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19º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICODRAMA
“A Humanidade no século 21”
O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ: RELATO DE EXPERIÊNCIAS COM JOGOS
PSICODRAMÁTICOS
MANON TOSCANO LOPES SILVA PINTO1
ANA ISABEL MACHADO2
ELISABETE MORAES MENEZES3
SÔNIA MARIA MORAES FERREIRA4
RÔMULO DA SILVA LIMA5
RESUMO
Este artigo partiu de um estudo de caso. Tem por finalidade apresentar as experiências com
letramento e práticas socioeducativas nas aulas de Língua Portuguesa no 6º, 7º e 8º anos
do Colégio Militar de Salvador (CMS), no período de 2011 a 2012, a partir do principal
questionamento: Que resultados significativos o psicodrama soocioeducativo oferece nas
aulas multimodais do CMS? Ao experienciar as práticas advindas dessas aulas e, apoiadas
pelas oficinas sociopsicodramáticas pedagógicas, a integração de dança-teatro-música-arte
circense favoreceu detectar competências e habilidades proporcionando o avanço do
desenvolvimento da espontaneidade, criatividade, sensibilidade, o que aprimora a visão
sistêmica do corpo discente e a prática da articulação de diversos saberes. A obra de autoria
de Jorge Amado – „O gato malhado e a andorinha sinhá‟ serviu para refletir sobre o
preconceito, diferenças individuais e coletivas levando o trabalho coletivo discente para um
contexto essencialmente social e coletivo. Algumas considerações deixam em aberto nosso
discurso que acreditamos ter servido para levantar elementos que argumentam ser a
multirreferencialidade existente na instituição uma prática que atende às diferentes
categorias de estudantes.
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Autoria: Manon Toscano Lopes Silva Pinto: [email protected] - Professora de dança e
educação física do Colégio Militar de Salvador; mestre em educação pelo movimento humano;
especialista em educação transdisciplinar, coreografia, dança educativa, folclore, doutora em
educação física escolar.
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Especialista em Língua Portuguesa
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Mestranda em desenvolvimento humano
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Psicopedagoga, Mestre e doutora em educação
5
Especialista em arte-educação e mestre de artes marciais – kung fu, presidente da associação
baiana de Kung Fu
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Palavras-chave: Dança-teatro-música-arte circense escolar. Práticas socioeducativas.
1 INTRODUÇÃO
Por ocasião das comemorações do Centenário de Jorge Amado, algumas ações
vinculadas às atividades contempladas na Seção A (educação artística, ensino da língua
portuguesa, teatro, dança, educação musical) foram intencionalmente planejadas de forma
integrada. A razão que levou a esse feito foi devido à viabilidade de algumas delas terem
sido idealizadas em prol do desenvolvimento da espontaneidade, criatividade, sensibilidade
para tratar intensivamente das práticas de letramento e do desenvolvimento de
competências e habilidades.
A julgar pelo crescente interesse em torno dessas mesmas práticas em sala de
aula, o plano funcionava para os fins almejados num programa que um grupo de
professores deu o nome de „Do movimento ao verbo‟. Esse programa assegurava tratar o
letramento em todas as séries de forma espontânea e criativa bem como colaborar para a
manutenção das atividades dramáticas realizadas no 6º, 7º e 8º anos.
Para concluir as tarefas estabelecidas desde 2011, juntamente com as professoras
de educação artística e as de língua portuguesa do 6º ano, foi necessária uma integração
maior entre os pares interessados em tornar efetivo o planejamento, como também foram
viabilizadas ações vinculadas às aulas eletivas, uma vez que os trabalhos em língua
portuguesa não possuíam espaço no turno oposto.
Para o desenvolvimento das metodologias alinhamos arte e ciência como proposta
dialógica especificando a educação corporal a partir das experiências apreendidas na
Associação Baiana de Psicodrama (ASBAP) onde o trabalho era supervisionado e orientado
pelo fato de uma das docentes estar concluindo o referido curso, e, de forma concomitante,
integrante do curso de letramento promovido pela DEPA. Solicitamos também o apoio da
Seção F nas aulas de eletiva de espanhol coordenadas pela professora Elisabete Moraes e
ministrada pela Ten Jaqueline e, dessa forma, construímos um musical adaptado da obra de
Jorge Amado – „O gato malhado e a andorinha sinhá‟, que possuía uma relação, ainda que
distante, com a Educação Física escolar.
2 DESENVOLVIMENTO
2.2 Educar para a vida em „O gato malhado e a andorinha sinhá‟.
São muitos os exemplos de pais que tornam seus filhos um protótipo deles
próprios. Times de futebol, profissão e até a vida esportiva são escolhidos por eles,
sequiosos de ver seus filhos tornarem-se aquilo que eles sempre desejaram para si, uma
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necessidade incontinente de eternidade. Muitas dessas imposições cegam a criança que
enraíza a rivalidade entre os seres, uma vez que os estereótipos vão se formando e a
criança julga ser positiva apenas o que os pais elegem para elas, o que torna inoperante o
sentimento comunitário.Krishnamurti (1953, p. 68) revela que há uma falsa escala de valores
a partir da relação com o desejo de grandeza, submissão exagerada à autoridade,
acreditando que somente através dela vamos encontrar a paz.
Além desses dados, a falta de segurança na nossa força interior fomenta a
rivalidade entre os colegas de turma, pois as crianças passam a zelar pela cultura do medo.
São atitudes racionalistas como essas que incitam as discórdias levando ao espírito de
desunião.
Na educação são muitas as práticas que se voltam para dissuadir essas atitudes.
