Doutor William C. Kroen
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar
a Perda de Um Ente Querido
Doutor William C. Kroen
Como Ajudar as Crianças
a Enfrentar a Perda
de Um Ente Querido
Um guia para adultos
Tradução
Victor Antunes
Planeta Manuscrito
Rua do Loreto, n.º 16 – 1.º Direito
1200-242 Lisboa • Portugal
Reservados todos os direitos
de acordo com a legislação em vigor
© 1996, 1.ª edição, publicada por Free Spirit Publishing Inc.
© 2011, Planeta Manuscrito
Revisão: Eulália Pyrrait
Título original: Helping Children Cope with the Loss
of a Loved One: A Guide for Grownups
Paginação: Guidesign
1.ª edição: Outubro de 2011
Depósito legal n.º 334 451/11
Impressão e acabamento: Guide – Artes Gráficas
ISBN: 978-989-657-244-0
www.planeta.pt
Agradeço a Maria Trozzi, do Good Grief Program,
o apoio que gentilmente me prestou.
Índice
Nota introdutória, por Maria D. Trozzi,
directora do Good Grief Program . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
BREVES RESPOSTAS A PERGUNTAS FREQUENTES . . 17
COMPREENDER A MORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Como foi a sua aprendizagem sobre a morte? . . . . . . . . 27
Como é a morte encarada pelas crianças? . . . . . . . . . . . . 31
Linhas gerais de orientação para ajudar as crianças
a compreender a morte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
LUTO – DESGOSTO E SOFRIMENTO . . . . . . . . . . . . . . . 61
Cuide de si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Como as crianças vivem a perda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Linhas gerais de orientação para ajudar as crianças
a enfrentar o desgosto da perda. . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
9
Doutor William C. Kroen
RECORDAR
R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Sugestões para recordar um ente querido . . . . . . . . . . . . 133
Cura e aceitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
E A VIDA CONTINUA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Linhas gerais de orientação para ajudar as crianças
a seguir em frente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
PROCURAR AJUDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Índice temático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
10
Nota introdutória
C
omo Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente
Querido, da autoria do doutor William Kroen, é um exce-
lente manual destinado aos pais, aos professores e a todos os
que estão em contacto com uma criança que perdeu alguém
muito querido. Em linguagem muito simples, Kroen ajuda-nos
a compreender o que percebe uma criança, desde a infância
até aos 18 anos, e sente quando confrontada com a morte de
uma pessoa muito amada. De especial utilidade para os pais é
a abordagem directa, desprovida de termos técnicos, susceptível de confundir os leigos.
O livro está repleto de relatos que ajudam a esclarecer
a necessidade das crianças de compreender, sofrer, recordar
e continuar a viver, tal como consta do trabalho da doutora
Sandra Fox, fundadora do The Good Grief Program. De um
modo sensível e íntegro, Kroen articula o texto com alguns
11
Doutor William C. Kroen
casos exemplares. Este livro é um auxiliar precioso para os pais
e para todos nós.
Maria D. Trozzi
Directora do The Good Grief Program
Judge Baker Children’s Center
Boston, Massachusetts
12
Introdução
Q
uem gosta de falar com uma criança a respeito da morte?
A resposta só poderá ser… ninguém. Enquanto adul-
tos, e sobretudo enquanto pais, o que queremos é proteger os
nossos filhos de experiências dolorosas, e a morte de um ente
querido é a mais dolorosa de todas. Queremos ver os nossos
filhos alegres, a rir, a brincar e a aprender. Queremos que sejam
felizes. Embora na maior parte dos casos sejamos capazes de
falar entusiasticamente com as crianças sobre os mistérios e os
milagres da vida, quando se trata da morte falta-nos a vontade –
ou as palavras.
Contudo, as crianças, tal como nós, também vivem a vida,
não estão apenas a preparar-se para ela. E porque a morte
faz parte da vida, não pode deixar de as tocar. Ser capaz de
compreender a morte, atravessar de forma salutar os diversos estádios da dor e empenhar-se com vontade na vida são
factores essenciais para o bem-estar de uma criança. Sofrer
13
Doutor William C. Kroen
e enfrentar a perda antes, durante e depois de uma morte confere
à criança a possibilidade de crescer livre de culpa, de depressão,
de revolta e de medo. Quando conseguimos ajudar os nossos
filhos a ultrapassar a dor da mais profunda das feridas emocionais – a morte de uma pessoa amada – estamos a inculcar-lhes uma capacidade e uma compreensão que lhes serão úteis
durante toda a vida.
