suplemento
Vamos lá Olivais
Rute Lima
Grande
Entrevista
com a nossa presidente
Março, 2015, n.º 1
ano XXV
distribuição gratuita
Diretora: Rute Lima
www.jf-olivais.pt | [email protected]
Vamos lá Olivais
suplemento |
Março, 2015, n.º 1
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Rute
Lima
uma presidente com
os Olivais no coração
Nos Olivais, passado que está mais de um ano após a tomada de posse da nova equipa liderada por Rute Lima, a hora é de
balanço e de continuar a olhar o futuro. Mágoas também as há.
“O que eu gostaria mesmo
era de fazer rapidamente
tudo o que há para fazer e
que toda a gente percebesse
que os Olivais têm uma
Presidente que é da terra e
que realmente está a fazer
o melhor que pode, sempre
com o coração, mesmo
quando comete erros.”
Pode dizer-se que Rute Lima é uma olivalense de gema. Foi cá que nasceu.
Conhece a Freguesia desde sempre.
Tem pelos Olivais uma paixão genuína.
Conhece a casa da Junta de Freguesia
desde há 25 anos, tantos quantos por lá
trabalha. Conhece bem os cantos da casa,
os cheiros, as dificuldades, os deméritos e
os méritos. Na Junta, tem feito e deitado
mão a tudo quanto lhe tem sido proposto, sempre com empenho e, acima
de tudo, com o coração. Licenciada em
contabilidade e gestão da administração
pública pelo ISCAD, Rute Lima foi técnica
superior de contabilidade e gestão na
Junta de Freguesia de Olivais.
Após um percurso profissional de
mérito, ao longo do qual abraçou várias
áreas, entre as quais a da formação e consultoria, está agora ao leme da Freguesia.
Uma Freguesia que, para ela, é a mais
bonita da cidade, e pela qual luta afincadamente. Pode mesmo dizer-se que
Rute Lima tomou as rédeas do poder e
está determinada a fazer dos Olivais a
Freguesia melhor apetrechada, de forma
a dar cada vez mais qualidade de vida, em
diferentes áreas, à população do bairro,
sejam eles jovens ou idosos.
Como todas as mulheres, a Presidente
Rute Lima gosta de flores e de as receber, de ler e de dar umas escapadelas,
cada vez mais raras, ao cinema. Não gosta
muito de praia. Em matéria alimentar,
nunca diz não a um bem confeccionado
arroz de cabidela ou a um belo cozido á
portuguesa.
Mas do que a Presidente gosta mesmo,
a sua verdadeira paixão, são as pessoas em geral. Nunca lhes vira as costas.
Tem por elas um carinho muito especial,
ou não fosse para as pessoas, e em prol
delas, que Rute Lima trabalha afincadamente. Tem por objetivo fazê-las e ajudá-las a serem mais felizes, e no que dela
depender tal não será apenas um sonho
ou uma promessa política, daquelas que
não são para cumprir, pois está mesmo
determinada a fazer disso uma realidade.
A senhora Presidente é uma mulher
feliz? Sou!
E essa felicidade prende-se com a sua
atividade na Junta?
Também. Mas, acima de tudo, a minha
felicidade prende-se com a minha família e com tudo aquilo que eu entendo ser
necessário para tornar a vida dos meus
filhos mais feliz. Isto não é egoísmo.
Tornando a vida dos meus filhos mais feliz,
consigo também tornar a vida de todas
as pessoas mais feliz. Porque criando condições àqueles que nos são mais queridos, por inerência estamos a criar condições a todos – isto pensando no coletivo,
obviamente. Tenho a felicidade de ter um
ambiente familiar estruturado e estável e
isso dá-me, de facto, força para abraçar o
desafio da Junta de Freguesia com empenho, com dinamismo e com muita força,
porque este não é um desafio fácil. Mas
tem estado a correr muito bem e muitas
surpresas vêm aí no futuro.
Pensa cada projeto para a Junta de
Freguesia também através da sua família? Ou seja, se esse projeto é bom para
os seus, é fácil extrapolá-lo para a comunidade como uma necessidade real para
os olivalenses?
São duas dimensões diferentes. Mas
tendo a capacidade de colocar os que me
são próximos na dimensão do colectivo,
consigo perceber quais são as necessidades desse mesmo coletivo. Acho que ao
ter a capacidade de transpor as situações
e as coisas de fora para dentro, conseguimos perceber de uma forma muito mais
fidedigna o que é necessário.
Não basta olharmos para as coisas e dizer “é
preciso arranjar determinada calçada”, ou “é
preciso criar melhores condições naquela
escola”… É muito mais do que isso.
É preciso colocar-nos do lado de quem
beneficia dos serviços, de quem caminha
na Freguesia, de quem contacta com a
natureza, de quem utiliza os nossos equipamentos. Se conseguirmos colocar-nos
na posição de todas essas pessoas, e fazer
parte desse segundo universo, conseguimos, obviamente, ter uma noção completamente diferente e mais real do que
é necessário fazer.
Sente que o facto de ser mulher a faz ter
uma visão diferente das necessidades
da comunidade?
Acho que sim. Aliás, tenho a certeza que
sim. Não vamos aqui entrar na questão
da igualdade de género. Mas, de facto,
há diferenças marcantes entre a postura
do homem e a postura da mulher, quer
perante a sociedade quer perante as
questões práticas da vida. É uma questão
de sensibilidade. As mulheres têm uma
forma diferente de resolver os problemas,
mais afetuosa e mais sensível em relação
a todas as matérias. Por outro lado, têm
uma forma mais descomplicada e mais
prática de resolver as situações.
