Setor de serviços deve crescer o dobro do PIB, puxado por turismo, restaurantes, internet e salões de beleza Para nova classe média, gastos com estética são investimentos, diz pesquisador Salão de beleza que usa produtos naturais e sustentáveis em Niterói Marcos Tristão / Agência O Globo BRASÍLIA – O brasileiro melhorou de renda, ampliou gastos no setor de serviços e agora vai querer manter e aumentar suas conquistas. E com isso, o setor serviços vai continuar expandindo acima da média na comparação com outras áreas e, segundo projeção da Confederação Nacional dos Serviços (CNS) deve fechar este ano com alta de 3%, contra 1,6% estimado para o Produto Interno Bruto (PIB), que representa o total da economia do país. Na avaliação de especialistas, além dos serviços mais óbvios que seguem com alta demanda, como educação e internet, puxam a expansão desse setor gastos tidos como supérfluos, como ir a restaurantes, viajar de avião e se embelezar. — Turismo vai continuar crescendo. No ano passado, 7,5 milhões de pessoas viajaram pela primeira vez de avião. As pessoas brincam “quero ver na Copa”, mas eu digo “quero ver quando a Classe C consumir mais”. Ainda tem muita gente que não viajou de avião, e quando o fizer, não vai nunca mais querer pisar em um ônibus — disse Renato Meirelles, sócio diretor do Instituto Data Popular. Segundo pesquisa da entidade, o gasto da classe média com despesas tidas como desnecessárias, como cabeleireiro e manicure, ocupa a segunda maior fatia entre desembolsos com serviços, atrás apenas de manutenção do lar. Da renda total da classe média, 22,6% é alocado nesses serviços. Já na classe baixa, esse gasto também é o segundo maior, consumindo 12,8% da renda dessas famílias. No caso dos serviços de beleza, essa nova classe média não vê a despesa como uma futilidade, mas sim como um investimento, comportamento que mudou com a maior participação da mulher no mercado de trabalho. — As mulheres consomem serviços de beleza não só pela vaidade. Elas querem se dar melhor no emprego, e veem que a beleza pode ajudar em áreas de atendimento. Ela acredita que terá mais sucesso se estiver com o cabelo legal, bem maquiada. É menos óbvio, os homens não entendem. Não é luxo: para elas, esmalte devia estar na cesta básica — diz Meirelles. Luigi Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços concorda. — Para mulher, salão de beleza não é supérfluo. Elas preferem gastar menos com comida, mas não deixam de gastar com beleza – afirma ele. Nese avalia que outros serviços que mais devem crescer acima do da economia em geral são os ligados à tecnologia, como os de telefonia. Além disso, o executivo acredita que lazer para a família, como turismo e comer fora de casa, terá crescimento acentuado. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), o setor de serviços de alimentação faturou R$ 235 bilhões em 2011, crescimento de 16% em relação a 2010. Neste ano, o setor deve manter expansão acima de 12%, diz a Abia. Os serviços financeiros também devem crescer mais do que a média do país, segundo a projeção da CNS. — Acho que com a pressão que a presidente Dilma Rousseff fez pela redução dos juros, e agora reduzindo a taxa do cartão de crédito, pode dar uma condição melhor para quem contrata esses serviços. As pessoas podem usar mais serviços, mais cartão de crédito. Elas podem se ver mais dispostas a gastar mais, com menos juros — diz o presidente da entidade. Sem poder 'importar chineses' para prestar serviços, demanda pressiona inflação Porém, todo esse frenesi pelo consumo de serviços tem um preço, que com certeza ficará mais alto. A inflação do setor preocupa. Segundo o IBGE, a inflação de serviços, medida pelo IPCA, acelerou 0,49% em agosto ante julho, ao passo que a inflação total subiu 0,41%. Em 12 meses, enquanto a inflação total subiu 5,24%, em serviços essa elevação acumulada é de 8,78%. — No setor de bens, você controla oferta e procura com importação. Mas para serviços não tem isso. Como vamos importar chineses para cortar cabelos? O governo tem de se preocupar com a carga tributária do setor, e ter um processo de treinamento da mão de obra capaz de prestar esses serviços — diz Renato Meirelles. Geração de emprego também é maior em serviços Crescendo acima da economia, o setor de serviços também tem geração de vagas de emprego acima dos outros setores. Segundo dados do Cadastro Geral de empregados e Desempregados (CAGED) de agosto, divulgado pelo Ministério do Trabalho, dos 100,9 mil postos de trabalho formais criados 54.323 foram em Serviços. Dentro do setor, o Ensino criou 22.926 postos, Serviços de Alojamento e Alimentação criaram 11.352 postos, e Transportes e Comunicações gerou 2.582 vagas. — O setor de Serviços está acontecendo. (A geração de vagas) Não compensou tudo que a industria perdeu, mas compensou uma boa parte. A tendência é continuar crescendo. A indústria não deve recuperar o nível de emprego que tinha. Seria um suicídio para a industria aumentar a produtividade com aumento do emprego. Essas vagas da indústria já estão migrando para serviços faz anos – avalia Nese. Além disso, o crescimento dos serviços cria um ciclo virtuoso, em especial para a classe média, que também concentra os micro e pequenos empresários – muitos deles, atuando em prestação de serviços. — A classe média não só consome mais serviços e trabalha em serviços. Ela gasta mais em serviços mas ela também trabalha em serviços. A classe média é a maior beneficiária dos próprios serviços, a renda fica nessa classe – avaliou Meirelles. 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