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Em tempos de crise, descubra negócios de
baixo custo e sem ponto comercial. E rentáveis
GERSON ROLIM: “INTERNET É CANAL IMPORTANTE DE INCLUSÃO DE MICRO E PEQUENOS EMPREENDEDORES”
C A PA
empreendedor | janeiro 2009
Negócios
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populares
Franquias e venda direta estão entre as opções que
exigem pouco capital inicial e dispensam ponto comercial
por Andréia Seganfredo
Edenilza Monteiro,
executiva de
vendas da Avon
Eles estão dentro de casa, no pátio treinando seu cachorro ou batendo à sua porta. Quando o assunto é vender produtos ou
oferecer serviços, os microempreendedores
que apostaram em negócios com baixo investimento inicial, pouco capital de giro e sem
ponto comercial para se estabelecer, têm o
desafio de chegar até o cliente e fazem do
boca-a-boca a principal ferramenta de marketing. Trabalhando como autônomos ou
microempresários, essa população começa
a aparecer cada vez mais nos indicadores
socioeconômicos. Dados do IBGE mostram
que 18,5% da população ocupada é formada
de trabalhadores por conta própria, enquanto
que as micro e pequenas empresas são 98%
do contingente nacional.
Representativo na economia, esse modelo
de negócios tem crescido no País. “Está em
plena expansão porque as pessoas temem
muito o risco. Ao implantar um empreendimento em que o capital investido é baixo,
se houver qualquer dificuldade de demanda,
também foi gasto pouco”, diz Ênio Pinto, gerente de atendimento individual do Sebrae.
Além disso, o fato de não ter um ponto comercial também colabora para esse crescimento porque ajuda a reduzir os custos. “Não
há a preocupação em reformar ou alugar um
imóvel e não há a necessidade de compor um
estoque inicial, como acontece no varejo.”
Outra vantagem apontada por ele, principalmente na prestação de serviços, é não ter que
comprar máquinas e equipamentos específicos para poder operar.
A venda direta é um dos expoentes de
negócios com baixo investimento e sem
ponto comercial. Em 2007, o número de revendedores e distribuidores de bens e serviços aumentou em 17,8%, totalizando R$ 1,9
milhão – taxa superior entre todas as categorias de emprego medidas pelo IBGE. Como
resultado, mais de R$ 16 bilhões circularam
no País – 11,7% a mais que o registrado em
2006. “É um setor que não conhece crise. É
mais agressivo que o varejo tradicional porque está mais próximo do cliente, que não
deixa de consumir produtos de higiene e
cosméticos mesmo em períodos de maior
instabilidade econômica”, afirma Lírio Cipriani, presidente da Associação Brasileira
de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD).
Os produtos de cuidados pessoais cor-
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[email protected]
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respondem à maior fatia das vendas diretas
(88%), seguidos por suplementos nutricionais
(6%), utilidades domésticas (5%) e serviços
(1%) – setor que tem crescido nos últimos
anos em todo o mundo. “Já temos revendedores de créditos para celular e de pacotes turísticos, o que demonstra também que esse é
um mercado para pequenas e médias empresas”, avalia Cipriani. O perfil diversificado das
companhias também se reflete entre os revendedores. “Mais de 90% são mulheres, mas tem
desde profissionais com nível superior, que
trocaram a carreira para se dedicar em tempo
integral à venda direta, até quem nem passou
pelo ensino médio e vê nisso uma oportunidade real de mobilidade social.”
Executiva de vendas da Avon desde 2002,
Edenilza Monteiro de Moraes começou a vender os produtos da empresa com 14 anos. “Peguei um catálogo emprestado de uma colega
de aula e vendi durante uma campanha. Senti
que a aceitação foi muito boa e decidi ganhar
o dinheiro no meu nome”, conta. Como ainda não tinha 18 anos, convenceu a mãe a se
tornar revendedora e, quando chegou à idade
exigida pela companhia, passou a vender no
nome das duas. Além desse rendimento, ela
ganha percentual sobre as vendas das 200 revendedoras que coordena, incluindo a amiga
que a ajudou a entrar no negócio. “De janeiro
a julho, consigo tirar entre R$ 2 mil e R$ 2,5
mil, mas a partir de agosto, algo em torno de
R$ 3 mil a R$ 4,5 mil.”
