilização local dos peptideoglicanos que permite que o domínio A entre na membrana interna da célula alvo e forme o poro. Com a formação dos poros, o gradiente eletroquímico transmembranar é interrompido e ocorre um efluxo de fosfato e potássio para fora da célula o que diminui os níveis de ATP citoplasmáticos (Lazdunski et al., 2000). Outra forma, porém bem menos freqüente, é quando a colicina atua como nuclease podendo atuar diretamente contra o DNA cromossomal da célula alvo atuando como uma endonuclease. A colicina também pode atuar degradando a parede celular e inibindo a síntese de peptideoglicanos e mureína (Smarda & Smajs, 1998). Mecanismos de auto-proteção pelas bactérias produtoras de bacteriocinas As bactérias produtoras de colicinas possuem um mecanismo de proteção contra as bacteriocinas que produzem. O mecanismo com o qual as bactérias produtoras se defendem contra a colicina produzida dentro de sua própria célula ainda não é bem conhecido (Alonso et al., 2000). A proteína de imunidade (imm) e a colicina são transcritas no mesmo plasmídeo. Ao contrário da colicina, a proteína de imunidade é constantemente produzida não tendo necessidade de nenhuma indução. A proteína de imunidade confere resistência contra a colicina que as próprias células produzem mas não contra colicinas heterólogas mesmo que estas possuam o mesmo mecanismo de ação e seqüências similares (Cascales et al., 2007). Ao contrário das bactericinas produzidas pelas bactérias gram-positivas, as colicinas já são sintetizadas em sua forma ativa e não como pré-peptídeo. Entretanto, Cascalet et al. (2007) citam que a proteína de imunidade é apenas necessária para proteger a célula quando a bacteriocina encontra no meio extracelular, uma vez que a colicina dentro da célula é incapaz de formar o poro devido a polaridade do potencial transmembranar no interior da célula ser oposto ao necessário para a formação do poro. Experimentos de Goldman et al., (1985) demonstram que esta proteína se localiza possivelmente na membrana interna. A proteína de imunidade reconhece o domínio C-terminal da colicina. A proteína de imunidade interage então diretamente com o domínio C responsável pela a formação de poro na colicina na membrana interna (Cascales et al., 2007). De fato, a proteína de imunidade não evita que a colicina se ligue aos receptores mas sim impede que o poro se forme ou bloqueando-o caso haja a formação do mesmo. Referências Abee, T.; Krockel, L.; Hill, C. (1995). Bacteriocins: modes of action and potentials in food preservation and control of food poisoning. International Journal of Food Microbiology, 28 (2), 169-85. Alonso, G.; Vílchez, G.; Lemoine, V.R. (2000). How bacteria protect themselves against channel-forming colicins, International Microbiology 3 (2), 81–88. Aucher, W.; Lacombe, C.; Héquet, A.; Frère, J.; Berjeaud, J.M. (2005). Influence of amino acid substitutions in the leader peptide on maturation and secretion of mesentericin Y105 by Leuconostoc mesenteroides. Journal of Bacteriology 187 (6), 2218-2223. Braun, V.; Pilsl, H.; Gross, P. (1994). Colicins: structures, modes of action, transfer through membranes, and evolution, Archives of Microbiology 161 (3), 199-206. 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Introdução As bactérias promotoras do crescimento vegetal (PGPB) colonizam a rizosfera e o interior dos tecidos de muitas espécies de plantas, podendo causar efeitos benéficos a elas, como o aumento do crescimento vegetal (KLOEPPER et al., 2004). Como as PGPBs interagem com as plantas e afetam a fisiologia e metabolismo vegetal ainda não está totalmente esclarecido. Existem muitas pesquisas relacionadas com os efeitos das PGPBs quando utilizadas como agentes de controle biológico, entretanto, poucos trabalhos foram publicados enfatizando o papel das PGPB como promotoras de tolerância aos estresses ambientais (ZHUANG, et al., 2007). Os estresses ambientais são os principais fatores limitantes para a produtividade agrícola no mundo inteiro (CHERRY, 1987). Esses estresses di- minuem o rendimento das culturas em até 50 – 80% (BRAY et al., 2000) e também representam um obstáculos para a introdução de plantas cultivadas em áreas onde o cultivo não é adequado. O estresse é definido como uma influência fora da faixa normal de controle homeostático de um determinado genótipo. Sempre que a tolerância ao estresse for excedida, os mecanismos de resposta são ativados (LERNER, 1999) e quando 17 o estresse for controlado, gera-se um novo estado fisiológico e a homeostase é restabelecida. Quando não existir mais a condição de estresse, a planta pode retornar ao estado original ou um novo estado fisiológico pode ser estabelecido (AMZALLAG, 1999). Os estresses abióticos para as plantas incluem temperaturas altas e baixas (SUNG et al., 2003), salinidade (HASEGAWA et al., 2000), seca (ZHU, 2002), alagamento (DAT et al., 2004), luz ultravioleta (STRATMANN, 2003), poluição do ar (ozônio) (LANGEBARTELS et al., 2002), a presença de metais pesados (SCHUTZENDUBEL & POLLE, 2002) e a deficiência ou excesso de nutrientes (STEVENSON & COLE, 1999). 1. Pgpb induzem o aumento da tolerância das plantas a diferentes estresses abióticos 1.1. Aumento da tolerância de plantas à salinidade A salinidade dos solos em regiões áridas é um fator que frequentemente limita a produção agrícola. Sob condições de alta salinidade, as plantas exibem um decréscimo na absorção de água e uma subseqüente redução na taxa de crescimento das folhas, que resulta em uma restrição na capacidade fotossintética (MUNNS, 2002). Sob condições de estresse, o nível de etileno endógeno das plantas regula a homeostase vegetal, resultando na redução de raízes e parte aérea (GLICK et al., 2007). Como pode ser observado na Figura 1, a biossíntese do etileno se inicia a partir do ciclo da metionina, onde S-adenosil-metionina (AdoMet) é convertido a 1-aminociclopropano-1-carboxilato (ACC) através da ação da enzima ACC sintase. Posteriormente, o ACC é utilizado como substrato da ACC oxidase, que através de uma reação com consumo de oxigênio produz o etileno (TAIZ & ZEIGER, 2009). A enzima ACC sintase é regulada por vários sinais, dentre eles o próprio etileno, alguns fatores ambientais e a auxina (ETESAMI et al., 2009). Glick et al. (1998) propôs um modelo através do qual as PGPBs poderiam diminuir os níveis de etileno nas plantas. Neste modelo, em resposta ao triptofano ou outras moléculas exsudadas pelas raízes, as bactérias sintetizariam AIA que seria utilizado pela planta. Este AIA, em conjunto com aquele produzido pelo vegetal, estimularia a proliferação celular ou induziria a transcrição de ACC sintase, aumentando a produção de ACC. Algumas dessas moléculas de ACC seriam absorvidas pelas bactérias (PENROSE et al., 2001) e clivadas pela ação da enzima ACC deaminase (Figura 1). Essa enzima, descoberta em 1978 (HONMA & SHIMOMURA, 1978), compete com a ACC oxidase e catalisa a clivagem do ACC a a-cetobutirato e amônia, que é utilizada como fonte de nitrogênio por essas bactérias (GLICK et al., 1998). Consequentemente, essa degradação diminui os níveis de etileno produzidos pelas plantas. Esta redução, em combinação com a ação de auxinas - que podem ser produzidas pelo mesmo microrganismo - causa um efeito consi- Figura 1: Provável rota biossintética do etileno em plantas e a ação da enzima ACC deaminase de bactérias (adaptado de TAIZ & ZEIGER, 2009). 18 derável no crescimento e desenvolvimento de raízes. Mayak et al. (2004a) realizaram um estudo de inoculação com a bactéria Achromobacter piechaudii, isolada da rizosfera de Lycium shawii crescida no leito seco de um rio na região de Arava em Israel. Em um dos tratamentos, duas semanas após a germinação de plântulas de tomate (Solanum lycopersicum L.), aplicou-se uma suspensão da bactéria A. piechaudii ARV8 e irrigou-se com solução de NaCl (207 mM). Nos tratamentos controles, não houve inoculação bacteriana e as plântulas foram irrigadas apenas com água ou com solução de NaCl (207 mM). Após cinco semanas de cultivo, os autores observaram uma redução no teor de etileno e consequentemente, um aumento de até 66% no crescimento de plântulas de tomate (Solanum lycopersicum L.) expostas à alta concentração salina e inoculadas com bactéria, quando comparadas com as plântulas expostas à alta concentração de sal, mas sem inoculação. Esses resultados sugerem que a enzima ACC deaminase da bactéria foi funcional. Na ausência de contato físico com as raízes das plantas, algumas estirpes de PGPBs, emitem compostos orgânicos voláteis (VOC) que induzem a promoção do crescimento vegetal (RYU et al., 2003; 2004). Bacillus subtilis GB03 produzem os VOCs, 3-hidroxi-2-butanona e 2,3-butanodiol, compostos determinantes na indução da tolerância ao estresse por essa bactéria (ZHANG et al., 2008). Esse dado foi confirmado em um estudo recente realizado por ZHANG et al. (2008), onde os autores observaram a indução de tolerância a estresse salino em plantas de Arabidopsis após a inoculação da bactéria B. subtilis GB03. Além disso, mutantes dessa bactéria defectivas na produção de 3-hidroxi-2-butanona e 2,3-butanodiol não foram capazes de promover o crescimento vegetal, sob condições de estresse. Neste caso, o mecanismo relacionado ao aumento da tolerância das plantas ao estresse salino parece envolver o transportador HKT1 (High Affinity K+ Na+ Transporter 1) HKT1 é um transportador de Na+ (RUS et al., 2004que parece ajustar os níveis deste íon de modo diferencial, dependendo do tecido vegetal: nas raízes, ele regula o influxo de Na+ (RUS et al., 2001), enquanto que, nos tecidos da parte aérea ele recupera Na+ do xilema, facilitando a recirculação deste íon da parte aérea para a raiz (DAVENPORT et al., 2007). Sob alta concentração de sal no solo, os VOCs bacterianos induzem uma redução na expressão de HKT1 em raízes, diminuindo a captação de Na+, enquanto que, nos tecidos da parte aérea, a expressão do HKT1 é aumentada, o que , mantém baixo os níveis de Na+, mantendo e sustentando a recirculação deste íon em toda a planta. Essa regulação foi comprovada após a exposição de um mutante de Arabidopsis defectivo na produção de HKT1 (athkt1) aos VOCs 3-hidroxi-2butanona e 2,3-butanodiol emitidos por B. subtilis GB03. Essa exposição resultou em fenótipos vegetais típicos de estresse salino, como o nanismo, e levou a uma inibição do crescimento das plântulas (ZHANG et al., 2008). Em estudos com Arabidopsis, verificou-se que mais de 25 VOCs bacterianos têm capacidade de alterar a expressão de aproximadamente 600 genes. Dentre esses genes, observou-se uma redução na transcrição do transportador HKT1 em raízes (FARAG et al., 2006), mais uma evidência que a percepção vegetal dos VOCs bacterianos causa uma regulação específica de HKT1, o que pode controlar a homeostase de Na+ sob o estresse salino. Yildirim e colaboradores (2008) avaliaram a alteração no peso fresco e seco de raiz e parte aérea, percentual de emergência, teor de clorofila, número de folhas por planta, conteúdo relativo de água na folha e composição iônica das folhas, pro- movidos pelas bactérias Staphylococcus kloosii EY37 e Kocuria erythromyxa EY43 em plantas de rabanete (Raphanus sativus l.) submetidas a estresse salino. Nos controles, sem inoculação, o tratamento com sal diminuiu significativamente todos os parâmetros avaliados, entretanto, os tratamentos inoculados com EY37 e EY43, sob condições de estresse salino, apresentaram um aumento em todos os caracteres avaliados. A composição iônica das folhas das plantas de rabanete avaliadas neste estudo foi afetada significativamente pela salinidade e pelas inoculações bacterianas. Todos os elementos analisados decaíram substancialmente após o tratamento com a solução salina, exceto o Na e o Cl que aumentaram consideravelmente. Portanto, a inoculação de EY37 e EY43 sob condições de salinidade, ameniza os efeitos deletérios do estresse salino na nutrição e nos parâmetros de crescimento de plantas de rabanete. 1.2. Aumento da tolerância de plantas à seca As previsões ambientais indicam um aumento do aquecimento global nas próximas décadas e um aumento dos períodos de seca certamente acompanharão esse fenômeno. O estresse causado por essa deficiência hídrica limita o crescimento e a produtividade de diversas culturas, particularmente nas regiões áridas e semi-áridas (KRAMER & BOYER, 1995). O desenvolvimento de cultivares mais tolerantes a períodos de déficit hídrico, bem como o desenvolvimento de tecnologias que auxiliem as plantas a tolerar períodos prolongados de estiagem, serão essenciais para a manutenção da produtividade agrícola brasileira e mundial (HERRMANN & HUTCHINSON, 2005). As respostas da planta aos estresses causados pela alta concentração salina e pela seca são muito similares e envolvem um grande número de mudanças metabólicas e fisiológicas; entanto, grande parte dessas alterações não foram totalmente caracterizadas. Essas mudanças tem com objetivo manter o crescimento e a reprodução do vegetal, e dependem da severidade, da duração e da natureza do estresse, além do genótipo e do estágio de desenvolvimento da planta. Dentre as modificações nos mecanismos morfológicos, podemos citar o movimento e a abscisão das folhas, aumento da pilosidade foliar e uma maior razão raiz: parte aérea (SUSILUOTO & BERNINGER, 2007). Esses mecanismos visam evitar a perda de água pelas folhas e aumentar a área de solo explorada pelas raízes, com o objetivo de captar mais água e nutrientes. Os mecanismos fisiológicos mais alterados em condições de seca são a as propriedades hidráulicas da raiz. Sob condições de déficit hídrico moderado, a condutividade hidráulica das raízes aumenta visando a captação de mais água do solo (SIEMENS & ZWIAZEK, 2004). Para tal, as plantas realizam o ajuste osmótico, através do acúmulo de açúcar ou outras substâncias compatíveis, como: prolinas, glicinas, manitol e sorbitol, que ajuda a manter o turgor das células. Diversas plantas transgênicas que super-produzem tais solutos mostraram maior tolerância à seca (CHINNUSAMY et al., 2005). Porém, sob condições mais severas de seca, a condutividade hidráulica das raízes decresce a fim de evitar a perda de água pelos tecidos radiculares. Essas mudanças na condutividade hidráulica também estão relacionadas com a abundância de