TECNOLOGIA RFID APLICADA A LOGISTICA DE
MERCHANDISING
José Eugenio Leal
Gerson Araujo Diaz
TECNOLOGIA RFID APLICADA A LOGISTICA DE MERCHANDISING
Isabel de Lira Miranda
José Eugenio Leal
Gerson Emilio Araujo Diaz
PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Departamento de Engenharia Industrial
RESUMO
As empresas têm claro que a logística incorpora novas tecnologias em procura de melhorar a produtividade e
fazer mais eficientes os processos da cadeia de suprimentos. Esta motivação leva diversas empresas a investirem
em inovação procurando novos modelos de negócios e estratégias, como por exemplo, a perspectiva de uma
mudança na gestão da cadeia de suprimentos através da adoção da tecnologia RFID ou identificação por
radiofrequência. Neste contexto uma empresa brasileira de cigarros olha para o RFID como a ferramenta
tecnológica para gerenciar seus artigos de publicidade ou merchandising. Por ser o RFID uma tecnologia que
fornece automatização e acurácia de informação na tomada de dados, espera-se otimizar as operações envolvidas
nos processos da logística de merchandising. Este trabalho apresenta um projeto piloto que avalia a viabilidade
técnica da aplicação do RFID à gestão de merchandising de uma empresa de cigarros.
ABSTRACT
Companies are aware that logistics incorporates new technologies in the searching for productivity improvement
and more efficient processes in the supply chain. This concept leads many firms to invest in innovation looking
for new business models and strategies. For example, the prospect of change in the supply chain management
through the adoption of RFID technology or radio frequency identification. In this way, a Brazilian cigarette
company looks at RFID technology as a new tool to manage its advertising and merchandising items.
Considering that RFID provides automation and information accuracy in data collection, it is hoped to optimize
the operations involved in the processes of merchandising logistics. This work presents a case study which
assesses the technical feasibility of the application the RFID technology in order to manage the merchandising
items of a Brazilian cigarette company.
Palavras chaves: Logística, SCM, Marketing, Merchandising, RFID.
1. INTRODUÇÃO
O mundo globalizado e concorrente de hoje precisa de instituições dotadas de uma logística
eficaz e eficiente, no sentido de prover materiais ou serviços corretos, em locais e tempo
corretos, e nas quantidades necessárias. Neste sentido, a estratégia por parte das empresas de
privilegiar a coordenação dos fluxos de materiais e informações ao longo das cadeias de
suprimentos em consonância com novas tecnologias têm enorme relevância. Tecnologias úteis
têm despontado, destacando-se a Captura Automática de Dados (ADC) que é um dos meios
mais rápidos, seguros e confiáveis de alimentar um sistema com informações. Um exemplo
bastante conhecido de ADC é o código de barras, mas agora mais consolidada no campo da
ADC é a tecnologia RFID ou identificação por radiofrequência, tecnologia baseada em ondas
de rádio para intercâmbio de dados. Assim, Lee e Ozer (2007) ressaltam a característica do
RFID de fornecer informações dos produtos em tempo real aos participantes da cadeia de
suprimento. Característica que motiva grandes empresas de diversos setores, como Wal-Mart
e Johnson Controls nos Estados Unidos a investir nesta tecnologia (ROH et al., 2009).
Para o presente caso de estudo, uma empresa brasileira de cigarros apresenta a tecnologia
RFID como uma ferramenta tecnológica para gerir elementos de publicidade ou
merchandising no formato de projeto piloto. Esta inovação procura através do RFID uma
maior acurácia da leitura de dados para otimizar as operações dos processos logísticos
correspondentes à área de merchandising. O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade
técnica do uso da tecnologia RFID na logística de merchandising. Primeiro se faz uma revisão
bibliográfica para descrever conceitos relacionados à logística, marketing, merchandising e
RFID. Logo se faz um diagnóstico preliminar da área de logística de merchandising da
empresa; apresenta-se a situação atual e principais problemas desta área, e potencias
benefícios que RFID pode trazer. Em seguida com uma análise técnica demonstra-se a
viabilidade do uso da tecnologia para finalmente estabelecer as conclusões deste estudo.