A infância é um tempo de ternura, e é com ternura que
devemos abordar a questão da morte com as crianças. Num
mundo ideal, nós, adultos, devíamos ser fortes, carinhosos
e dedicar-lhes uma atenção absoluta nessas ocasiões. Mas a realidade crua é que o ser amado que a criança perdeu é também
o ser amado que nós perdemos. Quando se perde o marido,
a mulher, o companheiro ou a companheira, um outro filho
ou qualquer outra pessoa que nos seja muito cara, podemos
não nos sentir em condições de confortar o filho que nos resta.
Podemos sentir-nos esmagados pelo choque, pela tristeza
e pela sensação de perda. Onde vamos buscar as forças necessárias para ajudar os outros, em especial quando se trata de
uma criança, a compreender aquilo que aconteceu e a enfrentar a situação? É meu desejo que este livro ajude a encontrar
pelo menos algumas respostas.
Não existem fórmulas mágicas para suprimir o desgosto
rapidamente e sem dor. Em vez disso, temos de nos valer
daquilo que aprendemos com as pesquisas, a investigação
científica, a tradição e a observação e acrescentar-lhe uma dose
substancial de bom senso. Este livro resulta do conhecimento,
14
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente Querido
da sabedoria, da compaixão e da experiência de cientistas
sociais, de profissionais dos cuidados de saúde, de pais e de
outros adultos que reflectiram sobre a maneira de auxiliar as
crianças a suportar o desgosto e que trabalharam de perto com
crianças em sofrimento. Está em dívida para com as pessoas
muito especiais que trabalham no The Good Grief Program, do
Judge Baker Center of Children’s Hospital, em Boston, Massachusetts. Fundado em 1983 pela doutora Sandra Fox, este programa é reconhecido a nível nacional pela relevância do seu
trabalho e é com frequência usado em situações de crise. Na
preparação deste livro recorri muitas vezes à obra da doutora
Fox, Good Grief: Helping Groups of Children Deal with Loss
When a Friend Dies (Boston: New England Association for
the Education of Young Children, 1988). É com gratidão que
reconheço a ajuda que recebi do The Good Grief Program em
todos os passos deste processo.
Como ajudar as crianças a enfrentar a perda de um ente
querido é um guia para pais, professores, psicólogos e outros
adultos que desempenham um papel importante na vida das
crianças. Pode ser que o meu caro leitor esteja a ler este livro
porque trabalha com crianças e quer estar preparado para a
eventualidade de virem a ser tocadas pela morte. Pode estar
a lê-lo porque conhece alguém que está a morrer e há uma
criança que será afectada por essa morte. Ou pode ser que
neste momento esteja a viver um desgosto profundo. Espero
sinceramente que possa aqui encontrar conforto e compaixão, para além de informações e conselhos de natureza con-
15
Doutor William C. Kroen
creta que o auxiliem a ajudar uma criança… e a ajudar-se a si
mesmo. O fardo que carrega sobre os ombros é tremendo. Mas
há quem tenha fardos semelhantes, e ao cruzar-se aqui com
essas pessoas poderá aprender alguma coisa com elas. Como
acabará por descobrir, falar sobre a morte e o sofrimento é um
passo essencial para a construção de um ser humano emocionalmente saudável.
William C. Kroen, doutor
Belmont, Massachusetts
16
BREVES RESPOSTAS
A PERGUNTAS
FREQUENTES
S
e alguém que conhece e ama acaba de morrer – marido,
mulher, pai, mãe, um filho, um amigo –, é possível que não
tenha energia nem disposição para ler um livro na sua totalidade. Mas se também houver crianças afectadas por essa morte,
há coisas que precisa de saber desde o primeiro momento para
as ajudar a ultrapassar o choque inicial. Seguem-se dez das
perguntas mais frequentes formuladas pelos pais por ocasião
da morte de um ente querido, acompanhadas de dez respostas
sucintas. Comece por ler esta secção e dedique-se ao resto do
livro assim que lhe for possível.
Como posso falar aos meus filhos a respeito da morte?
Com amor e carinho, usando palavras simples e sinceras.
Sente-se com eles num local sossegado, envolva-os num abraço
e diga o que tem a dizer. Não tenha receio de palavras como
«morreu» ou «morte». Pode dizer, por exemplo: «Aconteceu
17
Doutor William C. Kroen
uma coisa muito, muito triste. O papá morreu. Nunca mais
estará connosco porque deixou de viver. Nós amávamos muito
o papá, e ele também nos amava. Vamos sentir muito a falta
dele, muito, muito.»