aquaporinas, canais protéicos presentes nas membranas, que facilitam a passagem de água a favor do gradiente osmótico (AROCA et al., 2006). Outros mecanismos fisiológicos alterados sob condições de déficit hídrico são a transpiração e a condutância nas folhas, que diminuem e, em algumas circunstâncias, a eficiência no uso da água, que aumenta (TAMBUSSI et al., 2007). Com esse aumento na eficiência do uso da água ocorre uma redução no volume de água necessário para produzir a mesma quantidade de biomassa vegetal, um mecanismo importante para manter o crescimento vegetal sob condições de limitação de água. Esses mecanismos que permitem que as plantas lidem com o déficit hídrico são regulados através de mudanças na expressão gênica. Os genes regulados pela seca podem ser divididos em dois grupos: genes funcionais, que incluem aqueles que codificam para transportadores, enzimas detoxificadoras, e chaperonas; e genes reguladores, que co- 19 dificam para fatores de transcrição, proteínas quinases ou fosfatases e enzimas envolvidas na biossíntese de hormônios (SHINOZAKI & YAMAGUCHI-SHINOZAKI, 2007). A expressão da maioria desses genes é regulada pelo ácido abscísico (ABA) (ZHU, 2002). O ABA é o hormônio vegetal mais envolvido na resposta à seca (LEUNG & GIRAUDAT, 1998), sendo um ótimo candidato a mensageiro secundário na mediação entre o sinal ambiental e as respostas moleculares, fisiológicas e/ou morfológicas no vegetal. O déficit de água promove um grande aumento dos níveis endógenos de ABA em todos os órgãos da planta, promovendo o fechamento estomático e limitando a perda de água através da transpiração (ZHU, 2002). Naturalmente, as plantas interagem com diversas PGPBs que induzem o aumento da tolerância aos estresses abióticos, como a seca. Em experimentos de campo, sob condições de déficit hídrico, plantas de sorgo inoculadas com Azospirillum apresentaram um aumento de 15-18% no rendimento de grãos quando comparado com as plantas não inoculadas (SARIG et al., 1988). As plantas inoculadas apresentaram maior teor de água e potencial hídrico além de possuírem menores temperaturas nas suas folhas, quando comparado com as plantas-controles. Por outro lado, a inoculação de Azospirillum em três espécies diferentes de cactos transplantados em solos de deserto aumentou a taxa de sobrevivência e desenvolvimento das plantas (BASHAN et al., 1999). Timmusk e Wagner (1999) mostraram que a inoculação de Paenibacillus polymyxa aumentou a tolerância de Arabidopsis thaliana à seca. Além disso, a transcrição do gene RAB18 (Responsive to Abscisic acid 18) foi quatro vezes maior nas plantas inoculadas com P. polymyxa quando comparadas às plantas-controles. A expressão desse gene é amplamente mediada pelo ácido abscísico e induzida sob condições de déficit hídrico. A super-expressão deste gene resulta em um aumento da tolerância à desidratação; entretanto, os mecanismos detalhados deste efeito ainda não são totalmente conhecidos. É possível, que o produto deste gene funcione como moléculas protetoras do tipo chapero- 20 nas, combatendo danos celulares. Sob condições de déficit hídrico, ocorre um aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS Reactive Oxygen Species) nos tecidos vegetais (SHVALEVA et al., 2006). Os compostos antioxidantes mais conhecidos e estudados são o ascorbato e a glutationa, porém algumas enzimas, como as catalases, superóxido dismutases e aquelas presentes no ciclo ascorbatoglutationa também agem removendo ROS gerados durante situações de seca (WU et al., 2006). Em estudo de inoculação realizado por Mayak et al. (2004b), utilizando a bactéria Achromobacter piechaudii, observaram uma redução no teor de etileno e consequentemente, um aumento no peso seco de plântulas de tomate (Solanum lycopersicum L.) e pimenta (Capsicum annuum L.) submetidas ao déficit hídrico. Neste experimento, após uma semana de plantio, a suspensão bacteriana foi inoculada e a irrigação foi interrompida 21 dias após a germinação e retomada 33 dias depois. O nível de etileno endógeno determina a redução de raízes e parte aérea. Entretanto, a degradação do precursor do etileno, o ACC, através da enzima bacteriana ACC deaminase o nível de etileno pode ser reduzido e a planta recupera o crescimento normal mesmo sob condições de estresse (JACOBSON et al., 1994). Portanto, os resultados obtidos por Mayak et al. (2004b) sugerem que a enzima ACC deaminase da bactéria A. piechaudii foi efetiva na alteração dos níveis de etileno vegetal. 1.3. Aumento da tolerância de plantas a alagamentos Períodos de alagamentos podem ocorrer diversas vezes durante uma estação e podem durar de um dois dias ou até algumas semanas. Durante este período, o ambiente em torno da raiz rapidamente se torna anaeróbico, causando a indução da expressão da enzima ACC sintase, o que resulta no acúmulo de ACC nos tecidos radiculares (ELSE & JACKSON, 1998). Sob outros tipos de estresse, uma porção significativa do ACC recém-sintetizado pode ser convertida em etileno nas raízes; entretanto, isso não é possível sob condições de alagamento, uma vez que a enzima ACC oxidase, necessita de oxigênio para catalisar essa reação (Figura 1). O ACC acumulado é, então, transportado para a parte aérea, onde encontra um ambiente aeróbico e o etileno pode ser produzido. O aumento do nível deste fitormônio causa epinastia, clorose das folhas, necrose e redução na produção de frutos. Quando as plantas alagadas são tratadas com PGPBs produtoras da enzima ACC deaminase, uma concentração muito inferior de ACC se acumula nas raízes. Conseqüentemente, ocorre uma redução significativa dos danos que seriam causados à planta pelo etileno recém-sintetizado. 1.4. Aumento da tolerância de plantas a solos de baixa fertilidade Obter os nutrientes dos solos em concentrações adequadas é outro estresse abiótico que as plantas estão freqüentemente submetidas. Normalmente, os nutrientes fósforo (P) e ferro (Fe) estão muito abundantes nos solos, porém, a maioria encontra-se sob a forma insolúvel, indisponível para as plantas (STEVENSON & COLE, 1999). Algumas PGPBs tem se mostrado eficiente em melhorar a nutrição vegetal disponibilizando nutrientes específicos para as plantas, principalmente fósforo e ferro, através da solubilização de fosfatos inorgânicos e da produção de sideróforos, respectivamente (PODILE & KISHORE, 2006), reduzindo, desta forma, a necessidade e da aplicação de fertilizantes. A solubilização de fosfatos inorgânicos pelas PGPBs pode ocorrer através da liberação de ácidos orgânicos, como ácido lático, glicólico, cítrico, acético, glucônico, málico, oxálico, succínico e tartárico, dentre outros (KUCEY et al., 1989), que acidificam o solo e liberam íons solúveis monobásicos (H2PO4-) e dibásicos (HPO4-2). Com a geração destes íons, aumenta a forma disponível de fósforo para as plantas, e conseqüentemente amplia a sua captação pelas mesmas (GYANESHWAR et al., 2002). Cerca de 30 a 50% do total do fósforo presente nos solos esta sob a forma orgânica, que pode ser mineralizada por fosfatases ácidas e alcali- nas das PGPBs, tornando-a disponível para as plantas como fosfato solúvel (GYANESHWAR et al., 2002). Vários microrganismos estão envolvidos nesses processos, mas as bactérias se destacam com o maior potencial para obtenção de fosfatos solúveis, sendo cerca de 40% das bactérias culturáveis capazes de solubilizar P (SPAEPEN, et al., 2009), onde os principais gêneros são Pseudomonas, Bacillus, Rhizobium, Burkholderia, Achromobacter, Microccocus, Aereobacter e Flavobacterium (VESSEY, 2003).As bactérias também desenvolveram uma estratégia para uma captação mais eficiente de Fe através da produção e secreção de compostos orgânicos quelantes de ferro, chamados sideróforos (do grego: sideros, ferro e foros, transportador) (BUYER et al., 1993). Essas moléculas atuam do lado externo da membrana celular, capturando moléculas de ferro Fe+3 em solução e ligando-se especificamente aos receptores do complexo localizados na membrana, por onde são absorvidos e disponibilizam o ferro absorvido para o metabolismo microbiano ou para o crescimento dos vegetais (RAAIJMAKERS et al. 1995). A biossíntese e os mecanismos de captação de ferro através dos sideróforos foram intensivamente estudados em diferentes espécies de Pseudomonas, sendo esse gênero a maior produtora dentre as bactérias Gram negativas (DAVID et al., 2005). Um mutante de P. fluorescens com sua produção de sideróforos 17 vezes superior à normal, apresentou um aumento na colonização e na promoção do crescimento de feijão-mungo (Vigna radiata) (KATIYAR & GOEL, 2004). O tratamento de sementes de milho com as estirpes produtoras de sideróforos Pseudomonas spp. GRP3A, PRS9 e P. chlororaphis, promoveu o aumento na germinação, no comprimento de raízes e parte aérea e no peso seco das plântulas de milho (SHARMA & JOHRI, 2003). Além de aumentar a disponibilidade de nutrientes para as plantas através da solubilização de fosfato e da produção de sideróforos, as PGPBs também afetam diretamente a habilidade dos vegetais em adquirirem esses nutrientes do solo. Esse processo se dá através de diversos meca- nismos, dentre eles, a produção de substâncias - como os fitormônios - que promovem aumento do crescimento de raízes laterais e pêlos radiculares (BAREA et al., 1976) ampliando o volume de solo exploradas pelas raízes e, conseqüentemente, a capacidade de captação de nutrientes. 2. perspectivas e Considerações finais Naturalmente, as plantas estão freqüentemente expostas a múltiplos estresses, e a sua capacidade de resposta a esses estresses determina a sua sobrevivência. A partir de diversos resultados de pesquisas disponíveis podemos destacar que o uso de PGPBs visando aumentar a capacidade de tolerância das plantas a esses estresses é uma estratégia promissora para manutenção dos níveis de produtividade mesmo em condições ambientais adversas. Por outro lado, devido aos efeitos benéficos exercidos pelas PGPBs, diversos estudos estão testando a utilização dessas bactérias como inoculantes visando à conservação de produtividade mesmo com reduzida aplicação de fertilizantes (YANG et al., 2009). 3. Referências Bibliográficas AMZALLAG, G.N. Plant evolution: toward an adaptive theory. In H.R. Lerner, (ed.) Plant responses to environmental stresses: from phytohormones to genome reorganization. M. Dekker, New York, p.171-245, 1999. AROCA, R. A.; FERRANTE, P.; VERNIERI, M. J.; CHRISPEEL, S. Drought, abscisic acid and transpiration rate effects on the regulation of PIP aquaporin gene expression and abundance in Phaseolus vulgaris plants. Ann Bot, v. 98, p. 1301-1310, 2006. BAREA, J. M.; NAVARRO, E.; MONTOYA, E. Production of plant-growth regulators by rhizosphere phosphate-solubilizing bacteria. Journal of Applied Bacteriology, v. 40, p.129-134, 1976. BASHAN, Y.; ROJAS, A.; PUENTE, M.E. 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De acordo com o seu efeito biológico elas são classificadas como: hepatotoxinas (microcistinas e nodularinas), neurotoxinas (saxitoxinas, anatoxina-a, anatoxinaa(S) e homoanatoxina-a), citotoxinas (cilindrospermopsina), toxinas irritantes e gastrointestinais (aplisiatoxina, debromoaplisiatoxina e lyngbyatoxina), endotoxinas lipopolissacarídicas e outras cianotoxinas cujos perfis toxicológicos e ecotoxicológicos são ainda parcialmente conhecidos (microviridinas J e o aminoácido BMAA, i.e., β-N-metilaminoL-alanina). Microcistina, saxitoxina, anatoxina-a e anatoxina-a(S) já foram encontradas em isolados de cianobactérias que colonizam diversos ambientes brasileiros (Figura 1). A maioria dessas cianotoxinas é formada por substâncias de estrutura peptídica, as quais são elaboradas por um mecanismo enzimático paralelo à síntese proteica. Trata-se da síntese não-ribossômica de peptídeos (Figura 2), uma via biossintética bastante utilizada por microrganismos na produção 24 de antibióticos e toxinas (Marahiel et al., 1997; von Döhren et al., 1997). A síntese não-ribossômica utiliza uma grande variedade de substratos, muitos dos quais são aminoácidos não-proteicos, hidroxiácidos e substâncias policetônicas, especialmente elaborados para serem incorporados na estrutura peptídica. Portanto, na estrutura de uma mesma toxina observa-se ligações peptídicas, funções cetônicas, insaturações e funções aromáticas. A biossíntese microbiana de peptídeos não-ribossomais é catalisada por enzimas conhecidas como peptídeo sintetase não-ribossômica (NRPS, do inglês “non-ribosomal peptide synthetase”) e policetídeo sintase tipo I (PKS, do inglês “polyketide synthase”). Estas enzimas são caracterizadas por um arranjo modular dos genes que as codificam e contem sequências altamente conservadas. Na biossíntese das cianotoxinas os genes de NRPSs e PKSs geralmente estão agrupados. Durante a última década, as vias biossintéticas de quatro cianotoxinas foram geneticamente e quimicamente elucidadas. A primeira cianotoxina a ter o seu agrupamento gênico descrito foi a microcistina, em 2000, e este foi também o primeiro agrupamento complexo de metabólito a ser completamente sequenciado em cianobactéria (Tillett et al., 2000). Em seguida, os agrupamentos gênicos da nodularina (Moffitt & Neilan, 2004), cilindrospermopsina (Mihali et al., 2008) e saxitoxina (Kellmann et al., 2008a) foram identificados. A síntese de saxitoxina é a primeira via de alcaloide não terpênico descrita em bactérias. Portanto, este artigo descreve por ordem cronológica de elucidação os quatros agrupamentos gênicos de cianotoxinas, que por mutação ou por predição funcional, foram demonstrados ser necessários para a produção desses notáveis metabólitos produzidos pela Figura 1. Cianobactérias isoladas de diversos biomas brasileiros. A) Microcystis aeruginosa; B) Anabaena crassa; C) Cylindrospermopsis raciborskii; D) Nodularia sp. Figura 2. Ilustração esquemática das vias biossintéticas ribossômica e nãoribossômica de peptídeos. síntese não-ribossômica. Microcistinas Microcistinas são heptapeptídeos cíclicos com massa molecular variando geralmente entre 800 e 1100 Da, cujo mecanismo tóxico é a inibição específica das proteínas fosfatases da família serina/treonina, especialmente as fosfatases tipo 1 (PP1) e 2A (PP2A) de células procarióticas. As microcistinas acumulam-se em células do fígado de vertebrados devido ao transporte ativo por