Avaliação de material suporte ... AVALIAÇÃO DE MATERIAL SUPORTE PARA BIOMASSA EM REATORES DE LEITO FLUIDIZADO: ADERÊNCIA E HIDRODINÂMICA FLAVIO BENTES FREIRE1 EDUARDO CLETO PIRES2 1.Doutorando, bolsista (Fapesp) do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. End.: Rua das Margaridas, 241 – CEP: 13566-543 – São Carlos – SP – Brasil. Fone: (0-xx16)270-8157 – Fax: (0-xx-16)273-8269 – Email: [email protected] 2. Professor Titular do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. End.: Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – CEP: 13566-590 – São Carlos – SP – Brasil. Fone: (0-xx-16) 273-9539 – Fax: (0-xx-16)273-8269 – Email: [email protected] RESUMO: Freire, F. B. & Pires, E. C. Avaliação de material suporte para biomassa em reatores de leito fluidizado: aderência e hidrodinâmica. Revista Universidade Rural: Série Ciências Exatas e da Terra, Seropédica, RJ: EDUR, v.23, n.1-2, p. 34-43 jan.- dez., 2004. A escolha adequada do material suporte é muito importante nos processos biológicos com biomassa imobilizada para o tratamento de águas residuárias, pois esses materiais podem influenciar diretamente na eficiência do sistema. Neste trabalho, três materiais suporte (alumina, basalto e carvão ativado) foram analisados nos seguintes aspectos: a hidrodinâmica, quando colocados em um reator de leito fluidizado; a capacidade de imobilização de microrganismos; as características físicas. Baseado nos resultados experimentais, o carvão ativado, dos três materiais avaliados, foi considerado mais apropriado para ser utilizado em processos de tratamento envolvendo reatores biológicos com biomassa imobilizada. Palavras-chave: material suporte, adesão e hidrodinâmica ABSTRACT: Freire, F. B. & Pires, E. C. Experimental evaluation of biomass support material in fluidized bed reactors: adhesion and hydrodynamics. Revista Universidade Rural: Série Ciências Exatas e da Terra, Seropédica, RJ: EDUR, v.23, n.1-2, p. 34-43 jan.- dez., 2004. The right choice of support materials is very important in biological wastewater treatment with immobilized biomass processes. These materials may directly influence efficiency-related phenomenons. For this reason, the characterization of particles is a critical step. Fixed film reactors were used due to their high-grade stability and performance. In the present study, three support materials (alumina, basalt and activated coal) were analyzed for hydrodynamics, microorganism adhesion and physical characteristics. These characteristics were also investigated through the evaluation of particle and apparent density, total area of the pores, average pore diameter and voidage. Based on the results of the experiments, activated coal was found to be the most appropriate support material for treatment processes involving biological wastewater systems. Key words: support material, adhesion and hydrodynamic INTRODUÇÃO Uma linha clássica de pesquisa em processos biológicos de tratamento de águas residuárias é o estudo da imobilização celular, quer sob a forma de grânulos ou flocos, ou na forma de biofilme aderido a algum suporte inerte. A escolha de um material suporte adequado é de grande importância, pois os suportes inertes para imobilização de biomassa podem tornar os sistemas mais estáveis1, e reatores com células imobilizadas são menos sensíveis à presença de materiais tóxicos e inibidores que os processos utilizando biomassa suspensa2. Além disso, diferentes suportes podem proporcionar características totalmente distintas à adesão de biomassa 3 e ao comportamento hidrodinâmico dos reato- Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Freire, F. B., et al. res, fatores essenciais para que o sistema tenha um bom desempenho. A hidrodinâmica, inclusive, é um tópico importantíssimo que muitas vezes é deixado em segundo plano em pesquisas com reatores biológicos. A grande vantagem desse estudo é a de se adquirir conhecimentos prévios, minimizando assim a possibilidade de um funcionamento inadequado do reator, pelo menos no que diz respeito à dinâmica do sistema4. Na análise hidrodinâmica são obtidas informações importantes do comportamento operacional dos reatores, e sempre que possível ela deveria preceder a fase biológica das pesquisas, quase como um pré-requisito. Esse estudo combinado é fundamental para o bom desempenho do processo, pois não fornece apenas as informações qualitativas, que podem ser até intuitivas, mas também uma análise quantitativa do comportamento. Como já foi dito anteriormente, reatores com filme fixo, além de um ótimo desempenho, apresentam elevado grau de estabilidade, e no que se refere à adesão de biomassa ao suporte, a eficiência máxima a ser obtida está