Acha que é por isso que neste seu primeiro ano de mandato se vai notando
a sua grande preocupação com as questões sociais, desde os mais idosos, às
questões da saúde em geral, passando
também pelos centros de juventude,
loja solidária ou Olivais porta a porta?
As mulheres têm uma característica
muito própria: temos a capacidade de
desabafar, de dialogar umas com as
outras, de perceber os nossos problemas
e os dos homens também, obviamente.
Tendo esta característica do nosso lado,
conseguimos sentir os problemas de uma
maneira diferente e bem mais real. Uma
vantagem que nos dá uma experiência
de vida muito diferente da dos homens.
O problema a resolver é o mesmo, mas é
encarado pela mulher de uma maneira,
e pelo homem de uma outra forma. Os
homens têm tendência a distanciar-se do
problema e a resolvê-lo distante do sentimento. As mulheres, por sua vez, talvez pelo aspeto da maternidade ou por
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“O projeto que mais gostaria
de ver implementado e a
funcionar em pleno, aquele
que mais me encheria
o coração, que me deixaria
mesmo feliz, seria e será
– porque mais dia, menos
dia eu vou conseguir trazê-lo
à luz do dia – o plano
gerontológico”
causa dos laços afetivos com a mãe ou
com a avó, têm uma maneira mais sensível de lidar com todas as questões da
sociedade.
Acha, então, que é isso que a tornou ao
longo destes meses que leva de mandato tão sensível às questões sociais?
Sou, por natureza, solidária, capaz de
despir a camisola para dar a quem precisa do meu auxílio, sempre fui assim. Ser
presidente de Junta acabou apenas por
me dar a ferramenta necessária para dar
corpo a esta minha característica natural.
Em relação ao centro de saúde alternativo e a outros projetos que estão em
calha, digamos assim, têm que ver com
a forma como encaro o envelhecimento
e o facto de constatar – e penso que isto
é um pensamento generalizado – que o
Estado não está preparado para o encarar
de frente. O nosso Governo e os nossos
governantes não investem numa situação que é um problema natural, talvez
mais grave que a dívida pública. A falta de
resposta às questões relacionadas com o
envelhecimento da população é um problema sério.
O envelhecimento em si não é um problema, ou pelo menos não deveria sê-lo.
Envelhecer é a coisa mais natural da vida,
é uma situação natural do ser humano, e
de qualquer ser vivo, a que os governantes que passaram e vão passando sucessivamente pelos vários governos não souberam dar resposta. O certo é que eles
próprios vão envelhecendo, eles envelhecem, eu envelheço, a senhora envelhece
e todos sabemos que estamos a caminhar para uma situação de dependência.
Não quer dizer que seja de dependência
total, mas vamos criando as mais diversas
dependências, não havendo uma preocupação ao nível da prevenção. Não é novidade para ninguém que a maior parte
das doenças mentais tem que ver com
processos de envelhecimento não saudáveis. Apesar disso, não há nem houve até
agora a preocupação de criar um projeto
efetivo para prevenir certo tipo de patologias inerentes ao envelhecimento, abrangentes a todo o universo do País que
auxiliem no processo de envelhecimento.
Não havendo, eis então que deitou
mãos-à-obra.
Deitei mãos-à-obra da forma que pude e
quero ver se consigo chegar o mais longe
possível. Por exemplo, a criação do centro de saúde alternativo, que está a funcionar nas instalações dos Bombeiros
Voluntários de Cabo Ruivo desde Janeiro,
já é um começo e é real.
Quem pode aceder-lhe?
Qualquer pessoa. Naturalmente que se
dá primazia às pessoas com mais de 65
anos, que são aquelas pessoas que começam a sentir os sintomas próprios da
idade, dores aqui, dores ali… O centro
tem serviços de enfermagem, fisioterapia, osteopatia e acupuntura. Fisioterapia
para tratamento de situações já sinalizadas em termos de patologia, a osteopatia numa vertente de prevenção e tratamento da dor.
A baixo custo?
A baixo custo, sim. Estamos a falar de 15
euros para a osteopatia e fisioterapia e
de 18 euros para acupuntura. Haverá, no
entanto, muitas pessoas que nem isso
conseguirão pagar, sendo esse o caso,
ninguém vai deixar de ter tratamentos
por não ter capacidade financeira. Nesses
casos, a pessoa é canalizada para o
Gabinete de Intervenção Social da Junta,
onde lhe será feita uma avaliação pela técnica de serviço social e a pessoa pagará o
que pode ou eventualmente nem pagará
nada. É este o formato e o conceito.
Tratados os idosos, a Senhora Presidente
olhou para o lado e criou também um
centro de empreendedorismo dedicado
aos mais jovens. Um centro que funciona na Avenida Eurico da Fonseca, nos
Olivais Sul. Qual foi o objetivo?
Temos vários problemas neste momento
na nossa sociedade. O problema da conjuntura menos favorável do País leva a
situações completamente degradantes
ao nível do tecido social. Temos constatado que a estrutura de muitas famílias se
tem deteriorado. Famílias que, aparentemente, seriam estruturadas, com jovens
ou crianças, que tinham os seus valores
bem presentes, e, por via de tudo aquilo
que tem estado a acontecer no País, são os
primeiros alvos e acabam por perder, em
escalas diferenciadas, um pouco o conceito da “família estruturada”. E isto acontece por várias razões: seja porque os pais
não estão, porque são obrigados a ausentar-se ou mesmo porque se entregam a
outro tipo de ocupações, muitas delas
menos próprias, e isso leva a que alguns
desses jovens acabem por ter comportamentos desviantes. Seja o abandono
escolar numa primeira faixa, seja a falta
de ocupação de jovens na faixa dos 16, 17,
18, anos. São jovens que, eventualmente,
já acabaram o 12.º ano, que por uma razão
ou outra não continuaram os estudos,
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não arranjam emprego e andam por aí
um pouco perdidos sem rumo…
O novo conceito do Espaço da Juventude
é a pensar nesses jovens?