meio de um transportador de ânion orgânico não específico altamente expresso (sistema de transporte carreador de ácido biliar). A morte dos animais vertebrados é na maior parte das vezes consequência do dano severo no fígado, que começa com a desorganização do citoesqueleto e pode incluir inchamento celular, ruptura celular, peroxidação de lipídeos, perda da integridade da membrana, danos no DNA, apoptose, necrose, hemorragia intra-hepática e enfim, morte por choque hemorrágico. A DL50 da microcistina-LR, a isoforma mais comum, determinada em camundongos foi de 50 µg/kg de massa corporal (Krishnamurthy et al., 1986), enquanto que foi necessário 600 µg/kg de massa corporal da isoforma rara microcistina-RR para produzir o mesmo efeito letal (Watanabe et al., 1988). Bioensaios realizados nos anos 50 com células coletadas em florações com predominância de Microcystis aeruginosa mostraram a presença de uma toxina que causava sérios danos ao fígado dos animais testados (Hughes et al., 1958). Essa toxina foi isolada e identificada no ano seguinte em uma cultura de M. aeruginosa (Bishop et al., 1959). Entretanto, somente em 1984 sua estrutura química foi elucidada (Botes et al., 1984). Até o momento, representantes dos gêneros Microcystis, Phormidium, Planktothrix, Anabaena, Nostoc, Hapalosiphon e Fischerella, foram identificados como produtores de microcistinas. Existem aproximadamente 90 variantes estruturais de microcistina descritas, as quais possuem em comum a estrutura cíclica D-Ala-L-XD-MeAsp-L-Z-Adda-D-Glu-Mdha, onde Adda é o ácido 3-amino-9-metoxi-26,8-trimetil-10-fenil-4,6-decadienóico, DMeAsp é o ácido 3-metil-aspártico, Mdha é N-metildeidroalanina e L-X e L-Z são posições de aminoácidos variáveis que contribuem para as diferentes isoformas (Honkanen et al., 1990; Rinehart et al., 1994). A produção de várias isoformas de microcistinas por uma única linhagem de Microcystis é comum. Embora várias isoformas de microcistinas possam ser produzidas ao mesmo tempo, a microcistina-LR, uma das mais tóxicas, é a que tem sido mais estudada. Assim sendo, os estudos moleculares visando identificar os genes biossintéticos de cianotoxinas foram iniciados com a espécie M. aeruginosa, produtora de microcistina-LR. Em 1996, um estudo utilizando os oligonucleotídeos iniciadores degenerados coreI e coreII (Borchert et al., 1992), construídos para amplificar sequências do domínio de adenilação da NRPS, iniciou a busca de sequências homólogas em linhagens tóxicas e não tóxicas de M. aeruginosa (Meiβner et al., 1996). Como resultado obteve-se um fragmento de DNA de aproximadamente 200 pares de bases (pb) que mostrou significante similaridade com regiões correspondentes de genes de NRPSs. Em seguida, regiões de DNA adjacentes a esse fragmento foram isoladas e sequenciadas a partir da construção de uma biblioteca genômica da linhagem tóxica M. aeruginosa HUB524. Assim, foi possível isolar um fragmento de DNA de 2.982 pb, denominado mapep1, que mostrou alta identidade com um módulo completo de NRPS, o qual hibridizou exclusivamente com DNAs de linhagens produtoras de hepatotoxinas. Dois iniciadores específicos para amplificar esse fragmento de DNA foram construídos e testados em linhagens tóxicas e não tóxicas de Microcystis. Os resultados mostraram que entre as linhagens testadas somente as tóxicas continham o segmento de DNA de interesse, sugerindo o envolvimento dessa região codificadora de peptídeos sintetases na produção de microcistinas (Dittmann et al., 1996). Esses autores também sequenciaram mais regiões em ambas as extremidades do fragmento de DNA mapep1 e observaram que a M. aeruginosa HUB524 apresentava mais de um módulo de NRPS. Para comprovar o envolvimento dessa região na produção de microcistinas, foi produzido um mutante da M. aeruginosa PCC7806 por meio da inserção de um cassete de resistência a cloranfenicol na sequência mapep1, o que inativou a NRPS nesta cianobactéria (Dittmann et al., 1997). A análise desse mutante mostrou que ele era incapaz de produzir microcistinas, comprovando o envolvimento da NRPS na biossíntese destas toxinas. Esses autores denominaram os dois genes de NRPS caracterizados parcialmente de mcyA e mcyB. O cassete de resistência ao antibiótico na linhagem mutante foi introduzido no domínio de adenilação do mcyB. Como nenhuma variante de 25 microcistina foi produzida por esse mutante, sendo que a linhagem selvagem era capaz de sintetizar várias isoformas, sugeriu-se que esse módulo de NRPS não tinha uma alta especificidade para substrato, sendo possivelmente um dos responsáveis pela introdução de aminoácidos variáveis. Em seguida, foi desenvolvido um conjunto de oligonucleotídeos iniciadores (FAA/RAA) tendo como alvo uma região menos conservada do domínio de adenilação do mcyB, o qual foi específico o suficiente para amplificar fragmentos de genes da microcistina de um número razoável de cianobactérias produtoras destas toxinas (Neilan et al., 1999). O fragmento de DNA de 758 pb obtido com esse conjunto de iniciadores foi utilizado para selecionar dentro de uma biblioteca λ Zap de M. aeruginosa PCC7806 um clone contendo um fragmento de 7 kb do agrupamento de genes denominado mcy (Tillett et al., 2000). O restante da sequência do mcy foi obtido por esses autores utilizando a abordagem ‘walking PCR’. No total, 63,6 kb do agrupamento mcy e regiões adjacentes foram isolados da M. aeruginosa PCC7806. Dessa forma o agrupamento mcy de 55 kb localizado no cromossomo foi inteiramente identificado. Esse agrupamento gênico contém 10 genes (mcyA-mcyJ) (Figura 3), organizados em dois operons transcritos em direção oposta, mcyA-C e mcyD-J. O maior dos dois operons, mcyD-J, codifica uma PKS modular (McyD), duas enzimas híbridas contendo módulos NRPS e PKS (McyE e McyG), e enzimas complementares (McyJ, F e I) e de transporte (McyH) da toxina. O menor operon, mcyA-C, codifica três NRPSs (McyA-C). As análises de bioinformática e a similaridade com enzimas análogas indicaram que a formação do Adda supostamente envolve enzimas codificadas por mcyD-mcyG e mcyJ (Figura 3). A enzima híbrida NRPS/PKS, McyG, constitui o primeiro passo na biossíntese do Adda. A hipótese inicial era de que o módulo NRPS da McyG ativava o fenilacetato, no entanto, posteriormente, a caracterização bioquímica do didomínio A-PCP (Adenilação – proteína carreadora de peptidila), localizado no N-terminal da McyG, revelou que fenilpropanoides variados são preferencialmente ativados 26 Figura 3. Agrupamento gênico de hepatotoxinas de algumas cianobactérias. (Adaptado de Dittman & Börnen, 2005). e ligados na PCP (Hicks et al., 2006). Após a ativação, a unidade iniciadora fenilpropanoide é estendida por várias etapas de alongamento do malonil-CoA e, subsequentemente, modificada pela Cmetilação, redução e desidratação, tudo catalisado pelos módulos PKS das enzimas McyD, McyE e McyG. O domínio da aminotransferase da McyE, então, converte o policetídeo em um β-aminoácido na etapa final da biossíntese do Adda. O módulo NRPS da segunda enzima híbrida PKS/NRPS, McyE, supõe-se estar envolvido na ativação e condensação da D-Glu com o Adda. O gene mcyF foi originalmente predito como codificador de uma glutamato racemase, responsável pela epimerização do resíduo de L-Glu da microcistina (Tillett et al., 2000). Um estudo subsequente (Sielaff et al., 2003) confirmou essa teoria, e propiciou evidências de que McyF atua exclusivamente como uma aspartato racemase. Esses autores propuseram que o resíduo de D-Glu é fornecido por uma racemase L-Glu localizada fora do agrupamento gênico mcy. Experimentos de mutagênese em Planktothrix agardhii mostraram que a produção do Adda também envolve uma etapa de O-metilação catalisada pela suposta enzima complementar monofuncional, McyJ (Christiansen et al., 2003). As enzimas restantes da via biossintética da microcistina (NRPSs) estão supostamente envolvidas na ativação específica, modificação e condensação do substrato aminoácido da cadeia peptídica linear, a qual é então ciclizada para produzir microcistina. Primeiramente, McyA adiciona L-Ser na cadeia crescente, seguida pela adição de D-Ala. Esta etapa é seguida pela adição dos resíduos de L-Leu e D-MeAsp (McyB), seguida pela adição de L-Arg (McyC), e posterior ciclização e liberação do produto peptídeo final (Figura 4). A outra enzima, a 2-hidroxi-ácido desidrogenase, McyI, está supostamente envolvida na produção de D-metilaspartato na posição três da estrutura cíclica da microcistina pela conversão do 3-metilmalato em 3-metiloxalacetato. Em seguida, uma aspartato aminotransferase converte 3-metiloxalacetato em metilaspartato (Pearson et al., 2007). Um gene transportador ABC, mcyH, acredita-se estar envolvido no transporte da microcistina (Pearson et al., 2004). Esse gene pode ser responsável Figura 4. Via biossintética da microcistina-LR. (Adaptado de Tillett et al., 2000). pela localização da toxina no tilacoide (Shi et al., 1995; Young et al., 2005) ou pela extrusão da toxina sob certas condições de crescimento, incluindo a exposição à luz alta e vermelha (Kaebernick et al., 2000). Posteriormente, os agrupamentos gênicos envolvidos na produção de microcistina em Planktothrix agardhii CYA126/8 (Christiansen et al. 2003) e Anabaena 90 (Rouhiainen et al., 2004) foram relatados (Figura 4). A comparação desses agrupamentos gênicos responsáveis pela produção de microcistinas nos três diferentes gêneros de cianobactéria, ou seja, Microcystis, Planktothrix e Anabaena, mostrou que a maioria dos genes estava numa ordem diferente, nem todos os genes estavam presentes nos três organismos e a identidade entre os genes foi baixa. Isso indica que há necessidade de caracterizar esses genes para cada organismo. Nodularina Nodularina é um pentapeptídeo cíclico com estrutura química similar à microcistina. Nodularina difere da microcistina pela falta do aminoácido D-Ala e do X, além de ter o resíduo Mdhb (N-metil-deidrobutirino) no lugar de Mdha. Assim, a estrutura da nodularina (D-MeAsp-L-Arg-Adda-DGlu-Mdhb) é menor, apresentando massa molecular de 824 Da. O grupo funcional Adda, que é o principal responsável pela toxicidade da microcistina, está também presente na nodularina e, portanto, o seu mecanismo de lesão e patologia do fígado é similar aos da microcistina, principalmente induzindo à hepatotoxicidade. A nodularina, portanto, também atua como inibidor das proteínas fosfatases da família serina/treonina, especialmente as fosfatases tipo 1 (PP1) e 2A (PP2A) de células eucarióticas. A DL50 intraperitoneal em camundongos varia entre 50 a 200 µg/kg de massa corpórea (Rinehart et al., 1994). O primeiro relato na literatura científica de intoxicações em animais causados por Nodularia spumigena é de 1878 e ocorreu na Austrália (Francis, 1878). Entretanto, somente após mais de 100 anos a toxina nodularina produzida por uma floração de N. spumigena da Nova Zelândia foi identificada e sua estrutura química elucidada (Rinehart et al., 1988). Essa toxina é encontrada somente em algumas linhagens de cianobactérias do gênero Nodularia e, no Brasil, uma linhagem não tóxica desse gênero foi isolada recentemente pela primeira vez de um riacho próximo a Ouro Preto, MG (Rosane Aguiar, UFV, comunicação pessoal). Atualmente, existem menos de 10 variantes de nodularina descritas. Em 1999 as primeiras sequências gênicas responsáveis pela produção de nodularina foram descritas (Neilan et al., 1999). Os produtos de PCR foram obtidos utilizando DNA genômico da N. spumigena PCC73104 tóxica e 27 Figura 5. Via biossintética da nodularina. (Adaptado de Moffitt & Neilan, 2004). oligonucleotídeos iniciadores degenerados (MRF2/MTR), construídos para NRPS, e também com o conjunto FAA/ RAA, construído a partir de uma região do mcyB de Microcystis. Concluiu-se que essa cianobactéria continha genes de NRPS, o que era previsto, uma vez que nodularina possui estrutura química semelhante à das microcistinas. Sequências de genes codificadores de NRPSs e PKSs de nodularina foram obtidas posteriormente e mostraram alta similaridade com sequências dos genes mcyC e mcyD, respectivamente, de microcistinas (Moffitt & Neilan, 2001). Em 2004, o agrupamento gênico, nda, da biossíntese de nodularina da N. spumigena NSOR10 foi sequenciado e caracterizado (Moffitt & Neilan, 2004). A região de 48 kb do genoma é constituído por nove genes (ndaA-I) transcritos de uma região promotora regulatória bidirecional (Figura 3). Enquanto a maioria dos genes nda tem similaridade com genes 28 do agrupamento mcy, a sua disposição está mais próxima da norma de colinearidade da via NRPS que prevê que a ordem dos processos catalíticos envolvidos na biossíntese de um metabólito não-ribossomal é geralmente o mesmo que a ordem dos genes que codificam as suas enzimas catalíticas (Kleinkauf & von Döhren et al., 1996). A via proposta para a biossíntese de nodularina é semelhante ao de microcistina. As atribuições funcionais das enzimas foram baseadas em análises de bioinformática e similaridade com as enzimas de microcistina. A cadeia lateral Adda é produzida via uma NRPS/PKS híbrida a partir do substrato fenilacetato e várias extensões do malonil-CoA (NdaC, NdaD e NdaF) (Figura 5). O módulo NRPS do NRPS/PKS híbrido, NdaF, subsequentemente adiciona D-Glu na cadeia crescente. Duas enzimas NRPS, NdaA e NdaB, completa o pentapeptídeo cíclico, adicionando os resíduos de aminoácidos finais, L–Thr, D–MeAsp e L–Arg. Os módulos NRPS responsáveis pela ativação do D–Ala e D–Leu em mcy (McyA e McyB) estão ausentes na nda, pois nodularina não possui estas porções. As proteínas NRPS e PKS requerem modificação pós-traducional por uma fosfopanteteinil transferase (PPT). A PPT necessária para ativação das proteínas Nda não está agrupada com os outros genes nda e em N. spumigena NSOR10 ela foi identificada utilizando PCR degenerado e subsequente caracterização enzimática funcional (Copp et al., 2007). O agrupamento nda também codifica várias supostas enzimas complementares monofuncionais que podem desempenhar papel na modificação e transporte de nodularina. O gene ndaE codifica uma O-metiltransferase, ndaG codifica uma suposta L-Asp/L-Glu racemase e ndaI codifica um transportador ABC. Ainda dentro do agrupamento nda também foi encontrado um gene codificante de uma enzima similar à D-3-fosfoglicerato