UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR III REALIZADO NA UNIDADE DE HEMODINÂMICA DO HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE PRISCILA DOS SANTOS LEDUR Porto Alegre 2011 PRISCILA DOS SANTOS LEDUR RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR III REALIZADO NA UNIDADE DE HEMODINÂMICA DO HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE Relatório de estágio realizado para aprovação na disciplina de Estágio curricular III da Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor Orientador: Profª Dra. Eneida Rejane Rabelo Enfermeira Supervisora: Enfermeira Marcia Flores de Casco 1 INTRODUÇÃO Este relatório versará sobre a descrição das atividades acadêmicas realizadas na Unidade de Hemodinâmica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), com ênfase na parte de cardiologia, durante a última etapa do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade federal do Rio Grande do Sul. O estágio ocorreu entre 03 de janeiro e 17 de março de 2011, cumprindo a carga horária obrigatória de 315 horas. Durante esse período, foram realizadas atividades assistenciais, técnicas, administrativas, educativas e de pesquisa. A escolha por essa área de atuação surgiu pelo interesse pessoal em aprimorar os conhecimentos na parte de Enfermagem em Cardiologia e assim, dar início ao meu processo de crescimento e aperfeiçoamento profissional. Acredito que este campo de atuação merece especial atenção, visto que o mundo está diante de um aumento em massa das doenças cardiovasculares, com conseqüente aumento da morbimortalidade. Para atender a essa demanda será necessário um aumento do número de profissionais da área da saúde, principalmente enfermeiros. Estudo realizado em uma Universidade em Los Angeles e publicado recentemente demonstrou associação entre baixo número de enfermeiros e aumento da mortalidade em uma unidade de internação (NEEDLEMAN et al., 2011). Frente a isso, faz-se necessário a formação de enfermeiros altamente qualificados e, o mais importante, dedicados. Somente dessa maneira será possível minimizar as perdas que essa epidemia de doença cardiovascular irá trazer a sociedade. 2 RELEVÂNCIA DA ESCOLHA DA ÁREA A mudança no estilo de vida das pessoas e a transição tecnológica acarretaram em mudanças no perfil das doenças. No começo do século XX, a doença cardiovascular (DCV) era responsável por menos de 10% de todas as mortes do mundo. Estima-se, no entanto, que em 2020 a DCV será responsável por extinguir 25 milhões de vidas a cada ano, sendo a principal causa de morte e invalidez no mundo (GAZIANO,2006). Dentre as DCV, a doença arterial coronariana (DAC), tem papel crucial na morbimortalidade. Embora a sociedade esteja se voltando para os programas de prevenção, infelizmente a população ainda não consegue ter acesso a condições dignas de saúde, o que acarreta a um crescente número de pessoas que chega aos serviços de atendimento com a doença em estágio avançado e necessita ser submetida a procedimentos invasivos para ter sua saúde restabelecida. Atualmente, uma das maneiras menos agressiva ao paciente de estimar a dimensão da DAC, é submetê-lo a uma cinecoronariografia, o conhecido cateterismo cardíaco. Segundo Campos et al., (2008), a cinecoronariografia trata-se de uma angiografia coronária na qual é feito o registro radiológico da luz coronária através da injeção endovenosa de contraste opaco. O procedimento pode ser realizado por dissecção da artéria, ou por punção percutânea (femoral, ou radial), sendo que a última é a mais comum. Quando no exame é detectada uma lesão importante, na qual existe uma redução significativa do fluxo sanguíneo miocárdico (>50% de obstrução), porém que seja passível de ser tratada por via percutânea, o tratamento da DAC será feito através da angioplastia. A angioplastia coronária tem como finalidade remodelar a placa aterosclerótica de maneira a restabelecer o fluxo sanguíneo miocárdico. Assim, pode-se evitar angina ou infarto do miocárdio e suas consequências (GAMA; CERCI; MARTINEZ, 2008) 3 OBJETIVO O objetivo deste relatório é descrever as vivências acadêmicas realizadas durante o estágio curricular II na Unidade de Hemodinâmica do HCPA, no período de janeiro a março de 2011, com ênfase na parte de Cardiologia. 