COMMISSIONING E OPTIMIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE DOSIMETRIA FOTOGRÁFICA PEDRO MIGUEL DO CÉU CARREIRA ORIENTADOR: Professor Dr. Nuno Teixeira CO-ORIENTADOR: Professora Dra. Adelaide Jesus Lisboa 2010 Dosimetria Fotográfica Agradecimentos Esta dissertação da tese de mestrado significa o fim de um período de vários anos de formação académica, que começou na minha terra natal Alpiarça e que terminou dividida entre o Monte da Caparica e Lisboa. Em todos estes anos muitas foram as pessoas que contribuíram para o meu sucesso, dando-me força e motivando-me. Em primeiro lugar os meus país pelo apoio monetário e acima de tudo por confiarem em mim dando me liberdade para fazer as minhas próprias escolhas. Todos os meu amigos de infância tiveram um papel bastante importante na minha vida tornando os momentos de felicidade inesquecíveis e ajudando-me a superar momentos mais difíceis, fazendo da palavra união uma banalidade saudável. Os amigos da faculdade marcaram também eles a minha formação académica, em todas as horas de estudos, bem como em todas as horas de ócio. Toda a equipa de radioterapia dos SAMS, que foram as pessoas que estiveram mais próximas de mim na realização desta tese, foram muito importantes para concretizar este trabalho, por toda a ajuda que me prestaram e pelo ambiente motivante que criaram. Claro que este trabalho não seria possível sem a iniciativa dos meus orientadores, que possibilitou o meu envolvimento numa área dos cuidados de saúde bastante aliciante, que é a radioterapia. Muito obrigado a todos. i Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Resumo Este commissioning teve o objectivo de testar o sistema de dosimetria fotográfica do centro clínico do SAMS. A dosimetria fotográfica é uma ferramenta útil na avaliação 2D de distribuições de dose em radioterapia externa, mas para se tornar numa ferramenta eficaz é necessário conhecer os elementos que a compõem. Neste trabalho, o sistema em causa é composto por películas Gafchromic® EBT, pelo scanner Epson® Expression® 10000XL e pelo programa de análise dosimétrica OmniPro® IMRT. Os testes efectuados permitiram reconhecer as suas vantagens e limitações, concretizando-se na optimização da sua aplicação, com vista à obtenção de resultados credíveis. As películas Gafchromic® EBT sendo auto reveláveis dispensam qualquer tipo de tratamento pós irradiação, diminuindo o gasto em recursos e ao mesmo tempo eliminando o processo de revelação, difícil de avaliar quanto ao efeito que tem nas películas. Tendo em conta que a avaliação dosimétria se baseia nas características das imagens obtidas através da digitalização de cada película, foi necessário recorrer a dois programas, MatLab® e OmniPro® IMRT, nos quais foi possível extrair informações relevantes contidas em cada imagem. De forma a avaliar qual dos canais de uma imagem RGB seria preferido para a análise das imagens foi obtido o espectro de absorção das películas EBT, constatando-se que a película tem o seu pico de absorção na zona do vermelho, foi o canal R o utilizado. O tempo após o qual o processo de enegrecimento da película estabiliza foi considerado de 4horas. No que diz respeito à sua posição na mesa do scanner foi observado que a posição landscape produz melhores resultados. Uma característica importante das películas Gafchromic® EBT é a sua independência energética que foi confirmada através da análise de películas irradiadas com diferentes energias para diferentes doses. Relativamente à caracterização do scanner Epson® a OD máxima lida foi estabelecida em 3,73. Este é um valor bastante elevado o que significa uma grande abrangência de ODs por parte do scanner. A uniformidade da digitalização foi avaliada confirmando-se que o efeito dispersor da luz afecta os perfis paralelos à lâmpada, sendo necessário aplicar a correcção disponibilizada pelo programa OmniPro® IMRT, denominada “Trento Method”. Por fim, com o objectivo de pôr à prova todas as conclusões dos testes efectuados, foi realizada a comparação através da análise gama, entre planos de doses calculados no sistema de planimetria Eclipse® e películas irradiadas com os mesmos campos. A coincidência espacial em termos de dose relativa esteve muito próximo dos 98%, não se conseguindo contudo a iii Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica avalização em termos de dose absoluta, uma vez que o algoritmo utilizado pelo programa OmniPro® IMRT não o permite. Palavras chave: dosimetria fotográfica, Gafchromic® EBT, análise gama, Epson® Expression® 10000XL Photo. iv Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Abstract Film dosimetry is a practical tool for 2D dose analyses on external radiotherapy. The main goal of this commissioning was to test film dosimetry equipment installed at the SAMS clinical center. Gafchromic® EBT films, a scanner Epson® Expression® 10000XL and a dosimetric software evaluation OmniPro® IMRT, were evaluated. These tests were useful to know the advantages and the constraints of this equipment and at the same time optimize the process to get better results. Gafchromic® EBT films are self-developing, what means that they don’t need any post processing after irradiation, this eliminate some costs with the developing process, which is very uncertain. MatLab® and OmniPro® IMRT were the software used to analyze the films’ images, and to understand better the film and scanner performances. The absorption spectra of Gafchromic® EBT films were obtained to indentify the maxima absorption wavelength. It was observed on red region of the spectrum, so the red channel from the RGB film images was chosen to analyze the images. The post-exposure growth density has been investigated and the process is essentially complete within about 4 hours. An important point is the scan direction, it was observed that better results were achieved with the landscape mode. The films energy dependence was investigated and results show that Gafchromic® EBT films are energy independent, i.e. films irradiated with the same dose but different energy have the same OD. The highest OD of the Epson® scanner was found to be 3,73, this is an high value giving it the ability to capture a large number of ODs. The scan uniformity was verified and it was found that effects of the light scattering on the image profiles parallel to the light source have a great influence on the dose measurements. To eliminate this effect the correction applied by the OmniPro® IMRT software must be used in all dose analyses, the method is called “Trento Method”. Finally to put in practice the conclusions from the previous tests, gamma evaluation was applied on a comparison between treatment planning system calculation, Eclipse®, and irradiated films with the calculated fields. The coincidence was close to 98%, in all the relative dose evaluations. It was an objective to do the evaluation on absolute dose, but the OmniPro® IMRT gamma evaluation algorithm cannot display absolute dose values. Key words: film dosimetry, Gafchromic® EBT, gamma evaluation, Epson® Expression® 10000XL. v Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Lista de Abreviaturas 2D - Bidimensional AAPM – American Association of Physicists in Medicine CI – Câmara de Ionização CCD – Charge Coupled Device cGMP – current Good Manufacturing Practice DFS - Distância Foco Superfície DTA – Distance To Agreement EBT – External Beam Therapy FDA – Food and Drug Administration IAEA – Internacional Atomic Energy Agency IGRT – Image Guided Radiation Therapy ; Radioterapia Guiada por Imagem IMAT – Intensity Modulated Arc Therapy; Terapia com Arco Conformacional Dinâmico IMRT – Intensity Modulated Radiotherapy ; Radioterapia com Intensidade Modulada ISP – Internacional Specialty Products ITN – Instituto Tecnológico e Nuclear MLC – Multileaf Collimator; Colimador Multilâminas NIST – National Institute of Standards and Technology NSTL – National Software Testing Labs OD – Optical Density; Densidade Óptica PCDA – Ácido Diónico pentacosa-10,12 RGB – Red Green Blue SAMS – Serviços de Assistência Médico-Social SI – Sistema Internacional TAC – Tomografia Axial Computorizada TLD – Thermoluminescent Dosimeter; Dosimetros Termoluminescentes TPS – Treatment Planing System; Sistema de Planimetria USB – Universal Serial Bus vii Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Índice de Figuras Gráfico 1.1 – Regiões de predominância relativa das três principais interacções com fotões……………………………………………………………………………………………………………………………….. 8 Figura 2.1 – Efeito Fotoeléctrico…………………………………….……………………………………………….. 10 Figura 2.2 – Efeito de Compton. …………………………………………………….………………………..………. 11 Figura 2.3 – Produção de Pares. ……………………………………………………….…….…………………..…… 12 Figura 2.4 – Interacção do electrão incidente com o átomo do meio……………………………….. 13 Figura 3.1 – Fotografia reconhecida como sendo a primeira do mundo, 1826………….………. 18 Figura 3.2 – Estrutura de uma película radiográfica…….……………………………………………………. 23 Figura 3.3 – Camada activa de uma película radiocromática não irradiada……….……………... 27 Figura 3.4 – Camada activa de uma película radiocromática exposta à radiação………….…... 27 Figura 3.5 – Película radiocromática exposta a diferentes níveis de dose…………..……….……. 28 Figura 3.6 – Corte transversal de uma película Gafchromic® EBT………………….…………….……. 29 Gráfico 3.1 - Espectro visível das películas Gafchromic® EBT……………..……………………………… 30 Figura 4.1 – Acelerador Varian Clinac® 2100 CD do centro clínico do SAMS…………………..… 35 Figura 4.2 – TAC ao fantoma de placas de água sólida utilizado…………….……………………….… 36 Figura 4.3 – Exemplo de uma câmara de ionisação cilíndrica…………….…………………………..…. 37 Figura 4.4 – Exemplo de uma câmara de ionização plana de placas paralelas……….……..…… 37 Figura 4.5 – Câmara de ionisação CC13……….………………………………………….……………………….. 39 Figura 4.6 – Desenho das dimensões da câmara de ionização CC13………….………..……………. 40 Gráfico 5.1 – Razão Sinal Ruído em função da OD para o scanner Epson Expression 10000XL Photo………….………………………………………………………..…………………………….……………… 57 Gráfico 5.2 – Gráficos sinal ruído em função da OD de diferentes scanners………….………… 58 Gráfico 5.3 - Espectro de absorção de uma pelicula Gafchromic EBT……………………….….…… 59 Gráfico 5.4 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 1……………….……. 62 Gráfico 5.5 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 2……………….……. 63 Gráfico 5.6 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 3………………..…… 63 Gráfico 5.7 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 4………….….………. 64 Figura 5.1 – Posição de digitalização A..……………………………………………………………………………. 65 ix Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.2 – Posição de digitalização B……………………………………………………………………………… 65 Figura 5.3 – Posição de digitalização C……………………………………………………………………………… 66 Figura 5.4 – Posição de digitalização D……………………………………………………………………………… 66 Figura 5.5 – Perfis de análise…………………………………………………………………………………………….. 66 Gráfico 5.8 - Colunas: imagem com extracção do canal R…………………………………………………. 67 Gráfico 5.9 - Linhas: imagem com extracção do canal R…………………………………………...………. 67 Gráfico 5.10 - Colunas: imagem com extracção do canal R e aplicação do filtro Wiener…… 68 Gráfico 5.11 - Linhas: imagem com extracção do canal R e aplicação do filtro Wiener..…… 68 Gráfico 5.12 - Colunas: média de 10 imagens com extracção do canal R…………………………… 69 Gráfico 5.13 - Linhas: média de 10 imagens com extracção do canal R………………………..…… 69 Gráfico 5.14 - Colunas: média de 10 imagens com aplicação do filtro Wiener e com extracção do canal R…………………………………………………………………………………………………………. Gráfico 5.15 - Linhas: média de 10 imagens com aplicação do filtro Wiener e com extracção do canal R……………………………………………………………………………………….………………… 70 70 Gráfico 5.16- Colunas: imagem com extracção do canal R………………………………………………… 71 Gráfico 5.17-Linhas: imagem com extracção do canal R………………………………………………….… 71 Gráfico 5.18- Colunas: imagem com extracção do canal R………………………………………………… 72 Gráfico 5.19- Linhas: imagem com extracção do canal R…………………………………………………… 72 Gráfico 5.20- Colunas: imagem com extracção do canal R………………………………………………… 73 Gráfico 5.21- Linhas: imagem com extracção do canal R…………………………………………………… 73 Figura 5.6 – Dispersão da luz e a sua detecção no dispositivo CCD………………………………..…. 75 Gráfico 5.20 - Pefis: película totalmente irradiada com 200cGy………………………………………… 76 Gráfico 5.21 - Perfis: película irradiada com 50cGy campo 10x10cm2.................................. 77 Gráfico 5.22 - Perfis: película irradiada com 100cGy campo 10x10cm2.………………………….… 77 Gráfico 5.23- Enegrecimento de uma película ao longo do tempo……………………………………. 79 Figura 5.7 – Imagens de duas películas irradiadas com diferentes energias e a mesma dose…………………………………………………………………………………………………………………………………. Gráfico 5.24 - Independência energética das películas EBT . …………………………………………… Figura 5.8 – Aquisição dos pontos para a construção da curva VS para OD………………………. 2 80 82 83 Gráfico 5.25 -Curva de calibração Scanner - ROI 1x1mm ………………………………………………… 84 Gráfico 5.27 - Curva de calibração Scanner - ROI 5x5mm2……………………………………………….. 84 Gráfico 5.28 - Curva de calibração Películas - ROI 5x5mm2................................................... 86 x Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.29 - Curva de calibração Películas - ROI 20x20mm2.…………………………………………… 87 Gráfico 5.30 - Curva de calibração Películas - ROI 50x50mm2.............................................. 87 Figura 5.9 – Setup de irradiação de películas colocadas a 3 profundidades……………..….…. 88 Figura 5.10 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 2cm……………………………………………………………………………………………………………………………….. Figura 5.11 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 5cm..……………………………………………………………………………………………………………………………… Figura 5.12 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 5cm. ……………………………………………………………………………………………………………………………… Figura 5.13 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 2cm. ……………………………………………………………………………………………………………………………… Figura 5.14 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 5cm……………………………….………………………………………………………………………………………………. Figura 5.15 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 7cm. ……………………………………………………………………………………………………………………………… Figura 6.1 – Workflow do sistema de dosimetria fotográfica……………………………………………. 90 91 92 93 94 95 100 xi Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Índice de Tabelas Tabela 1.1 – Testes de validação……………………………………………………………………………………… 4 9 Tabela 2.1 – Processo de Interacção da Radiação…………………………………………………………….. Tabela 3.1 – Características de diferentes películas………………………………………………………….. Tabela 3.2 – Testes necessários ao correcto funcionamento de um sistema de dosimetria fotográfica para películas radiográficas…………………………………………………………………………..… Tabela 3.3 – Composição atómica e Zeff da peliculas Gafchromic® EBT……….…………………..… 21 25 30 Tabela 3.4- Características de diferentes sistemas dosimétricos………………………………..….…. 31 Tabela 4.1 – Valores de kQ………………………………..……………………………………………………….……… 39 Tabela 4.2 – Registo de dados para a estabilidade da câmara de ionização CC13-6971 para a energia de 6MV……………………………………………………………………………………………………… Tabela 5.1 – Película e OD correspondentes a cada nível………………………………………………….. Tabela 5.2 – Resultados dos cálculos efectuados (Epson Expression 10000XL Photo, 12800dpi, Película positiva, mascara suavizante, autoexposição)……………………………………. 41 53 56 Tabela 5.3 – Resultados do estudo realizado pela NSTL……………………………………………………. 57 Tabela 5.4 – Valores de análise para as imagens 1. ……………………………………………..…………... 61 Tabela 5.5 – Valores de análise para as imagens 2. ………………………………….…………………….... 62 Tabela 5.6 – Valores de análise para as imagens 3.…….…………………………………………………….. 63 Tabela 5.7 – Valores de análise para as imagens 4……………………………………………………………. 64 Tabela 5.8 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.8………………………………………. 67 Tabela 5.9 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.9…………………………………..…. 68 Tabela 5.10 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.10……………………..……….….. 68 Tabela 5.11 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.11. ………………………..………. 68 Tabela 5.12 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.12. ………………………………… 69 Tabela 5.13 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.13. …………………………..……. 69 Tabela 5.14 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.14. ………………………………… 70 Tabela 5.15 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.15. ……………………..…………. 70 Tabela 5.16 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.16. ………………..…....………… 71 xiii Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Tabela 5.17 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.17. ………………..…...…………. 71 Tabela 5.18 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.18. ………………………………… 72 Tabela 5.19 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.19. …………………………..……. 72 Tabela 5.20 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.20. …………..………….………… 73 Tabela 5.21 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.21. ……………………………..…. 73 Tabela 5.22 – Dados para a análise da independência energética das películas. ……………… 81 Tabela 5.23 – Doses que constam da curva de calibração das películas. ………………………..… 86 Tabela 5.24 – Disposição das imagens de comparação de planos de dose……………………..… 89 Tabela 5.25 – Comparação entre os planos de dose do MLC1………….……..…………….…………. 92 Tabela 5.26 – Comparação entre os planos de dose do MLC2…………..…………………………..…. 96 xiv Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Índice Agradecimentos ........................................................................................ i Resumo .................................................................................................... iii Abstract.....................................................................................................v Índice de Figuras ...................................................................................... ix Índice de Tabelas.................................................................................... xiii Capítulo 1 – Introdução ............................................................................ 1 Capítulo 2 – Princípios Físicos ................................................................... 5 2.1 Interacção da radiação ionizante com a matéria ................................ 7 2.1.1 Interacções envolvendo fotões ................................................................................................ 7 2.1.1.1 Efeito fotoeléctrico ....................................................................................................... 9 2.1.1.2 Efeito de Compton ...................................................................................................... 