desidrogenase, NdaH, que compartilha 71% de identidade com McyI. É provável, portanto, que NdaH esteja envolvida na produção de D-MeAsp (Pearson et al., 2007). Cilindrospermopsina A cilindrospermopsina é um alcaloide que contém uma porção guanidino central funcional e uma hidroximetil uracila ligada a um esqueleto de carbono tricíclico, com massa molecular de 415 Da. Essa toxina tem efeitos hepatotóxicos, citotóxicos e neurotóxicos, além de ser um potencial carcinogênico. A toxicidade de cilindrospermopsina é mediada pela inibição da glutationa da síntese proteica e do citocromo P450, sendo que nos mamíferos, o envenenamento pode causar danos no fígado, rim, baço, coração e outros órgãos. Essa toxina foi identificada pela primeira vez em 1979 quando 148 indígenas da Ilha de Palm em Queensland, Austrália, foram hospitalizados com sintomas de hepatoenterite após a ingestão de água da represa Solomon, sendo este incidente associado com a presença de floração de Cylindrospermopsis raciborskii (Hawkins et al., 1985). Posteriormente, a estrutura dessa toxina foi identificada e ela recebeu o nome de cilindrospermopsina (Ohtani et al., 1992). Desde então, além de representantes do gênero Cylindrospermopsis, a cilindrospermopsina já foi encontrada em linhagens dos gêneros Aphanizomenon, Umezakia, Raphidiopsis, Anabaena e Lyngbya. Em 2000, foi proposto que guanidinoacetato era o substrato inicial para a enzima PKS, sendo que sucessivas adições de cinco unidades intactas de acetato na guanidinoacetato e reações complementares, tais como C-metilação, sulfotransferência e ciclização completavam a biossíntese da cilindrospermopsina (Burgoyne et al., 2000). Em 2002, três genes, aoaA, aoaB e aoaC, supostamente envolvidos na biossíntese de cilindrospermopsina foram identificados em Aphanizomenon ovalisporum, os quais codificavam as enzimas amidinotransferase, NRPS/PKS híbrida e PKS, respectivamente (Shalev-Alon et al., 2002). Em 2008, o agrupamento gênico da biossíntese da cilindrospermopsina (cyr) da C. raciborskii AWT205 foi completamente sequenciado (Mihali et al., 2008). Esse agrupamento possui 43 kb e contém 15 genes que codificam todas as funções necessárias para a biossíntese, regulação e exportação da toxina (Figura 6). O primeiro passo na formação do esqueleto de carbono da cilindrospermopsina envolve a síntese de guanidinoacetato pela transamidinação da glicina (Figura 7). Uma amidinotransferase codificada pelo gene cyrA, transfere um grupo guanidino da arginina para a glicina formando guanidinoacetato. Na segunda etapa, uma NRPS/PKS híbrida codificada pelo gene cyrB ativa o guanidinoacetato, que é então transferido, via PCP, para o domínio β-cetossintase (KS). O domínio aciltransferase (AT) da CyrB ativa o malonil-CoA e liga-o à proteína carreadora de acila (ACP). Em seguida, no domínio KS, ocorre uma reação de condensação entre o guanidinoacetato ativado e o malonil-CoA. O domínio da metiltransferase (MT) identificado em CyrB realiza a metilação do C-13. A CyrB contém dois módulos de redução, cetorredutase (KR) e desidratase (DH). Essas duas reações combinadas reduzem o grupo ceto a uma hidroxila, seguido pela eliminação de H2O, resultando em uma dupla liga- Figura 6. Agrupamento gênico da cilindrospermopsina. (Adaptado de Mihali et al., 2008). ção entre C-13 e C-14. Um ataque nucleofílico do grupo amidino no N-19 na recém formada ligação dupla entre C-13 e C-14, ocorre via a reação de adição de Michael. A ciclização segue as regras de Baldwin para o fechamento do anel (Baldwin et al., 1977), resultando na formação do primeiro anel da cilindrospermopsina. Essa reação pode ser espontânea e não exigir a catálise enzimática, pois é energeticamente favorável. A terceira etapa da biossíntese da cilindrospermopsina envolve o gene cyrC, que codifica uma PKS com domínios KS, AT, KR e ACP. A ação desses domínios resulta no alongamento da cadeia crescente por um acetato via ativação do malonil-CoA pelo domínio AT, sua transferência para o ACP e condensação no domínio KS com o produto da CyrB. A cadeia alongada é ligada ao ACP da CyrC e o domínio KR reduz o grupo ceto a um grupo hidroxila no C-12. Em seguida à catálise da enzima CyrC está a CyrD, uma enzima PKS. A ação desse módulo PKS no produto da CyrC resulta na adição de um acetato e redução do grupo ceto no C-10 a uma hidroxila e desidratação de uma dupla ligação entre C-9 e C-10. Essa dupla ligação é o sítio de um ataque nucleofílico pelo amidino grupo N-19 via outra reação de adição de Michael que também segue as regras de Baldwin para o fechamento do anel, resultando na formação do segundo anel da cilindrospermopsina. O intermediário produzido por CyrD é o substrato para CyrE (etapa 5). A enzima PKS, CyrE, catalisa a adição de um acetato e a formação de uma dupla ligação entre C-7 e C-8. Essa dupla ligação é atacada por N-18 via uma reação de adição de Michael, ocorrendo a terceira ciclização. O gene cyrF codifica o último módulo PKS, contendo apenas uma KS, AT e ACP. A enzima CyrF atua no produto da CyrE e alonga a cadeia pela adição de um acetato, deixando C-4 e C-6 não reduzidos. A etapa 7 envolve a formação do anel uracila, o qual é crucial para a toxicidade da cilindrospermopsina. Essa etapa consiste de duas enzimas CyrG e CyrH que são mais semelhantes às enzimas da família amido-hidrolases/ureases/ di-hidro-orotases, cujos membros catalisam a formação e clivagem de ligações N-C. Essas enzimas transferem um se- 29 gundo grupo guanidino de uma molécula doadora, tal como a arginina ou ureia, para C-6 e C-4 da cilindrospermopsina resultando na formação do anel uracila. A primeira reação consiste na formação de uma ligação covalente entre o N do doador guanidino e C-6 da cilindrospermopsina, seguida pela eliminação de H2O, formando uma dupla ligação entre C-5 e C-6. A segunda reação catalisa a formação de uma ligação entre o segundo N do doador guanidino e C-4 da cilindrospermopsina, concomitantemente com a quebra da ligação tioéster entre a ACP da CyrF e cilindrospermopsina, causando a liberação da molécula do complexo enzimático. A terceira reação catalisa a clivagem do grupo guanidino de uma molécula doadora outra que não ureia. A ação de CyrG e CyrH na formação do anel uracila em cilindrospermopsina descreve uma nova via de biossíntese de pirimidina. A sulfatação da cilindrospermopsina no C-12 é provavelmente realizada pela ação de uma sulfotransferase. O gene cyrJ codifica uma proteína que é muito semelhante à 3´fosfoadenosina5’-fosfossulfato (PAPS) sulfotransferasedependente. Enzimas similares foram recentemente relacionadas com a sulfatação de outras cianotoxinas (Kellmann et al., 2008a). O agrupamento gênico da cilindrospermopsina também codifica uma adenilsulfato quinase (ASK), ou seja, CyrN. ASKs são enzimas que catalisam a formação de PAPS, que é o doador de sulfato para as sulfotransferases. A CyrJ sulfata a cilindrospermopsina no C-12 enquanto a CyrN cria o “pool” de PAPS requerido para essa reação. A reação final complementar é realizada pela CyrI, a qual supostamente catalisa a hidroxilação de C-7, um resíduo que, juntamente com o anel de uracila, confere a toxicidade da cilindrospermopsina. O agrupamento gênico da cilindrospermopsina contém ainda o gene cyrK, cujo produto se assemelha à enzima MATE (multidrogas e extrusão de substâncias tóxicas) da família de NorM. CyrK poderia, então, funcionar como uma transportadora de cilindrospermopsina, com base nessa similaridade e na sua localização central no agrupamento. Outro gene encontrado na extremidade 3’ da cilindrospermopsina é o cyrO. Ele 30 Figura 7. Via biossintética da cilindrospermopsina. (Adaptado de Mihali et al., 2008). codifica uma proteína hipotética que apresenta similaridade com as proteínas repetitivas WD, as quais têm diversos papéis regulatórios e de transdução de sinais. CyrO também pode ter um papel importante na regulação da transcrição e na ligação do DNA. Ela também tem similaridade com proteínas da família AAA, que frequentemente desempenham funções semelhantes às chaperonas e ajudam na montagem, operação ou desmontagem de complexos proteicos. Outras suposições sobre o papel da CyrO são prejudicadas devido à baixa similaridade de sequência com outras proteínas dos bancos de dados. Saxitoxinas As saxitoxinas são alcaloides, de baixa massa molecular (menor que 500 Da), que atuam como potentes bloqueadores de canais de sódio voltagemdependente, presentes nas membranas de células neuronais (Kao & Levinson, 1986). Elas podem ainda bloquear canais de cálcio (Su et al., 2004) e também prolongar o bloqueio dos canais de potássio nas células musculares do coração (Wang et al., 2003). Assim, as saxitoxinas impedem a propagação normal dos impulsos nervosos nos músculos, causando paralisia e podem causar a morte por meio de parada respiratória e asfixia (Carmichael, 1994). A DL50 intraperitoneal em camundongos foi determinada como sendo de 10 µg/kg de massa corporal (Halstead & Schantz, 1984) enquanto que a morte de humanos ocorreu após ingestão de 1 mg da toxina (Evans, 1969). As saxitoxinas têm afetado os humanos por muitos anos via o fenômeno conhecido como envenenamento paralisante por mariscos (“Paralytic Shellfish Poisoning” – PSP), intoxicação mediada por moluscos, tais como amêijoas, ostras, assim como alguns crustáceos e peixes (Llewellyn, 2006). Numa estimativa anual global, as saxitoxinas foram responsáveis por 2.000 casos de envenenamento, com uma mortalidade de 15% (Hallegraeff, 1995). Saxitoxina é 2.000 vezes mais tóxica que cianeto de sódio e 100 vezes mais venenosa que estricnina (Wang et al., 2003). O nome saxitoxina é derivado de um gênero de amêijoa-amarela do Alasca, a Saxidomus giganteus, que apresentava níveis recorrentes de contaminação e de onde a toxina foi purificada pela primeira vez (Schantz et al., 1957). Posteriormente, verificou-se que essa toxina era produzida por dinoflagelados marinhos (Schantz et al., 1966) e no final dos anos 60, por cianobactérias (Jackim & Gentile, 1968; Sawyer et al., 1968). A elucidação de sua estrutura por cristalografia de raio-X ocorreu há mais de 35 anos por dois grupos de pesquisa independentes (Bordner et al., 1975; Schantz et al., 1975). A saxitoxina é um alcaloide tetrahidropurina com dois grupos guanidínicos que pode sofrer substituições em várias posições resultando na síntese natural de mais de 30 variantes (Llewellyn, 2006). As variantes pertencem ao grupo de carbamoil ou carbamatos (saxitoxinas, neossaxitoxinas, goniautoxinas 1-4), N-sulfocarbamoil (goniautoxinas 5 e 6, C 1-4) e decarbamoil, como também algumas modificações resultantes de sulfatação nas posições R2 e R3. Além de vários dinoflagelados marinhos (Llewellyn, 2006), a produção de saxitoxinas foi encontrada em representantes de cianobactérias filamentosas dos gêneros Anabaena, Aphanizomenon, Oscillatoria, Trichodesmium, Cylindrospermopsis, Lyngbya e Planktothrix/ Limnothrix. Até o momento, a única cianobactéria unicelular conhecida por pro- duzir saxitoxina é a linhagem brasileira M. aeruginosa SPC777, que foi isolada do reservatório da Billings em São Paulo (Sant’Anna et al., 2010). Nos anos 80, estudos sobre a via biossintética da saxitoxina foram iniciados e mostraram que a síntese dessa toxina envolvia a condensação de um aminoácido em ácido carboxílico via a condensação de Claisen (ocorrida entre o C-2 de arginina e o C-1 de acetato), transferência de amidino, heterociclização não convencional e O-carbamoilação (Shimizu et al., 1984; Shimizu 1986a; 1986b). A primeira reação, a condensação de Claisen, entre arginina e acetato, é a mais incomum. As condensações tipo Claisen são raras em aminoácidos, mas ocorrem, por exemplo, na biossíntese de porfirinas (tetrapirroles), biotina e arfamenina AB e na conversão entre glicina, serina e treonina (Alexander et al., 1994). Essa via proposta para a biossíntese de saxitoxina sugeriu o envolvimento de enzimas com atividades catalíticas da aminotransferase classe II, amidinotransferase, metiltransferase dependente de SAM (S-adenosilmetionina), hidroxilases e O-carbamoiltransferase (OCTase). A OCTase é uma enzima que também está envolvida na produção de fatores de nodulação (Jabbouri et al., 1998) e antibióticos (Coque et al., 1995). Em 2007 um estudo realizado in vitro confirmou que arginina, acetil-CoA, SAM e carbamoil fosfato eram precursores da biossíntese de saxitoxina, sustentando o envolvimento de uma O-carbamoiltransferase (Kellmann & Neilan, 2007). A função da enzima OCTase é de transferir um grupo carbamoil da carbamoilfosfato para a cadeia lateral hidroximetil do precursor da saxitoxina, sendo, portanto, uma das enzimas chaves na biossíntese de saxitoxina. Em seguida, foi desenhado um conjunto de oligonucleotídeos iniciadores degenerados (NOD-F/NOD-R) baseando-se nas regiões conservadas do gene codificador da enzima O-carbamoiltransferase encontrado no genoma de cinco cianobactérias (Crocosphera watsonii WH8501, Prochlorococcus marinus MED4, Prochlorococcus marinus MIT9312, Synechocystis sp. PCC6803 e Trichodesmium erythraeum IMS101) (Kellmann et al., 2008b). Esses iniciadores foram testados em quatro cianobac- térias produtoras de saxitoxina, ou seja, Anabaena circinalis AWQC131C, Aphanizomenon flos-aquae NH-5, Cylindrospermopsis raciborskii T3 e Lyngbya wollei. O gene amplificado foi denominado sxtI e sua sequência completa existente nas quatro cianobactérias tóxicas foi obtida usando PCR mediada com adaptador. As quatro sequências completas do gene sxtI foram usadas na construção de um conjunto de iniciadores não degenerados (Sxt1-F/Sxt1-R). Esses iniciadores foram testados em 28 cianobactérias e verificou-se que somente as produtoras de saxitoxinas foram amplificadas, demonstrando a especificidade dos mesmos. Dando continuidade a esses estudos, a sequência presumível completa do agrupamento dos genes da biossíntese de saxitoxina foi obtida usando a técnica de “walking PCR” no genoma da cianobactéria C. raciborskii T3, tendo como ponto de partida o gene sxtI (Kellmann et al., 2008a). Nessa cianobactéria, a qual foi isolada da represa Billings em São Paulo, o agrupamento gênico sxt (Figura 8c) é codificado por mais de 35 kb e a análise comparativa da sequência atribuiu 30 funções catalíticas para 26 proteínas. Análise de bioinformática