Uma delas, de cunho holístico, são as artes marciais orientais. Elas são excelentes para
processos integradores que inter-relacionam o ser com o meio ambiente, o cosmo e a as
pessoas que convivem conosco no dia a dia. São trabalhos assim que aumentam a
percepção do estudante tornando-o mais sensível ao meio ambiente. Nessas práticas são
aplicadas diversas técnicas que fomentam o desejo de comunhão
Também reafirmamos a utilidade dos trabalhos psicomotores e físico sensorial de
Sri Aurobindo. Esse educador esteve no Brasil no período da criação da Escola de Dança da
UFBA e chegou a se tornar diretor da instituição. Com Sri Aurobindo muitos artistas e
pedagogos conheceram o ato de autoconhecer-se como um dos propósitos da educação do
ser.Além dessas práticas, tornar o trabalho e as emoções um fato do cotidiano é um dos
melhores instrumentos para evitar a reprovação da cultura alheia.
Essas categorias de análise facilitaram a reflexão em torno de polos
epistemológicos, teóricos e práticos da produção de conhecimento no 6º ano no CMS. A
partir da operacionalização das oficinas para a construção de criação coletiva „O gato
malhado e a andorinha sinhá‟. As oficinas ocorridas em sala de aula, no auditório e na sala
de dança em dias de eletiva de dança do 6º e 7º ano para a construção do tema se
estenderem nas salas de aula.
Fruto de uma pesquisa de campo exigida como TCC da Associação Baiana de
Psicodrama (ASBAP), o trabalho, também, é um produto das aulas exigidas no curso de
Pós-graduação em Letramento lançado pela DEPA.Para esta pesquisa a pergunta que move
o estudo é: Como o psicodrama socioeducacional pode ser aplicado nas eletivas de dançateatro no CMS com vistas ao desenvolvimento da prática de letramento?
A dificuldade para a expressão corporal e escrita observada há tempos na
instituição levou a se pensar práticas que colaborassem para esse fim. Assim, com o
objetivo geral de ampliar os parâmetros de expressividade e comunicação verbal e não
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verbal no 6º ano do ensino fundamental, pudemos construir um processo que seria a base
de outros tantos, caso os resultados fossem positivos.
Os objetivos secundários do trabalho seguiram as metas:

Compreender as interrelações humanas

Permitir experiências e vivências novas

Ressignificar e superar desafios

Interpretar o fenômeno das relações humanas no cotidiano escolar

Trabalhar cooperativamente
A intenção de um ensino básico é supri-lo de etapas que vão do fundamental e
médio com objetivos especiais que se espera atender as necessidades do discente
brasileiro. Em cada ano letivo há um conjunto de saberes e fazeres, mais ou menos
complexos, que tendem a fortalecer o nível de reconhecimento que cada um deverá adquirir
ao longo dos anos nos bancos escolares. Entretanto, percebe-se como necessidade ímpar o
fortalecimento das relações humanas
De todas as séries, o 6º ano é o mais delicado porque é a porta de entrada e saída
de um mundo fracionado em diferentes conhecimentos que tornam cada criança e/ou
adolescente um ser social ou alguém que não reconhece o que é a coletividade. A isso
deram o nome de preconceito.
O ano de 2012 evidenciou nomes que contribuíram de forma relevante para as
artes literárias e musicais. No que tange à Literatura, Jorge Amado foi muito lembrado em
todo estabelecimento de ensino do país. Por ter priorizado práticas multiculturais, deixou
marcas indeléveis nas suas obras sobre as relações humanas e o preconceito que emerge
dessas mesmas relações.
Para atender as especificidades do universo infanto-juvenil, „O gato malhado e a
andorinha sinhá‟ é um exemplo ímpar do encontro circunstancial das diferenças abissais e o
poder atrativo que elas exercem no seio da sociedade.Dessa forma acreditamos que o
trabalho ora lançado em prática deveria ser analisado nos mínimos detalhes para que
compreendamos o poder da interdisciplinaridade. Nesse processo podemos vislumbrar a
transdisciplinariade ao compor um terceiro universo que poderá fazer nascer definitivamente
uma disciplina que se caracterizar-se-á como Letramento, universo tridimensional do colégio
que registra o processo aculturativo como específico de sua natureza, mas que requer uma
práxis para consagrar o que é dito nas páginas de diferentes artigos.
2.5 Difusão do conhecimento em „O gato malhado e a andorinha sinhá‟
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Aproveitando que o ano de 2012 marca o centenário de dois grandes vultos da
literatura e música brasileira, Jorge Amado e Luís Gonzaga, conforme foi dito, o CMS
ofereceu um espaço de crescimento cultural e multirreferencial, para as celebrações. Tais
escolhas significativas puderam estar de acordo com a proposta de uma educação baseada
em competências e habilidades.
Esses mesmos referenciais serviram de guia para a projeção de uma educação
voltada para a ecopedagogia quando vinculou a dança às atividades sociais, artísticas,
culturais e ecológicas disseminadas no CMS com a equipe de gestão ambiental, estruturada
pelo Maj José Roberto, membro da ESFECEX, e executada pela Seç C com o apoio do Maj
Leão e Professores Josué e Rosinei.
Ao escolherem uma obra de autoria de Jorge Amado – “O gato malhado e
andorinha sinhá”, a Seção A pode facilitar o entendimento de como a educação holística se
aproxima dos moldes de uma pedagogia baseada nas competências e habilidades.
Essa forma de perceber a prática educativa foi experienciada também por Silva
Pinto (2005) nos cursos sobre “Educação Transdisciplinar: a arte de aprender” incidindo na
tese de doutorado em Educação Física Escolar. Ao utilizar o próprio trabalho de conclusão
de curso como apoio para as oficinas de dança-teatro realizadas na Seção E, ficou
demonstrado como o autoconhecimento pode ser facilitado quando se trabalha de forma
transdisciplinar.