10 2.1.1.3 Produção de pares ...................................................................................................... 12 2.1.2 Interacções envolvendo electrões ......................................................................................... 12 2.1.2.1 Tipos de interacções ................................................................................................... 13 2.1.2.2 Poder de Paragem ....................................................................................................... 14 2.2 Grandeza dosimétrica ...................................................................... 15 2.2.1 Dose absorvida ....................................................................................................................... 15 2.2.2 Kerma ..................................................................................................................................... 15 2.2.3 Fluência .................................................................................................................................. 16 Capítulo 3 - Dosimetria Fotográfica ........................................................ 17 3.1 Enquadramento histórico ................................................................. 19 3.2 Películas utilizadas em dosimetria fotográfica .................................. 21 3.2.1 Densidade óptica (OD) ........................................................................................................... 23 3.2.2 Películas Radiográficas ........................................................................................................... 23 3.2.2.1 Formação da Imagem Latente .................................................................................... 25 3.2.2.2 Processamento Químico ............................................................................................. 25 3.2.2.3 Equipamentos e controlo de qualidade ...................................................................... 25 3.2.3 Películas Radiocromáticas ...................................................................................................... 27 3.2.3.1 Processo químico, físico e radiação ............................................................................ 27 ® 3.2.3.2 Películas Gafchromic EBT ........................................................................................... 29 xv Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.3 Comparação com outros sistemas dosimétricos............................... 32 Capítulo 4 – Materiais e Métodos .......................................................... 35 4.1 Acelerador linear .............................................................................. 37 4.2 Sistema de Planimetria (TPS) ............................................................ 37 4.3 Ionometria ....................................................................................... 38 4.3.1 Princípios Físicos .................................................................................................................... 39 4.3.2 Sistema Ionométrico .............................................................................................................. 41 4.3.2.1 Estabilidade do sistema ionométrico .......................................................................... 42 4.4 Fantoma ........................................................................................... 44 4.5 Películas Radiocromáticas ................................................................ 44 4.5.1 Identificação das películas ..................................................................................................... 45 4.6 Irradiação das películas Gafchromic® EBT ........................................ 45 4.7 Scanner............................................................................................. 47 4.7.1 Digitalização das películas ...................................................................................................... 47 4.8 Programas de processamento de imagem e análise dosimétrica ..... 48 4.9 Análise Gama.................................................................................... 49 5.1 Testes de Validação .......................................................................... 55 5.1.1 Determinação do valor máximo de OD do scanner Epson Expression 10000XL Photo ......... 55 5.1.1.1 Digitalização da Película .............................................................................................. 56 5.1.1.2 Cálculos ....................................................................................................................... 56 5.1.1.3 Análise da Razão Sinal Ruído (S/R) .............................................................................. 58 5.1.2 Espectro de absorção das películas EBT................................................................................. 61 5.1.2.1 Aquisição e tratamento de dados ............................................................................... 61 5.1.3 Efeito da orientação da película na digitalização ................................................................... 62 5.1.3.1 Irradiação das películas ............................................................................................... 62 5.1.3.2 Digitalização das películas e processamento das imagens ......................................... 63 5.1.3.3 Resultados e Análise ................................................................................................... 63 5.1.4 Uniformidade da digitalização ............................................................................................... 67 5.1.4.1 Gráficos e Análise dos resultados ............................................................................... 69 ® 5.1.5 Remoção do efeito de dispersão de luz na digitalização pelo OmniPro IMRT ..................... 76 5.1.5.1 Fenómeno de dispersão de luz ................................................................................... 76 5.1.5.2 Correcção realizada pelo Omnipro® IMRT .................................................................. 77 xvi Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica ® 5.1.6 Grau Enegrecido das películas Gafchromic EBT ........................................................... 80 5.1.6.1 Irradiação e digitalizações da película......................................................................... 80 5.1.6.2 Resultados e Análise ................................................................................................... 81 ® 5.1.7 Independência energética das películas Gafchromic EBT .................................................... 82 5.1.7.1 Irradiação e análise das películas ................................................................................ 82 5.2 Curvas de Calibração ........................................................................ 84 5.2.1 Calibração do scanner Epson 10000XL Photo ......................................................................... 84 5.2.2 Calibração das películas Gafchromic® EBT ............................................................................. 87 5.3 Comparação de distribuições de dose .............................................. 90 5.3.1 Resultados e análise .............................................................................................................. 90 5.3.1.1 Resultados MLC1 ......................................................................................................... 91 5.3.1.2 Resultados MLC2 ........................................................................................................ 94 5.3.1.3 – Análise dos Resultados ............................................................................................. 98 Capítulo 6 – Conclusões e Perspectivas Futuras ..................................... 99 Bibliografia ........................................................................................... 105 xvii Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 1 – Introdução 1 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O serviço de radioterapia do centro clínico dos Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS) adquiriu um sistema de dosimetria fotográfica composto pelos seguintes elementos: scanner Epson® Expression® 10000XL Photo, películas Gafchromic® External Beam Therapy (EBT) e o programa de análise dosimétrica Omnipro® IMRT. A sua aquisição esteve no âmbito da possível implementação da técnica radioterapia de intensidade modulada (IMRT) que requer para o seu controlo de qualidade, análises dosiméticas 2D só possíveis com o recurso a dosimetria fotográfica. A necessidade de realizar o commissioning ao sistema instalado teve como objectivo compreender o seu modo de funcionamento e características de cada elemento, de modo a obter um procedimento de irradiação, digitalização e análise de películas que garanta uma análise dosimétrica com resultados credíveis. Duas publicações da American Association of Physicists in Medicine (AAPM) (1) (2) contêm descrições e recomendações para a implementação da dosimetria fotográfica num serviço de radioterapia. Nestes documentos são analisadas as características dos dois tipos de película existentes no mercado, radiográficas e cromográficas. As segundas, nas quais se incluiem as Gafchromic® EBT, têm como principal vantagem o facto de serem autoreveláveis, o que significa que dispensam a aquisição de um equipamento revelador, para além da sua análise não ser afectada por um processo difícil de avaliar. Esta característica foi determinante para a escolha do tipo de películas a adquirir. Relativamente ao scanner Epson®, é o recomendado pela Internacional Specialty Products (ISP) e o programa OmniPro® IMRT foi recomendado pelo fornecedor. A análise das películas cromográficas feita pela AAPM aborda a estrutura atómica e molecular dos elementos que constituem as películas, o seu espectro de absorção, o processo de autorevelação, a sua dependência energética assim como o processo de digitalização. Pretendeu-se também neste trabalho verificar estas características. Para tal foram estipulados testes de validação que ajudaram a conhecer todo o sistema de dosimetria fotográfica (tabela1.1): 3 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Tabela 1.1 – Testes de validação Teste Procedimento Objectivo Valor máximo de densidade óptica (OD) do scanner Análise da imagem de uma película com ODs conhecidas. Determinar o valor máximo de OD lido pelo scanner. Espectro de absorção Iluminar películas com uma luz branca e analisar o espectro obtido. Determinar a região do espectro que as películas mais absorvem. Orientação da película na digitalização Digitalizar películas irradiadas com diferentes doses nas orientações Landscape e Portrait. Analisar a influência da orientação de digitalização. Uniformidade da digitalização Digitalizar a mesma película em diferentes posições na mesa de digitalização . Avaliar o efeito da alteração da posição da película na imagem obtida. Remoção do efeito de dispersão de luz na digitalização Tratar diferentes imagens com a ferramenta “Trento Method” do OmniPro® IMRT. Avaliar o efeito da correcção proposta. Grau de enegrecido das películas Aquisição periódica da OD de uma película após a irradiação. Avaliar a evolução da netOD de uma película após a irradiação. Independência energética das películas Digitalizar películas irradiadas com diferentes energias para a mesma dose. Comparar a netOD de películas irradiadas com diferentes energias para a mesma dose. Com o objectivo de optimizar o tratamento da imagem nos testes de orientação e uniformidade da digitalização, foram criadas algumas rotinas em MatLab® que seleccionam o canal de maior absorção da imagem, aplicam o filtro Wiener e realizam a média de 10 imagens. Uma tarefa imprescindível em dosimetria fotográfica é a calibração do sistema, que consiste na construção da curva de calibração do scanner que relaciona o valor do sinal do scanner com a respectiva OD, e da curva de calibração das películas que converte OD em dose. A calibração realizada neste trabalho seguiu as recomendações da AAPM e da ISP. A parte final deste trabalho é dedicada à comparação de planos de dose entre o cálculo do sistema de planimetria Eclipe® da Varian Medical Sistems e películas irradiadas com os mesmos campos. A ferramenta de comparação escolhida foi a análise gama que correlaciona distribuição espacial de dose e o valor de dose, constituindo-se numa ferramenta bastante completa, também utilizada noutros estudos (3) (4). 4 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 2 – Princípios Físicos 5 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 2.1 Interacção da radiação ionizante com a matéria A característica principal da radiação ionizante consiste na sua capacidade de ionizar átomos e moléculas, isto é, retirar-lhes electrões. Esta poderá ser classificada como radiação directa ou indirecta. A primeira consiste em partículas carregadas como electrões, protões e partículas alfa. Neste tipo de radiação as partículas carregadas interagem com os electrões orbitais dos átomos pertencentes ao meio, através de colisões e ionizações. A ionização indirecta ocorre por acção de partículas neutras tais como neutrões ou radiação electromagnética (fotões) (5). De seguida é feito uma abordagem das principais interacções de fotões e electrões com a matéria. 2.1.1 Interacções envolvendo fotões Os fotões são partículas electricamente neutras que se deslocam à velocidade da luz, c, e que ao contrário dos electrões, têm a capacidade de percorrer uma determinada distância no interior de um material sem interagir com este. Essa distância depende das características do material e da energia dos fotões: E=hν (2.1) em que h é a constante de Planck (6,626068 × 10-34 m2 kg / s) e ν a frequência ( s-1). Na interacção de feixes de fotões com a matéria, verifica-se uma redução do número destas partículas segundo a direcção do feixe. Este facto justifica-se pela ocorrência de fenómenos de absorção e dispersão nos quais os fotões estão envolvidos (6). O número de fotões detectados após a interacção destes com a matéria, ΔI, é proporcional à espessura do material, Δx, e ao número inicial de fotões I0, desta relação resulta: ΔI =-μ.Δx.I0 (2.2) em que μ é uma constante de proporcionalidade denominada coeficiente de atenuação linear, integrando esta equação obtém-se: I = I0e-μx (2.3) Esta equação caracteriza a passagem da radiação electromagnética através da matéria, conhecida como Lei de Lambert-Beer (7) . O coeficiente de atenuação linear (μ) é o resultado da contribuição dos principais processos de interacção de partículas com energias tipicamente utilizadas em aplicações 7 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica médicas, que não ultrapassam os 20MeV: efeito fotoeléctrico ( ), efeito de Compton ( ) ou produção de pares ( ): (2.4) Estes coeficientes são dependentes do número atómico (Z) do meio e da energia dos fotões (E). O gráfico a baixo explicita esta relação: Gráfico 1.1 – Regiões de predominância relativa das três principais interacções com fotões (4). Observa-se o domínio do efeito fotoeléctrico para elementos com Z elevado no caso de fotões de baixa energia, o efeito de Compton predomina para valores de Z baixos. A produção de pares assume maior importância para os casos em que tanto Z como E apresentam valores elevados. O coeficiente de atenuação linear relaciona-se com a secção eficaz, reflectindo as propriedades atómicas do material. A relação é dada pela seguinte equação: (2.5) em que A é a massa atómica (g), NA o número de Avogadro (6,022 x 1023 mol-1) e ρ a densidade do material (g/cm3). 8 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Sendo todos eles dependentes da energia dos fotões, existem coeficientes de atenuação linear característicos para cada uma das interacções e por conseguinte diferentes valores de secção eficaz ( ). A tabela seguinte ilustra as características das interacções mais comuns para as energias usadas em aplicações médicas. Tabela 2.1 – Processo de Interacção da Radiação (5). Processo Tipo de interacção Efeito Fotoeléctrico Energia Dependência de Z Com electrões ligantes (toda a energia é transferida para o electrão) Predominante a baixas energias (1 - 500keV), a secção eficaz diminui com o aumento da energia Com electrões ligantes E<1MeV é mais significativa para pequenos ângulos Com electrões livres Independente da energia Z Com electrões ligantes E <1MeV para pequenos ângulos Z Com electrões livres (efeito de Compton) Predomina na região de 1 a 5MeV, diminui com o aumento da energia Z No campo de Coulumb dos núcleos Acima de 1MeV domina a energias elevadas, E>5MeV, e aumenta com o aumento da energia Z No campo de Coulumb dos electrões Acima de 2MeV aumenta com o aumento da energia. Z Coerente Dispersão eléctrica 5 Z 2 3 Z ,Z Incoerente Interacções com o campo de Coulomb 2 Produção de Pares 2.1.1.1 Efeito fotoeléctrico No efeito fotoeléctrico (Figura 2.1) regista-se a transferência de toda a energia do fotão para um electrão ligante e consequente ionização do átomo. Para que este processo ocorra é necessário que a energia do fotão (hν) seja superior à energia de ligação do electrão ao núcleo (φ) a energia cinética do electrão emitido é dada pela equação: Ec= hν – φ (2.6) 9 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Para meios com número atómico (Z) baixo, como seja o tecido humano, o electrão removido pertence à camada L. Esta ocorrência leva o átomo a atingir um estado excitado, que cessará com o preenchimento da camada L por um electrão de uma camada mais exterior, tipicamente camada M, esta reacção ocorre respeitando a lei da conservação da energia e do momento linear, para que o átomo volte para um nível estável de energia. Figura 2.1 – Efeito Fotoeléctrico (5). Esta transferência de electrões de camadas com maior energia (M) para camadas com menor energia(L) produz um diferencial de energia que é dissipado pela emissão de fotões ou electrões, estes últimos denominados electrões de Auger, sendo ambos absorvidos pelo mesmo meio que os originou (8). A probabilidade de ocorrência do efeito fotoeléctrico é dada pelo coeficiente de atenuação (τ), dependente do número atómico (Z) da densidade do material (ρ) e da energia do fotão (E): (2.7) (2.8) 2.1.1.2 Efeito de Compton Este tipo de interacção é predominante para fotões incluídos numa gama de energia considerada entre os 0,2 e os 10MV, para materiais com baixo Z como seja o tecido humano. Como tal o efeito de Compton (fig. 2.2) é o principal processo responsável pela transferência de energia para as células do tecido humano, em tratamentos de radioterapia. 