2. CONCEITOS: LOGÍSTICA, MARKETING, MERCHANDISING E RFID
2.1 Logística, gestão da cadeia de suprimentos (SCM), Marketing e Merchandising
Segundo CSCMP (2008) a logística é a parte dos processos da cadeia de suprimentos que
planeja, executa e controla o fluxo normal e reverso de materiais e serviços, além de relatar
informações desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender os
requisitos dos clientes. Esta definição implica que a logística seja parte dos processos da
cadeia de suprimentos, então é preciso saber o que é gestão da cadeia de suprimentos.
Lambert e Cooper (2000) expressam que a SCM é a integração dos processos chaves de um
negócio tendo como partida o usuário final até os fornecedores primários, incluindo serviços e
informações, que tenham como propósito adicionar valor ao cliente e outros envolvidos. Lee e
Ozer (2007) adicionam que a SCM procura minimizar custos, eliminar gargalos nos processos
logísticos e melhorar tempos de resposta ao consumidor. Assim, Gunasekarana et al. (2008)
ressalta que uma eficiente SCM implica um intercâmbio fluido de informação e produtos
entre os participantes da cadeia de suprimentos. Identificado o intercâmbio de informação
entre participantes da cadeia de suprimentos como elemento chave para uma gestão com
sucesso, os sistemas de identificação de produtos e coletores de dados (códigos de barras,
RFID e outros) cobram grande relevância no âmbito empresarial (CORREA et al., 2010).
Para Ballou (2006) a SCM capta a essência da logística integrada destacando as interações
logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção em uma empresa.
Olhando para o marketing, esta palavra significa mais do que vendas e propagandas. De
acordo com Pride e Ferrel (2012), Marketing é o processo de criar, distribuir, promover e
estabelecer preços de produtos e serviços para facilitar trocas satisfatórias com os clientes e
manter relações favoráveis com as partes interessadas. Pinho (2001) adiciona que o objetivo
do marketing é conquistar e manter clientes ressaltando a importância do trade marketing
(fazer marketing nos pontos de venda) através do merchandising, já que grande parte das
decisões de compra são tomadas nos pontos de venda. Chegando ao merchandising, Salém
(1994) o define como as técnicas de atração ao cliente no ponto de venda mediante a
exposição do produto, de material de comunicação, ações promocionais e serviços
diferenciados. Para nosso caso de estudo, a aplicação da tecnologia RFID acontecerá na
logística de merchandising que é parte da área de Marketing da empresa. Além de entender
por merchandising todo material utilizado nos pontos de venda para comunicar atributos do
produto ao consumidor, a logística de merchandising é responsável pela operação de
armazenagem, manuseio, distribuição, movimentação e instalação destes materiais.
2.2 Identificação por radio frequência: RFID
De acordo com Dobkin (2007) o RFID é uma tecnologia que usa ondas de radio para
identificar produtos de forma automática e em tempo real. O autor explica que leitoras
estrategicamente posicionadas lêem etiquetas de produtos que estiveram ao seu alcance
registrando o código dos produtos, para posteriormente um software (middleware) processar
os dados e enviá-los aos sistemas de informação. Um sistema básico de RFID é composto de
hardware e software, hardware conformado por etiquetas (chip de silício mais uma antena
pequena), leitoras e antenas. E o software ou middleware para traduzir os dados capturados e
proporcioná-los aos sistemas de informação das empresas. Stewart (2005) ressalta este ponto
indicando que o uso do RFID é maximizado sempre que esteja integrado aos sistemas de
informação ou gestão como CPFR (gestão de previsões), ERP (gestão de produção), WMS
(gestão de armazéns), TMS (gestão de transporte) entre outros.
