27º Simpósio Espírita “A LUZ DIVINA” Aprendendo a Perdoar Boa Noite, queridos irmãos Perdão e auto perdão, são lições a que somos corriqueiramente, mas tão difícil de colocar-se em prática. convidados Há quem diga: -Não consigo perdoar Outros asseveram: -Perdôo, mas não esqueço. E ainda há os que dizem: - Perdoar é para Deus Pois bem, nesta noite, vamos discorrer um pouco sobre o perdão, para que possamos compreender as suas nuances, refletir sobre os aspectos que envolvem esse tema tão importante para nossa evolução espiritual. Primeiramente, precisamos ter em conta que todo ato de agressividade tem como origem uma criatura que ainda não aprendeu a amar. E essa compreensão deve nos motivar ao sublime ato de perdoar as ofensas recebidas. Mas o que é o perdão? Fomos ao dicionário buscar o significado da palavra perdão e encontramos: remissão de pena, desculpa. Procuramos então o significado da palavra remissão e então tivemos ampliado nosso entendimento. Remissão significa: indulgência, falta de rigor, interrupção, quitação. Em todas as línguas a palavra perdoar é um composto de dar ou doar. De maneira que “per-doar” quer dizer doar-se completamente, abrir mão de si mesmo, dar ou doar o próprio Eu a outrem. 1 O conceito de perdão, segundo o Espiritismo, é idêntico ao do Evangelho: concessão indefinida de oportunidade para que o ofensor se arrependa, o pecador se recomponha, o criminoso se libere do mal e se erga, redimido para a ascensão luminosa. Perdão é o envoltório da indulgência. Será que vale a pena perdoar? Por certo que sim. Quem perdoa, segundo a concepção espírita-cristã, esquece a ofensa. Não conserva ressentimentos. Perdoar é uma das maneiras que temos de mostrar amor ao próximo. Amar, apesar da ofensa sofrida, requer força espiritual superior às forças humanas. A primeira questão é a seguinte: POR QUE DEVEMOS PERDOAR? Porque os Evangelhos assim nos orientam, senão vejamos: Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão? Será sete vezes? Respondeu Jesus: Não digo que até sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. (Mateus, 18:15-22) • Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará. (Mateus, 6:14) • Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. (Lucas, 17:3) ▪ Vós tendes ouvido que se disse: olho por olho dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal: mas se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe a esquerda, se te pedirem a túnica, dá também a capa. (Mateus, 5:38) • Jesus é nosso modelo e ensinou dizendo: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. (Lucas, 23:34) Os evangelhos são instrumentos para que possamos aprender as lições de Jesus e colocá-las em prática. Dentre essas lições existe a recomendação para que reconciliemo-nos com os nossos adversários, enquanto estamos a caminho com ele. E outra recomendação que não podemos esquecer é aquela que diz: Antes de apresentar tua oração a Deus, vai e reconcilia-se com seu inimigo. 2 Como podemos observar o perdão é amplamente recomendado. E QUAL A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO EM NOSSAS VIDAS? O perdão é imprescindível em nossas vidas para que tenhamos paz interior. O perdão permite a nós próprios, libertarmo-nos do ciclo interminável da dor, da raiva e de recriminações que nos mantém prisioneiros ao sofrimento. Quando perdoamos e nos livramos da dor nos capacitamos intimamente a sermos pessoas melhores. O perdão liberta, cura as nossas feridas e nos permite crescer espiritualmente. O que perdoamos não é o ato, a violência, a negligência, mas sim as pessoas que não foram capazes de fazer melhor. Perdoamos as suas limitações, os seus erros, o seu descontrole, o seu abandono. Quando perdoamos libertamo-nos do peso dessa amarra e deixamos o outro ser como realmente é. O perdão torna-nos livres para que cada um possa fazer o seu caminho e seguir o seu destino. O QUE É PRECISO PARA PERDOAR? É necessário que