1 ANÁLISE HISTÓRICA DA INFLUÊNCIA DA FACULDADE TRIÂNGULO MINEIRO (FTM) NA FORMAÇÃO DE BACHARÉIS EM ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE: DÉCADAS DE 1970 A 2000 Marli Auxiliadora da Silva Universidade Federal de Uberlândia (UFU) [email protected] RESUMO A história da educação superior em Ituiutaba, município localizado no Pontal do Triângulo Mineiro, data de outubro de 1963, quando a Fundação Educacional de Ituiutaba (FEIT) foi criada pela Lei Estadual n° 2.914. No entanto, documentos consideram como a primeira instituição de ensino superior do município, conforme citam Pacheco e Lopes (2009) a instituição denominada Escola de Administração de Ituiutaba (EAEI). Essa instituição foi criada por iniciativa de empresários e profissionais liberais, membros da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba (ACII), em 27 de setembro de 1968, obtendo a autorização do governo federal, por meio do Decreto nº 66.398, para o funcionamento do curso de Administração, em 30 de março de 1970 e iniciando as suas atividades em 1º de abril do mesmo ano. Única instituição de ensino superior (IES) do Pontal do Triângulo Mineiro a ministrar os cursos de Administração e Ciências Contábeis até 2005 a FTM é responsável pela formação acadêmica de 2.500 profissionais em média, sendo 1560 deles bacharéis em Administração e o restante, totalizando em média 950 bacharéis, em Ciências Contábeis. Dada a importância dessa IES para a região investigou-se nesse estudo exploratório a influência da Faculdade Triângulo Mineiro (FTM) na formação dos profissionais bacharéis em Administração e Ciências Contábeis, desde seu funcionamento em 1970 até o presente momento. Por meio de entrevistas com egressos dessa IES, graduados ao longo das décadas de 1970 a 2000, confirmou-se a influência dessa instituição em sua atuação profissional. Todos desenvolvem atividades em diversos segmentos empresariais e atuam como empresários administrando seus próprios negócios, outros atuam como contadores e são prestadores de serviços contábeis e outros atuam como docentes e pesquisadores, entre outras funções e são unânimes em afirmarem que cursaram o ensino superior devido à criação da IES na região do Pontal do Triângulo Mineiro, visto que não possuíam condições de se deslocarem para outros centros urbanos para prosseguirem seus estudos. Observou-se que egressos da primeira turma e outros que se graduaram nas diversas turmas de bacharéis retornaram à própria IES para exercer a docência. Constatou-se, ainda, que para esses egressos o conhecimento acadêmico adquirido ao longo dos anos de sua graduação foram e continuam sendo fundamentais em suas vidas pessoais e profissionais, apesar de algumas críticas ao ensino ali ministrado, visto que não se observou o tripé essencial atribuído ao ensino superior que deve oferecer atividades de ensino, pesquisa e extensão para uma formação acadêmica mais efetiva do graduado. PALAVRAS-CHAVE: História das instituições. Instituição de Ensino Superior. Faculdade Triângulo Mineiro. 1 INTRODUÇÃO O Triângulo Mineiro é considerado uma das regiões mais desenvolvidas de Minas Gerais. Schulz, Gatti Júnior e Silva (s. d.), em estudo relativo às políticas públicas de educação e as instituições de educação superior (IES) do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba citam que “a região do Triângulo Mineiro é um centro de referência econômico e cultural para 2 o Centro Oeste e se constitui em pólo de confluência de diferentes demandas científicas e culturais”. Formado pela união de 36 municípios e 4 microrregiões, o Triângulo Mineiro possui um sistema de educação para onde convergem alunos de toda a região. Dentre os municípios do Triângulo Mineiro, os três primeiros que tiveram instituições de ensino superior foram Uberaba, Uberlândia e Ituiutaba. No momento da criação das primeiras IES no Triângulo Mineiro, nas décadas de 60 e 70, o município de Ituiutaba passava por um processo acelerado de urbanização, industrialização e desenvolvimento econômico. Com características essencialmente agropecuárias, a expansão das lavouras, em especial a cultura do arroz, projetou o município nacionalmente dando a ele o título de “capital do arroz” (IBGE, 1959). Apesar de ter vivenciado um surto minerador, no período de 1935 a 1945, a vocação do município seria a agropecuária e, mais especificamente a cultura do arroz, que elevou Ituiutaba à condição de um dos Celeiros do Triângulo na década de 50. Nesse cenário inúmeras indústrias se instalaram no município. Novais (1974, p. 33) citado por Souza e Ribeiro (2010) destaca que “outras indústrias vieram aos poucos aumentar o ritmo industrial de Ituiutaba, principalmente no que se refere ao setor da rizicultura, contando atualmente com mais de 100 máquinas de beneficiar arroz e seus subprodutos”. Esse fato, aliado à rápida expansão na indústria e comércio, já nas décadas de 60 e 70, e a população migrante do campo para a cidade aumentaram a demanda por serviços públicos, como construção de redes de energia e um novo serviço de abastecimento de água com grande capacidade de captação e tratamento, além da criação de escolas públicas, tanto de 1º e 2º graus, quanto em nível superior. Diante do exposto, esse estudo investigou como ocorreu o processo de criação da Faculdade Triângulo Mineiro (FTM), primeira IES do Pontal do Triângulo Mineiro, que se dedicou ao ensino de Administração e Ciências Contábeis e dessa forma buscou responder aos seguintes questionamentos: quais os interesses, propósitos e motivações que levaram à criação dessa IES? Qual o contexto histórico no qual se insere a proposta de criação do curso de Administração e, na sequência, o curso de Ciências Contábeis por essa instituição? Qual a função social e quais as contribuições dessa instituição de ensino para a região? Quem foram os primeiros professores e alunos e qual a representatividade dessa instituição para esses alunos, professores e comunidade? Qual a influência da IES investigada na formação profissional dos administradores e contabilistas dela egressos? Apresenta-se, na sequência, breve referencial teórico que relata o contexto histórico no qual se inseriu a proposta de criação da FTM assim como os interesses, propósitos e motivações que levaram à criação da IES. Em seguida destacam-se os procedimentos metodológicos, os resultados e a respectiva discussão e, por fim, as considerações. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O Pontal do Triângulo Mineiro e as instituições de ensino superior O Triângulo Mineiro, uma das regiões mais desenvolvidas de Minas Gerais, possui atualmente, um sistema de Educação Superior que oferece diversos cursos de graduação e pós-graduação e é um local para onde convergem alunos de toda a região. Dentre os municípios do Triângulo Mineiro, os três primeiros que tiveram instituições de ensino superior foram Uberaba, Uberlândia e Ituiutaba. Em Uberaba, a primeira IES, denominada Instituto Zootécnico, foi inaugurada no dia 5 de agosto de 1895, com a finalidade de formar profissionais cientificamente preparados para orientar a produção pecuária e teve, inicialmente, uma turma composta por vinte e um alunos. Em 1898 apenas oito conseguiram se formar e obtiveram o diploma de engenheiro agrônomo (BORGES; MACHADO, 2011). Oliveira (2003) ressalta que, quatro anos depois, por 3 divergências políticas o instituto foi fechado pelo então governador Silviano Brandão. Na década de 1940 surgem novas IES como o Instituto Superior de Cultura, criado em 1944, o qual em 1949 converter-se-ia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino (FAFI); a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em 1954; a Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro, em 1966; e a Faculdade de Zootecnia de Uberaba, em 1975. Uberlândia, pólo de distribuição logística, teve seu processo de institucionalização do ensino superior iniciado em 1957 o qual se dividiu em quatro fases principais (BESE, 2007). A primeira, de 1957 a 1966, foi a fase de idealização, durante a qual se criou todo movimento pró-escolas superiores em Uberlândia, e nela se insere a criação das faculdades de Direito, de Filosofia Ciências e Letras e de Ciências Econômicas (e o Conservatório Superior de Música); a segunda fase, de 1966 a 1969, foi a fase da implantação do projeto, já uma experiência no nível de terceiro grau considerada uma experiência mais bem definida na direção de se implantar uma universidade. Nessa fase se insere a criação da Escola Federal de Engenharia, Faculdade de Artes (originada do Conservatório Musical de Uberlândia) e Escolas de Medicina e Cirurgia; a terceira fase, de 1969 a 1976, foi a fase da consolidação, na qual houve a unificação das escolas isoladas para formar a Universidade de Uberlândia; na quarta fase, de 1976 a 1978, ocorreu a federalização da Universidade de Uberlândia. Uberaba e Uberlândia são municípios que compõem o Triângulo Mineiro, mas não se incluem na região do Pontal do Triângulo Mineiro. Nessa região situa-se o município de Ituiutaba, onde as IES surgiram no final da década de 1960 e tiveram seu funcionamento iniciado na década de 1970. A história da educação superior em Ituiutaba data de outubro de 1963, quando a Fundação Educacional de Ituiutaba (FEIT) foi criada pela Lei Estadual n° 2.914, sendo que seu funcionamento efetivo somente se daria a partir da década de 1970. Fontes documentais consideram como a primeira IES do município a Escola de Administração de Ituiutaba (EAEI) (PACHECO; LOPES, 2009). Essa instituição foi criada por iniciativa de empresários e profissionais liberais, membros da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba (ACII), em 27 de setembro de 1968, obtendo a autorização do governo federal, por meio do Decreto nº 66.398, para o funcionamento do curso de Administração, em 30 de março de 1970 e iniciando as suas atividades em 1º de abril do mesmo ano. O contexto histórico no qual se inseriu as discussões para a criação da EAEI, atual FTM evidencia uma economia em crescimento que de acordo com Silva e Quillici Neto (2011) possuía, na década de 1950, a rizicultura como principal atividade econômica, responsável pela projeção de Ituiutaba no cenário nacional como a capital do arroz. Decorrente da produção do arroz inúmeras indústrias para o seu beneficiamento foram instaladas promovendo uma migração de pessoas de varias regiões do país e até mesmo da zona rural para a área urbana e diante desse cenário sócio econômico emerge o propósito de criação de uma instituição de ensino superior, para capacitação de profissionais para atuação nesse mercado industrial em expansão. 2.2 Breve discussão sobre aspectos da proposta de criação da Faculdade Triângulo Mineiro Pesquisa de Silva e Quillici Neto (2011) relata que a ideia de implantação de uma IES no Pontal do Triângulo Mineiro, em específico no município de Ituiutaba, surgiu em 1965 como plataforma de governo do então candidato à prefeitura, o Dr. Álvaro Otávio Macedo de Andrade, mas foi em 1966 que dois fiscais do Estado de Minas Gerais tentaram abrir uma faculdade na cidade, todavia a tentativa não foi exitosa visto a não obtenção de autorização para funcionamento (FTM, 2009). 