27º Simpósio Espírita “A LUZ DIVINA”
Aprendendo a Perdoar
Boa Noite, queridos irmãos
Perdão e auto perdão, são lições a que somos
corriqueiramente, mas tão difícil de colocar-se em prática.
convidados
Há quem diga:
-Não consigo perdoar
Outros asseveram:
-Perdôo, mas não esqueço.
E ainda há os que dizem:
- Perdoar é para Deus
Pois bem, nesta noite, vamos discorrer um pouco sobre o perdão, para
que possamos compreender as suas nuances, refletir sobre os aspectos
que envolvem esse tema tão importante para nossa evolução espiritual.
Primeiramente, precisamos ter em conta que todo ato de agressividade
tem como origem uma criatura que ainda não aprendeu a amar.
E essa compreensão deve nos motivar ao sublime ato de perdoar as
ofensas recebidas.
Mas o que é o perdão?
Fomos ao dicionário buscar o significado da palavra perdão e
encontramos: remissão de pena, desculpa.
Procuramos então o significado da palavra remissão e então tivemos
ampliado nosso entendimento.
Remissão significa: indulgência, falta de rigor, interrupção, quitação.
Em todas as línguas a palavra perdoar é um composto de dar ou doar. De
maneira que “per-doar” quer dizer doar-se completamente, abrir mão de
si mesmo, dar ou doar o próprio Eu a outrem.
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O conceito de perdão, segundo o Espiritismo, é idêntico ao do Evangelho:
concessão indefinida de oportunidade para que o ofensor se arrependa,
o pecador se recomponha, o criminoso se libere do mal e se erga,
redimido para a ascensão luminosa.
Perdão é o envoltório da indulgência.
Será que vale a pena perdoar?
Por certo que sim.
Quem perdoa, segundo a concepção espírita-cristã, esquece a ofensa.
Não conserva ressentimentos.
Perdoar é uma das maneiras que temos de mostrar amor ao próximo.
Amar, apesar da ofensa sofrida, requer força espiritual superior às forças
humanas.
A primeira questão é a seguinte:
POR QUE DEVEMOS PERDOAR?
Porque os Evangelhos assim nos orientam, senão vejamos:
 Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão? Será sete vezes?
Respondeu Jesus: Não digo que até sete vezes, mas setenta
vezes sete vezes. (Mateus, 18:15-22)
•
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também
vosso Pai celeste vos perdoará. (Mateus, 6:14)
•
Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se
arrepender, perdoa-lhe. (Lucas, 17:3)
▪ Vós tendes ouvido que se disse: olho por olho dente por dente. Eu,
porém, vos digo que não resistais ao mal: mas se alguém te ferir a
face direita, oferece-lhe a esquerda, se te pedirem a túnica, dá
também a capa. (Mateus, 5:38)
•
Jesus é nosso modelo e ensinou dizendo:
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. (Lucas, 23:34)
Os evangelhos são instrumentos para que possamos aprender as lições
de Jesus e colocá-las em prática. Dentre essas lições existe a
recomendação para que reconciliemo-nos com os nossos adversários,
enquanto estamos a caminho com ele. E outra recomendação que não
podemos esquecer é aquela que diz: Antes de apresentar tua oração a
Deus, vai e reconcilia-se com seu inimigo.
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Como podemos observar o perdão é amplamente recomendado.
E QUAL A IMPORTÂNCIA DO PERDÃO EM NOSSAS VIDAS?
O perdão é imprescindível em nossas vidas para que tenhamos paz
interior.
O perdão permite a nós próprios, libertarmo-nos do ciclo interminável da
dor, da raiva e de recriminações que nos mantém prisioneiros ao
sofrimento.
Quando perdoamos e nos livramos da dor nos capacitamos intimamente
a sermos pessoas melhores.
O perdão liberta, cura as nossas feridas e nos permite crescer
espiritualmente.
O que perdoamos não é o ato, a violência, a negligência, mas sim as
pessoas que não foram capazes de fazer melhor. Perdoamos as suas
limitações, os seus erros, o seu descontrole, o seu abandono.
Quando perdoamos libertamo-nos do peso dessa amarra e deixamos o
outro ser como realmente é.
O perdão torna-nos livres para que cada um possa fazer o seu caminho e
seguir o seu destino.