10 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Este processo consiste numa interacção entre um fotão e um electrão das camadas mais externas do átomo, em que o fotão incidente cede parte da sua energia inicial (hν) e é disperso com uma energia inferior (hν´) e ângulo (θ). O electrão que interagiu com o fotão é disperso com um ângulo (φ) e uma energia, dependentes da energia inicial do fotão. Figura 2.2 – Efeito de Compton (5). Uma forma de o explicar é recorrer à teoria clássica da colisão elástica entre duas partículas, que respeita a conservação da energia e do momento linear, e da qual resulta uma relação entre a variação do comprimento de onda do fotão disperso (Δλ), sempre positiva, e o seu ângulo de dispersão(θ): (2.9) onde é o comprimento de onda de Compton tendo o valor de 0,024x10-10m. Rearranjando a última equação obtém-se: (2.10) onde α é a razão entre a energia do fotão e a energia de repouso do electrão. A energia cinética do electrão é dada por: (2.11) e o ângulo de dispersão do electrão: (2.12) 11 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O coeficiente da interacção de Compton (σ), é determinado pela densidade electrónica do meio, relacionada com Z, e é inversamente proporcional à energia dos fotões: (2.13) 2.1.1.3 Produção de pares Este processo ocorre nos casos em que a energia do fotão incidente é pelo menos duas vezes a energia do electrão em repouso (hν≥2mc2). O fotão é absorvido pelo electrão originando um par positrão electrão. A energia cinética do par corresponde à diferença de energias: (2.14) Figura 2.3 – Produção de Pares (5). Por sua vez, o positrão produzido irá interagir com um electrão livre originando dois fotões com 0,511MeV, chamados fotões de aniquilação que se encontram representados na figura acima. O coeficiente de atenuação linear para este processo é zero para energias inferiores a 2 2mc , para energias superiores este coeficiente é dado pelo logaritmo da energia do fotão (E) segundo a expressão: (2.15) 2.1.2 Interacções envolvendo electrões Os electrões reagem com o meio a partir do momento que o atingem perdendo energia ao longo do seu percurso em inúmeras interacções, nomeadamente colisões e interacções radiativas. 12 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O electrão incidente envolvido pelo seu campo eléctrico de Coulomb, perde energia ao interagir com o meio que é atingindo pelo feixe. Essas interacções poderão resultar em excitações ou ionizações, consoante a energia e trajectória do electrão incidente e a energia de ionização do electrão atómico. Quanto mais próxima do núcleo for a interacções mais energia estará envolvida na colisão. Para colisões com electrões de orbitais mais internas ocorre uma elevada transferência de energia cinética originando a ionização do átomo. O electrão emitido tem a capacidade de provocar subsequentes ionizações, sendo chamado de raio-delta (δ) (8). 2.1.2.1 Tipos de interacções O tipo de interacção de um electrão cuja trajectória se situa à distância b do centro do átomo com um raio a, depende a relação entre a e b. Trajectória do electrão Núcleo Figura 2.4 – Interacção do electrão incidente com o átomo do meio. Colisão fraca (b>>a) Quando o electrão passa a uma distância superior ao raio atómico o campo de Coulomb do electrão afecta todo o átomo, excitando-o para um nível de energia superior e por vezes ionizando-o através da transferência de energia para um electrão de valência. A energia transferida para o meio é muito baixa não ultrapassando alguns eV. Este tipo de colisão é a mais provável, sendo responsável pela transferência de metade da energia do feixe para o meio. Por consequência de inúmeras colisões deste tipo o electrão é desacelerado, devido a pequenas perdas de energia em cada interacção. Colisão forte (b≈a) Nos casos em que o electrão passa a uma distância do núcleo equivalente ao raio atómico, a probabilidade de o electrão incidente interagir com um electrão atómico aumenta, 13 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica este evento envolve uma transferência considerável de energia. A energia envolvida leva à ionização do átomo com a libertação de um electrão com energia cinética suficiente para interagirem com outros átomos, principalmente em colisões fracas. Este electrão ejectado é denominado raio δ. Interacções radiativas (b<<a) A interacção com o núcleo ocorre quando o electrão atinge o átomo no interior do seu raio. Estas interacções poderão ser elásticas ou inelásticas. No primeiro caso ocorre dispersão do electrão sem emissão de fotões nem transferência de energia para o núcleo. A energia perdida pelo electrão é insignificante, apenas a necessária para garantir a conservação do momento da colisão. Este não é um processo significante de transferência de energia, mas justifica o comportamento irregular que os electrões têm na sua trajectória ao longo do meio irradiado. Quando a colisão é inelástica ocorre a emissão de um fotão. O electrão para além de ser disperso transfere quase toda a sua energia cinética para o fotão emitido. Estes fotões são denominados bremsstrahlung, palavra alemã para radiação de travagem. Para meios com número atómico equivalente ao do tecido humano (Z≈7), a produção de bremsstrahlung poderá ser ignorada para electrões com energia abaixo dos 10MeV (9). Esta radiação é apenas significativa para materiais com Z elevado como seja o chumbo, onde esta interacção é predominante (10). 2.1.2.2 Poder de Paragem O valor esperado para a taxa de energia perdida por unidade de comprimento (x), para um electrão com uma energia cinética (Ec), num meio com um número atómico (Z), é o poder de paragem (dEc/dx). As unidades são tipicamente MeV/cm ou J/m. A relação entre estas unidades é expressa na equivalência: 1Mev/cm ≈ 1.602 x 10-11J/m (2.16) Dividindo o poder de paragem pela densidade (ρ) do meio de absorção, resulta o chamado poder de paragem mássico (dEc/ ρ dx), em MeV cm2 / g ou J m2 /kg que se relacionam da seguinte forma: MeV cm2 / g ≈ 1.602 x 10-14 J m2 /kg 14 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica (2.17) Dosimetria Fotográfica O poder de paragem poderá ser dividido em, poder de paragem devido a colisões, que engloba as perdas de energia devidas a colisões fracas e fortes, e em poder de paragem radiactivo que se baseia na energia perdida por bremsstrahlung. A energia transferida através de interacções radiativas é desviada da trajectória do electrão na forma de fotões, por outro lado, nas outras colisões a energia é depositada sobre a forma de excitações e ionizações ao longo da trajectória do electrão. 2.2 Grandezas dosimétricas 2.2.1 Dose absorvida A dose absorvida é relevante para todos os tipos de radiação ionizante, tanto directa como indirecta. São neste caso considerados todos os tipos de interacções envolvendo as partículas do feixe incidente assim como as partículas carregadas originadas pela interacção do feixe com o meio. Esta grandeza é definida pela razão entre a energia transferida média para o meio de massa (dm) num determinado volume finito: (2.18) Tipicamente a dose absorvida segundo o sistema internacional (SI) é expressa em Gray (Gy), que se relaciona com Joule por kilograma ( J.Kg-1) e com Rads da seguinte forma: (2.19) 2.2.2 Kerma A média de energia cinética transferida pela radiação indirecta (fotões e neutrões) para partículas carregadas (electrões) do meio por unidade de massa (dm) é definida como kerma (kinetic energy released per unit mass): (2.20) A unidade do kerma é a mesma que a da dose absorvida, J.Kg-1 ou Gy. 15 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O kerma especifica a energia cinética transferida num volume finito para uma partícula carregada do meio, não considerando a energia cinética transferida entre partículas carregadas. A absorção de dose pela matéria irradiada aumenta com a profundidade do meio até um valor de dose máxima (build up), a partir do qual a dose depositada diminui. Por seu lado o kerma, diminui com a profundidade do meio uma vez que a energia transferida pela radiação indirecta vai também sendo cada vez menos significativa (11). 2.2.3 Fluência A fluência poderá ser entendida de duas formas: fluência de fotões (ϕ) ou fluência energética (Ψ). O número de fotões que atravessa uma unidade de área (da) de um plano atingindo por um feixe de fotões é dado pela equação: (2.20) expressa em m-2 ou cm-2. Entende-se N como o número total de fotões que atinge o plano. Considerando um feixe com energia E=hν que atravessa uma superfície, a energia depositada por unidade de área é dada por: (2.21) cuja unidade é J.m-2. 16 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 3 - Dosimetria Fotográfica 17 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.1 Enquadramento histórico A necessidade de usar películas radiográficas para fins dosimétricos precedeu a sua utilização para a aquisição de imagens radiológicas. Várias empresas contribuíram para o desenvolvimento de películas cada vez mais sensíveis à radiação, com melhor reprodutibilidade e facilidade de utilização, entre estas empresas destacam-se a Kodak, a Agfa, a Dupont e a ISP. A primeira emulsão fotográfica foi produzida em 1826 pelo cientista francês J.N. Niepce (1765-1833). Esta era constituída por uma placa de estanho com betume branco da Judéia que endurecia quando exposto à luz solar (12). Estas placas eram colocadas numa câmara escura e necessitava de 8 horas de exposição. A fotografia tirada por Niece foi considerada pelas autoridades da época como a primeira fotografia do mundo (Fig.2.1). Este processo foi baptizado por heliografia, imagem solar. Figura 3.1 – Fotografia reconhecida como sendo a primeira do mundo, 1826. Uma outra tentativa protagonizada por Niece, com vista a obter imagens através de processos químicos que envolvessem radiação, consistiu na elaboração de uma mistura polimérica de hidrocarbonetos insaturados originados do petróleo. Esta mistura apresentava um padrão diferente do original após ser sujeita a radiação. O fenómeno ocorria devido ao estabelecimento de ligações químicas entra as cadeias de polímeros (13). Este estudo foi o antecessor de muitos outros que levaram ao aparecimento das películas radiocrómicas analisadas neste capítulo. Após a morte de Niece, o herdeiro dos seus conhecimentos foi o cientista, também francês, L. J. M. Daguerre (1787-1851) que doze anos após a primeira fotografia de Niece melhorou o tempo de exposição, que demorava agora entre vinte a trinta minutos (14). Daguerre recorria a placas de iodeto de prata que, ao serem expostas à luz, produziam uma imagem latente. Ao sujeitar estas a vapores de mercúrio, as partes expostas à luz ficavam 19 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica claras; por fim as placas eram fixadas num banho de cloreto de sódio (sal comum) para a remoção dos halogenetos de prata não revelados, constituindo-se as zonas escuras. Na consequência da descoberta do Raio-X por W. C. Roentgen (1845-1923 ) em 1895, George Eastman (1854-1932) fundador da empresa Kodak, introduziu no mercado um novo tipo de película mais sensíveis ao raio-x comparativamente às previamente existentes. Melhores radiografias podiam ser obtidas com menor tempo de exposição e revelação. A Primeira Guerra Mundial tornou-se num facto que potenciou o desenvolvimento das películas radiográficas devido a um crescimento exponencial da necessidade de realizar imagens de diagnósticos aos soldados, através do raio-x. Foi nesta altura que foi introduzido o nitrato de celulose como base estrutural das películas. Posteriormente, a Kodak optimizou a estrutura destas criando uma bicamada de emulsão de halogenetos de prata aumentando assim a sensibilidade destas. Contudo o nitrato de celulose era extremamente inflamável originando inúmeros acidentes principalmente devido a condições deficientes de armazenamento. Este facto obrigou a Kodak a criar um composto mais seguro para servir de base às suas películas radiográficas, o composto escolhido foi o triacetato de celulose. Em 1933, a DuPont desenvolveu películas para exposição ao raio-x com um corante azul, o que facilitou a observação pelo olho humano de uma película irradiada. Esta optimização foi de imediato seguida por outros fabricantes, na época em que o processo de revelação demorava uma hora. A revelação sofreu um grande desenvolvimento com a introdução do primeiro dispositivo de revelação automática de películas em 1942. Foi conseguida assim a uniformização do processo garantindo uma qualidade e resultados constantes. O processo de revelação demorava então quarenta minutos. A Kodak suplantaria este feito na década seguinte com o desenvolvimento do modelo XOMAT-M, do qual se obtinham películas secas e reveladas em apenas seis minutos (15). A estrutura base das películas sofreu um melhoramento com a introdução do polyester na década de sessenta, por iniciativa da DuPont. Este é um material muito flexível e resistente ainda hoje utilizado em películas destinadas não só à radiologia mas também à radioterapia, mais especificamente numa área denominada dosimetria fotográfica. A necessidade de controlo da dose em radioterapia foi desde os seus primórdios alvo de estudos que tinham como principal objectivo a obtenção da melhor ferramenta de medição de dose (16) (17) (18)incluindo a dosimetria fotográfica (19). As películas foram-se sofisticando com os desenvolvimentos introduzidos pelas empresas que trabalham na área desde as matérias-primas aos meios de produção, tornando-se em instrumentos de medição de dose mais rigorosas, reprodutíveis e funcionais. 20 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.2 Películas utilizadas em dosimetria fotográfica A utilização de películas em dosimetria proporciona medições de dose 2D com uma boa resolução espacial. Possui também a capacidade de integrar a dose recebida podendo ser arquivada e posteriormente analisada. Contudo existem inúmeros desafios para se obter resultados fiáveis. Estes desafios estão relacionados com o manuseamento, processamento e as características das próprias películas. Actualmente existem dois tipos de películas que são comercializadas para aplicação em dosimetria fotográfica: - Radiográficas, que têm como principal fabricante a Kodak da qual os modelos XOMAT e EDR2 são os mais populares. -Radiocromáticas, fabricadas pela ISP na sua divisão denominada Advanced Materials Group em que são produzidas películas de diferentes modelos sobre a marca GAFCHROMIC®. Ambos os tipos de películas existentes têm especificações que serão analisadas neste capítulo, sendo de referir desde já que a principal característica que as distingue é o modo de revelação. Enquanto as películas radiográficas têm de ser sujeitas a um processo complexo de revelação em condições extremamente controladas, as radiocromáticas são autoreveláveis prescindindo de muitos controlos de qualidade necessários às primeiras. Alguns modelos de películas radiográficas (EDR2 e XV2) e radiocromáticas (Gafchromic®) são caracterizadas na tabela 3.1. A gama de dose e a sua dimensão são variáveis que condicionam a sua utilização: 21 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Tabela 3.1 – Características de diferentes películas (2) (5) (20). Películas Estrutura por camadas EDR2 XV2 GAFCHROMIC MD-55-2 ® substrato camada activa substrato camada activa substrato substrato camada activa substrato camada activa substrato substrato camada activa adesivo - camada activa - substrato Substrato Polyester 180µm Polyester 180µm Espessura da camada activa 0,2µm 0,4µm Gama de Dose 0,1Gy5,0Gy 0,05Gy0,8Gy Dimensões 24,5 x 2 30,5cm 35 x 43cm 2 25 x 30cm 2 10 x 10 cm Polyester 70µm 2x1,6µm 1Gy100Gy 18 x 18cm 7 x 43cm GAFCHROMIC HS ® GAFCHROMIC® RTQA GAFCHROMIC EBT ® substrato camada activa substrato substrato camada activa substrato substrato camada activa adesivo - camada activa - substrato 40 µm Polyester laranja 97µm 17 µm Polyester 97µm 2x17 µm 0,5Gy40Gy 0,02Gy8,0Gy 0,01Gy8,0Gy 35,5 x 2 43,2cm 20,3 x 2 25,4cm 35,5 x 2 43,2cm Processo Complexo Autoreveláveis 2 18 x 18cm 7 x 43cm 25,4 x 2 25,4cm Processo Complexo 2 2 10 x 10 cm Polyester 100 µm Revelação 2 2 Autoreveláveis 2 Autoreveláveis Autoreveláveis Da análise da tabela anterior conclui-se que as películas diferem em muitas características tornando cada modelo único. Mesmo entre diferentes lotes da mesma película existem diferenças. Como tal, é recomendado que para cada estudo se utilizem películas do mesmo lote, para que não se introduza esta variável difícil de avaliar. A definição correcta do setup de irradiação das películas, o controlo das diferentes variáveis na revelação das películas radiográficas e a realização de testes com vista a obter um processo de digitalização viável, são pontos mencionados nos protocolos da AAPM (1) (2) como requisitos indispensáveis à implementação de um sistema de dosimetria fotográfica. O densitómetro utilizado em dosimetria fotográfica é o scanner. As digitalizações obtidas após a calibração do scanner, fornecem valores de OD, utilizados posteriormente na análise de distribuições de dose. 22 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.2.1 Densidade óptica (OD) O efeito da radiação ionizante nas películas é medido em termos de opacidade luminosa. Quanto maior for a opacidade da película mais elevada é dose depositada nela. Esta variável é definida como OD: (3.1) onde I corresponde à intensidade luminosa da luz após atravessar a película e I0 à intensidade luminosa da luz incidente. A relação entre OD e dose absorvida faz da dosimetria fotográfica um método simultaneamente absoluto e relativo para a obtenção de mapas de fluência de dose 2D. O que significa que é possível, por um lado, saber o valor de dose absoluta num determinado ponto ou região da película irradiada, e por outro, a partir desse ponto específico da película obter uma avaliação de dose em percentagem em toda a película (5). A irradiação de películas é muitas vezes acompanhada da utilização de uma câmara de ionização que permite conhecer a dose num determinado ponto da película, tipicamente no centro. Conhecendo a OD da película no mesmo ponto, é possível estabelecer linhas de isodose em toda a película irradiada. Contudo o valor de OD é dependente de vários factores: 1. Sensibilidade da película 2. Energia da radiação 3. Tipo de radiação (fotões, electrões,etc) 4. Setup de irradiação 5. Dimensão do campo de irradiação 6. Orientação: paralela ou perpendicular A correcta avaliação de todos os factores mencionados é determinante na coerência dos resultados obtidos pois é com base na OD medida que se determina a dose absorvida por uma película. 3.2.2 Películas Radiográficas As películas radiográficas podem ser utilizadas em diversas situações: radiologia de diagnóstico, radioterapia e protecção radiológica (21). 