2.2.1 Tipos de sistemas RFID
Dobkin (2007) indica que os sistemas RFID distinguem-se pela frequência de onda de radio
usada pela etiqueta e leitor, pelo meio usado para dar energia às etiquetas e pelos protocolos
de comunicação usados entre etiqueta e leitor. Estas distinções influenciam no raio de ação,
custo e características disponíveis de um sistema RFID. Em relação às frequências de onda de
radio, Ward e Van Kranenburg (2006) separam os sistemas RFID em: LF (125 – 134 KHz),
HF (13.56 MHz) e UHF (860 – 960 MHz / 2.4 GHz – 2.5 GHz). Com respeito à autonomia
energética das etiquetas, Weis (2003) as classifica em: etiqueta passiva porque não tem fonte
independente de energia, etiqueta semi-passiva porque contém bateria como fonte de energia
e etiqueta ativa porque possui bateria e transmissor. E os protocolos de comunicação para o
qual Wu et al. (2005) ressalta as normas ISO e o padrão EPC como fundamentais para o
desenvolvimento comercial do RFID. Os autores indicam que as normas ISO tentam
padronizar a interoperabilidade dos elementos de um sistema RFID, e o código EPC (capaz de
identificar fabricante, categoria do produto e item individualmente) procura definir um
esquema de identificação individual aceito no mundo inteiro através da rede EPC global.
É importante ressaltar outras características dos sistemas RFID que influenciam nos custos
dos sistemas. Weis (2003) explica que o chip de silício das etiquetas é um circuito integrado
com memória e dependendo do tipo de memória as etiquetas podem classificar-se em: Read
Only (gravação na fabricação e infinitas leituras), Write Once/Read Many (gravação depois
da fabricação e infinitas leituras) e Read/Write (permite muitas gravações e muitas leituras).
Stewart (2005) comenta que as etiquetas passivas são de menos alcance do que as outras, mas
muito econômicas (US$0,30 a 0,45) e por tanto são consideradas a primeira opção por muitas
empresas. O autor também indica que as etiquetas semi-passivas e ativas conseguem maior
cobertura, mas precisam de monitoramento do nível da bateria. Além disso, as etiquetas ativas
são utilizadas em soluções RFID mais complexas (condições ambientais complicadas ou
bastante informação para armazenar) o que se traduz em maior custo. Com respeito às
leitoras, elementos encarregados de obter a informação das etiquetas associadas aos objetos,
estas podem distinguir-se pela mobilidade e pela interface de comunicação à rede de dados
(BOLIC et al., 2010). Pela mobilidade, as leitoras podem ser classificadas em fixas
(localizadas em posições fixas), portáteis (para tarefas móveis) e embutidas (acoplados em
outros equipamentos, por exemplo, um GPS com GSM e leitor RFID). E pela interface de
comunicação à rede de dados distinguem-se leitoras que usam interface serial, USB, ethernet
e interfaces sem fio como Wi-Fi e Bluetooth. Em geral as principais especificações
consideradas na escolha de um leitor RFID são: frequência, protocolos suportados, potência
de transmissão, número de antenas para acoplar, software e liberdade de atualizações.
Chawathe (2004) resume as combinações das diferentes características das etiquetas (tipo de
memória, fonte de energia e capacidade de processamento) e apresenta as etiquetas em uma
hierarquia com cinco classes conforme se indica-se na figura 1.
Figure 1: Classificação das etiquetas RFID
Fonte: (Chawathe, 2004)
2.2.2 Vantagens RFID e potenciais benefícios para as cadeias de suprimentos
Principais vantagens da tecnologia RFID como identificação sem contato nem visão direta do
produto (identificação automática, rápida, precisa e confiável) e etiquetas com capacidade de
armazenamento e leitura simultânea, podem auferir inúmeros benefícios tangíveis ou
intangíveis na cadeia de suprimentos (ROH et al., 2009). Sari (2010) ressalta que o RFID
proporcionará automatização e acurácia de dados a diversas tarefas logísticas, permitindo a
visibilidade e rastreamento dos produtos ao longo da cadeia. Características que definem a
capacidade das empresas no controle de fluxo de mercadorias e da informação em tempo real.
2.2.3 Aplicações, perspectivas e desafios da tecnologia RFID
A tecnologia RFID não é a única solução de captura automática de dados, mas quando se fala
de automatização e acurácia na captura de dados, RFID desperta o interesse da maioria dos
setores. Interesse que Sari (2010) comenta através dos exemplos do uso do RFID pelos
varejistas: Wal-Mart, Tesco, Albertson, e pelos principais fornecedores destes grandes do
varejo. Confirmando deste modo que o RFID provê uma melhor rastreabilidade, visibilidade e
compartilhamento de informação de ativos entre parceiros através da cadeia de suprimentos.
