XVII Seminário de Atualização em Sistemas de Colheita de Madeira e Transporte Florestal EFEITO DO TRÁFEGO DE MÁQUINAS DE COLHEITA FLORESTAL NA ESTRUTURA DE UM CAMBISSOLO HÁPLICO Jean Alberto Sampietro1; Cedinara Arruda Santana Morales2; José Miguel Reichert3; Pedro Henrique Rodrigues Borges4; Elias Frank de Araújo5 1 Prof. Dr. Departamento de Eng. Florestal da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC-CAV ([email protected]); 2Eng. Florestal, Dr.ª em Eng. Florestal (cedinarasm@ gmail.com);3Graduando em Eng. Florestal da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM ([email protected]); 4Prof. PhD. Departamento de Solos UFSM; 5Eng. Florestal, MSc., CMPC Celulose Riograndense ([email protected]) Introdução e objetivos 269 e 382 g kg-1 de argila, silte, areia grossa e areia fina, respectivamente e carbono orgânico do solo de 8,30 g kg-1, sendo o relevo plano a suave ondulado. O sistema de colheita de madeira avaliado foi de Toras Curtas (Cut-to-length), composto por um trator florestal Harvester (HV), Volvo EC210, com peso operacional de 21,7 t e rodados de esteiras de 0,6 m X 4,5 m, e por um trator florestal Forwader (FW), Valmet 890.3, com peso operacional de 19,1 t, compartimento de carga com capacidade bruta de 18 t, tração 8 X 8 com rodados de pneus (750/55 x 26,5) e inflados com 503 kPa de pressão. A crescente mecanização da colheita florestal, trazendo aumento do tamanho, da potência e do tráfego das máquinas de colheita da madeira é a principal causa da alteração de solos florestais. Devido à elevada intensidade de tráfego durante as operações de corte e extração de madeira, os solos florestais são submetidos a tensões intensas, modificando importantes características estruturais, ocasionando, assim, o impedimento mecânico ao crescimento radicular, resultando em menor volume de solo explorado, menor absorção de água e nutrientes e, consequentemente, menor de- Na área selecionada, todas as árvores foram derrubadas e processadas somente com senvolvimento das plantas. Este trabalho objetivou avaliar o efeito do uma passada do HV. Em seguida, foram tráfego de máquinas de colheita de florestal distribuídos três blocos nos quais foram sobre a estrutura de um Cambissolo Há- instaladas parcelas de 5 X 20 m para cada plico em povoamentos de Eucalyptus saligna tratamento analisado, sendo: uma passada do HV (H); uma passada do HV mais uma Sm.. passada do FW (H + 1F); uma passada do HV mais duas passadas do FW (H + 2F); Material e métodos uma passada do HV mais quatro passadas O trabalho foi conduzido em áreas de do FW (H + 4F); uma passada do HV mais Eucalyptus saligna em segunda rotação, per- oito passadas do FW (H + 8F); uma passatencentes à empresa CMPC Celulose Rio- da do HV mais 16 passadas do FW (H + grandense, localizadas no Estado do Rio 16F); uma passada do HV mais 32 passadas do FW (H + 32F). O tratamento sem Grande do Sul. O solo foi classificado como um Cambisso- tráfego (ST) foi representado por uma área lo Háplico Tb Distrófico de textura franco em que a floresta não foi derrubada e, por-arenosa, com conteúdo médio de 122, 227, tanto, sem haver distúrbios no solo devido 100 Resumos Expandidos ao tráfego. Em cada parcela houve a simulação de uma intensidade de tráfego (tratamento). Para os ensaios o FW foi completamente carregado fora da área experimental, e, então, trafegou sempre com mesma carga (11,3 t de madeira) sobre mesma trilha de passagem dentro de cada parcela, numa velocidade média de 5 km h-1, sendo que uma passada