23 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Este tipo de películas são compostas por diferentes camadas (Figura 2.2), entre as quais se destaca a emulsão que constitui a camada radiossensível da película. A emulsão é constituída por cristais de halogenetos de prata que se encontram dispersos em gelatina produzida a partir de osso bovino. A gelatina é um excelente meio de suspensão pois mantém os halogenetos de prata dispersos de forma homogénea e impede que se concentrem. Camada protectora Emulsão Adesivo Estrutura base da película Adesivo Emulsão Camada protectora Figura 3.2 – Estrutura de uma película radiográfica. As camadas externas da película são de polyester assim como a camada intermédia que serve de base à película suportando a estrutura da película. Esta camada intermédia não deverá apresentar nenhum padrão ou alterar a sua tonalidade após a irradiação, terá de ter uma espessura reduzida e ser resistente para suportar o processo de revelação. Por fim deverá ter uma estrutura estável que não se altere no processo de revelação nem durante o armazenamento da película antes e depois de irradiada. Os halogenetos de prata são os agentes reactivos das películas que se alteram quando expostos à radiação. Os filmes usados para aplicações dosimétricas em radioterapia são compostos por brometo de prata (AgBr) e iodeto de prata (AgI), a percentagem do primeiro é sempre bastante superior variando entre os 90 a 99%. Quanto maior a percentagem de AgI mais sensível é a película. Os iões de prata (Ag+), bromo (Br-) e iodo( I-) organizam-se em cristais com estrutura cúbica, com dimensões entre os 20-30nm. Existem 109 a 1012cristais/cm2 em cada película (2). A radiação ionizante provoca alterações químicas na emulsão da película. O resultado desta interacção é a chamada imagem latente. 24 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.2.2.1 Formação da Imagem Latente Quando um electrão ou um fotão com energia suficiente para quebrar a ligação do halogeneto de prata atinge a emulsão, provoca a ionização do ião Br-. Estes electrões libertados irão dirigir-se para regiões do cristal com imperfeições. A concentração de electrões nessa região irá atrair iões Ag+, ocorrendo algumas capturas electrónicas que resultarão em átomos de Ag: Ag+ + e- Ag (3.2) Esta reacção repete-se com maior incidência em regiões expostas a radiação mais energética e consequentemente em regiões com maior deposição de dose, formando-se aglomerados de Ag+ mais densos, o que constitui a imagem latente. Após a exposição à radiação a película terá de passar por vários processo químicos até poder ser analisada. 3.2.2.2 Processamento Químico O primeiro processo designa-se por revelação. Nele a película é imersa numa solução de diversos químicos que tem como objectivo incrementar a formação de Ag, equação 3.2. Este processo não afecta os cristais que não foram expostos à radiação. Os químicos na solução poderão ser a hidroquinona, metol ou fenidona, agentes redutores que catalisam a reacção 3.1. Esta reacção é acelerada a um pH elevado, como tal na solução está também presente potássio ou sulfito de sódio para que o pH se mantenha elevado. A segunda solução na qual a película será imersa contém ácido acético, que ao fazer baixar o pH, pára o processo de revelação. Sódio e amónio trifosfato para remover os cristais de halogenetos de prata não revelados e alúmen de potássio que impede a absorção excessiva de água pela emulsão. Por fim a película é lavada em água pura e seca para posterior análise dosimétrica. 3.2.2.3 Equipamentos e controlo de qualidade A utilização destas películas em meio hospitalar implica segundo Pai et al. (2) a existência uma área própria para o seu manuseamento, sala escura, na qual se encontra o 25 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica processador que tratará a película para posterior análise. Elementos como a temperatura, tempos de imersão no processador e a limpeza da sala escura são alguns aspectos que é necessário controlar periodicamente. A tabela 3.1 especifica o tipo de testes, o procedimento a tomar e a sua frequência: Tabela 3.2 – Testes necessários ao correcto funcionamento de um sistema de dosimetria fotográfica para películas radiográficas (2). Teste Procedimento Frequência* Limpeza da sala escura Verificar a limpeza com uma luz branca S Protocolo do processo Determinar a frequência das verificações com o sensitometro através da reprodutibilidade do processamento das películas C Ventilação O ar terá de circular na sala escura com injector e extractor de ar C Artefactos Processar duas películas expostas idênticas em diferentes direcções no suporte do processador e verificar incoerências visualmente C, S Temperatura de revelação Medir com termómetro e comparar com o indicado no mostrador digital do processador. C, S Tempo de imersão Cronometrar o tempo de processamento, cada ciclo demora em média 90s C, S Sensitometria Expor um filme ao sensitometro e avaliar a densidade base, a penumbra, a densidade média e a diferença de densidades. C, S, P Taxa de reposição Verificar a necessidade de substituição das soluções tendo em conta a estabilidade das leituras de OD na sensitometria C Nível de penumbra Tapar metade de uma película exposta e deixá-la na sala escura durante 10x o tempo que a película normalmente se encontra nesta sala. Medir a OD das duas partes. C *C= commissioning, S=semanalmente, P= cada vez que o processador é utilizado 26 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 3.2.3 Películas Radiocromáticas 3.2.3.1 Processo químico, físico e radiação As reacções cromotográficas produzem a coloração de um meio por acção da absorção de radiação sem qualquer necessidade de um processo de revelação (13) (22). A equação 3.3 ilustra o processo que caracteriza as películas radiocromáticas: Monómero rádio sensível Radiação(gama,raio-x,UV) (baixa tonalidade) Polímero (tom escurecido) (3.3) As películas radiocromáticas são instrumentos dosimétricos 2D que alteram a sua tonalidade após exposição à radiação, podendo ser armazenados por um longo período de tempo após a irradiação sem perder as suas características. O seu uso tem sido reportado de há 35 anos para cá, inicialmente para o uso industrial em altas doses (23). Estes dosímetros eram, na sua maioria, constituídos por moléculas hidrofóbicas como o trifenilmetano que ao romper a ligação heterolítica com o grupo nitrilo, formava polímeros com uma cor característica. As moléculas necessitam de um material de base no qual estavam contidas, usualmente consistia em polímeros de estireno, vinil ou nylon. Estas películas necessitavam de uma grande quantidade de dose, para que fosse visível alguma alteração de cor na película, tipicamente na ordem dos 104 a 106 Gy. Actualmente o material utilizado como base é o polietileno que permite o uso destes dosímetros para doses mais baixas, menores que 1Gy, justificando-se assim a sua utilização em aplicações médicas. O componente activo utilizado na composição destas películas é essencialmente um polímero hidrocarboneto que é envolvido em diferentes reacções por acção da radiação. Conversões ou dissociações isoméricas cis-trans que resultam em ligações anilícas, cetónicas, enólicas ou outros rearranjos moleculares. Estas reacções de tautomerização originam ligações duplas e conduzem à coloração de espiropiranos, ácidos orgânicos anílicos, estilbenos e outros componentes policiclicos (24). 27 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Na equação 3.4 está representada a polimerização do monómero ácido diónico pentacosa-10,12 (PCDA) por acção da radiação. Este monómero é o utilizado nas películas Gafchromic®. (3.4) A PCDA tem originalmente uma tonalidade azul clara. Por sua vez o poliacetileno, resultado da irradiação, apresenta uma tonalidade mais escura que a do monómero inicial. As imagens que se seguem exemplificam as alterações provocadas pela radiação na camada sensível de uma película radiocromática: Gelatina - Microcristais do monómero. Figura 3.3 – Camada activa de uma película radiocromática não irradiada. Gelatina - Microcristais do monómero.. - Polímero irradiado com uma dose baixa. - Polímero irradiado com uma dose alta. Figura 3.4 – Camada activa de uma película radiocromática exposta à radiação 28 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Aumento da dose absorvida pela película Figura 3.5 – Película radiocromática exposta a diferentes níveis de dose. Na figura anterior é possível verificar o aumento do enegrecimento da película com o aumento da dose absorvida. A dose absorvida e o enegrecimento estão relacionados pela OD, descrita na equação 3.1, uma vez que o aumento da primeira proporciona o aumento do enegrecimento e o consequente aumento da OD. 3.2.3.2 Películas Gafchromic® EBT A utilização das películas radiocromáticas Gafchromic® EBT em dosimetria fotográfica foi desenvolvida com o intuito de optimizar o antigo modelo MD desenvolvido pela ISP, acrescentando-lhe mais sensibilidade e melhor uniformidade. Estas películas têm vindo a ser utilizadas para testar os cálculos efectuados no sistema de planeamento (TPS) em radioterapia conformacional 3D (25) e em IMRT (26) (27), e como comparativo com outros sistemas de dosimetria para a CyberKnife® (28). As películas EBT confirmaram nestes estudos a sua resolução espacial elevada e a sua versatilidade. O lançamento oficial das películas Gafchromic® EBT para o mercado aconteceu na conferência da American Society for Radiation Oncology's (ASTRO) realizada em Outubro de 2004, após 2 anos de desenvolvimento e posteriores testes em diferentes hospitais de todo o mundo (20). O elemento activo destas películas é um monómero radiossensível (Equação 3.4) microcristalino que é disperso em gelatina. Esta por sua vez é revestida por uma camada de polyester, a qual tem um papel protector do elemento activo. Entre as duas camadas activas que compõem as EBT existe uma camada de suporte composta pela mesma gelatina onde estão contidos os microcristais. 29 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica A estrutura das películas é ilustrada no diagrama seguinte: Figura 3.6 – Corte transversal de uma película Gafchromic® EBT (20). No que se refere ao processo de fabrico este ocorre em 4 fases (29): 1. Produção de rolos dos três componentes: polyester, gelatina com microcristais e apenas gelatina. 2. Junção de uma cama da polyester a uma camada de gelatina com microcristais, produzindo-se dois rolos idênticos compostos por bicamadas. 3. União das duas bicamadas recorrente a uma camada intermédia de gelatina. Constituindo-se assim um rolo de película Gafcromic® EBT. 4. Por fim o rolo de película é cortado nas dimensões especificadas, as películas são inspeccionadas, embaladas e enviadas para distribuição. Todo este processo ocorre de acordo com a current Good Manufacturing Practice (cGMP) definida pela Food and Drug Administration (FDA) comum para as películas radiográficas. Esta entidade atribui-o às películas Gafchromic® EBT a Classe I referente à classificação de dispositivos médicos. Esta classificação corresponde ao nível mais baixo de risco na sua utilização (30). A empresa ISP, fabricante destas películas, divide em duas categorias as vantagens do uso destas películas em meio clínico (20). Os benefícios técnicos incluem: Sensibilidade para doses entre os 1cGy e os 800cGy. As alterações no tom de enegrecimento da película estabiliza pouco tempo após a exposição à radiação. Uniformidade melhor que 1.5%. Resolução espacial elevada. Pode ser manuseada numa sala luminosa, pois a luz artificial não interage com a película, eliminando a necessidade de uma sala escura. É resistente à água, podendo portanto ser utilizada em fantoma de àgua. Suporta temperaturas até 70ºC 30 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Relativamente a benefícios económicos, são mencionados os seguintes: Auto-revelação. Dispensa tratamento após irradiação, eliminando-se a necessidade de um equipamento de revelação. Elimina desperdícios químicos. Fácil de cortar e marcar. o Com a mesma película, podem ser feitos diferentes cortes com a dimensão e forma mais conveniente, evitando-se desperdícios. Preço competitivo comparado com os filmes convencionais. Uma caixa de 25 unidades de películas com a dimensão 20,3 x 25,4cm2 custa aproximadamente €300. Na tabela 3.3 é possível analisar a composição atómica destas películas. O número atómico efectivo (Zeff) é calculado de acordo com McCullough e Holmes (31). Tendo em conta o Zeff da água (7,3) o valor das películas EBT é muito próximo, sendo assumido portanto que estas películas são tecido equivalente. As películas Gafchromic® MD-55 possuíam um Zeff≈6,5. Este aproximar do Zeff constitui mais uma melhoria em termos da optimização da estrutura atómica das películas EBT. Tabela 3.3 – Composição atómica e Zeff das películas Gafchromic® EBT. Composição Atómica O N C H 42.3% 39,7% 16,2% 1,1% Li CI 0,3% 0,3% 6,98 Uma outra característica das películas EBT, particularmente importante para o processo de digitalização no scanner é o espectro de absorção da luz visível (Gráfico - 3.1). Absorvância Gráfico 3.1 - Espectro visível das películas Gafchromic® EBT (32). Comprimento de onda (nm) 31 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O máximo do gráfico anterior encontra-se centrado aproximadamente nos 635nm, o que corresponde à banda do vermelho. Será por isso nesta zona do espectro onde a película é mais sensível. A análise dosimétrica destas películas é, por isso, realizada na banda do vermelho. O scanner utilizado terá obrigatoriamente o canal do vermelho, caso contrário a análise fica comprometida podendo levar a resultados erróneos. 3.3 Comparação com outros sistemas dosimétricos Outros métodos de dosimetria utilizados incluem: câmaras de ionização (CI), detectores de diodos e dosimetros termoluminescentes (TLDs). Na tabela seguinte é feita uma análise qualitativa das características de diferentes sistemas de dosimetria: Tabela 3.4- Características de diferentes sistemas dosimétricos (33). Sistemas dosimétricos Gafchromic® Mapcheck, Matrixx, PTW seven29 Películas Radiocromáticas Auto reveláveis Matrizes de Diodos / Câmaras de ionização Elevada Baixa Elevada Elevada (baixando com o tempo) Elevada Rápido O mais rápido Rápido Lento Lento Sim Não Não Não Sim Vasta gama de doses Sim Sim Sim Sim Satura antes dos 500cGy Independente da energia Sim Não Não Não Não Versatilidade Sim (utilizável com diferentes fantomas) Não Não Não Sim (utilizável com diferentes fantomas) Pouco Algum Algum Algum Pouco Baixo Médio O mais elevado Elevado Médio Modalidade Resolução espacial Tempo de análise Análise de vários campos com diferentes angulações de gantry Tempo de aprendizagem Custo de capital EPID Imagem Portal Kodak CR Plate Placas de fósforo reutilizáveis 32 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Películas convencionais Películas Radiográficas Dosimetria Fotográfica As câmaras de ionização são recomendadas por diversas organizações (34) (35) como instrumento dosimétrico para calibração e medição de dose em radioterapia inclusive como sistema integrado juntamente com fantoma de água para análise da distribuição de dose (36). Contudo existem algumas condicionantes no uso de CIs para medições de dose. A informação proveniente de uma CI é selectiva e com pouca resolução uma vez que os dados lidos estão dependentes do seu volume e do espaço entre leituras. Outro factor condicionante é o tempo de leitura relativamente longo (ex. medição de perfis em fantoma de água). Calcina et al. (37) estudou comparativamente o uso de TLDs, películas e câmaras de ionização na medição de dose para campos de irradiação pequenos observando, no final, constrangimentos relativos à resolução espacial dos TLDs e desvios mais significativos associados a medições efectuadas com CIs comparativamente com outras técnicas. A introdução de colimador multilâminas (MLC), a utilização de filtros e o aparecimento de técnicas cada vez mais complexas em radioterapia como a seja a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), a radioterapia guiada por imagem (IGRT) ou o arco conformacional dinâmico (IMAT), requerem sistemas de câmaras de ionização, TLDs ou díodos mais complexos e consequentemente mais dispendiosos. A dosimetria fotográfica surgiu então como alternativa às metodologias referidas pela sua multifuncionalidade em diferentes tipos de fantomas, incluído fantoma de água, e aplicabilidade nas diferentes técnicas utilizadas actualmente em radioterapia. 33 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 4 – Materiais e Métodos 35 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Dosimetria Fotográfica 4.1 Acelerador linear O dispositivo existente no centro clínico do SAMS é o acelerador linear Varian Clinac® 2100 CD. Neste equipamento está instalado um sistema de colimador multi-lâminas (MLC) Varian modelo Millenium® de 120 lâminas, e um sistema de imagem portal de silício amorfo designado por Portal Vision aS500 da Varian Medical Systems. Figura 4.1 – Acelerador Varian Clinac® 2100 CD do centro clínico do SAMS. Neste acelerador linear estão instaladas as energias de 6MV e 16MV para fotões e 6, 9, 12, 15 e 18 MeV para electrões. Relativamente à taxa de dose que o equipamento debita, tem como valor mínimo 100 UM/min podendo atingir as 600UM/min. A taxa de dose utilizada foi de 300UM/min pois é uma taxa estável e como tal utilizada nos tratamentos diários. 4.2 Sistema de Planimetria (TPS) O TPS instalado no centro clínico do SAMS é o Eclipse® versão 8.1 da Varian Medical Systems. Esta aplicação permite a realização de planimetrias de diferentes tipos de tratamento incluindo radioterapia conformacional 3D, IMRT e braquiterapia. 37 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O recurso a esta aplicação é justificada pelo facto de a análise gama realizada se basear na comparação de planos de dose do sistema de planeamento com os planos de dose resultado da irradiação das películas. Para efectuar os cálculos de dose foi necessário realizar uma imagem tomografia computorizada (TC) ao fantoma de placas de água sólida, que foi posteriormente importada para o TPS. Figura 4.2 – TAC ao fantoma de placas de água sólida utilizado. 4.3 Ionometria Em radioterapia a ionometria constitui-se como a ferramenta de eleição para leituras de dose, sendo a sua utilização regulamentada desde à muito pela IAEA nos Technical Reports Series (TRS)-277, TRS-381 e o mais actual o TRS-398. Em dosimetria fotográfica, a ionometria é utilizada como instrumento de controlo de dose num determinado ponto da película. Na construção da curva de calibração OD para Dose, é este o sistema utilizado para determinar a dose que cada película recebeu. As câmaras de ionização são dosimetros gasosos, podendo apresentar diferentes estruturas e dimensões consoante o fabricante e as condições de medida a que se destinam. As câmaras de ionização podem ser de dois tipos: Câmaras cilíndricas – possuem uma estrutura cilíndrica, permitindo leituras de dose para feixes em qualquer angulação de incidência. 