intimamente ligada (dependente) ao tipo de material utilizado, onde geralmente se destaca, nesse tipo de aplicação, o carvão ativado, além de vidro, cerâmica, espuma de poliuretano, PVC, argilas, areia, alumina, dentre outros. Um dos principais motivos para essa alta estabilidade está no fato desse sistema propiciar maiores razões entre o tempo de retenção celular e o tempo de residência hidráulico (θc /θh), ocasionado por uma capacidade maior de retenção de biomassa, reduzindo assim a tendência de arraste desses microrganismos para fora do sistema5. Resumidamente, a formação do biofilme envolve uma série de processos físicos, químicos e biológicos, incluindo, dentre outros, a adsorção de moléculas orgânicas sobre uma superfície, o movimento de células para a superfície, a adesão de microrganismos à superfície, e posteriormente para a primeira camada de células, o acúmulo de biofilme resultante de um crescimento de microrganismos, e o desprendimento do biofilme6. Sabe-se que esse processo é extremamente complexo, e que muitas vezes, dentro de cada etapa, ainda hoje persistem aspectos obscuros que precisam ser elucidados7. Por ser de extrema importância nas pesquisas de tratamento de águas residuárias, e baseado em todos os argumentos citados anteriormente, conclui-se que a escolha do material suporte deve ser criteriosa. Nesse trabalho, foi realizado um estudo detalhado de 3 materiais suportes: alumina, basalto e carvão ativado, com a finalidade principal de se verificar a viabilidade de utilização desses 3 materiais em processos biológicos. A escolha do carvão ativado se deve principalmente por sua já consolidada e comprovada utilização em pesquisas envolvendo tratamento biológico de águas residuárias.8,9,10,11 Dessa maneira, o carvão ativado granular se torna uma espécie de “padrão para comparações”. O basalto foi escolhido por representar um material de alta densidade e baixa porosidade interna à partícula. A alumina foi utilizada pela sua durabilidade, pela geometria bem definida, e por apresentar propriedades entre o carvão ativado e o basalto. Esses critérios de escolha foram definidos após recomendações encontradas na literatura.12,13,14,15 Inicialmente esses materiais foram avaliados no que diz respeito às suas principais características físicas, e depois, um a um, foram colocados como “recheio” em um reator de leito fluidizado para avaliação do comportamento hidrodinâmico do mesmo, e finalmente um ensaio foi elaborado para que seus potenciais de aderência de biomassa fossem avaliados. MATERIAIS E MÉTODOS Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Avaliação de material suporte ... Características Físicas Diferentes suportes podem proporcionar características totalmente distintas ao comportamento hidrodinâmico dos reatores e à adesão de biomassa, fatores que influem diretamente no bom desempenho do sistema. Dessa maneira, a caracterização das partículas é uma etapa importantíssima, pois o conhecimento detalhado dos materiais suportes fornece informações que serão essenciais na análise de resultados posteriores. Como foram utilizados três materiais com estruturas distintas nas etapas iniciais, uma caracterização dos principais parâmetros físicos dessas partículas foi efetuada através de análises de porosimetria de mercúrio. A caracterização física dos materiais foi realizada por uma empresa prestadora de serviços de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento científico e tecnológico na área de materiais, o Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais da UFSCar (CCDM). A Tabela 1 mostra um quadro-resumo das partículas utilizadas, bem como as propriedades obtidas para cada uma. Tabela 1. Partículas e suas características físicas Fonte: CCDM (UFSCar ) As características físicas serão utilizadas na discussão dos resultados obtidos. Hidrodinâmica Nos reatores de leito fluidizado, particularmente na área de concentração de tratamento biológico, o estudo da hidrodinâmica tem geralmente como ponto de partida a adoção de um sistema trifásico13. Em alguns casos, porém, dependendo da circunstância, o sistema pode ainda ser considerado bifásico, desprezando-se a fase gasosa, e considerando apenas as fases líquida e sólida.16 Nesse trabalho, importantes parâmetros que descrevem o comportamento hidrodinâmico do reator foram obtidos. Para cada material suporte do leito foram determinados a curva característica, a velocidade de mínima fluidização, a expansão e a porosidade do leito. Um reator anaeróbio de leito fluidizado, onde os estudos foram realizados, foi então projetado, construído e desenvolvido (Figura 1). O reator em questão, com aproximadamente 1800 mm de altura e 100 mm de diâmetro, era constituído de 3 partes principais (entrada, corpo principal e seção de separação) conectadas por flanges e parafusos. A primeira parte, caracterizada pela entrada e distribuição do afluente, foi feita em aço inoxidável, e tem uma placa perfurada responsável pela distribuição homogênea do fluido no reator. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Freire, F. B., et al. claramente distintas, cuja intersecção fornece a velocidade mínima de fluidização. Posteriormente aos ensaios para obtenção das curvas características, foram feitos os ensaios de expansão do leito, que consistiam em medir a expansão do leito correspondente a valores crescentes de vazão. Dessa maneira, para cada altura do leito, o volume total do leito será definido como: (1) Figura 1 – Reator de leito fluidizado A segunda parte, o reator propriamente dito, é onde se localizará a biomassa fluidizada, composta por um tubo de vidro de 3 mm de espessura, 1200 mm de altura e 100 mm de diâmetro. Essa parte é dotada de amostradores espaçados de 350 mm ao longo da altura. A terceira parte do reator caracteriza-se pela saída do efluente, do gás produzido, e pela saída da parcela do efluente a ser recirculada. Como a parte 1, a parte 3 também foi construída em aço inoxidável. Para os ensaios hidrodinâmicos do reator, o sistema foi considerado bifásico (líquido / sólido), e inicialmente foram obtidas as curvas características para cada suporte, ou seja, a queda de pressão (ΔPFLUID) em função da vazão, em triplicata. Para a medida da diferença de pressão, entre a entrada e a saída do reator, um manômetro de tetracloreto foi instalado. As vazões foram obtidas diretamente pelo método gravimétrico, ou seja, a razão entre a massa de efluente e o tempo necessário para se obter essa massa. Optou-se por utilizar a massa, ao invés do volume obtido, para se obter maior precisão na medida. A curva característica, para cada material apresenta então duas regiões lineares Onde: i: número inteiro (i = 0,1,2,3,..., n) que representa o número de pontos experimentais obtidos; VS: Volume de sólidos; : Volume de líquido correspondente à altura do leito Hi. Após os ensaios de expansão, a determinação da porosidade do leito obedeceu a seguinte equação: (2) Posteriormente, para cada ensaio e cada material de partícula suporte, foram feitos os gráficos da porosidade em função da velocidade superficial. A etapa seguinte foi a de obtenção dos parâmetros U∞ e n da equação de Richardson e Zaki, que descreve o efeito da presença da fase particulada na fluidodinâmica de suspensões. Seguindo a metodologia dos próprios autores17: Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. (3) Avaliação de material suporte ... Onde: U: velocidade relativa fluido-partícula; U∞: velocidade terminal da partícula isolada; ε: porosidade do leito; n: constante empírica determinada a partir evolução da adesão de biomassa nos suportes colocados dentro dos reatores. O ensaio de aderência foi realizado da seguinte maneira: os quatro reatores foram preenchidos com massas iguais (ou extremamente próximas) do mesmo material suporte, ou seja, alumina, basalto ou carvão ativado. Aderência de biomassa O sistema experimental desenvolvido para o ensaio de aderência, (Figura 2) é uma adaptação de uma série de pesquisas realizadas no Laboratório de Processos Biológicos do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos.18,19,20,21 Figura 3. Detalhes do reator “elemento de volume” Figura 2. Aparato experimental do ensaio de aderência. (1) Reator “elemento de volume” (2) Reservatório para substrato (3) Banho de Gelo, (4) Agitador Magnético, (5) Amostrador, (6) Trocador de Calor, (7) Bomba peristáltica. A Figura 3 mostra em detalhes o reator “elemento de volume” utilizado nos ensaios de aderência. O sistema era constituído basicamente de quatro desses reatores operando em paralelo, alimentados em circuito fechado por uma solução à base de substrato sintético e lodo de reator anaeróbio (UASB) proveniente do tratamento da água residuária de um abatedouro de aves, sendo que a idéia principal era acompanhar a A solução, contendo substrato sintético e lodo macerado numa proporção tal que resultasse numa concentração de sólidos totais voláteis (STV) de aproximadamente 100 mg/L, era colocada no reservatório de substrato, e mantida agitada ininterruptamente. O substrato sintético, preparado de acordo com Del Nery22, era composto basicamente de glicose como fonte principal de carbono, além de sais minerais e nutrientes. Essa solução era então bombeada para os quatro reatores, de maneira que todos fossem submetidos à mesma velocidade de escoamento, aproximadamente 0,03 cm/s. Os reatores foram mantidos em uma câmara com temperatura controlada em 30oC, enquanto que a solução, com auxílio do banho de gelo, foi mantida numa temperatura de aproximadamente 4oC, criando assim condições ótimas e um ambiente propício para garantir que reações e processos de formação de biofilme fossem preferencialmente obtidos dentro dos reatores, e minimizados fora deles. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Freire, F. B., et al. Diariamente uma nova solução (substrato mais microrganismos) era preparada, e colocada no sistema. O monitoramento do sistema foi feito através de análises de pH e DQO, e a evolução da adesão de biomassa foi acompanhada indiretamente através de ensaio de sólidos totais voláteis (STV), retirando-se, a cada 7 dias, um reator de cada conjunto, totalizando 28 dias de ensaio para cada material suporte. Para a retirada da biomassa aderida aos materiais suportes foi obedecida a metodologia usual do Laboratório de Processos Biológicos da EESC – USP. Cada reator retirado foi aberto, deixando-se escorrer a fase líquida, já que o objetivo era quantificar apenas a biomassa imobilizada. Os materiais suportes foram colocados em frascos de antibiótico de 50 ml, contendo água destilada e esferas de vidro até a metade do volume. Esses frascos, fechados com tampa de borracha, foram agitados manualmente por cerca de 5 minutos, para o desprendimento da biomassa. Em seguida, a parte líquida contendo a biomassa desprendida foi colocada em cápsulas de porcelana, e finalmente foi realizado o ensaio de sólidos totais voláteis. Todas as análises obedeceram as técnicas descritas no “Standard Methods for Examination of Water and Wastewater”.23 Foi possível, assim, verificar a massa de microrganismos presente em cada reator. Com a finalidade de facilitar a comparação entre os diferentes materiais, os resultados serão apresentados em massa de microrganismos (mgSTV) por massa de suporte (gSUP). RESULTADOS Quanto à hidrodinâmica, todos os ensaios foram feitos em triplicata. Já que uma boa reprodutibilidade foi obtida, e para facilitar a comparação, a Figura 4 mostra a curva característica conjunta, ou seja, os resultados obtidos para os 3 ensaios de cada material suporte. É possível observar facilmente o comportamento diferenciado do leito para cada material. Figura 4. Curva característica para todos os materiais suportes e velocidades de mínima fluidização. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Avaliação de material suporte ... O gráfico de ΔPFLUID em função da velocidade superficial mostra claramente, para cada material suporte, as duas regiões lineares que descrevem o comportamento de leitos bifásicos, sendo que na intersecção dessas regiões é fornecido o valor da velocidade mínima de fluidização (Umin). Os valores encontrados para as velocidades de mínima fluidização do leito com carvão ativado, alumina e basalto foram, respectivamente, 1,65; 3,2; e 4,2 cm/s. Os ensaios com alumina apresentaram a maior reprodutibilidade, explicado pela geometria esférica e bem definida da partícula. Para o carvão ativado, porém, notou-se uma acentuação maior na diferença entre o primeiro ensaio e os outros dois ensaios, para valores posteriores à velocidade mínima e, portanto, não comprometendo a sua estimativa. Isso se deve principalmente pela irregularidade geométrica da partícula, e também pelo carvão, entre os três materiais utilizados, ser o menos denso de todos, fato que pode ser comprovado pela sua menor velocidade mínima de fluidização, de aproximadamente 1,65 cm/s. A Figura 5 mostra os resultados de porosidade do leito para os três materiais. Os resultados mostram que o leito, quando preenchido com carvão ativado, alcançou rapidamente uma grande expansão, para velocidades mais baixas que para os outros dois materiais. Essa expansão foi limitada pela própria altura do reator. Os resultados da porosidade em função da velocidade de escoamento se ajustaram muito bem à clássica equação de Richardson e Zaki, como pode ser observado na Figura 6. Figura 6. Equação de Richardson e Zaki linearizada para os 3 materiais suportes. O gráfico mostra, para os 3 materiais suportes, um alto coeficiente de correlação para as equações linearizadas, mostrando que o método foi eficiente na estimativa dos parâmetros. Os valores de n e U ∞ encontrados para os três materiais suportes (Tabela 2) estão compatíveis com os reportados na literatura, e mesmo que essa comparação tenha sido feita com partículas de características diferentes, manteve-se a ordem de grandeza.17,24,25 Tabela 2. Parâmetros da equação de Richardson e Zaki. Figura 5. Porosidade do leito para todos os materiais suportes. ∞ Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Freire, F. B., et al. A