Em algumas frases curtas relate-lhes a morte do falecido.
Por exemplo: «Vocês sabem que o papá estava doente há muito
tempo, muito doente. Foi a doença que lhe causou a morte.»
Ou: «O papá sofreu um acidente. Ficou muito, muito ferido.
Esse acidente causou-lhe a morte.»
A repetição da palavra «muito» ajuda as crianças a distinguir entre a morte da pessoa amada e os momentos em que se
encontrava «muito doente» ou «muito ferido».
Evite eufemismos para a morte, tais como «desaparecido»,
«levado», «falecido» ou «partiu para uma longa viagem». Essas
palavras alimentam os receios da criança de ter sido abandonada e dão origem a medo e a confusão. Nunca diga que um
ente querido «adormeceu». Isso fará com que a criança tenha
medo de ir para a cama à noite.
Muitas crianças perguntam: «O que quer dizer “morreu”?»
Mais uma vez, use palavras simples e directas: «Significa que
o corpo parou totalmente. Já não pode andar, respirar, comer,
dormir, falar, ouvir ou sentir.»
O que devo responder quando os meus filhos perguntam
«porquê»?
«Por que morreu a mamã?» «Por que morreu o papá?» «Por que
teve a avó o acidente?» «Por que está isto a acontecer-me?»
18
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente Querido
São respostas difíceis de encontrar. Não faz mal admitir que
também já se colocou a mesma questão. Depois explique que a
morte faz parte da existência de todas as coisas vivas à face
da terra. Que acontece a toda a gente. Há coisas que podemos
controlar, há outras que não. A morte é uma das coisas sobre
as quais não temos poder.
Não se esqueça de lhes dizer que ninguém tem culpa dessa
morte – nem o ente querido que morreu, nem Deus, nem
decerto as crianças. Diga com muita clareza: «Tu não tiveste
culpa.» Deixe bem claro que nada do que tenham feito, dito ou
pensado foi a causa da morte.
Devo abordar a questão da morte em termos religiosos?
É uma opção que tem de ser assumida por cada família.
De uma maneira geral, depende da educação religiosa que os
seus filhos tiverem. Se foram criados no seio de uma comunidade de crentes, poderão compreender melhor as suas alusões
de carácter religioso. Se não foram, talvez não seja a melhor
ocasião para introduzir o tema da religião, pois só lhes causará
confusão. Em qualquer circunstância evite dizer coisas como
«Deus levou o papá» ou «Deus chamou a mamã», susceptíveis
de gerar medo nas crianças.
Os meus filhos devem assistir ao velório e ao enterro?
Também é uma decisão que cabe a cada família. Por norma,
deve ser autorizada a presença das crianças de 6 anos ou mais,
se elas o quiserem. Tomar parte nestes rituais importantes
19
Doutor William C. Kroen
com os outros membros da família e com os amigos dá às crianças a possibilidade de expressarem o seu desgosto, de ganharem
ânimo e de partilharem o desgosto dos outros, bem como de se
despedirem da pessoa que morreu. Sentem-se parte integrante
de um grupo que continua a existir apesar da perda sofrida
e mais reconfortadas e seguras por esse acto de inclusão.
Não se esqueça de as preparar com antecedência, explicando-lhes aquilo que irão ver, ouvir e fazer. Informe-as sobre
se o caixão estará aberto ou fechado. Avise-as de que muitas
pessoas presentes irão chorar. Deixe que façam perguntas.
Se estiver demasiado angustiado para o fazer em pessoa, peça
a um membro da família ou a um amigo que ocupe o seu lugar.
E se a criança não quiser participar nos ritos fúnebres? Não
a obrigue e não a faça sentir-se culpada por isso.
Os meus filhos ficarão afectados por me verem chorar
e constatarem o meu desgosto?
De maneira nenhuma. As crianças precisam de aprender
a expressar o seu desgosto, e a melhor maneira de o fazer é com
os adultos que as amam. Quando chora, os seus filhos ficam
a saber que não há problema em chorar. Quando se mostra
triste, isso autoriza-os a exteriorizar as suas emoções. Como
é evidente, se os adultos se conservam impávidos e não exibem
os seus sentimentos, é isso que as crianças aprendem a fazer,
o que não é uma reacção salutar ao sofrimento. Nunca tenha
receio de manifestar as suas emoções diante dos seus filhos.