No Espaço da Juventude esses jovens
podem entrar em contacto com a vida
profissional e outros aspetos muito relevantes para o seu crescimento, como o
voluntariado ou a formação. Digamos que
o Espaço da Juventude pretende ser uma
janela aberta para o mundo, ao nível do
emprego e do empreendorismo. Um projeto do Pelouro da Juventude que tenho
a certeza que será coroado de êxito.
E como é que isso se opera na prática?
Na prática, estamos a pensar criar ali
núcleos de interesses, em que haja uma
ligação efetiva com as escolas e com os
centros de emprego, através dos quais
nós possamos fazer uma ponte entre os
jovens e as empresas. Uma espécie de
coworking, onde eles acabam por ter contacto com as mais diferentes oportunidades e onde podem trocar ideias uns com
os outros. Em simultâneo, estes jovens
estão a ser monitorizados, ou seja, o
Espaço da Juventude acaba também por
ser um observatório das necessidades
e um local onde se debatem ideias e se
fazem projetos que podem, por exemplo,
levar à criação de uma pequena empresa.
Também é importante salientar a possibilidade de se conseguirem fundos comunitários para abraçar projetos que venham
a nascer no Espaço da Juventude.
E como está o projeto informático e de
alfabetização?
São projetos com base em voluntariado,
ou seja, todos os nossos professores são
voluntários. São pessoas que têm as suas
ocupações e depois, ao final do dia, “roubam” um pouco às suas vidas para dar
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de si à comunidade. Foi um projeto que
começou com a perspectiva de combater o isolamento. Sentimos que há muitas pessoas que, apesar de terem uma
mobilidade ainda razoável e de fazerem
as suas vidas, ou seja, serem capazes de
ir a um café, de ir fazer uma compra, de
ir ao médico, estão remetidas a um processo gradual de isolamento. Trata-se
aqui de um fenómeno curioso que é factual e que se resume ao simples facto de
os filhos abandonarem o ninho para fazerem as suas próprias vidas. Isto por um
lado, por outro, não é menos verdade
que estamos num mundo em que prevalecem as novas tecnologias: todos nós,
hoje em dia, vamos ao computador, falamos no chat, falamos através do Skype,
trocamos mensagens… Face a esta realidade, levámos os nossos seniores, através da formação, a perceberem que com
aquela ferramenta conseguem falar com
os filhos, que estão a trabalhar mas vão
ao computador com regularidade, e que
através dele conseguem obter uma resposta rápida, quase imediata dos filhos,
dos netos, e que para além disso, com o
computador, conseguem comunicar com
o mundo – o que é uma experiência absolutamente fantástica. Tão fantástica que
temos alunos que choram, choram de
alegria. E os filhos escrevem-nos a dizer
que, de facto, não podia ter havido projeto melhor porque os pais estão felizes.
Este é também um projeto de sucesso, do
Pelouro da Educação.
É, portanto, um projeto de sucesso. Mas
existem mais… Falemos um pouco dos
projetos ligados à natureza.
São dois os projetos em andamento e distintos. Um está intimamente ligado ao que
chamámos o “Zelador do Bairro”. Trata-se
de incentivar as pessoas, e há muitas que já
assumem essa postura, a cuidarem do seu
espaço envolvente. Concluímos que em
quase todo o Bairro há pessoas que têm
o seu espaço exterior do prédio arranjado
fruto do seu empenho e esforço. Ora, o
projeto não é mais que aproveitar a disponibilidade das pessoas, que de forma gratuita se predispõem a tratar dos espaços
exteriores do seu condomínio. O incentivar
essas pessoas a cuidar do espaço exterior
do seu prédio, leva não só a que os espaços estejam cuidados, como leva também
a enraizar-se uma política de responsabilização por um espaço que sendo público,
não deixa de ser um pouco de cada um de
nós. Portanto, o Zelador ou a pessoa que
cuida do espaço envolvente ao seu prédio
não só o cuida como lhe ganha carinho,
afeto e vai sempre que pode impedir que
outros o venham estragar.
Acha que é um projeto com pernas para
andar?
Sim, sem dúvida. Sabe, as pessoas dos
Olivais são muito agarradas ao Bairro e às
características do Bairro. São muito agarradas aos verdes, à relva, às árvores – e
muito bem… Para além disso, para que
o projeto resulte, criámos uma premissa
que é a de dar a facilidade a quem tem
gosto em fazer este trabalho poder utilizar as bocas de rega do espaço publico
para regar os espaços verdes, as árvores,
etc., com água que é paga pela junta de
freguesia. O mesmo conceito é aplicado
a outro tipo de equipamentos que o zelador venha a precisar, como seja material para cortar uma sebe, corta relva ou
outra coisa qualquer, obviamente que a
junta vai disponibilizar recursos para isso.
No âmbito deste projeto temos já dois
zeladores oficiais. Curiosamente, um nos
Olivais Norte outro nos Olivais Sul, mas
existem uma série de pedidos para despachar e dar deferimento.
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E o projeto da adoção de árvores?
Está a correr bem. É um projeto também
ele de responsabilização e passa pela
mentalização das pessoas para a preservação do ambiente. Como é sabido,
a Junta de Freguesia tem procedido ao
abate de algumas árvores. Esses abates, obviamente, têm sido feitos após
uma avaliação técnica. Todas as árvores
que têm sido abatidas estão num estado
fitossanitário terrível, algumas decrépitas
mesmo ou cuja estrutura já não aguenta
qualquer outro tipo de intervenção. São
árvores que colocam em risco a integridade física das pessoas e os bens materiais, logo têm mesmo de ser abatidas.
