ENTREVISTA ‘A universidade tem que ser reivindicadora e democrática’ idéias. Essa eleição vai ao encontro da essência da universidade, que tem que ser reivindicadora e democrática. Em poucas palavras, o reitor não tem que ser escolhido, e sim eleito pela maioria. DILMARA MENDONÇA Em entrevista ao Primeira Página, o novo reitor da Univás, o professor e médico Virgínio Cândido Tosta Souza, 68, afirma que o papel da universidade e dos universitários é reivindicar e propor alternativas para o desenvolvimento científico e social onde está instalada. Casado e pai de quatro filhos, “Dr. Virgínio”, como é conhecido entre alunos e pacientes, afirmou que em uma universidade que se pretende democrática o reitor não pode ser escolhido, e sim eleito pela maioria dos que compõem a comunidade acadêmica. O senhor é um médico, um pesquisador, mas que crê em Deus, atributos incomuns numa mesma pessoa. Como o senhor separa a ciência e religião? Eu não separo, elas se casam. A religião sem ciência é fundamentalista, e a ciência sem religião é cega. Por exemplo: seria a mesma coisa de um cego carregando uma tocha em busca de um caminho, e isso não faz sentido. Primeira Página: Qual o conceito de universidade para o senhor? Dr. Virgínio: A universidade é uma instituição milenar. Hoje ela tem a missão de formar pessoas comprometidas com a sociedade e que conservem a capacidade profissional e o exercício pleno da cidadania, os direitos e deveres de cada cidadão. Qual é o papel da universidade hoje no Brasil? A universidade é a maior propulsora do desenvolvimento social e econômico do país onde ela está inserida. Qual é a importância da Univás para o Sul de Minas e, enquanto reitor, como o sr. vê a Univás no futuro? A Univás tem como função não só formar profissionais que impulsionem o desenvolvimento cientifico e tecnológico da região, como também tem o papel de criar uma elite cultural que atuará nos grandes acontecimentos culturais, políticos e socioeconômicos de Pouso Alegre e na região Sul de Minas. Hoje, nós temos que pensar na universidade de amanhã, de criar profissionais com maior flexibilidade para no futuro acompanhar os grandes avanços tecnológicos e científicos de uma sociedade globalizada. 4 Por que o senhor escolheu o mês de maio para tomar posse? Foi uma forma de homenagear Nossa Senhora, ela que teve uma história anônima dentro da Bíblia. Ela foi uma pessoa que realizou muitos milagres anonimamente. Tenho muita devoção por Nossa Senhora, ela tem muita importância na minha vida e eu nunca pude retribuir isso. Senti que esse era o momento de homenageá-la. O NOVO REITOR: VIRGÍNIO CÂNDIDO TOSTA SOUZA A educação ainda é o melhor caminho para o desenvolvimento? Sem dúvida nenhuma as pessoas são a maior beleza de uma universidade. Nós só chegaremos a país desenvolvido quando o governo priorizar a educação como a maior riqueza oferecida pelo país, de maneira universalizada, que atinja o rico e o pobre de forma igual. Formação: Doutor em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo Unifesp Um livro: A Bíblia - O Novo Testamento Um autor: Guimarães Rosa Um ídolo: Jesus Cristo Um cantor: Milton Nascimento Um Filme: O Último Samurai Um programa de TV: Roda Viva Uma comida: Peixe grelhado acompanhado de vinho branco seco Um sonho para a Univás? Ver a Univás adquirir um padrão de qualidade acadêmica no âmbito nacional e internacional. Qual é o papel do acadêmico dentro da universidade? Além da dedicação, do aprimoramento, do conhecimento científico, o aluno deve buscar uma formação humanística, atuando junto aos seus colegas e diretórios nas reivindicações básicas para sua formação acadêmica e de futuro cidadão. Como o sr. vê sua eleição para ocupar o cargo de primeiro reitor eleito na Univás? Essa é uma experiência ímpar na história da nossa instituição. A minha gestão estará comprometida com as reivindicações dos docentes, alunos e funcionários, visando uma administração que irá compartilhar de grandes Como melhorar o acesso às universidades hoje no Brasil? Através de um ensino fundamental e médio público de boa qualidade, que possa dar suporte para o aluno cursar uma universidade federal sem o apoio de cotas para negros ou para alunos de baixa renda. Não que eles não mereçam, mas esse não é o melhor caminho. A perseverança do aluno é mais importante que a inteligência. PRIMEIRA PÁGINA, Abril de 2006