Artigo - Sustentabilidade
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Empreendedor brasileiro: da necessidade e esperança à realidade de
mercado
Christian Luiz da Silva (*)
Em um estudo realizado pelo IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade), abordando a taxa de
atividade empreendedora em 29 países, o Brasil apareceu em quinto lugar. Ainda de acordo com a pesquisa, 40%
dos brasileiros ouvidos se dizem empreendedores por necessidade, o que coloca o empreendedorismo vinculado à
sobrevivência e à crença de que o negócio dará certo. Porém, passar de des/empregado a empreendedor exige
mais do que crenças e esperanças. Um levantamento do BNDES, realizado em 1997, porém ainda válido para
interpretar a realidade brasileira, mostrou que naquele ano havia 1.968.276 estabelecimentos no Brasil. Dentro
desse número está incluso o saldo da natalidade (565.671) e mortalidade (441.783) das firmas para aquele ano.
Há vontade de empreender; entretanto, não se sabe como. Busca-se uma solução fundamentada na esperança de
`dar a tacada certa`. No entanto, a economia não é um jogo irracional em que esperanças e crenças por si só
garantem a vitória, ou melhor, a sobrevivência. Então, o que fazer se não há emprego para todos, se grande
parte da economia brasileira acontece informalmente e se precisamos e desejamos sobreviver e crescer?
Não há uma regra, ou uma receita de bolo, mas os princípios econômicos podem ajudar bastante nessa
empreitada. Tais princípios podem ser utilizados para tratar de duas questões fundamentais que estão vinculadas
ao sucesso da firma: conhecimento e empreendedorismo.
Ser empreendedor é executar um idéia fundamentada em conhecimentos. Para isso precisa-se, também, do que
se denomina popularmente de `tino comercial`. Deve se conhecer bem, antes de mais nada, o produto ou serviço
que se está oferecendo. Depois, estudar as alternativas para melhor aproveitar os recursos de se que dispõe, os
custos envolvidos nas atividades da empresa e o preço do produto no mercado. Além disso, pesquisar o valor de
oportunidade, ou a remuneração pelo tempo de dedicação ao negócio, que pode ser mensurado por aquilo de que
você está abrindo mão para estar ali trabalhando. Este tipo de análise permite que se avalie o quanto vale sua
dedicação, os esforços despendidos, e se o rumo tomado, ou a sua estratégia, está correta.
Além de conhecer a própria empresa, o empreendedor deve conhecer bem o mercado em que atuará. O mercado
é formado pela oferta, concorrentes, demanda e clientes. Deve se avaliar quem vende similares ou idênticos, que
possam ser considerados substitutos, e quem vende produtos que possam ser considerados complementares. Os
fabricantes de produtos similares ou idênticos são os seus concorrentes, e os de produtos complementares podem
ser seus futuros aliados. Aprender sobre a ação dos concorrentes, qual tipo de pessoas buscam atender, de qual
região, qual sua estratégia, são algumas observações e análises importantes.
Observar a demanda é fundamental. Teoricamente é mais fácil os consumidores conhecerem o produto a ser
vendido do que terem seus desejos compreendidos pelos vendedores. O estudo da demanda envolve a análise
dos fatores subjetivos que levam o público a comprar um determinado bem ou serviço. A esse respeito, algumas
considerações práticas podem ser feitas. Por exemplo: qual região sua firma pretende atender? Nesta região, qual
é a renda média dos indivíduos? Quanto de sua renda dedicam ou tem capacidade de dedicar à compra do
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campo, essenciais para compreender o potencial do seu público-alvo.
Essas considerações ajudam o empreendedor a fazer um planejamento adequado. Muitas crenças e esperanças
podem ajudar, mas não garantem o crescimento e a sobrevivência de uma firma em um momento tão
competitivo como o atual. Conhecer a sua empresa (custos, preços e valor do produto), o mercado (oferta e
demanda), e definir uma estratégia (saber aonde quer chegar e como pretende fazê-lo) são questões ensinadas
há mais de dois séculos pelo pensamento econômico, mas pouco praticadas. Quando os empreendedores
brasileiros se familiarizarem com elas, o país tenderá a reduzir a taxa de mortalidade de suas empresas.
(*) Professor de Economia da FAE Business School.
Fonte: Jornal Gazeta Mercantil - Acessado em 24/4/2002
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