Edenilza faz parte do time de mais de um
milhão de revendedores da Avon. “Quem
considera o negócio como principal fonte de
renda chega a conseguir R$ 3 mil ou muito
mais”, conta Luiz Soares, gerente de projetos
e inovação de vendas da Avon Brasil. Segundo
o executivo, os maiores vendedores costumam contratar ajudantes, tornando-se pequenos empreendedores, mas há também casos
de pessoas que buscam apenas uma renda
complementar ou economizar na compra dos
produtos, subtraindo o valor da comissão do
custo final. “Mas a maioria quer ter renda.”
A qualidade dos produtos e a propaganda
da marca são vantagens para os revendedores.
Saber divulgar o
trabalho e estar
sempre acessível
são estratégias
fundamentais para
profissionais que
devem ir até o cliente
“Eu não preciso gastar meia hora explicando
para o cliente quais são os produtos, ele já
conhece”, explica Edenilza. Pensando nisso,
a empresa se esforça para tornar os folhetos
cada vez mais atrativos, sobretudo com o lançamento de novos produtos. Há três anos, a
Avon inaugurou um laboratório de desenvolvimento nos Estados Unidos. “Boa parte dos
pedidos é ajudada por essa tecnologia”, diz
Soares. Para a revendedora, resta o empenho
e a dedicação no trabalho. “É necessário criar
um diferencial. Dou desconto, entrego o produto numa embalagem bonita ou coloco um
recém-lançado na sacolinha da cliente”, conta
Edenilza. “Mais importante que isso é falar
para as pessoas que você vende.”
Saber divulgar o trabalho e estar sempre
acessível aos clientes são estratégias fundamentais para profissionais que devem ir até o
cliente. Um estudo divulgado em novembro
do ano passado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que os autônomos com telefone celular chegavam a faturar
quase 20% mais. “É preciso ser encontrado.
Ter um celular ligado 24 horas por dia, um
site. Hoje, quando alguém precisa de qualquer serviço, entra no Google para ver quais
as opções”, explica o consultor do Sebrae.
É exatamente essa a estratégia do aposentado Adilson Negreiros, franqueado da Genial
Books, que produz livros infantis personaliza-
Da esquerda para a direita: Luiz
Soares, gerente de projetos
e inovação de vendas da Avon
Brasil; Evaldo Mendonça, diretor
da Genial Books, franquia de
impressão de livros como o Aladin
(ao lado); e Marcius Soares,
franqueado da Elephant House
EVOLUÇÃO DAS VENDAS DIRETAS
Número de vendedores
Número de itens comercializados
Volume de vendas
2006
1,595 milhão
1,2 bilhão
R$ 14,5 bilhões
2007
1,879 milhão
1,389 bilhão
R$ 16 bilhões
dos em casa. Apesar de morar em Santa Catarina, tem clientes em todo o País graças ao
site que possui e à divulgação em portais de
artigos para crianças. “Também visito escolas,
deixo propagandas em livrarias e papelarias”,
diz. Trabalhando há quase cinco anos com
a franquia, consegue vender em média mil
livros por ano, com um lucro entre R$ 12 e
R$ 15 por unidade. “Foi a melhor coisa que
aconteceu para mim. É o que salva a minha
renda.” No último Dia das Crianças, ele chegou a comercializar 192 livros.
Livros caseiros
Para entrar nesse negócio, o investimento inicial é de R$ 5,6 mil e é necessário ter
computador e impressora. “Muitas pessoas têm esse equipamento em casa mas não
usam o seu potencial”, conta Evaldo Gambogi de Mendonça, diretor da franqueadora.