nos reconciliemos com a nossa própria história, pois a dor sempre esteve presente em nossas vidas, desde a infância. Quando sofremos é inevitável que nos interroguemos: por quê? Por que eu? O que é que eu fiz para merecer isso? E procuramos uma explicação lógica para o sofrimento. No processo de cura é importante sentir. No entanto, na maioria das vezes preferimos explicar a dor, racionalizar, em vez de senti-la. Não se trata de encontrar culpados mas tão somente conscientizar-se para poder superar a dor. Reconhecer que nos magoaram, encarar de frente essa dor. Isso alivia e aos poucos nos pacifica. Aprender a sentir a própria dor, sem medo, nos torna mais sensíveis à dor dos outros. Não se trata de se resignar diante de uma derrota, mas de aceitar a dor profunda, considerando-a mestre de sua vida, por mais dolorosa e injusta que tenha sido. A dor abre a porta para o perdão. 3 Não poderíamos deixar de ressaltar que a prece, é sempre método eficaz, a restaurar os sentimentos de paz e serenidade. Esse exercício nos leva a diversos aprendizados e ao autoconhecimento. Às vezes, por mais que tenhamos conhecimento da necessidade de enfrentar a dor para propiciar o nosso autoconhecimento, não conseguimos, pois dispara em nós os mecanismos de defesa. MECANISMOS DE DEFESA A mente humana está muito bem preparada para se defender de um sofrimento demasiado grande. Os mecanismos de defesa físico e psíquico são de um enorme valor para a pessoa humana. Em muitos casos é o que permite a muitas pessoas sobreviver e prosseguir em suas atividades sem se desmoronarem. Mas estes mecanismos são inúteis e prejudiciais se mantêm a pessoa “protegida” mesmo depois de passado o perigo. A. Resistências cognitivas e racionais: O mecanismo de defesa mais freqüente é o da negação. Consiste em negar a ofensa e minimizar o seu impacto. Essas resistências revestem-se de diversas formas. Esquecer, arranjar desculpas para retirar a responsabilidade do agressor, oferecer um perdão fácil, rápido e superficial. B. Resistências emotivas A ofensa provoca um sentimento de humilhação e de vergonha. A vergonha é a sensação de que o eu profundo ficou exposto. A vergonha é a sensação de ser impotente, inadequado, incompetente, de não ser ninguém e isso leva ao medo de ser rejeitado. O principal desafio que se coloca nesta fase emocional é reconhecer o profundo sentimento de vergonha que se segue à ofensa, para conseguir aceitar, relativizar, digerir e integrar. A vergonha não se deixa perceber com facilidade, esconde-se por detrás de várias máscaras: a cólera, o desejo de poder, o farisaísmo moral, o complexo de eterna vítima, o perfeccionismo. As vezes a raiva não assumida volta-se contra nós mesmos sob a aparência de culpa, depressão, ansiedade e castigo. As pessoas preferem sentir-se culpadas do que com vergonha e impotentes. O reconhecimento do verdadeiro sentimento é importante para que possamos reconhecer em nós, com clareza, a limitação e a debilidade, próprias do seres humanos. 4 Por tudo isso é importante antes de poder perdoar é necessário arrumar o mundo emocional. FALSAS CONCEPÇÕES DO PERDÃO O conceito que fazemos do perdão tem influência decisiva e, esse conceito tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar. Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é "ser apático" com os erros alheios, ou mesmo, aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, é que vivemos achando que perdoamos quando aceitamos agressões, abusos, manipulações e desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, ficando, pois, impassíveis como se nada estivesse acontecendo. Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não é fingir que tudo corre bem, quando percebemos o contrário a nossa volta. Perdoar não é "ser conivente" com as condutas inadequadas. Como podemos perceber temos falsas concepções do perdão e isso nos leva a seguintes atitudes equivocadas: Negação Quando se sofre um duro golpe uma das reações mais freqüentes é resistir ao sofrimento evitando a dor e as emoções. Esse mecanismo defensivo converte-se em negação da ofensa e da dor. Para curar-se é preciso reconhecer a ferida e sentir a sua dor para depois perdoar. Ausência de Emoções Perdoar não é uma fórmula mágica capaz de resolver conflitos sem ter em conta os sentimentos. Este equívoco pode ter origem na educação que recebemos quando criança quando nos pediam que perdoássemos como se perdoar fosse apenas de um ato de vontade e sem respeitar nossas emoções. O processo é lento e depende da ferida provocada, das reações do ofensor e dos recursos do ofendido. Para que o processo seja autêntico devem ser mobilizadas todas as faculdades: sensibilidade, coração, inteligência, vontade e fé. Obrigação Perdoar não pode ser uma obrigação, ou é livre ou não é perdão. O perdão é mais do que uma obrigação moral, precisa ser gratuito e livre. 5 Volta ao passado É um equívoco muito comum crer que perdoar é restaurar a relação tal como estava. Por vezes isso pode acontecer mas, outras vezes não, e isso não significa que não se tenha perdoado. Pergunta-se: podemos recuperar os ovos depois da fazer o omelete? Na verdade não se pode voltar ao passado, no entanto, o conflito pode servir para se fazer uma avaliação da qualidade da relação que pode vir a ser recriada sobre bases mais sólidas. Superioridade Moral Alguns tipos de perdão humilham mais do que libertam. Perdôo para impressionar. Um sinal de arrogância. O verdadeiro perdão do coração tem lugar na humildade e abre caminho à reconciliação. O falso perdão permite manter uma relação de dominado-dominador, é um gesto de poder sobre o outro e não um gesto de força interior. Renunciar à justiça Perdoar não é renunciar a justiça. O perdão é um ato de benevolência gratuita e não significa renunciar aos direitos e à aplicação da justiça. O perdão que não procura a justiça, longe de ser um sinal de força e nobreza, traduz, sobretudo, debilidade e falsa tolerância incitando indiretamente a perpetuação do delito. Responsabilidade de Deus “O perdão a Deus pertence” é uma máxima que transfere para Deus a responsabilidade do perdão como se o perdão fosse uma atitude com a qual nós não tivéssemos nada a ver. O perdão é um ato totalmente humano, para o qual Deus não nos substitui. Deus não faz esse trabalho por nós. Deus por sua magnanimidade perdoa sempre, mas isso não exime o esforço que temos que fazer para limpar o nosso coração com o perdão. RECUSA AO PERDÃO Todos nós podemos ser feridos de uma maneira ou de outra, seja por frustrações, decepções, desgostos de amor e traições. Quando nos magoam e não conseguimos perdoar, ficamos dominados pelos seguintes sentimentos: a) Perpetuar em nós e nos outros o mal que nos fizeram Quando nos magoam temos a tendência de reagirmos mal não só com o agressor, mas para conosco mesmo e com os outros. 6 b) Viver em ressentimento permanente O ressentimento instala-se de forma permanente e nos deixa sempre em alerta contra qualquer ataque real ou imaginário. O ressentimento traduz sempre a existência de uma ferida mal curada e muitas vezes leva a doenças psicossomáticas. Pode provocar stress, chegando a afetar o sistema imunológico. Ressentimento e rancor geram câncer. c) Permanecer preso ao passado A pessoa que não sabe perdoar dificilmente sabe viver o momento presente. Agarra-se ao ontem, condenando o hoje e bloqueando o amanhã. A sua vida está presa ao passado. d) Vontade de vingança Esta é uma das respostas mais instintivas e espontâneas na tentativa de compensar o próprio sofrimento, querendo impor o mesmo sofrimento ao agressor. A imagem do agressor humilhado e em sofrimento proporciona ao vingador uma alegria íntima constituindo-se num bálsamo temporário para a dor. Porém tal fato não o liberta do sofrimento e esse alívio momentâneo transforma-se em prisão. O instinto de vingança cega quem se deixa