HEDGE: MOCINHO OU VILÃO DAS FINANÇAS? DESIGN: OBRIGAÇÃO NO RAMO MOVELEIRO www.empreendedor.com.br ANO 15 N o 171 JANEIRO 2009 R$ 9,90 EMPREENDEDOR – BOM E BAR ATO – ANO 15 N o 17 1 JANEIRO 2009 IS SN 1414-0 152 Bom e barato Em tempos de crise, descubra negócios de baixo custo e sem ponto comercial. E rentáveis GERSON ROLIM: “INTERNET É CANAL IMPORTANTE DE INCLUSÃO DE MICRO E PEQUENOS EMPREENDEDORES” C A PA empreendedor | janeiro 2009 Negócios 18 populares Franquias e venda direta estão entre as opções que exigem pouco capital inicial e dispensam ponto comercial por Andréia Seganfredo Edenilza Monteiro, executiva de vendas da Avon Eles estão dentro de casa, no pátio treinando seu cachorro ou batendo à sua porta. Quando o assunto é vender produtos ou oferecer serviços, os microempreendedores que apostaram em negócios com baixo investimento inicial, pouco capital de giro e sem ponto comercial para se estabelecer, têm o desafio de chegar até o cliente e fazem do boca-a-boca a principal ferramenta de marketing. Trabalhando como autônomos ou microempresários, essa população começa a aparecer cada vez mais nos indicadores socioeconômicos. Dados do IBGE mostram que 18,5% da população ocupada é formada de trabalhadores por conta própria, enquanto que as micro e pequenas empresas são 98% do contingente nacional. Representativo na economia, esse modelo de negócios tem crescido no País. “Está em plena expansão porque as pessoas temem muito o risco. Ao implantar um empreendimento em que o capital investido é baixo, se houver qualquer dificuldade de demanda, também foi gasto pouco”, diz Ênio Pinto, gerente de atendimento individual do Sebrae. Além disso, o fato de não ter um ponto comercial também colabora para esse crescimento porque ajuda a reduzir os custos. “Não há a preocupação em reformar ou alugar um imóvel e não há a necessidade de compor um estoque inicial, como acontece no varejo.” Outra vantagem apontada por ele, principalmente na prestação de serviços, é não ter que comprar máquinas e equipamentos específicos para poder operar. A venda direta é um dos expoentes de negócios com baixo investimento e sem ponto comercial. Em 2007, o número de revendedores e distribuidores de bens e serviços aumentou em 17,8%, totalizando R$ 1,9 milhão – taxa superior entre todas as categorias de emprego medidas pelo IBGE. Como resultado, mais de R$ 16 bilhões circularam no País – 11,7% a mais que o registrado em 2006. “É um setor que não conhece crise. É mais agressivo que o varejo tradicional porque está mais próximo do cliente, que não deixa de consumir produtos de higiene e cosméticos mesmo em períodos de maior instabilidade econômica”, afirma Lírio Cipriani, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD). Os produtos de cuidados pessoais cor- empreendedor | janeiro 2009 [email protected] 19 empreendedor | janeiro 2009 C A PA 20 respondem à maior fatia das vendas diretas (88%), seguidos por suplementos nutricionais (6%), utilidades domésticas (5%) e serviços (1%) – setor que tem crescido nos últimos anos em todo o mundo. “Já temos revendedores de créditos para celular e de pacotes turísticos, o que demonstra também que esse é um mercado para pequenas e médias empresas”, avalia Cipriani. O perfil diversificado das companhias também se reflete entre os revendedores. “Mais de 90% são mulheres, mas tem desde profissionais com nível superior, que trocaram a carreira para se dedicar em tempo integral à venda direta, até quem nem passou pelo ensino médio e vê nisso uma oportunidade real de mobilidade social.” Executiva de vendas da Avon desde 2002, Edenilza Monteiro de Moraes começou a vender os produtos da empresa com 14 anos. “Peguei um catálogo emprestado de uma colega de aula e vendi durante uma campanha. Senti que a aceitação foi muito boa e decidi ganhar o dinheiro no meu nome”, conta. Como ainda não tinha 18 anos, convenceu a mãe a se tornar revendedora e, quando chegou à idade exigida pela companhia, passou a vender no nome das duas. Além desse rendimento, ela ganha percentual sobre as vendas das 200 revendedoras que coordena, incluindo a amiga que a ajudou a entrar no negócio. “De janeiro a julho, consigo tirar entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, mas a partir de agosto, algo