Mas também Dobkin (2007) sugere que cada aplicação exige diferentes requerimentos e por
tanto um sistema RFID deve ser customizado para um ambiente e aplicação específica. Em
geral, a tecnologia de RFID não pretende substituir o código de barras em todas as aplicações,
mas auxiliar em aplicações onde outras tecnologias de identificação não atendam às
necessidades. Cada tecnologia de identificação têm suas vantagens e o que se precisa é saber
aproveitar o melhor de cada tecnologia para montar uma solução ideal. A expectativa é que
RFID se torne a principal tecnologia para rastreamento de produtos, mas as organizações que
se propuserem adotar RFID deverão considerar seus benefícios e seus desafios, ao invés de
simplesmente seguir os passos dos concorrentes.
Olhando para frente Dobkin (2007) comenta o termo “internet das coisas” referindo-se a uma
infraestrutura de rede global onde os objetos com identificação única estão conectados a uma
rede global como é a internet. Para atingir esta ideia, o RFID aponta como um dos pilares para
suportar a conexão entre objetos e as redes de informação. Mas ainda existem desafios que
precisam ser superados para que uma adoção em larga escala desta tecnologia se concretize.
Por exemplo, o preço das etiquetas RFID em relação com as etiquetas de código de barras é
um dos principais obstáculos (STEWART, 2005). O autor indica que o preço da etiqueta
passiva varia entre quinze centavos (US$ 0.15) e um dólar (US$ 1.0) dependendo da
complexidade. Segundo Weis (2003) as etiquetas necessitam custar abaixo de cinco centavos
de dólar (US$ 0,05) para alcançar significativa penetração no uso de itens de consumo
massivo. O autor também indica que o uso de etiquetas de baixo custo (passivas) nem sempre
é possível, sendo necessária a adoção de outros tipos de etiquetas que elevaria o custo final da
aplicação. Em geral os desafios se concentram nas aplicações, sendo que para determinados
usos a tecnologia está razoavelmente consolidada, enquanto que para outros ainda deve ser
ajustada. E finalmente Wu et al. (2005) ressalta a necessidade de um padrão único que brinde
interoperabilidade de etiquetas e leitoras de diferentes fabricantes, situação que incrementaria
a demanda dos elementos RFID, trazendo redução dos preços destes sistemas.
3. DIAGNÓSTICO DA LOGÍSTICA DE MERCHANDISING DA EMPRESA
Segundo material interno, a empresa brasileira do caso de estudo é uma empresa líder no
mercado nacional de cigarros com 60,1% de participação e representa um dos cinco maiores
grupos empresariais do Brasil. O negócio da companhia está focado na venda de cigarros e na
exportação de fumo. Para isto a empresa possui 4 usinas de processamento de fumo e 2
fábricas com capacidade instalada de 130 bilhões de cigarros por ano. Esta companhia atua
em todo o ciclo do produto, desde a produção e processamento de fumo até a fabricação e
distribuição de cigarros, atendendo diretamente mais de 260 mil pontos de vendas. Para tal
objetivo a estrutura logística da empresa para a distribuição do cigarro no Brasil conta com 5
Centrais Integradas de distribuição (CIDs), 24 Centros Operacionais de Distribuição (CODs)
e 92 Postos de Abastecimento (PAs). A Companhia realiza o abastecimento dos pontos de
venda a nível nacional através de aproximadamente 2500 funcionários que são vendedores
com algum veículo motorizado. Além de vender e entregar os pedidos, o vendedor deve estar
atento à comunicação e à exposição dos produtos no ponto de venda.