Ele trouxe o modelo ao Brasil depois de uma
viagem de férias, quando viu os livros sendo
feitos em espaços destinados a crianças em
estabelecimentos comerciais. Segundo ele,
confeccionar os livros em casa é a garantia
de retorno do investimento. “Nesse tipo de
empreendimento, ter uma sala comercial ou
fazer uma parceria com uma loja não daria
certo, porque as épocas de maior demanda são datas festivas e fim de ano. Depois,
o movimento não compensaria”, esclarece.
Em casa, a única despesa do franqueado é o
envio dos exemplares pelo correio.
Ao aderir à Genial Books, o franqueado
recebe uma cota inicial de 120 livros. O material vem com capa dura, ilustrações, folhas
brancas e adesivas, pronto para ser personalizado com o nome das crianças, colegas ou
pessoas da família. “Isso tem efeito multiplicador muito positivo, pois o contato do franqueado é impresso ali também”, diz Mendonça. O licenciado pode montar tudo em casa
ou ainda oferecer os produtos semiprontos
para escolas, num formato de projeto pedagógico, no qual a criança faz a redação e ilustração. “É um trabalho tranquilo, que ajuda a
promover a leitura, agrada aos pais e permite
qualidade de vida ao franqueado, que pode
fazer seus horários.”
Apesar de ser flexível e barato, disciplina
e organização são fundamentais para obter
uma boa renda. “Há uma tendência em achar
que empreendimentos de baixo risco não requerem comprometimento. Se a pessoa tem
disciplina quando trabalha para os outros, por
que não vai ter quando trabalha para ela?”,
questiona Mendonça. Como forma de profissionalizar ainda mais o serviço, ele orienta os
parceiros a terem uma linha telefônica exclusiva para atendimento. Depois de mais de dez
anos no mercado, com cerca de 300 unidades
franqueadas, a Genial Books teve casos de licenciados que venderam apenas uma unidade
e outros que ao pagarem a taxa de franquia
já tinham o estoque inicial comercializado.
“Todo negócio dá dinheiro e pode atender
suas necessidades de qualidade de vida, mas
tem que ter seriedade.”
Outro negócio proposto pela empresa
de Mendonça é a comercialização de cartões
de felicitação. A Elephant House tem taxa
de franquia mais elevada, em torno de R$ 50
mil – R$ 30 mil são retirados em produtos, e
exclusividade territorial, calculada em áreas
com cerca de 1 milhão de habitantes. “Nesse
modelo, somos hóspedes de outros pontos
comerciais.” Os expositores de cartões são
deixados em padarias, papelarias e livrarias,
de forma consignada com o proprietário do
local. O franqueado deve visitar regulamente
os pontos para reabastecer e fazer a contagem
de unidades vendidas. “Como é consignado,
tem boa aceitação dos comerciantes, que não
têm medo de ficar com estoque parado”, explica Mendonça.
A Elephant House tem 37 áreas comercializadas entre 26 franqueados. Marcius Menezes
Soares é um deles e começou a vender os cartões em janeiro do ano passado, quando adquiriu duas zonas de venda no Rio de Janeiro. Montou escritório e depósito em casa e conquistou
150 pontos-de-venda, o que garante uma renda
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Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas – 2008
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Cláudia Pizzolatto, da Lord
Cão, que utiliza método
diferenciado de adestramento
mensal entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. “O segredo é não se acomodar. Quem está acostumado
com ganho menor para quando atinge aquele
valor e não busca novos clientes. Minha meta
é atingir 300 pontos”, conta. Ele deixou o cargo
de representante comercial, e a esposa saiu do
emprego porque também queria mudar de atividade. “Antes eu tinha gastos como aluguel e
funcionários. Minha única despesa passou a ser
a gasolina do meu carro.”
