PERÍODO ATÉ AO TELÉGRAFO ELECTRICO
l. Introdução
Este Período corresponde a cerca de 70 anos, entre o princípio do século XIX
(1807) e 1873, data da criação da primeira sede telegráfica eléctrica militar em 1873.
O telégrafo óptico tinha inconvenientes sérios: era impraticável de noite e em
dias de fraca visibilidade, exigia muito pessoal nas múltiplas estações, mas era o meio
de comunicação mais rápido e melhor na época. 1 Representava um progresso
indiscutível em relação à época medieval.
2. Organização
A rede de telegrafia óptica montada em Portugal dependia da Secretaria de
Estado dos Negócios Estrangeiros e de Guerra, da qual por sua vez dependiam um
órgão de Direcção – a Direcção de Serviço Telegráfico – e um órgão de execução: o
Corpo Telegráfico.
Dadas as suas características militares o Corpo Telegráfico pode ser considerado
como a primeira Unidade de Transmissões Permanente do Exército.
a. Direcção do Serviço Telegráfico (DST)
Competia-lhe o estabelecimento da rede e dos códigos.
Quando em 1856 foi introduzido o telégrafo eléctrico e criada uma Direcção dos
Telégrafos civis, a DST (óptico) ainda continuou em exercício visto que o Corpo
Telegráfico só foi extinto em 1864.
Quando acabou esta Direcção?
Há duas teses:
A de Bastos Moreira – que indica 1860 como a passagem para o Ministério das
Obras Públicas do controlo do serviço do Corpo Telegráfico.
A do V/Alm Moura da Fonseca que indica que, em 1855 a Direcção dos
Telégrafos do Reino (eléctricos) substituem a Direcção dos telégrafos (ópticos) o que
significa absorver as duas funções.
Analisaremos este problema no capítulo do pessoal.
b. O Corpo Telegráfico
O Corpo Telegráfico, em 1810, era encabeçado por um Director Geral, e tinha
119 elementos. 2 Em 1830 a inspecção do Corpo Telegráfico passou a ser feita pelo
Corpo dos Engenheiros.
Em 1855 foi introduzido em Portugal o telégrafo eléctrico, na dependência do
Ministério das Obras Públicas. No entanto o Corpo Telegráfico só foi extinto em 1864.
1
2
Para o Exército e Administração do Reino visto que a rede não servia a população.
Bastos Moreira “Notas sobre as Transmissões Militares em Portugal” Vol I, pág. 46.
De 1864 a 1873, ano em que foi inaugurada a primeira rede telegráfica eléctrica
Militar, não houve Unidades Militares de Transmissões. Este período de 9 anos deve
ter sido o único período em que tal aconteceu.
3. Pessoal
a. Direcção do Serviço Telegráfico
Entre 1807 e 1813 encabeçou a Direcção o Dr. Ciera, civil com reputação
cientifica, 3 tendo como adjunto Pedro Folque, que passou a Director em 1813. Este
oficial é autor do código usado nos telégrafos operados pelo Corpo Telegráfico.
Publicou em 1827 o “Dicionário Militar” com o registo dos sinais telegráficos então em
uso..4
Em 1856 foi inaugurado o primeiro circuito de telégrafo eléctrico em Portugal,
tendo sido criada a “Direcção dos Telégrafos do Reino”, dependente do Ministério das
Obras Públicas, desde o ano anterior.
O VAlm Moura dos Santos5 afirma que o primeiro Director e Geral dos
Telégrafos foi o então CGM José Bernardo da Silva, que foi Director entre 1855 e 1864
que sucedeu no cargo ao CGM Fernando José de Santa Rita (telégrafo óptico)
Se assim foi, a Direcção dos Telégrafos visuais teria acabado nessa altura e o
CMG José de Santa Rita teria sido o seu último Director. No entanto, Bastos Moreira 6
afirma que, em 1960, o Corpo Telegráfico passa a depender do Ministério das Obras
Públicas para efeitos de serviço, mas para efeitos disciplinares e de promoções continua
na dependência do Ministério de Guerra, o que leva a crer que até 1860 ainda existia a
Direcção dos Serviços Telegráficos.
b. Corpo Telegráfico
O documento “ Organização e Regulamento de disciplina do Corpo destinado ao
Serviço de Telégrafos”, de 1810, 7 apresenta a seguinte composição do Corpo
Telegráfico: 1 Director Geral. 6 Oficiais, Primeiros Ajudantes, 3 Oficiais, Segundos
Ajudantes, 17 Primeiros Cabos, 28 Segundos Cabos e 64 Soldados.