Mas, por outro lado, por cada abate será
plantada uma nova árvore, a qual irá crescer ao longo dos anos. São essas novas
árvores que poderão são adotadas ou
apadrinhadas, pretende-se assim levar
as pessoas a sentir uma responsabilidade
para com aquele ser vivo ali plantado.
Ter um filho, escrever um livro, plantar – ou neste caso apadrinhar – uma
árvore… É um conselho para os habitantes do bairro?
Precisamente. As árvores fazem-nos falta.
Se cada um de nós apadrinhar uma delas,
todas serão melhor cuidadas, pois a pessoa passa, vê que ela precisa de água,
pode regá-la, vê que algo se passa, liga
para nós e alerta-nos para que tomemos conhecimento da situação e assim
sucessivamente. Parece um projeto sem
importância nenhuma, mas que levado
ao limite, especialmente para as crianças,
é um projeto de grande relevo.
E o projeto Refood Olivais?
O feedback que temos é razoável. Nós,
Junta, tivemos um papel muito importante, e queremos continuar a ter, no lançamento do projeto, nomeadamente na
procura e alcance das instalações e na
criação dos grupos iniciais, ainda pelas
mãos ex-Padre Duarte Guerra Pinto.
Fizemos a ponte com a Câmara Municipal
de Lisboa para a cedência de instalações
junto à esquadra dos Olivais Sul, onde
hoje é a sede, e continuamos disponíveis para auxiliar a Refood, nomeadamente nalguns recursos para o desenvolvimento da sua atividade.
Financeiro?
Também. No final do ano passado, por
exemplo, ajudámos com uma verba
financeira, que permitiu que a Refood
Olivais procedesse ao arranjo da cobertura das próprias instalações, porque eles
armazenam comida e têm que ter condições não húmidas para que a comida
não se deteriore. O certo é que a sede da
Refood tinha um problema muito grave
na cobertura, que dava origem a grandes infiltrações dentro das instalações,
o que não podia continuar a acontecer.
Também colaborámos com a Refood na
indicação de pessoas em carência através do nosso Gabinete de Intervenção
Social. Isto porque nós sabemos exatamente qual o tecido social da freguesia e,
como é óbvio, a Refood teve aqui a nossa
ajuda. Agora a Refood tem vida própria,
mas pode contar connosco sempre que
de nós necessitar e nós pudermos ajudar.
Muitos olivalenses desconhecem, mas
foi pela mão da Junta de Freguesia que
existe no mercado dos Olivais Norte uma
estação dos CTT aberta aos sábados…
Decidimos dar um enfoque à loja dos CTT
dentro do mercado, porque nos apercebemos que muitas pessoas não sabem da
sua existência. O desconhecimento deve-se a vários detalhes, como seja: o das pessoas que saem de manhã e chegam tarde,
os que não saem de casa pura e simplesmente ou mesmo por parte daqueles
que têm uma vida social muito ativa. Seja
por que for, a verdade é que nos apercebemos que havia muita gente que sabia
que tinha fechado uma estação de correios nos Olivais Norte, mas que desconhecia que essa falta estava suprida noutras instalações, noutro equipamento. Por
via disso, decidimos fazer alguma publicidade à loja dos CTT que funciona aqui
no mercado e que está inclusivamente
aberta aos sábados de manhã.
Senhora Presidente, as reuniões descentralizadas da CML na nossa Freguesia,
abertas ao público, são-lhe úteis para o
exercício das funções?
São sempre úteis, porque a nossa ação e o
nosso trabalho só fazem sentido quando
temos feedbacks, quer sejam eles positivos ou negativos. Especialmente quando
os negativos são feitos em jeito de crítica construtiva. Pois só assim é que nós
podemos caminhar no sentido certo.
Porque nós, que tomamos decisões sobre
várias matérias, não somos donos da verdade absoluta e ouvir as pessoas, escutá-las de facto, é um instrumento de trabalho fundamental.
Já tive duas reuniões descentralizadas e
a noção que tenho é que todos nós olivalenses somos pessoas muito agarradas ao
bairro, agarrados à pedra da calçada, ao
pilarete, às árvores... Eu nunca vi, e digo
isto com orgulho e satisfação, um bairro
em que as pessoas fossem tão perspicazes em detalhe, o ‘detalhezinho’ que noutros sítios, - e eu falo com outros presidentes –, é substituído por queixas mais
generalizadas. Por aqui há as queixas de
pormenor, de detalhe. É absolutamente
fantástico perceber isto porque revela
amor às coisas. As pessoas têm um amor,
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uma paixão à terra, neste caso ao bairro,
que as leva a criticar e a chamar a atenção: “Presidente, olhe isto; Presidente,
olhe aquilo… (sorriso)”.
“2014 foi um ano de
reorganização, mas, apesar
disso, foi também um ano
em que conseguimos fazer
muita obra e implementar
muitos projetos.”
Senhora Presidente, qual a sua opinião
relativamente à questão das lombas de
passagem de peões?
Em relação às lombas, reconheço que
algumas não estão feitas nas melhores
condições. Mas esse facto tem uma explicação: as lombas estavam adjudicadas
e foram feitas naquele período em que
choveu, as condições atmosféricas foram
terríveis. Mas todas já foram ou estão a
ser reparadas agora.
No entanto, o que importa é saber que
os automobilistas andam a velocidades
mais baixas e os peões ganharam uma
nova segurança na travessia das passagens de peões. Acabaram-se os tunings a
altas horas da noite e, na minha perspetiva, não obstante ter havido uma falha
na execução da obra, a qual está a ser
ultrapassada, o certo é que o objetivo foi
alcançado: maior segurança na travessia
das estradas aliada ao facto de as pessoas
com mobilidade reduzida terem também
uma maior facilidade em deslocarem-se.
