A CONSTRUÇÃO DOS SENTIMENTOS Edson José Alves Sentimentos e pensamentos proliferam em nossas mentes, frutos de uma total desordem mental, sentimental e espiritual. Julgamentos aleatórios e precipitados criam sentimentos possessivos, angústia, autopunição, sensação de injustiça, de solidão e de abandono. A mente humana cria com extrema facilidade pensamentos e sentimentos negativos, principalmente nos momentos difíceis. Os nossos problemas se transformam nos maiores problemas do mundo. Esquecemos-nos das pessoas que gostariam de ter do que duvidar, de ter até mesmo um motivo para chorar. Quantas pessoas no mundo estão deitadas em um leito de hospital, desde o seu primeiro dia de vida? Quantos gostariam de ter amado alguém e até mesmo se decepcionado? Sentimo-nos frustrados ou fomos nós que criamos falsas expectativas? Muitas vezes nos sentimos injustiçados pela vida, como se existissem ditadores nos governando e nos obrigando a aceitar o modo com que nos tratam e como devemos viver. Os nossos pensamentos e sentimentos negativos proliferam como bactérias, como células cancerígenas. Muitas vezes, tentando nos salvar, dissemos tudo que nos vem à mente, envenenando os nossos corações como serpentes. Quando criamos pensamentos e sentimentos negativos em nossos corações, estes poderão estar nos levando aos estágios máximos da destruição dos nossos relacionamentos. Suicídios, crimes passionais, angústia, depressão, solidão, sensação de injustiça e tantos outros modos negativos de pensar e de sentir. Muitas vezes me parece que eu não faço parte do meu próprio problema. Parece-nos que não somos nós mesmos que os criamos e que tiranos estão a nos impor a vida que nós nos permitimos viver, o nosso modo de ser e a nossa maneira de pensar, de sentir e até mesmo de demonstrarmos os sentimentos. Por total desconhecimento de nós mesmos julgamos os outros. Muitas vezes tentando nos proteger, nos projetamos nas pessoas e dissemos que elas que nos julgam. No entanto, isso só reflete o nosso medo. O medo de enfrentar as nossas próprias verdades. Julgamos as pessoas como se tivéssemos esse direito. Porque nos sentimos perfeitos, nós nunca erramos, eu sou modelo de ética e de moral. Construímos assim uma muralha para nos eximir das nossas responsabilidades, onde eu sou o centro de tudo e não existe diálogo que me faça entender que sou o meu próprio problema. E que não existe ninguém além de mim mesmo responsável pelo que sinto pelo que penso e pelo o que me permito viver. Assim, nos sentimos injustiçados diante das nossas provações. Esquecemo-nos que somos humanos, que todos erramos uns com os outros. No entanto, é importante admitir que o maior erro seja aquele que eu cometo comigo mesmo. E que a maior grandeza está em reconhecer as nossas limitações e não em fazer acusações. Jesus, o mensageiro de Deus, era tão humano, que se sentiu abandonado, teve também o seu momento de angústia, quando disse: “Deus, porque Tu me abandonaste?”. No entanto, logo em seguida ele reconstruiu o seu pensamento, pois sabia que aquele era o seu desafio e disse: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem”. E é assim que devemos compreender que as pessoas erram, não para nos magoar, mas porque não sabem o que fazem. E é por isso que devemos compreendê-las e perdoá-las, não para que nos amem. Mas é compreendendo e perdoando os outros que passo a me compreender e perdoar-me também. Construir sentimentos como compreensão, carinho, amor, compaixão e esperança nos momentos em que me sinto agredido nos parece extremamente complexo, porque revidar uma agressão é um instinto de autodefesa. No entanto, fazendo isso, eu só pioro a situação. Por isso, é fácil compreender quando Jesus nos dizia para dar a outra face em vez de revidarmos quando alguém nos ofende. Como compreender alguém se eu não me compreendo e