4 Somente em 1968 o processo de criação e implantação de uma IES teve continuidade. Credita-se esse fato a dois fatores: (1) à Reforma Universitária de 1968, que juntamente com o Decreto-Lei 464/69 consolidaram a reforma prevista na LDB 4.024/1961 e ampliou a oferta de ensino a todos os sistemas; (2) à ação de lideranças políticas e empresariais do município de Ituiutaba que confirmada a necessidade de profissionais na área do conhecimento em Administração para atuação nas mais de 100 indústrias de beneficiamento de arroz e outras instaladas na cidade iniciaram o processo de discussão para a autorização efetiva do funcionamento de uma IES que atendesse não só os anseios do município mas de todos os interessados de seu entorno. A reforma do ensino superior, de acordo com Martins (2009) produziu efeitos inovadores no ensino superior público e abriu condições para o surgimento de um ensino privado a partir de estabelecimentos isolados voltados para a transmissão de conhecimentos de cunho marcadamente profissionalizante. Assim dada a oportunidade apresentada em decorrência da Lei 5.540/68 o Sr. Nivaldo Inácio Moreira, diretor da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Ituiutaba (ACIAPI), hoje Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba (ACII), convocou uma Assembleia Extraordinária com o propósito de discutir a implantação, pela ACII, do curso de Administração de Empresas, a ser ministrado pela Escola de Administração de Empresas de Ituiutaba (EAEI), aos moldes da Associação Comercial de Uberaba que era mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas. A autorização para o funcionamento do curso de Administração de Empresas, por meio do Decreto nº 66.398, foi concedida pelo governo federal em setembro de 1968, porém o ano letivo da primeira turma iniciou-se em 03 de abril de 1970 (SILVA; QUILLICI NETO, 2011). Documentos publicizados confirmam que a justificativa para a criação da Escola Superior de Administração pautou-se na necessidade de formar profissionais para atuarem, de forma eficiente, em um sólido mercado do setor agrícola e empresarial. Discurso proferido pelo Sr. Rafael Eugênio de Azeredo Coutinho, segundo consta em ata lavrada pelo secretário José Feres Sobrinho, explicita que o propósito da ACII era "[...] fazer funcionar em nossa cidade uma escola de ensino superior, a fim de que os nossos jovens, egressos do curso secundário, possam ter, aqui, a continuação de sua vida estudantil". Silva e Quillici Neto (2011, p. 8) citam que declarações do presidente da ACII confirmam que “os estudantes egressos do ensino secundário necessitavam aprofundar seus estudos e como iriam trabalhar na administração das indústrias de beneficiamento de arroz, o curso de Administração de Empresas era o que mais atendia a necessidade instalada”. Outra declaração do citado presidente da ACII refere-se ao fato de que os membros da associação, àquela época possuíam filhos em idade e condições de cursar o ensino superior e, para que administrassem os negócios da família, o curso de Administração de Empresas, era o mais recomendado. Em 1972, a EAEI já funcionava no Campus Universitário, em sede própria, construída em terreno cedido pelo poder público municipal. Em 1975, o Decreto Presidencial nº 76.159 reconheceu a Escola e o Curso. Em 1983 a EAEI passou a chamar-se Escola Superior de Ciências Administrativas de Ituiutaba (ESCAI) e em 1985, em função da instalação do Curso de Ciências Contábeis, a IES passou a ser denominada Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituiutaba (ESCCAI). Em um contexto regional, um grande marco para o Triângulo Mineiro foi a autorização para o funcionamento do curso de Ciências Contábeis da ESCAI, por meio do Decreto nº 89.934, de 10 de julho de 1984, tendo em vista o Parecer do Conselho Federal de Educação nº 359 do mesmo ano. Tal fato atendeu uma demanda social por profissionais mais capacitados e aptos a exercer as atividades contábeis. 5 A partir do ano de 2002, com a criação de dois novos cursos - Publicidade e Propaganda e Turismo, o nome desta instituição passou a Faculdade Triângulo Mineiro (FTM) (SILVA; QUILLICI NETO, 2011). 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Realizou-se nesse estudo exploratório pesquisa bibliográfica para conhecimento das questões relacionadas a expansão e interiorização do ensino superior no Pontal do Triângulo Mineiro, e em especial no município de Ituiutaba. Após esse levantamento realizou-se pesquisa documental a partir de materiais básicos para a reconstrução da história da Faculdade Triângulo Mineiro. Os documentos escritos, disponíveis na Secretaria da FTM, foram trabalhados como fontes primárias, e depoimentos orais de personalidades que idealizaram e criaram a EAEI. Esses depoimentos estão registrados em VTs e fazem parte do acervo da IES. A consulta a documentos disponibilizados pela ACII e pela própria IES como fontes iconográficas, legislações, atas, ofícios, livros de registros, estatutos e regimentos, projetos pedagógicos e diários de classe, além de textos jornalísticos publicizados na imprensa local teve o propósito de (a) catalogar as matérias referentes ao período político, econômico e educacional da região; (b) analisar os documentos relativos ao processo de criação da instituição de ensino; (c) analisar a documentação relativa aos docentes e discentes envolvidos com a instituição de ensino no período analisado. Utilizou-se, também, de narrativas orais por meio de entrevistas com docentes e discentes da IES, objeto de estudo, visando (a) identificar as contribuições da IES para a região na percepção da comunidade; (b) conhecer a representatividade dessa instituição para seus primeiros alunos, professores e personagens