De acordo com a sua perspetiva, que
outras situações são alvo de algumas
críticas?
Há o eterno problema da alteração da
circulação do trânsito junto ao Spacio
Shopping. Não são reclamações, pois essas
não chegam sequer à Junta, são antes
vozes dissonantes que se ouvem aqui
ou ali, em momentos muitos específicos
e com objetivos também muito específicos. Toda aquela área ainda está em projeto de melhoria e é necessário sanar-se
alguns problemas que se prendem com
questões de segurança. Após essas questões estarem resolvidas, todo o espaço vai
ser embelezado, os pilaretes provisórios
vão ser retirados e todos ganharemos.
“O desafio Olivais é um
desafio muito grande.
Muito meu.
Porque é a minha terra.
Eu seria incapaz de me
candidatar a presidência
de outra junta de freguesia
qualquer, não fazia sentido.
Vejo e entendo o ato de
governar como um ato de
amor. Só podemos governar
bem se conhecermos
e amarmos o nosso sítio.”
A senhora Presidente concorda com
essas pessoas?
A circulação naquela zona está menos
perigosa, mas reconheço que há questões de segurança que estão a ser tratadas, tal como referi.
Por exemplo, quem tem necessidade de
virar para a rua que dá acesso à Praça
Cidade do Luso corre agora riscos que
anteriormente não existiam.
Sim, é verdade. Mas por quê? Porque essa
entrada foi uma medida que não constava do projeto inicial da obra.
Eu, depois de ter sido eleita, fui perceber
como é que aquilo tinha sido estudado e
percebi que aquilo era mesmo para fazer
a circulação total.
Face a tantas reclamações, houve a permissão para se abrir a parte poente para
a Praça Cidade do Luso. Mesmo assim, é
um facto que a relutância a essas alterações de trânsito foi muita e a contestação
também foi grande. Presumo que a
grande contestação não foi a obra em
si, mas a forma como foi feita, de um dia
para o outro sem se dar a conhecer o projeto aos moradores. Todos acordaram um
dia com o trânsito alterado.
Seja como for, a obra não está finalizada.
Vai haver melhoramentos em termos de
segurança. Aquela saída do Pingo Doce
está perigosíssima. O reconhecimento
dessa e de outras situações levou-nos
a projetar, em conjunto com a Câmara
Municipal de Lisboa, uma alteração específica (que está em execução), para esse
troço de forma a resolver essa situação.
Mas o sentido circular do trânsito em
torno do Spaccio Shopping é para manter?
Sim, na óptica da Junta não faz sentido
estar novamente a absorver recursos para
remodelar o que está feito. Melhorar sim,
mas deitar abaixo e fazer de novo não.
Deixemos o trânsito para falarmos um
pouco da sua relação com a oposição.
Existe, na Assembleia de Freguesia,
uma organização política não ligada a
nenhum partido. Como tem sido a relação do Executivo com esse movimento?
Eu tenho uma avaliação muito própria
dessa organização política. Trata-se de
um movimento de cidadãos independentes, eleito democraticamente e com
toda a legitimidade. No entanto, daquilo
que eu me apercebo, são pessoas que,
ao nível político, não estavam preparadas para se confrontarem com certas coisas. Entraram recentemente no mundo
da atividade política e da gestão da coisa
pública e não estavam, por isso, preparados para serem confrontados com coisas
como, por exemplo, o quadro normativo
legal a que estamos sujeitos. Não eram
conhecedores, por exemplo, que a todas
as políticas e ações adotadas pela Junta,
estivesse subjacente uma série de obrigações impostas por quadros normativos
legais, por sinal muito pesados.
Para certas pessoas qualquer coisa que a
Junta de Freguesia faça – e aqui apareço
eu porque sou o rosto da instituição – é
motivo para se levantarem véus e celeumas. Um véu muito característico dos
movimentos independentes, que é o de
criar um fosso entre os cidadãos e os partidos políticos e as instituições por estes
representados. Criar este fosso passou a ser
um desafio para certas frentes que entretanto se criaram. É um fenómeno habitual dos momentos de crise em qualquer
País. Em qualquer País onde existe uma
crise profunda há cidadãos que teimam
em dizer “nós (eles) somos os bons, os partidos e quem os representa são os maus”.
Perante este raciocínio, qualquer coisa que
a Presidente da Junta faça indicia que há
qualquer coisa que não está bem.
Neste caso concreto, o que está aqui
em causa, e o que deu origem ao processo em tribunal de minha iniciativa, foi
nada mais nada menos que uma história
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relacionada com as eleições primárias no
Partido Socialista e o facto de as pessoas
do movimento independente não perceberem que a Presidente da Junta, para
além de ser a presidente de todos os olivalenses, é também uma cidadã comum,
como outra pessoa qualquer, com direito
a ser do Sporting, que é o meu clube, com
direito a ser Católica, com direito a ser do
Partido Socialista e com direito a defender as minhas ideologias e que, sendo
Presidente, tenho, apesar disso, direito
às minhas horas do dia em que não sou
Presidente. Tenho horas em que sou mãe,
sou mulher, sou socialista, sou sportinguista… Nessas horas tenho direito a
fazer campanha por quem eu quiser e
tenho o direito a ir ver um jogo de futebol sem que me acusem seja daquilo que
for. O que se passou foi que houve uma
situação muito complicada, pelo facto de
alguns elementos do movimento terem
aproveitado uma ação de campanha feita
pelo partido socialista, na qual por acaso
e curiosamente nem sequer participei,
para, através de uma moção de censura
colocada à Assembleia de Freguesia,
acusarem a presidente da Junta de
Freguesia, portanto eu, de colocar recursos da Junta de Freguesia para fins políticos partidários.