38 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 4.3 – Exemplo de uma câmara de ionisação cilíndrica. Câmaras planas de placas paralelas – possuem uma estrutura circular, permitindo apenas a leitura de dose para feixes perpendiculares à sua superfície. Devido ao seu formato, com o volume activo de espessura reduzida e uma área de contacto plana, são tipicamente utilizadas para leituras de dose em feixes de electrões (figura 4.4). Figura 4.4 – Exemplo de uma câmara de ionização plana de placas paralelas. 4.3.1 Princípios Físicos A ionometria tem por base a utilização de uma câmara de ionização associada a um electrómetro e muitas vezes entre estes existe também um cabo de ligação, constituindo este conjunto o sistema de ionometria. Neste sistema, cada elemento tem uma função específica e indissociável dos restantes. Uma câmara de ionização possui um volume de gás definido como o volume activo, que se encontra confinado entre dois eléctrodos: eléctrodo de polarização e eléctrodo colector. Por intermédio do electrómetro é estabelecida uma diferença de potencial com um valor definido pelas especificações da câmara, variando entre os 200 e os 500V (9). A interacção do gás que se encontra no interior da câmara com a radiação provoca a ionização das suas moléculas formando-se pares ião positivo-electrão. A diferença de potencial entre os eléctrodos ou potencial de polarização, tem como consequência a deslocação dos 39 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica electrões no sentido do ânodo e os iões positivos no sentido do cátodo originando-se assim uma corrente eléctrica. Esta é registada pelo electrómetro através da integração da corrente eléctrica transmitida pela câmara de ionização. A conversão para dose é realizada pelo próprio electrómetro através da aplicação da expressão, mencionada no protocolo TRS-398: (4.1) – dose medida pelo electrómetro em Gy. – carga eléctrica detectada pelo electrómetro em Columb (C). – factor de calibração característico de cada câmara em Gy/C. - factor de correcção para a qualidade do feixe O é um factor introduzido no electrómetro que converte carga eléctrica em dose. A sua obtenção resulta de um procedimento de calibração realizado num laboratório secundário, que no caso do equipamento utilizado neste trabalho é o Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN). O procedimento consiste em colocar a câmara a calibrar num fantoma de água à distância foco superfície (DSF) de 100cm e a 5cm de profundidade no centro do feixe de Co60, com um campo de 10x10cm2. As condições ambientais de referência correspondem à temperatura de 20ºC, à pressão de 1013mbar e à humidade de 50%. Depois da irradiação a carga medida (M) é relacionada com o valor de dose considerado verdadeiro (Dw) segundo a equação: (4.2) O Dw corresponde à dose medida nas mesmas condições, por uma câmara de referência calibrada no laboratório primário Bureau International des Poids et Mesures, Paris. O último factor da equação associa uma determinada energia a uma câmara de ionização. No caso dos fotões o kQ é calculado através de uma tabela fornecida pelo protocolo TRS-398 que relaciona o factor de qualidade do feixe Tissue-phantom ratio in water (TPR20,10) com o kQ. Após obter a equação do gráfico correspondente à tabela mencionada é encontrado o factor de qualidade para o feixe em análise através da equação: TPR20,10= 1,2661 PDD20,10 – 0,0595 40 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica (4.3) Dosimetria Fotográfica na qual PDD20,10 corresponde à razão entre a percentagem relativa à deposição máxima de dose (Dmax) aos 10cm e aos 20cm de profundidade. O seu valor obtém-se com as seguintes condições de irradiação em fantoma de água: DSF de 100cm. Campo de 10x10cm2. Leituras no centro do campo radiativo. Relativamente aos feixes de electrões, a metodologia é semelhante apenas o factor de qualidade do feixe passa a ser o R50 que corresponde à profundidade em que a deposição de dose é 50% do Dmax. Os valores de kQ utilizados são os que constam da seguinte tabela: Tabela 4.1 – Valores de kQ. Energia kQ 6MV 0,9962 16MV 0,9784 6MeV 0,94 9MeV 0,926 12MeV 0,911 4.3.2 Sistema Ionométrico O sistema ionométrico utilizado neste trabalho é composto pelos seguintes elementos: Electrómetro: Scanditronix Wellhofer Dose 1, com uma tensão aplicada de +300V e com correcção de background activa. Câmara de ionização cilíndrica: Scanditronix Wellhofer CC13-6971. Esta câmara foi utilizada para irradiações com feixes de fotões. O volume activo desta câmara corresponde a 0,13cm3. Figura 4.5 – Câmara de ionisação CC13. 41 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 4.6 – Desenho das dimensões da câmara de ionização CC13. Câmara de ionização plana de placas paralelas: Scanditronix Wellhofer PPC40. Esta câmara possui um volume activo de 0,4 cm3. Foi utilizada em irradiações com electrões Figura 4.7 – Câmara de ionisação PPC40. Figura 4.8 – Desenho das dimensões da câmara de ionização PPC40. Cabo standard da marca marca Scanditronix Wellhofer. 4.3.2.1 Estabilidade do sistema ionométrico A irradiação das películas foi antecedida pela aquisição do factor de estrôncio (kSr90), num processo designado por estabilidade do sistema ionométrico. Para ambas as câmaras a PPC40 utilizada na leitura de electrões e a CC13-6971 para a leitura de fotões foram adquiridos os respectivos kSr90. Este procedimento tem como objectivo determinar o erro associado às leituras de dose que cada câmara apresenta. Tendo como referência um elemento radioactivo com um decaimento conhecido é possível comparar o valor de dose registado pelo sistema ionométrico e o teórico referente à data de realização das leituras de dose, com base na equação do decaimento radioactivo para o 90Sr: (4.4) N - leitura teórica actual. 42 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica N0 - valor de referência. TL - data da leitura actual. TR - data da leitura de referência. T1/2 - tempo de meia vida 10475,5 dias. Em baixo, é apresentada a tabela criada para o registo dos diferentes factores que estão associados ao cálculo de dose que as películas são irradiadas. Tabela 4.2 – Registo de dados para a estabilidade da câmara de ionização CC13-6971 para a energia de 6MV. Condições Pressão Atmosférica (mbar): Temperatura (ºC): Factor kPT: Leituras (mGy) 1010,4 22,5 1,0114 Leitura 1 Leitura 2 Leitura 3 Leitura 4 Leitura 5 Média 75.06 74.93 74.91 74.94 74.92 74.95 Estabilidade Leitura Ref Sr90: Data Ref Sr90: Leitura Teórica actual: Data actual: Estabilidade: Factor kSr90: 76,19 29-Jun-09 75,92 2-Out-09 0,23% 1,009 Na coluna das condições encontra-se o valor da pressão e temperatura usados para o calculo do factor kPT : (4.5) T0 – temperatura de referência, 20ºC. P0 – pressão de referência, 1013mbar. T- temperatura a que se realizou as leituras em ºC. P- pressão a que se realizou as leituras em mbar. Este factor pretende compensar a diferença entre as condições de referência (20ºC e 1013mbar), definidas pelo National Institute of Standards and Technology (NIST), nas quais a câmara de ionização foi calibrada, e as condições de pressão e temperatura que se registam no momento da leitura. Na coluna central da tabela 4.2 encontram-se as leituras de dose indicadas pelo electrómetro com a câmara colocada na fonte de Sr90 e a respectiva média. O valor médio de dose é posteriormente utilizado para calcular a estabilidade da câmara e o factor de estrôncio (kSr90), valores estes registados na terceira coluna. A estabilidade da câmara corresponde à diferença em termos percentuais entre a leitura teórica calculada através da equação 4.4 e a média das leituras obtidas corrigida pelo factor kPT. Esta percentagem permite concluir em relação à estabilidade do sistema ionométrico. Caso a diferença entre as leituras registadas e a teórica seja em módulo superior 43 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica a 2%, é preferível voltar a obter leituras pois o sistema não está estável. O kSr90 é expresso pela razão entre o valor teórico e a média das leituras. O kSr90 são factores que entrarão na correcção das leituras do electrómetro nas irradiações com o objectivo de corrigir a instabilidade do sistema. 4.4 Fantoma O fantoma de placas de água sólida foi o modelo SP34. O material que o constitui é um composto denominado RW3 (98% de poliestireno branco e 2% de óxido de titânio (TiO2)). Cada placa apresenta um área de dimensão 30 x 30 cm2 e espessura variável entre, 0,1 cm e 1 cm. Recorreu-se também a duas placas com 2 cm de espessura, distintas no seu interior pois são especialmente desenhadas para a inserção das duas câmaras de ionização utilizadas. Figura 4.9 – Fantoma SP4 colocado na mesa de tratamentos. 4.5 Películas Radiocromáticas As películas radiocromáticas utilizadas correspondem ao modelo Gafchromic® EBT com o número de lote 47261-061. Estas películas são disponibilizadas pelo fabricante em caixas que contêm 25 películas cada com uma a área de 20,3 x 25,4 cm2. De forma a prevenir a sua degradação são colocadas dentro de um envelope opaco e separadas por uma fina folha de papel vegetal que previne a fricção entre as películas. O seu manuseamento foi efectuado segundo as recomendações do fabricante, utilizando sempre luvas de borracha para evitar a criação de artefactos aquando da sua digitalização. 44 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O armazenamento destas películas respeitou também as recomendações do fabricante, que prevê que as películas sejam mantidas dentro do envelope e da respectiva caixa, mesmo após a sua irradiação, num local seco, a uma temperatura ambiente e sem incidência de qualquer fonte luminosa. 4.5.1 Identificação das películas De modo a identificar a face superior da película, que ficou voltada para a gantry, assim como caracterizar cada película após a irradiação, algumas referências são escritas nos extremos desta com uma caneta de acetato. Sentido da Gantry Data Energia Dose Figura 4.10 – Identificação de uma película irradiada. 4.6 Irradiação das películas Gafchromic® EBT As películas foram irradiadas com recurso a uma fantoma de placas de água sólida descrito no ponto 4.4. Este serviu de meio dispersor e de build-up. Todas as irradiações foram realizadas com câmara de ionização para controlo dosimétrico. Esta estava colocada numa placa com uma inserção específica, por debaixo desta foram colocadas mais 4 placas de água sólida de modo a que seja registada o efeito da retrodispersão. A espessura de build-up variou consoante a finalidade da irradiação. 45 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 4.11 – Setup de irradiação das películas. Tendo em conta que em muitos dos procedimentos descritos no capítulo 5, nomeadamente na recta de calibração das películas, é necessário determinar a dose exacta que a película irradiada recebeu, recorreu-se ao sistema ionométrico. O método utilizado é descrito nos seguintes pontos: Apenas com a câmara de ionização, com o mesmo build-up e distância foco superfície (DFS) que a película será irradiada, prescrever no sistema controlo do acelerador linear as unidades monitores correspondentes à dose que se pretende. Registar 3 leituras. De seguida são adicionadas mais placas de modo que câmara de ionização fique à profundidade que ficará quando a película for irradiada, relativamente à DFS. São efectuadas mais 3 leituras com as mesmas unidades monitor. Obtendo a razão entre a média das 3 primeiras leituras e das 3 últimas é encontrado o factor que converte a dose registada à profundidade onde se encontra a câmara de ionização e a profundidade em que se encontra a película. Este factor é denominado por factor de profundidade (kf). A dose que a película recebe é calculada segundo a equação: (4.5) D – dose recebida pela película. DM – dose medida pelo electrómetro. kf – factor de profundidade. kSr90 – factor de estrôncio . kQ – factor de qualidade do feixe. kPTi – factor de pressão e temperatura no momento da irradiação. kPT - factor de pressão e temperatura no momento da estabilidade. 46 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 4.12 – Película colocada no fantoma de placas de água sólida. 4.7 Scanner Em dosimetria fotográfica, o scanner funciona como um dosimetro, no sentido em que, é com base na imagem obtida pela digitalização das películas que se estabelece a dose que a película recebeu. O scanner utilizado neste trabalho é um Epson® Expression® 10000XL Photo, recomendado pelo fabricante das películas Gafchromic® EBT. Este dispositivo possui uma unidade de transparências acoplada que permite a leitura de películas por transmissão. A mesa de leitura tem as dimensões de uma folha de tamanho A3, o que diminui as restrições na colocação da película para digitalização, permitindo leituras mais homogéneas. A conexão com o computador é realizada através da porta USB 2.0. 4.7.1 Digitalização das películas De modo a garantir imagens com qualidade e que ao mesmo tempo fossem possíveis de analisar em MatLab® e no OmniPro® IMRT, todas as imagens obtidas têm as seguintes características: Resolução – 72dpi, está dentro do intervalo recomendado pelo fabricante das películas, 70-75dpi (38), não tornando a imagem demasiado pesada para processamento. Tipo – 48bits, é o número máximo de bits que o scanner tem a capacidade de capturar, conseguindo-se desta forma uma gama de 216 tonalidades de cor em cada canal RGB. Extensão – .tiff, esta é a extensão requerida pelo programa OmniPro® IMRT. Correcção de cor – desactivada, para que a imagem obtida corresponda ao original. 47 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Distância de focagem – 0mm, que corresponde à posição sobre o vidro da mesa de digitalização. Posicionamento da película na mesa do scanner – de forma a garantir um correcto posicionamento das películas na mesa de digitalização, recorreu-se a uma referência métrica fixa no sentido longitudinal e a uma outra móvel para o sentido transversal. Estas referências permitem colocar as películas no centro da mesa, garantindo-se que em todas as digitalizações as películas se encontram na mesma zona da mesa do scanner. Permitindo maior reprodutibilidade nas digitalizações. Figura 4.13 – Referências métricas colocadas na mesa de digitalização para alinhar as películas. Tempos de digitalização – cada imagem é adquirida após 5 digitalizações de aquecimento. Entre aquisições o scanner encontra-se desligado pelo menos 10min. Desta forma é garantida a reprodutibilidade da digitalização como foi confirmado por Ferreira et. al (39). 4.8 Programas de processamento de imagem e análise dosimétrica Os programas a que se recorreu neste trabalho possibilitaram extrair de cada película digitalizada informação relevante para a avaliação das características destas como também para a optimização do processo dosimétrico. 48 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O programa MatLab® 7.0.1, graças à sua multifuncionalidade, permite criar rotinas para obter a média de diferentes imagens, aplicar filtros correctivos e outro tipo de manipulações de imagem, nas quais o utilizador tem a capacidade plena de controlar o processo. O programa adquirido pelo SAMS para análise dosimétrica foi desenvolvido pela Iba Dosimetry GmbH, tendo o nome de OmniPro® IMRT versão 6.1. Este programa permite avaliação de dose com recurso a matrizes de díodos ou de câmaras de ionização, assim como à dosimetria fotográfica. Respeitante a esta última, utilizada neste trabalho, o programa possui uma aplicação específica na qual são criadas as curvas de calibração e calibradas as imagens para posterior análise. As análises possíveis consistem em perfis, isodoses e comparação de distribuições; nesta última a análise gama foi a eleita para a comparação entre planos de dose calculados no sistema de planimetria e imagens de películas. 4.9 Análise Gama Em radioterapia conformacional e em especial em técnicas de tratamento mais complexas como IMRT ou IMAT, que requerem verificações muito exigentes, a procura de novos instrumentos de controlo, comparação e avaliação dosimétrica, tem sido uma aposta necessária para a validação dos tratamentos com recurso a ferramentas dedicadas muito precisas (40). A análise quantitativa entre distribuições de dose através de uma análise DTA aliada à diferença de dose foi proposta por Low et al. (41). Esta ferramenta foi denominada “γ evaluation method” e permite análises de distribuições de dose a 2D e 3D, fornecendo um índice γ que quantifica a coincidência entre duas distribuições. A comparação entre distribuições de dose tem vindo a ser aplicada em diversas circunstâncias, nomeadamente entre o algoritmo de cálculo de um TPS comercial e cálculos em Monte Carlo (42), entre imagens de um dispositivo EPID e o cálculo do TPS (43) bem como entre imagens de películas e o cálculo do TPS (44). Este trabalho é mais um exemplo de comparação entre a distribuição de dose calculada por um TPS, neste caso o Ecplise®, e imagens de películas, sendo o modelo utilizado as Gafchromic® EBT. Como já foi mencionado o programa utilizado para realizar a análise gama foi o OmniPro® IMRT. 49 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica A análise gama tem os seguintes elementos como inputs da comparação: rm – posição do ponto de referência. rc – posição do ponto de comparação relativa ao ponto de referência. dM – limite de aprovação para a distância. DM – limite de aprovação para a dose. Dc(rc) – dose calculada em rc. Dm(rm) – dose calculada em rm. Com base nos inputs definidos, o OmniPro® IMRT baseia a sua comparação entre planos de dose na seguinte definição: γ(rm) = min{ Γ(rm , rc ) } {rc} (4.6) onde, (4.7) e, (4.8) (4.9) Os limites de aprovação definidos neste trabalho, corresponderam a uma margem de 3mm de distância e 3% de diferença de dose entre o ponto de referência e os pontos de comparação. Estes valores são os típicos utilizados na literatura (3) (4) (42) (43). O critério de aprovação da análise gama é baseado nos seguintes resultados: se γ(rm) ≤ 1, o cálculo é aprovado, caso γ(rm) > 1, o cálculo falha. Como meio de representar o conceito de avaliação espacial e de dose simultaneamente executada pela análise gama é apresentado gráfico 4.1. 50 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 4.1 – Análise gama. Neste gráfico o ponto de comparação, representado pelo círculo vermelho, está a uma distância Δr do ponto de referência e possui uma diferença de dose de ΔD. Verifica-se que excede a distance to agreement (DTA), mas a diferença de dose é menor que a diferença máxima permitida. Considerando este cenário esta comparação pode passar os critério de aprovação, caso a diferença de dose seja muito baixa. 