Na admissão ao Corpo Telegráfico era dada preferência a Oficiais inferiores ou
soldado de tropa de linha reformado (Cap. III & l).
Nos termos do mesmo Regulamento, os l.º Cabos terão acesso a Segundos
Ajudantes e estes a Primeiros Ajudantes quando “o seu merecimento os faça dignos
dessa contemplação”. Não devia nenhum indivíduo passar a Segundo Ajudante sem que
o primeiro tenha tido serviço de l.º Cabo com inteligência, actividade e
aproveitamento.”
Em meu entender estes “Oficiais Primeiros e Segundos Ajudantes” eram
Sargentos e não Oficiais pois não se passa de l.º Cabo para oficial directamente. Essa
ideia é também apresentada por Jorge Fernandes Alves e José Luís Vilela ao afirmar
que o Corpo Telegráfico era essencialmente constituído por quatro postos militares
(Soldado, Cabo, l.º e 2.º Sargento).
3
Informação de Costa Dias
Cor Pereira da Costa “Os Generais do Exército Português”, II Vol, I Tomo, pág. 226.
5
V Alm Moura dos Santos ”As comunicações navais e a TSF a Armada”, pág. 32
6
Bastos Moreira, Idem, pág. 49.
7
Jorge Fernandes e José Luís Vilela, “José Vitorino Damásdio e a Telegráfica eléctrica em Portugal”,
pág. 71.
4
Segundo Bastos Moreira o Corpo Telegráfico passa a dispor em 1860 de 1 Direc
tor , 14 Oficiais e 300 Sargentos Cabos e Soldados.8 É muita gente (o triplo de
1810). Com as redes ópticas não aumentaram, isso leva-nos a crer que o pessoal do
Corpo Telegráfico era inicialmente o operador das redes iniciais de Telégrafo
Breguet
Essa hipótese (que gostava de expor à Engenheira Teresa Abecassis) parece ser
confirmada pelo seguinte texto 9
“ Em 1855 são publicadas “Instruções para o serviço dos Telégrafos Eléctricos”
assinados por José Bernardo da Silva, primeiro Director-Geral dos Telégrafos. É um
pequeno compêndio de telegrafia eléctrica Breguet que julgou indispensável redigir
para instrução das praças do “Corpo Telegráfico”, unidade militar a quem incumbia
o desempenho do serviço aéreo ou visual que de repente se via chamado a executar
os serviços, deste Corpo Telegráfico que existiu até 1864, em que foi
desmilitarizado, vieram alguns explêndidos elementos de trabalho, que nos CTT
atingiram posições de destaque”.
Isto faz sentido. Em 1855 publicam-se as instruções, em 1856 começam a abriras
estações de telegrafia eléctrica que são guarnecidas com pessoal instruído do Corpo
Telegráfico , o que implicou aumentar o seu efectivo.
Esta hipótese de que o Corpo telegráfico até 1864, ano em que foi extinto
acompanhou a telegrafia óptica e a eléctrica parece possível pelo que se transcreve
sobre o que se passou em 1864, quando José Vitorino Damásio substituiu José
Bernardo da Silva.
“.... os serviços de telegrafia eléctrica, instalada desde 1986, a partir do contracto
em Breguet, continuam ser geridos com base no Regulamento do Corpo Telegráfico
Militar de 1807, com ligeiras alterações, estando integrados no Ministério de
Guerra”. 10 Vitorino Damásio faz a revolução da transformação do corpo
telegráfico ”A transição de um corpo militarizado para um serviço civil”, o que
.obrigava à alteração de inúmeras regras e expedientes enraizados ao longo de anos
que dificultam a reorganização. A criação de carreiras profissionais, sua dotação,
regras de promoção e evolução, a fixação de salários foram algumas medidas que
mudaram radicalmente a face da Direcção Geral dos Telégrafos. De um quadro de
pessoal representado essencialmente por quatro postos militares (Soldado cabo, l.º e
2.º Sargento) passam a uma distribuição de categorias... “ 11 Ao nível de pessoal
passou a haver a admissão de paisanos, pois antes o Corpo Telegráfico era
exclusivamente constituído por elementos do Exército ou que q ele tenham
pertencido “. 12(12)
Parece portanto que até 1864 o serviço telegráfico e óptico foi exclusivamente
exercido por militares .A partir da extinção houve a preocupação de integrar o
pessoal do Corpo Telegráfico na telegrafia eléctrica. De notar que o Corpo é
constituído por militares, a maioria reformado, soldados e cabosl.º e 2,º Sargentos
oriundos do próprio Corpo.