O QUE É PRECISO PARA PERDOAR?
É necessário que nos reconciliemos com a nossa própria história, pois a
dor sempre esteve presente em nossas vidas, desde a infância. Quando
sofremos é inevitável que nos interroguemos: por quê? Por que eu? O
que é que eu fiz para merecer isso? E procuramos uma explicação lógica
para o sofrimento.
No processo de cura é importante sentir. No entanto, na maioria das
vezes preferimos explicar a dor, racionalizar, em vez de senti-la.
Não se trata de encontrar culpados mas tão somente conscientizar-se
para poder superar a dor.
Reconhecer que nos magoaram, encarar de frente essa dor. Isso alivia e
aos poucos nos pacifica.
Aprender a sentir a própria dor, sem medo, nos torna mais sensíveis à
dor dos outros.
Não se trata de se resignar diante de uma derrota, mas de aceitar a dor
profunda, considerando-a mestre de sua vida, por mais dolorosa e injusta
que tenha sido.
A dor abre a porta para o perdão.
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Não poderíamos deixar de ressaltar que a prece, é sempre método
eficaz, a restaurar os sentimentos de paz e serenidade.
Esse exercício nos leva a diversos aprendizados e ao autoconhecimento.
Às vezes, por mais que tenhamos conhecimento da necessidade de
enfrentar a dor para propiciar o nosso autoconhecimento, não
conseguimos, pois dispara em nós os mecanismos de defesa.
MECANISMOS DE DEFESA
A mente humana está muito bem preparada para se defender de um
sofrimento demasiado grande. Os mecanismos de defesa físico e
psíquico são de um enorme valor para a pessoa humana. Em muitos
casos é o que permite a muitas pessoas sobreviver e prosseguir em suas
atividades sem se desmoronarem.
Mas estes mecanismos são inúteis e prejudiciais se mantêm a pessoa
“protegida” mesmo depois de passado o perigo.
A. Resistências cognitivas e racionais:
O mecanismo de defesa mais freqüente é o da negação. Consiste em
negar a ofensa e minimizar o seu impacto.
Essas resistências revestem-se de diversas formas. Esquecer, arranjar
desculpas para retirar a responsabilidade do agressor, oferecer um
perdão fácil, rápido e superficial.
B. Resistências emotivas
A ofensa provoca um sentimento de humilhação e de vergonha. A
vergonha é a sensação de que o eu profundo ficou exposto. A vergonha é
a sensação de ser impotente, inadequado, incompetente, de não ser
ninguém e isso leva ao medo de ser rejeitado.
O principal desafio que se coloca nesta fase emocional é reconhecer o
profundo sentimento de vergonha que se segue à ofensa, para conseguir
aceitar, relativizar, digerir e integrar.
A vergonha não se deixa perceber com facilidade, esconde-se por detrás
de várias máscaras: a cólera, o desejo de poder, o farisaísmo moral, o
complexo de eterna vítima, o perfeccionismo.
As vezes a raiva não assumida volta-se contra nós mesmos sob a
aparência de culpa, depressão, ansiedade e castigo. As pessoas
preferem sentir-se culpadas do que com vergonha e impotentes.
O reconhecimento do verdadeiro sentimento é importante para que
possamos reconhecer em nós, com clareza, a limitação e a debilidade,
próprias do seres humanos.
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Por tudo isso é importante antes de poder perdoar é necessário arrumar o
mundo emocional.
FALSAS CONCEPÇÕES DO PERDÃO
O conceito que fazemos do perdão tem influência decisiva e, esse
conceito tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar.
Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é "ser apático" com os
erros alheios, ou mesmo, aceitar de forma passiva tudo o que os outros
nos fazem, é que vivemos achando que perdoamos quando aceitamos
agressões, abusos, manipulações e desrespeito aos nossos direitos e
limites pessoais, ficando, pois, impassíveis como se nada estivesse
acontecendo.
Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou
morais, não é fingir que tudo corre bem, quando percebemos o contrário
a nossa volta. Perdoar não é "ser conivente" com as condutas
inadequadas.
Como podemos perceber temos falsas concepções do perdão e isso nos
leva a seguintes atitudes equivocadas:
 Negação
Quando se sofre um duro golpe uma das reações mais freqüentes é
resistir ao sofrimento evitando a dor e as emoções. Esse mecanismo
defensivo converte-se em negação da ofensa e da dor. Para curar-se é
preciso reconhecer a ferida e sentir a sua dor para depois perdoar.