envolver por ele, e muitas vezes agressor e ofendido entram num circulo de violência sem fim. A famosa lei do “olho por olho, dente por dente” não resolve nada, antes pelo contrário, aumenta a violência. Decidir não se vingar é o primeiro passo para poder perdoar. Só o perdão rompe a espiral de violência e o desejo de vingança podendo conduzir a uma renovação das relações humanas. DECIDINDO PERDOAR PERDOAR É LIBERTAR-SE EM QUE CONSISTE O ATO DE PERDOAR O perdão é um processo que envolve a pessoa no seu todo, implica um antes, um durante e um depois. Requer um conjunto de condições: tempo, paciência consigo mesmo e um desejo de eficácia e perseverança na decisão de chegar ao termo do processo. 7 O perdão começa com a vontade de não se vingar, fato que representa uma vontade de se curar e crescer. O perdão requer reavaliação. Perante a ofensa a pessoa se sente impotente e humilhada. Mas será importante olhar para os fatos sobre ângulos diferentes. Inclusive sob o ponto de vista do ofensor. O perdão convida a encarar novas perspectivas das relações humanas. Libertado dos seus dolorosos vínculos com o passado o ofendido que perdoa pode permitir-se viver plenamente o presente e antever uma nova relação com o seu ofensor no futuro. O perdão valoriza a dignidade do ofensor. Para poder perdoar é indispensável acreditar na dignidade de quem nos feriu. Por trás do “monstro” descobrimos muitas vezes uma pessoa débil, frágil, psiquicamente doente, ferida. Uma pessoa como nós capaz de mudar e evoluir. Se lembrarmos que Deus é nosso Pai de amor e misericórdia, veremos no nosso ofensor o nosso irmão em Cristo. A QUEM SE DIRIGE O PERDÃO O perdão é indispensável nas relações sociais, pois se destina a todas as pessoas, a si próprio, aos membros da família, aos mais chegados, aos amigos, aos colegas, aos estranhos, às instituições, aos inimigos e inclusivamente a Deus. Não se mede as ofensas objetivamente, mas através da observação do dano que nos causou, por isso é importante ter em conta quem nos ofendeu. Se a ofensa foi causada por pessoas amadas a dor torna-se mais profunda devido às expectativas que temos sobre estas pessoas e devido ao vínculo afetivo. O perdão aos familiares é o mais importante já que as relações muito próximas podem, frequentemente, gerar conflitos. As ofensas causadas por estranhos, mede-se mais objetivamente, pelo prejuízo que nos causou. É preciso lembrar que as feridas do passado podem ser despertadas, pelas feridas do presente, aumentando o pânico e a dor. O perdão fundamental para todos nós é aquele que concedemos a nós próprios. Perdoar o outro sem que antes tenhamos perdoado a nós próprios, compassivamente e com esperança e aceite da nossa pobreza e debilidade é um perdão superficial. Por vezes, precisamos nos perdoar por termos estado numa situação em que permitimos que os outros nos ferissem. Outras vezes por que não sabermos o que fazer ou o que dizer. Ou porque nos envolvemos em situações que não nos dizem respeito. Ou 8 ainda por termos permitido que nos humilhassem com palavras insultuosas, ou até porque nos expusemos em demasia. Não importa o motivo, temos que nos perdoar. O QUE DEVEMOS PERDOAR É importante não banalizar o processo do perdão. Há que se distinguir entre as circunstâncias que requerem o perdão daquelas que nada tem a ver com essa prática espiritual. Só podemos perdoar as ofensas injustificadas. Quando nos sentirmos ofendidos precisamos fazer uma análise de consciência, pois se identificarmos que o ofensor possui um mínimo de razão, devemos ter a humildade de nos modificarmos. AS ETAPAS DO PERDÃO Pedagogicamente, o processo de perdoar se divide em 10 etapas, de tal forma que o perdão está ao alcance do maior número de pessoas possíveis. São elas: 1. Decidir não se vingar e fazer com que cessem os gestos ofensivos A vingança foca nossa energia no passado. Para satisfazer nosso afã de vingança imitamos o nosso ofensor e nos deixamos arrastar na sua dança infernal e isso além de nos corroer faz com que percamos o nosso valor. O dinamismo do perdão somente se desencadeia quando a pessoa ofendida toma duas decisões: renunciar a vingança e aos gestos ofensivos. Por outro lado é importante fazer com que o agressor pare com comportamentos ofensivos. Fazer todo o possível é proteger-se, defender-se, respeitar-se e lutar pelos próprios direitos. Em alguns casos isso pode significar recorrer à justiça e isso deve ser feito. 