> Ciência & Tecnologia “O Brasil tem capacidade de criar o que quiser” Para diretor do Inpe, País pode ter uma indústria espacial tão bem-sucedida quanto à aeronáutica, basta planejamento » Por Daniela Borges eblina que baixa é sol que ra‐ cha. Os mais antigos arriscam a previsão do tempo só de olhar para o céu. Sabedoria popular que vem dos nossos avós e de um pas‐ sado quase sempre rural. Hoje, com apenas um clique, é possível saber com incrível precisão como vai ser o clima com dias de antecedência. Recurso, aliás, mui‐ to utilizado nesses dias de inverno e de crise hídrica. O Brasil possui uma das tecnologias mais avança‐ das em previsões meteorológicas do mundo, recurso estratégico que integra o variado leque de atuações do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) por intermédio do Cptec (Centro de Previsões do Tempo e Estudos Climáticos). Tudo o que o Instituto faz tem a ver com o espaço e com satélites. Criado em 1961 como uma iniciativa ci‐ vil para desenvolvimento do setor espacial brasileiro, sua primeira área de atuação foi no campo da pesqui‐ sa da endosfera (camada mais externa da atmosfera). Em seguida, o instituto passou a desenvolver proje‐ tos na área de meteorologia científica. Mas para gerar previsão de tempo era preciso ter acesso ao espaço. Então foi desenvolvida a área de observação da terra, a partir de imagens de satélite. Por último, o Inpe passou a monitorar a atividade do homem e ver seus impactos, principalmente na área de mudanças climáticas. Função. Sua atuação hoje está concentrada em três áre‐ as: no acesso ao espaço, ou seja, colocar sistemas em órbita e gerar informações sobre o planeta; rastreio e controle de satélites, ligados à formação de infraestru‐ tura de solo para manter o sistema em órbita e con‐ trolá‐lo da terra, receber e distribuir as informações 100 > + São José > julho de 2015 que esses sistemas geram; e a última área que é a de aplicações, como na meteorologia, observação da ter‐ ra, ciência espacial. “O projeto de fabricação dos siste‐ mas espaciais acontece aqui, que inclui a colocação do objeto em órbita, seu projeto e fabricação. Mas, numa segunda fase, nós contratamos a indústria para produ‐ zir esse sistema”, explica Leonel Perondi, diretor geral do Inpe em São José dos Campos. “Recebemos dados hoje de 14 satélites. Não são só satélites brasileiros. Al‐ guns na forma de cooperações internacionais e outras na forma de compra de imagens. Somos depositários de todas essas informações”. Aliás, segundo o diretor do instituto, o Inpe de‐ sempenha papel estratégico com o projeto de cria‐ ção de satélites. “A questão econômica está ligada à social. Países que só geram matéria‐prima têm empregos com baixa remuneração. Você vai ter um governo muito rico e uma massa que ganha pouco”. Segundo ele, para gerar distribuição da renda é pre‐ ciso ir além das atividades de baixo valor agregado. “Quanto mais conhecimento aportado pelo trabalha‐ dor, mais ele será bem remunerado, com indústrias que pagam cada vez melhor. Logo, distribuição de renda se faz com trabalho bem remunerado”. Para muito além da sua importante atuação, o Inpe é responsável por atrair indústrias de alta tec‐ nologia para São José dos Campos interessadas em desenvolver projetos espaciais, como os satélites. O impacto econômico deste fomento industrial é funda‐ mental para o desenvolvimento econômico da cidade, com reflexo na geração de empregos de alto nível. Portanto, da mesma forma que o CTA foi para a indústria aeronáutica, o Inpe é para a espacial. “Nos últimos 10 anos contratamos três satélites na indús‐ tria, todos lançados, com contratos industriais supe‐ riores a R$ 300 milhões. Investimos na indústria bra‐ sileira para que ela tenha capacidade de produzir.” O sonho de Perondi, que é engenheiro aeronáu‐ “Quanto mais conhecimento aportado pelo trabalhador, mais ele será bem remunerado, com indústrias que pagam cada vez melhor. Logo, distribuição de renda se faz com trabalho bem remunerado”. Leonel Perondi, diretor do Inpe tico, é ver uma indústria espacial brasileira nos mol‐ des do que foi feito com a indústria aeronáutica. Para ele, com planejamento, o Brasil tem capacidade para criar o que quiser. “Se o Brasil tiver um plano bem feito, terá condi‐ ções de desenvolver uma indústria espacial que em‐ prega muita gente. Toda a informação sobre o plane‐ ta é obtida por sistemas espaciais. O mundo caminha pra isso. Você usa satélite pra tudo, para planejamen‐ to urbano, escala, zoneamento agrícola, questões ambientais, defesa, plano diretor. Tanto para infor‐ mações, quanto para serviços”, pontua. “Mas sinto que se a gente não tiver novos contratos com a in‐ dústria vamos perder essa oportunidade”, desabafa. O diretor do Inpe utiliza o exemplo da bem‐sucedi‐ da indústria aeronáutica brasileira para explicar o jeito de desenvolver uma indústria sólida e sustentável. “Em 1944, tomou‐se a decisão de investir em aviões no Brasil, se enxergou como uma indústria importante para o futuro. O primeiro passo foi criar um instituto para formar pessoas, então nasceu o ITA. Depois foi preciso fazer pesquisa e desenvolvimento, criou‐se o IPD. Em seguida, com o projeto desenvolvido foi feito o produto e veio o Bandeirante, em 1968”. Uma vez que se tinha o produto, então foi pensado em uma empresa para fabricá‐lo, nasceu a Embraer. Para Perondi, se essa indústria não tivesse sido pla‐ nejada lá atrás, São José não teria quase 14 mil pessoas empregadas em uma empresa como a Embraer. “E a cidade certamente seria mais pobre”, conclui. Produção n 1999 ‐ Lançamento do CBERS‐1 – Satélite Sino‐ Brasileiro de Recursos Terrestres, a partir da base de Taiyuan, na China. n 2003 ‐ Lançamento do Satélite CBERS‐2, também da base chinesa de Taiyuan. n 2007 ‐ Lançamento do Satélite CBERS‐2B, da base chinesa de Taiyuan. n 2013 ‐ Uma falha no lançador chinês impediu a colocação em órbita do Cbers‐3 n 2014 – No dia 7 de dezembro entra em órbita o Cbers‐4, a partir da base de Taiyuan, na China Projetos relevantes Prodes: faz o monitoramento do desmatamento na Amazônia legal. Há 27 anos o Inpe produz os números oficiais anuais de desmatamento Deter: produz mapas de alteração da cobertura vegetal diariamente e passa esses dados para o Ibama que utiliza como inteligência para a fiscalização. Começou em 2004 Queimadas: mostra diariamente a situação de focos de incêndio no Brasil e gera mapas de risco, com a climatologia recente 102 > + São José > julho de 2015 Leonel Perondi, diretor do Inpe