 Ausência de Emoções
Perdoar não é uma fórmula mágica capaz de resolver conflitos sem ter
em conta os sentimentos. Este equívoco pode ter origem na educação
que recebemos quando criança quando nos pediam que perdoássemos
como se perdoar fosse apenas de um ato de vontade e sem respeitar
nossas emoções. O processo é lento e depende da ferida provocada, das
reações do ofensor e dos recursos do ofendido. Para que o processo seja
autêntico devem ser mobilizadas todas as faculdades: sensibilidade,
coração, inteligência, vontade e fé.
 Obrigação
Perdoar não pode ser uma obrigação, ou é livre ou não é perdão.
O perdão é mais do que uma obrigação moral, precisa ser gratuito e
livre.
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 Volta ao passado
É um equívoco muito comum crer que perdoar é restaurar a relação tal
como estava. Por vezes isso pode acontecer mas, outras vezes não, e
isso não significa que não se tenha perdoado.
Pergunta-se: podemos recuperar os ovos depois da fazer o omelete? Na
verdade não se pode voltar ao passado, no entanto, o conflito pode servir
para se fazer uma avaliação da qualidade da relação que pode vir a ser
recriada sobre bases mais sólidas.
 Superioridade Moral
Alguns tipos de perdão humilham mais do que libertam. Perdôo para
impressionar. Um sinal de arrogância. O verdadeiro perdão do coração
tem lugar na humildade e abre caminho à reconciliação. O falso perdão
permite manter uma relação de dominado-dominador, é um gesto de
poder sobre o outro e não um gesto de força interior.
 Renunciar à justiça
Perdoar não é renunciar a justiça. O perdão é um ato de benevolência
gratuita e não significa renunciar aos direitos e à aplicação da justiça.
O perdão que não procura a justiça, longe de ser um sinal de força e
nobreza, traduz, sobretudo, debilidade e falsa tolerância incitando
indiretamente a perpetuação do delito.
 Responsabilidade de Deus
“O perdão a Deus pertence” é uma máxima que transfere para Deus a
responsabilidade do perdão como se o perdão fosse uma atitude com a
qual nós não tivéssemos nada a ver. O perdão é um ato totalmente
humano, para o qual Deus não nos substitui. Deus não faz esse trabalho
por nós.
Deus por sua magnanimidade perdoa sempre, mas isso não exime o
esforço que temos que fazer para limpar o nosso coração com o perdão.
RECUSA AO PERDÃO
Todos nós podemos ser feridos de uma maneira ou de outra, seja por
frustrações, decepções, desgostos de amor e traições.
Quando nos magoam e não conseguimos perdoar, ficamos dominados
pelos seguintes sentimentos:
a) Perpetuar em nós e nos outros o mal que nos fizeram
Quando nos magoam temos a tendência de reagirmos mal não só com o
agressor, mas para conosco mesmo e com os outros.
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b) Viver em ressentimento permanente
O ressentimento instala-se de forma permanente e nos deixa sempre em
alerta contra qualquer ataque real ou imaginário.
O ressentimento traduz sempre a existência de uma ferida mal curada e
muitas vezes leva a doenças psicossomáticas.
Pode provocar stress, chegando a afetar o sistema imunológico.
Ressentimento e rancor geram câncer.
c) Permanecer preso ao passado
A pessoa que não sabe perdoar dificilmente sabe viver o momento
presente. Agarra-se ao ontem, condenando o hoje e bloqueando o
amanhã. A sua vida está presa ao passado.
d) Vontade de vingança
Esta é uma das respostas mais instintivas e espontâneas na tentativa de
compensar o próprio sofrimento, querendo impor o mesmo sofrimento ao
agressor. A imagem do agressor humilhado e em sofrimento proporciona
ao vingador uma alegria íntima constituindo-se num bálsamo temporário
para a dor. Porém tal fato não o liberta do sofrimento e esse alívio
momentâneo transforma-se em prisão.
O instinto de vingança cega quem se deixa envolver por ele, e muitas
vezes agressor e ofendido entram num circulo de violência sem fim.
A famosa lei do “olho por olho, dente por dente” não resolve nada, antes
pelo contrário, aumenta a violência.