Figura 7 mostra os resultados obtidos para os 3 suportes nos 28 dias de ensaio de aderência. Figura 7. Resultado do ensaio de aderência para os 3 materiais. Analisando a Figura 7 percebe-se que a imobilização de biomassa no carvão ativado foi bem superior aos outros dois materiais, e o comportamento entre a alumina e o basalto foi bem próximo, com a alumina levando pequena vantagem. Analisando os parâmetros físicos obtidos com a caracterização dos materiais, a alumina e o carvão, dos três materiais suportes escolhidos, possuem porosidade interna maiores que 20 %. Já no basalto, esse valor é insignificante, não chegando aos 3 %. Além disso, no que diz respeito à área total de poros, o valor obtido para o basalto, 1,74 m3/g, também ficou consideravelmente abaixo do encontrado para a alumina (43,69 m3/g) e para o carvão ativado (19,32 m3/g). Isso pode explicar a baixa adesão de microrganismos nesse material, onde os fenômenos de formação de biofilme não tiveram área suficiente para sua ocorrência, ficando então um processo praticamente restrito à superfície da partícula. Era de se esperar que a alumina, em virtude de seus elevados resultados de porosidade e área total de poros, obtivesse uma adesão de biomassa superior, ou pelo menos próxima à do carvão. Os valores experimentais, entretanto, mostraram o contrário. Apesar das porosidades serem similares, e da área total de poros da alumina ser aproximadamente duas vezes maior que a do carvão, observou-se na Figura 7 que a sua adesão foi cerca de 4 vezes menor em comparação a esse material. Isso pode ser explicado pela analise dos valores de diâmetro médio dos poros. Embora as partículas de alumina do lote utilizado na pesquisa possuam uma área de poros muito maior que o carvão, o diâmetro médio desses poros (0,02 μm) é muito pequeno se comparado ao diâmetro médio dos poros do carvão ativado (1,00 μm), dificultando que os processos de transferência de massa, para a formação do biofilme, sejam efetuados. A grande diferença entre o tamanho dos poros aparenta ser um fator importante para explicar a maior adesão de biomassa no carvão ativado. Além disso, outras características das partículas também podem influenciar substancialmente o processo de imobilização de biomassa e completar a análise dos materiais suportes, tais como o potencial hidrofóbico, hidrolítico, a capacidade de adsorção, a permeabilidade, a geometria, dentre outros. Porém, acredita-se que os critérios de avaliação utilizados nesse trabalho foram relevantes e representativos, permitindo uma análise correta. CONCLUSÕES As curvas características obtidas, para todos os materiais suportes, são reprodutíveis e apresentam comportamento típico, com clara visualização das duas regiões lineares que fornecem a velocidade de mínima fluidização (Umin). Todos os ensaios apresentaram boa correlação para a determinação dos parâmetros n e U∞ da equação de Richardson & Zaki, e essa equação ajusta-se muito bem para prever a porosidade (ε) uma Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 23, n. 1-2, jan.- dez., 2004. p. 34-43. Avaliação de material suporte ... vez especificada a velocidade superficial do líquido (U). No que diz respeito ao caráter dinâmico, o carvão ativado apresentou o melhor desempenho entre os três materiais, uma vez que apresentou os menores valores para velocidade mínima de fluidização e pressões. Isso significa, dentre outras vantagens, economia de energia, menor possibilidade de arraste de biomassa e maior tempo de vida útil dos equipamentos, que ficarão submetidos a menores pressões. O sistema experimental utilizado nos ensaios de aderência se mostrou eficiente para a investigação proposta. Nesses ensaios, bem como nos de hidrodinâmica, o basalto apresentou resultados inferiores aos outros materiais, o que não o credencia como um bom meio suporte para pesquisas em processos biológicos de tratamento de águas residuárias. O carvão ativado ainda é um dos melhores materiais para serem utilizados em processos biológicos, principalmente em reatores de leito fluidizado, porque consegue aliar tanto bons resultados físicos, como biológicos. Sua capacidade de adesão de biomassa foi 4 vezes maior que a da partícula de alumina. [3] APILÁNEZ, I., GUTIÉRREZ, A. & DÍAZ, M. 1998. Bioresource Technology, 66, 225 – 230. [4] FREIRE, F.B.; FREIRE, J.T.; PIRES, E.C. 2003. Estudo e comparação da hidrodinâmica de um reator anaeróbio de leito fluidificado com três diferentes suportes. Anais do Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES) em CD-ROM. Joinville – SC. [5] SPEECE, R.E. 1996. Anaerobic Biotechnology for Industrial Wastewaters. Nashville, Archae Press. 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