representou somente uma viajem de ida da máquina. A umidade do solo (condição de campo) era de ±0,072 kg kg-1. Primeiramente, foram determinadas a área de contato e pressão estática exercido pelos rodados das máquinas sobre o solo conforme [1], para uma passada do Harvester (H), e para uma passada (F) e 32 passadas (32F) dos rodados dianteiros e traseiros do Forwarder. Em seguida, em todos os tratamentos, foi realizada um amostragem de solo com estrutura preservada em anéis de 2,5 cm de altura e 6,1 cm de diâmetro, nas camadas de 0 a 10, 10 a 20, 20 a 40 e 40 a 60 cm de profundidade, sendo coletadas três repetições para cada tratamento em cada bloco em todas as camadas. Posteriormente, em laboratório as amostras foram separadas em três grupos de umidade: tensão de água de 10 kPa, tensão de água de 100 kPa e condição de campo. E, então, foram submetidas ao ensaio de compressão uniaxial conforme [2], sendo a pressão de pré-consolidação (σp) obtida de acordo com [3]. O delineamento experimental foi o blocos ao acaso, sendo os dados de σp submetidos à análise de variância e depois teste de Tukey à 5% de significância. Resultados e discussão O maior valor de área de contato foi encontrado para a situação H (1,52 m2), obviamente, devido à máquina ser equipada com rodados de esteiras, o que resultou em menor pressão exercida sobre o solo. O Forwarder apresentou valores menores de área de contato, uma vez que é equipado com pneus, sendo que após 32 passadas os valores foram superiores em comparação após uma passada, ocorrendo o inverso para a pressão estática exercida sobre o solo (Tabela 1). Esses resultados podem ser em função da área de contato ser diretamente relacionada às dimensões (largura, diâmetro) dos rodados, pressão de inflação dos pneus ou rigidez de esteiras, carga por eixo e por rodado e, principalmente, rigidez do solo, pois, inicialmente, o solo apresentava rigidez menor e, assim, com as sucessivas passadas das máquinas, houve alterações estruturais no solo, devido à compactação, resultando em maior rigidez do solo, menor área de contato e maior pressão estática exercida. Tabela 1. Área de contato e pressão estática exercida pelos rodados das máquinas sobre o solo Tratamento (rodado) Área de Pressão contato m2 estática kPa H (rodados de esteiras) 1,519 F (rodados dianteiros) 0,322 75,2 92,6 F (rodados traseiros) 0,412 108,4 32F (rodados dianteiros) 0,154 194,2 32F (rodados traseiros) 0,164 272,7 Quanto à pressão de pré-consolidação (Tabela 2), na tensão de 10 kPa, embora em algumas camadas não tenha ocorrido diferenças significativas, se pode notar aumento da σp com o aumento do tráfego das máquinas. Fato também observado na tensão de 100 kPa e condição de campo, o que demonstra que as alterações estruturais sofridas pelo solo pela ação do tráfego de máquinas de colheita florestal podem ser agravadas em 101 XVII Seminário de Atualização em Sistemas de Colheita de Madeira e Transporte Florestal função de repetidas passadas, sendo o com- pactação adicional do solo, caso as pressões portamento mecânico do solo afetado dire- impostas sejam superiores à pressão de prétamente pela condição de umidade. consolidação e, então, o solo apresentará Diante disso, pode -se pressupor que a comportamento plástico, havendo deforcompactação do solo causada pelo tráfego mação e alteração de sua estrutura. do Harvester e do Forwarder seria bem maior, caso o solo estivesse mais úmido no mo- Tabela 2. Pressão de pré-consolidação (kPa) mento da execução do