20
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente Querido
E se eu estiver demasiado prostrado com o desgosto
para atender às necessidades dos meus filhos?
Antes de cuidar dos seus filhos tem de cuidar de si. Descanse,
coma bem, procure o conforto e o auxílio dos seus parentes
e amigos. Veja se outro adulto pode ocupar-se deles até que se
encontre em condições de lhes dar a assistência devida.
Devo informar os professores dos meus filhos da morte?
Sim, e tão depressa quanto possível. Os professores podem
ajudar vigiando o comportamento das crianças ao longo das
semanas e meses subsequentes à morte. São capazes de orientar e de ser compreensivos para com as crianças que estão tristes, revoltadas ou perturbadas.
Se na escola existir um gabinete de apoio (ou um psicólogo), quer seja a tempo inteiro ou parcial, também lhe deve
falar no caso. De uma maneira geral, o pessoal dos gabinetes
de apoio está preparado para lidar com situações traumáticas
e dolorosas. Podem acompanhar o comportamento das crianças de modo a garantir que o luto e o desgosto não interferem
com a aprendizagem e o desenvolvimento. Além disso, estes
psicólogos também são uma boa fonte de informações e de
conselhos para os pais e podem encaminhá-los para grupos
de apoio.
21
Doutor William C. Kroen
Quais as possíveis reacções dos meus filhos perante
a morte e como devo agir em cada caso?
Há crianças que se sentem culpadas ou responsáveis pela morte
de alguém que amam. Podem acreditar que as suas palavras
irritadas ou o seu «mau» comportamento foram a causa dessa
morte. Sossegue os seus filhos, assegurando-lhes que isso não
é verdade.
No caso da morte de um dos pais, há crianças que se agarram em desespero ao progenitor sobrevivente. Ficam muito
preocupadas com a possibilidade de ele ou ela também morrerem e de não haver ninguém que cuide delas. Este medo do
abandono é normal. Tranquilize-as, reafirmando que haverá
sempre quem se ocupe delas.
Algumas crianças regressam a comportamentos do passado,
portam-se mal e fazem birras. Seja paciente! Toda a família
está sujeita a uma tensão terrível, e os seus filhos estão menos
bem equipados do que um adulto para a suportar. Chame-lhes
a atenção para os comportamentos menos apropriados e faça
respeitar os limites, como de costume.
Quando é conveniente que o meu filho volte a brincar?
Assim que tiver vontade de o fazer. As crianças são dadas
a acessos de tristeza. Em determinado momento podem estar
a chorar de infelicidade e no momento seguinte a rir e a brincar no baloiço. A brincadeira tem um efeito terapêutico sobre
as crianças. Proporciona-lhes um intervalo no sofrimento,
dá-lhes a possibilidade de expressar os sentimentos à sua
22
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente Querido
maneira e permite-lhes aliviar a ansiedade e a tensão através
do movimento.
Neste momento preciso, quais são as coisas mais importantes
que posso fazer pelos meus filhos?
Estar presente, ser sincero com eles e dar-lhes amor.
23
COMPREENDER
A MORTE
M
uitos pais procuram evitar que os filhos tomem conhecimento da morte. No entanto, a maior parte das crian-
ças está ciente da morte e expõe-se a ela todos os dias. Alguns
especialistas calculam que quando uma criança atinge os
18 anos já testemunhou perto de 18 000 «mortes», sejam elas
ficcionais, em cartoons, no cinema, em livros, bandas desenhadas e em programas de televisão, ou concretas, ainda
que impessoais, como as que são mostradas nos noticiários,
para além das de amigos e membros da família. Quando uma
criança encontra um pássaro ou um gato morto na rua, vê-se
confrontada com a realidade da morte. Tentar protegê-las disso
é um exercício fútil.
Deve ser dada às crianças a oportunidade de aprenderem
sobre a morte por meio de observações e dos acontecimentos
do seu quotidiano. Os pais devem aproveitar todas as oportunidades que surjam no dia-a-dia para ensinar às crianças os
25
Doutor William C. Kroen
conceitos básicos da morte e do sofrimento. Encontrar uma
flor ou um pássaro mortos, ou passar pela experiência da morte
de um animal de estimação, são ocasiões perfeitas para os pais
partilharem os seus conhecimentos sobre a vida e a morte
e convidarem os filhos a falar-lhes sobre aquilo que pensam
e sentem.