De que recursos estamos a falar?
A moção não os especifica. São assim um
conjunto de véus que se levantaram em
torno da minha imagem, que obviamente
não podia deixar passar em branco e
recorri aos tribunais. A Democracia faz-se
e reconstrói-se a cada dia pelos e através
dos partidos políticos, pelo que a dignificação dos mesmos está nas mãos e nos
atos de quem os representa. Não poderia relevar uma situação destas. As pessoas têm de ser responsabilizadas pelo
que fazem ou dizem, não podendo achar
que estão acima de qualquer julgamento
só porque se fala de partidos políticos.
Encaro com muita seriedade tudo o que
faço e, tirando este aborrecido e lamentável episódio, a relação entre as forças eleitas é, naturalmente, perfeitamente normal e dentro dos padrões democráticos
que todos defendemos.
Ultrapassado que está mais de um ano
de mandato, verifica-se que apostou
mais na ação social do que na habitual
obra pública. Esse é o caminho que pretende continuar a trilhar?
Não apostei mais, apostei de uma forma
diferente. Mas também há obra pública
– e muita! Como seja o caso da Avenida
de Berlim e da Quinta do Morgado. Nesta
última pretende-se abater todas as árvores em duas artérias, que são as que estão
numa situação mais complicada para os
moradores. As ruas em causa são a Rua
José Saraiva e a Praça Cottinelli Telmo.
Aí iremos proceder aos abates e fazer a
reposição de novas árvores. Temos consciência de que se vai instalar, durante
algum tempo, o caos naquela zona, porque fazer abates em árvores de caldeira,
árvores de alinhamento, implica que se
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proceda à repavimentação e reposição
integral de calçada. Para além disso, vai
ter de se fazer o afastamento das novas
árvores das empenas dos prédios. Está
ainda previsto fazer a recuperação do
parque situado no miolo daquelas duas
ruas. Trata-se de uma obra com alguma
envergadura, que irá para a frente e será
acabada ao longo deste ano de 2015.
Na gestão do espaço público e dos equipamentos, a Junta de Freguesia adotou outro conceito. Temos mão-de-obra direta, pessoal próprio, carrinhas
de apoio próprias e material que compramos e armazenamos para fazer face à
manutenção do espaço público. Ou seja,
acabaram-se as empreitadas. Podemos,
assim, dar uma resposta mais célere, e
mais económica, a tudo o que é necessário fazer, como a reparação de uma
calçada, a reposição de um sinal, etc. No
fundo, é fazer mais com menos.
Sei que faz um balanço muito positivo
deste primeiro ano de mandato. Para
além das obras já faladas, que surpresas
tem na manga para este segundo ano?
A equipa e eu própria temos muitas
ambições para os olivalenses. Mesmo
depois de termos um ano de 2014 muito
intenso, a intenção é continuar a surpreender e a trabalhar. Em 2014 foi necessário fazer a instalação de uma nova
Junta de Freguesia. Passámos de um
mapa de pessoal de cerca de 20 pessoas para um mapa de pessoal de 130.
Este aumento exponencial ficou a dever-se à transferência de competências da
Câmara Municipal de Lisboa para as freguesias. Tivemos, em 2014, um momento
muito feliz, que foi o jantar de Natal dos
funcionários e colaboradores, monitores
Vamos lá Olivais
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dos ATLs, professores… Ao todo reunimos cerca de 250 pessoas. Refiro isto para
que se possa ver a nova dimensão desta
casa. 2014 foi um ano de reorganização,
mas, apesar disso, foi também um ano
em que se conseguiu fazer muita obra e
implementar muitos projetos.
Há quem diga que não houve assim
grande trabalho, tendo em conta que a
Junta de Freguesia já estava instalada e
constituída. Em resposta a essa ideia costumo dizer que é o mesmo que viver num
apartamento com uma assoalhada e fazer
uma mudança para o Palácio de Queluz.
Nada é igual, nem sequer comparável!
Estamos numa outra dimensão. Numa
dimensão que nos coloca a um nível superior a 70% dos municípios de Portugal.
2015 é o ano em entramos em velocidade
de cruzeiro e temos margem para brilhar.
Agora temos a casa praticamente arrumada, de acordo com a reforma administrativa da cidade. Como é lógico, tal como
numa casa, há sempre muito para fazer
em termos internos e logísticos, mas
neste momento já temos tudo instalado,
portanto, vamos, por um lado, continuar
e, por outro, começar a dar corpo a outro
tipo de projetos e grandes investimentos.
Tais como?
Ao nível do espaço público, vamos ter
alguns parques de estacionamento; estamos já a executar a obra da Avenida de
Berlim; a da Quinta do Morgado, da qual
já falámos; o parque de estacionamento
da Quinta do Morgado, junto à padaria; a recuperação da Praça do Chinde;
a execução de mais um parque infantil, mais especificamente no Bairro da
Encarnação… Tudo isto sem contar,
obviamente, com a gestão corrente que
se faz diariamente.
Ao nível da intervenção social, estamos a
ultimar o arranque do projeto ‘Oficina do
Reformado’. Já temos uma equipa pronta
e tudo o que é necessário. A ‘Oficina do
Reformado’ consiste num projeto que vai
auxiliar os nossos seniores naquelas tarefas domésticas que para nós, que somos
mais jovens, são fáceis de executar, mas
para quem já tem uma certa idade não o
são. Tarefas como mudar uma lâmpada,
mudar uma torneira, são apenas exemplos. E a Junta vai poder intervir de uma
forma fácil na vida das pessoas, auxiliando-as e criando canais de proximidade. Há muitas pessoas a precisar de
ajuda e sós.
Mas não vamos ter a EMEL?