Pensamos que um espaço como uma instituição de ensino, em qualquer fase que
esteja, é um espaço para pesquisa e difusão do conhecimento. Dessa maneira, uma
pesquisa em análise cognitiva relacionada aos processos de criação, organização, gestão e,
especialmente, difusão de conhecimento é, de acordo com a FEBRAP e ASBAP, colaborar
para o desenvolvimento de uma sociedade psicodramática desenvolvendo relações sociais
saudáveis, em suas práticas socioeducativas, pois é no contexto educacional onde os
sujeitos se reconhecem como responsáveis, seja em âmbito familiar, em instituições
pedagógicas, em comunidades de lazer e, por que não dizer, na rua?
Quando a criança inicia a sua socialização de largo espectro, o convívio com outras
crianças e adultos torna seus átomos sociais mais alardeados, mas é no espaço onde jogos
e brincadeiras são socializados com outros membros que a espontaneidade-criatividadesensibilidade emergem. Não foi assim que Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama e
sociodrama se inspirou para construir sua teoria ao observar as crianças nos jardins de
Viena?
O projeto “O gato malhado e a andorinha sinhá‟ partiu de uma proposta específica e
detalhada de uma pesquisa que perpassa por diferentes metodologias que se
emparelharam e se ajustaram com o propósito de atender as demandas do CMS no caso do
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ensino
por
competências
e
letramento.
Sujeita
a modificações durante o
seu
desenvolvimento, foi estruturada em quatro partes. Cada turma do 6º ano tomou para si uma
parte do livro e foi construindo as suas cenas, conforme respostas das cenas montadas em
sala de aula. A necessidade de se investir no projeto ocorreu em outubro de 2011 com
algumas demandas que deram origem ao roteiro musical.
A criação coletiva deveria ganhar corpo em novembro de 2012 e chegar ao teatro.
Entretanto, pequenas, médias e grandes interferências impediram que, pela primeira vez, o
projeto musical de dança-teatro-música do CMS chegasse aos palcos.Resolvemos, então,
utilizar o recurso da filmagem ne editar um vídeo como instrumento pedagógico de grande
valia para futuros trabalhos. No momento, estamos montando esse material didático com
diversos contratempos. Entretanto, com todos os reveses que as últimas semanas vêm
apresentando relativas às manifestações, o processo em si demonstrou ser viável. Utilizar
outros processos contribuidores para a aprendência disciplinar, decerto, terá neste material
um produto de valor inestimável.
Palavras-chave evidenciam o terreno em que estávamos pisando: ecopedagogia,
dialogismo, letramento, transdisciplinaridade, práticas sociopsicodramáticas, arte-educação,
artes cênicas, entre outras. Entretanto, ressaltar o letramento como o termo que significa
esse discurso é um dado que aponta o que se deve fazer com as aulas eletivas: letrar.
2.6 Dança-teatro-música-artes circenses
Tonezzi (2007, p. 21) apreende a fala de Pina Bausch que diz “Na realidade, o que
eu gosto, sobretudo, é usar as pessoas por aquilo que elas são: às vezes, não sabem aquilo
que têm, e é belo descobri-lo juntos”. Para o autor “é mais que reconhecida a capacidade de
adaptação presente no corpo e na mente humana”. O teatro para ele é uma ponte para
diversos processos: terapêutico, pedagógico e artístico.
No decorrer dos trabalhos propagados pelas docentes de Língua Portuguesa do 6º
ano foi constatado que é preciso que o SCMB possa recorrer a novas formulações que
ampliem possibilidades para que o discente do CM possa se tornar protagonista de suas
ações como ocorreu com o 6º ano no período de 2012.
É preciso lembrar que o estudante do fundamental, na grande maioria, não teve
grandes experiências estéticas, para não dizer quase nenhuma. Isto porque os colégios os
colégios soteropolitanos não possuem uma quantidade significativa de professores de dança
e de teatro atuando no Ensino Básico. Consequentemente, o máximo que os estudantes
possuem é a experiência com ginástica rítmica pela presença de um maior número de
professores de educação física que acabam confundindo a modalidade esportiva com
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atividade artística-cultural-cênica, principalmente utilizando-a como uma substituição mal
feita da dança.
Brecht (apud Tonezzi, 2007, p. 34) diz que “o que é frio e mecânico não se coaduna
com a arte”. Todo esporte tem sua espetacularidade própria mas não podemos atribuir a
este o lugar da arte, um lugar especial na vida do ser enquanto artífice da arte universal.
2.7
Experiência
em
letramento,
práticas
sociopsicodramáticas,
interdisciplinares,
transdisciplinares e ecopedagógicas para desenvolver competências e habilidades
Amparados na transdisciplinaridade como base epistemológica para a construção
do estudo e diversas tarefas do cotidiano da seç E, a montagem dos roteiros e diálogos
cênicos, produzidos pelo próprio corpo discente, deu margem à inteligibilidade sobre como
associar conteúdos, conhecimentos e fazeres do cotidiano do CMS, desconstruindo uma
educação física cartesiana e promovendo a abertura para o programa pessoal que move
nosso estudo que vai – „Do movimento ao verbo‟.
As culturas referenciadas foram tecidas conjuntamente com as práticas inseridas
no estabelecimento. Isto despertou o interesse de alguns dos dirigentes da instituição para a
importância da dança na Educação Física, o que resultou a criação de um programa de
integração de arte e cultura conhecido como PIAC em 2009 que visava a construção de um
centro de arte e cultura no estabelecimento para associar educação física e educação
artística, mas que na verdade era para integrar arte e ciência. Uma ação louvável mas que
não pode ser concretizada no estabelecimento devido à mudança e transferência de chefias
que o instituiu.
No cotidiano vivenciado pelas pesquisadoras, há 17 (dezessete) anos como
integrantes do corpo docente do estabelecimento, registrou-se que, após a entrada de
novos alunos, desajustes de diferentes ordens são evidenciados: nível de conhecimento,
idade, sexo, entre outras. Quando não são aprovados no concurso, alguns candidatos
retornam às séries iniciais após novos exames, ou seja, muitas vezes, estando já no 7º ano
passam a se considerar repetentes, de alguma forma. Essas diferenças, que fazem a
diferença, são visíveis e dificultam o ensino-aprendizagem que se apresenta aparentemente
homogêneo. Em se tratando de um sistema federal de ensino isso é preocupante.