desse agrupamento gênico, juntamente com a identificação de novos intermediários biossintéticos propiciaram a revisão da via biossintética da saxitoxina previamente proposta por Shimizu e colaboradores (Figura 9). A primeira revisão envolveu a reação catalisada pela condensação de Claisen da enzima SxtA, a qual inicia a biossíntese da toxina SXT. Essa enzima, um novo tipo de PKS, contém quatro domínios catalíticos com atividades preditas de metiltransferases SAMdependentes (SxtA1), GCN-5 relacionadas com N-acetiltransferases – GNAT (SxtA2), ACP (SxtA3) e aminotransferases classe II (SxtA4). A sequência de reações previstas da SxtA, baseada na sua estrutura primária, é catalisar o carreamento da ACP no acetato da acetilCoA, seguida pela metilação da acetilACP, convertendo-a em propionil-ACP e subsequente condensação de Claisen entre o propionil-ACP e a arginina. O suposto produto da SxtA é, portanto, 4-amino-3-oxo-guanidinoheptano, designado substância A’. Posteriormente, 31 Figura 8. Agrupamento gênico da saxitoxina. A. Aphanizomenon sp. NH-5, B. Anabaena circinalis AWQC131C, C. Cylindrospermopsis raciborskii T3. Os segmentos A-E indicam os fragmentos gênicos homólogos nas três linhagens (Adaptado de Mihali et al., 2009). a enzima SxtG, uma amidinotransferase, transfere um grupo amidino da arginina para o primeiro intermediário, o α-amino grupo A, produzindo 4,7-diguanidino-3oxo-heptano (designado substância B’). O primeiro heterociclo é, então, formado pela citidina deaminase, SxtB, a qual catalisa uma condensação do tipo retroaldol na conversão da substância B’ para substância C’. A suposta enzima esterol dessaturase, SxtD, presume-se que seja responsável por introduzir uma dupla ligação entre C-1 e C-5 da C’, resultando na mudança do 1,2-H entre C-5 e C-6 (substância D’). Em seguida, uma α-cetoglutarato dioxigenase-dependente, SxtS, realiza a epoxidação consecutiva da nova dupla ligação, a qual é aberta para um aldeído com concomitante formação de dois heterociclos. O aldeído de cadeia lateral é, então, reduzido a 32 um álcool pela desidrogenase de cadeia curta, SxtU, formando a substância E’. Em seguida, duas enzimas semelhantes às fenilpropionatos dioxigenases, SxtH e SxtT, realizam a hidroxilação consecutiva de C-12, convertendo a substância E’ em dcSTX (decarbamoilsaxitoxina). Essas oxigenases terminais requerem regeneração após cada ciclo catalítico por uma redutase/oxigenase. Essa função é realizada pela succinato desidrogenase (SxtV) e ferredoxina (SxtW), utilizando succinato como um doador de elétrons. Nessa via, succinato pode ser fornecido por SxtS, que converte α-cetoglutarato à succinato durante a reação de epoxidação. Finalmente, a enzima O-carbamoiltransferase, SxtI, catalisa a transferência de um grupo carbamoil da carbamoilfosfato para a hidroxila livre do C-13, formando a saxitoxina. Adjacente ao gene sxtI estão dois genes sxtJ e sxtK de funções desconhecidas. Embora genes similares a esses dois estejam disponíveis em bancos de dados, nenhum deles foi caracterizado funcionalmente. Além das enzimas da biossíntese da saxitoxina, o agrupamento sxt codifica uma série de genes com funções diferentes e desconhecidas. Duas enzimas identificadas podem estar envolvidas na conversão de análogos de STX. A SxtN supõe-se atuar como uma sulfotransferase convertendo STX e GTX-2/3 em GTX-5 e C-1/2, respectivamente, e a SxtO, uma adenililsulfato quinase, está envolvida na formação de PAPS, um doador de grupo sulfato. A enzima cefalosporina hidroxilase, SxtX, foi detectada apenas em linhagens capazes de produzir os análogos N-1 hidroxilado de STX, tal como neoSXT, e sua função predita Figura 9. Via biossintética da saxitoxina. (Adaptado de Mihali et al., 2009). correspondeu a N-1-hidroxilase. Análogos descarbamoilados de STX podem ser produzidos por enzimas adjacentes à SxtI, carbamoiltransferase, que apresentam ampla especificidade de substrato, processando tanto o precursor carbamoilado como o descarbamoilado da STX, ou alternativamente, pela clivagem hidrolítica da porção carbamoil da STX ou de seus precursores. A SxtL, uma GDSL lipase, pressupõe-se ter a função de realizar a clivagem hidrolítica do grupo carbamoil em análogos de STX. Os genes sxtF e sxtM codificam enzimas MATE, as quais, provavelmente, estão envolvidas na exportação de SXT. Já os genes sxtY e sxtZ, relacionados com as enzimas Phou (reguladora da absorção de fosfato) e OmpR (reguladora de uma variedade de metabolismos, incluindo nitrogênio e equilíbrio osmótico), respectivamente, e também com dois componentes sensores da histidina quinase, sugerem que a produção de SXT é regulada ao nível transcricional em resposta à disponibilidade de fosfato, bem como outros fatores ambientais. Agrupamentos gênicos similares ao sxt da C. raciborskii T3 foram descritos recentemente para Anabaena circinalis AWQC131C isolada da Austrália e Aphanizomenon sp. NH-5 isolada dos Estados Unidos (Figuras 8b e 8a, respectivamente) (Mihali et al., 2009). Eles são ligeiramente menores do que o de C. raciborskii T3, tendo aproximadamente 28 kb. A topologia de todos os três agrupamentos sxt é também variada, o que sugere a ocorrência de eventos de transposição múltiplos ao longo da evolução da biossíntese de saxitoxina nas cianobactérias. Considerações Finais As cianobactérias são uma fonte rica de produtos bioativos naturais, incluindo toxinas e outros cianopeptídeos. Um grande número dessas substâncias são peptídeos. Devido às suas extraordinárias características estruturais, a biossíntese desses peptídeos não pode ser atribuída à via ribossômica. Ao invés disso, estas substâncias são sintetizadas pela via não-ribossômica. Ainda há uma escassez de conhecimento sobre as funções fisiológicas e mecanismos que regulam a produção de cianotoxinas. Com os recentes avanços na biologia molecular, as vias biossintéticas de algumas cianotoxinas já foram elucidadas. Assim, existe agora uma oportunidade única para estudar a regulação da síntese das toxinas em um nível molecular. 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Vicente IBB - Institute for Biotechnology and Bioengineering, Centre of Biological Engineering, Universidade do Minho, Braga, Portugal Introdução O tratamento térmico de materiais encontra-se dentre os processos mais utilizados industrialmente. Na indústria de alimentos, por exemplo, o tratamento térmico (por possuir ação letal sobre microorganismos) é o principal procedimento físico de que a tecnologia de alimentos dispõe para aumentar a vida útil dos alimentos (Ordóñez et al., 2005). Desta forma, novos métodos de aquecimento que acarretem em baixo gasto energético ou em maior eficiência energética continuam a atrair interesse (Palaniappan e Sastry, 1992). Dentre as tecnologias de aquecimento emergentes, o aquecimento ôhmico apresenta-se bastante promissor. O aquecimento ôhmico (também conhecido como aquecimento joule, aquecimento por resistência elétrica, 36 aquecimento direto por resistência elétrica, aquecimento elétrico ou aquecimento eletro-condutivo) é definido como o processo no qual uma corrente elétrica transpassa um determinado material com o objetivo principal de aquecê-lo (Vicente et al., 2006). Este aquecimento ocorre através da transformação interna de energia (de energia elétrica para energia térmica) dentro do material processado (Sastry e Barach, 2000). Desta forma, o aquecimento ôhmico pode ser visto como uma tecnologia de geração interna de energia, e não somente como um processo de transferência térmica. Conseqüentemente o processo não depende da transferência de calor em interface sólido-líquido ou dentro de um sólido em um sistema de duas fases. Na indústria de alimentos o principal segmento para aplicação da tecnologia ôhmica é o processamento asséptico, este é utilizado especialmente para alimentos líquidos, os quais são processados predominantemente por meio de trocadores de calor. A maioria das tecnologias atualmente aplicadas depende de fenômenos de condução, convecção e/ou irradiação para a transferência de calor. A aplicação destas tecnologias para alimentos particulados, por exemplo, é limitada pelo tempo requerido para assegurar o tratamento adequado do centro de grandes partículas, geralmente causando o processamento excessivo do volume circundante (Vicente et al., 2006). O processamento ôhmico permite o aquecimento de materiais de modo extremamente rápido (em geral variando de alguns segundos a poucos minutos) (Sastry, 2005). Permite também, sob determinadas circunstâncias, o aquecimento de grandes partículas e do fluido circundante sob velocidades de aquecimento similares, desta forma torna possível a aplicação de técnicas de High Temperature Short Time (HTST) e Ultrahigh Temperature (UHT) em materiais sólidos ou suspensões (Imai et al., 1995), melhorando assim a qualidade do produto final e adicionando a estes maior valor (Castro et al., 2003; Kim et al., 1996; Parrott, 1992; Vicente et al., 2006; Tucker, 2004). Este desejável cenário dificilmente é alcançado por meio de técnicas de processamentos térmicos convencionais (como por exemplo, o aquecimento por meio de trocadores de calor, banho de água termo regulado, etc.) (Lima et al., 1999). Sendo assim, o processamento “asséptico” de fluidos contendo partículas e fluidos de alta viscosidade são considerados as aplicações mais promissoras para o processamento ôhmico na indústria de alimentos (Palaniappan and Sastry, 2002; Rice, 1995; Wang et al., 2001). Uma ampla gama de potenciais aplicações futuras existe para o aquecimento ôhmico, incluindo o branqueamento, evaporação, desidratação, fermentação, extração (USA-FDA, 2000), esterilização, pasteurização, aquecimento de alimentos pré-ingestão no campo militar ou aeroespacial em missões de longa duração (Sastry et al., 2009). Entretanto a maioria destas aplicações ainda espera por exploração comercial (Sastry, 2005). O Aquecimento Ohmico frente a outras tecnologias de aquecimento por radiação eletromagnética “A indústria alimentícia recorre ao emprego de radiações eletromagnéticas com finalidades muito diversas. (...) Dependendo da energia associada, do comprimento de onda e da freqüência da emissão, o efeito decorrente de sua interação com determinado material é muito diferente” (Ordóñez et al., 2005). Dentre as metodologias de tratamento térmico destacam-se: o aquecimento por infravermelho, por microondas, dielétrico e ôhmico. (i) O aquecimento por infravermelho é uma transmissão de calor por radiação, a qual produz determinada vibração nas ligações intra e intermoleculares dos componentes dos alimentos que se traduz no incremento da temperatura. A capacidade de penetração dessa radiação é pequena; por isso, seu efeito limita-se à superfície, enquanto o restante do alimento é aquecido por condução ou convecção. (ii) A energia das microondas converte-se em calor ao ser absorvida pela matéria. No espectro eletromagnético, as microondas situam-se entre as ondas de rádio e a radiação infravermelha. A interação dessa radiação em determinado material cria uma distorção resultante do efeito do campo magnético associado ao elétrico. Na geração de calor por microondas nos alimentos, distinguem-se fundamentalmente dois mecanismos: a condução iônica e a rotação de dipolos (Ordóñez et al., 2005). O processo de aquecimento por microondas é influenciado por uma série de parâmetros, tanto do equipamento como do produto a ser aquecido. Alguns fatores críticos ao processo são: freqüência e distribuição das ondas no interior da cavidade de processamento, conteúdo hídrico, temperatura, parâmetros do produto (incluindo massa, densidade, geometria, espessura), e calor específico. A distribuição espacial da absorção das microondas é afetada por estes parâmetros, o que significa que velocidades de aquecimento diferentes serão observadas. Desta forma, o processamento por microondas apresenta como principal obstáculo a não-uniformidade de aquecimento e a imprevisibilidade da localização dos pontos frios, os quais podem prejudicar a segurança dos alimentos (Vicente e Castro, 2007; Ordóñez et al., 2005). “Ainda que as microondas sejam uma forma limpa de energia, (...) o aquecimento por microondas implica em gasto energético elevado. O custo decorrente do gasto de energia elétrica pode ser três vezes superior ao consumo energético dos métodos tradicionais. Conseqüentemente, o emprego de microondas deve limitar-se às aplicações que representem uma vantagem substancial ou quando seus efeitos não possam ser obtidos por outros meios” (Ordóñez et al., 2005). (iii) “O aquecimento dielétrico é definido como a calefação de um material isolante elétrico pelas perdas que se produzem nele quando é submetido a um campo elétrico alternado. O processo consiste em colocar o produto que será aquecido (dielétrico) entre duas placas ou eletrodos paralelos, denominadas placas capacitantes, unidas a um gerador alternado de alta freqüência e capacidade. Do mesmo modo que nos fornos microondas, o calor é gerado por fricção das moléculas dipolares como resposta à aplicação de um campo elétrico alternado” (Ordóñez et al., 2005). No aquecimento dielétrico são empregadas altas freqüências, em geral 13,56; 27,12 ou 40,68 MHz (Vicente e Castro, 2007). Desta forma, o aquecimento dielétrico difere do aquecimento ôhmico devido à freqüência empregada e a condutividade elétrica do material ao qual é aplicável. Quando comparado com metodologia tradicional (aquecimento por banho de água ou trocadores de calor), o aquecimento dielétrico apresenta vantagens similares ao aquecimento ôhmico e às microondas, as quais são essencialmente devidas à geração de calor por todo o volume do material processado. Suas principais desvantagens são: alto custo operacional e dos equipamentos utilizados; obtenção de menores velocidades de aquecimento quando comparado às microondas e o limitado conhecimento atual quanto às propriedades dielétricas dos alimentos. (iv) O aquecimento ôhmico, em seu campo de aplicação, apresenta, portanto, diversas vantagens quando comparado com outras metodologias de aquecimento por radiação eletromagnética. Diferentemente do aquecimento por infravermelhos, o aquecimento ôhmico possibilita o aquecimento do material processado por toda a extensão de seu volume. Quando comparado ao aquecimento por microondas