envolvidos em sua criação; e (c) verificar o perfil do egresso formado pela IES. Ressalta-se, no entanto, que não foi possível estabelecer contato com os primeiros docentes que ministraram aula na IES investigada, visto que aqueles que ainda são vivos não residem no município e não se obteve o endereço eletrônico ou telefônico dos mesmos para estabelecimento de contato de natureza diversa da presencial. Por conveniência, após o levantamento do número de bacharéis formados pela IES desde a primeira turma, em 1973, foram contatados trinta egressos, todavia as entrevistas foram realizadas com apenas 13 entrevistados que se dispuseram a responder ao instrumento de pesquisa. Dentre os 13 respondentes, cinco entrevistas foram transcritas de DVD gravado pela IES quando de suas comemorações de 40 anos, devido ao fato de que o conteúdo dessa mídia é público. As demais entrevistas foram concedidas pessoalmente no período de janeiro a maio de 2012. Ressalta-se que os entrevistados foram livres para expressar sua opinião a respeito da IES e da importância da mesma para sua formação profissional, visto que foi seguido um roteiro de entrevista não estruturada. Solicitou-se, inicialmente aos mesmos que se identificassem, relatassem brevemente seu perfil profissional e o ano de formação e, em seguida, expusessem a importância da FTM para sua vida pessoal e profissional. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A consulta documental em documentos escritos, disponíveis na Secretaria da FTM, trabalhadas como fontes primárias, e depoimentos orais de personalidades que idealizaram e criaram a EAEI evidenciam que a década de 1960 foi marcada por significativas mudanças na estrutura do ensino superior, visto a possibilidade da participação da iniciativa privada nesse nível de ensino e a análise documental permite inferir que esse momento foi decisivo para as articulações políticas que resultaram no processo de criação dessa IES no município de Ituiutaba, no Pontal do Triângulo Mineiro, atual FTM. 6 Fatores econômicos como o apogeu vivenciado na década de 1950 pela agricultura e pecuária, especialmente a rizicultura que era a principal atividade econômica projetou Ituiutaba no cenário nacional como a capital do arroz e resultou na instalação de inúmeras indústrias para o beneficiamento do arroz produzido nas lavouras locais promovendo uma migração de pessoas de varias regiões do país e até mesmo da zona rural para a área urbana. Diante desse cenário socioeconômico emergiu o propósito de criação de uma instituição de ensino, em nível superior, para formar profissionais para atuarem, de forma eficiente, em um sólido mercado do setor agrícola e empresarial. Fontes documentais, como a ata de reunião da ACII lavrada em 1968, assegura que a principal motivação para a criação da IES era a possibilidade de fazer funcionar na cidade uma escola de ensino superior, a fim de que os jovens, egressos do curso secundário, pudessem ter, aqui, a continuação de sua vida estudantil. Outra motivação refere-se à necessidade que os estudantes egressos do ensino secundário tinham de aprofundar seus estudos para trabalharem na administração das indústrias de beneficiamento de arroz, se filhos dos proprietários dessas indústrias ou, então, para prestarem seus serviços a essas empresas, como auxiliares administrativos. Os diários de classe e registros de matrículas evidenciam que de 1973 até 2011 a IES já graduou 39 turmas de bacharéis em Administração e 24 turmas de bacharéis em Ciências Contábeis totalizando em média, 1.500 administradores e 950 contadores. Em estudo de Silva e Quillici Neto (2011) constam declarações da Secretária da IES, administradora Maria de Lourdes Nogueira, que afirmam que em 03 de abril de 1970 a EAEI iniciou-se o ano letivo com 120 matriculados. Os primeiros professores da EAEI, de acordo com matéria do jornal “Cidade de Ituiutaba” de 12 de março de 1970, foram indicados e aprovados pelo Conselho Federal de Educação no Parecer nº 158/70. Todos eram residentes e domiciliados na cidade, fato que foi objeto de consideração e louvor por parte da Comissão Verificadora para autorização da IES. O corpo docente nos primeiros tempos da EAEI foi composto pelos professores: Dr. Pedro Neto Rodrigues Chaves, David Cury Hanna, Hélio Benício de Paiva, Celso Franco de Gouveia, Rafael Eugênio de Azeredo Coutinho, José Roberto Finoti, Vânia Aparecida Alves de Moraes Jacob, Gerson Abrão, Reinaldo Campos Andraus, Diana Stael Martins Barros, Vanderli Anacleto de Campos, Ataulfo Marques Martins da Costa, José Mauro de Castro, Aluísio Andrade Chaves, Públio Chaves, Osvaldo Pádua Vilela e Jarbas Gomide. Relatos evidenciam que a docência era exercida sem remuneração financeira pelos serviços prestados, por alguns desses docentes. As entrevistas com os discentes graduados pela IES evidenciam a importância dessa instituição em suas vidas pessoais e profissionais. Ressalta-se que os nomes dos egressos constam em DVD gravado pela FTM no momento das comemorações de seus 40 anos de atuação e é objeto de consulta pública. A citação daqueles nomes que não constam nessa fonte documental foi autorizada pelos entrevistados. Entrevistado 1: Iderlindo Joaquim Luzia, administrador egresso da 1ª turma de formandos da IES, em 1973, quando ainda era chamada de EAEI. Comecei a trabalhar na área contábil em 1964 como office boy. Em 1966 comecei a exercer a função de auxiliar de contabilidade para uma cerealista. Em 1967 formei-me como Técnico em Contabilidade e passei a fazer serviços de contabilidade por conta própria para um grupo de cerealistas. Em 1970 montei com dois amigos o Escritório Modelo. Três