São mais de 15000 estudantes integrando os 12 colégios distribuídos em 12
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estados . Em cada um deles, apenas 20% não são procedentes de famílias militares na
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Colégio Militar de Salvador (CMS), Colégio Militar de Recife (CMR), Colégio Militar de Fortaleza (CMF), Colégio Militar de
Manaus (CMM), Colégio Militar de Campo Grande (CMCG), Colégio Militar de Brasília (CMB), Colégio Militar de Belo
Horizonte (CMBH), Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF), Colégio Militar de Curitiba (CMC), Colégio Militar do Rio de
Janeiro (CMRJ), Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Colégio Militar de Santa Maria (CMSM)
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ativa. Enquanto os responsáveis não vão para a reserva, as relações entre eles são
extremamente conturbadas em virtude das constantes mudanças de endereço e de relações
de amizade, o que dificulta uma pedagogia pautada numa construção do saber de forma
amorosa, pois, conforme Byinton (2003), é preciso um tempo para essas relações se
estabilizarem. Diante de tantos problemas, um questionamento, ressaltado na tese de uma
das educadoras questiona: como é possível trabalhar a dança-teatro na educação física
escolar, sob a ótica transdisciplinar, numa instituição educativa de formação militar, que
atende o ensino básico?
Com o intuito de respondê-la, lançou-se a pesquisa cuja metodologia se
caracterizou como descritiva, proposta através de estudo de caso, por se tratar de um caso
único, registrado, analisado e correlacionado com profundidade (SANTOS; MARTINS,
2008), cujo objetivo versa sistematicamente sobre a aplicação da transdisciplinaridade na
dança aplicada no Seç E do CMS, desenvolvida nas oficinas de dança-teatro no período de
2000 a 2012, precisamente, transversalizada em diferentes áreas do conhecimento.
Organizada inicialmente com a apresentação dos resultados das experiências
advindas dos cursos de educação transdisciplinar, a orientação para a sua experiência,
ainda na primeira parte, decorreu das considerações sobre a aproximação da dança com a
educação física nas praças públicas, a partir das manifestações culturais populares e
ciganas e sua consequente efetivação como instrumento de autoconhecimento apresentada
ao corpo discente do CMS. Na segunda parte foi esclarecido aos discentes como essa
transdisciplinaridade pode ser desenvolvida na Educação Física e na Dança escolar,
justificando a dança-teatro como um importante elemento pedagógico para a constituição
dos sujeitos daquela instituição. Na terceira parte apresentou a dança-teatro como a forma
de trabalho mais adequada, até o momento, entre os diversos estilos de dança, pela
facilidade de lidar com o espontâneo e criativo de cada um, tais como a performance, a
contemporânea e a dança de salão, situando-as no ensino básico do SCMB, com destaque
para os trabalhos internos e externos e como difusora de autoconhecimento, quando
articulada com as pesquisas levantadas pelos alunos.
Essa ação facilitou o olhar mais aprovador para a prática de dança tão discriminada
na sociedade, ainda que estejamos em solo baiano, que, acredita-se ser o „país do carnaval,
das festas e da dança‟.Assim, o presente estudo, cujo objetivo central é expandir a dançateatro-música-artes circenses nos domínios do CMS de forma mais articulada com os
referenciais de práticas transdisciplinares, apresenta „O gato malhado e a andorinha sinhá‟
como uma das propostas de trabalho com a dança educativa numa educação motora
integral e plena, com finalidades para o desenvolvimento humano. Consequentemente, a
hipótese ressignifica a prática da dança-teatro-música, nesse estabelecimento, onde a
ciência sobrepuja a arte. Na parte referente às discussões foram ressaltados os processos
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da intervenção da transdisciplinaridade nas criações cênicas, assim como a maneira como a
mesma era percebida pelos estudantes.
Por que refletir e tornar relevante a prática da dança-teatro no CMS?
Desinteressados pelas atividades rotineiras no campo esportivo, muitos estudantes
observaram a necessidade de um trabalho mais consistente, variado, que envolvesse
emoções, afeto, espontaneidade, criatividade permitindo a ampliação da sensibilidade de
cada um e a possibilidade de o sexo masculino trabalhar a dança, livre de preconceitos.
Para conduzir a pesquisa, tomou-se como referencial um levantamento diagnóstico
das diversas práticas e estilos de dança aplicados até 2000 no ensino básico no CMS. A
partir dessa data, foram observadas, registradas, fotografadas e filmadas as oficinas e as
intervenções.
2.8 Metodologia de trabalho
O projeto das professoras de Língua Portuguesa estava destinado inicialmente
somente à 1ª cia, basicamente o 6º ano, integrando alguns voluntários da eletiva de dançateatro do 7º ano.
No primeiro momento foram experienciadas práticas socioeducativas empregadas
para um planejamento coletivo experimental. Na primeira instância o livro foi oferecido com
o refinamento sobre seu conteúdo e a análise do contexto. A ausência das oficinas de
dança-teatro na íntegra como proposta inicial foi uma perda lamentável pois as atividades
passaram a se acumular no turno matutino com a presença de convocados para trabalhar
na sala de dança quando houvesse a necessidade de algum aprofundamento.
Havia eletivas de música e de fotografia que poderiam beneficiar a construção do
trabalho, mas como isso não foi acordado devidamente no início do ano, a sugestão não foi
aceita. Quem sabe num outro ano possamos contar com a sensibilidade da Direção de
Ensino para enveredar por esse caminho e oferece uma eletiva com artes integradas. É um
passo decisivo para a construção de redes e aulas multimodais contemplando seções que
não foram utilizadas para o processo de construção cênica: Seç D e B e que podem mostrar
a utilidade do letramento.