2. Reconhecer as feridas e as debilidades. Não é possível perdoar sem reconhecer o sofrimento que a ofensa nos causou. Há que aprender a aceitar, a curar e transformar em benefício próprio o sofrimento causado pela ofensa. Isso nos auxiliará no autoconhecimento. 3. Partilhar a mágoa com alguém 9 Perante uma agressão o mais saudável é procurar alguém para partilhar o sofrimento. Alguém que saiba escutar sem julgar, sem moralizar, sem aborrecer com conselhos, que não tente sequer aliviar a dor. Verbalizar a dor ajuda a reviver com mais calma o acontecimento doloroso e ajuda a libertar as emoções. Possibilita também perceber o acontecimento de forma menos ameaçadora e mais suportável. Esse acolhimento permitirá sermos mais compreensivos conosco mesmo. Partilhar a ofensa com o ofensor. Por mais estranho que pareça, pode ser uma ajuda nas seguintes condições: se o ofensor reconhecer a sua falta, expressar o seu pesar e decidir não voltar a repeti-la. Se estas condições estão presentes, então precisamos estar bem preparados: • Falar de nós. Dizer o que significou para nós essa experiência com muita sinceridade, mas sem fazer juízos de intenções nem agredir. • Escutar a versão do outro • Procurar encontrar a razão de fundo da ofensa Se não se puder partilhar a ofensa diretamente com o ofensor, ajuda escrever-lhe uma carta que não será enviada mas que pode levar a própria pessoa a soltar as suas emoções e permitir que ,no futuro, se perdoe.Também pode-se utilizar a técnica da cadeira vazia. 4. Identificar a perda para poder sublimar É importante identificar os danos provocados pela ofensa e o que isso significa para nós, pois nos ajudará a sublimar estas perdas. • Devemos perguntar que parte de nós foi afetada, o que perdemos, que valores foram atacados ou ameaçados, que expectativas ou sonho perdemos. • Nomear com clareza os aspectos que podem ter sido prejudicados: a autoestima, a reputação, a confiança em si próprios, a confiança nos outros, o apego aos familiares, os ideais e o sonho de felicidade, os bens materiais, a saúde, a imagem, as expectativas, a admiração pelos que amamos e a honestidade. • Depois de termos posto a descoberto identificado as nossas perdas, é preciso tomar consciência de que não fomos afetados em todo o nosso ser, mas apenas numa parte de nós. A essência do nosso ser continua sã e integra. 10 Nesta etapa é importante distinguir a ferida em si mesma da interpretação que fazemos dela. É comum também nos culparmos ou nos fazermos de vítima, por isso é importante distinguir o que é responsabilidade do ofensor e o que é responsabilidade nossa. Quando reconhecemos a nossa parte de responsabilidade, devemos também nos conceder o direito de nos equivocarmos e de errarmos pois, raramente, um erro é irreparável. Por fim precisamos nos dar conta de que sempre se pode aprender com os erros e enriquecer nossa vida com eles. 5. Perdoar a si mesmo É muito difícil perdoar os outros e receber o perdão se não nos perdoamos a nós próprios. É muito freqüente que perante a uma grande decepção a pessoa coloque a culpa em si, por ter sido ofendida. Nestes casos há uma espécie de desprezo por si próprio, o qual pode ter origem: A. Perfeccionismo – dificuldade de assumir deficiências e limitações. A humildade ajuda a dar conta das limitações. B. Complexo de inferioridade – Mensagens negativas recebidas dos pais e das pessoas significativas na infância. C. Repressão - Todo o material reprimido ao longo da vida constitui-se em sombra, que quando emerge provoca medo e gera a autoacusação. D. Baixa estima – O preço que se paga pela falta de auto-aceitação e de autoestima é muito elevado. Se necessário buscar ajuda de um psicoterapeuta. Devemos exercitar o amor a nós. Trabalhando para o auto perdão, reparar o mal, exercitando o bem. Paulo de Tarso foi o maior exemplo de auto perdão. Trabalhou para redimir-se. 6. Compreender o ofensor Compreender não é justificar, não é esquecer, nem mesmo desculpar. Compreender é olhar com lucidez e poder perceber algum motivo para a falha, para a atitude que nos feriu. Como quem quer perceber os “porquês” do outro. Poder perceber alguns dos seus “porquês” ajuda a poder perdoar. De qualquer forma é preciso saber que não vamos compreender o outro 11 totalmente, assim como não conseguimos compreender a nós mesmos, completamente. • Compreender implica em deixar de julgar ainda que se condene os atos. • Compreender é conhecer melhor os antecedentes do outro. Uma melhor compreensão dos antecedentes sociais, familiares e culturais de uma pessoa ajuda a perdoá-la. Esses condicionamentos não justificam o comportamento do ofensor, mas ajudam a explicá-lo. Uma vez conhecida a herança familiar, a história e as marcas da pessoa é mais fácil colocar-se no seu lugar e compreender os desvios de conduta e, deste modo, poder perdoá-la com mais facilidade. • Compreender é perceber a intenção da pessoa Tudo o que fazemos, em geral, tem um objetivo, a busca de algum bem ainda que este seja falso e que o modo de conseguir seja errado. As pessoas sãs, na maioria das vezes, não procuram diretamente magoar alguém, mas pretendem realizar algo que julgam ser positivo tanto para elas próprias como para aqueles a quem acabaram de magoar. Às vezes magoam-nos profundamente sem intenção, julgando que agem para o nosso bem, outras vezes magoam-nos inconscientemente,outras ainda, magoam-nos por não saberem dominar os seus ciúmes, a sua inveja a sua agressividade, apenas por que são vítimas de sua própria vulnerabilidade e limitação humana e moral. Magoaram-nos simplesmente porque não souberam ou não puderam fazer melhor. 7. Encontrar um sentido para a ofensa O objetivo desta etapa é descobrir que tudo na vida e, também a ofensa sofrida, pode servir-nos para alguma coisa, para aprendermos. Pode ser um caminho de crescimento. Tudo serve de aprendizado e de tudo podemos tirar algo de positivo. Também da ofensa podemos tirar proveito. Algumas perguntas que podem ajudar-nos a reconhecer os “frutos” da ofensa são: O que aprendi com essa experiência? Em que cresci e como cresci com esta ferida? Alguma coisa mudou, tomou novo rumo, depois da ofensa sofrida? Vejamos alguns exemplos de aprendizados que se pode fazer: • Conhecer-se muito melhor. • Ter mais liberdade interior • Descobrir os próprios valores • Gostar mais de si mesmo, sem depender do amor do outro 12 • Aprender a dizer não, quando algo está em desacordo com os seus valores. • Aprender a pedir ajuda • Ser mais compreensivo com os outros • Reencontrar-se com Deus O importante é apelar para a capacidade que o homem tem de transformar uma tragédia pessoal em vitória. O sofrimento converte-se assim num lugar de crescimento e realização. 8. Aceitação do perdão Perdoar é um ato humano e um dom espiritual. Saber perdoar supõe o reconhecimento de que também nós já fomos perdoados pelos outros e por Deus. Não é fácil aceitar o perdão, saber-se perdoado. Há pessoas que são incapazes de viver esta experiência, por diversas razões: • Há pessoas que se julgam imperdoáveis • Outras não acreditam na gratuidade do amor • Outro grupo recusa o perdão por não se sentirem culpadas O desafio está em receber o perdão sem se sentir humilhado ou rebaixado, mas, simplesmente porque somos humanos. Enganamo-nos e por isso precisamos ser perdoados e perdoar. O importante não é a aceitação do ofensor, mas sim do ato de perdoar do ofendido. 