anos depois desfiz a sociedade e continuei trabalhando como autônomo, fazendo os serviços contábeis nas próprias empresas dos clientes. Também em 1970 iniciei o curso de Administração de Empresas, na Escola de Administração de Empresas de Ituiutaba (EAEI) concluindo em 1973. Já em 1974 comecei a lecionar Contabilidade de Custos nessa mesma instituição, na Escola de Administração de Empresas de Ituiutaba. Também nesse mesmo ano comecei a lecionar na Escola Professora 7 Maria de Barros, na cadeira de Contabilidade e Custos. Em 1983 adquiri o acerto de um pequeno escritório contábil ao qual dei o nome de Escritório Visão, empresa essa que é minha até hoje. Com relação à influência da FTM em minha pessoal e profissional só posso dizer que essa IES foi muito importante em minha vida. De 1974 até 2010 fui professor dessa instituição em diversas cadeiras, além de ter atuado como tesoureiro em diversas gestões. Sinto que faço parte dessa IES e que, o que sou como pessoa e profissional devo à FTM. Sinto, também, que contribui muito para o crescimento da FTM e como docente prestei muitos bons serviços à Ituiutaba e região. Entrevistado 2: Fernando Alves Viali, graduado em Administração na turma de 1982. É advogado atuante na área civil e criminal, além de ex-diretor e atual professor da FTM. Sou Fernando Alves Viali e me graduei aqui na antiga ESCCAI na turma de 1982 da qual fui orador e, na sequência, me bacharelei em Direito. Após a segunda graduação lecionei as disciplinas de Direito aplicada ao curso de Administração, Ciências Contábeis, Publicidade e Propaganda e Turismo nessa instituição. Em 1º de abril de 1996 assumi a direção da FTM. Em toda minha trajetória profissional essa instituição foi fundamental assim como o é para toda a região do Pontal do Triângulo Mineiro. Entrevistado 3: Celso Guimarães da Costa, bacharel em Administração pela turma de 1983. Foi professor da própria IES no período de 1989 a 1994, além de professor e diretor da Escola Estadual Professora Maria de Barros. Atualmente é contador e presidente do Sindicato dos Contabilistas de Ituiutaba (SINCONI). Meu nome é Celso Guimarães e posso dizer que a FTM exerceu uma influência muito grande em minha formação profissional. Numa época em que sair da cidade para cursar o ensino superior era praticamente impossível para mim tive a oportunidade de me tornar bacharel em Administração aqui mesmo em Ituiutaba. Dez anos após a criação da IES me tornei um administrador. Na ocasião já trabalhava em escritório de contabilidade, pois tinha cursado o Técnico em Contabilidade na Escola Maria de Barros. A importância dessa IES é tão grande que depois de formado comecei também a ministrar aulas no mesmo curso técnico profissionalizante. Fui professor no período de 1984 a 2005. Também fui diretor da Escola Maria de Barros pelo período de 1993 a 2002. Numa época em que não era necessário ter pós-graduação para ministrar aulas em faculdades fui convidado a trabalhar como professor na ESCCAI e ali permaneci de 1989 a 1994. Porém, fiz a opção de me dedicar ao ensino profissionalizante e à minha própria profissão de contabilista, pois tinha planos de abrir meu próprio escritório de contabilidade. Atualmente não trabalho mais com a docência, mas exerço minha profissão em meu escritório e sou o atual presidente do SINCONI. O que falar da FTM? Posso dizer que uma cidade e uma região que tem o privilégio de ter uma escola de ensino superior possuem muito mais condições de se desenvolver em todos os setores. As pessoas precisam se conscientizar de que o estudo é um recurso fundamental para o sucesso profissional... lógico que o estudo continuado. Não adianta cursar uma faculdade e achar que sabe tudo porque as coisas, especialmente, na área contábil tão atrelada à legislações mudam a todo o instante. Essa IES não me ensinou tudo, mas me ensinou que o necessário para que eu pudesse me realizar pessoal e profissionalmente. Entrevistado 4: Elton Ângelo Garcia, graduado em Administração na turma de 1987. É empresário do setor varejista de calçados. Proprietário de empresa no setor de Comunicação. Foi presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas no período de 2008 a 2010. É membro atuante de diversas instituições, como a ACII, Lions Clube e outras. Meu nome é Elton Ângelo Garcia, eu sou Administrador de Empresas pela ESCCAI, hoje FTM, formado no ano de 1987. Eu vivi momentos maravilhosos aqui na escola. É uma escola que eu recomendo a todas as pessoas que queiram realmente estudar e ter um diploma que tem credibilidade no mercado. Para mim foi uma satisfação porque fiz muitos amigos e 8 aprendi muito. Eu tenho uma recordação muito boa dessa escola porque todo aquele período que passei aqui eu conheci também minha esposa e que hoje é mãe dos meus filhos. Então a escola tem além do passado bonito, tem o futuro também porque eu construi aqui dentro. Entrevistado 5: Silvio Divino Vilarinho, graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade Triângulo Mineiro, em 1988. É contador, diretor administrativo da empresa Silva e Vilarinho Ltda. - Escritório Ituiutaba. Atua como docente na FTM e é o atual presidente da ACII. Me graduei na 1ª turma do curso de Ciências Contábeis da ESCCAI. Na época já trabalhava com contabilidade, pois tinha cursado o Técnico em Contabilidade na Escola Professora Maria de Barros, mas um curso superior é um diferencial na vida da gente, principalmente para o contador, pois temos atribuições que somente o contador pode exercer. Me graduei com dificuldades sim, porque a mensalidade de uma faculdade particular é custosa, principalmente para quem trabalha como empregado, mas