em torno de R$ 3 mil a R$ 4,5 mil.” Edenilza faz parte do time de mais de um milhão de revendedores da Avon. “Quem considera o negócio como principal fonte de renda chega a conseguir R$ 3 mil ou muito mais”, conta Luiz Soares, gerente de projetos e inovação de vendas da Avon Brasil. Segundo o executivo, os maiores vendedores costumam contratar ajudantes, tornando-se pequenos empreendedores, mas há também casos de pessoas que buscam apenas uma renda complementar ou economizar na compra dos produtos, subtraindo o valor da comissão do custo final. “Mas a maioria quer ter renda.” A qualidade dos produtos e a propaganda da marca são vantagens para os revendedores. Saber divulgar o trabalho e estar sempre acessível são estratégias fundamentais para profissionais que devem ir até o cliente “Eu não preciso gastar meia hora explicando para o cliente quais são os produtos, ele já conhece”, explica Edenilza. Pensando nisso, a empresa se esforça para tornar os folhetos cada vez mais atrativos, sobretudo com o lançamento de novos produtos. Há três anos, a Avon inaugurou um laboratório de desenvolvimento nos Estados Unidos. “Boa parte dos pedidos é ajudada por essa tecnologia”, diz Soares. Para a revendedora, resta o empenho e a dedicação no trabalho. “É necessário criar um diferencial. Dou desconto, entrego o produto numa embalagem bonita ou coloco um recém-lançado na sacolinha da cliente”, conta Edenilza. “Mais importante que isso é falar para as pessoas que você vende.” Saber divulgar o trabalho e estar sempre acessível aos clientes são estratégias fundamentais para profissionais que devem ir até o cliente. Um estudo divulgado em novembro do ano passado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que os autônomos com telefone celular chegavam a faturar quase 20% mais. “É preciso ser encontrado. Ter um celular ligado 24 horas por dia, um site. Hoje, quando alguém precisa de qualquer serviço, entra no Google para ver quais as opções”, explica o consultor do Sebrae. É exatamente essa a estratégia do aposentado Adilson Negreiros, franqueado da Genial Books, que produz livros infantis personaliza- Da esquerda para a direita: Luiz Soares, gerente de projetos e inovação de vendas da Avon Brasil; Evaldo Mendonça, diretor da Genial Books, franquia de impressão de livros como o Aladin (ao lado); e Marcius Soares, franqueado da Elephant House EVOLUÇÃO DAS VENDAS DIRETAS Número de vendedores Número de itens comercializados Volume de vendas 2006 1,595 milhão 1,2 bilhão R$ 14,5 bilhões 2007 1,879 milhão 1,389 bilhão R$ 16 bilhões dos em casa. Apesar de morar em Santa Catarina, tem clientes em todo o País graças ao site que possui e à divulgação em portais de artigos para crianças. “Também visito escolas, deixo propagandas em livrarias e papelarias”, diz. Trabalhando há quase cinco anos com a franquia, consegue vender em média mil livros por ano, com um lucro entre R$ 12 e R$ 15 por unidade. “Foi a melhor coisa que aconteceu para mim. É o que salva a minha renda.” No último Dia das Crianças, ele chegou a comercializar 192 livros. Livros caseiros Para entrar nesse negócio, o investimento inicial é de R$ 5,6 mil e é necessário ter computador e impressora. “Muitas pessoas têm esse equipamento em casa mas não usam o seu potencial”, conta Evaldo Gambogi de Mendonça, diretor da franqueadora. Ele trouxe o modelo ao Brasil depois de uma viagem de férias, quando viu os livros sendo feitos em espaços destinados a crianças em estabelecimentos comerciais. Segundo ele, confeccionar os livros em casa é a garantia de retorno do investimento. “Nesse tipo de empreendimento, ter uma sala comercial ou fazer uma parceria com uma loja não daria certo, porque as épocas de maior demanda são datas festivas e fim de ano. Depois, o movimento não compensaria”, esclarece. Em casa, a única despesa do franqueado é o envio dos exemplares pelo correio. Ao aderir à Genial Books, o franqueado recebe uma cota inicial de 120 livros. O material vem com capa dura, ilustrações, folhas brancas e adesivas, pronto para ser personalizado com o nome das crianças, colegas ou pessoas da família. “Isso tem efeito multiplicador muito positivo, pois o contato do franqueado é impresso ali também”, diz Mendonça. O licenciado pode montar tudo em casa ou