Decidir não se vingar é o primeiro passo para poder perdoar. Só o perdão
rompe a espiral de violência e o desejo de vingança podendo conduzir a
uma renovação das relações humanas.
DECIDINDO PERDOAR
PERDOAR É LIBERTAR-SE
EM QUE CONSISTE O ATO DE PERDOAR
O perdão é um processo que envolve a pessoa no seu todo, implica um
antes, um durante e um depois.
Requer um conjunto de condições: tempo, paciência consigo mesmo e
um desejo de eficácia e perseverança na decisão de chegar ao termo do
processo.
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O perdão começa com a vontade de não se vingar, fato que representa
uma vontade de se curar e crescer.
O perdão requer reavaliação. Perante a ofensa a pessoa se sente
impotente e humilhada. Mas será importante olhar para os fatos sobre
ângulos diferentes. Inclusive sob o ponto de vista do ofensor.
O perdão convida a encarar novas perspectivas das relações humanas.
Libertado dos seus dolorosos vínculos com o passado o ofendido que
perdoa pode permitir-se viver plenamente o presente e antever uma nova
relação com o seu ofensor no futuro.
O perdão valoriza a dignidade do ofensor.
Para poder perdoar é indispensável acreditar na dignidade de quem nos
feriu. Por trás do “monstro” descobrimos muitas vezes uma pessoa débil,
frágil, psiquicamente doente, ferida. Uma pessoa como nós capaz de
mudar e evoluir.
Se lembrarmos que Deus é nosso Pai de amor e misericórdia, veremos
no nosso ofensor o nosso irmão em Cristo.
A QUEM SE DIRIGE O PERDÃO
O perdão é indispensável nas relações sociais, pois se destina a todas as
pessoas, a si próprio, aos membros da família, aos mais chegados, aos
amigos, aos colegas, aos estranhos, às instituições, aos inimigos e
inclusivamente a Deus.
Não se mede as ofensas objetivamente, mas através da observação do
dano que nos causou, por isso é importante ter em conta quem nos
ofendeu.
Se a ofensa foi causada por pessoas amadas a dor torna-se mais
profunda devido às expectativas que temos sobre estas pessoas e devido
ao vínculo afetivo.
O perdão aos familiares é o mais importante já que as relações muito
próximas podem, frequentemente, gerar conflitos.
As ofensas causadas por estranhos, mede-se mais objetivamente, pelo
prejuízo que nos causou.
É preciso lembrar que as feridas do passado podem ser despertadas,
pelas feridas do presente, aumentando o pânico e a dor.
O perdão fundamental para todos nós é aquele que concedemos a nós
próprios.
Perdoar o outro sem que antes tenhamos perdoado a nós próprios,
compassivamente e com esperança e aceite da nossa pobreza e
debilidade é um perdão superficial. Por vezes, precisamos nos perdoar
por termos estado numa situação em que permitimos que os outros nos
ferissem. Outras vezes por que não sabermos o que fazer ou o que dizer.
Ou porque nos envolvemos em situações que não nos dizem respeito. Ou
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ainda por termos permitido que nos humilhassem com palavras
insultuosas, ou até porque nos expusemos em demasia. Não importa o
motivo, temos que nos perdoar.
O QUE DEVEMOS PERDOAR
É importante não banalizar o processo do perdão. Há que se distinguir
entre as circunstâncias que requerem o perdão daquelas que nada tem a
ver com essa prática espiritual.
Só podemos perdoar as ofensas injustificadas.
Quando nos sentirmos ofendidos precisamos fazer uma análise de
consciência, pois se identificarmos que o ofensor possui um mínimo de
razão, devemos ter a humildade de nos modificarmos.
AS ETAPAS DO PERDÃO
Pedagogicamente, o processo de perdoar se divide em 10 etapas, de tal
forma que o perdão está ao alcance do maior número de pessoas
possíveis.
São elas:
1. Decidir não se vingar e fazer com que cessem os gestos
ofensivos
A vingança foca nossa energia no passado. Para satisfazer nosso afã de
vingança imitamos o nosso ofensor e nos deixamos arrastar na sua
dança infernal e isso além de nos corroer faz com que percamos o nosso
valor.