Buscar uma franquia home based é um
investimento mais acertado para quem tem
medo de riscos. “Elas são vantajosas porque
são um modelo já experimentado, que deu
certo para outro empreendedor e foi replicado, colocado em manuais. Isso poupa investimento e tempo”, afirma Ênio Pinto, gerente
do Sebrae. Com o surgimento de franquias de
serviços, baseadas no conhecimento e experiência dos profissionais, outra preocupação
começa a fazer parte desse modelo de negócio. “O saber fica superado muito rapidamente e esses profissionais têm que apostar na
atualização permanente.”
empreendedor | janeiro 2009
Reforço nos estudos
Hipólito: “Percebemos que as
franquias brasileiras ficaram em
um
2 2 patamar muito elevado para
a média do empreendedor”
A Tutores, franquia de reforço escolar
multidisciplinar, segue essa fórmula para continuar crescendo. Lançada em abril do ano
passado, oferece treinamento ao franqueado
e aos educadores que ele venha a contratar,
além do acompanhamento e registro on-line
das aulas e rendimento dos alunos. Para isso,
possui uma equipe com professores e psicólogos educacionais. “Tenho um aluno que é deficiente auditivo e quando fiz a matrícula, no
dia seguinte, recebi um texto de orientação da
psicóloga da franquia. Fiquei muito satisfeita
com o suporte deles”, diz Josiane Simões Zolio, franqueada de São José dos Campos (SP).
Em menos de um ano de funcionamento, a Tutores conquistou 50 unidades
franqueadas. Foi a dificuldade de encontrar
um profissional capacitado para tratar dos
problemas de aprendizagem dos filhos que
motivou Artur Hipólito e a esposa a abrirem
a franquia, com foco no conceito low cost
home based. “Quando estávamos formatando o modelo, percebemos que as franquias
brasileiras ficaram num patamar muito
elevado para a média do empreendedor. E
que havia espaço para inovar na educação,
permitindo à família localizar rapidamente
um tutor”, conta. A taxa de franquia é de
FRANQUIA PARA TODOS
Franquias
Genial Books
Tutores
Lord Cão
Flavored Popcorn
Taxa de franquia
R$ 3.980
R$ 5.000
R$ 4.000 – R$ 10.000
R$ 5.500 – R$ 11.000
Capital de instalação
R$ 1.620
R$ 3.000
R$ 10.000
R$ 9.490 a R$28.605
Investimento
R$ 5.600
R$ 8.000
R$ 14.000 a R$ 20.000
R$ 14.990 a R$ 39.605
Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas – 2008
Ênio Pinto, gerente do Sebrae. Para ele, o que
determina as chances de sucesso de um negócio são o comprometimento e a afinidade
do empreendedor com a atividade. “Depois
que identificou o que gosta de fazer, tem que
ver aquilo que faz da melhor forma, de modo
mais competitivo.”
Essa foi a receita que levou Cláudia Pizzolatto a abrir a franquia Lord Cão. Depois de trabalhar 11 anos na área financeira, viajou com
o marido para os Estados Unidos, onde fez
vários cursos. De volta para o Brasil, montou
a empresa de treinamento de cães, com uma
atuação diferente dos concorrentes do País.
“Aqui se costumava internar os cachorros numa
hospedagem e afastar da família para poder
disciplinar. Mas tem o risco de quando chegar
em casa o comportamento mudar novamente”,
afirma. O método aplicado por Cláudia tenta
identificar como as ações do dono influenciam
o animal de estimação e, para isso, o treinador
deve ir até a casa dos clientes.
A franquia só aceita mulheres porque “são
mais sensíveis para perceber detalhes que podem ajudar a entender o comportamento do
cachorro e do dono, e por isso a solucionar
o problema”, explica Cláudia. Elas costumam
ter fluência na literatura em inglês e curso su-
O que determina
as chances de sucesso
de um negócio são
o comprometimento
e a afinidade do
empreendedor
com a atividade
perior. São entrevistadas, recebem treinamento on-line e prático, que custa R$ 10 mil. Caso
escolham aderir à Lord Cão, pagam uma taxa
de franquia que varia de R$ 4 mil a R$ 10 mil,
dependendo do porte da cidade. Cláudia faz
questão de parcelar os valores e permitir que
as franqueadas paguem com o decorrer do
trabalho. “Todas nós fazemos isso por paixão.