ainda oferecer os produtos semiprontos para escolas, num formato de projeto pedagógico, no qual a criança faz a redação e ilustração. “É um trabalho tranquilo, que ajuda a promover a leitura, agrada aos pais e permite qualidade de vida ao franqueado, que pode fazer seus horários.” Apesar de ser flexível e barato, disciplina e organização são fundamentais para obter uma boa renda. “Há uma tendência em achar que empreendimentos de baixo risco não requerem comprometimento. Se a pessoa tem disciplina quando trabalha para os outros, por que não vai ter quando trabalha para ela?”, questiona Mendonça. Como forma de profissionalizar ainda mais o serviço, ele orienta os parceiros a terem uma linha telefônica exclusiva para atendimento. Depois de mais de dez anos no mercado, com cerca de 300 unidades franqueadas, a Genial Books teve casos de licenciados que venderam apenas uma unidade e outros que ao pagarem a taxa de franquia já tinham o estoque inicial comercializado. “Todo negócio dá dinheiro e pode atender suas necessidades de qualidade de vida, mas tem que ter seriedade.” Outro negócio proposto pela empresa de Mendonça é a comercialização de cartões de felicitação. A Elephant House tem taxa de franquia mais elevada, em torno de R$ 50 mil – R$ 30 mil são retirados em produtos, e exclusividade territorial, calculada em áreas com cerca de 1 milhão de habitantes. “Nesse modelo, somos hóspedes de outros pontos comerciais.” Os expositores de cartões são deixados em padarias, papelarias e livrarias, de forma consignada com o proprietário do local. O franqueado deve visitar regulamente os pontos para reabastecer e fazer a contagem de unidades vendidas. “Como é consignado, tem boa aceitação dos comerciantes, que não têm medo de ficar com estoque parado”, explica Mendonça. A Elephant House tem 37 áreas comercializadas entre 26 franqueados. Marcius Menezes Soares é um deles e começou a vender os cartões em janeiro do ano passado, quando adquiriu duas zonas de venda no Rio de Janeiro. Montou escritório e depósito em casa e conquistou 150 pontos-de-venda, o que garante uma renda empreendedor | janeiro 2009 Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas – 2008 21 C A PA Cláudia Pizzolatto, da Lord Cão, que utiliza método diferenciado de adestramento mensal entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. “O segredo é não se acomodar. Quem está acostumado com ganho menor para quando atinge aquele valor e não busca novos clientes. Minha meta é atingir 300 pontos”, conta. Ele deixou o cargo de representante comercial, e a esposa saiu do emprego porque também queria mudar de atividade. “Antes eu tinha gastos como aluguel e funcionários. Minha única despesa passou a ser a gasolina do meu carro.” Buscar uma franquia home based é um investimento mais acertado para quem tem medo de riscos. “Elas são vantajosas porque são um modelo já experimentado, que deu certo para outro empreendedor e foi replicado, colocado em manuais. Isso poupa investimento e tempo”, afirma Ênio Pinto, gerente do Sebrae. Com o surgimento de franquias de serviços, baseadas no conhecimento e experiência dos profissionais, outra preocupação começa a fazer parte desse modelo de negócio. “O saber fica superado muito rapidamente e esses profissionais têm que apostar na atualização permanente.” empreendedor | janeiro 2009 Reforço nos estudos Hipólito: “Percebemos que as franquias brasileiras ficaram em um 2 2 patamar muito elevado para a média do empreendedor” A Tutores, franquia de reforço escolar multidisciplinar, segue essa fórmula para continuar crescendo. Lançada em abril do ano passado, oferece treinamento ao franqueado e aos educadores que ele venha a contratar, além do acompanhamento e registro on-line das aulas e rendimento dos alunos. Para isso, possui uma equipe com professores e psicólogos educacionais. “Tenho um aluno que é deficiente auditivo e quando fiz a matrícula, no dia seguinte, recebi um texto de orientação da psicóloga da franquia. Fiquei muito satisfeita com o suporte deles”, diz Josiane Simões Zolio, franqueada de São José dos Campos (SP). Em menos de um ano de funcionamento, a Tutores conquistou 50 unidades franqueadas. Foi a dificuldade de encontrar um profissional capacitado para tratar dos problemas de