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Quarta-feira
28 de janeiro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Política
GOVERNO FEDERAL
Marta ataca novamente a
presidente Dilma Rousseff
No dia da primeira reunião ministerial do novo
governo Dilma Rousseff, a ex-ministra e senadora
Marta Suplicy (PT-SP) coloca mais lenha na fogueira da crise do partido e afirma que falta transparência ao governo. Em artigo publicado na Folha
de S. Paulo e divulgado à imprensa por sua própria assessoria, a senadora escreve que, “se tivesse
havido transparência na condução da economia
no governo Dilma, dificilmente a presidente teria
aprofundado os erros que nos trouxeram a esta situação de descalabro”.
Marta, que no começo do ano deu uma entrevista com fortes críticas a Dilma e ao PT, dizendo
que ou o partido “muda ou acaba”, lembrou nesta
terça-feira que a presidente afirmou em seu discurso de vitória que manteria seus compromissos de
campanha. “Nem que a vaca tussa”, salientou Marta sobre expressão usada por Dilma para afirmar
que não mexeria em direitos e conquistas trabalhistas.
Para a senadora, se tivesse havido transparência, “não estaríamos agora tendo de viver o
aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de
investimentos e o aumento de impostos, fazendo a
vaca engasgar de tanto tossir”.
A senadora, que foi ministra dos governos
Lula e Dilma (Turismo e Cultura, respectivamente),
queixou-se do silêncio da presidente sobre a escolha do ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “sem
nenhuma explicação, nomeia-se um ministro da
Fazenda que agradaria ao mercado e à oposição. O
simpatizante do PT não entende o porquê. Se tudo
ia bem, era necessário alguém para implementar
JOSÉ CRUZ/ABR/JC
Senadora paulista coloca mais lenha na fogueira da crise do partido
‘Falta transparência ao governo’, avalia ex-ministra
ajustes e medidas tão duras e negadas na campanha? Nenhuma explicação”.
Para Marta, no entanto, não fica claro ainda
se Dilma apoia as decisões da equipe econômica,
já que “ela logo desautoriza a primeira fala de um
membro da equipe e depois silencia”. A senadora comenta ainda que a própria Fundação Perseu
Abramo, entidade do PT, criticou as escolhas econômicas do governo.
“O PT vive situação complexa, pois embarcou
no circo de malabarismos econômicos, prometeu,
durante a campanha, um futuro sem agruras, mas
agora está atarantado sob sérias denúncias de corrupção”, dispara a ex-ministra, ressaltando que
“nada foi explicado ao povo brasileiro, que já sente e sofre as consequências e acompanha atônito
um estado de total ausência de transparência.”
Apesar dos ataques, cúpula quer
manter Marta Suplicy na sigla
Os novos ataques da ex-ministra e senadora Marta Suplicy
ao PT e à presidente Dilma Rousseff não foram suficientes para
demover o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e a cúpula
do partido de convencê-la a permanecer filiada à legenda.
Apesar de estarem extremamente irritados com a postura de
Marta, Lula e dirigentes petistas
continuam enviando sinais à senadora de que há a disposição
do partido em negociar a sua
permanência.
Escalado para ser o interlocutor entre o PT e Marta neste
momento de crise, o presidente
do PT-SP, Emidio de Souza, disse que prefere as declarações
que a senadora deu durante a
campanha, quando ela defendia
o legado do partido e o governo
federal, às duras críticas que tem
feito nas últimas semanas. “Prefiro as opiniões da Marta sobre o
PT e o governo dadas durante a
campanha”, afirmou Emidio.
Nas últimas duas semanas,
o presidente estadual petista enviou três emissários para sondar
Marta sobre uma possível negociação com o partido. A senadora sinalizou positivamente para
uma conversa na sexta-feira passada. Em seguida, porém, alegou
motivos pessoais para fazer uma
viagem e não remarcou a data.
Mesmo com o esforço concentrado do partido, integrantes
do comando do PT acreditam
que a vontade real da senadora
é sair da sigla para concorrer à
prefeitura de São Paulo em 2016.