tão logo me formei comecei a trabalhar inclusive como professor ministrando aulas na Escola Maria de Barros, no ensino profissionalizante de Contabilidade. Hoje atuo na área contábil, como contador, além de trabalhar na própria Faculdade Triângulo Mineiro, onde ministro aulas nas disciplinas Contabilidade de Custos e Ética Geral e Profissional. Sou, ainda, o atual presidente da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba (ACII). Considero a FTM um marco para Ituiutaba e região. Numa época em que tantos precisavam ir para outras cidades para cursar o ensino superior, dirigentes locais de muita visão uniram seus esforços e conseguiram autorização para abertura de uma escola de ensino superior na região do Pontal do Triângulo Mineiro. É inegável a importância da FTM para o município e o seu entorno. A IES atende a estudantes de todo Pontal e, também, do Sudoeste Goiano. Sua missão que é o ensino voltado para o desenvolvimento regional é plenamente cumprido. Entrevistado 6: Gemides Belchior Júnior. Graduado em Ciências Contábeis na turma de 1989 bacharel em Administração graduado em 1991. Foi professor na Escola Maria de Barros no período de 1995 a 2002. É contador atuante, sendo proprietário de escritório de contabilidade há mais de 20 anos, além de atuar também como advogado. Foi presidente do Sindicato dos Contabilistas de Ituiutaba (SINCONI) por duas gestões consecutivas e é delegado do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais. Sou formado em Ciências Contábeis pela ESCCAI, hoje FTM. No ano de 1989 foi a nossa formatura. Hoje eu me sinto realizado em ter passado um período aqui na faculdade. Serviu muito bem para mim, para o meu crescimento e valorização profissional. E Ciências Contábeis é um curso que dá um embasamento legal para todo aquele que queira atuar como contador. Esse curso apresenta o local indicado para você atuar e ser aluno da FTM foi muito importante para que eu pudesse exercer minha profissão e ainda representar minha classe junto a todo o estado de Minas Gerais. Entrevistada 7: Marli Auxiliadora da Silva, Graduada em Ciências Contábeis pela Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituiutaba em 1991. É mestre em contabilidade pela Universidade da São Paulo e doutoranda em Educação e professora na Universidade Federal de Uberlândia. Sou contadora formada pela FTM, antiga ESCCAI, em 1991. Busquei cursar Ciências Contábeis porque como já era técnica em contabilidade sabia que um curso superior iria agregar muito mais conhecimento, necessário à minha vida profissional. Tenho que confessar que esperava mais do ensino superior, principalmente do curso no qual estudava: como já atuava profissionalmente buscava respostas para todas as minhas dúvidas e questionamentos, mas na época não tínhamos um laboratório para aulas práticas e nem uma Empresa Júnior onde pudéssemos vivenciar situações cotidianas da vida de um profissional em contabilidade. Nossas aulas eram todas teóricas e não tínhamos atividades de extensão nem de pesquisa. Acho que por isso mesmo me encantei pela educação e percebi que mais 9 que contadora queria ser professora e, por isso, posso dizer que a influência da FTM em minha vida profissional é inquestionável: decidi ser professora para tentar fazer uma prática diferente daquela de muitos de meus professores. Assim que me graduei, comecei a atuar na docência no ensino profissionalizante. Daí para a docência no ensino superior, na própria IES onde me graduei, foi um passo. De 2003 a 2009 fui professora na FTM e, apesar da dificuldade, pude contribuir com a realização de algumas atividades de extensão e pesquisa, além de ter cursado o mestrado em contabilidade, visto que a pós-graduação era um de meus objetivos profissionais. Atualmente continuo na docência só que em uma IES federal. Toda a minha trajetória acadêmica foi possibilitada pela graduação que cursei na FTM e, da mesma forma que me sinto modificada por essa IES tenho certeza que muitos outros profissionais tiveram ali ensinamentos importantes para seu sucesso profissional. Entrevistada 8: Alessandra Aparecida Franco, bacharel em Administração pela turma de 1993. É pós-graduada em Gerência Empresarial e mestre em Administração na área de concentração em Gestão de Produtividade Organizacional desde 2006. Atualmente é professora titular da FTM nos cursos de Administração e Ciências Contábeis, além de coordenadora do curso de Ciências Contábeis nessa mesma IES. Eu sou Alessandra Franco e me graduei na FTM antiga ESCCAI. Hoje atuando como docente, na própria instituição, eu faço parte de sua história, são quarenta anos de uma instituição que conseguiu se consolidar ao longo desse período. Uma instituição que marcou presença e marca presença em todo o Pontal do Triângulo. Nós temos alunos que abrangem todas as cidades e nós sabemos que hoje dentro de um enfoque regional, dentro desse contexto nós temos profissionais espalhados por todas as cidades daqui dessa região. E temos muito orgulho de dizer que fazemos parte dessa história, somos membros ativos da questão acadêmica em busca da qualidade pelo ensino que é o objetivo maior da instituição. Entrevistado 9: Sandro Batista Salomão, graduado em Ciências Contábeis na turma de 1994. É diretor do Departamento de Administração da Prefeitura Municipal de Ituiutaba e Presidente da Comissão Permanente de Licitação. É, também, auditor da Liga Desportiva de Ituiutaba. Meu nome é Sandro Batista Salomão, com muito orgulho faço parte da história da escola, dos quarenta anos da escola, me formei na turma de Contábeis de 1994 e nessa faculdade onde vivi aqui parte da minha vida com muito orgulho. E