aprendizagem dos filhos que motivou Artur Hipólito e a esposa a abrirem a franquia, com foco no conceito low cost home based. “Quando estávamos formatando o modelo, percebemos que as franquias brasileiras ficaram num patamar muito elevado para a média do empreendedor. E que havia espaço para inovar na educação, permitindo à família localizar rapidamente um tutor”, conta. A taxa de franquia é de FRANQUIA PARA TODOS Franquias Genial Books Tutores Lord Cão Flavored Popcorn Taxa de franquia R$ 3.980 R$ 5.000 R$ 4.000 – R$ 10.000 R$ 5.500 – R$ 11.000 Capital de instalação R$ 1.620 R$ 3.000 R$ 10.000 R$ 9.490 a R$28.605 Investimento R$ 5.600 R$ 8.000 R$ 14.000 a R$ 20.000 R$ 14.990 a R$ 39.605 Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas – 2008 Ênio Pinto, gerente do Sebrae. Para ele, o que determina as chances de sucesso de um negócio são o comprometimento e a afinidade do empreendedor com a atividade. “Depois que identificou o que gosta de fazer, tem que ver aquilo que faz da melhor forma, de modo mais competitivo.” Essa foi a receita que levou Cláudia Pizzolatto a abrir a franquia Lord Cão. Depois de trabalhar 11 anos na área financeira, viajou com o marido para os Estados Unidos, onde fez vários cursos. De volta para o Brasil, montou a empresa de treinamento de cães, com uma atuação diferente dos concorrentes do País. “Aqui se costumava internar os cachorros numa hospedagem e afastar da família para poder disciplinar. Mas tem o risco de quando chegar em casa o comportamento mudar novamente”, afirma. O método aplicado por Cláudia tenta identificar como as ações do dono influenciam o animal de estimação e, para isso, o treinador deve ir até a casa dos clientes. A franquia só aceita mulheres porque “são mais sensíveis para perceber detalhes que podem ajudar a entender o comportamento do cachorro e do dono, e por isso a solucionar o problema”, explica Cláudia. Elas costumam ter fluência na literatura em inglês e curso su- O que determina as chances de sucesso de um negócio são o comprometimento e a afinidade do empreendedor com a atividade perior. São entrevistadas, recebem treinamento on-line e prático, que custa R$ 10 mil. Caso escolham aderir à Lord Cão, pagam uma taxa de franquia que varia de R$ 4 mil a R$ 10 mil, dependendo do porte da cidade. Cláudia faz questão de parcelar os valores e permitir que as franqueadas paguem com o decorrer do trabalho. “Todas nós fazemos isso por paixão. Dinheiro é consequência.” Por conta dessa facilidade, Beatriz Souza Duarte, franqueada da Lord Cão, conseguiu quitar tudo depois de um ano e deixou de trabalhar como administradora de rede em uma agência de turismo. “Sempre quis trabalhar com animais e queria trocar de emprego. Percebi que poderia ganhar mais com a Lord Cão e isso só dependia de ter mais horários livres”, conta. Depois de divulgar o serviço em pet shops, eventos e junto a veterinários, consegue manter uma renda mensal que varia de R$ 3 mil a R$ 5 mil. “Tive dúvida na hora de sair da empresa, mas quando olho os grandes empreendedores, vejo que eles não conseguiram nada sem arriscar. Tem que ter coragem para mudar.” A mesma atitude teve Jones Yuri Amaral e Silva, dono da franquia Flavored Popcorn. Deixou de trabalhar como oficial da Polícia Militar e decidiu montar o próprio negócio. Com a paridade entre real e dólar em 1995, comprou uma máquina de autoatendimento importada que estourava o milho na hora. “Não queria ter empregado. Pensava que era só deixar o aparelho lá, abastecer com os produtos e recolher o dinheiro”, diz. Com a falta de assistência técnica dos equipamentos e a demanda crescente pelo produto, migrou para a venda com atendentes, no modelo de franquia. “Estava realmente decidido a fazer o negócio dar certo.” A taxa para um quiosque com 6 metros quadrados, onde vão três panelas elétricas, é de R$ 11 mil e dá direito a duas unidades. A aquisição de pequenas máquinas tem empreendedor | janeiro 2009 R$ 5 mil, e o capital de instalação, R$ 3 mil – recurso para adquirir notebook, internet banda larga e abrir uma microempresa. O trabalho dos tutores acontece na casa dos alunos e combina ensino do conteúdo e tratamento das deficiências de aprendizado. “Quando a criança tem alguma dificuldade, normalmente trabalha com psicólogo