51 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 5 - Procedimento, Resultados e Análise 53 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1 Testes de Validação 5.1.1 Determinação do valor máximo de OD do scanner Epson Expression 10000XL Photo A metodologia deste teste baseia-se no procedimento descrito na ISO 21150:2004 (45). Neste documento consta um conjunto de cálculos necessário à determinação do valor máximo de OD que um scanner tem a capacidade de ler. Foi criado um documento no programa Microsoft Excel no qual se introduziram e processaram os dados adquiridos. Este procedimento foi efectuado com recurso a uma película com 33 níveis de cinza (step film) correspondentes aos seguintes valores de OD: Tabela 5.1 – Película e OD correspondentes a cada nível. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 Step OD 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 3,83 0,06 0,16 0,29 0,41 0,54 0,66 0,77 0,89 1,01 1,13 1,23 1,34 1,47 1,58 1,71 1,84 1,97 2,09 2,21 2,32 2,44 2,56 2,66 2,79 2,93 3,05 3,17 3,29 3,40 3,53 3,63 3,73 55 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1.1.1 Digitalização da Película A imagem da película foi adquirida com as seguintes configurações de leitura do scanner: Modo de digitalização: Profissional. Tipo de documento: Película Positiva. Tipo de imagem: 48bits cor RGB. Resolução: Máxima possibilitada pelo scanner 12800 dpi. Máscara suavizante: Activa. Exposição automática: Activa. A película foi colocada no centro da mesa de leitura do scanner, como é descrito no ponto 4.7.1. Foram realizadas dez leituras, onde em cada uma das quais foram considerados os treze níveis de OD superior, 22 a 33 e 1. Esta selecção é feita com base no estudo realizado a diferentes scanners pela National Software Testing Labs (NSTL) (46) , que por sua vez referencia a ISO 21550:2004. No estudo da NSTL foi suficiente a aquisição dos dados dos treze níveis de OD superiores da mesma película, para os 12 scanners de diferentes marcas, testados. Para cada nível considerado foram obtidos os valores dos três componentes da imagem RGB (RedGreenBlue), recorrendo à ferramenta densitómetro do programa de digitalização fornecido com o scanner, com uma área de interesse de 3x3pixeis. 5.1.1.2 Cálculos 1. Peso do sinal de saída (Y). Este factor associa a cada componente do sinal RGB uma determinada ponderação de acordo com a equação: Y(i) = 0,2126.R(i) + 0,7152.G(i) + 0,0722.B(i) (5.1) (i)- número do nível analisado. R – componente vermelha da imagem. G – componente verde da imagem. B – componente azul da imagem Em cada digitalização foi calculado este factor para cada nível analisado, totalizando-se 10 valores correspondentes ao mesmo número de digitalizações da película. Foi 56 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica posteriormente calculada a média desses valores que será utilizada no cálculo 3 relativo ao ganho. 2. Transmissão (T). O cálculo da transmissão de cada nível tem em conta a sua OD, segundo a equação: T (i)=-10-OD (5.2) (i) - número do nível analisado. 3. Ganho (g). O ganho reflecte a diferença entre o sinal do nível de OD anterior e posterior ao nível analisado, tendo sido obtido para os níveis de interesse 23 a 33. Os níveis 21 e 1 que se encontram nos extremos da amostra, entram apenas nos dois primeiros cálculos, uma vez que o nível anterior ao 21 não é considerado de interesse, e o posterior ao 33 não existe. A equação do ganho relaciona o Y e a T dos níveis vizinhos ao analisado: (5.3) (i) - número do nível analisado. T (i) – transmissão do nível OD. Y (i) – media do peso do sinal do nível i. g (i) – ganho incremental do nível i. 4. Desvio padrão (σ). O cálculo do desvio padrão (σ) de cada nível de OD implica o cálculo prévio do σ relativo ao Y relativo às 10 leituras efectuadas de cada nível, e do σ correspondente há diferenças dos valores do R e B de cada nível e o respectivo Y. Estes σ combinam-se na seguinte equação: σ (i) = *σ (Y) 2 + 0,64.σ (R-Y) 2 + 0,16.σ (B-Y) 2]1/2 (5.4) σ(i) – desvio padrão do nível (i). σ(R-Y) - desvio padrão da diferença entre o canal R e o peso Y. σ(B-Y) - desvio padrão da diferença entre o canal B e o peso Y. 57 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5. Razão Sinal Ruído (S/R). A expressão deste factor corresponde à razão entre a multiplicação do peso do sinal e do ganho pelo desvio padrão do respectivo nível de OD: (5.5) T (i) – transmissão do nível OD. g (i) – ganho incremental do nível i. σ (i) – desvio padrão do nível i. 5.1.1.3 Análise da Razão Sinal Ruído (S/R) Na próxima tabela estão registados os resultados dos cálculos indicados no ponto anterior. A análise dos resultados irá basear-se no valor obtido no cálculo da razão sinal ruído. Segundo a ISO21550:2004 o último valor de OD para a qual esta razão possui um valor acima de 1 corresponde à OD máxima que o scanner tem a capacidade de ler. Isto é, para valores de OD muito elevados o ruído do sinal é tendencialmente maior que o próprio sinal transmitido, não fazendo por tanto sentido considerá-los como pontos de uma recta de calibração. Tabela 5.2 – Resultados dos cálculos efectuados (Epson Expression 10000XL Photo, 12800dpi, Película positiva, mascara suavizante, autoexposição). Nível OD Transmissão Peso do sinal Ganho T Y g Desvio Razão sinal ruído Padrão σ 23 2,56 0,0028 15,05 1218,16 0,90 3,73 24 2,66 0,0022 14,29 1420,30 0,98 3,19 25 2,79 0,0016 13,45 1520,89 0,70 3,53 26 2,93 0,0012 12,75 2072,36 0,74 3,31 27 3,05 0,0009 12,02 1877,78 0,69 2,44 28 3,17 0,0007 11,77 2032,63 0,84 1,64 29 2,29 0,0005 11,29 2906,32 0,97 1,54 30 3,40 0,0004 10,96 4193,58 1,14 1,47 31 3,53 0,0003 10,39 3863,66 0,79 1,43 32 3,63 0,0002 10,26 3650,56 0,73 1,17 33 3,73 0,0001 10,01 4106,8 0,73 1,05 58 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Passando para um gráfico os valores de S/N em função de OD resulta o seguinte gráfico: Sinal/ Ruído Gráfico 5.1 – Razão Sinal Ruído em função da OD para o scanner Epson Expression 10000XL Photo. 5,5 5 4,5 4 Razão Sinal Ruído 3,5 3 y = 82,333e-1,174x 2,5 Exponencial (Razão 2 Sinal Ruído) 1,5 1 0,5 0 2,3 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 3,6 3,7 3,8 OD É possível observar que não existe nenhum valor de OD com S/R inferior a 1. Sendo assim não é possível identificar um valor de OD máximo que o scanner tem a capacidade de ler. Da informação retirada dos resultados apresentados, conclui-se que o valor máximo de OD que se pretende identificar é igual ou superior a 3,73. A conclusão deste teste vai ao encontro das especificações do fabricante que aponta o valor de 3,8 para OD máxima lida pelo scanner em estudo (47). No relatório já mencionado, publicado pela NSTL, foram obtidos resultados muito variados que são resumidos na seguinte tabela: Tabela 5.3 – Resultados do estudo realizado pela NSTL. Scanner Resolução Máxima (dpi) OD Máxima Epson Perfection 3490 Photo 3200 3,2 Epson Perfection 4490 Photo 4800 Acima de 4,0 Epson Perfection 4990 Photo 4800 Acima de 4,0 Epson Perfection V700 Photo 6400/4800 Acima de 4,0 Canon CanoScan 4200F 3200 Inferior a 3,0 Canon CanoScan 8400F 3200 Inferior a 3,0 Canon CanoScan 9950F 4800 Inferior a 3,0 HP ScanJet 4370 3600 3,0 HP ScanJet 4850 4800 3,1 HP ScanJet 4890 4800 Inferior a 3,0 MicroTek ScanMaker i900 3200 Inferior a 3,0 MicroTek ScanMaker 9800 XL 1600 Inferior a 3,0 59 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica A tabela anterior demonstra três cenários possíveis: obtém-se um valor exacto de OD máxima, determina-se que a OD máximo é inferior a um determinado valor ou por último que é superior. Esta última corresponde ao resultado do teste realizado ao scanner Epson Expression 10000XL Photo, embora neste teste também se considere a possibilidade de a OD máxima ser igual a 3,73 uma vez que a película utilizada limitou o teste a este valor. Seria necessário uma película com ODs superiores para obter um valor exacto de OD máxima. Os gráficos seguintes, retirados dos resultados do estudo da NSTL, evidenciam os três cenários mencionados: Gráfico 5.2 – Gráficos sinal ruído em função da OD de diferentes scanners. 1. 2. 3. No gráfico 1 não se regista nenhum valor de S/R acima de 1, como tal o valor máximo de OD será inferior ao maior valor de OD medido, neste caso 3,0. O gráfico 2 apresenta um único ponto acima S/R igual a 1, como tal a OD máxima lida pelo scanner Hp corresponde à OD nesse ponto que é de 3,0. Por último, o gráfico 3 corresponde a um caso semelhante ao que foi estudado neste trabalho, isto é, não se observa nenhum valor de OD abaixo de 1. Como tal, a conclusão a tirar será que este scanner tem um valor de OD máximo igual ou superior ao valor mais alto lido, neste caso particular 4,0. 60 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1.2 Espectro de absorção das películas EBT Como já foi evidenciado no capítulo 3, mais precisamente pela análise do gráfico 3.1, as películas EBT possuem um pico de absorção na zona do vermelho. Este teste tem o objectivo de analisar o espectro de absorção de uma película não irradiada comparativamente com o espectro de uma película irradiada. 5.1.2.1 Aquisição e tratamento de dados Com recurso a uma fonte de luz de halogéneo, modelo Avalight-DSH (48) e a um espectrómetro, modelo AvaSpec-2048, foi adquirido o espectro da luz de halogéneo e os espectros de uma película EBT não irradiada e outra irradiada com uma dose de 200cGy. A aquisição dos dados foi realizada através da aplicação AvaSoft-XLS (49), que permite a transferência destes para Excel . Com recurso à expressão da absorvância: (5.6) onde I corresponde à intensidade da luz detectada quando a película está entre a fonte de luz e o detector e I0 a intensidade da luz emitida pela fonte, obtém-se o espectro de absorção da película: Absorvância Gráfico 5.3 - Espectro de absorção de uma película Gafchromic EBT. 1,10 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 Película irradiada Película não irradiada 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 Comprimento de onda (nm) 61 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O gráfico 5.3 evidencia o incremento da absorção em comprimentos de onda correspondentes à zona do vermelho(620-640nm) por parte de uma película irradiada comparativamente a uma não irradiada. Este teste permitiu comprovar que toda a análise às películas EBT terá de ser realizada com base no canal vermelho da imagem da película digitalizada. 5.1.3 Efeito da orientação da película na digitalização A película poderá posicionar-se na mesa do scanner segundo duas orientações: landscape e portrait. A orientação da película é definida em relação à direcção de digitalização do scanner: - Landscape : a dimensão menor de uma película inteira está paralela à direcção de digitalização. - Portrait: a dimensão maior de uma película inteira está paralela à direcção de digitalização. O componente activo das películas EBT está alinhado paralelamente à dimensão menor da película, sendo constituído por partículas em forma de agulha com 1-2µm de diâmetro e 15-25µm de comprimento (20). Como tal é espectável que mais luz seja transmitida pela película quando o varrimento do scanner é feito de forma paralela à dimensão menor da película, landscape. De forma a verificar este efeito, foram irradiadas películas com diferentes níveis de dose de modo a comprovar a sua validade para diferentes níveis de enegrecimento da película. Pretendeu-se em simultâneo analisar o efeito do tratamento da imagem, após digitalização em landscape e portrait. Para tal foram criadas rotinas em MatLab que possibilitam a obtenção da média de 10 imagens e a aplicação do filtro Wiener. 5.1.3.1 Irradiação das películas Cada película foi previamente cortada em quatro pedaços idênticos e devidamente identificados. As condições de irradiação foram as seguintes: DFS=100cm. Campo: 10x10cm2. Energia de 6MV. Em fantoma de placas de água sólida com build up de 5cm. 62 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica No centro do campo radiativo. Com uma dose específica para cada pedaço de película: 50cGy; 100,1cGy; 150cGy; 200,1cGy; 250,2cGy e 300,2cGy. 5.1.3.2 Digitalização das películas e processamento das imagens Foram obtidas 10 imagens consecutivas de cada película irradiada, as quais foram posteriormente processadas em MatLab®. Estipulou-se para cada orientação, sete grupos de imagens correspondentes às sete doses analisadas (0cGy; 50cGy; 100,1cGy; 150cGy; 200,1cGy; 250,2cGy e 300,2cGy). Sendo cada grupo composto por quatro imagens, resultado de outros tantos procedimentos em MatLab®: Imagem 1: seleccionado o canal R e aplicado o filtro Wiener a cada uma das 10 imagens, com posterior média destas. Imagem 2: seleccionado o canal R de cada uma das 10 imagens, com posterior média destas. Imagem 3: para apenas 1 imagem é seleccionado o canal R e aplicado o filtro Wiener. Imagem 4: para apenas 1 imagem é seleccionado o canal R. De cada uma destas imagens foi calculada a média e o desvio padrão de uma área central de 100x100pixeis. 5.1.3.3 Resultados e Análise Os resultados obtidos no estudo da orientação de digitalização das películas, são demonstrados em tabelas. Nestas constam a média dos valores dos pixéis da área seleccionada e o respectivo desvio padrão. Para cada uma das doses analisadas em ambas as orientações. Os gráficos apresentados reflectem o valor médio dos pixéis (VP) em função da dose. 63 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Imagens 1 Tabela 5.4 – Valores de análise para as imagens 1. Landscape Dose (cGy) Portrait Variação do sinal 0 Média 52522 Desvio padrão 102,07 Média 50179 Desvio padrão 100,75 50 43774 102,08 40820 70,38 6,7% 100,1 37761 66,16 34665 61,59 8,2% 150 33626 89,02 30542 85,66 9,2% 200,1 30294 83,96 27269 112,82 10,0% 250,2 27770 59,72 24833 80,02 10,6% 300,2 25707 91,62 22928 94,06 10,8% 4,5% Gráfico 5.4 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 1. 55000 Landscape 50000 Portrait VP 45000 40000 35000 30000 25000 20000 0 50 100 150 200 250 300 Dose cGy Imagens 2 Tabela 5.5 – Valores de análise para as imagens 2. Landscape Dose (cGy) Portrait Variação do sinal 0 Média 52530 Desvio padrão 110,89 Média 50293 Desvio padrão 78,24 50 43842 83,60 40824 90,52 6,9% 100,1 37759 102,58 34663 99,84 8,2% 150 33626 119,53 30546 97,70 9,2% 200,1 30316 114,25 27263 118,46 10,1% 250,2 27769 87,98 24832 93,62 10,6% 300,2 25703 107,24 22944 102,30 10,7% 4,3% 64 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica VP Gráfico 5.5 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 2. 55000 50000 45000 40000 35000 30000 25000 20000 Landscape Portrait 0 50 100 150 Dose cGy 200 250 300 Imagens 3 Tabela 5.6 – Valores de análise para as imagens 3. Landscape Dose (cGy) Portrait Variação do sinal 0 Média 52609 Desvio padrão 79,39 Média 50211 Desvio padrão 75,11 50 43823 76,68 40818 83,06 6,9% 100,1 37800 53,73 34622 70,92 8,4% 150 33552 86,61 30549 88,81 9,0% 200,1 30330 77,87 27261 93,54 10,1% 250,2 27760 52,70 24891 75,96 10,3% 300,2 25798 71,15 22946 53,89 11,1% 4,6% Gráfico 5.6 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 3. 55000 Landscape 50000 Portrait VP 45000 40000 35000 30000 25000 20000 0 50 100 150 200 250 300 Dose cGy 65 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Imagens 4 Tabela 5.7 – Valores de análise para as imagens 4. Landscape Dose (cGy) Portrait Variação do sinal 0 Média 52650 Desvio padrão 116,16 Média 50147 Desvio padrão 111,19 50 43763 94,95 40859 115,68 6,6% 100 37831 101,19 34622 102,47 8,5% 150 34048 103,74 30550 101,45 10,3% 200 30374 116,02 27260 103,96 10,3% 250 27846 104,26 24891 97,69 10,6% 300 25818 91,00 22946 80,42 11.1% 4,8% Gráfico 5.7 - Valor médio dos pixeis em função da dose para as imagens 4. 55000 Landscape 50000 Portrait VP 45000 40000 35000 30000 25000 20000 0 50 100 150 200 250 300 Dose cGy Qualquer que seja o processo de tratamento das imagens comprova-se que os valores médios dos pixéis são superiores na orientação landscape, derivado da própria estrutura da película, facto já mencionado. Este fenómeno é tanto mais evidente quanto maior for a dose depositada na película, para uma película não irradiada o incremento do sinal não ultrapassa os 4,8%, enquanto uma película irradiada com 300cGy atinge os 11,1%. Assim sendo o efeito da orientação de digitalização da película constitui um factor importante na análise de dose em películas radiocromáticas. Martisikova et al. (50) observaram também uma diferença significativa entre as duas orientações, concluindo que todas as películas a analisar num determinado estudo têm de ser digitalizadas na mesma orientação, com vista a obter resultados mais credíveis. Segundo a ISP, o fabricante das películas, estas deverão ser preferencialmente digitalizadas na orientação landscape, pois mais luz é transmitida através da película conseguindo-se uma análise mais sensível. É identificada com mais pormenor pequenas 66 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica alterações na distribuição de dose. Assume-se então que a orientação ideal para digitalizar as películas Gafchromic® EBT é a orientação landscape, que será adoptada nos testes seguintes. 5.1.4 Uniformidade da digitalização O teste de uniformidade de digitalização tem como objectivo analisar a variação dos valores de pixel de uma película irradiada nas seguintes condições: DFS=100cm. Campo: 30x30cm2. Energia de 6MV. Em fantoma de placas de água sólida com build up de 5cm. No centro do campo radiativo. Dose: 200,7cGy. Foram consideradas as diferentes posições possíveis, mantendo a película na orientação landscape no centro da mesa do scanner; tendo como referencia a legenda da película numa vista sobre a mesa do scanner. As posições analisadas correspondem à seguinte ilustração: Posição A Lâmpada Legenda Figura 5.1 – Posição de digitalização A. Posição B – rodando a película 180º no plano da mesa do scanner. Lâmpada Figura 5.2 – Posição de digitalização B. 67 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Posição C – voltando a face da película com a legenda para a mesa do Lâmpada scanner. Figura 5.3 – Posição de digitalização C. Posição D – rodando a película 180º no plano da mesa do scanner. Lâmpada Figura 5.4 – Posição de digitalização D. De modo a verificar a uniformidade da película foram definidas linhas e colunas de análise da imagem obtida após digitalização. As imagens adquiridas são tratadas como matrizes, que correspondem ao canal vermelho das imagens RGB, com base na conclusão do teste referente ao ponto 5.2.1. Definiu-se um perfil central em cada dimensão (X, Y) e outros dois equidistantes ao primeiro, como é ilustrado na figura 5.5: Y(linhas) Y+Y1 Y Y-Y1 X-X1 X X+X1 X(colunas) Figura 5.5 – Perfis de análise. 