Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012 Senhor Primeiro Ministro Senhor Presidente da Comissão Europeia Senhores Ministros Adjunto do Primeiro-Ministro, Ministro da Economia e do Emprego e Ministro da Administração Interna Senhores Secretários de Estado Senhor Presidente da Direcção da AIP-CCI Senhor General Ramalho Eanes, Senhores Professores Teresa Mendes e Veiga Simão, Senhores Empresários Henrique Neto, Fortunato Frederico, Humberto Pedrosa, Joaquim Lobo e Senhor Engenheiro António Alfaiate Senhores Representantes dos Parceiros Sociais Senhores Empresários e Distintos Convidados Meus Caros Amigos Minhas Senhoras e Meus Senhores Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 1 As minhas primeiras palavras são naturalmente de agradecimento e de saudação a todos os presentes, muito particularmente aos Senhores Primeiro-Ministro de Portugal e Presidente da Comissão Europeia e às personalidades homenageadas, que nos concederam o grato privilégio de poder contar com a sua presença no 175º aniversário da Associação Industrial Portuguesa. Vivem-se tempos difíceis e de incerteza para Portugal, para a Europa e para o Mundo, muito particularmente nos planos político, económico, social e do emprego. Mas os tempos difíceis são também tempos desafiantes, tempos de verdade, tempos de mudança, tempos de criação e tempos de decisão. É também tempo de uma nova atitude, de um empreendedorismo inovador, de um novo compromisso ético e de uma nova cultura de responsabilidade e de solidariedade. A este propósito e também porque o que nos traz hoje aqui é o 175º aniversário da AIP, é justo salientar que a característica mais saliente da AIP ao longo da sua história, como aconteceu em 1925 na defesa da Associação Comercial de Lisboa, tem sido a par do seu papel congregador de um associativismo empresarial forte e actuante, a capacidade permanente de reflectir uma visão sobre o futuro, associada a projectos de mudança e de modernidade. A ideia base de independência de pensamento e de acção, cooperando livremente com a Administração Pública e cumprindo atempadamente os compromissos assumidos é a trave mestra do comportamento da AIP. Por isso, a AIP emerge como um Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 2 actor incontornável da evolução sócio-económica e cultural, presente no centro das transformações mais marcantes da sociedade portuguesa, valorizando as empresas e as pessoas, ou seja, a qualificação, a inovação, a tecnologia e a coesão social. É perante um acervo significativo de realizações e perante a consciência da sua missão consagrada nos seus estatutos, que a AIP criou para si própria uma obrigação e um mandato inalienável: contribuir para mobilizar os portugueses, muito particularmente a comunidade empresarial, para ajudar a vencer os desafios com que Portugal se confronta. Hoje, esses desafios são de singular dimensão porquanto é sabido que o Governo de Portugal, apoiado por uma larga maioria dos portugueses, assumiu como prioridade nacional o cumprimento de um programa de assistência financeira assinado com a Troika, representando o FMI, a União Europeia e o Banco Central Europeu e sob a vigilância permanente dos mercados. Ao mesmo tempo a realidade inquestionável, presente a todo o instante na sociedade portuguesa, desafia-nos a encontrar com urgência novas bases para alicerçar o crescimento económico, não por via de uma projecção do passado, o que seria caminho certo para o insucesso, mas pela criação de um novo modelo de desenvolvimento, que partindo do presente, assente em pilares estratégicos determinados por reformas estruturais profundas e por novos espaços de criação e de transformação do conhecimento. Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 3 Não cabe nesta intervenção encontrar as razões que levaram ao esgotamento e à insustentabilidade do actual modelo de desenvolvimento e muito menos encontrar culpados, sendo certo que todos teremos a nossa quota de responsabilidade. A questão decisiva que interessa é a de saber “o que é que cada um de per si e colectivamente pode fazer por Portugal”. Aliás, a AIP, em devido tempo, deu um grito de alerta, nomeadamente quando apresentou publicamente a Carta Magna da Competitividade em 2003, e, em relatórios anuais, vem chamando à atenção para os resultados derivados de políticas públicas inconsistentes e de estratégias