Considerando que a pluralidade de ações repercute nas próprias ações
idealizadoras de uma unidade no CMS, o projeto das professoras do ensino de Língua
Portuguesa do 6º ano acertou de forma incontestável quando decidiu estudar „O gato
malhado e a andorinha Sinhá‟. A utilização da obra infantil, por sinal bastante conhecida nas
artes cênicas, mostrou o quanto é possível estreitar as diretrizes coletivas que não objetivam
alcançar o desenvolvimento humano, de forma plena.
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A opção pela proposta de utilizar a dança-teatro, afastando os clássicos estilos de
dança, foi proposital, até porque há diferentes conteúdos para serem expandidos na
disciplina de português e as danças não poderiam conduzir o não, e sim o contrário. Em „O
gato malhado e a andorinha sinhá‟ a dança se associa ao teatro. Torna-se prática geradora
de signos particulares subjetivos que conferem essência e identidade através de uma escrita
gráfica. Dessa forma o corpo se submete ao movimento associado a diferentes formas de
linguagem, bem como torna mais acessível avaliar quantitativamente e qualitativamente
uma prática polilógica, executada sob as estruturas transdisciplinares ao observar os
diferentes níveis de realidade transversalizando o trabalho.
Para desenvolver esse item no CMS, foram trabalhadas as questões raciais
referentes aos negros, índios, ciganos e não ciganos como símbolos das abissais diferenças
entre os seres.
Apoiando-se nesses dados, foram estipulados os seguintes objetivos específicos
para consubstanciar o trabalho e nortear a metodologia:
1.
Analisar
possíveis
relações
entre
dança-teatro
e
educação
para
o
desenvolvimento humano.
2. Evidenciar aspectos básicos da transdisciplinaridade para o entendimento de sua
operacionalidade.
3. Investigar, nas atividades organizadas, fatores que mostram ações que justificam
que a transdisciplinaridade pode ser empregada numa instituição de cunho militar com
vistas a desenvolver a espontaneidade-criatividade-sensibilidade.
4. Propor alternativas para a prática da dança-teatro ressaltando os trabalhos
empregados na STF: performance, trabalhos expressivos, dança de salão, flamenco, jazz,
danças folclóricas, culturas díspares tais como as orientais e iberamericanas e outros estilos
de dança trabalhados nas oficinas da Seç E.
O referencial teórico que fundamentou a concepção do projeto perpassou diferentes
áreas do conhecimento de forma complexa e, conforme pode-se notar, de difícil
inteligibilidade, ajustadas como um quebra-cabeça.Tomando a obra de Jorge Amado, outras
obras fortificaram a ideia única de que integrar é diluir a ideia de atores principais e
coadjuvantes.
Foi necessário rever o embasamento teórico, conceitual sobre dança-teatro-música,
educação musical, psicodrama pedagógico, educação física, artes marciais, entre elas kung
fu e capoeira, temas transversais, letramento, tudo dentro da concepção da complexidade
de Morin.
As práticas de dança contaram com as técnicas de Rudolf von Laban e Spectrum
de Muska Mosston.Cada interpretação sobre os fenômenos estudados na obra principal
pode coroar uma estratégia de ação para formalizar a oficina.
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Para tratar sobre o assunto, inicialmente, foi necessário recorrer às informações
procedentes das obras de Krishnamurti (1953; 2003) e àquelas que nelas se apoiaram como
as de Galeffi (2003), Soares (2007), Somerman (2005), procurando evidenciar como a
transdisciplinaridade e a dança-teatro poderiam se estabelecer nas práticas cotidianas de
uma educação física escolar. Nesse sentido, a análise desenvolvida encontrou uma forma
contrária às demais técnicas trabalhadas em dança e que serviram de estratégia para a
elaboração das oficinas. Quanto à inteligibilidade de competências e habilidades a obra de
Perrenoud (2000). Sobre a prática de letramento, além da obra de xxxx e de Judith Nogueira
xxxxx
Para esboçar a pesquisa, resolveu-se, ainda, confrontar as leis que regem o
referido estabelecimento de ensino com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A partir dessa
normatização, o SCMB adotou projetos interdisciplinares e a Seç E abraçou a
transdisciplinaridade, acorda apenas na esfera da dança, uma vez que todos os esportes
são alinhados por regras, até mesmo aqueles que erradamente são creditados aspectos
artísticos. A partir de então foram criados, também, as agremiações culturais e clubes no
CMS que perduraram apenas por um tempo. Após a eliminação dos mesmos, ou uma
grande parte deles, alguns retornaram como eletivas. São as eletivas que fomentaram o
retorno tímido de um trabalho que teve uma grande repercussão a nível de arte-educação.
As eletivas realizadas após às 15h não proporcionam um efetivo acompanhamento
em virtude de o tempo ser escasso. Razões diversas levam a isso, desde as questões do
trânsito como a ida dos alunos ao vestiário para colocar e tirar o uniforme de educação
física.
Verificadas as condições mínimas para se atender o „aluno universal‟ atentou-se
para o fato de que a prática da dança-teatro, durante as aulas de educação física,
contribuiria para todas
as finalidades pedagógicas
da instituição
e do próprio
desenvolvimento de cada ser, se, e somente se, promovesse diversos intercâmbios com
instituições parceiras. Com a retirada da dança na educação física por ocasião da
transferência da professora de dança para outro setor, a Seç A inicia o processo que até
então era realizado na Seç E.