4 Atividades desenvolvidas durante o estágio Durante o estágio, tive a oportunidade de ficar na sala de observação e nas salas de procedimentos, o que me proporcionou ter realizado atividades assistenciais (de baixa, média e alta complexidade), técnicas, administrativas e de pesquisa. Atividades assistenciais Sistematização da Assistência em Enfermagem, com plena execução de todas as suas etapas (anamnese, exame físico, evolução de enfermagem, elaboração de diagnóstico e prescrição de enfermagem); Orientação dos pacientes para os procedimentos; Avaliação, assistência e auxílio durante o procedimento; Atendimento a Parada Cardiorespiratória; Punção venosa periférica; Retirada de introdutor arterial; Realização de curativos; Retirada de pulseira de compressão radial; Sondagem vesical de alívio e de demora feminino-masculina; Administração de medicamentos via oral/endovenosa/intramuscular; Participação em passagem de plantão diário; Controle dos psicofármacos; Reposição de materiais; Orientação do paciente e familiar para a alta; Participação ativa com a equipe multiprofissional; Manuseio de equipamentos na sala de procedimentos e sala de observação; Reconhecimento dos materiais necessários para cada procedimento; Atividades administrativas Gerenciamento da escala diária de pacientes; Acompanhamento da realização da escala de funcionários; Gerenciamento da reposição de materiais especiais; Participação em reunião da equipe; Acompanhamento da manutenção do Sistema Ronda; Atividades acadêmicas e científicas Elaboração de estudo de caso; Discussão de artigo; Atividades de pesquisa Auxílio na seleção e inclusão de pacientes em projeto de pesquisa desenvolvido na unidade. 5 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO 5.1 O Hospital de Clínicas de Porto Alegre O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é uma Empresa Pública de Direito Privado e é integrante da rede de hospitais universitários do Ministério da Educação e vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sua missão é “Prestar assistência de excelência e referência com responsabilidade social, formar recursos humanos e gerar conhecimento, atuando decisivamente na transformação de realidades e no desenvolvimento pleno da cidadania”. O HCPA dispõe de 661 leitos de internação, atende com excelência cerca de 60 especialidades, executando desde os procedimentos mais simples até os mais complexos a uma clientela formada, prioritariamente, por pacientes do SUS. Também desenvolve e apóia pesquisas biomédicas, clínicas e epidemiológicas dos diversos programas de pós-graduação que o constituem, tornando-se assim um dos mais conceituados centros de desenvolvimento e disseminação de conhecimento científico no país e no mundo. 5.2 A organização dos Serviços de Enfermagem O Grupo de Enfermagem do HCPA engloba diversos Serviços de Enfermagem. A Hemodinâmica está vinculada ao Serviço de Enfermagem Cardiovascular, Nefrologia e Imagem (SENCI) o qual teve suas atividades iniciadas em 05 de janeiro de 2009, sob a chefia da Profa. Dra. Eneida Rejane Rabelo. Este serviço é composto por cinco Unidades previamente existentes: Unidade de Hemodinâmica (UHD), Unidade de métodos Não Invasivos (UMNI), Unidade de Cuidados Coronarianos (UCC), Unidade de Radiologia e Unidade de Hemodiálise. 5.3 O Serviço de Cardiologia O Serviço de Cardiologia do HCPA investe na capacitação e diferenciação técnica de seus profissionais. Criado em 1972, o Serviço possui recursos diagnósticos e terapêuticos que incorporam tecnologias complexas disponibilizadas para o tratamento de pacientes. É área de ensino de três disciplinas do curso de graduação em Medicina da UFRGS e atua em íntima interação com o Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da Faculdade de Medicina da UFRGS. A equipe do Serviço de Cardiologia é composta por 12 professores médicos, 21 médicos contratados, 10 médicos residentes,15 enfermeiras e 28 técnicas em enfermagem. 5.4 A Unidade de Hemodinâmica A Unidade de Hemodinâmica realiza procedimentos diagnósticos e terapêuticos através de imagem das seguintes especialidades: Cardiologia, Cirurgia Cardíaca, Vascular, Neurologia e Radiologia. Os pacientes podem ser atendidos pelo convênio ou pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e chegam à unidade por ambulatório ou pelas unidades de internação. A área física é considerada semirestrita e é composta por três salas de procedimentos (uma está desativada para reforma) e uma sala de observação (SO), a qual será exemplificada a seguir. Dentro da mesma área física, existem áreas de apoio que são: 2 expurgos, almoxarifado, arsenal, sala de lanche, rouparia, vestiários feminino/masculino, sala da chefia de enfermagem, sala de lavagem de material, sala de