empresariais desajustadas. Uma verdade elementar surgiu na nossa frente: a trajectória da economia portuguesa, cujo crescimento se apoiava no peso excessivo de uma franja de actividades não transaccionáveis, era não só insustentável para uma pequena economia aberta como a nossa, como não respondia às oportunidades oferecidas pela globalização, como ainda, punha em causa a estrutura do Estado Social. Daí que o desafio que então lançámos, foi o de romper com a configuração dessa economia dual, obedecendo à orientação estratégica de alargar e enriquecer a carteira de actividades, bens e serviços transaccionáveis e competir no mercado doméstico através de uma economia de proximidade, com base na qualidade e na originalidade. Como consequência urge alterar o peso das exportações no PIB, passando dos cerca de 31% para um valor significativamente acima dos 40%, no Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 4 horizonte de 2020, condição crucial para reforçar a sustentabilidade da nossa economia. Entendemos, porém, que tal desígnio só será exequível mediante um consenso estratégico entre o Governo, a Comunidade Empresarial e a Comunidade Sindical, a que devia juntar-se a Comunidade do Saber, por forma a fortalecer uma adequada e focalizada interacção entre boas políticas públicas e estratégias empresariais, alicerçadas na criação e transformação rápida do conhecimento, na tecnologia e na inovação. Infelizmente o quadro em que temos de agir para a mudança é, hoje, deveras complexo e exigente, por razões que todos conhecemos. A crise financeira internacional de 2008 veio fustigar a generalidade das economias e particularmente a da Europa, enfatizando o problema das dívidas soberanas e acentuando ainda mais o quadro de constrangimentos e de fragilidades. Ao chegarmos a 2012, a economia portuguesa para se afirmar competitivamente tem um caminho muito estreito e cheio de obstáculos a vencer. Refiro-me, em particular, ao imperativo de conjugar inteligentemente a consolidação orçamental, actualmente consubstanciada no compromisso com a Troika, com uma agenda para o crescimento, a competitividade e o emprego. Uma sem a outra condenam ao insucesso. Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 5 Ser-se empresário é um desafio permanente. Temos a consciência que o futuro só será ganho se houver uma estratégia participada e convergente. A disponibilidade, a vontade e a determinação da AIP e dos seus empresários é uma realidade com que podem contar. Conhecemos as exigências e os desafios do sistema financeiro nacional e também da sua vontade de os ganhar. Mas, também é verdade que de imediato, é imperioso disponibilizar uma linha de crédito em condições favoráveis para as empresas. A AIP tem propostas concretas sobre a forma de a implementar e disponibiliza-se para apoiar o Governo nesta acção. Portugal, pela natureza da sua economia e designadamente pela sua dimensão, tem de apostar na inteligência económica e estratégica, com vista a pôr em funcionamento integrado a Hélice Tripla do desenvolvimento, constituída pelo Governo, por via das políticas públicas e do poder regulador, a Indústria no sentido anglo-saxónico que inclui todas as actividades económicas, e a Universidade, entendida em sentido amplo, abrangendo a generalidade dos centros de saber. Estes três pilares devem criar espaços de convergência dinamizados pela criatividade e pela ética, capazes de dinamizar as vantagens Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 6 competitivas no contexto da economia do conhecimento e da globalização. Neste espaço de consenso estratégico subjacente à Hélice Tripla, o associativismo empresarial, onde a AIP por força de razão se inscreve, terá um importante contributo a dar, tanto no plano das ideias, como por via de projectos e iniciativas orientados para a qualificação, a inovação, o investimento, o empreendedorismo, a exportação e a internacionalização. Na verdade, Portugal para responder à crise tem de voltar a crescer numa perspectiva de "campanha colectiva", de internacionalização e de globalização que lhe permita ser competitivo noutros mercados internacionais para além da Europa. Por isso tem que diversificar e subir na cadeia de valor. Trata-se de uma campanha de descoberta de novas funções; de conquista de novos mercados; de abertura a novas actividades e a novas maneiras de as