ou psicopedagogo, que são tratamentos de médio e longo prazos. O professor particular explica o conteúdo, mas não interage com o aluno”, diz Hipólito. Os tutores são professores contratados pelos franqueados, geralmente pessoas graduadas, que trabalham ou gostam de empreender na área de educação. “Temos uma franqueada que atende pessoalmente os alunos, mas isso também limita o número de atendimentos e a expansão do negócio.” Quando aderiu à Tutores, Josiane queria complementar o trabalho de fonoaudióloga. Comprou as seis zonas territoriais de São José dos Campos e, por um tempo, parou de divulgar o serviço em virtude da grande demanda. “Fiquei assustada. Parto do princípio que precisa de uma estrutura e solidez e, para isso, tem que sentir as pessoas com quem você trabalha.” No começo, contratou 10 educadores. Agora, já são 20 integrantes na equipe, aptos a auxiliar crianças e jovens, incluindo universitários e vestibulandos. Seu rendimento mensal supera em 20% o que ganhava com a atuação no consultório, trabalho que está deixando com a alta dos pacientes. Nesse mesmo conceito da Tutores, Hipólito planeja abrir novas franquias ainda neste mês. São negócios para cuidadores de pessoas e idosos (Home Angels), pequenas reformas prediais (Doutor Faz Tudo), manutenção e instalação de computadores (Amigo Computador) e produção de sites para pequenas e médias empresas, além de profissionais liberais ( Web Hunters). “É difícil ter trabalhadores qualificados e encontrá-los rapidamente. Nosso objetivo é facilitar a aproximação entre prestadores e clientes”, afirma. O atual modelo da Tutores, por exemplo, possibilita localizar educadores no site da franquia por meio do código postal. Perceber as demandas da comunidade é um dos requisitos que devem ser levados em conta na hora de abrir um novo empreendimento, ainda que o investimento seja baixo. “Também deve ser levado em conta se os futuros clientes estão dispostos a pagar por aquele serviço o quanto ele realmente custa”, diz 23 C A PA tido bastante procura pelos empreendedores brasileiros, interessados em gastar pouco e abrir um negócio que pode estar em qualquer lugar ou dentro de casa. “Temos percebido interesse pelo setor de beleza”, conta Andréa Faria, coordenadora da Feira do Empreendedor do Sebrae. Há máquinas que pintam unhas, modelos para venda de bebidas, carrinhos para transporte de água e gás, e outras voltadas para artesanato. “Uma máquina de fuxico sai em torno de R$ 300 e pode ser uma excelente fonte de renda, já que muitos produtos podem ser feitos a partir dele”, afirma Andréa. Abrir um negócio baseado na internet é MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL Formalização: R$ 50 Contribuição mensal: INSS: R$ 45,65 ICMS: R$ 1 (comércio e indústria) ISS: R$ 5 (prestadores de serviços) Fonte: Sebrae outra forma que não exige ponto comercial e que pode estar em qualquer lugar. Mas se hoje a internet ajuda – e muito – a alavancar a venda de produtos e serviços, o rendimento e o sucesso dos empreendimentos que começaram existindo apenas no mundo virtual eram duvidosos. “Tudo era muito incerto. Nossa receita era 100% publicidade e isso era visto como se o negócio não fosse sustentável no longo prazo”, diz Eduardo Fleury, sócio-fundador do portal !ObaOba. Com dois amigos, ele criou o veículo de comunicação on-line voltado para o público jovem, contendo programação de bares e casas noturnas de São Paulo. O serviço evoluiu para um guia de entretenimento, com mais de 8 milhões de page views por mês, garantindo acordos publicitários e resultando no crescimento de 40% da empresa, nos dois últimos anos. O investimento inicial de cada sócio foi de apenas R$ 5 mil. “Isso custeou as despesas para fazer matérias para o site e alguns móveis que compramos quando montamos o escritório”, conta Fleury. Antes disso, cada um trabalhava em casa, com computador próprio, nas horas de folga. “Vejo que isso atrasou um pouco as coisas. É um diferencial não precisar viver do negócio, mas também mostra uma estrutura empreendedor | janeiro 2009 Ao fundo: Gorete, arquiteta que trabalhou em casa até juntar dinheiro e clientes. Ao lado: quiosque da franquia Flavored Popocorn. Na outra página, Cristiano Nóbrega e Eduardo Fleury, sócios do !ObaOba 24 