preparo de material, sala de estar médico, secretaria, 2 lavabos e 2 salas de comando de RX. Conforme demonstrado na figura acima, a SO dispõe de 9 leitos, sendo que desses, 7 são destinados a receber pacientes ambulatoriais, e os demais são para receber aos pacientes provenientes das unidades de internação do hospital, os quais já chegam a hemodinâmica na sua própria maca e não precisam de um leito próprio. A equipe de enfermagem é composta por 8 enfermeiras e 21 técnicos em enfermagem os quais estão dispostos nos turnos de trabalho conforme a figura que segue. Na divisão de trabalho, um enfermeiro fica responsável pela sala de observação, e o outro pelas salas de procedimentos. Quanto aos técnicos em enfermagem: 3 ficam na SO (cada um é responsável por 3 pacientes), 2 são circulantes nas salas de procedimentos (um em cada sala),1 é o instrumentador e o outro é responsável pela lavagem e preparo dos materiais. A escala de trabalho muda a cada 15 dias para que todos tenham a oportunidade de adquirir o mesmo nível de conhecimento e também para evitar o desgaste da equipe. Uma sala de procedimentos é destinada a Cardiologia (3) e a outra (1) recebe as demais especialidades (Vascular, Neurologia, Radiologia). Os procedimentos realizados podem ser diagnósticos ou terapêuticos. Segue alguns exemplos de cada um deles: 5.5 Indicadores da UHD No ano de 2010 foram realizados 3239 procedimentos na UHD, sendo que desses 2285 (70,5%) foram da cardiologia, 401 (12,3%) da radiologia, 390 (12,0%) da vascular, 91 (2,80%) da neurologia e 72 (2,2%) da cirurgia cardíaca. A maioria dos pacientes (53,75%) chegou a UHD por ambulatório. O procedimento mais realizado foi o cateterismo cardíaco, que foi realizado 1292 vezes, correspondendo a 56,5% dos procedimentos da Cardiologia e a 39,8% do total de procedimentos da UHD. Quarenta e oito (1,48%) procedimentos foram realizados no período de sobreaviso. Eventos adversos decorrentes do procedimento ocorreram em 65 (2%) pacientes. O evento adverso mais freqüente foi o desenvolvimento de hematoma, o qual ocorreu em 34 pacientes. Apenas 4 (0,12%) pacientes foram a óbito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ter realizado estágio na UHD durante essa fase tão importante da minha formação me proporcionou uma experiência de suma importância para o meu desenvolvimento profissional. Pude fortalecer as minhas escolhas e motivar-me para o futuro. Ter convivido com uma equipe multiprofissional altamente qualificada, proporcionou-me a aquisição de grande embasamento científico e técnico. A orientação e a dedicação recebida da minha enfermeira supervisora fizeram com que eu me sentisse segura para fazer todas as tarefas possíveis, deixando de lado qualquer medo de errar, ou de ser julgada. O tratamento que recebi por parte de toda a equipe de enfermagem foi inominável, todos foram incansáveis, atenciosos e dedicados para com a minha formação. Consegui aplicar toda a teoria que adquiri no decorrer da graduação, porém especificamente voltada para a área na qual escolhi atuar. Finalmente pude me sentir enfermeira, realizando todas as atividades que são de competência da categoria profissional. Indubitavelmente, a realização do estágio curricular na UHD será um marco na minha trajetória. Agradeço à professora orientadora, à enfermeira supervisora, à chefia de enfermagem, enfermeiros e técnicos por todo o apoio e compreensão a mim dispensados. Essas pessoas fizeram com que eu finalizasse esse estágio com o sentimento de missão cumprida, de que todas as minhas expectativas e desejos foram atendidos e de que consegui responder ao meu objetivo inicial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS, A.H.M. et al. Cinecoronariografia: anatomia e indicações in: RIBEIRO, E.E. et al. Hemodinâmica e cardiologia intervencionista.1. ed. São Paulo: Manole, 2008. GAMA, N.M., CERCI, J.R., MARTINEZ, E.E. Intervenção coronária percutânea: evolução desde os balões até os stents in: RIBEIRO, E.E. et al. Hemodinâmica e cardiologia intervencionista.1. ed. São Paulo: Manole, 2008. GAZIANO,J.M. Ônus Global da Doença Cardiovascular in: BRAUNWALD, E. et al. Tratado de doenças cardiovasculares. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. HCPA. Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Disponível em: <http://www.hcpa.ufrgs.br>. Acesso em: 14 de MAR. 2011. NEEDLEMAN,J., BUERHAUS,P., PANKRATZ, S. et al. Nurse Staffing and Inpatient Hospital Mortality. The New England Journal of Medicine, v. 364, p.1037-45, 2011.