esses anos marcaram realmente e me prepararam para o mercado de trabalho e me fez um cidadão mais consciente e como eu disse mais preparado. Entrevistado 10: Weslley do Amaral Prado, graduado no curso de Administração de Empresas pela ESCCAI, na turma de 1995, hoje FTM. Possui pós-graduação como Agente de desenvolvimento em Cooperativas pela Universidade Newton Paiva de Belo Horizonte além de ser pós-graduado em Comunicação e Marketing pela Fundação Cásper Líbero de São Paulo. É técnico do SEBRAE e já foi coordenador do curso de Administração da IES sendo, atualmente, diretor da FTM. Meu nome é Wesley sou formado em Administração pela FTM, Faculdade do Triângulo Mineiro. Hoje atuo como técnico no SEBRAE Minas na microrregião de Ituiutaba. Fui coordenador do curso de Administração da FTM e hoje sou diretor da instituição. A minha formação nessa conceituada faculdade foi de total importância uma vez que as experiências dos meus professores contribuíram bastante para a execução dos meus trabalhos e atividades no dia a dia no mercado. Então a FTM teve um papel fundamental, uma vez que o ensino é bem fundamentado, onde consegue alinhar a teoria com a prática embasando o aluno para atuar assim que consegue a sua formatura. Entrevistado 11: Marcus Sérgio Satto Vilela, bacharel em Ciências Contábeis, graduado em 1996. Atua como professor universitário. 10 Ingressei na Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituiutaba (ESCCAI) em 1994, por meio de uma transferência, pois morava em São Paulo onde iniciei meu curso de Ciências Contábeis, sendo dessa forma, dispensado de cursar algumas disciplinas. Na ESCCAI cursei o 3º e 4º anos do curso de Ciências Contábeis, participando da solenidade de formatura em 1995. Pelo fato de ter sido transferido, em 1996, foi necessário cursar mais duas disciplinas para efeito de complementação de carga horária. Oficialmente conclui meu curso nesse ano. Durante esse ano, por ter diversos horários vagos, pude auxiliar alguns professores (meus ex-professores) em atividades de monitoria informal, pois não existia essa função de forma institucionalizada. Foram algumas atividades com e sem a presença do professor em sala de aula. Essa experiência foi muito importante para mim, pois possibilitou que a diretoria ficasse me conhecendo, e culminou com a minha contratação no ano seguinte (1997). Minha vida profissional pode ser definida por dois grandes momentos: quando iniciei a docência em 1997 e quando sai dela, em 2009, para exercer a docência em outra instituição de ensino (a Universidade Federal de Uberlândia – Campus Pontal), atividade que exerço atualmente. Durante minha estada na ESCCAI, além da docência de diversas disciplinas, pude exercer o cargo de coordenador de curso, conhecendo mais a fundo as funções administrativas e pedagógicas dentro de uma instituição de ensino, o que me auxilia ate hoje em minhas atividades na atual IES. Indiscutivelmente minha vida profissional é marcada pela ESCCAI (atual FTM), pois sem a formação acadêmica que recebi durante meu curso e sem a oportunidade de iniciar a docência, hoje com certeza não estaria no serviço público federal. Entrevistada 12. Rejane Alexandrina Domingues Pereira do Prado, graduada em Administração em 2002. Atuou como administradora em empresas locais e como consultora e instrutora da SEBRAE. Foi docente na própria FTM, UNOPAR e, atualmente é docente com dedicação exclusiva na Universidade Federal de Uberlândia. Estudei na Faculdade Triângulo Mineiro, onde conclui o bacharelado em Administração no ano de 2002. Quando cursei a graduação morava em uma cidade próxima a Ituiutaba, residia em Monte Alegre de Minas e, posso afirmar que essa IES devido à proximidade, com minha cidade natal que não tem escolas de ensino superior, foi minha opção à época. É inegável a influência dessa IES em minha vida profissional, pois antes de concluir a graduação já trabalhava na área. A missão dessa IES é a atuação voltada para o desenvolvimento regional com foco no mercado, e confirmando essa vocação em formar profissionais para atuar no mercado de trabalho local e regional posso afirmar que alguns componentes curriculares foram muito proveitosos e, de fato, proporcionaram embasamento para minha atuação profissional, porém muitos outros conteúdos ministrados deixaram a desejar. Sinto que poderiam ter sido mais explorados pelos docentes, porém creio que a formação acadêmica da maioria dos docentes, que eram apenas graduados ou tão somente especialistas, foi a causa dessa percepção de minha parte. Na época desenvolviam-se na IES apenas atividades de ensino, não se praticava a pesquisa nem tão pouco a extensão. Também não havia proximidade da IES com as empresas locais para desenvolvimento de pesquisa ou estágio e nem tínhamos empresa júnior, essencial em cursos de administração, em minha opinião. Sei que atualmente a IES tem desenvolvido projetos de pesquisa e extensão e os docentes tem buscado mais capacitação e acredito que isso poderá contribuir muito para a formação acadêmica dos discentes. Sinto que minha formação acadêmica poderia ter sido mais completa, todavia posso afirmar com certeza que a FTM contribuiu positivamente para o que sou hoje. 11 Entrevistado 13. Jarbas Raimundo do Prado Filho, graduado em Administração no ano de 2004. Foi gerente administrativo de uma empresa varejista de confecções e atualmente é funcionário público estadual atuando como soldado da Polícia Militar. Ter estudado na FTM contribuiu muito para minha vida profissional. Gostei muito do curso que fiz e utilizo bastante tudo o que aprendi no meu atual trabalho. Acho que a FTM foi uma opção para muitos estudantes da cidade e de toda a região de cursar o ensino superior, principalmente para estudar em um curso de gestão, tão necessário para a atuação em qualquer tipo de empresa. Apesar de termos faculdades federais com ensino público e gratuito muito próximo de Ituiutaba, como a UFU, por exemplo, em Uberlândia, a maioria dos estudantes da FTM trabalha o dia todo e não teria condições de estudar em uma IES federal, por isso a contribuição da FTM, que apesar de ser uma faculdade particular e paga torna possível a graduação de tantos profissionais que desde 1973 prestam tão bons serviços à comunidade local e regional. 