O dinamismo do perdão somente se desencadeia quando a pessoa
ofendida toma duas decisões: renunciar a vingança e aos gestos
ofensivos.
Por outro lado é importante fazer com que o agressor pare com
comportamentos ofensivos. Fazer todo o possível é proteger-se,
defender-se, respeitar-se e lutar pelos próprios direitos. Em alguns casos
isso pode significar recorrer à justiça e isso deve ser feito.
2. Reconhecer as feridas e as debilidades.
Não é possível perdoar sem reconhecer o sofrimento que a ofensa nos
causou. Há que aprender a aceitar, a curar e transformar em benefício
próprio o sofrimento causado pela ofensa. Isso nos auxiliará no
autoconhecimento.
3. Partilhar a mágoa com alguém
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Perante uma agressão o mais saudável é procurar alguém para partilhar
o sofrimento. Alguém que saiba escutar sem julgar, sem moralizar, sem
aborrecer com conselhos, que não tente sequer aliviar a dor. Verbalizar a
dor ajuda a reviver com mais calma o acontecimento doloroso e ajuda a
libertar as emoções. Possibilita também perceber o acontecimento de
forma menos ameaçadora e mais suportável. Esse acolhimento permitirá
sermos mais compreensivos conosco mesmo.
Partilhar a ofensa com o ofensor.
Por mais estranho que pareça, pode ser uma ajuda nas seguintes
condições: se o ofensor reconhecer a sua falta, expressar o seu pesar e
decidir não voltar a repeti-la.
Se estas condições estão presentes, então precisamos estar bem
preparados:
• Falar de nós. Dizer o que significou para nós essa experiência
com muita sinceridade, mas sem fazer juízos de intenções
nem agredir.
• Escutar a versão do outro
• Procurar encontrar a razão de fundo da ofensa
Se não se puder partilhar a ofensa diretamente com o ofensor, ajuda
escrever-lhe uma carta que não será enviada mas que pode levar a
própria pessoa a soltar as suas emoções e permitir que ,no futuro, se
perdoe.Também pode-se utilizar a técnica da cadeira vazia.
4. Identificar a perda para poder sublimar
É importante identificar os danos provocados pela ofensa e o que isso
significa para nós, pois nos ajudará a sublimar estas perdas.
• Devemos perguntar que parte de nós foi afetada, o que perdemos,
que valores foram atacados ou ameaçados, que expectativas ou
sonho perdemos.
• Nomear com clareza os aspectos que podem ter sido prejudicados:
a autoestima, a reputação, a confiança em si próprios, a confiança
nos outros, o apego aos familiares, os ideais e o sonho de
felicidade, os bens materiais, a saúde, a imagem, as expectativas, a
admiração pelos que amamos e a honestidade.
• Depois de termos posto a descoberto identificado as nossas
perdas, é preciso tomar consciência de que não fomos afetados em
todo o nosso ser, mas apenas numa parte de nós. A essência do
nosso ser continua sã e integra.
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Nesta etapa é importante distinguir a ferida em si mesma da interpretação
que fazemos dela.
É comum também nos culparmos ou nos fazermos de vítima, por isso é
importante distinguir o que é responsabilidade do ofensor e o que é
responsabilidade nossa.
Quando reconhecemos a nossa parte de responsabilidade, devemos
também nos conceder o direito de nos equivocarmos e de errarmos pois,
raramente, um erro é irreparável. Por fim precisamos nos dar conta de
que sempre se pode aprender com os erros e enriquecer nossa vida
com eles.
5. Perdoar a si mesmo
É muito difícil perdoar os outros e receber o perdão se não nos
perdoamos a nós próprios.
É muito freqüente que perante a uma grande decepção a pessoa coloque
a culpa em si, por ter sido ofendida.
Nestes casos há uma espécie de desprezo por si próprio, o qual pode ter
origem:
A. Perfeccionismo – dificuldade de assumir deficiências e limitações.
A humildade ajuda a dar conta das limitações.
B. Complexo de inferioridade – Mensagens negativas recebidas dos
pais e das pessoas significativas na infância.
C. Repressão - Todo o material reprimido ao longo da vida constitui-se
em sombra, que quando emerge provoca medo e gera a autoacusação.
D. Baixa estima – O preço que se paga pela falta de auto-aceitação e
de autoestima é muito elevado.
Se necessário buscar ajuda de um psicoterapeuta.