Dinheiro é consequência.”
Por conta dessa facilidade, Beatriz Souza
Duarte, franqueada da Lord Cão, conseguiu
quitar tudo depois de um ano e deixou de trabalhar como administradora de rede em uma
agência de turismo. “Sempre quis trabalhar com
animais e queria trocar de emprego. Percebi
que poderia ganhar mais com a Lord Cão e isso
só dependia de ter mais horários livres”, conta. Depois de divulgar o serviço em pet shops,
eventos e junto a veterinários, consegue manter uma renda mensal que varia de R$ 3 mil a R$
5 mil. “Tive dúvida na hora de sair da empresa,
mas quando olho os grandes empreendedores,
vejo que eles não conseguiram nada sem arriscar. Tem que ter coragem para mudar.”
A mesma atitude teve Jones Yuri Amaral e
Silva, dono da franquia Flavored Popcorn. Deixou de trabalhar como oficial da Polícia Militar
e decidiu montar o próprio negócio. Com a
paridade entre real e dólar em 1995, comprou
uma máquina de autoatendimento importada
que estourava o milho na hora. “Não queria ter
empregado. Pensava que era só deixar o aparelho lá, abastecer com os produtos e recolher o
dinheiro”, diz. Com a falta de assistência técnica
dos equipamentos e a demanda crescente pelo
produto, migrou para a venda com atendentes,
no modelo de franquia. “Estava realmente decidido a fazer o negócio dar certo.” A taxa para
um quiosque com 6 metros quadrados, onde
vão três panelas elétricas, é de R$ 11 mil e dá
direito a duas unidades.
A aquisição de pequenas máquinas tem
empreendedor | janeiro 2009
R$ 5 mil, e o capital de instalação, R$ 3 mil
– recurso para adquirir notebook, internet
banda larga e abrir uma microempresa.
O trabalho dos tutores acontece na casa
dos alunos e combina ensino do conteúdo e
tratamento das deficiências de aprendizado.
“Quando a criança tem alguma dificuldade,
normalmente trabalha com psicólogo ou psicopedagogo, que são tratamentos de médio
e longo prazos. O professor particular explica o conteúdo, mas não interage com o aluno”, diz Hipólito. Os tutores são professores
contratados pelos franqueados, geralmente
pessoas graduadas, que trabalham ou gostam
de empreender na área de educação. “Temos
uma franqueada que atende pessoalmente os
alunos, mas isso também limita o número de
atendimentos e a expansão do negócio.”
Quando aderiu à Tutores, Josiane queria
complementar o trabalho de fonoaudióloga.
Comprou as seis zonas territoriais de São José
dos Campos e, por um tempo, parou de divulgar o serviço em virtude da grande demanda.
“Fiquei assustada. Parto do princípio que precisa de uma estrutura e solidez e, para isso,
tem que sentir as pessoas com quem você trabalha.” No começo, contratou 10 educadores.
Agora, já são 20 integrantes na equipe, aptos a
auxiliar crianças e jovens, incluindo universitários e vestibulandos. Seu rendimento mensal
supera em 20% o que ganhava com a atuação
no consultório, trabalho que está deixando
com a alta dos pacientes.
Nesse mesmo conceito da Tutores, Hipólito planeja abrir novas franquias ainda neste
mês. São negócios para cuidadores de pessoas e idosos (Home Angels), pequenas reformas prediais (Doutor Faz Tudo), manutenção
e instalação de computadores (Amigo Computador) e produção de sites para pequenas
e médias empresas, além de profissionais liberais ( Web Hunters). “É difícil ter trabalhadores qualificados e encontrá-los rapidamente.