experimento. Então, na umidade correspondente à tensão de 10 devido à isso, é que se associa a ocorrên- kPa, tensão de 100 kPa e condição de campo cia de poucas diferenças estatísticas, pois o solo, de certa forma, pode ter aguentado Tensão de 10 kPa as pressões advindas do tráfego, uma vez Camada que, durante as simulações de tráfego (con- Trat. 0-10 10-20 20-40 40-60 dição de campo), a capacidade de suporte ST 76,1 57,2 b 112,6 ab 69,8 b na condição inicial do solo era de 125 e 204 H 118,2 79,2 ab 142,6 a 128,7 ab kPa, dos 0 a 20 cm e 20 a 60 cm de pro123,3 101,4 ab 61,7 b 99,1 ab fundidade, respectivamente. Assim, como o H+1F H+2F 116 71,8 ab 127,5 a 66,3 b Harvester exerceu uma pressão de 75 kPa e 119,1 136,0 a 142,5 a 70,3 b o Forwarder, após uma passada, exerceu uma H+4F 115,7 102,2 ab 96,9 ab 67,3 b pressão média de 100,5 kPa, estas não fo- H+8F ram suficientes para superar a pressão má- H+16F 146,3 106,4 ab 89,3 ab 160,0 a xima que o solo suporta. H+32F 104,6 86,5 ab 121,5 a 104,2 ab Contudo, a capacidade de suporte foi superada após sucessivas passadas e, dessa forma, ocorrendo alterações estruturas no solo cada vez mais em maior magnitude, justificando o comportamento mecânico do solo, uma vez que isto é dinâmico, refletindo as pressões externas aplicadas. Quando são aplicadas pressões externas superiores à capacidade de suporte do solo, ocorre a aproximação das partículas, havendo a redução do tamanho médio dos poros. Como poros de menor dimensão tendem a ser menos propensos às forças compactantes, estes levam a uma maior resistência do solo e, dessa forma, a capacidade de suporte (pressão de pré-consolidação) é aumentada, o que, parcialmente, protege o solo de compactação adicional. No caso do solo sofrer pressões advindas de tráfego menores que a pressão de pré-consolidação, este reage de forma elástica e não há compactação adicional; ou seja, somente haverá com- 102 Trat. ST Tensão de 100 kPa Camada 0-10 10-20 20-40 75,5 a 30,4 a 175,1 a 40-60 60,3 a H 108,7 a 213,8 a 211,1 a 135,1 a H+1F 118,9 a 80,3 a 119,1 a 191,7 a H+2F 133,4 a 109,6 a 122,7 a 96,5 a H+4F 133,7 a 184,6 a 217,5 a 236,7 a H+8F 159,2 a 141,3 a 211,8 a 116,7 a H+16F 313,2 a 253,9 a 201,9 a 176,3 a H+32F 158,1 a 190,2 a 236,6 a 121,1 a ST Condição de campo Camada 0-10 10-20 20-40 100,7 a 149,3 a 208,9 a 40-60 199,0 a H 128,6 a 143,5 a 280,4 a 187,1 a H+1F 193,4 a 195,3 a 129,4 a 152,1 a Trat. H+2F 199,0 a 341,2 a 93,1 a 136,7 a H+4F 188,8 a 235,6 a 99,8 a 168,1 a H+8F 263,7 a 159,0 a 189,8 a 165,8 a H+16F 237,5 a 110,1 a 199,7 a 284,0 a H+32F 222,8 a 144,8 a 315,7 a 182,1 a Resumos Expandidos Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. Conclusões A intensificação do tráfego das máquinas de colheita florestal promoveu aumento na pressão exercida sobre o solo, resultando em alterações de sua estrutura cada vez em maior magnitude, o que refletiu na sua pressão de pré-consolidação que aumentou conforme foi maior a repetição de passadas. Referências [1] BRANDT, A.A. Carregamento estático e dinâmico e sua relação com tensão, deformação e fluxos no solo. 2009. 162 f. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. [2] SILVA, V.R.; REINERT, D.J.; REICHERT, J.M. Susceptibilidade à compactação de um Latossolo Vermelho-Escuro e de um Podzólico Vermelho-Amarelo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.4, p.239-249, 2000. [3] HOLTZ, R.D.; KOVACS, W.D.; SHEAHAN, T.C. An introduction to geotechnical engineering (2 ed). New Jersey: Prentice-Hall, 2010. 864p. . 103