RPM 29 - Uma interpretação geométrica do mdc Página 1 de 2 Zelci Clasen de Oliveira Ribeirão Preto, SP Um dia desses, uma colega trouxe-me uma questão que havia visto num concurso. Era mais ou menos assim: Um terreno retangular de 221 m por 117m será cercado. Em toda a volta desse cercado, serão plantadas árvores igualmente espaçadas. Qual o maior espaço possível? Respondi logo: — Ora, é um problema de MDC (subentendendo que uma árvore deve ser plantada em cada canto do terreno e o espaço entre as árvores deve ter um número inteiro de metros). Calculei logo o valor pelo método das divisões sucessivas e obtive o resultado: 1 1 8 221 117 104 13 104 13 0 13 m. A colega disse então que havia proposto o mesmo problema ao pai de um amigo, e que ele havia chegado mentalmente à resposta sem que soubesse explicar como. Na tentativa de adivinhar seu raciocínio, desenhei um retângulo e coloquei suas medidas: 221 e 117. — Quem sabe ele não pensou: 117 não divide 221. Fazendo a diferença 221 menos 117, encontramos 104. Porém, 104 não divide 117. Fazendo então a diferença 117 menos 104, encontramos 13, que divide 104 e é a resposta do problema. A figura que fiz enquanto falava, mostrava o retângulo original dividido em quadrados: um de lado 117, outro de lado 104 e mais oito quadradinhos de lado 13. Ela ficou assim: Percebi imediatamente que ali estava o princípio das divisões sucessivas, visto através de uma imagem geométrica. Procurei então enunciar o "método" de encontrar o MDC de dois números que a figura me sugeria e, depois de algumas tentativas, o enunciado que mais me agradou foi o seguinte: Dados dois números naturais a e b, construímos um retângulo com essas dimensões. Cobrindo esse retângulo com os maiores quadrados possíveis, o lado do menor quadrado será o MDC entre a e b. Para que todos entendam bem esse enunciado, vou dar mais um exemplo. Observe, na figura ao lado, o retângulo de dimensões 55 e 15. Vamos cobrir esse retângulo com os maiores quadrados possíveis. São três quadrados de lado 15, um quadrado de lado 10 e dois quadrados de lado 5. Isso quer dizer que o MDC entre 5 e 15 é 5. file://D:\29\5.htm 10/11/2009 RPM 29 - Uma interpretação geométrica do mdc Página 2 de 2 Simples, não? Foi gratificante encontrar uma forma de ilustrar um procedimento aritmético usando áreas, mostrando mais uma vez a importância do relacionamento de assuntos diversos da Matemática elementar. Dias depois do que acabo de relatar, lendo a História da Matemática, de Carl Boyer, encontro, na página 84, uma referência ao livro dos Elementos de Euclides, que contém, essencialmente, o "método" que imaginei. Diz o seguinte: Dados dois números diferentes, subtrai-se o menor a do maior b repetidamente até que se obtenha um resto r1 menor do que o menor número; então subtrai-se repetidamente esse resto r1 de a até resultar um resto r2 menor do que r1 então subtrai-seUma repetidamente r2 de r1Geométrica e assim por diante, finalmente, o processo leva Interpretação do mdc (2) a um resto rn que mede rn-1 portanto todos os restos precedentes, bem como a e b; esse número rn será o máximo divisor comum de a e b. Apesar do "achado", considero ainda importante a maneira de abordar a questão através da visualização geométrica, proporcionando a professores e alunos uma interessante alternativa de tratar o assunto. NOTAS da RPM (1) Em Matemática, como não é possível conhecer tudo o que já foi publicado ao longo da História, estamos freqüentemente redescobrindo coisas, ou seja. tendo idéias que outros, no passado, já tiveram. Isso não importa. As boas idéias devem ser divulgadas, mesmo que não sejam completamenle originais (2) No final da referência ao texto de Euclides que consta do livro de Boyer,onde se lê "... um resto rn que mede rn-1. . . ", o leitor deve entender ". . . um resto rn que divide rn-1. . .". (3) O Caderno da RPM, vol.5, n.° 1, de 1994. contém um resumo dos assuntos tratados nos Elementos de Euclides, obra máxima da Matemática da Antiguidade, fonte de conhecimento ao longo de séculos e alicerce de todo o desenvolvimento posterior. Zelci Clasen de Oliveira, é bacharel em Estatística pela Universidade Federal de São Carlos e licenciado em Ciências pela Instituição Moura Lacerda de Ribeirão Preto. Leciona Matemática para alunos do 2.° grau no Colégio Oswaldo Cruz de Ribeirão Preto e Franca, SP. file://D:\29\5.htm 10/11/2009