68 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1.4.1 Gráficos e Análise dos resultados As imagens obtidas foram analisadas com recurso ao MatLab sendo os resultados deste teste apresentados sob a forma de gráficos. Nestes constam os perfis definidos segundo o método descrito no ponto anterior. Estes perfis estão normalizados para o valor central. Para a análise é apresentado, após cada gráfico, uma tabela com o desvio padrão (σ) de cada perfil. Posição A Nesta posição pretendeu-se não só analisar a uniformidade da película como também o efeito da aplicação do filtro Wienner e a média de 10 imagens. Gráfico 5.8 - Colunas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 X=154 X=354 X=524 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.8 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.8. X 154 354 554 σ% 0,396 0,545 0,406 Gráfico 5.9 - Linhas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 Y=180 Y=280 Y=380 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna 69 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Tabela 5.9 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.9. Y 180 280 380 σ% 1,401 1,627 1,414 Gráfico 5.10 - Colunas: imagem com extracção do canal R e aplicação do filtro Wiener. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -300 -250 -200 -150 -100 -50 X=154 X=354 X=524 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.10 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.10. X 154 354 554 σ% 0,217 0,493 0,225 Gráfico 5.11 - Linhas: imagem com extracção do canal R e aplicação do filtro Wiener. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 Y=180 Y=280 Y=380 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna Tabela 5.11 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.11. Y 180 280 380 σ% 1,376 1,590 1,400 70 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.12 - Colunas: média de 10 imagens com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 X=154 X=354 X=524 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.12 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.12. X 154 354 554 σ% 0,451 0,601 0,451 Gráfico 5.13 - Linhas: média de 10 imagens com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 Y=180 Y=280 Y=380 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna Tabela 5.13 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.13. Y 154 354 554 σ% 1,412 1,643 1,432 71 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Sinal % Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.14 - Colunas: média de 10 imagens com aplicação do filtro Wiener e com extracção do canal R. 105 100 95 90 85 X=354 80 75 X=154 70 X=524 65 60 55 50 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Sinal % Tabela 5.14 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.14. X 154 354 554 σ% 0,357 0,573 0,382 Gráfico 5.15 - Linhas: média de 10 imagens com aplicação do filtro Wiener e com extracção do canal R. 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 Y=180 Y=280 Y=380 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna Tabela 5.15 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.15. Y 180 380 580 σ% 1,412 1,643 1,432 Comparando os diferentes gráficos verifica-se que aplicação de um filtro Wiener ou a média de 10 imagens não contribuem para uma variação significativa da uniformidade da imagem da película. Assim sendo, a análise para as posições B, C e D será restringida a uma imagem com extracção do canal R. 72 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Posição B Gráfico 5.16- Colunas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -300 -250 -200 -150 -100 -50 X=153 X=353 X=553 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.16 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.16. X 353 553 0.328 0.602 0.525 Sinal % σ% Gráfico 5.17 153 -300 -250 -200 -150 -100 Tabela 5.17– Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.17. Y 154 354 554 σ% 1,412 1,643 1,432 Posição C 73 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.18- Colunas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 X=155 X=355 X=555 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.18 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.18. X 155 355 555 σ% 0.385 0.569 0.445 Gráfico 5.19- Linhas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 Y=183 Y=283 Y=383 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna Tabela 5.19 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.19. Y 183 283 383 σ% 1.380 1.605 1.428 Posição D 74 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.20- Colunas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -300 -250 -200 -150 -100 -50 X=154 X=354 X=554 0 50 100 150 200 250 300 Número da Linha Tabela 5.20 – Desvio padrão para cada perfil em X do gráfico 5.20. Y 183 283 383 σ% 1.380 1.605 1.428 Gráfico 5.21- Linhas: imagem com extracção do canal R. Sinal % 105 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 -400 -350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 Y=182 Y=282 Y=382 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número da Coluna Tabela 5.21 – Desvio padrão para cada perfil em Y do gráfico 5.21. Y 182 282 382 σ% 1.338 1.579 1.423 Comparando os perfis X e perfis Y nas diferentes posições, verifica-se que o desvio padrão em Y é superior. Pela análise dos respectivos gráficos, a variação entre o máximo e o mínimo em Y atinge aproximadamente os 5%, por seu lado os perfis em X possuem uma diferença sensivelmente de 2%. De notar também que esta diferença relativamente ao valor central do perfil, se observam nos extremos deste, que correspondem ao extremo da película. Este fenómeno já 75 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica verificado noutros estudos (51) e (39), é o resultado de imperfeições características da película e limitações do próprio scanner. A luz proveniente da lâmpada não irradia de igual forma toda a película, provocando um sinal mais forte no centro da película que decresce no sentido dos extremos laterais da película. Tendo em conta que a película foi irradiada na sua totalidade sob um campo com dimensões superiores a esta (30x30cm2) seria expectável observar não um decréscimo do sinal relativamente ao valor central, mas sim um aumento pois no extremo da película a dose será menor. Este teste da uniformidade da digitalização foi importante no que respeita à definição da zona da irradiação preferencial da película assim como à sua colocação na mesa do scanner. Tendo em conta a maior influência da dispersão de luz, a zona de interesse terá de ficar sempre no centro da mesa do scanner onde o efeito de dispersão é menor. Analisando o gráfico, essa margem será de 50 a 100pixeis, o que corresponde aproximadamente a 2cm, considerando a resolução das imagens analisadas de 72dpi. A película terá de ser colocada no centro da mesa do scanner e não junto a qualquer um dos extremos laterais, de modo a evitar o efeito de dispersão provocados pela lâmpada. No estudo (50) é também desaconselhado a colocação da película nos extremos longitudinais pois é nestes pontos que lâmpada permanece mais tempo durante a leitura, tornando a leitura da imagem menos homogénea. Relativamente às posições analisadas (A, B, C, e D) não se observaram diferenças significativas entre elas, como tal é indiferente qual a posição relativa da legenda. Contudo de forma a garantir um trabalho mais rigoroso todas as películas deverão ser digitalizadas na mesma posição. Neste trabalho a posição escolhida foi a A. 5.1.5 Remoção do efeito de dispersão de luz na digitalização pelo OmniPro® IMRT 5.1.5.1 Fenómeno de dispersão de luz Os dois tipos de scanner mais comuns são distintos no que diz respeito à fonte de luminosa que utilizam. Um dos tipos de fonte é constituída por um feixe de laser pontual que realiza um varrimento ao longo da superfície de análise. O segundo tipo possui uma fonte de luz dispersa com um comprimento específico e que ilumina a superfície de análise projectando a imagem para dispositivos de carga acoplada ou CCD (charge-couple device). Estes 76 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica dispositivos podem ser lineares ou bidimensionais. O scanner Epson 10000XL Photo utilizado neste trabalho inclui-se no segundo tipo e possui uma lâmpada florescente e um dispositivo CCD linear. Como foi analisado no teste anterior a digitalização não produz uma imagem homogénea devido ao feixe de luz disperso que interage com a película. Figura 5.6 – Dispersão da luz e a sua detecção no dispositivo CCD. Como é demonstrado pela figura 5.6, a intensidade luminosa que uma película posicionada no centro da mesa do scanner recebe, é maior no centro da película que nos seus extremos laterais. Este fenómeno deve-se ao comprimento finito da lâmpada. Como consequência num perfil paralelo à lâmpada de uma película com OD uniforme, o sinal medido no centro será superior ao medido nos seus extremos. 5.1.5.2 Correcção realizada pelo Omnipro® IMRT De forma a compensar o efeito da dispersão luminosa sobre a análise dosimétrica de películas, o programa Omnipro® IMRT possui uma funcionalidade específica para este efeito, que foi patenteada por Lewis et al. (52). Esta funcionalidade denominada “Trento Method” requer a imagem de uma película não irradiada com as mesmas dimensões da película irradiada, e digitalizada na mesma zona 77 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica do scanner. De referir que todas as películas foram posicionadas no centro da mesa do scanner. Com base na imagem obtida é gerada automaticamente pelo programa uma matriz de correcção que resulta das seguintes operações: 1. Inversão da imagem da película não irradiada através da subtracção do valor de cada pixel ao valor máximo 216. A imagem original RGB possui 48bits cada canal terá uma gama de valores entre 0 e 216, correspondendo 0 ao sinal de menor intensidade e 216 ao sinal de maior intensidade. 2. Cálculo do valor médio dos pixéis numa região central que represente 75% dos pixéis da imagem invertida. 3. Normalização da imagem invertida para o valor médio. 4. Cálculo do valor médio de cada coluna. 5. Construção de uma equação polinomial de segundo grau IPVN(x) que é denominada matriz de correcção pelo programa. IPVN é o valor médio da coluna x na imagem invertida e normalizada. 6. Aplicação da matriz de correcção na imagem em análise, através da divisão dos pixéis de cada coluna: PV(x)/ IPVN(x). Com o objectivo de analisar o efeito da correcção realizada pelo OmniPro® IMRT, foram adquiridos perfis paralelos à lâmpada do scanner de imagens de películas já utilizadas noutros testes. A primeira imagem analisada corresponde a uma película irradiada na sua totalidade com 200cGy, utilizada no ponto 5.1.5. Gráfico 5.20 - Perfis: película totalmente irradiada com 200cGy. 105 100 Dose % 95 Perfil sem correcção 90 85 Perfil com correcção 80 75 -13 -11 -9 -7 -5 -3 -1 1 3 5 7 9 11 13 Distância (cm) 78 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica A linha vermelha do gráfico 5.20 que corresponde a um perfil sem correcção. Com base neste a dose aumenta com a distância ao centro da película. Este fenómeno é comum ao registado no teste de uniformidade da digitalização em que o sinal diminuía com a distância ao centro da película. A relação entre o sinal e a dose é inversa, isto é, o aumento do sinal significa diminuição de dose e vice-versa. Por outro lado no perfil da imagem corrigida observa-se um ligeiro aumento da dose na região próxima do centro do perfil seguida de uma diminuição nas zonas mais afastadas. Este perfil tem as características de perfis obtidos com uma câmara de ionização em água e que caracterizam um feixe de radiação; assim sendo a correcção efectuada está correcta. De forma a avaliar o efeito da correcção da dispersão de luz em campos mais pequenos duas películas com campos de 10x10cm2 foram analisadas. Gráfico 5.21 - Perfis: película irradiada com 50cGy campo 10x10cm 2. Dose % 105 103 101 99 97 95 93 91 89 87 85 -6 -4 -2 Perfil sem correcção Perfil com correcção 0 2 4 6 Distância (cm) Gráfico 5.22 - Perfis: película irradiada com 100cGy campo 10x10cm2. Dose % 103 101 99 97 95 93 91 89 87 85 -6 -4 -2 Perfil sem correcção Perfil com correcção 0 2 4 6 Distância (cm) 79 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Verifica-se em ambos os gráficos a diminuição da percentagem de dose nos perfis corrigidos, esta diminuição é a confirmação da influência da dispersão luminosa mesmo nas zonas centrais da lâmpada. A funcionalidade do programa OmniPro® IMRT para a correcção do efeito de dispersão luminosa terá de ser aplicado não importa qual a dimensão da região de interesse da película, embora quanto maior e mais próxima dos extremos da lâmpada esta estiver maior será a influência da dispersão. Tal como no ponto 5.1.5 verifica-se que as películas deverão ser digitalização no centro da mesa do scanner. 5.1.6 Grau Enegrecido das películas Gafchromic® EBT Este teste tem como propósito a avaliação do enegrecimento de uma película Gafchromic® EBT a partir do momento que a película é irradiada. Tendo em consideração a polimerização do monómero PCDA por efeito da radiação, é de esperar que esta reacção não seja imediata e que demore algum tempo até a película adquirir uma densidade constante. Segundo o fabricante o aumento de densidade da película como resultado da polimerização do seu elemento activo está completa após 2horas da irradiação. 5.1.6.1 Irradiação e digitalizações da película A irradiação da película ocorreu nas seguintes condições: DFS=100cm. Campo: 30x30cm2. Energia de 6MV. Em fantoma de placas de água sólida com build up de 5cm. No centro do campo radiativo. Dose: 200,5cGy. Para avaliar o enegrecimento da película foram realizadas digitalizações periódicas. A primeira após 10 minutos da irradiação seguindo-se 13 digitalizações com 15minutos de intervalo e por fim uma última sensivelmente 24horas após a irradiação. Entre as digitalizações do primeiro dia o scanner permaneceu desligado de modo a evitar o aquecimento e a variação da intensidade da lâmpada entre digitalizações. 80 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1.6.2 Resultados e Análise Os resultados são apresentados num gráfico que reflecte a variação da netOD ao longo do tempo. A netOD é definida como: (5.6) - média dos pixéis de uma película não irradiada. - média dos pixéis de uma película irradiada. A avaliação do enegrecimento da película com base na netOD permite comparar o aumento de densidade da película a partir da densidade de uma película não irradiada. O valor de pixel foi obtido através de uma rotina em MatLaB que após seleccionar o canal R da imagem, considera uma área de 100x100 pixeis no centro de cada imagem, onde a média do valor de pixel é calculada (PV). Gráfico 5.23- Enegrecimento de uma pelicula ao longo do tempo. 0,28 netOD 0,27 0,26 Enegrecimento da pelicula EBT 0,25 0,24 0,23 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Tempo (h) É facilmente identificável um aumento da netOD ao longo das primeiras 3horas após a irradiação. O penúltimo valor registado corresponde a 3horas e meia após a irradiação e possui um valor de netOD de 0,263 enquanto após 24horas o valor de netOD é 0,266. Não se verifica um aumento significativo comparado com a variação entre as primeiras digitalizações. Nas primeiras 3horas a netOD passou de aproximadamente 0,25 para valores superiores a 0,26. A diminuição ao longo do tempo da diferença entre valores de netOD consecutivos, é sinónimo da estabilização da reacção de polimerização que ocorre na película por acção da radiação. As 2horas indicadas pelo fabricante, como tempo necessário para a densificação da película estabilizar, são postas em causa pois segundo este teste, são necessárias 3 a 4horas para que a reacção de polimerização estabilize. Com base nesta análise é recomendado que a digitalização da película seja realizada pelo menos após 4horas da irradiação. 81 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.1.7 Independência energética das películas Gafchromic® EBT A independência enérgica das películas significa que para a mesma dose o grau de enegrecimento da película é o mesmo independentemente da energia utilizada. Para esta verificação foram irradiadas películas com diferentes doses e diferentes energias. 5.1.7.1 Irradiação e análise das películas Inicialmente cortaram-se algumas películas em 6 pedaços idênticos, que foram irradiados separadamente. As energias consideradas corresponderam a duas energias de fotões (6MV e 16MV) e três de electrões (6MeV, 9MeV e 12MeV). Estas energias foram escolhidas pois são as mais utilizadas no acelerador Varian Clinac 2100CD, que se encontra no centro clínico do SAMS. Para cada energia foram irradiadas 4 pedaços de película com outras tantas doses. O setup utilizado foi o seguinte: DFS=100cm. Campo: 6x6cm2. Em fantoma de placas de água sólida com build up de 5cm para energias de fotões. No caso das irradiações com energias de electrões o build up foi igual à profundidade onde a dose depositava é máxima (Dmax) para cada energia. No centro do campo radiativo. Na figura abaixo estão representadas duas películas irradiadas com a energia de 6MV (à esquerda) e 12MeV(à direita) para uma dose de aproximadamente 300cGy: Figura 5.7 – Imagens de duas películas irradiadas com diferentes energias e a mesma dose 82 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Os dados para a análise da independência energética das películas em estudo tem como base a netOD calculada segundo a equação 5.6. O valor de pixel foi obtido através de uma rotina em MatLab® que após seleccionar o canal R da imagem, considera uma área de 50x50 pixeis no centro de cada imagem, onde a média do valor de pixel é calculada (PV). A tabela seguinte regista para cada energia a dose recebida por cada película e o respectivo valor de pixel e netOD. Tabela 5.22 – Dados para a análise da independência energética das películas. Dose (cGy) PV netOD 0 52497 0,000 6 50,0 44049 0,076 16 49,7 43692 0,080 6 50,0 43923 0.077 9 50,6 43838 0,078 12 50,5 43827 0,078 6 100,1 37811 0,143 16 99,7 37942 0,141 6 100,1 38030 0,140 9 100,1 38000 0,140 12 99,9 38081 0,139 6 199,3 30612 0,234 16 200,1 30347 0,238 6 199,8 30889 0,230 9 199,9 30836 0,231 12 200,6 30651 0,234 6 299,7 26083 0,304 16 299,7 25874 0,307 6 300,3 26112 0,303 9 300,8 26086 0,304 12 300,2 26053 0,304 Energia (MeV) Fotões Electrões Fotões Electrões Fotões Electrões Fotões Electrões Os registos da tabela permitem observar desde já a proximidade entre os valores de pixel e respectiva netOD para películas irradiadas com diferentes energias e a mesma dose. Esta análise encontra-se ilustrada no próximo gráfico: 83 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.24 - Independência energética das películas EBT . 0,350 netOD 0,300 6MV 0,250 16MV 0,200 6MeV 0,150 9MeV 0,100 12MeV 0,050 0,000 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 Dose (cGy) Verifica-se a independência do grau de enegrecimento das películas Gafchromic® EBT relativamente à energia do feixe. O que significa que independentemente de se tratar de um feixe de fotões ou de electrões e independentemente da energia do feixe para a mesma dose prescrita o grau de enegrecimento da película é o mesmo. Esta característica permite criar a recta de calibração OD para Dose recorrendo a películas irradiadas com qualquer energia. E consequentemente analisar a distribuição em dose de campos com diferentes energias com a mesma curva de calibração. 