Devemos exercitar o amor a nós.
Trabalhando para o auto perdão, reparar o mal, exercitando o bem.
Paulo de Tarso foi o maior exemplo de auto perdão. Trabalhou para
redimir-se.
6. Compreender o ofensor
Compreender não é justificar, não é esquecer, nem mesmo desculpar.
Compreender é olhar com lucidez e poder perceber algum motivo para a
falha, para a atitude que nos feriu. Como quem quer perceber os
“porquês” do outro.
Poder perceber alguns dos seus “porquês” ajuda a poder perdoar. De
qualquer forma é preciso saber que não vamos compreender o outro
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totalmente, assim como não conseguimos compreender a nós mesmos,
completamente.
• Compreender implica em deixar de julgar ainda que se condene os
atos.
• Compreender é conhecer melhor os antecedentes do outro.
Uma melhor compreensão dos antecedentes sociais, familiares e
culturais de uma pessoa ajuda a perdoá-la.
Esses condicionamentos não justificam o comportamento do ofensor,
mas ajudam a explicá-lo.
Uma vez conhecida a herança familiar, a história e as marcas da pessoa
é mais fácil colocar-se no seu lugar e compreender os desvios de conduta
e, deste modo, poder perdoá-la com mais facilidade.
• Compreender é perceber a intenção da pessoa
Tudo o que fazemos, em geral, tem um objetivo, a busca de algum bem
ainda que este seja falso e que o modo de conseguir seja errado.
As pessoas sãs, na maioria das vezes, não procuram diretamente
magoar alguém, mas pretendem realizar algo que julgam ser positivo
tanto para elas próprias como para aqueles a quem acabaram de
magoar.
Às vezes magoam-nos profundamente sem intenção, julgando que agem
para o nosso bem, outras vezes magoam-nos inconscientemente,outras
ainda, magoam-nos por não saberem dominar os seus ciúmes, a sua
inveja a sua agressividade, apenas por que são vítimas de sua própria
vulnerabilidade e limitação humana e moral. Magoaram-nos
simplesmente porque não souberam ou não puderam fazer melhor.
7. Encontrar um sentido para a ofensa
O objetivo desta etapa é descobrir que tudo na vida e, também a ofensa
sofrida, pode servir-nos para alguma coisa, para aprendermos. Pode ser
um caminho de crescimento.
Tudo serve de aprendizado e de tudo podemos tirar algo de positivo.
Também da ofensa podemos tirar proveito.
Algumas perguntas que podem ajudar-nos a reconhecer os “frutos” da
ofensa são:
O que aprendi com essa experiência?
Em que cresci e como cresci com esta ferida?
Alguma coisa mudou, tomou novo rumo, depois da ofensa sofrida?
Vejamos alguns exemplos de aprendizados que se pode fazer:
• Conhecer-se muito melhor.
• Ter mais liberdade interior
• Descobrir os próprios valores
• Gostar mais de si mesmo, sem depender do amor do outro
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• Aprender a dizer não, quando algo está em desacordo com os seus
valores.
• Aprender a pedir ajuda
• Ser mais compreensivo com os outros
• Reencontrar-se com Deus
O importante é apelar para a capacidade que o homem tem de
transformar uma tragédia pessoal em vitória. O sofrimento converte-se
assim num lugar de crescimento e realização.
8. Aceitação do perdão
Perdoar é um ato humano e um dom espiritual.
Saber perdoar supõe o reconhecimento de que também nós já fomos
perdoados pelos outros e por Deus.
Não é fácil aceitar o perdão, saber-se perdoado. Há pessoas que são
incapazes de viver esta experiência, por diversas razões:
• Há pessoas que se julgam imperdoáveis
• Outras não acreditam na gratuidade do amor
• Outro grupo recusa o perdão por não se sentirem culpadas
O desafio está em receber o perdão sem se sentir humilhado ou
rebaixado, mas, simplesmente porque somos humanos. Enganamo-nos
e por isso precisamos ser perdoados e perdoar.
O importante não é a aceitação do ofensor, mas sim do ato de perdoar do
ofendido.
9. Não teimar em perdoar
A obstinação impede-nos que se alcance o perdão.
Em geral quando teimamos obsessivamente nalguma coisa é quando
menos a conseguimos alcançar, a própria tensão obstinada tolhe-nos o
desabrochar desse desejo.