realizar, potenciando aquelas onde acumulou competências; de atracção do investimento directo estrangeiro (IDE) e particularmente de empresas de dimensão internacional, indispensáveis para adquirir escala em actividades com forte procura nos mercados globais. Para isso Portugal não pode descurar a aposta em recursos humanos qualificados e deve eleger como prioridade decisiva uma mais forte e natural interacção entre a criação do conhecimento e a sua transformação em produtos, processos, marketing e modelos orgânicos. As PME inovadoras e as “start up” fornecerão a variedade, sendo que escala e variedade Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 7 são componentes chave de uma vaga de internacionalização, rápida nos efeitos e prudente em evitar dependências exclusivas de um número restrito de grandes operadores. Uma questão é pois evidente: reposicionar Portugal na Globalização, o que significa estreitar relações de comércio, de investimento, de financiamento e de transferência de tecnologia com países, regiões e operadores globais, tais como o Atlântico Sul, os mercados associados aos países da CPLP, aproveitando o potencial de oportunidades que o “mundo de expressão portuguesa” por si só confere e permite aproximações inteligentes deste com outros mercados de bases culturais distintas. Por essa via será possível atrair investimentos para a valorização da posição geográfica portuguesa, não só como plataforma para vários continentes mas também pelo desenvolvimento de plataformas empresariais com base em países da CPLP. As vantagens comparativas relacionadas com a qualificação dos nossos recursos humanos; com a exploração inteligente dos nossos recursos naturais, climáticos e ambientais; com a valorização do nosso território traduzida em equipamentos de grande valia; com as potencialidades do nosso espaço oceânico, necessitam de um planeamento estratégico que permita decisões com base em alternativas Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 8 fundamentadas. A conectividade internacional do nosso território oferece perspectivas únicas e singulares. Mas na essência de todos esses programas estão as reformas estruturais que surgem como inadiáveis, por razões tão imperiosas quanto é urgente impulsionar uma administração pública mais ágil e criativa, uma justiça mais célere e credível e desenvolver um binómio Estado-Sociedade, dominado por um código de direitos e deveres, que incentive um clima de civilidade. A dimensão do desafio que enfrentamos não atemoriza os portugueses, até porque sabem encontrar nas suas raízes a força da determinação em construir o futuro, conscientes de que não podemos crescer em grandezas que não podemos sustentar, o que exige solidariedade e trabalho. E nesse desafio não esquecemos que já Camões nos dizia que os “portugueses somos do Ocidente” até por que Portugal, no mundo global, é “quase cume da Europa toda”. É certo que o grau de dificuldade só pode ser atenuado se a União Europeia e a zona Euro em particular, souberem encontrar respostas e soluções colectivas em tempo oportuno e com alcance estratégico, exigindo necessariamente mais solidariedade e partilha e, bem assim, o reforço dos mecanismos de gestão de crise, aprofundando a governação económica da própria União, o que implica um Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 9 verdadeiro Banco Central Europeu e consequentemente mais responsabilidade dos governos e dos cidadãos. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Agostinho da Silva deixou-nos este pensamento: Costuma-se dizer que o progresso técnico superou o progresso moral; mas o que há na realidade é que o progresso técnico se fez à custa do fundo moral da Humanidade, do seu fundo divino; e as grandes épocas de crise são exactamente aquelas em que o progresso técnico é o mais elevado possível e a consciência moral uma luz mínima que parece a cada momento ir apagar-se de todo no fragor das tempestades económicas e políticas. A AIP ao comemorar os 175 anos e ao fazer o apelo à união dos portugueses para vencer a crise sabe que o nosso progresso não apagará a luz da consciência moral da Nação. Muito Obrigado pela Vossa presença. Jorge Rocha de Matos 3.2.2012 Intervenção do Presidente do Conselho Geral da AIP-CCI, Comendador Jorge Rocha de Matos, por ocasião das comemorações do 175º Aniversário, em 3 de Fevereiro 2012- CCL 10