Quando as crianças são esclarecidas sobre a morte e o sofrimento em termos concretos e sensíveis, desenvolvem capacidades para enfrentar as crises que mais tarde se lhes hão-de
apresentar. Em especial quando ocorre uma morte na família,
os pais devem ser frontais com os filhos. Em quase todas as
famílias, os segredos não resistem muito tempo. Disfarçar os
factos e as consequências de uma morte na família não corresponde a uma verdadeira «protecção» das crianças, pois só as
torna mais receosas e apreensivas.
26
Como foi a sua aprendizagem
sobre a morte?
Quando chega o momento de falar aos filhos sobre a morte,
a maior parte dos adultos tende a agir de acordo com as próprias
experiências de infância. Se a sua família tentou ocultar-lhe
o conceito de morte ou protegê-lo da dor a ela associada, será
essa a abordagem que utilizará com os seus filhos. Esse modo
de lidar com a morte não está errado, nem de modo algum
é emocionalmente incorrecto. No entanto, em termos emocionais, não ajuda. Não prepara as crianças para a eventualidade concreta da morte.
Antes de começar a explicar aos seus filhos o que é a morte,
deve começar por reexaminar as suas experiências de infância.
Faça a si mesmo as seguintes perguntas:
• Teve conhecimento de algum segredo da família relacionado com a morte?
• Participou em velórios, enterros ou cerimónias fúnebres de
algum membro da família?
27
Doutor William C. Kroen
• Alguém teve consigo uma conversa acerca da morte?
• Quando era criança, morreu-lhe algum animal de estimação? Em caso afirmativo, como foi que lhe explicaram essa
morte?
• Houve perguntas sobre a morte que nunca formulou?
• Recorda-se do que lhe disseram que acontece quando
alguém morre?
• Durante a infância, alguma vez sofreu uma perda ou uma
separação dolorosas?
As respostas que der a estas perguntas podem fornecer-lhe
algumas pistas sobre a forma como os seus filhos encaram
a morte. Com a intenção de proteger os filhos, muitos pais
fazem da morte um tema proibido e transmitem às crianças
essa negação da morte. Em casos extremos, essa negação pode
levar a um afastamento emocional entre os diversos membros
da família, impedindo-os de se aproximarem uns dos outros.
As famílias que partilham os seus sentimentos criam um
sentido de proximidade e de apoio mútuo. Dizer aos filhos que
por vezes nos sentimos irritados, magoados, tristes, embaraçados e inseguros é uma forma positiva de lhes mostrar que
é normal que toda a gente partilhe essas emoções fortes. Os seus
filhos ficarão mais à vontade para o abordar sobre assuntos
sérios, incluindo a morte.
Aceitar a morte como parte da vida reduz significativamente os efeitos negativos associados à inevitabilidade.
As crianças que durante o crescimento são esclarecidas acerca
28
Como Ajudar as Crianças a Enfrentar a Perda de Um Ente Querido
da morte e do desgosto estão em melhores condições para os
enfrentar quando eles acontecem, sem desenvolver processos
fictícios e ineficazes de lidar com a questão.
Ao falar com os seus filhos sobre a morte e o desgosto da
perda, deve usar sempre a verdade e a honestidade. Ser verdadeiro e honesto não significa ser rude e insensível. É possível
falar sobre a morte e o desgosto da perda em termos afáveis,
carinhosos e sensíveis. Este aspecto importante do amor dos
pais ajuda as crianças a desenvolver as suas capacidades para
melhor enfrentarem as circunstâncias da vida.
29
Como é a morte encarada
pelas crianças?
As crianças interpretam a morte e reagem a ela de muitas
maneiras diferentes. A personalidade, a sensibilidade, a capacidade para enfrentar os problemas, o nível de desenvolvimento
e a capacidade para pensar em abstracto são algumas das variáveis que entram em jogo.
Numerosos estudos indicam que as crianças pequenas
entendem e reagem ao conceito de morte, tanto específica
como literalmente.
• Percepção específica refere-se ao modo como as crianças
encaram a morte como um incidente específico. A morte
em si mesma, bem como o conceito de morte, centra-se
na pessoa ou no animal que morreu. A criança não pensa
na morte em termos abstractos ou genéricos; o seu pensamento está confinado a uma pessoa ou a um animal de
particular importância para ela.
31
Download

Doutor William C. Kroen Como Ajudar as Crianças a