Devido a legislação brasileira que impede que as empresas de cigarros utilizem mídias da
massa para fazer propaganda de seus produtos, além de outras inúmeras restrições, o
merchandising (pôsteres, painéis e cartazes) é a principal forma de comunicação dos produtos
destas empresas nos pontos de venda. A Companhia em estudo entende o merchandising
como a coordenação de recursos para exibição de produtos e materiais para comunicar-se com
os consumidores, atrair a sua atenção e estimular um comportamento de compra. Neste
contexto, a fim de orientar os investimentos em merchandising, os varejos são classificados
(por volume de vendas, tipo de varejo, localização) para adotar ações específicas de acordo
com os diferentes tipos de clientes. Dentro destas ações ressalta a segmentação das peças e
materiais de comunicação para visar o maior impacto sobre o consumidor presente em cada
tipo de ponto de venda. As peças podem se classificar em vendedoras (ativo com as funções
de armazenar, mostrar e vender o produto) e de comunicação (ativo com as funções de
armazenar e mostrar o produto). E os materiais de comunicação podem se classificar em
primários (material publicitário encaixado nas peças vendedoras) e secundários (material
publicitário localizado em pontos estratégicos dentro do varejo). Em geral, tanto as peças
como os materiais de comunicação são trocados constantemente em função das ações
estratégicas da área de merchandising. Portanto, a área de merchandising é responsável pela
política de alocação e troca de peças vendedoras – desenvolvimento, alocação e troca de
matérias de comunicação - desenvolvimento e execução do plano de publicidade de marcas e
monitoramento da efetividade destas ações.
Assim surgiu a área de Logística de Merchandising para aplicar as competências logísticas na
operação da movimentação de todo material de comunicação, além de gerir o estoque,
retorno, manutenção, criação, eliminação e censo destes materiais. As peças e os materiais de
comunicação são armazenados em um depósito central e são movimentados aos pontos de
venda utilizando a logística do cigarro, é dizer, seguindo a estrutura logística da empresa para
a distribuição do cigarro. Assim os vendedores e pessoal auxiliar de merchandising são os
responsáveis pela troca de peças e materiais de comunicação no varejo. Cada item do
merchandising tem uma identificação que indica a classificação do elemento assim como
marca, modelo, tamanho, marca apoiada e varejo associado. Esta informação quantitativa e
qualitativa referente ao merchandising é administrada pelo pessoal técnico de informação de
merchandising através de um sistema informático. Assim, a área de Logística de
Merchandising gera relatórios com as informações recebidas e compiladas em indicadores que
envia para as áreas de interesse. Portanto surge a necessidade na área de merchandising de
dispor de informação confiável para a tomada de decisões a todo nível da empresa. Neste
contexto, uma das tarefas de maior relevância é o censo de merchandising que é o processo de
coleta de dados qualitativos (tipo de elemento e localização) e quantitativos (quantidade)
sobre as peças e os materiais de comunicação da empresa nos pontos de venda. As áreas de
Tecnologia da Informação e Logística de Merchandising realizam o censo uma vez ao ano
através dos vendedores, os quais são treinados sobre o tipo de informação a cadastrar no
terminal portátil de venda (TPV). Com uma duração aproximada de um mês, quando o censo
acabar, as áreas envolvidas realizam uma avaliação da informação obtida (quality assurance).
Esta avaliação consiste em definir um número de varejos a serem visitados pelos auxiliares de
merchandising para confirmar ou corrigir as informações do censo. Ainda que o auxiliar de
merchandising seja o mais indicado para realizar o censo desde o início, ele só participa da
etapa do quality assurance, já que a estrutura deste recurso é muito menor do que a estrutura
do vendedor. Como resultado desta avaliação, a área de Logística de Merchandising identifica
divergências entre as informações existentes sobre os materiais de merchandising e o que
existe realmente no campo. Esta falta de acurácia no cadastro de peças e material de
comunicação em campo revela o inadequado modelo de monitoramento do merchandising por
parte da empresa. Além disso, as imprecisões no inventário na área de merchandising
implicam diversos problemas como: lotes de compra de merchandising com um adicional de
incerteza de 30% aproximadamente, não reaproveitamento de itens, elevado número de
estoque e sub-aproveitamento do potencial de comunicação. Por tanto é indispensável corrigir
o mecanismo de desenvolver o censo, pois representa um processo extremamente lento e com
alto grau de imprecisão, precisando de muitas correções ou visitas especiais que geram um
custo extra para a empresa de R$ 1.530.000,00 aproximadamente.