Também é importante, para ir acolhendo o dom de saber perdoar, evitar o
risco de reduzir o perdão em uma obrigação moral porque o perdão é um
ato de liberdade e de gratuidade, é um ato voluntário, mas é sobretudo
um dom.
10. Abrir-se a graça do perdão
Não somos os únicos detentores do perdão, ele é uma graça, um dom de
Deus.
Jesus nos fez o convite: “Sede compassivos como o Pai do Céu é
compassivo”.
Jesus no ensinou que “Deus é Pai de justiça e amor”.
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Para descobrir a face misericordiosa de Deus é preciso observar o
comportamento de Jesus com “pecadores”.
Jesus não teve uma atitude altiva, moralizadora, de escárnio, mas
mostrou-se simples humilde e compreensivo, tomando quase sempre a
iniciativa de perdoar sem esperar que lhe fosse pedido o perdão.
Valorizou as pessoas a quem perdoou.
 Por estarmos em processo de evolução, Deus nos concede o direito
de errar.
 Somos perdoados por nossos erros, recebendo novas
oportunidades.
SABER PEDIR PERDÃO SEM HUMILHAR-SE
Aquele que reconhece o mau que fez e assume sua responsabilidade
abre-se ao perdão. O que pede perdão sai de si, rompe a sua barreira
interior, reconhece o mal causado e a vergonha correspondente.
A vida humana é inconcebível sem o gesto: sinto muito, perdoa-me. O
pedido de perdão pressupõe a oferta de perdão por parte do outro ou a
possibilidade de perdoar. No perdão pedido e concedido recriamo-nos
uns aos outros para a bondade.
COMO FICA A RELAÇÃO
É muito importante, após o processo do perdão, decidir se queremos
continuar com a relação com a pessoa que nos ofendeu e aprofundá-la
ou se julgamos preferível a ruptura.
Não confundir perdão com reconciliação.
Há situações, que mesmo perdoando, acabar com a relação é a única
solução plausível e mais salutar.
O perdão precisa de uma predisposição do coração e é importante que
seja concedido para que o ofendido possa recuperar a paz e a liberdade
interior, independentemente do ofensor pedir desculpa ou não, queira
recebê-lo ou não, reconheça ou não a ofensa. O ofensor não tem a chave
nem o poder sobre o perdão do ofendido.
Se ocorre a reconciliação é necessário reestruturar a relação e ambos
devem mudar. Na construção da nova relação devem sentir ambos
implicados, tanto o ofensor como o ofendido.
Todavia, há casos em que não é possível nem abandonar a relação e
nem aprofundá-la então é preciso modificá-la e estabelecer novos
vínculos. Por vezes, isso significa rever seu ideal de “pais”, “irmãos”,
“amigos”, “casal”, para enfrentar com maior realismo a relação aceitando
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o que tem para dar e aprendendo a proteger-se para que o agressor não
volte a ter tanto poder que possa fazer-nos mal.
O PERDÃO QUE JESUS DE NAZARÉ OFERECE EM NOME DE DEUS
O perdão pode ser estudado de forma geral, partindo da obra e vida de
Jesus segundo os evangelhos. A graça do perdão como principio pode
ser entendida dentro de cinco aspectos: juízo, redenção, libertação,
reconciliação e salvação.
JUÍZO
Jesus foi o mensageiro da graça de Deus e não do seu juízo. A sua forma
de se relacionar com os “pecadores” e os excluídos da sociedade da
época não era ameaçando-os nem julgando-os, mas oferecendo-lhes,
com gestos e palavras, o perdão incondicional, a total solidariedade
perante o reino de Deus, foi portador da graça do Pai.
Certamente que Jesus falou do juízo, mas não para os pecadores
(prostitutas,
publicanos, leprosos, excluídos, enfermos)
mas
precisamente para aqueles que recusam o perdão. Isto significa que, para
Jesus, Deus é perdão, de tal forma que apenas aqueles que não aceitam
o perdão, nem aceitam, em amor, que são pecadores, destroem-se a si
mesmos, enredados por um juízo que não vem de Deus, mas deles
próprios.
O perdão que Jesus oferece é expressão do seu compromisso vivo e
profundo a favor dos marginalizados. Não se trata de algo que surge após
o arrependimento e conversão do pecador, mas é ponto de partida: é
dádiva de Deus.