Com o objetivo de definir o fenômeno da educação para o desenvolvimento
humano e explicitar a sua tendência na Educação Física, e, mais ainda, para conseguir
trabalhar os conceitos em Krishnamurti configurados nas questões humanistas, cuja
propensão à educação crítica ampliou a percepção sobre como trabalhar a dança sob a
ótica do autoconhecimento, buscou-se na obra de Noemi Soares (2007), bem como em
alguns princípios de Gilles Deleuze (2008) elementos que pudessem fornecer uma diretriz
para contornar as dificuldades estabelecidas pela falta de tempo para as criações
coreográficas. Esses autores trazem reflexões de cunho mais abrangente sobre
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autoexpressão, concepções científicas e poéticas do saber artístico. A partir de então, outras
fontes tais como as obras de Morin (2000) e Weil (1987; 1990; 1993), cujas referências
sobre multiculturalismo e liberdade de expressão e suas relações com a educação motora,
tornaram mais evidentes o que se queria. Aliadas aos ideais de Boaventura Santos (2003), a
compreensão do que seria uma visão transdisciplinar na educação física foi ressaltada ao se
perceber em Carmen Soares (2005), Capinussu (2002) elementos que corroboravam com a
necessidade de se tentar entender os processos históricos da educação motora no Brasil.
Embora esses autores não tenham se referido diretamente à junção da dança e da
educação física, da arte e da ciência, seus textos deram margem à compreensão sobre as
formas diferenciadas de se trabalhar o movimento humano em técnicas contidas ou livres.
Sobre os padrões de totalidade e conteúdo do ensino como artifícios para se
perceber como a dança, o teatro, e demais artes cênicas podem nos colocar cientes quanto
ao ensino dirigido à integridade do ser, foi importante a obra de Byington (2003). No que
tange à arte-educação, mais precisamente em teatro e dança, mereceram destaque os
estudos de Sérgio Farias (2000) e Ana Mae Barbosa (2005), que tratam da dicotomia
preconceito versus cidadania, desencontros na contemporaneidade que os educadores
devem encarar como desafio.
Quanto aos trabalhos dos alunos, de forma expressiva e simbólica, o cigano e
todos os personagens criados por eles e pela professora, exerceram um papel educativo de
„mestre-aprendiz', tal como Neyde Marques Santos (2003) se referiu na sua tese de
doutoramento em Educação pela UFBA. Amparados no seu trabalho e nas obras de
diferentes ciganólogos, entre os quais Fonseca (2005) e Pieroni (2008), os estudantes
puderam entender que o cigano evidenciava fortemente os vínculos familiares, laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca afirmados pelo movimento mencionado no
inciso IV, do Artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), de 1996.
Uma lei que ampara uns, mas não a todos do território nacional.
As abordagens referentes ao meio ambiente e a compreensão de como as plantas,
magicamente, transcendem para a vida coletiva, foram extraídas da obra de Wildert (1974),
do DVD 'A jornada do homem' do Cirque du Soleil e do CD 'Secret Garden, e, após a
exibição de „O gato malhado e a andorinha sinhá‟ retornaremos com o projeto social de
defesa dos animais, haja vista que o terreno do CMS é uma parcela da mata atlântica .
Essa forma de lidar com assuntos tão incomuns ao universo da educação corporal,
tais como ciganos, plantas, circos, animais chegou a causar certo estranhamento aos
próprios professores de educação física, tamanha é a ousadia de investir numa educação
motora sistêmica. Mas são esses elementos que fazem a diferença. Embora se perceba que
são diminutas e frequentemente equivocadas as informações de que dispõem os textos
históricos sobre a evolução do movimento humano, com base tão-somente nos Sistemas de
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Educação Física e nas histórias de Paul Boucieur (2001) sobre a evolução da dança, os
referidos assuntos estabeleceram uma conexão mais apropriada às dificuldades de cada
corpo e que devem ser levados em consideração.
Mas como foram conduzidas as experiências em „O gato malhado e a andorinha
sinhá‟ e quais utilidades teriam para o corpo discente do 6º e 7º anos do CMS?
Primeiramente, foi reconhecida a importância de se conhecer o cotidiano popular, onde
diferentes pontos de vista levam a uma distorção da realidade e de si mesmo. Se nos
primeiros trabalhos com dança-teatro o cigano se fez presente como ícone de um elemento
unificador entre o popular e o popularesco, o que favoreceu a compreensão do papel que
ele teve no contexto diário dos acampamentos e das sociedades que os acolhiam, no
referido trabalho que move esse estudo os papeis sociais são ressaltados com as práticas
de letramento e psicodramáticas.
Expor sua relação com outras danças deu margem à evidenciar o fato de que é
dançando que o cigano começa seu processo aculturativo e educativo, o que favoreceu
certa simpatia em relação a eles (SILVA PINTO, 1997; 2006), é com a aproximação da
diferença que construímos as relações sociais. A obra de Jorge Amada é perfeita para essa
discussão. „Como pode um gato, da pior espécie, se apaixonar por uma andorinha?‟
Quanto às investigações de Silva Pinto (1997; 2006), estas detectaram constantes
apresentações, humildes ou grandiosas, nas praças, nos vilarejos, em superfícies altas ou
planas, representadas pelos saltimbancos, errantes, nômades e povos ágrafos, conforme
eram chamados os ciganos. O estudo levou também à compreensão de que sendo o
preconceito com os ciganos reconhecido e largamente discutido, uma de suas causas
principais deveu-se às mudanças sociais ocorridas nos avanços tecnológicos acarretados
pelas mesmas mudanças sociais, bem como percebeu a falta um levantamento histórico
adequado sobre as minorias étnicas, fator este que alimenta o preconceito em relação a
eles, pois quem não tem medo daquilo que desconhece? Infelizmente esses foram os dados
que não puderam ser repassados na íntegra para os discentes por não ter tido espaço na
disciplina de história para tal. Assim o musical desenvolvido no corrente ano teve o mesmo
processo de construção de anos anteriores que levávamos para um teatro um contingente
de aproximadamente 300 atores-dançarinos-músicos e apoiadores, com a diferença que o
presente trabalho foi enriquecido com o psicodrama pedagógico e as práticas de letramento,
um casamento perfeito para se evidenciar na prática como executar competências e
habilidades.