4. Material
8
Bastos Moreira, idem
“Coisas e Loisas do Correio”
10
Jorge Fernandes e José Luís Vilela, Idem, pág. 68
11
Idem, pág. 71
12
Idem, pág. 70
9
O material utilizado na telegrafia óptica era o telegrafo de palhetas que vemos
representadas na figura.
Tinha 3 palhetas, colocadas numa estrutura com 8m de altura e que podiam
tomar a posição horizontal ou vertical.
O telegrafo destinava-se a transmitir números. As três palhetas representavam
respectivamente os números 1, 2 e 4, quando estiverem na posição vertical, caso se
indique na figura
Quando estiverem na posição horizontal significa a zero. Quando se
apresentavam simultaneamente duas palhetas o número transmitido era a soma. (Se
fossem apresentadas as duas palhetas de baixo na vertical obtinha-se o número 6).
Havia assim possibilidades de transmitir, em cada apresentação 8 números
diferentes ( 0 a 7) inclusive. No entanto os números 0 (todas as palhetas no
horizontal) ou 7 (todas as 3 palhetas apresentadas) eram utilizadas para sinais de
serviço. Os restantes 6 números eram usados para transmissões de mensagens.
Com as apresentações podia transmitir
6 números diferentes (em 4
apresentações podiam ser transmitidos 1296 números diferentes).
Estes números correspondiam a um código pré-estabelecido que continha as
palavras e frases correspondentes.
O sistema era relativamente simples. O telegrafo de bolas trazido pelos ingleses
era bem mais complexo, o que julgamos ter sido a razão fundamental da parte ter
vingado no nosso país.
Havia ainda outro telégrafo “à volet”, conforme mostra a figura, permitindo
apresentar 6 números (as posições verticais só eram usadas para serviço).
Este telegrafo podia usar o mesmo código que o de palhetas.
5. Logística
O Regulamento do Corpo Telegráfico de 1810 13 estabelece que “ o l.º cabo de
cada telegrafo responderá pelo estado dos instrumentos e mais utensílios pertencentes
ao seu telegrafo; e, se por seu desmazelo, se conhecer que houve ruína em alguns deles
em mandá-los consertar à sua custa; se porém a avaria dos instrumentos for ocasionada
pelo rigor do tempo ou continuação do serviço deverá logo participá-la ao seu Oficial
Comandante ou Director para este o mandar reparar; aliás ficará obrigado à dita
responsabilidade, como se a avaria fosse ocasionada pelo seu próprio descuido.
Isto é, a manutenção recaia no l.º cabo de cada estação.
6. Organização Territorial
Em 1810 havia 4 rede de comunicações telegráficas em funcionamento
permanente:
Oitavos (cabo-raso)
Lisboa – Almeida, por Abrantes Santarém – Elvas e Barquinha –
Abrantes
Diversos postos de comandos militares na Beira Alta
Linhas de Torres Vedras
A primeira linha que ligava ... ao Castelo de S. Jorge, passava pela Torre de
Belém e Fonte da Barra destinava a servir o Almirantado português e entidades
portuárias. 14
13
14
José Luís Assis, “Ciência e Técnica na Revista Militar”, pág. 193
Jorge Fernandes e José Luís Vilela, Idem, pág 16
O Regulamento do Corpo Telegráfico indica a existência de uma linha com
340Km, ligando as cidades de Lisboa e Porto, com 27 postos instalados nas
seguintes localidades: Lisboa (Penha de França), Apelação, Monte Cerve, Monte
Gordo, Boa Vista, Santarém, Alviela, Golegã, Atalaia, Tomar, Ceiras,
Alvaiázere, Volta do Monte, Coimbra, Agrelo, Buçaco, Boialvo, Montedo, Vila
Nova dos Fusos, Á Branca, Santa Luzia, Souto Redondo, Musado, Canelas, Alto
da Bandeira e Porto.
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MGen Pedroso de Lima - Período antes do telégrafo