3.1
OPORTUNIDADES E BENEFÍCIOS QUE RFID PROPORCIONARÁ
A companhia identificou a oportunidade da aplicação da tecnologia RFID na gestão dos
materiais de merchandising no ponto de venda visando acuracidade no cadastro dos materiais
de merchandising. Com informação confiável será possível dispor de um registro constante de
dados atualizados (censo) sem dedicar recursos e tempo exclusivos a essa tarefa. Dados
corretos permitirão comprar materiais de comunicação de forma correta, monitorar e
acompanhar as ações de marketing com base em estratégias de ciclos dinâmicos (publicidade
ágil e temporal) e mensurar a atividade publicitária (já que será possível validar o período da
publicidade com o volume de vendas). Em resumo, resultará em uma melhor utilização da
estrutura própria da empresa em tarefas relacionadas aos materiais de comunicação.
Importante acrescentar que a adoção do RFID em Merchandising é o primeiro contato com
esta tecnologia nesta empresa, o que pode desenvolver conhecimento para futuras soluções
em diferentes áreas da companhia.
4. PROJETO PILOTO E AVALIAÇÃO TÉCNICA
O projeto piloto visa desenvolver a metodologia da utilização da tecnologia RFID para a
identificação precisa de peças e materiais de comunicação instalados nos varejos. O espaço
amostral escolhido para este projeto foram três zonas de vendas no Estado de São Paulo,
totalizando 370 varejos. A parte técnica do projeto piloto foi desenvolvida pela empresa
Acura quem utilizou um sistema RFID baseado em etiquetas Acura UHF SD-LB (etiquetas de
902 a 908 MHz, com papel adesivo, temperatura de trabalho entre -10 e +60 °C, peso de 0,7
g, norma ISO 18000-6C e EPC global), coletores de dados Workabout Pro da Acura
(praticamente um computador portátil que apresenta resistência e ergonomia para o uso móvel
em ambientes hostis, processador de 400mhz Xscale PXA255, 64 MB de memória ROM, 128
de memória RAM, bateria de alta capacidade de 3000 mAh, display colorido com tela
sensível ao toque, interface Bluetooth, leitor de RFID com antena interna integrada e sistema
operacional Windows mobile 5.0) e um software customizado desenvolvido pelas duas
empresas. Importante indicar que para o hardware foram adotados padrões e protocolos
abertos, frequência UHF dentro das normas internacionais e etiquetas com capacidade de
memória para armazenar maior informação da requerida.
Cada item do merchandising se associou a uma etiqueta RFID que contém a informação
padronizada do produto e localização, informação que fica armazenada numa base de dados
da empresa. Assim, no caso de uma nova instalação ou troca de material de comunicação, o
material já inclui a etiqueta RFID com sua informação padronizada. Na execução do projeto,
os vendedores (com um terminal portátil de vendas e um coletor de dados) além de suas
atividades regulares nos pontos de venda faziam as leituras das etiquetas dos materiais de
comunicação que depois descarregavam periodicamente ao sistema da empresa. O objetivo do
projeto piloto foi testar o desempenho técnico das etiquetas e coletores no campo, e avaliar o
impacto de tempo e dificuldade desta nova atividade na função do vendedor. Com respeito ao
desempenho técnico do sistema RFID, os focos de avaliação foram a capacidade de leitura ou
distância necessária para a leitura das etiquetas, acurácia dos dados capturados e ajustes no
dimensionamento do hardware. Entanto para o modelo atual de negócio, o foco de análise foi
o impacto na produtividade do vendedor ou o tempo médio gasto na leitura por etiqueta.