irreal de custo e não se exige do empreendimento todo o retorno que ele pode dar.” Durante esse período de quatro anos, o !ObaOba fechou os balanços sem lucro algum. Atualização Somente em 2000, com os primeiros contratos comerciais, a empresa começou a gerar algum rendimento a partir do serviço que oferecia apenas virtualmente. “Todos estavam aprendendo a fazer naquele momento, inclusive as agências de publicidade”, diz Fleury. Segundo ele, há diversas iniciativas de negócios na web, mas o mercado virtual está muito mais competitivo. “Na nossa época, os erros eram mais permitidos. Mas quem começa hoje deve conhecer bem a internet.” Mais uma vez, a dinâmica do negócio exige profissionais em atualização constante. Trabalhar em casa, com pouco investimento, é uma opção também para profissionais liberais em início de carreira. A arquiteta Gorete Colaço transformou um quarto disponível em home office e começou trabalhando ainda sem computador, “apenas com a prancheta”. Com o tempo, adquiriu computador, impressora e fax, dual (MEI), abrangendo todos aqueles com receita bruta de até R$ 36 mil ao ano. “Pode ser qualquer comércio e atividade industrial, artesanato e prestação de serviços que não seja de natureza intelectual”, diz André Spínola, analista de políticas públicas do Sebrae. Alguns exemplos são costureiras, sapateiros, manicures, barbeiros, marceneiros, encanadores e mecânicos. Quem optar pelo MEI poderá formalizarse pagando uma taxa de cerca de R$ 50. “É um público bem principiante em termos de economia. “Justamente por isso pensou-se num sistema que fosse simples e desonerado”, explica Spínola. Mensalmente, o empreendedor deverá pagar um valor fixo de R$ 45,65 para o INSS acrescido de R$ 1 de ICMS, para quem atua no comércio e na indústria, ou de R$ 5 de ISS, para os prestadores de serviços. A taxa será cobrada na conta de luz a partir de 1º de julho, quando a lei deverá entrar em vigor. “A única obrigação burocrática dele é guardar as notas fiscais das compras que fizer. A ideia é também conseguir formalização dessas operações econômicas e a comprovação do faturamento.” Para usufruir desse benefício é necessário abrir uma empresa em uma junta comercial. “A lei prevê um trâmite simples para o registro, que não deve demorar mais do que 48 horas para sair”, afirma Spínola. O MEI pode ter um empregado que recebe salário mínimo e está dispensado da contabilidade. O Sebrae estima que existam 10 milhões de negócios informais e que 4 milhões deles serão formalizados nos próximos quatro anos. “O maior estímulo para a adesão é a cobertura previdenciária e cidadania. Esse dinheiro já circula na economia, mas com a formalização vai começar a aparecer nos indicadores.” LINHA DIRETA André Spínola (Sebrae): (61) 3348-7409 Andréa Faria (Sebrae): (61) 3348-7457 Avon: www.avon.com.br Ênio Pinto (Sebrae): (61) 3348-7206 Flavored Popcorn: (48) 3025-4202 Genial Books: (11) 2215-3322 Gorete Colaço: (21) 2247-8280 Lírio Cipriani (ABEVD): (11) 5042-0587 Lord Cão: (21) 2496-2732 !ObaOba: www.obaoba.com.br Tutores: (19) 3242-3568 empreendedor | janeiro 2009 além de uma linha telefônica para atender somente os clientes. Os primeiros projetos foram feitos para parentes e amigos, que ajudaram a divulgar o trabalho. Em menos de seis meses foi chamada para participar da Casa Cor, onde conseguiu maior exposição e começou a se preparar para alugar uma sala comercial. No período que trabalhou em casa, Gorete conseguiu juntar dinheiro e formar uma carteira de clientes. “Ela foi muito importante para abrir o escritório, porque eu conseguia me manter e bancar os custos fixos”, diz. Em virtude de clientes que exigiam nota, a arquiteta já havia constituído empresa nos primeiros meses de atuação. “Quando o trabalho é uma coisa mais sofisticada e precisa prestar serviços para outras pessoas jurídicas, é interessante se formalizar”, explica Ênio Pinto, gerente do Sebrae. Segundo ele, o mesmo ocorre com profissionais que atuam dentro de uma cadeia produtiva maior. A formalização de pequenos negócios ganhou um grande incentivo no fim do ano passado, com a aprovação do Projeto de Lei Complementar 02/07. Além de ajustes na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, foi criada a categoria do Microempreendedor Indivi- 25