e ao aquecimento dielétrico, o aquecimento ôhmico apresenta menores custos iniciais e operacionais, maior homogeneidade de aquecimento e maior previsibilidade da distribuição térmica quando comparado às microondas, 37 maior aplicabilidade a materiais com alto teor hídrico e maiores velocidades de aquecimento quando comparado ao aquecimento dielétrico. O aquecimento ôhmico apresenta ainda maior faixa de freqüências aplicáveis uma vez que as microondas e o aquecimento dielétrico apresentam limitações de freqüência para que não haja interferência com outras tecnologias como radares e comunicações. Microbiologia durante aquecimento ôhmico A inativação microbiana observada durante o aquecimento ôhmico deve-se principalmente ao efeito da temperatura sobre os microrganismos. A literatura científica atual não indica a existência de quaisquer microrganismos ou cepas patogênicas especificamente resistentes a esta tecnologia, sendo os microrganismos observados como mais resistentes os mesmos apresentados a tratamentos térmicos convencionais (USA-FDA, 2000). Porém, alguns estudos recentes indicam que o aquecimento ôhmico apresenta efeito não-térmico adicional capaz de gerar danos celulares devido à incidência de campos elétricos (Cho et al., 1999; Sun et al., 2008; Vicente et al., 2007). A principal razão atribuída a este dano adicional observado no tratamento ôhmico é a freqüência aplica (geralmente entre 50 e 60 Hz), a qual possivelmente provoca desestabilização das paredes celulares com posterior formação de poros (usa-fda, 2000). Estudos comparativos de inativação microbiana indicam que o aquecimento ôhmico é capaz de provocar maiores velocidades de morte microbiana que as metodologias tradicionais. Esta maior velocidade foi observada para microrganismos como: Escherichia coli e Bacillus licheniformis (Perreira, 2007), Bacillus subtilis e Bacillus atrophaeus (Cho, 1999), Streptococcus thermophilus (Sun, 2008), Saccharomyces cerevisiae (Yoon et al., 2002) e Byssochlamys fulva. (Castro, 2007) Para a E. coli a redução observada, por Perreira e colaboradores (Perreira et al., 2007), no valor D a 65ºC foi de 2,64 minutos, sendo o valor D para o aquecimento convencional de 3,5 mi- 38 nutos e para o aquecimento ôhmico de 0,86 minutos. Neste mesmo estudo, variações similares foram observadas para B. licheniformis. “Estes resultados indicam que a corrente elétrica (aplicada no aquecimento ôhmico) afeta a taxa de mortalidade. (...) Desta forma, considerando ambas as cepas dos microrganismos estudados, para um mesmo grau de inativação, o tempo requerido de tratamento térmico foi reduzido quando foi utilizado o aquecimento ôhmico, indicando que adicionalmente ao efeito térmico a presença de um campo elétrico provoca um efeito letal não-térmico sobre células vegetativas de E. coli e esporos de B. licheniformis em leite de cabras e geléia de cloudberry, respectivamente.” (Perreira et al., 2007). Em estudo realizado por Cho e colaboradores (1999) com B. subtilis e B. atrophaeus observou-se novamente a incidência de efeito não-térmico sobre a morte microbiana durante o tratamento ôhmico. Para temperaturas de 92,3ºC verificou-se redução de até um minuto nos valores D apresentados para o aquecimento ôhmico quando comparados a aquecimento convencional por banho d’água. De modo similar, Sun e colaboradores (2008) reportam valores de tempo de inativação significativamente menores para S. thermophilus sob processo ôhmico. Os resultados “demonstram claramente que o aquecimento ôhmico causa maior taxa de morte microbiana que o aquecimento convencional. (...) Estes resultados indicam que o aquecimento ôhmico apresentou um efeito térmico letal e um efeito não-térmico letal adicional para aeróbios viáveis (provenientes do leite) e S. thermophilus”. Quando aplicado em temperaturas sub-letais, os efeitos não-térmicos do aquecimento ôhmico apresentam potencial para beneficiar processos fermentativos. Estudos realizados em fermentações por Lactobacillus acidophilus indicam que o efeito de desestabilização das membranas celulares provocados pelo aquecimento ôhmico pode facilitar o transporte de nutrientes do meio de fermentação para o interior celular, tornando-o mais rápido e eficiente (Cho et al. 1996). Observou-se que quando aplicado o aquecimento ôhmico em fermentações por L. acidophilus a fase lag do processo fermentativo é reduzida. Não foram observadas variações de pH, de consumo de glicose ou de liberação de ácido lático significativas durante as fases iniciais de fermentação. Observouse, porém que em estágios avançados a produtividade da fermentação decaiu. Este decréscimo possivelmente relaciona-se também ao fenômeno de eletroporação provocado. Durante os estágios finais de fermentação, a eletroporação pode possibilitar a entrada de metabólitos para o interior celular e conseqüentemente inibir o processo fermentativo. Casos confirmados e devidamente entendidos, os efeitos não-térmicos, como o efeito de eletroporação, e seus efeitos decorrentes provocado pelo aquecimento ôhmico apresentam potencial para causar significativo impacto econômico. Além da capacidade de causar lesão celular e conseqüente redução do tempo de tratamento térmico de produtos, o efeito de eletroporação apresenta potencial para aplicação sinérgica da técnica de aquecimento ôhmico com outras metodologias de controle microbiano, como por exemplo, a utilização de bacteriocinas antimicrobianas termoressistentes como a nisina. Entretanto, segundo nosso atual conhecimento, não existem relatos científicos que suportem a teoria de sinergismo. Porém, caso confirmado, pode influenciar sobremaneira a qualidade de diversos produtos. UTILIZAÇÃO DE PEPTÍDEO ANTIMICROBIANO no aquecimento ôhmico Os benefícios potenciais do aquecimento ôhmico para a indústria de produtos lácteos transcendem sua aplicação na pasteurização. Estudou-se a aplicação do aquecimento em processo fermentativo com Lactobacillus acidophilus. Neste estudo, controle de temperatura do processo foi realizado de modo convencional (por circulação continua de água) e por aquecimento ôhmico (a voltagem constante de 15V para baixa voltagem e 40V para alta voltagem). O processo foi realizado a diferentes temperaturas (30, 35 e 40oC). Observou-se que aplicação de campo elétrico pode induzir a formação de poros de membrana (similarmente ao processo de eletroporacão, técnica bastante explorada para transformação celular em estudos de biologia molecular) os quais permitem o transporte de nutriente de maneira mais eficiente e veloz, desta forma reduzindo a fase lag. Verificou-se a existência de uma diferença mínima entre o pH dos meios, entretanto, o consumo de glicose e a liberação de acido láctico não foram influenciados pelo aquecimento ôhmico. Pode-se, portanto, inferir que o aquecimento ôhmico apresenta grande potencialidade de aplicação em processos fermentativos , reduzindo o tempo total de processo na produção de bacteriocinas (nisina, lacidina), assim também de produtos lácteos, dentre outras aplicações (Cho et al. 1996; Vicente, 2007). Dentre os agentes antimicrobianos potenciais para aplicação conjunta ao aquecimento ôhmico apresenta-se a bacteriocina nisina. A nisina e um peptídeo bioativo, composto de 34 resíduos de aminoácido (3500Da), sintetizado por Lactococcus lactis ATCC 11454, pertencente à família dos lantibioticos, grupo de antimicrobianos caracterizados pela presença de aminoácidos raros em sua estrutura (De Vuyst & Vandamme, 1992). Possui amplo espectro inibitório contra bactérias Gram-positivas e esporos, porem apresenta efeito inibitório contra Gram-negativas, fungos e leveduras quando na presença de agentes quelantes (Vessoni Penna et al., 2006; Arauz et al., 2009; Ukuku e Fett, 2004; Millette et al., 2004). O tratamento térmico de materiais encontra-se dentre os processos mais utilizados industrialmente. Dentre as tecnologias de aquecimento emergentes, o aquecimento ôhmico apresentase bastante promissor. O aquecimento ôhmico é definido como o processo no qual uma corrente elétrica transpassa um determinado material com o objetivo principal de aquecê-lo. Uma ampla gama de potenciais aplicações futuras existe para o aquecimento ôhmico, incluindo o branqueamento, evaporação, desidratação, fermentação, extração, esterilização, pasteurização, aquecimento de alimentos pré-ingestão no campo militar ou aeroespacial em missões de longa duração. Estudos comparativos de inativação microbiana indicam que o aquecimen- to ôhmico é capaz de provocar maiores velocidades de morte microbiana que as metodologias tradicionais. Esta maior velocidade foi observada para microrganismos como: Escherichia coli e Bacillus licheniformis (Perreira, 2007), Bacillus subtilis e Bacillus atrophaeus (Cho, 1999), Streptococcus thermophilus (Sun, 2008), Saccharomyces cerevisiae (Yoon et al., 2002) e Byssochlamys fulva. (Castro, 2007). A inativação microbiana observada durante o aquecimento ôhmico deve-se principalmente ao efeito da temperatura sobre os microrganismos. Porém, alguns estudos recentes indicam que o aquecimento ôhmico apresenta efeito não-térmico adicional capaz de gerar danos celulares devido à incidência de campos elétricos. A principal razão atribuída a este dano adicional observado no tratamento ôhmico é a freqüência aplica (geralmente entre 50 e 60 Hz), a qual possivelmente provoca desestabilização das paredes celulares com posterior formação de poros (usa-fda, 2000). Além da capacidade de causar lesão celular e conseqüente redução do tempo de tratamento térmico de produtos, o efeito de eletroporação apresenta potencial para aplicação sinérgica da técnica de aquecimento ôhmico com outras metodologias de controle microbiano, como por exemplo, a utilização de bacteriocinas antimicrobianas termoressistentes como a nisina. Entretanto, segundo nosso atual conhecimento, não existem relatos científicos que suportem a teoria de sinergismo. Porém, caso confirmada, pode influenciar sobremaneira a qualidade de diversos produtos. products. Journal of Food Process Engineering, v. 26, p. 17–29, 2003. CHO, H.Y.; YOUSEF, A.E.; SASTRY, S.K. Growth kinetics of Lactobacillus acidophilus under ohmic heating. 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[email protected] A origem Em 1955 surgiram na Europa os primeiros relatos em crianças de casos fatais de uma síndrome que se caracterizava por forte anemia hemolítica, trombocitopenia e falência renal aguda cuja etiologia era totalmente desconhecida na época (GASSER e col, 1955). Alguns anos depois, na América do Sul, o médico e pesquisador argentino Gianantonio observou os mesmos sintomas em crianças em um hospital infantil em Buenos Aires sendo, posteriormente, denominada de Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU). Vinte anos após o primeiro relato, Kaplan e colaboradores (1975) descreveram os casos semelhantes de SHU em crianças no Canadá e a partir de estudos epide- miológicos entre familiares, concluíram que se tratava de uma doença infecciosa. Evidências adicionais indicavam que a SHU era, em geral, precedida por diarréia associada a um quadro de colite hemorrágica causada por linhagens patogênicas de Escherichia coli, hoje denominadas de E. coli enterohemorrágica (EHEC), produtoras de uma potente enterotoxina com características citotóxicas. A etiologia da SHU foi esclarecida por Karmali e colaboradores em 1983 que associaram a produção da citotoxina por linhagens de EHEC com os sintomas associados à doença. Nessa mesma época, surgiram surtos de SHU nos Estados Unidos que tiveram um grande impacto psicológico na população e receberam um enorme destaque da mídia de todo o mundo. Os surtos iniciais foram associados ao consumo de carne (hambúrgueres) mal cozida servida em uma rede de “fast-food” (RILEY e col, 1983). Outros surtos se sucederam tanto nos Estados Unidos como em países da Europa e Japão e tinham em comum a presença de uma linhagem com um perfil sorológico considerado raro na época, o sorotipo O157:H7. Essas linhagens se caracterizavam pela produção de uma toxina semelhante à toxina produzida por outra bactéria a Shigella dysenteriae, e, portanto, foi denominada de Stx. Até hoje linhagens de EHEC do sorotipo O157:H7 recebem destaque na mídia e são frequentemente reconhecidas como a “bactéria assassina”, considerada por alguns uma potencial arma biológica. 41 O desenvolvimento da doença iniciase com diarreia acompanhada de fortes dores abdominais. Frequentemente, observa-se a presença de sangue nas fezes e ocasionalmente ocorrem vômitos acompanhados ou não por febre baixa. Cerca de 20% das infecções agravam para SHU e mais de 50% dos casos com diarréia sanguinolenta requer hospitalização, especialmente crianças menores de 5 anos de idade e idosos. A SHU caracteriza-se por destruição das células vermelhas do sangue (anemia hemolítica), falência renal aguda que pode ser acompanhada por deterioração neurológica e trombocitopenia. Infecções com linhagens de EHEC representam a principal causa de falência renal aguda em crianças nos EUA e Argentina e respondem por 20% dos casos de transplantes renais na Argentina tanto em crianças como em adolescentes (EXENI, 2001). Nos casos em que não há possibilidade de transplante, o paciente deve recorrer à hemodiálise por toda a vida (GRIFFIN e TAUXE, 1991, SPIZZIRRI, e col., 1997). Uma fração significativa dos indivíduos infectados (aproximadamente 10%) pode apresentar sequelas como pressão alta, crise convulsiva, cegueira, paralisia e diabetes. A SHU normalmente é uma condição ameaçadora à vida e a letalidade pode chegar a mais de 6% e, entre idosos, pode atingir a 50% dos indivíduos infectados (CDC 2006, 2009). Não há um tratamento específico para a SHU e os pacientes recebem apenas medidas de suporte visando aliviar os sintomas. Diálise peritoneal e hidratação intravenosa podem reduzir os índices de mortalidade e amenizar sequelas nos casos em que a concentração de Stx na corrente sanguínea é baixa. A utilização de antibióticos não é recomendada, pois pode agravar os sintomas da SHU ao promoverem aumento na produção da toxina ou liberação através da ruptura das células bacterianas. Na natureza, as linhagens de EHEC causadoras da SHU estão associadas ao gado de corte que atua como principal reservatório para o homem, mas não sofre qualquer sintoma relacionado à doença observada nos seres humanos. A ingestão de carne crua ou mal passada assim como outros alimentos, como frutas, vegetais e água contaminada representam as principais fontes de infecção para os seres humanos. Adicionalmente, a elevada diversidade genética das linhagens circulantes, recobrindo quase todo o território dos países onde está presente, suporta a noção de que essas bactérias são capazes de sobreviver e persistir em diferentes nichos, como folhas de hortaliças, aumentando a possibilidade de transmissão à população humana (PALERMO e col., 2009). Em função da relevância da doença, uma lei criada no governo do presidente Bill Clinton dita que toda carne Figura 1. Estrutura da subunidade da toxina Stx produzida por linhagens de EHEC. As subunidades A e B estão indicadas por setas. 