5 CONSIDERAÇÕES Buscou-se conhecer e discutir, nesse estudo, as motivações que resultaram na criação da Faculdade Triângulo Mineiro, uma escola de ensino superior que ministra desde a década de 1970 o ensino de Administração e, a partir de 1985, o curso de Ciências Contábeis. Foi objetivo da pesquisa, também, a identificação e análise da influência da Faculdade Triângulo Mineiro (FTM) na formação profissional de administradores e contabilistas do município de Ituiutaba (MG). Constatou-se que os propósitos e motivações que levaram à criação da Escola de Administração de Empresas de Ituiutaba decorreram da necessidade de formação de profissionais para atuação nas indústrias locais, especialmente aquelas de beneficiamento do arroz, a cultura em evidência no município na década de 50 e 60. Devido ao momento histórico e a crescente urbanização e industrialização do município além da vocação para a pecuária e agricultura a FTM, primeira IES instalada no município de Ituiutaba no Pontal do Triângulo Mineiro, efetivamente teve por objetivo capacitar pessoas para atuação profissional no mercado local e, evitar a migração para centros urbanos maiores onde já se instalara instituições de ensino superior, fossem públicas ou privadas. Confirmou-se, que em decorrência da Lei 5.540/68, a Lei da Reforma Universitária, a interiorização do ensino superior foi possibilitada e, devido à articulação de empresários e lideranças políticas, o governo autorizou a criação e financiamento da IES para o atendimento de uma demanda local, visto que já havia instalado no município inúmeros grupos escolares e escolas de 2º grau e, até mesmo escolas profissionalizantes. A quantidade de interessados em cursar o ensino superior que não possuíam condições financeiras para deslocamento a outros centros universitários justifica o número de ingressantes, 120 alunos, na primeira turma iniciada em 1970. Verificou-se que os primeiros professores eram profissionais de áreas diversas, muitos deles advogados, que se dispuseram a ministrar aulas, inclusive sem remuneração financeira pelos serviços prestados. Confirmou-se, também, a influência da IES na atuação profissional de todos os egressos. Os bacharéis desenvolvem atividades em diversos segmentos empresariais e atuam como empresários administrando seus próprios negócios, alguns atuam como contadores e são prestadores de serviços contábeis e outros atuam como docentes e pesquisadores, entre outras funções e são unânimes em afirmarem que cursaram o ensino superior devido à criação dessa IES na região do Pontal do Triângulo Mineiro, visto que não possuíam condições de se deslocarem para outros centros urbanos para prosseguirem seus estudos. A criação da IES foi, então, decisiva para que muitos cursassem o ensino superior, visto suas condições financeiras. 12 Observou-se que egressos da primeira turma de graduandos e outros que se graduaram nas diversas turmas de bacharéis retornaram à própria IES para exercer a docência. Constatou-se, ainda, que para esses egressos o conhecimento acadêmico adquirido ao longo dos anos de sua graduação foram e continuam sendo fundamentais em suas vidas pessoais e profissionais, apesar de algumas críticas ao ensino ali ministrado, visto que no momento da graduação não se observou o tripé essencial atribuído ao ensino superior que deve oferecer atividades de ensino, pesquisa e extensão. Constata-se, no entanto a preocupação da IES com esse tripé, especialmente nesta última década, pois atividades de pesquisa financiadas por órgãos de fomento como FAPEMIG e CNPq têm sido desenvolvidas vislumbrando-se a contribuição para uma formação acadêmica mais efetiva. Conclui-se que o momento histórico vivenciado, marcado pelas reformas universitárias, de 1961 e 1968, ensejou a implantação da EAEI no município de Ituiutaba e que essa instituição contribuiu para a formação de uma média de 2500 estudantes ao longo de 42 anos de atuação na região do Pontal do Triângulo Mineiro. Pretende-se, em trabalhos posteriores e em prosseguimento ao estudo, se possível, entrevistar todos os docentes que ali ministraram suas aulas, além de expandir a amostra investigada para confirmar se as percepções dos egressos quanto à influência da FTM em sua trajetória profissional são similares. REFERÊNCIAS BESE, Regina Macedo Boaventura. Expansão e interiorização da educação superior. 2007. Disponível em: <http://www.gestaouniversitaria.com.br/monografias-e-trabalhos/508expansao-e-interiorizacao-da-educacao-superior.html>. Acesso em 12 abr. 2011. BORGES, Vera Lúcia Abrão; MACHADO, Sonaly Pereira de Souza. Instituto Zootécnico de Uberaba: breve vigência de 1895 a 1898. Cadernos de História da Educação, v. 10, n. 1, jan./jun. 2011, p. 237-258. BRASIL. Decreto nº 89.934, de 10 de julho de 1984. Autoriza o funcionamento do curso de Ciências Contábeis da escola Superior de Ciências Administrativas de Ituiutaba. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jul. 1984. ______. 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