Depois de três meses de acompanhamento ao projeto, a inclusão desta tecnologia oferece uma
melhora de 90% na acuracidade da base de dados dos itens de merchandising e pontos de
venda. Com respeito à parte técnica, o raio de cobertura do coletor é de 2 metros. Portanto, ao
estar o vendedor dentro dessa cobertura, a coleta de dados da etiqueta é automática. Pelo fato
do coletor executar várias leituras em simultâneo e os materiais de comunicação ficarem
numa mesma zona no ponto de venda, o vendedor precisa em média de 30 segundos para
realizar esta tarefa. Portanto, a leitura das etiquetas RFID não prejudica em nada o escopo do
trabalho do vendedor. Com respeito aos detalhes técnicos restantes, é importante indicar que o
fato do coletor ser portátil e possuir um painel de fácil visualização, foi positivo na interação
com o vendedor. As etiquetas precisaram de um adesivo plástico adicional para uma fixação
durável. O raio de cobertura do sistema apresenta uma média de 2 metros devido ao uso de
etiquetas passivas que são as de menor preço, mas suficiente para o escopo desta tarefa.
Finalmente, a bateria dos coletores deve ficar em um nível superior a 40% da sua capacidade
de carga para um correto funcionamento. Diante este análise considera-se viável tecnicamente
a implantação da tecnologia RFID na logística de merchandising da empresa em estudo.
Tomando conta da parte financeira não é possível apresentar valores, pois é um assunto
confidencial da empresa. Entretanto, a acurácia da base de dados dos itens de merchandising e
pontos de vendas eliminará tarefas específicas e custosas como os censos anuais de
merchandising. De igual forma otimizará os investimentos nas ações estratégicas de
merchandising (compra, manutenção e eliminação de peças e material de comunicação)
gerando assim uma economia ou ganho financeiro para a companhia. Além disso, com a
implantação da tecnologia RFID não só a área de Logística de Merchandising será
beneficiada, mas também todas aquelas que atuam em conjunto.
5. RESULTADOS E CONCLUSÕES
O presente trabalho apresenta a tecnologia RFID como uma ferramenta para obter
identificação precisa das peças e materiais de comunicação instalados nos varejos. De acordo,
com o projeto piloto, o fato de poder saber o que acontece no campo elimina divergências no
inventário destes materiais, contribui com uma correta alocação de comunicação nos pontos
de vendas e permite um correto investimento para atingir os objetivos de curto e longo prazo
da companhia. O trabalho também expõe as oportunidades e benefícios que RFID proporciona
na logística de merchandising da empresa, assim como o resultado de uma avaliação técnica
que demonstra a viabilidade técnica da implantação do RFID nessa área.
Importante lembrar que antes de adotar uma nova tecnologia é preciso mapear os potenciais
benefícios e avaliar as viabilidades técnicas e econômicas. Assim, para a próxima etapa deste
projeto deve-se apresentar a avaliação econômica. Como referência para uma avaliação
econômica e de acordo com Akinci et al. (2002), primeiro devemos identificar os parâmetros
de estudo de viabilidade econômica. Para este caso, pode ser o gasto de fazer um censo anual
dos materiais de comunicação e o 30% dos gastos anuais em merchandising. A soma destes
valores representará a receita anual. Com essa informação estabelece-se um diagrama de fluxo
de caixa (DFC) considerando o investimento na implantação da solução RFID em toda a
empresa, a receita anual (já indicada) e um custo de capital de acordo à taxa anual de juros
bancária brasileira para empréstimos. E finalmente aplicar o método do valor presente (VP)
para analisar o período de tempo para o qual esta proposta é viável.
Finalmente o presente trabalho também procura estimular o desenvolvimento de novas
aplicações da tecnologia RFID no Brasil. Por exemplo, ante a constante problemática de
roubos de carros podemos ver o RFID e sua vantagem de identificar individualmente um
produto (EPC global) como uma ferramenta para superar este problema. Assim, pode-se
associar uma etiqueta RFID EPC global às partes principais do carro que registram maior
índice de roubo. Deste modo cada carro tem identificado essas partes de maneira única no
mundo e ante um roubo, os códigos EPC global associados ao carro roubado são considerados
ilegais. Neste contexto, o sistema consideraria legal todo carro com o numero de etiquetas
completas e em estado legal, condição principal para que o carro circule livremente através da
cidade. Ainda que pareça um tanto futurista, essa ideia encaixa na visão do RFID EPC global,
ou “internet das coisas”.
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