Não! Definitivamente os olivalenses não
vão ter a EMEL nos Olivais. A EMEL não faz
parte dos meus projetos. Eu prometi e é
para cumprir que nos Olivais não iremos
ter a EMEL, a menos que fossem os próprios moradores a pedirem. Promessa é
promessa e eu cumpro as minhas, todas!
Mas temos outras coisas, como seja o projeto ‘Olivais Porta a Porta’. Que é um projeto muito engraçado. Não é nossa pretensão substituirmo-nos aos transportes
públicos. Sou defensora dos transportes
públicos e entendo que devem estar na
esfera de gestão das autarquias. Acho que
até deveria existir uma política de descentralização do Governo para o município, não só dos transportes públicos. Em
minha opinião, outros serviços deveriam
ter uma gestão municipal, como é o caso
dos centros de saúde.
Mas centremo-nos no Porta a Porta.
Por quê esse projeto?
Nós temos uma Freguesia com uma
dimensão muito grande. E, de facto,
temos alguma falta de transportes para
fazer os percursos interiores. Isso é colmatado com este projeto, que na sua
génese, foi criado pela Câmara Municipal
de Lisboa, ainda que noutro formato. O
que fizemos foi pegar nesse formato e
transformar-lhe um bocadinho o conceito. Ou seja, criámos um circuito alargado, que percorre toda a Freguesia dos
Olivais. Tivemos o cuidado de dar um
enfoque especial às escolas, ao centro de
saúde, às finanças, aos serviços públicos
e mercados, para permitir que as pessoas
apanhem o nosso autocarro e assim consigam mobilizar-se por toda a Freguesia
sem custos. Estou em crer que este projeto tem tudo para ser um sucesso exponencial e que vai crescer muito.
Esse é o projeto que mais acarinha por
agora ou há mais na manga?
Considero importantes todos os projetos
ao nível da educação e da cultura. Tenho
para mim que a educação e a cultura são
as mais importante para o crescimento e
desenvolvimento das pessoas enquanto
tal e do País em geral. Educando-nos e
dando relevo à cultura estamos a investir em conhecimento e a preparar a sociedade para todas as questões essenciais.
Sejam crianças, sejam jovens, seja o que
for e quem for. Explicado isto, não é de
estranhar que tenhamos os nossos projetos normais, que são muito ricos ao
nível da educação, da cultura, da ação
social. Projetos de socorro às questões
de primeira necessidade, como é o caso
do Banco Alimentar que possuímos e do
Fundo de Emergência Social. É um banco
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Vamos lá Olivais
alimentar próprio da junta de freguesia
que funciona na loja social.
tarefas, seja a jogar às cartas, a estudar ou
a ver televisão.
Como é que funciona a Loja social?
Trata-se de uma loja de porta aberta,
onde as pessoas podem ir doar peças
que já não necessitam ou querem. Todos
os bens doados são tratados, inventariados e etiquetados. Apesar disso, esta não
vai ser uma loja comercial. Não é uma loja
onde alguém entre e compre. As coisas
ali não são vendidas, são dadas. O conceito é o de as pessoas saberem que ali
há uma loja de partilha, onde podem ir
em caso de necessidade.
Quanto ao projeto que mais gostaria
de ver implementado e a funcionar em
pleno, aquele que mais me encheria o
coração, que me deixaria mesmo feliz
seria e será, porque mais dia menos dia
eu vou conseguir trazê-lo à luz do dia, é
o plano gerontológico. Eu sei que insisto
muito nesta temática, até porque tenho
comigo uma equipa técnica que pensa
da mesma forma, mas, de facto, é um
assunto que me preocupa e que não é
de fácil solução. Tenho a consciência que
sou Presidente de uma Freguesia com
uma população muito envelhecida e é
importante criar um projeto desse tipo
ao nível dos Olivais. Em concreto, gostaria que a Freguesia fosse a primeira ter
um plano gerontológico que preparasse
as pessoas para a velhice. Não se trata de
trabalhar as pessoas já na idade. Trata-se,
isso sim, de preparar as pessoas, agora
com 55 anos por exemplo, que ainda
estão a trabalhar mas que sabem que em
breve se vão reformar, e que ainda não se
aperceberam, mas já estão a sentir física
e mentalmente os efeitos daquilo que vai
acontecer quando já não estiverem no
ativo e, logo, sem nada para fazerem. É,
acima de tudo, um projeto de prevenção
e de preparação para o futuro. Trata-se de
um plano muito importante e alcançá-lo, vê-lo posto em prática, deixar-me-ia
muito feliz, quer em enquanto Presidente
de Junta, quer enquanto mulher.
E é só chegar e aviar-se?
Não! Quem lá vai com o intuito de obter
alguma coisa, vai ter de passar primeiro
pela Junta de Freguesia, onde falará com
uma técnica de serviço social, que, por
sua vez, fará a análise do agregado familiar. Não é uma análise profunda, não
estamos aqui para vasculhar a vida de
ninguém, é apenas a verificação de que
se está perante um agregado com necessidades reais. Feito isso, são emitidas credenciais, é feita a ficha da pessoa e depois
é só ir à Loja e adquirir o que se pretende.
Todos sabemos, infelizmente, que
uma faixa pertencente à denominada
“pobreza envergonhada” não vem à
assistente social…
Temos conseguido combater isso muito
bem. Como? Trabalhando de uma forma
muito silenciosa mas intensa nas escolas. E trabalhando as escolas, conseguimos perceber o que se passa e conseguimos chegar aos agregados familiares.