5.2 Curvas de Calibração Com o objectivo de analisar em termos de dose, películas irradiadas com uma determinada configuração de campos é necessário calibrá-las previamente. A calibração é realizada aplicando sequencialmente duas curvas de calibração: 1ª Calibração – Curva de calibração do scanner (Valor do scanner(VS) para OD ) 2ª Calibração – Curva de calibração das películas (OD para Dose) Este procedimento respeita as instruções dadas no manual do programa OmniPro® IMRT. Que a par de outros programas, necessita destas calibrações para a avaliação dosimétrica de películas irradiadas. 5.2.1 Calibração do scanner Epson 10000XL Photo 84 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica A calibração do scanner é realizada com recurso ao step film ilustrado na figura 5.1. Esta película possui uma escala de OD definida pelo fabricante; ao ser digitalizada o scanner atribui a cada nível de OD um valor de sinal ou valor de scanner, totalizando-se 33 pontos com diferentes ODs. Figura 5.8 – Aquisição dos pontos para a construção da curva VS para OD. As curvas VS para OD apresentadas possuem diferentes regiões de interesse (ROI): 1x1mm 2, 3x3 mm2 e 5x5 mm2. Todas elas definidas ao longo de um perfil central. Com a variação da região de interesse pretende-se avaliar a sua influência na curva de calibração. 85 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica OD Gráfico 5.25 -Curva de calibração Scanner - ROI 1x1mm2 . 4,0 3,6 3,2 2,8 2,4 2,0 1,6 1,2 0,8 0,4 0,0 VS para OD 0 10 20 30 40 50 60 70 x104 Valor do Scanner OD Gráfico 5.26 - Curva de calibração Scanner - ROI 3x3mm2 . 4,0 3,6 3,2 2,8 2,4 2,0 1,6 1,2 0,8 0,4 0,0 VS para OD 0 10 20 30 40 50 60 70 x104 Valor do Scanner OD Gráfico 5.27 - Curva de calibração Scanner - ROI 5x5mm2 . 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 VS para OD 0 10 20 30 40 50 60 70 x104 Valor do Scanner 86 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Pelos dados fornecidos pelos gráficos anteriores a variação da região de interesse não causa alterações significativas na curva de calibração do scanner. Contudo há que ter em conta que a espessura de cada nível de OD é inferior a 8mm. Assim sendo, de forma a garantir que a região de interesse não abrange dois níveis de OD diferentes e que está centrada no seu respectivo nível, a curva utilizada neste trabalho corresponde à representada no gráfico 5.25 com uma região de interesse de 1x1mm2. 5.2.2 Calibração das películas Gafchromic® EBT Segundo as recomendações da ISP, fabricante das películas EBT, a curva de calibração OD para Dose deverá ter no mínimo 8 níveis de dose tendo o último uma dose 25% superior ao máximo registado no sistema de cálculo. Tendo em conta que este máximo registou-se nos 226,7cGy, foi definido que o máximo da curva de calibração seria de 280cGy. Estipulando um intervalo de 20cGy entre níveis de dose, a curva de calibração criada possui então 15 níveis de dose, que corresponderam a 14 irradiações. Algumas películas foram cortadas em 6 pedaços e cada um deles foi irradiado com a respectiva dose, nas seguintes condições: DFS=100cm. Campo: 6x6cm2. Em fantoma de placas de água sólida com build up de 5cm. Energia de 6MV. No centro do campo radiativo. Na tabela 5.23 constam os valores de dose com os quais se pretendia construir a curva de calibração, e as doses efectivamente medidas, na coluna da direita. A determinação da dose exacta que cada película recebeu foi efectuada segundo o procedimento descrito no capítulo 4. Tabela 5.23 – Doses que constam da curva de calibração das películas. Dose cGy (pretendida) 0 20 40 60 Dose cGy (obtida) 0 19.6 39.3 59.8 87 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 80.2 99.9 120.4 141.1 160.6 181.0 200.8 221.5 241.8 261.4 282.0 As curvas de calibração que se apresentam nos próximos gráficos diferem na dimensão da ROI, pretendeu-se avaliar de que forma a curva é influênciada por esta variação. Cada ROI foi definidada no centro da imagem de cada película. Gráfico 5.28 - Curva de calibração Películas - ROI 5x5mm2. 300 y = 671,31x2 + 199,14x - 39,128 R² = 0,9998 Dose cGy 250 200 OD para Dose 150 Polinomial (OD para Dose) 100 50 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 OD 88 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Gráfico 5.29 - Curva de calibração Películas - ROI 20x20mm2. 300 y = 605,13x2 + 199,57x - 38,343 R² = 0,9998 Dose cGy 250 200 OD para Dose 150 100 Polinomial (OD para Dose) 50 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 OD Gráfico 5.30 - Curva de calibração Películas - ROI 50x50mm2. 300 y = 622,11x2 + 198,1x - 38,484 R² = 0,9998 Dose cGy 250 200 OD para Dose 150 100 Polinomial (OD para Dose) 50 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 OD Comparando os três gráficos anteriores, correspondentes a três ROIs de dimensões distintas, as diferenças são negligenciáveis. Contudo a posição da câmara de ionização é determinante na escolha da curva de calibração. Tendo em conta que a câmara de ionização que foi utilizada para a determinação da dose que cada película recebeu, estava colocada no centro do campo radiactivo, a ROI definida deverá estar restringida a esta região de modo a que a OD medida pelo OmniPro® IMRT corresponda o mais aproximadamente possível à região de leitura da câmara. Nesta base, a curva de calibração das películas utilizadas neste trabalho corresponde à menor ROI analisada, 5x5mm2 . 89 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 5.3 Comparação de distribuições de dose De forma a comparar a distribuição de dose calculada no sistema de planeamento Eclipse®, e a registada pelas películas radiocromáticas irradiadas foi utilizada a análise gama. Para esta comparação foi importada para o sistema de planeamento a TAC realizada ao fantoma de placas de água sólida e posteriormente simuladas duas irradiação distintas com duas configurações de MLC, identificadas como MLC1 e MLC2. A avaliação da distribuição de dose para cada irradiação foi realizada comparando planos de dose a diferentes profundidades com o objectivo de avaliar as variações da deposição de dose. A disposição das películas é ilustrada na próxima figura: 2cm 5cm 7cm Figura 5.9 – Setup de irradiação de películas colocadas a 3 profundidades. As condições de irradiação foram as seguintes DFS=95cm. Gantry: 0º. Colimador: 0º. Energia: 6MV. 5.3.1 Resultados e análise A comparação entre a distribuição de doses nos planos de análise foi realizada com o recurso ao programa OmniPro® IMRT. Este programa também utilizado na aplicação das curvas de calibração às imagens das películas, permite importar para o mesmo ambiente de trabalho o plano de dose exportado do TPS e o plano de dose referente à película em análise. 90 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Tendo ambos os planos de dose carregados, é de imediato apresentado um gráfico com as linhas de isodose de cada plano e em simultâneo uma outra janela onde é possível realizar diferentes comparações, entre as quais a análise gama. A apresentação de resultados é dividida em dois pontos correspondentes às duas configurações de MLC utilizadas. Para cada película é apresentada uma imagem com o formato indicado na tabela 5.24: Tabela 5.24 – Disposição das imagens de comparação de planos de dose. Imagem da Película Linhas isodoses no Eclipse® Mapa de dose da película no OmniPro® IMRT Mapa de dose do TPS no OmniPro® IMRT Linhas de isodose da película (linha) e do TPS (tracejado) no OmniPro® IMRT Análise Gama 5.3.1.1 Resultados MLC1 Plano de dose a 2cm de profundidade: 91 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.10 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 2cm. Plano de dose a 5cm de profundidade: 92 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.11 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 5cm. Plano de dose a 7cm de profundidade: 93 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.12 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC1 a 5cm. Tabela 5.25 – Comparação entre os planos de dose do MLC1. Profundidade TPS Dose máxima (cGy) Película Dose máxima (cGy) 2cm 5cm 7cm 233,37 201,21 180,48 278,30 246,54 224,85 Análise Gama Média % -0,14 -0,05 -0,02 5.3.1.2 Resultados MLC2 Plano de dose a 2cm de profundidade: 94 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica 99,41% 98,51 97,85 Dosimetria Fotográfica Figura 5.13 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 2cm. Plano de dose a 5cm de profundidade: 95 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.14 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 5cm. Plano de dose a 7cm de profundidade: 96 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Figura 5.15 – Comparação entre a distribuição de dose no TPS e na película para o MLC2 a 7cm. Tabela 5.26 – Comparação entre os planos de dose do MLC2. Profundidade TPS Película Análise Gama 97 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Dose máxima (cGy) Dose máxima (cGy) Média % 244,99 208,94 186,58 266,79 254,07 198,22 -0,27 -0,24 -0,21 98,3 98,17 98,07 2cm 5cm 7cm 5.3.1.3 – Análise dos Resultados Comparando os resultados obtidos em ambas as configurações de MLC, estes são semelhantes. Como seria de esperar a dose máxima registada diminui com a profundidade tanto nos planos referentes ao TPS como nas películas. Este efeito é devido à diminuição do número de partículas e da sua energia com a profundidade. Contudo a diferença dos valores de dose máxima entre o TPS e as películas é considerável, no MLC1 ronda os 45cGy para todas as profundidades, por seu lado no MLC2 a diferença não é tão constante para a profundidade de 2cm é de 21,8cGy, para 5cm é de 45,13 e por fim para 7cm é de 11,64. Contudo as regiões de maior dose registadas na película estão confinadas a pequenas regiões representadas na imagem comparativa das isodoses pela isodose dos 100%. Tendo estas regiões pequenas dimensões, é possível que tenham sido provocadas por artefactos nas imagens devido a imperfeições na película, partículas de pó ou a qualquer outro tipo de elemento estranho. Relativamente aos mapas de dose observa-se uma coincidência entre as películas e o TPS, confirmando-se a forma e dimensão do campo de irradiação assim como a coincidência das regiões de dose relativa. A coincidência relativa de dose é confirmada pelas linhas de isodose e quantificada pela análise gama. Verifica-se que para todas as películas o critério de validação da análise gama é verificado no mínimo em 98% da região de interesse considerada. O critério é aplicado como foi descrito no ponto 4.5 do capítulo dos materiais e métodos, considerando que um determinado pixel apenas passa na validação caso numa região de 3mm em volta deste exista um ponto com uma diferença de dose máxima de 3%. Não foi realizada uma análise gama em dose absoluta uma vez que após contacto com o departamento de dosimetria da IBA, mais propriamente com Markus Schweda, este comunicou por e-mail que o algoritmo usado no programa OmniPro® IMRT para a análise gama não suporta a avaliação em dose absoluta. 98 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Capítulo 6 – Conclusões e Perspectivas Futuras 99 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica 100 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica O trabalho desenvolvido nesta tese de mestrado, teve como objectivo a implementação de um sistema de dosimetria fotográfica no serviço de radioterapia do centro clínico do SAMS. Para tal estabeleceu-se um procedimento para o commissioning do sistema instalado, que visou conhecer melhor os recursos disponíveis nomeadamente o scanner Epson® Expression® 10000XL Photo com unidade de transparências, as películas Gafchromic® EBT e o programa de análise dosimétrica OmniPro® IMRT. Tendo em conta que a OD é a grandeza que define qual a dose que uma película recebeu, conhecer a OD máxima que o scanner instalado tem a capacidade de ler, foi um objectivo definido à partida e que teve resultados positivos. Estabeleceu-se que a OD máxima lida é igual ou superior a 3,73, garantindo-se desta forma a distinção de um conjunto bastante alargado de doses. Comparando com a recta de calibração OD para dose, verifica-se que a OD corresponden-te a 280cGy é inferior a 0,6, o que significa que o scanner tem a capacidade de ler películas com doses bastante elevadas. Por forma a obter digitalizações mais reprodutíveis foi estipulado um protocolo de digitalização que compreendia 5 digitalizações, para aquecimento da lâmpada, antes da aquisição da imagem e 10minutos de intervalo, nos quais o scanner se encontra desligado, antes de cada procedimento de aquisição de imagem. Cada película foi colocada no centro da mesa de digitalização, pois é nesta zona que o varrimento da lâmpada é mais homogéneo. Assim as imagens obtidas tiveram uma contribuição equivalente dos efeitos da digitalização, o que permite extrair de cada imagem informações possíveis de correlacionar. As rotinas criadas em MatLab® para a optimização das imagens não revelaram qualquer alteração significativa nestas, concluindo-se que não é necessária a sua inclusão no procedimento de avaliação dosimétrica. A aquisição do espectro de absorção das películas Gafchromic® EBT foi importante no sentido em que se constatou que estas películas absorvem mais intensamente na zona do vermelho. Resulta deste facto que é neste canal que se registaram as maiores variações de sinal entre diferentes níveis de OD, isto é, o canal vermelho é mais sensível às variações de dose. Com base nestes resultados todas as imagens terão de ser analisadas no canal do vermelho para uma melhor avaliação dosimétrica. Um factor que se provou ser determinante para a análise dosimétrica de películas e que está directamente relacionado com as características do scanner, é o efeito de dispersão da luz proveniente da lâmpada florescente. Este efeito foi comprovado pela avaliação de perfis em MatLab®, onde se verificou a diminuição do sinal nos extremos de uma película, assim como de perfis em dose através do programa OmniPro® IMRT onde se observou o aumento de dose nos extremos de campos quadrados, algo que não é real e que resulta da dispersão 101 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica luminosa. Como forma de anular este efeito é aplicada uma ferramenta do programa de análise dosimétrica denominada “Trento Method”. Esta revelou-se útil e imprescindível para uma correcta avaliação em dose de uma película. As características das películas Gafchromic® EBT foram também elas alvo de alguns testes que permitiram concluir relativamente ao modo de digitalização, à temporização de digitalização e à forma de construção da curva de calibração das películas. A orientação Landscape da película na mesa de digitalização, foi a que revelou menor interferência da estrutura polimérica das películas, sendo eleita como a orientação preferencial. Foi neste trabalho demonstrado que as películas Gafchromic® EBT possuem um enegrecimento progressivo após a irradiação, ditando desta forma o timing da digitalização. Da digitalização periódica de uma mesma película constatou-se que o enegrecimento evolui mais rapidamente nas duas primeiras horas após a irradiação, é menos significo entre a terceira e quarta hora e após esta ultima quase que estagna. Conclui-se com estes resultados que preferencialmente a película deverá ser digitalizada no mínimo quatro horas após a irradiação. Contudo tendo em conta aplicabilidade da dosimetria fotográfica na rotina do serviço de radioterapia poderão ser consideradas apenas duas horas de intervalo entre a irradiação e o processo de digitalização. Uma propriedade importante das películas utilizadas, que influencia a construção da recta de calibração OD para Dose, é a sua independência energética. Esta comprovação significa que para a mesma dose administrada com qualquer energia de fotões ou electrões a OD da película é a mesma. Este facto possibilita a análises de planos de dose resultados de irradiações com diferentes energias com a mesma recta de calibração. Conhecidas as características do sistema de dosimetria fotográfica foi possível estipular uma metodologia a aplicar na rotina do serviço. Na figura 6.1 é ilustrado o workflow utilizado: 102 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Irradiação de Películas TPS - Planimetria Sistema de Análise Dosimétrica Imagens DICOM Digitalização Imagens .tiff Rectas de Calibração Análise Gama Figura 6.1 – Workflow do sistema de dosimetria fotográfica. De forma a validar o workflow, foram criados no TPS Eclipse® duas configurações de MLC distintas, que posteriormente foram utilizadas na irradiação de 6 películas. Com recurso à análise gama foi possível comparar planos de dose relativos ao cálculo do TPS e imagens de películas irradiadas. Os resultados foram bastante satisfatórios no que diz respeito à avaliação em dose relativa, com uma percentagem de coincidência acima dos 98%. Contudo os objectivos não foram totalmente atingidos uma vez que não foi possível fazer a comparação entre planos com base em dose absoluta. Esta impossibilidade ficou-se a dever a limitações do programa OmniPro® IMRT. Uma hipótese de validar em dose absoluta a metodologia adoptada passaria pela aquisição de outro programa de análise dosimétrica. Pode-se considerar então que o sistema de dosimetria fotográfica do serviço de radioterapia do SAMS está preparado para análises dosimétricas relativas, em diferentes tipos de técnicas, desde a radioterapia conformacional até técnicas especiais como o IMRT, o IMAT ou a estereotaxia. 103 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Todas estas técnicas exigem controlos de qualidade bastante exigentes, incluindo avaliação de dose a 2D. A dosimetria fotográfica é até à data a única técnica que possibilita aquisição de planos de dose sem restrições de angulações de gantry ou conformações de MLC. Por fim há a reter que a dosimetria fotográfica é uma técnica bastante dependente do utilizador, no sentido em que o manuseamento das películas, o setup de irradiação escolhido, o modo de digitalização utilizado tal como o procedimento de calibração do sistema são variáveis que influência determinantemente os resultados da análise dosimetrica. 104 Pedro Carreira Dissertação da Tese de Mestrado em Engenharia Biomédica Dosimetria Fotográfica Bibliografia 1. Radiochromic film dosimetry: Recommendations of AAPM Radiation Therapy Committee Task Group 55. Chair, Azam N. et al. s.l. : Medical Physics, 1998, Vols. 25 - 2093:2115. 2. TG 69 : Radiographic film for megavoltege beam dosimetry. Pai, S. s.l. : Medical Physics, 2007, Vols. 34 - 2228:2258. 3. Rachinhas, Paulo. Dosimetria 2D usando filme Gafchromic EBT. s.l. : Serviço de Radioterapia dos Hospitais da Universidade de Coimbra, 2009. 4. Bartels, Anja. 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