Nosso objetivo é facilitar a aproximação entre
prestadores e clientes”, afirma. O atual modelo da Tutores, por exemplo, possibilita localizar educadores no site da franquia por meio
do código postal.
Perceber as demandas da comunidade é
um dos requisitos que devem ser levados em
conta na hora de abrir um novo empreendimento, ainda que o investimento seja baixo.
“Também deve ser levado em conta se os futuros clientes estão dispostos a pagar por aquele serviço o quanto ele realmente custa”, diz
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tido bastante procura pelos empreendedores
brasileiros, interessados em gastar pouco e
abrir um negócio que pode estar em qualquer
lugar ou dentro de casa. “Temos percebido interesse pelo setor de beleza”, conta Andréa Faria, coordenadora da Feira do Empreendedor
do Sebrae. Há máquinas que pintam unhas,
modelos para venda de bebidas, carrinhos para
transporte de água e gás, e outras voltadas para
artesanato. “Uma máquina de fuxico sai em torno de R$ 300 e pode ser uma excelente fonte
de renda, já que muitos produtos podem ser
feitos a partir dele”, afirma Andréa.
Abrir um negócio baseado na internet é
MICROEMPREENDEDOR
INDIVIDUAL
Formalização: R$ 50
Contribuição mensal:
INSS: R$ 45,65
ICMS: R$ 1 (comércio e indústria)
ISS: R$ 5 (prestadores de serviços)
Fonte: Sebrae
outra forma que não exige ponto comercial e
que pode estar em qualquer lugar. Mas se hoje
a internet ajuda – e muito – a alavancar a venda
de produtos e serviços, o rendimento e o sucesso dos empreendimentos que começaram
existindo apenas no mundo virtual eram duvidosos. “Tudo era muito incerto. Nossa receita
era 100% publicidade e isso era visto como se o
negócio não fosse sustentável no longo prazo”,
diz Eduardo Fleury, sócio-fundador do portal
!ObaOba. Com dois amigos, ele criou o veículo
de comunicação on-line voltado para o público
jovem, contendo programação de bares e casas
noturnas de São Paulo. O serviço evoluiu para
um guia de entretenimento, com mais de 8 milhões de page views por mês, garantindo acordos publicitários e resultando no crescimento
de 40% da empresa, nos dois últimos anos.
O investimento inicial de cada sócio foi de
apenas R$ 5 mil. “Isso custeou as despesas para
fazer matérias para o site e alguns móveis que
compramos quando montamos o escritório”,
conta Fleury. Antes disso, cada um trabalhava
em casa, com computador próprio, nas horas
de folga. “Vejo que isso atrasou um pouco as
coisas. É um diferencial não precisar viver do
negócio, mas também mostra uma estrutura
empreendedor | janeiro 2009
Ao fundo: Gorete, arquiteta que
trabalhou em casa até juntar dinheiro
e clientes. Ao lado: quiosque da
franquia Flavored Popocorn. Na outra
página, Cristiano Nóbrega e Eduardo
Fleury, sócios do !ObaOba
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irreal de custo e não se exige do empreendimento todo o retorno que ele pode dar.” Durante esse período de quatro anos, o !ObaOba
fechou os balanços sem lucro algum.
Atualização
Somente em 2000, com os primeiros contratos comerciais, a empresa começou a gerar algum rendimento a partir do serviço que
oferecia apenas virtualmente. “Todos estavam
aprendendo a fazer naquele momento, inclusive as agências de publicidade”, diz Fleury.
Segundo ele, há diversas iniciativas de negócios na web, mas o mercado virtual está muito
mais competitivo. “Na nossa época, os erros
eram mais permitidos. Mas quem começa hoje
deve conhecer bem a internet.” Mais uma vez,
a dinâmica do negócio exige profissionais em
atualização constante.