9. Não teimar em perdoar A obstinação impede-nos que se alcance o perdão. Em geral quando teimamos obsessivamente nalguma coisa é quando menos a conseguimos alcançar, a própria tensão obstinada tolhe-nos o desabrochar desse desejo. Também é importante, para ir acolhendo o dom de saber perdoar, evitar o risco de reduzir o perdão em uma obrigação moral porque o perdão é um ato de liberdade e de gratuidade, é um ato voluntário, mas é sobretudo um dom. 10. Abrir-se a graça do perdão Não somos os únicos detentores do perdão, ele é uma graça, um dom de Deus. Jesus nos fez o convite: “Sede compassivos como o Pai do Céu é compassivo”. Jesus no ensinou que “Deus é Pai de justiça e amor”. 13 Para descobrir a face misericordiosa de Deus é preciso observar o comportamento de Jesus com “pecadores”. Jesus não teve uma atitude altiva, moralizadora, de escárnio, mas mostrou-se simples humilde e compreensivo, tomando quase sempre a iniciativa de perdoar sem esperar que lhe fosse pedido o perdão. Valorizou as pessoas a quem perdoou. Por estarmos em processo de evolução, Deus nos concede o direito de errar. Somos perdoados por nossos erros, recebendo novas oportunidades. SABER PEDIR PERDÃO SEM HUMILHAR-SE Aquele que reconhece o mau que fez e assume sua responsabilidade abre-se ao perdão. O que pede perdão sai de si, rompe a sua barreira interior, reconhece o mal causado e a vergonha correspondente. A vida humana é inconcebível sem o gesto: sinto muito, perdoa-me. O pedido de perdão pressupõe a oferta de perdão por parte do outro ou a possibilidade de perdoar. No perdão pedido e concedido recriamo-nos uns aos outros para a bondade. COMO FICA A RELAÇÃO É muito importante, após o processo do perdão, decidir se queremos continuar com a relação com a pessoa que nos ofendeu e aprofundá-la ou se julgamos preferível a ruptura. Não confundir perdão com reconciliação. Há situações, que mesmo perdoando, acabar com a relação é a única solução plausível e mais salutar. O perdão precisa de uma predisposição do coração e é importante que seja concedido para que o ofendido possa recuperar a paz e a liberdade interior, independentemente do ofensor pedir desculpa ou não, queira recebê-lo ou não, reconheça ou não a ofensa. O ofensor não tem a chave nem o poder sobre o perdão do ofendido. Se ocorre a reconciliação é necessário reestruturar a relação e ambos devem mudar. Na construção da nova relação devem sentir ambos implicados, tanto o ofensor como o ofendido. Todavia, há casos em que não é possível nem abandonar a relação e nem aprofundá-la então é preciso modificá-la e estabelecer novos vínculos. Por vezes, isso significa rever seu ideal de “pais”, “irmãos”, “amigos”, “casal”, para enfrentar com maior realismo a relação aceitando 14 o que tem para dar e aprendendo a proteger-se para que o agressor não volte a ter tanto poder que possa fazer-nos mal. O PERDÃO QUE JESUS DE NAZARÉ OFERECE EM NOME DE DEUS O perdão pode ser estudado de forma geral, partindo da obra e vida de Jesus segundo os evangelhos. A graça do perdão como principio pode ser entendida dentro de cinco aspectos: juízo, redenção, libertação, reconciliação e salvação. JUÍZO Jesus foi o mensageiro da graça de Deus e não do seu juízo. A sua forma de se relacionar com os “pecadores” e os excluídos da sociedade da época não era ameaçando-os nem julgando-os, mas oferecendo-lhes, com gestos e palavras, o perdão incondicional, a total solidariedade perante o reino de Deus, foi portador da graça do Pai. Certamente que Jesus falou do juízo, mas não para os pecadores (prostitutas, publicanos, leprosos, excluídos, enfermos) mas precisamente para aqueles que recusam o perdão. Isto significa que, para Jesus, Deus é perdão, de tal forma que apenas aqueles que não aceitam o perdão, nem aceitam, em amor, que são pecadores, destroem-se a si mesmos, enredados por um juízo que não vem de Deus, mas deles