42 bovina comercializada nos EUA deve ser submetida à tratamento com irradiação gama. A incidência da SHU varia de acordo com o país e na Argentina os índices atingem a 17 casos/100.000 crianças menores de 5 anos de idade por ano (RIVAS e col, 2006). A incidência de SHU no país vizinho é cerca de 10 vezes mais alta do que observado em outros países como nos EUA, segundo país no mundo mais afetado pela doença com 2 casos/100.000 habitantes (CDC, 2008). No Brasil, ainda não existe registro de surtos epidêmicos da doença e o número de crianças com registro de infecção com EHEC permanece muito baixo. No entanto, a presença de linhagens EHEC tem sido confirmada no rebanho bovino assim como em ovinos e caprinos (IRINO e col 2005; OLIVEIRA e col, 2008, VETORATTO e col, 2009). Esses dados indicam que a ameaça está próxima e monitoramento epidemiológico cuidadoso e medidas de vigilância sanitária devem ser implementada para evitar que a doença atinja o país. A patogênese da EHEC. Todo caso de SHU inicia-se com a ingestão de pequenas quantidades da bactéria presente em alimentos ou água contaminada. Uma vez ingerida, a bactéria atravessa o ambiente ácido do estômago e coloniza o epitélio intestinal por meio de proteínas secretadas pela bactéria e uma adesina (proteína bacteriana com capacidade de se ligar a receptores presentes na superfície da célula alvo do hospedeiro), denominada, intimina. Nesse ambiente a bactéria inicia a liberação da toxina Stx que atravessa o epitélio intestinal, cai na corrente sanguínea ligando-se a células que expressam quantidades elevadas do receptor específico. Atualmente são conhecidos dois grandes grupos de toxinas Stx produzidas por linhagens de EHEC, mas apenas um tipo (Stx2) está comprovadamente associado ao desenvolvimento da SHU. A toxina Stx é caracterizada por ser uma toxina do tipo AB5, isto é, uma toxina formada por duas subunidades independentes com estrutura e função próprias. A subunidade A é responsável pelos efeitos tóxicos no organismo e promove o blo- queio da síntese protéica após penetrar nas células alvos e atingir os ribossomos, onde inativa o RNA ribossomal da subunidade 60S. Durante o trânsito intracelular, a subunidade A e clivada em duas porções (A1 e A2) sendo que a atividade tóxica está relacionada à subunidade A1. A segunda porção, ou domínio funcional/ estrutural, da toxina Stx é representada por 5 subunidades B que se organizam na forma de um barril no qual se encaixa a subunidade tóxica. As subunidades B têm como função o reconhecimento e a ligação a um receptor celular glicolipídico, denominado Gb3 , encontrado na superfície de muitas células do corpo, como no epitélio do intestino delgado, mas é particularmente abundante em células de endotélio microvascular renal e cerebral, assim como no pâncreas e pulmões (PATON e col., 1998), Durante o processo infeccioso a EHEC não invade o organismo permanecendo aderida ao epitélio intestinal onde promove as lesões celulares locais, na forma da colite hemorrágica, pela produção da toxina. As lesões mais graves, característica da SHU, estão associadas à presença da toxina na circulação sanguínea cuja passagem pelo epitélio intestinal ainda não foi totalmente esclarecida. Uma vez em contato com as células alvo, não é possível neutralizar a toxina e, consequentemente, evitar os danos celulares e teciduais associados à SHU. Os sintomas da SHU aparecem nos indivíduos infectados muito rapidamente, cerca de duas semanas após a infecção com a bactéria. Figura 2. Mecanismo de ação da toxina Stx. O transporte retrógrado pelo Golgi e RE. da toxina está demonstrado. Fonte: J C Paton and A W Paton (2006) Estratégias de controle da SHU A falta de um tratamento específico para a SHU tem incentivado pesquisas que visam encontrar estratégias profiláticas e terapêuticas efetivas contra a doença. Tais estudos abordam três linhas principais que envolvem: (i) o uso de análogos sintéticos dos receptores de toxina, (ii) imunoterapia com anticorpos monoclonais e (iii) vacinas. (Tabela 1). Tanto o uso de análogos sintéticos do receptor da toxina Stx assim como o uso de anticorpos monoclonais capazes de neutralizar a toxina circulante foram submetidos a testes clínicos e os resultados obtidos foram lamentavelmente frustrados pela Figura 3. Progressão da infecção. Fonte: Tarr, P. (2005) pouca eficácia do tratamento (análogos de receptor) ou toxicidade (anticorpos monoclonais). Atualmente as maiores expectativas estão voltadas para o desenvolvimento de uma estratégia vacinal cuja aplicação permita um controle preventivo da doença, por meio da imunização ativa em populações de maior risco. Por representarem a estratégia com melhor relação custo-benefício em relação ao controle de doenças infecciosas, vacinas representam uma esperança para que em futuro próximo seja possível reduzir tanto a mortalidade como a morbidade associada à SHU. Para tal descrevemos na presente revisão as principais estratégias relacionadas ao desenvolvimento de vacinas voltadas para o controle da SHU. A pesquisa de vacinas voltadas para o controle da SHU está concentrada em laboratórios sediados em países desenvolvidos, sobretudo nos locais onde a 43 doença possui grande relevância epidemiológica. No entanto, pesquisas nessa área também estão conduzidas por grupos de pesquisa no Brasil e Argentina. Até o momento, a pesquisa de vacinas contra a SHU segue duas vertentes sendo uma voltada para aplicação veterinária e outra que visa o uso em seres humanos. As vacinas de uso veterinário têm como objetivo evitar que o gado se infecte e dissemine linhagens de EHEC para os seres humanos. Em geral, essas vacinas procuram desencadear imunidade na mucosa intestinal, inibindo a colonização e baseiam-se em proteínas envolvidas na adesão da bactéria às células do epitélio visando quebrar o ciclo de transmissão, (POTTER e col., 2004; PETERSON e col., 2007; SMITH e col., 2009). Infelizmente, até o momento, tais vacinas não mostraram resultados promissores tanto em condições laboratoriais com em relação à sua aplicabilidade no campo. A segunda vertente de pesquisa relacionada ao desenvolvimento de vacinas tem como objetivo a prevenção da doença em seres humanos. Nesses estudos procura-se estimular a produção de anticorpos circulantes contra a toxina Stx de modo a neutraliza-la antes que atinja células e tecidos alvos. Porém, por se tratar de uma doença transmitida via fecal-oral, estudos também buscam a indução de anticorpos na mucosa intestinal capazes de bloquear a toxina produzida no intestino durante os estágios iniciais da doença, de modo a impedir a penetração na corrente sanguínea. Diferentes estratégias de imunização foram descritas e envolvem o uso de vetores vacinais vivos administrados pela via oral, vacinas acelulares com proteínas purificadas ou toxóides e vacinas de DNA (Tabela 2). Vacinas baseadas em bactérias recombinantes. O uso de vetores bacterianos vivos baseia-se na geração de linhagens bacterianas recombinantes que expressam formas atóxicas da toxina Stx de forma a promover a produção de anticorpos específicos na mucosa intestinal e na corrente sanguínea. Foram descritos resultados de imunização em condições laboratoriais com linhagens vacinais de Vibrio cholerae (BUTTERTON e col., 1997), Salmonella enterica (ROJAS e col., 2010) e Bacillus subtilis (GOMES e col., 2009). As linhagens são modificadas geneticamente para expressar a subunidade B da Stx ou derivados de Stx constituídos pela subunidade B e porções não tóxicas da subunidade A. A administração por via oral facilita a indução de imunidade de mucosa (anticorpos IgA no trato intestinal). No entanto, linhagens patogênicas atenuadas trazem um potencial risco de reversão para a forma virulenta. Em geral os resultados revelam baixa imunogenicidade sistêmica (anticorpos IgG específicos na corrente sanguínea) e proteção parcial a desafios com a toxina nativa em ensaios com camundongos. Vacinas baseadas em toxóides Toxóides são obtidos pela inativação de toxinas por métodos físicos ou químicos. Nessa estratégia de imunização a toxina Stx é utilizada na sua composição completa, o que preserva suas propriedades imunogênicas, possibilitando a obtenção de anticorpos que reconhecem e neutralizam a toxina nativa. No caso das estratégias voltadas para o controle da SHU os toxoídes são inativados quimicamente por tratamento com glutaraldeído (LUDWIG e col., 2002, BIELASZEWSKA e col., 1997). Embora os resultados tenham sido promissores em modelo experimental, dificuldades inerentes à inativação completa da Stx criam restrições em relação à segurança da vacina para uso em humanos Como alternativa ao uso de toxóides, laboratórios pesquisam o uso de toxinas recombinantes contendo mutações que reduzem ou inativem as propriedades tóxicas da Stx. Tal estratégia mostra-se atraente, pois dispensa o tratamento químico da toxina, o que simplifica o processo de produção do imunógeno. No caso específico de Stx foram descritas mutações na subunidade A que reduzem a toxicidade sem comprometimento da imunogenicidade (ISHIKAWA e col., 2003, SMITH e col., 2006). Vacinas baseadas em proteínas purificadas ou peptídeos. O maior alvo das pesquisas nessa linha é a subunidade B da Stx, responsável pela ligação ao receptor das células alvo. Por não estar envolvida com o efeito tóxico da Stx, não há necessidade de etapas adicionais relacionadas à inativação da proteína purificada. No entanto, dificuldades encontradas na expressão da proteína em sistemas heterólogos, a montagem da proteína na sua conformação pentamérica e a baixa imunogenicidade do antígeno tem sido os principais fatores que restringiram a pesquisa de vacinas baseadas na subunidade B da Stx em condições laboratoriais (Tabela 2). Tabela 1. Estratégias voltadas para o tratamento ou prevenção da SHU. Estratégia de controle 44 Características Situação atual Análogos de Gb3 sintéticos Substâncias de estrutura e composição química similar ao Gb3, visam bloquear a Stx, administradas por via oral ou parenteral ARMSTRONG e col. 1995. ensaios clínicos em humanos foram ITO e col., 2002, inconclusivos quanto a eficácia da TRACHTMAN e col, 2003 terapia PATON e col., 2000. Referência Imunoterapia Uso de anticorpos monoclonais neutralizantes que possam conferir imunidade passiva ao indivíduo já infectado. A proteção é imediata mas temporária. Efeitos colaterais reduzidos. Anticorpos aprovados em testes clínicos e aprovados para uso em humanos Vacinas Imunização ativa gerando resposta imunológica (anticorpos) Pesquisa em nível laboratorial. contra a toxina Stx. Promove imunidade duradoura com Nenhuma formulação submetida a caráter profilático. testes clínicos SHEORAN e col., 2003 DONOHUEROLFE, A. e col., 1990 TZIPORI e col., 2004 Detalhadas na tabela 2 Tabela 2. Estratégias vacinais atualmente em desenvolvimento para o controle da SHU. Estratégia vacinal Características Principais vantagens Principais desvantagens Referência Vacinas baseadas em bactérias recombinantes Bactérias recombinantes, atenuadas ou não patogênicas, capazes de expressar a subunidade B da toxina Stx in vivo Baixo custo de produção, imunização pela via oral e geração de anticorpos de mucosa. Risco de reversão para formas virulentas. Formulações complexas com elementos que desencadeam respostas inflamatórias e efeitos adversos como componentes da parede celular bacteriana BUTTERTON e col., 1997 ROJAS e col., 2010 GOMES e col., 2009 Vacinas baseadas em toxóides Formas atóxicas de Stx (toxóides) obtidas por métodos físicos ou químicos. Composição menos complexa baseada na toxina Stx. A vacina mantém as propriedades imunogênicas da toxina nativa e permite a geração de anticorpos neutralizantes. Restrições em relação à segurança em função do processo de inativação da toxina sem o comprometimento de suas propriedades imunológicas. LUDWIG e col., 2002, BIELASZEWSKA e col., 1997 Vacinas baseadas em formas atóxicas de Stx Formas atóxicas de Stx geradas por técnicas de mutagênese sítio-específica na subunidade A Mantém as propriedades imunogênicas da vacina. Permite a indução de anticorpos neutralizantes contra a toxina nativa. Alto custo relacionado à purificação da toxina mutante. ISHIKAWA e col., 2003, SMITH e col., 2006, Vacinas baseadas em proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos Formas recombinantes da toxina Stx, (subunidade B com ou sem fragmentos da subunidade A) produzidas em sistemas heterólogos e peptídeos sintéticos administrados com adjuvantes vacinais Composição definida. Ausência de efeitos colaterais. Alto custo de produção. Baixa imunogenicidade exige o uso de adjuvantes. HARARI e col., 1988 BOYD e col., 1991 ZHU e col., 2007 BYUN e col., 2001 MARCATO e col., 2001. TSUJI et al., 2008 Vacinas de DNA Vacinas baseadas em moléculas de DNA que promovem a síntese de formas atóxicas de Stx pelas células transfectadas do indivíduo vacinado Facilidade de obtenção e baixo custo de produção. Estabilidade térmica. Baixa imunogenicidade. Requer múltiplas doses para induzir a produção de anticorpos. CAPOZZO e col., 2003, BENTANCOR e col., 2009 Outra estratégia envolve o uso de peptídeos sintéticos correspondendo a sequências da subunidade B (HARARI e col., 1988, 1990, BOYD e col., 1991). Esses peptídeos correspondem geralmente a regiões hidrofílicas da proteína, ou seja, trechos da molécula que estão expostos na toxina permitindo o reconhecimento por anticorpo. Embora resultados iniciais tenham sido promissores em condições experimentais, o alto custo de produção e a baixa imunogenicidade restringiram o aprimoramento dessa estratégia vacinal. Vacinas baseadas em ácidos nucléicos purificados (vacinas de DNA) Vacinas de DNA empregam a informação genética do patógeno para a geração de plasmídeos purificados como constituintes da formulação vacinal. O DNA plasmidial consiste em um promotor capaz de controlar a expressão de um ou mais antígenos em células de mamíferos após a inoculação em tecido muscular, resultando na produção do antígeno vacinal alvo. Resultados promissores foram obtidos em condições experimentais com formulações que codificam a subunidade B e porções atóxicas da subunidade A (CAPOZZO e col., 2003, BENTANCOR e col., 2009). Como principais vantagens dessa estratégia estão o baixo custo de produção e a simplicidade do processo de preparação que prescinde da purificação do antígeno alvo. No entanto, a baixa imunogenicidade das formulações testadas, sobretudo, para a produção de anticorpos específicos, indica que aprimoramentos ainda devem ser alcançados antes que essas vacinas possam ser testadas em seres humanos. Imunoterapia A imunoterapia passiva representa uma alternativa real para o tratamento da SHU em pessoas infectadas. A inoculação intravenosa de anticorpos antiStx em camundongos e suínos mostrou ser capaz de neutralizar a toxina antes que danos irreversíveis ocorram nos tecido alvo (SHEORAN e col., 2005, DONOHUE-ROLFE e col., 1999). De forma semelhante ao tratamento de pessoas picadas por cobras venenosas, a efetividade da imunoterapia está restrita a um reduzido intervalo de tempo entre a infecção e o período em que a toxina está na circulação sanguínea. Quando administrada no início da fase diarréica a imunoterapia pode reduzir drasticamente os riscos de desenvolvimento da SHU (TZIPORI e col., 2004). Alguns anticorpos monoclonais foram licenciados para uso em humanos (REICHERT, 2001). No entanto, o custo elevado e as dificuldades inerentes a um diagnóstico rápido e preciso limitam a aplicação desses reagentes (MATISE e col. , 2001). 