se me comporto de forma incoerente? Como dar carinho a alguém se eu mesmo não me acaricio? Como posso amar alguém se eu sou o meu próprio algoz? Como posso ter esperança se os meus pensamentos e os meus sentimentos só me levam aos ressentimentos e às mágoas? Como posso construir os meus pensamentos e vinculá-los aos meus melhores sentimentos? Pai, Tu que és a própria palavra, Tu que és a nossa fonte de inspiração nos momentos de solidão, eu Te peço perdão. Por todos nós, por toda a humanidade. Não foi porque esquecemos de Ti, foi porque nos perdemos em nós mesmos. Na nossa própria vaidade, talvez por querer ser como Ti. Os nossos pensamentos negativos e os nossos erros do passado nos aprisionam em celas solitárias sem luz. No calabouço da culpa sofremos, fazemos os outros sofrerem e criamos mais angústia. Só sabemos nos culpar e culpar os outros. Esse tipo de construção é simples, quase que um padrão de conduta social. Nos deixamos levar por esse primeiro pensamento e muitas vezes dele acontecem todos os tipos de tragédias sociais. Construir sentimentos positivos diante de situações negativas é um desafio, que quando superado torna-se uma verdadeira glória. No entanto na maioria das vezes, nos colocamos na condição de vítimas e achamos que os outros estão sempre a nos magoar. A construção dos nossos sentimentos é fruto da maneira como processamos os nossos sentimentos. Alguém pode cometer um grave erro conosco, no entanto, se não ficarmos alimentando sentimentos de posse e fazendo julgamentos precipitados, não criamos mais angústia, mais discórdia e não ficamos inconformados com a vida. Quando alguém erra conosco e o compreendemos, não julgamos não nos sentimos injustiçados e não criamos formas negativas de nos avaliar e avaliar as outras pessoas. O perdão e a compaixão são construídos com pensamentos e sentimentos muito positivos, frutos de uma total doação e de um conhecimento profundo do que somos e das limitações de cada um. Para a maioria, é muito mais fácil construir sentimentos como a raiva, o ódio, o ressentimento, as mágoas do que simplesmente perdoar e se perdoar. Na verdade, a humanidade é masoquista. Por isso, as televisões e os jornais dão tanta importância para as tragédias sociais. Nós construímos os nossos sentimentos a partir do nosso modo de pensar. Se me sinto magoado por alguém, é porque eu permiti que me magoasse, ou porque eu quis me sentir assim. Não é o que o outro faz ou o que ele me diz que me magoa. É como eu direciono os meus pensamentos e os meus sentimentos. Na maioria das vezes, as pessoas tentando se justificar ficam alimentando mágoas e ressentimentos sobre atitudes ocorridas no passado e que já foram superadas. Ninguém poderá dizer quem eu sou a não ser eu mesmo. Ninguém poderá me dizer o que eu devo me permitir viver, a não ser eu mesmo. Esse tipo de compreensão é fundamental para entendermos que ficar guardando fantasmas e alimentando sofrimentos só nos faz sofrer ainda mais. A vida é muito rápida, por isso não precisamos ficar nos mutilando e até mesmo mutilando as pessoas que gostamos porque elas não satisfazem as nossas vontades e porque não são perfeitas. O ser humano está sempre em evolução e os nossos erros são mecanismos que nos colocam diante de conflitos para que possamos encontrar os melhores caminhos para continuarmos a nossa jornada. Onde poderemos escolher se os nossos sentimentos serão frutos das nossas relações carnais, ou das nossas relações espirituais. A construção dos nossos sentimentos e dos nossos pensamentos deve seguir sempre um mesmo norte. Devemos ser coerentes. Talvez esse seja o maior desafio do ser humano, ser coerente em suas escolhas. E principalmente na escolha dos seus sentimentos. E é essa escolha que faz com que os nossos medos e os nossos obstáculos se tornem pequenos diante da nossa força interior.