próprios. O perdão que Jesus oferece é expressão do seu compromisso vivo e profundo a favor dos marginalizados. Não se trata de algo que surge após o arrependimento e conversão do pecador, mas é ponto de partida: é dádiva de Deus. Também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar:dizia Jesus. Desaparecem os elementos de vingança próprios do apocalipse judaico e emerge o amor criador de Deus que se exprime no perdão. Por certo que para algumas pessoas Deus continua a existir como um juíz castigador, mas esse castigo não vem de Deus,mas delas próprias, que se recusam a exercer o perdão e, ficam assim,entregues a violência da vingança tão humana e tão freqüente em nosso mundo. REDENÇÃO Em Jesus o juiz transforma-se em redentor. Jesus apresentou-se como um mensageiro de um juízo de Deus que se realiza na forma de perdão e em absoluta gratuidade. Não veio pedir conta aos pecadores mas oferecer o jubileu supremo da liberdade e do perdão, entendidos como graça do amor de Deus. 15 Redimiu-nos num gesto de amor gratuito, para que possamos nos realizar como pessoas. Gratuitamente, sem cobrar por isso. LIBERTAÇÃO O perdão redentor expande-se e exprime-se em libertação, chamandonos a viver em liberdade. Liberta-nos para que possamos viver o presente, livres do passado e das amarras do sofrimento. RECONCILIAÇÃO O perdão reconcilia-nos não apenas com Deus, mas uns com os outros, somos todos iguais, todos fomos reconciliados e perdoados por Deus. Como diz Paulo de Tarso: Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo não lhe imputando os seus pecados e concedendo a nós próprios a tarefa da reconciliação. SALVAÇÃO Salvação entendida como harmonia total e transbordante: viver em amizade em Deus, abrir-se em gesto de fraternidade com todos os irmãos ALGUNS TEXTOS ONDE JESUS MOSTRA O SEU MODO DE PERDOAR. A cura do paralítico (Mc II, 1-12) O perdão a uma mulher acusada de adultério (Jo VIII, 1-11) Levi , o publicano (Mc II, 13-17) Zaqueu o publicano (Lc XIX, 1-10) O perdão das ofensas (Mt XVIII, 21-23) A pecadora que lava com perfume (Lc VII, 36-50) O filho pródigo ( Lc XV, 11-32) O PERDÃO DE DEUS Vejamos quando oramos a prece do Pai Nosso: “Pai perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”. Existem aquelas pessoas que entendem que o perdão de Deus está sujeito aos nossos indultos humanos. Esta oração deve ser entendida como Paulo (Col 3:13) ensina: “Como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós”. Trata-se de uma exortação ao exercício da misericórdia, estando conscientes de que, já fomos perdoados e por isso, podemos perdoar. Quando Paulo de Tarso afirma: "Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo (Efésios. 4:32), não está pedindo algo que Cristo já 16 não tenha feito e que não seja possível ao crente fazer na sua esfera de ação, pois "tudo é possível ao que crê" (Marcos, 9:23). O perdão de Deus consiste na providencial concessão dos meios de resgate para todos os males praticados. O amor incondicional de Deus por nós se expressa pela permanente mensagem do Cristo. VAI E NÃO PEQUES MAIS Nenhum de nós está livre de cometer erros, mas será importante aprender com eles para não reincidir na falta. Assim Jesus nos orientou. Perdoar é o segredo sublime do triunfo, na subida para Deus. (Chico Xavier) Sem dúvida a parábola que, por excelência, melhor apresenta o rosto misericordioso de Deus nos ensinando o perdão é a do Filho Pródigo. A ausência de mágoa e o esquecimento da ofensa é que estabelecem a diferença entre o perdão dos lábios e o perdão do coração. Não podemos nos esquecer de que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras. Nossa meta é aprender a não nos sentirmos ofendidos. Quando não mais nos ofendermos é porque atingimos o estágio de não mais precisar perdoar. Vera Cecília Antônio Borges Palestra proferida em 03 de abril de 2013, no 27º Simpósio Espírita, na Instituição Beneficente “A Luz Divina”. 17