Também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar:dizia Jesus.
Desaparecem os elementos de vingança próprios do apocalipse judaico e
emerge o amor criador de Deus que se exprime no perdão.
Por certo que para algumas pessoas Deus continua a existir como um
juíz castigador, mas esse castigo não vem de Deus,mas delas próprias,
que se recusam a exercer o perdão e, ficam assim,entregues a violência
da vingança tão humana e tão freqüente em nosso mundo.
 REDENÇÃO
Em Jesus o juiz transforma-se em redentor. Jesus apresentou-se como
um mensageiro de um juízo de Deus que se realiza na forma de perdão e
em absoluta gratuidade.
Não veio pedir conta aos pecadores mas oferecer o jubileu supremo da
liberdade e do perdão, entendidos como graça do amor de Deus.
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Redimiu-nos num gesto de amor gratuito, para que possamos nos
realizar como pessoas. Gratuitamente, sem cobrar por isso.
 LIBERTAÇÃO
O perdão redentor expande-se e exprime-se em libertação, chamandonos a viver em liberdade. Liberta-nos para que possamos viver o
presente, livres do passado e das amarras do sofrimento.
 RECONCILIAÇÃO
O perdão reconcilia-nos não apenas com Deus, mas uns com os outros,
somos todos iguais, todos fomos reconciliados e perdoados por Deus.
Como diz Paulo de Tarso: Deus está em Cristo reconciliando o mundo
consigo mesmo não lhe imputando os seus pecados e concedendo a nós
próprios a tarefa da reconciliação.
 SALVAÇÃO
Salvação entendida como harmonia total e transbordante: viver em
amizade em Deus, abrir-se em gesto de fraternidade com todos os irmãos
ALGUNS TEXTOS ONDE JESUS MOSTRA O SEU MODO DE
PERDOAR.
A cura do paralítico (Mc II, 1-12)
O perdão a uma mulher acusada de adultério (Jo VIII, 1-11)
Levi , o publicano (Mc II, 13-17)
Zaqueu o publicano (Lc XIX, 1-10)
O perdão das ofensas (Mt XVIII, 21-23)
A pecadora que lava com perfume (Lc VII, 36-50)
O filho pródigo ( Lc XV, 11-32)
O PERDÃO DE DEUS
Vejamos quando oramos a prece do Pai Nosso: “Pai perdoai as nossas
dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”.
Existem aquelas pessoas que entendem que o perdão de Deus está
sujeito aos nossos indultos humanos.
Esta oração deve ser entendida como Paulo (Col 3:13) ensina:
“Como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós”. Trata-se de uma
exortação ao exercício da misericórdia, estando conscientes de que, já
fomos perdoados e por isso, podemos perdoar.
Quando Paulo de Tarso afirma: "Sejam bondosos e compassivos uns
para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os
perdoou em Cristo (Efésios. 4:32), não está pedindo algo que Cristo já
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não tenha feito e que não seja possível ao crente fazer na sua esfera de
ação, pois "tudo é possível ao que crê" (Marcos, 9:23).
O perdão de Deus consiste na providencial concessão dos meios de
resgate para todos os males praticados.
O amor incondicional de Deus por nós se expressa pela permanente
mensagem do Cristo.
VAI E NÃO PEQUES MAIS
Nenhum de nós está livre de cometer erros, mas será importante
aprender com eles para não reincidir na falta. Assim Jesus nos orientou.
Perdoar é o segredo sublime do triunfo, na subida para Deus.
(Chico Xavier)
 Sem dúvida a parábola que, por excelência, melhor apresenta o
rosto misericordioso de Deus nos ensinando o perdão é a do Filho
Pródigo.
A ausência de mágoa e o esquecimento da ofensa é que estabelecem a
diferença entre o perdão dos lábios e o perdão do coração. Não podemos
nos esquecer de que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito
mais que pelas palavras.
Nossa meta é aprender a não nos sentirmos ofendidos. Quando não mais
nos ofendermos é porque atingimos o estágio de não mais precisar
perdoar.
Vera Cecília Antônio Borges
Palestra proferida em 03 de abril de 2013, no 27º Simpósio Espírita, na
Instituição Beneficente “A Luz Divina”.
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