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Veículo: Bom Dia Jundiaí Data: 03/03/2013 Pág: Online
Jundiaí é ‘iluminada’ pela queda de raios
Incidência na cidade supera a média nacional, que já é alta e faz com que o Brasil
'campeão mundial'
Na última quinta-feira, o preparador físico Altair Ramos comemorou seu 17º
aniversário, apesar de ter 56 anos oficialmente. Em 28 de fevereiro de 1996, Altair,
que atualmente trabalha no Paulista, mas na época era da comissão técnica do São
Paulo FC, foi atingido na cabeça por um raio em meio a uma tempestade.
“Eu perdi a memória. Não sei como é ser atingido por um raio, só sei que eu morri,
mas voltei”, afirma.
Sobrevivente, a história do raio quase fatal é tão conhecida quanto a trajetória bemsucedida do preparador físico, que trabalhou na comissão técnica de Telê Santana
na conquista dos bi-campeonatos da Libertadores e Mundial.
“Eu acredito que foi um milagre. Todo mundo achou que eu estava morto e estou
vivo até hoje, tenho três filhos, continuo trabalhando”, diz. A curiosidade pela
história de quem sobreviveu a uma descarga se deve graças a baixa probabilidade
de ser atingido por uma descarga elétrica atmosférica.
O risco de ser atingido é de 0.8 por milhões de habitantes ao ano, segundo dados do
ELAT (grupo de eletricidade atmosférica ligado ao INPE, Instituto de Pesquisas
Espaciais), apesar de o Brasil ser campeão mundial do fenômeno. Em Jundiaí, a
densidade média de raios é de 9.1 por km², enquanto a média brasileira é 7 por km².
Já São Paulo, onde Altair foi atingido pela descarga, é de 10.1 por km².
Ainda segundo dados do ELAT, de janeiro até 28 de fevereiro deste ano, Jundiaí foi
atingida por 1.515 raios. Na tempestade de domingo passado foram 289 e na de
terça-feira, 178.
Primeiros-socorros / A descarga elétrica em meio a chuva de verão no treino das
16h atingiu Altair Ramos na cabeça, segundo depoimento dos próprios jogadores. O
preparador físico sofreu parada cardiorrespiratória, recebeu os cuidados do médico
do clube, José Sanches, e foi levado ao hospital, onde foi entubado e ficou internado
por alguns dias.
A parada cardiorrespiratória, aliás, é a consequência mais comum das pessoas que
são atingidas por raios, de acordo com a chefe do pronto-socorro do Hospital São
Vicente, Tetuyo Yokota. Nesses casos, a recomendação é chamar o SAMU (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência).
“A pessoa precisará de um médico e terá que ser levada a um hospital, caso
sobreviva a parada. Nesses casos, não adianta nem chamar o Corpo de Bombeiros,
porque eles vão só com socorristas e não com médicos”, diz.
Mesmo nos casos em que a pessoa atingida esteja consciente e, aparentemente,
não tenha nenhuma lesão, ela deve passar por atendimento médico de acordo com
Tetuyo.
“Pode acontecer uma arritmia cardíaca, então a vítima deve passar por uma bateria
de exames”. Mesmo com a incidência de raios na cidade sendo maior que a média
nacional, a médica lembra apenas de um caso que deu entrada no pronto-socorro
por conta de raios. “Mas foi há muitos anos”, diz ela, que trabalha no São Vicente há
duas décadas.
Lesões / A única lesão que acompanha Altair Ramos até hoje é uma perfuração no
tímpano esquerdo, mas a audição do preparador físico é normal. Sobre o retorno ao
trabalho na época, Altair afirma que fez fisioterapia em si mesmo em casa e duas
semanas depois voltou ao CT do São Paulo .
“O que ficou mais afetado mesmo foi o equilíbrio. Não conseguia andar em linha
reta. Parecia que estava bêbado”, ri.
Até hoje, o preparador físico têm guardada as roupas que usou no dia do raio. “Foi
um presente do roupeiro do clube. Ele e os jogadores foram no hospital ver se eu
estava vivo e ele pegou. A primeira vez que abri foi no programa do Jô Soares, um
tempinho depois. Tinha um cheiro de queimado incrível”, recorda.
Mesmo depois do episódio, Altair jura que não tem medo de raios, mas que evita
enfrentar uma tempestade. “É melhor perder um treino do que acontecer algo desse
tipo. Dizem que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas eu não quero
testar”, diverte-se.
Quando a consequência é prejuízo financeiro
Na tempestade da última terça-feira, o publicitário Douglas Lima teve um modem de
internet queimado. “Pensei que fosse problema da internet, mas não. Foi o
equipamento mesmo que não resistiu aos raios”, afirma. O que sobrou foi o
transtorno por ficar sem internet e o prejuízo em torno de R$ 100,00.
E essa não é a primeira vez que a chuva traz prejuízos na casa do publicitário, que
vive no bairro Cidade Nova 1. “Já queimou TV de 42, DVD e rádio. Mas nunca fomos
atrás de reaver o prejuízo. Meu pai sempre diz que é muita burocracia e deixamos
por isso mesmo”, conta. De acordo com o coordenador do Procon de Jundiaí,
Adilton Garcia, os danos em equipamentos elétricos são de responsabilidade da
fornecedora de serviços segundo a Resolução 61/2004 da Anael (Agência Nacional
de Energia Elétrica). “Mesmo em casos de acidentes, como descargas elétricas e
raios”, explicou em nota ao BOM DIA.
As regras para o ressarcimento estão contidas na Resolução nº. 61/2004 e 414/2010
da Anael segundo o coordenador do Procon. Pela resolução, os consumidores
conectados em baixa tensão, como os residenciais, que porventura tenham tido
aparelhos danificados pela interrupção do fornecimento de energia, devem procurar
a distribuidora em até 90 dias para solicitar o ressarcimento.
Após analisar o pedido, a distribuidora terá prazo de 45 dias corridos para ressarcir o
consumidor. O Procon não forneceu o número de atendimentos devido a
equipamentos queimados por descargas elétricas.
Maior probabilidade
Campos de futebol, onde Altair Ramos sofreu o acidente, e praias são dois dos
locais com mais incidências de morte por raios. Segundo dados do ELAT, em 2010,
9 pessoas morreram em campos de futebol, 7 em praias, 19 durante atividade
agropecuária e 14 dentro de veículos em movimentos em todo o país.
Nesse ano, um casal de Itupeva morreu atingido por um raio enquanto passava
férias na praia, em Ubatuba, no dia 7 de janeiro. Segundo testemunhas, eles teriam
sido atingidos por uma descarga elétrica enquanto passeavam à beira-mar e caíram
no chão de mãos dadas. O casal chegou a ser levado ao pronto-socorro de Bertioga,
mas não resistiu. A moça, uma enóloga portuguesa de 29 anos, foi enterrada em
Portugal. Já o homem, engenheiro de 31 anos, foi enterrado em Guaratinguertá, sua
cidade natal.
Entenda
Até o fim de março, o Sudeste está sujeito a tempestades e raios segundo o
meteorologista do Climatempo, André Madeira. Os raios são formados pela
diferença de polaridade dentro das próprias nuvens.
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