Meus amigos, E um enorme prazer estar aqui. Começo lembrando o poeta maior de Minas, o itabirano Drummond, nos versos sobre o Hotel Tóffolo, de Ouro Preto: há outras fomes e outros alimentos. Aqui, felizmente, há essa generosa merenda instituída por este fidalgo pernambucano, que é Marcos Vilaça -, além de outros alimentos, como o pão de nuvens, de Drummond. De nuvens luminosas, as da boa cultura brasileira que, há 110 anos, é protegida entre essas paredes. Marcos Vilaça, cavaleiro de várias cruzadas, mestre do Direito, pastor das letras, rigoroso fiscal das contas públicas, deixa agora a Presidência da Casa de Machado de Assis com o alforge cheio de feitos orgulhosos. Entendo que o mais importante deles é o de abrir as suas portas, fazer com que daqui se distribua o saber, mas, também, permitir que outros saberes nela penetrem. O espírito humano, e essa é uma das constatações de Vilaça, é tão rico em sua espontaneidade quanto em sua sofisticação. Mesmo na mente do menos escolarizado dos homens, dos mais simples, há manancial de idéias criadoras, inexploradas, à espera dos instrumentos de expressão que são as palavras e as letras. No intercâmbio com todas as camadas da sociedade brasileira, disso estou também certo, ganhará a academia e ganhará o nosso povo. Fiquei satisfeito em saber que o novo presidente, meu amigo Cícero Sandroni, manterá as iniciativas de Marcos Vilaça, entre elas a dessa merenda. Ela é acompanhada do molho da inteligência e do sal do afeto. Como falamos em pernambucanos, há de me permitir Cícero Sandroni lembrar a figura sábia de Austregésilo de Athayde. Sem demérito de ninguém, essa egrégia instituição foi marcada, em seus primeiros cem anos, por dois numes estelares, Machado de Assis, que a concebeu e lhe deu seu sopro vital, e Austregésilo, seu presidente durante trinta e quatro anos, que a retirou do Olimpo para trazê-Ia ao povo, tarefa a que Vilaça deu passos ousados, favorecido pelos novos módulos de convivência da sociedade brasileira. Austregésilo também vinha dos troncos aristocráticos de Pernambuco, e dedicou toda sua vida às letras, das quais foi exímio mestre, e aos seres humanos, na defesa de seus direitos essenciais. A força de suas palavras, que não eram, de forma nenhuma, vãs, como ele, modestamente, as titulava, levou-o às Nações Unidas, que se reorganizavam depois da Guerra, buscando o norte, perdido nos anos 30 pela anterior Liga das Nações. Coube ao brasileiro a tarefa de ser o principal e o mais inspirado dos redatores da Declaração Universal dos Direitos do Homem, esse Documento que fundamenta toda a ação política da Humanidade e que ontem, exatamente ontem, completou sessenta anos. Infelizmente nós a vemos esquecida e violada, mas isso não lhe retira o valor essencial. A autoridade intelectual de Austregésilo e seu cuidado primoroso com o texto do documento fizeram do brasileiro o primeiro entre os seus companheiros na comissão encarregada da grandiosa tarefa. O Brasil e o Mundo lhe devem esse serviço. Tenho uma relação muito familiar com a Academia. Como muitos dos senhores sabem, na minha família, conhecida mais pela atividade política, houve um membro dessa Casa, meu tio Celso Cunha, que se dedicou ao exame da História, à crítica literária e à filologia. Se isso não me credencia no saber, favorece-me na amizade de seus velhos amigos. Meu caro Vilaça, meu prezado Cícero Sandroni. Encontros como esse não pedem discursos, e, sim, conversa fraterna, como as que se fazem junto ao fogão das fazendas mineiras e dos engenhos de Pernambuco. Quis, no entanto, à margem de nosso colóquio ameno e alegre, deixar registrado, nos anais essa Academia o regozijo de estar aqui hoje, com o melhor da cultura brasileira. Trago-lhes de Minas boas novas. Ainda ontem, lançamos o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, quando homenageamos o professor Antônio Cândido, um dos mais brilhantes críticos e formuladores desse nosso tempo. Com essa iniciativa, nossa pretensão era e é a de tornar possível um verdadeiro reencontro de Minas com uma das suas mais caras vocações - a produção literária! Com ele, queremos exercitar o justo e imprescindível reconhecimento aos autores pelo conjunto da obra, assim como permitir espaço e apoio ao inédito. E assim será. Esta, no entanto, isolada, ainda que sustentada pelas nossas melhores intenções. É ato emblemático, que coroa uma série de iniciativas importantes no campo da cultura e da educação, onde fazemos hoje esforços especiais para reverter problemas estruturais, históricos e recuperar aquele conceito tão importante do passado, que tínhamos, os mineiros, um ensino público dos mais respeitados do País. Por isso, caros amigos, decidimos investir recursos próprios para garantir mais de seis milhões de livros aos nossos 900 mil alunos do ensino médio. Por isso, fomos o primeiro estado brasileiro a estender o ensino fundamental para 9 anos e assim dobrar o tempo necessário à alfabetização, etapa tão decisiva na vida escolar e cultural das nossas crianças e o seu futuro. Estamos cumprindo o nosso compromisso de criar as condições para que cada município mineiro tenha pelo menos uma biblioteca pública. Já criamos bibliotecas em 115 cidades. Enfim, vivemos um novo tempo e uma nova esperança em Minas. Digo isso porque estamos orgulhosos dos resultados que nossas crianças já alcançaram nos exames de avaliação independente, existentes no Brasil. Voltamos a liderar em várias matérias, disputando com Estados que não possuem desníveis sociais de Minas. Há cerca de uma semana tivemos notícia melhor ainda: as crianças que mais cresceram no seu desempenho foram justamente aquelas que residem nos municípios pobres de Minas, em especial do Vale do Jequitinhonha e do Norte do Estado. Diminuir as diferenças entre as pessoas e as regiões, essa é a meta do nosso governo e sabemos que só através da universalização de uma educação de qualidade poderemos alcançá-Ia. Vamos continuar investindo, insistindo, e inovando neste campo, porque sabemos que não há outro caminho para o desenvolvimento. Para um desenvolvimento de verdade! Meus amigos, Termino voltando ao começo: estou muito feliz de compartilhar este momento com os senhores. Muito grato, pela merenda e pelos outros alimentos!