45 Perspectivas para o controle preventivo ou terapêutico da SHU Cerca de três décadas se passaram entre a descoberta da associação entre a produção da toxina Stx por linhagens de EHEC e os sintomas característicos da SHU. No entanto, ainda não dispomos de um tratamento ou profilaxia eficaz no combate da doença que mata ou deixa sequelas permanentes em centenas de pessoas a cada ano. Nos últimos anos, avanços importantes no diagnóstico rápido da bactéria e no monitoramento e controle do patógeno em alimentos contribuíram para a redução de surtos da doença em diferentes partes do mundo. Por outro lado, as dificuldades encontradas no desenvolvimento de vacina ou imunoterapia eficaz para o controle da SHU revelam que tal desafio só poderá ser vencido com muita dedicação e persistência de grupos de pesquisa que trabalham na área. As pesquisas voltadas para a busca de uma vacina contra EHEC revelaram alguns aspectos importantes que nos ajudam a planejar trabalhos futuros. A toxina Stx, representa o principal alvo a ser neutralizado e para tal é necessário que níveis elevados de anticorpos neutralizantes estejam presentes entre o momento de entrada na corrente sanguínea e a interação da toxina com as células alvo. Por outro lado, pesquisas revelaram que a toxina Stx, seja na forma de toxóide ou de proteína recombinante, é pouco imunogênica e/ou altamente tóxica dificultando a obtenção de antígenos seguros e com imunogenicidade elevada. Nesse sentido, o emprego da imunoterapia passiva baseada em anticorpos, sejam esses policlonais ou monoclonais, se destaca entre as alternativas até hoje testadas para o controle da SHU. No entanto, o sucesso dos anticorpos monoclonais encontra uma barreira no custo elevado e indica que as buscas de vacinas ou imunoterapias clássicas, com custo mais reduzido, não devam ser abandonadas. Para tal a pesquisa de formulações que garantam a produção de altos níveis de anticorpos neutralizantes é uma prioridade. Finalmente deve ser lembrado que a SHU é consequência de uma infecção alimentar. Treinamento da classe médica e o monitoramento epidemiológico 46 do agente infeccioso em alimentos, rebanhos ou pacientes com diarréia sanguinolenta devem ser estimulados assim como o controle rigoroso de alimentos utilizados pela população. Tais medidas podem contribuir de forma expressiva para a redução dos índices de mortalidade e morbidade associados à doença. Por fim, a mudança de hábitos alimentares, como a ingestão de carne mal cozida, pode contribuir para que o número de pessoas afetadas pela doença decline nos locais onde o problema está instalado e contribua para que o patógeno não se dissemine em países, como o Brasil, onde a incidência da síndrome ainda é baixa. Referências ARMSTRONG, G. D. e col. A phase-1 study of chemically-synthesized verotoxin (Shiga like toxin) Pk-trisaccharide receptors attached to chromosorb for preventing hemolytic uremic syndrome. J. Infect Dis. v. 171, p. 1042-5. 1995 BENTANCOR, L. V et al. DNA vector encoding the enterohemorragic Escherichia coli (EHEC) Shiga-like toxin 2 (Stx2) A2 and B subunits confers enhanced immunogenicty and protective immunity to Stx challenge in the murine model. Clin. Vaccine Immunol. v. 16 (5), p. 712-18. 2009. BIELASZEWSKA, M. e col. 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Vaccine Immunol., v. 15. p. 359-366, 2008. www.cdc.gov. 47 Aprovado pela SBM confiança na qualidade do produto Em 2009 a Sociedade Brasileira de Microbiologia implantou o Selo de Aprovação SBM, com o objetivo de promover a aprovação de produtos sanitariamente adequados quanto à presença de microrganismos. Em paralelo ao Selo, foi criado o Departamento de Avaliação de Produtos pela SBM, responsável pelas análises e pesquisas dos produtos, incluindo as embalagens e informações ao consumidor. A aprovação do produto começou a ser uma exigência do mercado e os fabricantes passaram a se preocupar mais em adequar sua produção e seus produtos dentro de parâmetros qualitativos e com preços competitivos. O programa de aprovação da SBM visa certificar produtos quanto a sua qualidade microbiológica e/ou sua capacidade germicida. O processo de aprovação pela SBM segue um programa internacional, cujas diretrizes emanam da Organização Mundial de Saúde. O primeiro produto a receber o Selo de Aprovação da SBM foi o Dettol® produzido pela empresa Reckitt-Benckiser nas formas de sabonete em barra, sabonete líquido e gel anti-séptico. Este selo foi concedido após avaliação de parecer técnico-específico emitido por especialistas indicados pela SBM. Como solicitar o Selo SBM As empresas interessadas em encaminhar seus produtos para avaliação do programa de aprovação da SBM devem: - Enviar carta à Sociedade Brasileira de Microbiologia e solicitar que o produto, fabricado ou comercializado no Brasil seja analisado para receber o Selo de Aprovação SBM; - Também é preciso enviar estudos já realizados sobre o produto, como análises, pesquisas e formulação, além de informações adicionais que houver; - Caso a comissão de avaliação achar necessário, novos testes em laboratórios credenciados poderão ser solicitados. Depois do envio deste material, o SBM firma com a empresa solicitante um protocolo de pesquisa, informando os objetivos, procedimentos e tempo de estudo. A realização dos ensaios dura entre 30 a 90 dias e todas as análises realizadas, materiais e equipamentos utilizados obedecem a normas específicas para cada produto. Sendo o produto aprovado, deverá a Empresa assinar um Contrato que rege todos os pontos do relacionamento com a SBM. Para tornar possível mais essa atividade da SBM, foi realizado um convênio de parceria com empresa tradicional em proficiência, a Controllab. Para obtenção de maiores esclarecimentos entre em contato com: [email protected] 48 SBM in foco - A forma direta de falar com os microbiologistas. Apresentamos o plano de comercialização para 4 edições da Revista Microbiologia in Foco. Periódico da Sociedade Brasileira de Microbiologia, com tiragem de 2000 exemplares e distribuição gratuita. Revista de informação e divulgação sobre temas em bacteriologia, micologia e virologia nas várias áreas de abrangência da Microbiologia: ambiental, agrícola, básica, de alimentos, industrial, médica humana e veterinária e oral. A revista ainda conta com espaços para divulgação de consensos, agenda científica, atualidades e oportunidades de trabalho. Venha fazer parte deste veículo de informação atualizada! Atenciosamente, Marina Baquerizo Martinez e Carlos P. Taborda - Editores Sociedade Brasileira de Microbiologia página inteira 21 x 28 cm Para anunciar entre em contato com José Jair Cagnotto: E-mail: [email protected] Telefone: (11) 3813-9647 ou 3037-7095 1/2 página 18 x 12 cm www.sbmicrobiologia.org.br Agenda in Foco I Simpósio Brasileiro sobre Meningites Bacterianas Data: 01/04/2011 à 02/04/2011. Local: Centro de Convenções Frei Caneca São Paulo, SP – Brasil. XI International Meeting on Paracoccidioidomycosis Data: 01/05/2011 à 04/05/2011. Local: Hotel Fazendo Mazzaropi – Taubaté, SP – Brasil. 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia Data: 02/10/2011 à 06/10/2011. Local: Rafain Palace Hotel e Convention Center Foz do Iguaçu, PR – Brasil. XXI Congresso Latino-Americano de Microbiologia Data: 28/10/2012 à 01/11/2012 Local: Mendes Convention Center – Santos, SP – Brasil 50 Cursos de Especialização e Aperfeiçoamento em Microbiologia • Microbiologia Clínica • Microbiologia Industrial • Microbiologia de Alimentos • Microbiologia Ambiental Início das turmas em janeiro e julho Coodernadora: Dra. Marina Baquerizo Martinez Profa. Titular da FCF-USP Público Alvo Graduados em • Biologia • Medicina Veterinária • Engenharia de Alimentos • Engenharia Química • Farmácia • Biomedicina • Medicina • Odontologia Especialização Aperfeiçoamento Interessados em atuar na área de microbiologia de alimentos, ambiental, industrial e clínica. Profissionais que atuam na área de microbiologia de alimentos, ambiental, industrial e clínica. E queiram aprimorar seus conhecimentos específicos. Seleção: Ficha de inscrição e Envio de currículo Seleção: Ficha de inscrição e Envio de currículo Duração: 18 meses, aulas quinzenais, sextas-feiras das 19:00 a 23:00 horas e sábados das 9:00 as 18:00 horas Duração: 8 meses, aulas quinzenais, sextas-feiras das 19:00 a 23:00 horas e sábados das 9:00 as 18:00 horas Carga Horária Total: 760 horas Carga Horária Total: 180 horas www.sbmicrobiologia.org.br Av. Prof. Lineu Prestes 2415 ICB III | Cidade Universitária | São Paulo | SP | CEP: 05508-000 Tel: 11 3037-7095 | 11 3813-9647 | [email protected] 51 52 FIQUE SÓCIO Os sócios da SBM têm direito a descontos especiais nos eventos promovidos ou patrocinados pela SBM . Para usufruir do desconto de associado em nossas atividades é imprescindivel estar anuente a dois anos consecutivos com a sociedade. Além disso, têm acesso livre à revista científica Brazilian Journal of Microbiology (BJM e que se destina à publicação de trabalhos de pesquisa originais, notas breves e revisões, envolvendo todos os aspectos da Microbiologia. É considerada uma das revistas científicas mais importantes do nosso país. O BJM tem uma política muito severa de avaliação dos trabalhos submetidos à publicação, sendo cada manuscrito avaliado por pelo menos dois revisores criteriosamente selecionados. A revista Microbiologia in Foco tem o objetivo de promover o intercâmbio de informações científicas entre os associados, publicando os autores nacionais de expressão. Adota o mesmo critério de avaliação e excelência que a SBM sempre adotou. Enviaremos o último número da Microbiologia in Foco a todos os novos associados, após sua efetiva associação, um exemplar da revista, no período composto entre os dias 05 e 10. Nos meses seguintes, os associados receberão regularmente os novos números publicados da revista. Fique sócio da SBM. Veja informações no site: www.sbmicrobiologia.org.br Lembre-se: um sócio da SBM integra a maior e mais representativa associação da comunidade científica que atua na microbiologia nacional. Valores para associação Categoria de Sócio ............................................... Anuidade 2011 Aluno de Graduação................................................... R$ 80,00 Aluno de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado)............................................. R$ 130,00 Aluno de Pós-Doutorado............................................ R$ 160,00 Profissional................................................................ R$ 190,00 Biênio 2010-2011 Presidente Adalberto Pessoa Junior, USP-SP 1º Tesoureiro Carlos Pelleschi Taborda, USP-SP Vice Presidente Alexandre Soares Rosado, UFRJ-RJ 2º Tesoureiro Patrícia Silva Cisalpino, UFMG-MG 1º Secretário Carla Taddei de Castro Neves, USP-SP Conselho Fiscal Bernadette G. Franco, USP-SP Sergio E. L. Fracalanza, UFRJ-RJ Agnes Marie Sá Figueiredo, UFRJ-RJ 2º Secretário Lauro Santos Filho, UFPB-PB Representantes de Área SBM 2010-2011 Coleções de Cultura Lara D. Salete, UNICAMP-SP Carlos Augusto Rosa, UFMG Microbiologia Clínica Elizabeth de Andrade Marques, RJ Jorge Luiz Mello Sampaio, Fleury-SP Parasito-Hospedeiro Sandro R. de Almeida, USP-SP Dario Simões Zamboni, USP-SP Ensino Alexandre Lourenço, UNIP/UNISA/FMU-SP Marcela Pellegrini Peçanha, PUC/UNESP Microbiologia Industrial José Gregório, USP-SP Eleni Gomes, UNESP-Rio Preto Microbiologia do Solo Itamar Soares de Melo, Embrapa-SP Mariangela Hungria, Embrapa-PR Infecção Hospitalar Ana Lúcia Darini, USP-SP Afonso Luis Barth, UFRGS Microbiologia Médica Leila Carvalho Campos, FIOCRUZ-BA Waldir P. Elias Jr, Instituto Butantan-SP Microbiologia Veterinária Walter Lilenbaum, UFF-RJ Odir Antônio Dallagostin, UFPel Microbiologia de Alimentos Bernardete G. Franco, USP-SP Ricardo Souza Dias, FUNED-MG/Metodista de Minas Micologia Célia Maria de Almeida Soares, UFG-GO Marcio Rodriges, UFRJ-RJ Virologia Maurício L. Nogueira, FAMERP-SP Luciana Barros de Arruda, UFRJ-RJ Microbiologia Ambiental Irma Grivera, USP-SP Ricardo Henrique Kruger, UnB Micotoxinas Marta Taniwashi, ITAL-SP Myrna Sabino, Instituto Adolfo Lutz-SP Genética de Microrganismos e Bioinformática Vasco Ariston de Carvalho Azevedo, UFMG-MG Artur Luiz da Costa Silva, UFPA