O fato é que alguns componentes do grupo trataram dessa temática com a maior
importância, quando entenderam que havia uma maior aproximação da Educação Física
com a natureza, colocando-a num universo ecologicamente determinado e que os ciganos
tiveram uma participação significativa neste contexto tanto quanto a relação com a
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diferença. Tal fato conduziu para outros trabalhos cujas temáticas não fugiram dessa linha
de pesquisa, mas, de forma multicultural, levou-os a adentrarem também no campo da
relação do ser humano com a natureza, de forma bastante incisiva. No último trabalho
realizado por eles no CMS, o melão de São Caetano, por exemplo, conduziu os alunos a
refletirem como a educação motora tem a ver com os movimentos dos elementos que nela
estão inseridos. Cada olhar para a humilde fruta que se apoia nas cercas facilitou aos
autores o entendimento sobre o complexo mundo das relações.
A vaca Mocha e a andorinha, por exemplo, representaram uma estreita relação com
a cultura hispânica. Com essa particularidade da história Jorge Amado liberou um espaço
para a ligação com a cultura hispânica, o que facilitou para os alunos que integraram a
eletiva de espanhol.Com essa ligação, pode-se trabalhar as danças espanholas, ciganas,
juntando-as a outras danças que puderam ter sentido no enredo: frevo, carnaval, danças de
salão.
Dessa
forma,
passando
para
as
ações
mais
universais,
holísticas
e
transdisciplinares, a educação física, representada pela dança, veio a contribuir para um
olhar mais acurado, não apenas focado na realidade cigana, mas numa educação
contemporânea. A partir de um segmento populacional, foi possível entender que o „vir a ser‟
– é o mesmo que integrar pessoas.
Por tais argumentos, justifica-se a pesquisa: primeiro por divulgar a dança-teatromúsica e artes circenses sob outra vertente tornando pública a experiência e apresentar
seus resultados positivos e negativos e, depois, porque mostra a influência da
transdisciplinaridade para desenvolver, de forma integral, o autoconhecimento dos sujeitos
participantes, levando-os a manterem uma prática do sensível, através de um trabalho
diversificado em que diferentes áreas do saber podem estar conjugadas.
Podemos considerar relevante, de igual modo, por registrar como incentivar e
subsidiar, pedagogicamente, processos de autodesenvolvimento, autoconhecimento e
autorrealização, como assevera Soares (2007). Fato que explica que o ser humano quando
experiencia a dança dessa forma consegue desenvolver ações concernentes à criatividade,
independência, autossuficiência, flexibilidade, espontaneidade, dialogicidade, cooperação,
amorosidade e produtividade, tornando-a mais próxima da natureza humana.Por estas
razões, o estudo, contribuiu, decerto, para o desenvolvimento de novas pesquisas que
queiram tratar sobre os processos transdisciplinares na educação física escolar.
Enquanto ela era construída, uma outra, em paralelo se fazia presente a partir do
momento que outras ações e reações surgiam dos atos espontâneos suscitados em sala
nas oficinas.Dessa maneira consideramos como importante as observações de Moreno
(apud HUG e FLEURY, 2008, p. 229) quando expõem que são conceitos interligados e que
um é função do outro.
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O que fazia nas oficinas de criação saíam do hemisfério direito e o que os
roteiristas apreendiam para anexar na obra que seria publicada na Antologia 2012
pertencem ao hemisfério esquerdo.Conforme Bastos (2011, p. 3) “a teoria não é um modelo
ao qual a realidade deva adaptar-se. É a realidade que aperfeiçoa a teoria, muitas vezes
exigindo reformulações fundamentais ou mesmo invalidando-a”.
Tomando como base as pesquisas de Tonezzi (2007), idealizamos trabalhar „O gato
malhado e a andorinha sinhá‟ com as técnicas sociopsicodramáticas para não redimensionar
o trabalho, a tal ponto que o mesmo provocasse um produto estético de alta produção.
Dessa forma utilizamos as técnicas morenianas como práticas formativas que se
aproximassem do exercício estético instrumentalizando os discentes para o improviso,
baseado em partes do diálogo que utilizariam em cena com o seu duplo. Ou seja, cada
personagem tinha a seu lado outro personagem que completaria a fala ou a ação de seu
companheiro de cena.
A justificativa que se deu para essa ação possuía diversas razões. Era preciso
trabalhar os discentes no sentido de permitir ao praticante a utilização integrada de recursos
que os discentes possuíam como habilidades previamente expostas nas oficinas destinadas
para esse levantamento. Assim, recursos perceptivos, proprioceptivos e expressivos se
alinhavam com a prática da leitura em cena, idealizada para complementar o trato com
fluência verbal nas leituras realizadas no cotidiano.
O texto foi muito bem adaptado pelos alunos, principalmente quando emitiam
expressões do próprio cotidiano, na forma como eles se tratavam, condizendo também com
a simplicidade do autor da obra que tinha especial interesse que ela fosse adequada para
seu filho Jorge.
Para realizar a interseção da arte dramática com o letramento e o desenvolvimento
de competências e habilidades, pensamos numa avaliação plausível em que o dia 22 de
outubro seria o dia da entrega do figurino, o dia 23 de outubro a avaliação geral com a
consequente escolha de um recorte para ser apresentado no dia 24 de outubro no painel
“Semana Amadiana‟.
2.9 „CENA TEMIDA‟
A cena temida é um momento de fuga, em que, normalmente, os discentes evitam
passar. Tratamos de evocá-la porque é normal para muitos evitar o confronto com estranhos
e, no caso de peças teatrais, o medo de ocorrer „o branco‟ e a exposição ao ridículo afastam
o discente desse contato personagem-público.Para evitar qualquer incidente dessa
natureza, o texto era desconstruído pelos próprios autores que se sentiam fortalecidos em
novas formas de dizer o que o texto estava propondo.Assim foi preestabelecido um
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significado inteligível para os espectadores, utilizando o recurso da narrativa constante como
um panorâmico „abre-alas‟.