Trabalhar em casa, com pouco investimento, é uma opção também para profissionais liberais em início de carreira. A arquiteta Gorete
Colaço transformou um quarto disponível em
home office e começou trabalhando ainda sem
computador, “apenas com a prancheta”. Com o
tempo, adquiriu computador, impressora e fax,
dual (MEI), abrangendo todos aqueles com
receita bruta de até R$ 36 mil ao ano. “Pode
ser qualquer comércio e atividade industrial,
artesanato e prestação de serviços que não
seja de natureza intelectual”, diz André Spínola, analista de políticas públicas do Sebrae.
Alguns exemplos são costureiras, sapateiros,
manicures, barbeiros, marceneiros, encanadores e mecânicos.
Quem optar pelo MEI poderá formalizarse pagando uma taxa de cerca de R$ 50. “É um
público bem principiante em termos de economia. “Justamente por isso pensou-se num sistema que fosse simples e desonerado”, explica
Spínola. Mensalmente, o empreendedor deverá pagar um valor fixo de R$ 45,65 para o INSS
acrescido de R$ 1 de ICMS, para quem atua no
comércio e na indústria, ou de R$ 5 de ISS, para
os prestadores de serviços. A taxa será cobrada
na conta de luz a partir de 1º de julho, quando
a lei deverá entrar em vigor. “A única obrigação
burocrática dele é guardar as notas fiscais das
compras que fizer. A ideia é também conseguir
formalização dessas operações econômicas e a
comprovação do faturamento.”
Para usufruir desse benefício é necessário
abrir uma empresa em uma junta comercial.
“A lei prevê um trâmite simples para o registro,
que não deve demorar mais do que 48 horas
para sair”, afirma Spínola. O MEI pode ter um
empregado que recebe salário mínimo e está
dispensado da contabilidade. O Sebrae estima
que existam 10 milhões de negócios informais
e que 4 milhões deles serão formalizados nos
próximos quatro anos. “O maior estímulo
para a adesão é a cobertura previdenciária e
cidadania. Esse dinheiro já circula na economia, mas com a formalização vai começar a
aparecer nos indicadores.”
LINHA DIRETA
André Spínola (Sebrae): (61) 3348-7409
Andréa Faria (Sebrae): (61) 3348-7457
Avon: www.avon.com.br
Ênio Pinto (Sebrae): (61) 3348-7206
Flavored Popcorn: (48) 3025-4202
Genial Books: (11) 2215-3322
Gorete Colaço: (21) 2247-8280
Lírio Cipriani (ABEVD): (11) 5042-0587
Lord Cão: (21) 2496-2732
!ObaOba: www.obaoba.com.br
Tutores: (19) 3242-3568
empreendedor | janeiro 2009
além de uma linha telefônica para atender somente os clientes. Os primeiros projetos foram
feitos para parentes e amigos, que ajudaram a
divulgar o trabalho. Em menos de seis meses
foi chamada para participar da Casa Cor, onde
conseguiu maior exposição e começou a se
preparar para alugar uma sala comercial.
No período que trabalhou em casa, Gorete conseguiu juntar dinheiro e formar uma
carteira de clientes. “Ela foi muito importante
para abrir o escritório, porque eu conseguia
me manter e bancar os custos fixos”, diz. Em
virtude de clientes que exigiam nota, a arquiteta já havia constituído empresa nos primeiros meses de atuação. “Quando o trabalho é
uma coisa mais sofisticada e precisa prestar
serviços para outras pessoas jurídicas, é interessante se formalizar”, explica Ênio Pinto,
gerente do Sebrae. Segundo ele, o mesmo
ocorre com profissionais que atuam dentro
de uma cadeia produtiva maior.
A formalização de pequenos negócios
ganhou um grande incentivo no fim do ano
passado, com a aprovação do Projeto de Lei
Complementar 02/07. Além de ajustes na Lei
Geral da Micro e Pequena Empresa, foi criada
a categoria do Microempreendedor Indivi-
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