Para eles, a petista “quer sangrar
o PT” e “demarcar campo, tentando capitalizar o desgaste do
PT entre os paulistas.”
A Folha de S.Paulo informou,
há 15 dias, que o presidente nacional do PT, Rui Falcão, reuniu-se com Lula e, em seguida, com
Emidio em São Paulo para deliberar sobre a situação de Marta.
Ficou acertado que a legenda procuraria a sendora e, caso
ela se mostrasse disposta a conversar, Lula entraria no circuito
pessoalmente. O aceno será o de
que Marta pode ser a candidata
petista ao governo paulista em
2018, mas não poderá pleitear a
vaga de Fernando Haddad (PT),
que disputará a reeleição para a
prefeitura da capital paulista no
ano que vem.
Aliados afirmam que a senadora tem um “projeto pessoal” de voltar a concorrer a um
cargo majoritário em São Paulo
e, como completará 70 anos em
março, vê a eleição de 2016 como
“sua última chance”. Mesmo assim, ponderam, estaria disposta
a aceitar a vaga de candidata do
PT ao governo.
Petistas apostam que, caso
Marta aceite o posto de candidata ao Bandeirantes, colocará condições, como a de não precisar
enfrentar prévias dentro do partido e ter o apoio integral de Lula.
‘Não há mais espaço para ela’, diz Humberto Costa
O novo ataque da ex-ministra Marta Suplicy
(PT) contra o governo da presidente Dilma Rousseff
(PT) e contra seu próprio partido mostra, na avaliação de petistas, que há pouco ou nenhum espaço
para ela continuar na sigla.
Dirigentes do PT foram surpreendidos pelo artigo, publicado nesta terça, no jornal Folha de S.Paulo,
no qual a petista afirma que não há “transparência na condução da economia no governo Dilma”
e que a situação atual “não é nada rósea como foi
apresentada na eleição”. Mais uma vez, o PT não foi
poupado: na avaliação de Marta, o partido “agora
está atarantado sob sérias denúncias de corrupção”.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), ao reiterar as críticas feitas na entrevista no último dia 11,
fica difícil haver um entendimento para a permanência de Marta no partido. “Com a posição reiterada, fica difícil acreditar que ela tenha portas abertas
para um entendimento”, disse. “Parece que não há
muita abertura para isso.”
A investida de Marta atinge em cheio o Palácio
do Planalto e o PT no mesmo dia em que Dilma realiza sua primeira reunião ministerial e tenta reagir a
uma enxurrada de notícias negativas, como o corte
a benefícios previdenciários e a crise no abastecimento de energia e de água.
Os petistas temem que o provável desembarque de Marta do PT e sua candidatura à Prefeitura
de São Paulo por um outro partido “rache” os votos
de Fernando Haddad, que deverá concorrer à reeleição na capital no pleito de 2016. Se já havia dificuldades em restabelecer pontes, o artigo “azedou” de
vez o clima, uma vez que os dirigentes esperavam
que a senadora ao menos ouvisse o que a sigla teria
a lhe oferecer.
“Estamos vivendo um período de morde e assopra, de críticas e afagos, inclusive de correligionários de nossa direção partidária, mas a Marta exagerou nessas críticas reiteradas, o que só dificulta
a reconstrução do diálogo para a sua manutenção
no PT”, diz um dos membros da executiva da sigla.
Em conversas reservadas, alguns dirigentes
não poupam a senadora de críticas, alegando que
ela não abriu a brecha necessária para o diálogo
construtivo, ao mesmo tempo em que tenta se descolar do partido, como se nunca tivesse integrado
as suas fileiras. “Ao criticar de forma contundente
o partido, seus dirigentes e a própria presidente da
República, Marta se esquece que ainda é integrante
do PT e que, inclusive, ocupou uma cadeira ministerial da gestão que agora critica. Se ela não está
contente com os rumos atuais, ela deveria ter feito
alguma coisa lá atrás, criticar agora é muito fácil”,
diz um outro dirigente.
A crise entre Marta e o PT se tornou pública
quando ela chamou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de “inimigo” de Lula e sentenciou
que “o PT ou muda ou acaba”.
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