Como foi dito, a comunicação entre teatro e organização do evento dificultou a
operacionalidade do ato e, após inúmeros transtornos, tivemos, necessariamente, que
utilizar o recurso da montagem de filmagem de cena, com os registros de ensaios do início
do ano até os do auditório, faltando a filmagem realizada nas oficinas em sala de aula
quando contamos com o apoio do concludente em psicodrama pedagógico, ator e diretor
Alexandre Gesler para subsidiar algumas oficinas.Pavis (apud Tonezzi, 2007, p. 35) declarou
que o teatro para ser didático deve instruir o público para rfletir sobre um problema,
compreender uma situação ou adotar uma atitude moral ou política.
CONSIDERAÇÕES
Tomando como base as pesquisas de Tonezzi (2007), idealizamos trabalhar „O gato
malhado e a andorinha sinhá‟ com as técnicas sociopsicodramáticas para não redimensionar
o trabalho, a tal ponto que o mesmo provocasse um produto estético de alta produção.
Dessa forma utilizamos as técnicas morenianas como práticas formativas que se
aproximassem do exercício estético instrumentalizando os discentes para o improviso,
baseado em partes do diálogo que utilizariam em cena com o seu duplo. Ou seja, cada
personagem tinha a seu lado outro personagem que completaria a fala ou a ação de seu
companheiro de cena.
A justificativa que se deu para essa ação possuía diversas razões. Era preciso
trabalhar os discentes no sentido de permitir ao praticante a utilização integrada de recursos
que os discentes possuíam como habilidades previamente expostas nas oficinas destinadas
para esse levantamento. Assim, recursos perceptivos, proprioceptivos e expressivos se
alinhavam com a prática da leitura em cena, idealizada para complementar o trato com
fluência verbal nas leituras realizadas no cotidiano.
O texto foi muito bem adaptado pelos alunos, principalmente quando emitiam
expressões do próprio cotidiano, na forma como eles se tratavam, condizendo também com
a simplicidade do autor da obra que tinha especial interesse que ela fosse adequada para
seu filho Jorge.
Algumas considerações deixam em aberto nosso discurso que acreditamos ter
servido para levantar elementos que argumentam ser a multirreferencialidade existente na
instituição requer práticas que atendam às diferentes categorias de estudantes.
Vemos com bons olhos o entrecruzamento de diversas perspectivas de cognição,
cultura mediadas pela epistemologia que possam respaldar as reflexões sobre tensões
geradoras de estresse e ações que as amenizem, tais como avaliações que possam conter
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a transversalidade, interseccionalidade, diversidade, considerações sobre diferenças
individuais e grupais, descontinuidade, rupturas e transformações.
Há uma necessidade de uma articulação polilógica e revisão curricular com vistas a
atender essas especificidades principalmente conjugando a educação artística e educação
física.
Percebemos também que a metodologia psicodramática tanto quanto a inferência
transdisciplinar é um facilitador para se chegar a resultados positivos em relação ao
processo avaliativo, ao desenvolvimento da expressividade, espontaneidade, criatividade e
sensibilidade.O processo de criação da referida obra discente foi a experiência mais
importante que o colégio construiu em termos de trabalho coletivo.
Esperamos que o processo possa vir a se repetir e vigorar no contexto da 1ª cia.
Trabalhos dessa natureza quando é possível associar elementos emocionais e intelectuais é
o mesmo que dizer que é possível trabalhar em sala para a ocorrência da catarse.
A catarse foi a integração muito boa de todas as unidades que se interrelacionaram
produzindo a obra, como um todo.Com a experiência podemos adiantar que há evidências,
tendências e controvérsias que podem deixar transparecer o quanto todas se convergem.
Além da amplitude alcançada durante o processo de idealização, construção do
roteiro e oficinas realizadas em sala, as filmagens, os ensaios e a construção do texto para
construção do livro for possível, em todos esses momentos, perceber detalhes preciosos
que serviriam para notificar as habilidades alcançadas e as inerentes em cada estudante.
A conquista da autonomia foi também observada e ocupou um destaque no
processo ensino-aprendizagem como propaga a professora Sônia Moraes, não mais apenas
o grupo de dança-teatro-música-artes circenses mas com um ano inteiro de estudantes que
contabiliza cem alunos.O trabalho de 2012 foi, decerto, um grande avanço para entender o
processo de competência e habilidade, como também o letramento.
Se outros trabalhos desenvolvidos na instituição serviram de embasamento para o
tipo de dança que almejávamos, o referido trabalho de 2012 encaixou sobremaneira nas
pra´ticas de letramento e, numa perspectiva mais ampla, o que mais tornou relevante o
trabalho foi, na verdade, a ideia de uma efetiva investigação sobre a técnica de representar
num ambiente educacional não propício para esta tarefa por conta de diferentes fatores
intervenientes.
REFERÊNCIAS
AMADO, Jorge. O gato malhado e a andorinha sinhá.
BASTOS, Lilia da Rocha et al. Manual para a elaboração de projetos e relatórios de
pesquisas, teses, dissertações e monografias. 6. E., Rio de Janeiro: LTC, 2011.
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COSTA, Rachel. Estresse infantil. Revista Isto É p. 68-74 São Paulo : Editora Três, 2012 ano 36 nº 2211 – 28/3/2012– colocar na ordem correta
KRISHNAMURTI, Jiddu – A educação e o significado da vida. São Paulo: Cultrix, 1953.
PERRENOUD, Philippe – Novas competências e habilidades. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SOARES, Noemi Salgado – Educação Transdisciplinar e a arte de aprender. Salvador:
EDUFBA, 2006.
TONEZZI, José – Distúrbios de linguagem e teatro: o afásico em cena. São Paulo: Plexus,
2007.
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possibilidades de aplicação do Psicodrama pedagógico com