Há muitas situações que nós conseguimos suprir, mas não porque as pessoas
nos procuram, somos nós que as procuramos. Porque há indicadores, há situações sinalizadas, ora pela escola ora pelos
nossos projetos. Para conseguir chegar
a este nível, contamos com as técnicas
da Junta de Freguesia que estão a trabalhar nas escolas e que fazem parte de um
outro projeto em crescimento, que tem
assistentes sociais, psicólogas, técnicas
de educação. Em equipa ou individualmente, elas conseguem detectar muitas dessas situações. Digamos que temos
aqui uma rede que, nos ajuda muito a
ajudar quem muito precisa de nós.
Já percebi que todos os projetos em
manga lhe fervilham o coração, mas
volto a perguntar se algum a faria gritar
vitória e a dizer “hurra! Consegui!”?
Antes disso, deixe-me ainda dizer-lhe que
vamos também implementar um projeto
intergeracional, que vai localizar-se em
Olivais Sul. Trata-se de um espaço de convívio onde os miúdos possam estar a consultar o seu computador, até a fazer um
trabalho de grupo e, no mesmo espaço,
possam estar os nossos seniores que costumam estar por aí a jogar às cartas uns
com os outros debaixo das árvores, quer
faça chuva ou sol. Neste espaço vai ser
possível os seniores estarem em convívio com os mais novos, cada um nas suas
O brilho do seu olhar a falar deste plano,
leva-me a perguntar qual é, para si, o
significado de ser Presidente da Junta
de Freguesia de Olivais?
Digamos que o desafio Olivais é um desafio muito grande. Muito meu. Porque é a
minha terra. Eu seria incapaz de me candidatar a presidência de outra junta de
freguesia qualquer, não fazia sentido.
Nestes cargos, penso eu, as pessoas têm
de estar onde nasceram, onde vivem.
Eu não podia ser presidente da Junta de
Moscavide ou de Marvila, a ser como sou
de facto, tinha de ser aqui. Vejo e entendo
o ato de governar como um ato de amor.
Só podemos governar bem se conhecermos e amarmos o nosso “sítio”.
De qualquer maneira, devo dizer-lhe que
não fiz nada para ser convidada para
estar aqui. Eu vou abraçando os desafios
conforme eles me vão caindo no colo – e
isso não deixa de ser curioso.
Sou uma lutadora, isso é certo, mas o ser
presidente de Junta foi uma situação para
a qual não caminhei, o meu percurso de
vida não foi no sentido de ser presidente
de Junta.
Eu sou uma tecnicista, sou uma profissional de carreira, e portanto, há cinco
ou seis anos não estava a passar-me pela
cabeça ser presidente de Junta. Isto foi
uma situação que aconteceu na minha
vida, como muitas outras. Agora, que
fique claro: eu só agarro os desafios com
paixão e os que sei que posso abraçar.
Portanto, Olivais é um desafio para levar
até ao fim!
Tomou-lhe o gosto…
Tenho projetos que sei que só fazem sentido se forem planeados a longo prazo
e acredito que o meu projeto para os
Olivais não termina dentro de três anos.
Acredito que tenho muito para dar aos
Olivais ainda. Quando se pretende e se
tem a convicção de que se pode fazer um
trabalho bem feito, com alicerces sólidos
para o futuro, para quem vier a seguir,
sabemos que não é para um, nem dois,
nem três anos…
Para terminar, tem mágoas por revelar?
Talvez… A permanente desconfiança
nos políticos magoa-me. Há cada vez
mais gente a dizer que há sempre uma
má intenção por detrás das coisas. Não
quer dizer que sinta isso nas abordagens
na rua, mas a verdade é que há sempre
alguém nas redes sociais a dizer mal do
que não sabe. Eu gostava muito, pelo
menos aqui nos Olivais, tendo em conta
que aqui trabalhamos de coração aberto,
de um dia acordar e perceber que as pessoas acreditam na Junta de Freguesia e
na sua equipa. Eu sei que apesar de tudo
há muitos que acreditam, a maior parte,
e também compreendo quem assim não
seja. As pessoas andam muito revoltadas, as andam zangadas, andam exaustas com os sacrifícios que têm de fazer
para solucionar as suas vidas, com tudo o
que as envolve, com a falta de respeito de
quem as tem governado de facto. E, nalguns casos, têm toda a razão do mundo.
Março, 2015, n.º 1
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E isso é uma coisa que a magoa?
Sim, magoa. Não gosto de sentir a desconfiança de alguns. É como se estivesse
a dar um fio de azeite para receber uma
oliveira. É assim uma sensação esquisita, que tenho dificuldade em verbalizar. Costuma-se dizer que quem desconfia não é certo…
Isso leva-a a ter algum desejo específico, politicamente falando?
Se calhar é um desejo que não passa de
um sonho por parte de quem, como eu,
age com o coração, ciente da minha missão: fazer o melhor que sei e o melhor que
posso. Depois disso, ver que há pessoas
que se dedicam só ao escárnio e ao maldizer perante algo que corre menos bem,
que arranjam sempre explicações mirabolantes de intriga e afins, para as quais
existem todas as razões menos aquela
que é a lógica. Esta é a parte da política
que mais me entristece. Mas eu também
costumo dizer que eu sou uma política
atípica, pois há coisas com as quais nunca
vou conseguir conviver, e esta será uma
delas, talvez por pensar diferente.
Na política, como em outros lados, há
de tudo. Diz o povo que onde há os
maus também há os bons, mesmo que
sejam em menor número.
Precisamente! Se calhar eu sonho com
um Mundo ideal que só existe na minha
cabeça… O que eu gostaria mesmo era
de fazer rapidamente tudo o que há para
fazer e que toda a gente percebesse
que os Olivais têm uma Presidente que
é da terra e que realmente está a fazer o
melhor que pode, sempre com o coração,
mesmo quando comete erros.
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Rute Lima - Junta de Freguesia dos Olivais